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[Naruto] A Crise dos Sete - Capítulo 14, escrita por Andréia Kennen

Capítulos: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 Extra 1 Extra 2 Epílogo
Autor: Andréia Kennen
Gênero: Lemon, Romance, Universo Alternativo, Yaoi
Status: completa
Classificação: 18 anos
Resumo: Naruto e Sasuke, mesmo sendo um casal pouco convencional, sempre se esforçaram para viverem bem e como uma família comum. Contudo, o mal que assola as famílias comuns (a temerosa "Crise dos sete anos de casados")está rondando esse lar feliz. Será que eles irão conseguir vencer todos os obstáculos e manter o casamento?
Confiram![NaruSasu. +18. Presente de níver pra minha Blond-Hikari-nee-chan.]

A Crise dos Sete
Revisado por Blanxe
Capítulo XIV


Como nos dois fins de semana anteriores, Sasuke levou os filhos para passarem a manhã com Midoriko no Hospital. Nas manhãs de sábado, a menina era liberada para tomar banho de sol no jardim da clínica particular; sempre acompanhada por um enfermeiro que, apesar de não ficar muito próximo — para melhor conforto dos acompanhantes —, permanecia nos arredores, monitorando-a.

Midoriko se encantou assim que conheceu o casal de gêmeos energéticos, sorridentes e desinibidos. Quando Sasuke lhe disse que traria os “irmãozinhos” para que ela conhecesse, jamais imaginou que eles fossem tão opostos ao pai moreno, não só na personalidade, mas no físico, já que ambos eram loiros e de olhos claros. Imaginou o quanto a mãe deles deveria ser bonita; uma bela estrangeira de olhos azuis.

De primeiro momento, a presença das crianças causou certo tumulto na ala onde Midoriko fica internada. As enfermeiras, médicas e até as “tias da limpeza” se encantaram tanto com o casal que a maioria entrava em seu quarto para conhecê-los e falar com eles. Achou Bara a mais simpática, a irmãzinha era esperta, gostava de conversar sobre vários assuntos, principalmente, sobre biologia. Achava uma graça quando ela falava como adulta. Mas o manhoso Hikari ganhou seu coração ao dizer que ela era linda e que parecia a princesa do conto “A Branca de Neve”, mesmo que quem tivesse cochichado o elogio no ouvido dele tivesse sido Yoru — o filho mais velho de Sasuke; fruto de outro relacionamento — e que, infelizmente, não viera daquela vez.

Fora estranho para Midoriko, de repente, ter tantos parentes, mesmo que não fossem do seu sangue, e ser chamada de “Midoriko-nee-chan” e “otome”. Da mesma forma como foi um tanto adverso, todavia, agradável, chamar o Yoru-kun de “onii-san”, já que os pequenos ela optara por chamá-los da mesma forma que eles se tratavam: “Bara-chan” e “Hi-chan”. Apesar de que Hikari não usava nem um sufixo no nome da irmã, era somente “Bara”. Assim como Sasuke, que chamava todos igualmente, usando apenas os primeiros nomes: Bara, Hikari, Yoru e ela, Midoriko.

Durante a semana que antecedia a visita da nova família, Midoriko pensou em como se divertiriam, pensou em jogos de tabuleiros, cartas e adivinhações, algo que não exigisse dela tanta energia, mas que não deixasse os mais novos entediados. E, até aquele momento, comprovara que estava funcionando. Os dois já eram acostumados a jogos e a disputa, por isso, se divertiam com os macetes que ela ensinava. Depois passariam para a lista de músicas, os álbuns de fotografia que os pequenos trouxeram e, por último, ela, que gostava muito de ler e até escrever suas próprias histórias, iria narrar um conto de fadas para eles.

Sasuke acompanhava-os de longe, sentado em um banco de madeira, sob a sombra de uma Cerejeira. O dia estava agradavelmente limpo e o céu claro exibia aquele odioso tom azul claro impecável que lhe remetia como uma afronta aos olhos de Naruto.

A brisa que soprou amena fez as galhas da Cerejeira balançarem e pequenas pétalas de Sakura saírem bailando no ar; sentiu um aroma cítrico trazido pela brisa se misturando com o adocicado das flores, reconheceu imediatamente como o perfume da mulher ruiva que logo se sentou ao seu lado, estendendo-lhe uma lata.

— Café. Acho que está precisando.

— Obrigado — disse ele, fechando o laptop e deixando-o do seu outro lado.

Antes de Sasuke fechar o monitor Karin espiou a tela do aparelho e visualizou que o documento aberto se tratava de um dos relatórios da universidade que trabalhavam. Sasuke era seu assessor, por isso, não tinha nem como ele esconder que aquilo que estava fazendo era trabalho.

