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[Naruto] A Crise dos Sete - Capítulo 16, escrita por Andréia Kennen

Capítulos: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 Extra 1 Extra 2 Epílogo
Autor: Andréia Kennen
Gênero: Lemon, Romance, Universo Alternativo, Yaoi
Status: completa
Classificação: 18 anos
Resumo: Naruto e Sasuke, mesmo sendo um casal pouco convencional, sempre se esforçaram para viverem bem e como uma família comum. Contudo, o mal que assola as famílias comuns (a temerosa "Crise dos sete anos de casados")está rondando esse lar feliz. Será que eles irão conseguir vencer todos os obstáculos e manter o casamento?
Confiram![NaruSasu. +18. Presente de níver pra minha Blond-Hikari-nee-chan.]

Notas iniciais do capítulo

1. Quase no final desse capítulo, a fanfic voltará ao ponto que ela parou no cap 10, quando Hikari estava doente e Sasuke chega para visitá-lo; e Naruto e Sasori são quase flagrados pela esperta Bara. ;)
2. Esse é o penúltimo capítulo da Crise dos Sete, então, aproveitem. É, minna, A Crise está chegando em sua reta final. :D
Boa Leitura!


A Crise dos Sete
Capítulo 16
Revisado por Blanxe


Naruto abriu os olhos. Virou de um lado para o outro na cama e parou fitando o único objeto que reproduzia alguma claridade dentro do quarto: o relógio digital cujos dígitos marcavam "01h03min" da manhã. Não conseguia pegar no sono. Algo o perturbava.

De início, fora a declaração abrupta de Sasori. Apesar de o vizinho ser mais jovem que ele, era um rapaz gentil e prestativo. Não era mais casado, por isso não havia nem um impedimento para aceitar sair com ele. Então, não compreendia o motivo de estar se sentindo como se estivesse prestes a fazer algo errado ao aceitar o convite dele.

Virou-se novamente e seus olhos se arregalaram. Teve certeza que aquilo era somente uma peça pregada por sua mente, mas por uma fração de segundos, visualizou Sasuke deitado ao seu lado. Pôde ver claramente a nuca, os ombros nus, os cabelos negros que destacavam mais a pele clara que ele possuía. Ergueu a mão em uma tentativa frustrada de tocá-lo e, como imaginou, notou que era somente uma alucinação, que se desfez assim que suas mãos alisaram o colchão.

Apanhou o travesseiro que ainda ficava do lado em que o ex-marido dormia na cama e o trouxe para junto do peito, abraçou-o com força e aspirou seu cheiro. Foi ainda mais frustrante. Não foi capaz de sentir o perfume do shampoo de Sasuke. O tempo estava passando rápido. As roupas de cama já haviam sido trocadas diversas vezes. O cheiro dele estava se perdendo...

Não somente o cheiro, mas não tinha mais tanta certeza de qual textura tinha sua pele ou o gosto de seus beijos.

Aquilo era ruim. Muito ruim. Estavam consumando a separação sem ao menos tentarem reatar uma vez sequer. Amava Sasuke e por mais orgulhoso e arrogante que o ex-companheiro fosse, era com ele com quem desejava terminar seus dias. Por esse motivo, Naruto não queria ser ele a dar aquele último passo: a substituição. Pois aceitar os sentimentos de Sasori significava que não estava mesmo disposto a uma reconciliação, o que de fato não era verdade.

Mesmo antes dos dois iniciarem um relacionamento mais sério, Naruto era a pessoa que sempre corria atrás de Sasuke. Por isso, seu desejo era que, pelo menos desta vez, fosse Sasuke a tomar a iniciativa de procurá-lo.

Naruto soltou o travesseiro e passou a encará-lo como se fosse capaz de visualizar nele o rosto de Sasuke do passado abrasado de vergonha por Naruto sempre expor seus sentimentos de forma aberta, assim como Sasori fizera aquela tarde.

“Cale a boca! Não diga coisas tão vergonhosas em público, dobe! Se fizer isso de novo eu te mato!”

Eram sempre essas as reações frente a um “Eu te amo” dito no caminho do supermercado para casa; ou quando tentava pegar sua mão em um festival, ou beijá-lo no parque, ou em qualquer outro lugar que não fosse às quatros paredes de um quarto.

Mesmo parecendo do tipo seguro, Naruto sabia que Sasuke na verdade era muito tímido em relação aos sentimentos e para que ele não se atrapalhasse ao expressá-lo, optava ficar calado. Ao contrário dele, que conseguia ser expressivo e exagerado ao mesmo tempo.

Mas com o passar dos anos, o loiro aprendera a decifrar os sentimentos de Sasuke através de gestos e frases simplórias. Qualquer pessoa que fosse chamada de “idiota”, por exemplo, ficaria chateado. Mas ser chamado de “usuratonkachi”, “dobe” ou “baka” por Sasuke o deixava feliz, pois sabia que o companheiro só usava esses termos quando o deixava sem graça, porém contente.

“Eu te amo, Sasuke. Quer casar comigo?”

“O que está falando, dobe? Homens não podem se casar.”

“Quem disse que não? Eu quero me casar com quem eu amo. Então, eu quero me casar com você. Está decidido. Vou comprar as alianças.”

“Com- comprar alianças? Com que dinheiro, baka?! Pense primeiro em coisas práticas! Se quer realmente casar, precisamos de uma casa e de... O que foi? Por que está me olhando desse jeito?”

“Isso é um ‘sim’?”

“Quantas vezes tenho que te dizer para não falar coisas embaraçosas em público, Usuratonkachi?!”

Sorriu ao lembrar-se daquela cena.

“Talvez eu esteja sendo um pouco intolerante demais...” concluiu ele, virando-se na cama novamente e esticando o braço para apanhar o celular que ficara na outra mesinha de cabeceira; marcava “01h58” no display.

Naruto se recordou que Sasuke era acostumado a dormir tarde por causa das correções de prova e trabalhos dos seus alunos, e isso o motivou a procurar pelo nome dele na agenda, todavia, ao encontrá-lo, hesitou.

“Eto... o que eu vou dizer mesmo se ele atender?”

O loiro se sentou na cama, ascendeu a luminária da mesinha ao seu lado e coçou os cabelos da nuca. Seu coração havia disparado e as mãos suavam frio só de imaginar que ouviria a voz dele. Mas ainda não sabia o que dizer.

“Seja homem, Uzumaki Naruto! É bem simples: haja por impulso como sempre fez. Na hora que ele atender você saberá o que dizer!” ele se autodeterminou em pensamentos e pressionou a tecla “chamar” do aparelho, direcionando o aparelho no ouvido em seguida. Quando ocorreu o primeiro toque, o loiro suspendeu a respiração. Mas logo seu nervosismo se amenizou. Houve cinco toques e a chamada foi redirecionada para a caixa de mensagens.

Desligou o aparelho e desanimado consolou-se: “Ele já deve estar dormindo”. “Mas... de qualquer forma, de manhã ele verá que liguei, então, é melhor eu tentar mais uma vez” reanimou-se.

O celular acendia, tocava e vibrava em meio às roupas jogadas no chão. Ainda assim, não foi o suficiente para sobrepor a música alta no aparelho de som, nem os gemidos da mulher ruiva que fazia sexo com Sasuke.

Após algumas doses de uísque, o moreno perdeu a noção dos seus atos. Não que fosse fraco para o álcool, mas fora motivado também pela sedução da acompanhante.

Antes de Mei convidá-lo para se juntar a ela para beberem, já havia se disposto a resistir, concluindo que ainda era cedo para ficar com alguém. No entanto, a ruiva parecia ter fixado em sua mente o que desejava para aquela noite: sexo. E quando uma mulher estava a fim de transar, um homem dificilmente resistia as suas insinuações.

Mesmo assim, Sasuke tentou se esquivar e, enquanto bebiam, explicou para Mei que não era do tipo de cara que desrespeitava uma mulher levando-a para cama no primeiro encontro.

Porém, ela o desnorteou ao gargalhar alto.

“Qual é a graça?”

“Você deve ser o primeiro homem que diz algo do tipo perante uma mulher seminua...”

Era um homem orgulhoso e acabou deixando-se levar pelas provocações dela.

Há muito tempo não transava com alguém do sexo oposto. Na realidade, a última mulher com que se deitara fora a mãe do seu filho, Sakura. Por isso, atrapalhou-se um pouco no início e paralisou-se nas preliminares ao lembrar-se de que seu descuido na adolescência gerara Yoru. Mei, como se fosse capaz de ler seus pensamentos, se levantou rapidamente e foi até o banheiro, voltando com uma cartela de preservativos.