— É seu dia de folga... — ela balbuciou a advertência, bebericando o líquido da lata que já estava aberta. — Deveria desligar-se um pouco.

— Só estava revisando o relatório de segunda...

Karin ignorou a justificativa.

— Está muito chateado, não é mesmo? Suas sobrancelhas estão franzidas mesmo em um dia lindo como esse, mesmo estando na companhia dos pequenos que tanto ama... Vai, aconteceu alguma coisa antes de você vir pra cá? Não conseguiu vê-lo direito, é isso? Nem trocar elogios, afinal, você tá muito gato hoje. — ela sorriu, observando.

Houve o barulho do chiado da lata de Sasuke se abrindo. Depois, os grandes goles dele entornando o conteúdo da mesma garganta abaixo. Então, ela o viu suspirar profundamente, apoiar os braços sobre as coxas e fixar os olhos na grama verde do jardim.

— Tem um... vizinho... um garoto ruivo... eu achei que... achei que ele não seria problema... que o Naruto não fosse capaz, mas...

— O Naruto está saindo com esse vizinho?

A pergunta direta de Karin fez Sasuke crispar as mãos em punho. Já estava sendo difícil abordar o assunto e o jeito banal com que ela perguntava algo que lhe feria o íntimo o irritou.

— Ta aí o problema: eu não sei. — foi direto e seco. — Eu cheguei para pegar as crianças hoje e ele estava na casa. O pior e pelo que entendi, é que ele passou a noite lá.

— Passou a noite? Você está brincando? O Naruto foi tão rápido assim?

— Pelo que a Bara me contou, não é nada disso. Eles estão passando a noite estudando.

— Estudando? Para quê?

— Vestibular.

— Quem vai prestar vestibular?

— O tal garoto... e o... Naruto.

A boca de Karin se abriu em surpresa.

— Isso é uma piada? Não pode ser. O Naruto vai prestar vestibular? Pra quê?

— Eu não sei. Isso me deixou ainda mais fulo. Eu sempre quis que o Naruto terminasse os estudos, mas ele sempre me respondia que o negócio dele era serviço braçal, e agora, mal nos separamos e ele está estudando pra prestar vestibular? Consegue entender isso, Karin? Por que eu estou tentando e não estou conseguindo.

— Bem... Eu já vi casos de colegas que agiram da mesma forma. Após perderem o marido, e em consequência o sustento, elas decidem voltar a estudar, nem que seja reciclagem, para poder disputar uma vaga no mercado de trabalho. Mas o Naruto está muito longe de se parecer com uma dessas amigas...

— Pois é. Eu fiquei sem rumo. Fora que, é visível que esse garoto está interessado nele. Ele tem um jeito que me irrita, parece que ele faz questão de me afrontar. Mas o que eu não esperava era que o Naruto fosse ceder... dar brechas para ele se aproximar. Afinal, é só um moleque, até acredito que seja menor de idade. Eu não consigo entender como o Naruto está se deixando envolver em um relacionamento perigoso assim.

— Será que é a primeira vez que esse garoto está prestando o vestibular?

— Não, a Bara disse que ele estava reclamando para o Naruto, acredito que foi para motivá-lo, que já havia reprovado duas vezes no teste.

— Então, Sasuke. Ele não deve ser tão criança assim. Se ele já não tiver 21 anos, está beirando. Afinal, ele deve ter terminado os estudos com dezoito anos, com dezenove prestou o primeiro vestibular e com 20 o segundo.

A dedução rápida de Karin fez Sasuke engolir em seco.

— Mas ele parece ter a idade do Yoru...

— Infelizmente, isso acontece. Principalmente, se o indivíduo em questão tiver baixa estatura e for muito magro. — ela concluiu, voltando a recostar-se ao apoio do banco atrás dela, e girar o conteúdo da latinha. — Enfim, se você estava achando que a idade do garoto seria um empecilho...

Sasuke amparou a cabeça com ambas às mãos, em sinal de desespero.

— O que eu faço agora, Karin?

— Posso ser sincera?

— Você vai ser, mesmo que eu disser que não pode.

Ela sorriu.

— Verdade. Então, por que você não faz como ele?

— Do que está falando? Ficou maluca? Quer que eu arrume um ninfeto?

— Não estou falando sobre arrumar um garoto. Estou falando sobre fazer uma nova tentativa. Já pensou nisso?

O moreno voltou a ficar ereto e observou o rosto sério de Karin.