Depois disso, a bela ruiva foi a comandante de todo o ato. E, se fosse diferente, não teriam chegado aquele ponto em que Sasuke sentia o corpo dela estremecendo em êxtase sobre o dele. Também não foi capaz de controlar o ápice atingir-lhe ao sentir seu membro confinado e aquecido dentro da mulher, ser ainda mais comprimido pelo orgasmo dela.

Poucos minutos depois, relaxado e tomado pelo cansaço, Sasuke acabou pegando no sono profundo.

Do outro lado da cidade, Naruto deixou o celular de lado e apagou a luminária, retornando para cama com o rosto abrasado. Ainda não acreditava que havia mandado uma mensagem tão constrangedora, mas o havia feito, aproveitando-se do seu momento de coragem.

“Devo ter uma resposta ao vê-lo amanhã e, de acordo com que ele disser, eu negarei os sentimentos de Sasori.”

Naruto apanhou o travesseiro ao seu lado e o abraçou com força, lembrando-se da mensagem que enviara:
“Não sei por que, mas essa noite eu pensei muito em nós dois. Lembrei-me de tantas coisas. Coisas que você diria serem constrangedoras. Mas foram essas lembranças que me fizeram crer que estou sendo muito intolerante. Acho que está na hora de nos darmos uma chance. Né, Sasuke? O que você acha?”
...


Na manhã seguinte de sábado.

“Então, essa é a sua resposta, Sasuke?” Naruto se perguntou, com o sorriso se diluindo diante da presença de Karin ao atender a porta.

— Ohayo, Naruto-san. — ela o cumprimentou novamente, ao perceber que o homem loiro continuava estático a observando, como se sua visita fosse mesmo muito inesperada.

— Ohayo... — ele respondeu por fim, ainda um tanto disperso em seus pensamentos.

Então, Karin decidiu relatar a justificativa que tinha a finalidade de provocar ciúmes em Naruto.

— Sasuke não pôde vir hoje...

— Hikari! Bara!— Naruto gritou de repente para dentro da casa, cortando a fala de Karin. — Ainda não terminaram de arrumar as coisas?

— Estamos indo, otou-chan!

— O Yoru não viria também? — ele perguntou ao voltar sua atenção para a mulher.

Um tanto sem jeito por ter sido interrompida de maneira tão abrupta, Karin ficou sem saber o que responder até que se lembrou de que Yoru havia dito que iria esperar no carro.

— Ah, sim. Eu fui apanhá-lo primeiro. Mas ele disse que preferia esperar no carro.

— Ele nem veio cumprimentar o padrasto dele, que coisa...

— Sabe como os adolescentes são inconstantes, né?

— É, eu sei.

Os gêmeos adentraram a sala gritando: “Tia Karin, tia Karin! Ohayo!” e se agarraram em um abraço nas pernas dela.

—Oh! Ohayo, pequenos.

— Cadê o papai Sasuke? — Bara foi a primeira a querer saber.

— Seu pai? É... Bem... Ele...

Karin hesitou em dar a resposta que elaborara bem antes. Naruto não parecia enciumado como ela imaginou que ele ficaria; seu olhar e o sorriso largo desfeito diante da sua presença demonstravam algo muito mais doloroso do que ciúmes: amargura ou uma grande decepção.

Não fora uma falsa impressão, Naruto estava esperando muito por Sasuke àquela manhã e o fato de ela ter vindo ao invés dele, feriu o loiro de uma maneira que ela não poderia medir.

— Sasuke tinha um... — Karin interrompeu novamente o início da desculpa que iria inventar ao sentir o celular vibrando no bolso de trás da sua calça.

Animada por ter sido salva belo gongo, apanhou o aparelho rápido, mas ao ver que a ligação era do hospital em que sua filha estava internada sua animação se esvaiu dando lugar a um assombro que foi visível para todos os três em torno dela.

— Desculpe-me? Eu vou ter que atender, é uma chamada importante. — ela avisou olhando Naruto e, já prevendo o pior, atendeu a ligação perguntando: — O que aconteceu com a Midoriko?

...

Na manhã do domingo, o tempo continuava nublado. A chuva — que durara a madrugada inteira — havia se acalmado, mas as janelas embaçadas da casa refletiam o quanto a temperatura tinha caído. Pancadas de chuva eram comuns naquela época do ano em Tóquio, porém era incomum uma chuva tão fria.

Mas o interior da casa estava aquecido, não só por causa do aquecedor interno, mas devido à quantidade de presentes. Amigos de Karin, funcionários da universidade, alunos e representantes de cursos e até mesmo alguns empregados do hospital que acompanharam Midoriko durante todo o estágio da doença.

Ouvia-se pelo ambiente alguns choros isolados, cochichos dos que reclamavam sobre a crueldade do destino que tirara a vida de uma criança que mal começara a viver.

Juugo, o companheiro de Karin, era a pessoa aparentemente menos abalada no recinto. Ele dava atenção aos visitantes, recebia os Kõden[1] e ao mesmo tempo procurava dar apoio a Karin.

Karin, por sua vez, estava visivelmente dopada. Os olhos estáticos pareciam paralisados em um tempo o qual não pudera viver com a filha. Midoriko nascera com Anemia de Fanconi, que evoluiu para Leucemia, o câncer sanguíneo. Pouco antes de ser decretada a fase terminal da doença, os médicos sugeriram a Karin o transplante de medula óssea, alertando-a de que, naquele estágio da doença, o risco de rejeição seria bem maior. Mesmo assim, Karin quis se apegar naquela pequena possibilidade.

Midoriko reagiu bem aos primeiros dias pós-operatórios, mas um mês depois veio a recaída. Desacreditada pelos médicos e com tempo de vida decretado, Karin não pensou duas vezes em suplicar ao antigo colega de faculdade que se passasse pelo pai que a filha nunca teve; seria seu presente de despedida.

Karin havia se preparado tanto para uma negativa de Sasuke que até planejara um modo de fazê-lo aceitar seu pedido através de chantagem. No entanto, não foi preciso usar de meios ilícitos. Sasuke não só a surpreendeu ao aceitar o acordo de se passar pelo pai de Midoriko, como ainda trouxe seus pequenos filhos para perto dela, apresentando-os como os irmãos dela.

Então, a mãe presenciou o milagre acontecendo: o ânimo da sua filha se reascendendo quase seis meses depois da cirurgia. Midoriko parecia estar tão melhor que conseguiu deixar o quarto na UTI[2] para tomar ar fresco no jardim da clínica acompanhada do pai e dos novos irmãozinhos.

Todavia, fora tudo uma falsa impressão. Uma cruel falsa impressão. A doença ainda agia no interior dela, deteriorando seus órgãos e reduzindo ainda mais seu pouco tempo de vida. A consequência veio na manhã anterior ao velório, — o qual ocorria naquele instante na casa de Karin — a menina teve várias convulsões provocadas pela febre muito alta e pouco depois que a mãe e Sasuke chegaram ao hospital, veio à notícia: o óbito por falência múltipla dos órgãos.

O caos de toda situação que se seguiu naquele dia, fez com que Naruto evitasse tornar o clima pior ao ver Sasuke chegando ao hospital acompanhado da tia de Karin, uma mulher aparentemente mais velha, mas de beleza exuberante. Não era ingênuo ao ponto de não perceber o que foi exposto bem diante dos seus olhos: se os dois chegaram juntos era porque haviam passado a noite juntos. Bem simples de deduzir. Esse também fora o motivo por ele não ter atendido suas ligações na sexta à noite e não ter ido buscar os filhos no sábado de manhã.

Cansado de ficar de pé, Naruto sentou-se na poltrona na sala ainda com Hikari no colo. O menino estava assustado, aninhado com o rosto em seu peito e uma das mãozinhas fechada firmemente no agarre do tecido da sua camisa. Ele não queria de forma alguma ver Midoriko no caixão e começou a chorar desesperado quando soube que a irmã mais velha estava dentro do que chamou de “mala”.

Foi difícil explicar para os dois filhos sobre o que era a morte e que eles não veriam mais a menina. Mas eles entenderam.

Bara, como sempre, surpreendeu com sua maturidade. A menina não chorou em nenhum momento e optou por ficar o tempo inteiro com Sasuke na sala da casa onde Karin e Juugo recebiam os pêsames. Ela também não teve medo em olhar a irmã no caixão.

— Sasuke-san?

O moreno ouviu o chamado e direcionou-se até Juugo que estava diante do altar montado na sala, vestido com trajes cerimoniais igualmente a Karin do seu lado. A filha o acompanhou.

— Sim?

— A chuva parou um pouco. Acho melhor sairmos com o cortejo agora, poderia avisar aos visitantes para nós, por favor? — pediu Juugo, apertando a mão da mulher que estava junto a dele, esperando que ela dissesse algo, mas Karin permaneceu no mesmo estado inerte, por isso, ele deu a palavra final: — É. Karin não está passando muito bem, acho melhor não sair do lado dela agora.