— Você quer dizer... Sair com outra pessoa?

— Bingo!

Os olhos de Sasuke moveram-se do rosto sem maquiagem de Karin e parou no grupo de crianças mais a frente que agora folheavam animadas os álbuns de fotografias.

— Não estou falando pra você esquecer o Naruto, Sasuke. Apenas acho que você deveria se desprender um pouco dele, tentar se encontrar com outras pessoas, pelo menos, até ter a certeza de que, aquilo que você realmente quer, é tê-lo de volta.

— Não sei se sou capaz disso, Karin. Você sabe, mais do que qualquer um, que nunca fui do estilo sociável.

A mulher repousou a mão do ombro dele e o apertou levemente.

— Relaxa. Se estiver disposto a tentar, eu posso te arrumar alguns encontros.

Demorou um pouco até Sasuke assentir, ainda receoso. Achava muito cedo para pensar em novos relacionamentos, mas depois daquilo que vira pela manhã, percebera que essa poderia ser uma opção para causar ciúmes em Naruto.

Midoriko olhava o álbum de Bara e Hikari impressionada. Em nenhum momento vira nelas a mãe dos gêmeos, apenas fotos de Sasuke, dos dois loirinhos e de outro homem loiro, de sorriso avantajado na face, o qual notara ter os mesmos traços dos gêmeos. Esse homem, eles também o chamavam de “papai”, “papai Naruto”. Por um instante, Midoriko sentiu algo apertar seu coração. Aquelas crianças, pela lógica e assim como ela, não deveriam ser filhos biológicos de Sasuke. Discretamente, olhou sobre o ombro e observou o homem moreno que a mãe alegara ser seu pai, conversando seriamente com ela; voltou em seguida para as fotos que eram apontadas pelos dedinhos que diziam “nesse dia foi nosso aniversário e o papai Naruto e o papai Sasuke...” De certa forma, aquilo a deixou feliz, por se sentir mais próxima e mais igual a eles. Percebeu que para Sasuke, não era mesmo necessário ter seu sangue para ser um filho dele e sentiu-se como se fosse legítima; irmã de verdade daquelas crianças.

— Midoriko-nee-chan, por que está chorando?

Rapidamente ela se recompôs, deixando o álbum sobre seu colo para passar as costas das mãos sobre os olhos.

— Acho que foi um cisco... — ela mentiu, sorrindo. — Mas me contem uma coisa. E a mamãe de vocês?

— É a Ino. — Bara respondeu primeiro.

— Então, vocês a conhecem?

— Sim. — fora a vez de Hikari assentir e completar: — Ela mora com a vovó Tsunade. Mas ela não gosta que a chamamos de “mamãe” é “Ino-nee-chan”.

— Mesmo? E vocês não ficam chateados com isso?

— Não. — Bara respondeu séria. — Sabe, Midoriko-nee-chan... O papai Sasuke e o papai Naruto são dois meninos. Dois meninos não podem ter bebês. Mas eles queriam muito ter filhinhos. Aí, pra ter a gente, eles pediram a barriga da mamãe Ino emprestada. Mas só o papai Sasuke e o papai Naruto que cuidam da gente. Entendeu?

Midoriko sorriu e afirmou que entendera com um menear de cabeça. A maturidade de Bara e a forma como ela abordava um assunto tão delicado de forma tão natural realmente a impressionara. Agora entendia porque sua mãe não teve nenhuma chance com Sasuke. Mesmo assim, não se compadeceu da decepção que ela deve ter passado, porque achou a história deles bonita, por mais que não conhecesse os detalhes. Parecia-lhe certo que Sasuke e o tal Naruto tiveram muitos obstáculos para construir aquela família, mesmo assim, eles não deturparam a realidade para os pequenos, que até conheciam a mãe biológica. Pensar do ponto de vista dos irmãozinhos, que demonstravam não se importar muito com a mãe biológica, a fez imaginar o quanto estava sendo imatura, obrigando a mãe apresentar-lhe um pai que nunca esteve presente.

Midoriko repousou a mão direita sobre a cabeça de Bara e a elogiou.

— Você explica muito bem, sabia? Deveria ser professora.

O elogio fez Bara abrir um grande sorriso.

— Igual ao papai Sasuke! — a pequena comemorou, erguendo os bracinhos pra cima.

— E eu, nee-chan? O que eu deveria ser quando crescer? — perguntou o enciumado Hikari, já repuxando os lábios de um lado para o outro, fazendo um grande bico.