— Deixe comigo, eu aviso a todos.

— Eu ajudo, papai— Bara se propôs, pegando a mão do mais velho.

— Obrigado. — Juugo agradeceu aos dois e sorriu para a menina.

O cortejo foi silencioso e não demorou muito devido a ameaça da retomada da chuva. Houve as palavras finais de um orador e por fim o sepultamento. Na saída do cemitério os que acompanharam o enterro vieram se despedir de Karin e Juugo um a um. Naruto e Sasuke foram um dos últimos.

— Ainda iremos agradecê-los devidamente por tudo que fizeram. — disse Juugo ao apertar a mão de Sasuke e em seguida a de Naruto.

— Apenas cuide dela. — Sasuke falou, olhando para Karin que estava com os olhos fixos na pequena Bara em seu colo. — Força, Karin.

— Tchau, tia Karin. — Bara aproveitou a pouca distância e a abraçou.

— Tchau, Bara-chan. — ela finalmente falou, com as lágrimas brotando de novo em seus olhos avermelhados. — Venha me visitar, tá?

— Hai.

Sasuke se propôs a levar Naruto e os filhos de volta ao apartamento. Naruto, por estar muito cansado e pouco animado para andar até a estação do metrô a pé com as crianças, embaixo daquele clima ruim, aceitou a oferta.

Os pequenos pegaram no sono no banco de trás pouco tempo depois que o carro começou a se mover. A garoa fina e fria havia recomeçado.

Yoru ficou com os avós após dizer aos pais que não queria ir ao velório de Midoriko. Mei também não quis acompanhar o funeral e despediu-se de Karin após dar os pêsames a ela ainda no hospital.

Enquanto dirigia, cada palavra da mensagem de Naruto repassava na mente de Sasuke. Havia esperado tanto por aquela abertura que não se conformava por ela ter ocorrido em meio ao seu momento de fraqueza. Chegava a ser irônico. Além disso, depois de toda a turbulência causada com a morte de Midoriko, não dispunha de ânimo para tentar se justificar, mesmo que houvesse uma justificativa. Concluíra que desculpas naquele momento só serviriam para aumentar as feridas. Decidiu deixar tudo como estava. Iria esperar que uma nova oportunidade como aquela surgisse.

O silêncio predominou entre os dois durante todo o percurso. Os únicos barulhos que se ouvia dentro do carro era o do próprio veículo funcionando e da ida e vinda dos limpadores do para-brisa. Não trocaram nem uma única palavra, nem mesmo quando chegaram ao conjunto de apartamentos e tiraram as crianças adormecidas do veículo e as levaram para o quarto.

O tempo passou e retornamos ao momento atual da crise entre Naruto e Sasuke.

Com os cabelos úmidos do banho recém-tomado, Naruto abriu a porta do quarto e encostou-se ao beiral, observando Sasuke acariciar os fios agora compridos dos cabelos de Hikari, úmidos e grudados no rosto dele devido à febre que era expelida através do suor.

— Já está na hora dele cortar. — falou, ao sentir a presença do ex-marido parado na entrada do cômodo.

— É, eu tentei convencê-lo, mas ele disse que quer deixá-lo crescer até ficar do cumprimento do da Bara. — explicou Naruto. — Ele ainda está com febre?

— Não. Está abaixando. Por falar na Bara, cadê ela? — Sasuke voltou-se para o loiro, que estava sem camisa, apenas com a calça de pijama e a toalha nos ombros. Perdeu-se nas contas de quantas vezes o admirara daquele jeito.

— Na área de serviço — Naruto respondeu, desencostando-se do beiral e adentrando o quarto e ficando diante de Sasuke, que estava sentado na beira da cama. — Ela foi dar comida para o R-16 e o M-13. —concluiu.

Sasuke ergueu-se e os dois homens ficaram a poucos centímetros do rosto um do outro. Mas os olhos de Sasuke estreitaram e o cenho dele se franziu.

— Estava transando com aquele ninfeto no banheiro do nosso quarto? — ele sussurrou a pergunta, para não acordar o filho. — Eu sei que ele estava com você no banho, eu ouvi a Bara conversando com ele enquanto saía do apartamento. Não sente nenhum pouco de remorso ao fazer isso em um lugar que era nosso? Não pensa que nossos filhos podem flagrar vocês juntos?

Naruto fechou os punhos, mas ter o rosto de Sasuke tão próximo ao seu o deixava sem reação, evitou desviar sua atenção dos olhos dele para a boca, mas não conseguiu.