— Que tal ator? — a mais velha sugeriu, ganhando dele um olhar impressionado. — Você é bem expressivo, Hi-chan. Além de ser muito lindo, né? Que tal? — ela piscou-lhe um dos olhos e o menino corou, elevando a mão na nuca e a coçando, uma demonstração de timidez herdada de Naruto.

— Ha, ha... Pode ser, né?

— Hmmm. Ficou com o rosto vermelho que nem um to-ma-teee! Hi-chan está a-pai-xo-na-dooo! — saiu Bara cantarolando, debochando do irmão que ficou furioso e saiu correndo atrás dela.

— Baraaaa, bakaaaa!

Sasuke os repreendeu, pedindo para que não corressem no jardim do hospital e o enfermeiro se aproximou do grupo, informando que já havia terminado o horário de recreação da paciente. As crianças protestaram decepcionadas, já que Midoriko não tivera tempo para narrar a história que havia criado.

— Eu posso contá-la por telefone, à noite, quando vocês forem dormir. O que acham?

— Combinado! — gritaram os dois.

Sasuke disse ao enfermeiro que empurraria a cadeira, enquanto Karin seguia mais à frente com os gêmeos.

— Desculpe? Quase não te dei atenção hoje.

Midoriko balançou a cabeça negativamente.

— Não tem problemas. Me diverti muito com a Bara-chan e o Hi-chan e... eu vi o seu esposo no álbum...

A observação de Midoriko fez Sasuke parar de empurrá-la por um instante. Ele havia se esquecido completamente daquele detalhe quando pediu para as crianças trazerem os álbuns. Porém, não escondia a verdade de ninguém e não achou que precisasse fazer teatro aquela altura da vida, ainda mais para a Midoriko, que demonstrava ter a mesma maturidade de Bara. Por isso, imaginou que não precisava dar maiores explicações e voltou a impulsionar a cadeira, seguindo com a conversa no mesmo tom informal que ela abordara.

— E o que achou dele?

— Muito bonito. — a menina afirmou, ficando com o rosto levemente rosado. — Será que eu poderia conhecê-lo um dia?

Sasuke suspirou.

— Estamos passando por uma crise no momento, por isso, não vou prometer.

— Vocês vão superá-la.

A menina voltou a alegar naquele tom natural que fez Sasuke querer questioná-la o porquê de ela ter tanta certeza, mas imaginou que aquela fora somente uma observação aleatória e achou melhor não deixar aquela afirmação preenchê-lo de esperanças, mesmo assim, sorriu diante da constação.

— É o que eu realmente espero, Midoriko... É o que realmente espero.

...

Yoru estava emburrado. O “encontro” que Naruto lhe prometera se resumira a um simples passeio no parque do bairro, o Nogawa, o mesmo parque onde ele sempre levava os gêmeos para brincarem. O mais irritante ainda fora vê-lo estender a toalha sob as sombras das árvores e se deitar em seguida, pedindo para que fosse se divertir enquanto ele tiraria um cochilo.

“Como eu vou me divertir sozinho? Ou será que ele está esperando que eu me misture com essas crianças sujas?”, pensou o garoto, sentindo a veia na sua fronte latejar.

O parque estava cheio, mas haviam escolhido um local afastado. Observou a sua volta e não percebeu ninguém por perto. Então, largou seu celular de lado e se aproximou de Naruto. O padrasto ressonava em um sono profundo. Os feixes de claridade que transpassava pelas frestas da árvore desenhavam formar irregulares no rosto dele. Havia ficado indignado em saber que o vizinho ruivo passara a noite na casa do Naruto; já havia entendido que Sasori estava aproveitando-se da separação e inventando pretextos para se aproximar. Por isso, não podia ficar para trás. Tocou os fios loiros da franja do padrasto. Sentiu o estômago comprimir ao concentrar sua atenção nos lábios dele. Naruto estava tão inofensivo que qualquer um poderia abusar dele naquele instante e, pensando naquilo, Yoru debruçou-se mais sobre o corpo deitado e, com coração batendo cada vez mais intenso, decidiu fazer aquilo.

Seria um beijo roubado. Mas, ainda assim, seria um beijo. Decidido, apertou os olhos, mas antes do toque acontecer, seus ombros foram presos por um aperto de mãos fortes. Abriu os olhos e deparou-se com os olhos azuis claros abaixo de si o encarando firmemente.

— O que pensa que está fazendo, Yoru-chan?

— Tornando esse passeio chato mais interessante! — respondeu, deixando que a revolta falasse por si.

Conforme foi se erguendo, Naruto foi afastando o enteado, até que se sentaram, então o largou. Com os olhos fechados, massageou o pescoço com uma das mãos; não conseguira dormir direito com Yoru lhe observando, mas não esperava que ele fosse tentar algo daquele tipo. Uma leve dor de cabeça se apossou da sua fronte.