— Onde está olhando?

— O que você acha?

— O ninfeto não te satisfez o suficiente?

— Cala a boca, Sasuke.

— Me faça calar, Naruto!

Em um impulso, motivado pelas farpas que trocavam, Naruto segurou o rosto de Sasuke com ambas as mãos e, como ele havia pedido, o calou. Com um beijo.

O homem de cabelos negros apertou os punhos do homem de cabelos loiros e tentou empurrá-lo para longe, resistir ao ataque. Mas a verdade era que Sasuke não queria afastá-lo, estava sendo dominado pelo desejo acumulado de estar com Naruto novamente e acabou deixando-se ser beijado, mesmo que no fundo houvesse uma repulsa por saber que em instantes antes, Naruto estivesse se agarrando com outra pessoa.

Suas mãos fraquejaram, as pernas cambalearam e perdendo seu controle racional para seus desejos, Sasuke se entregou. Agarrou-se ao pescoço do ex-marido e correspondeu a beijo da mesma forma faminta que ele.

Bara apareceu na porta do quarto com seu camaleão de estimação no colo e arregalou os olhos ao ver os pais se beijando. Rapidamente, saiu do campo que pudesse ser vista por eles e encostou-se a parede do corredor ao lado da porta. Ela segurava o lagarto somente com uma mão e com a outra cobriu o riso matreiro que se desenhou em seus lábios por ter flagrado os pais juntos.

— Se eles estão fazendo coisas de adulto, isso quer dizer que estão ficando de bem, né, R-16? Você quer espiar nossos papais também, né? Tá certo, eu vou com você. Mas não faça barulho, tá? — ela cochichou para o réptil que em respostas apenas moveu em círculos suas íris recobertas por uma camada grossa de pálpebras.

Assim que Bara colocou a cabeça para espiar dentro do quarto, ela viu que Hikari se remexia na cama, dando a entender que estava acordando. Com receio que o irmão atrapalhasse a reconciliação dos pais, ela engatinhou até a cama para se comunicar com ele por meio de gestos, mas seu plano foi por água abaixo assim que viu o gêmeo se descobrir ligeiro e colocar a cabeça para fora da cama, a tempo de verter o vômito no carpete do quarto.

— Hikari?! — sobressaltaram Naruto e Sasuke, separando-se atrapalhados e correndo para amparar o menino.

Ao notar a presença de Bara, Naruto se irritou ao vê-la com o bicho de estimação no quarto do filho doente.

— Bara, o que está fazendo aqui com esse camaleão?! — perguntou nervoso. — Vai colocar esse bicho lá fora, agora.

A menina franziu o cenho, chateada por ter levado uma bronca, e após contorcer os lábios em um bico, saiu do quarto pisando duro.

— Chato!

— Bara...

— Não precisa falar assim com ela, Naruto. — Sasuke disse, pegando o filho no colo depois que ele cessou a crise de vômito. — Você continua o mesmo, fica nervoso quando eles ficam doentes.

O loiro concordou, coçando a nuca em um gesto de constrangimento.

— Vamos fazer assim, eu vou ficar hoje e ajudá-lo.

Naruto arregalou os olhos.

— Jura?

— Claro. Eles são meus filhos também. Vou dar banho no Hikari e limpar essa bagunça. E você, desculpe-se com a Bara. Não é justo que desconte nela.

— Está certo. Você tem razão...

Naruto esperou Sasuke sair do quarto para fazer um gesto de comemoração. Algo lhe dizia que aquela era a chance que tanto esperava para uma reconciliação.

Continua...

[1]Kõden: No Japão o Kõden é uma doação de condolência para ajudar a família a custear o funeral. A entrega do dinheiro é feita em um envelope apropriado para pêsames, que pode ser encontrado em papelarias. O envelope é lacrado geralmente com fitas pretas, brancas, prata ou amarelas. Na frente do envelope é escrito a quantidade de dinheiro e na parte traseira, o endereço e no nome da pessoa que fez a doação. O valor da doação varia de acordo com o grau de proximidade do doador com o falecido ou com a família do mesmo. Geralmente, não se doa valores que façam referência ao número “4” (o número 4 em japonês tem o mesmo som da palavra “morte”, e isso é considerado uma gafe).(Fonte: http://www.culturajaponesa.com.br/htm/velorio.html )

[2] UTI – Unidade de Terapia Intensiva;

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