Yoru, por sua vez, se manteve sentado sobre os joelhos, as mãos crispadas em punho sobre o colo; preparado para a bronca que ouviria.

— Hein, Yoru-chan... Não tente fazer algo desse tipo de novo ou vou ficar muito bravo com você. Eu sou seu padrasto.

— Mas estamos em um encontro...

— Não é um encontro! — Naruto o cortou ríspido, mas ao perceber que fora muito incisivo, diminuiu o tom. — É um apenas um passeio normal. Eu não posso ter um encontro com um garoto da sua idade, ainda mais, o filho do meu companheiro.

— Ex-companheiro! — Yoru o corrigiu em um grito. — Além do mais, porque não pensa da mesma forma em relação aquele afeminado do Sasori?!

Naruto fechou o punho na gola do garoto, mas conteve no seu íntimo a vontade de estrangulá-lo.

— Primeiro: não use esse palavreado mal educado com mais ninguém, Yoru-chan. — Naruto proferiu, entre dentes cerrados. — Segundo: não fale como se eu estivesse saindo com o Sasori porque não estamos. Ele está apenas me dando apoio em um momento difícil. Terceiro: eu posso ser o “ex-companheiro” de Sasuke, mas o que eu sinto por ele não diminuiu de forma alguma. Eu ainda amo seu pai. Quarto: só para o seu conhecimento, eu preferiria sim, “o afeminado do Sasori” que, apesar de tudo, já é quase um adulto do que me complicar ficando com um “moleque sem educação como você”!

O padrasto soltou a camisa do enteado e Yoru sentiu as lágrimas fluírem rapidamente. Raiva – era tudo que ele sentia. Muita raiva. Nunca imaginou que Naruto fosse capaz de ser tão duro. O homem que estava sempre sorridente, que era tão gentil e até mesmo bobo. Como poderia imaginar que ele usaria palavras tão duras e que o machucassem tanto?

— Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh! — O grito que irrompeu o ambiente, chamou a atenção das pessoas ao longe. — Está doendo! Está doendooooooooooo!

— O que está fazendo, Yoru?! — Naruto tentou novamente segurar os ombros dele.

— Não toque em mim! Não toque em mim! Eu te odeio, Naruto-otou-sannnn! Eu te odeiooooo! Todo mundo me rejeita! Todo mundo! Eu não esperava isso de você!

— Alguém chame a polícia! Tem um garoto sendo molestado bem ali!

...

Sasuke deixou os gêmeos com os pais e foi até a delegacia atender a um chamado; totalmente incrédulo no que ouvira do delegado ao telefone: que um rapaz chamado Naruto estava detido por tentativa de violentar seu filho. Quando chegou ao local, Yoru já havia passado pelo exame de corpo de delito e aguardava em uma sala reservada. O exame e o depoimento da suposta vítima comprovavam que não havia tido tentativa alguma de estupro e nem agressão, fora somente um mal entendido. Mesmo assim, o delegado não simpatizara com Naruto por dois motivos: a aparência estrangeira e por ele alegar que era casado com o pai do garoto e não a mãe. Por esses motivos, decidiu fazer a liberação de Yoru diante da presença do representante legal.

Ao contrário da impressão ruim que teve de Naruto, o delegado simpatizou com o pai do menino. O “senhor Sasuke”, na visão dele, era um homem de respeito; professor universitário, falava bem e aparentava ser uma pessoa de índole. Sasuke afirmou sobre a relação estável com o loiro e preferiu não comentar sobre a separação, para não gerar mais empecilhos para liberação da dupla. Sasuke também se desculpou pela atitude do filho, alegando que ele estava confuso com a mudança repentina de ambiente, pois a mãe havia lhe cedido a guarda temporária há pouco tempo, e o garoto ainda não havia se habituado a nova rotina.

— Posso dar um conselho, meu rapaz? — o delegado, que era um senhor de meia idade, pediu aquela permissão e como Sasuke precisava manter a cordialidade, assentiu. — Não vou dizer que não tive minhas escapadas na juventude. Sabe, essas coisas a gente faz mesmo quando é mais novo. Mas isso não é algo para se viver uma vida toda, para se criar uma família. Não deixe que um tipo como aquele lhe prenda no caminho errado. Veja o que ele tentou fazer com seu filho e use como exemplo. Quando se quer casar, você arruma uma boa esposa; apenas isso. Um rapaz bem apessoado como você é capaz de conseguir um casamento com uma garota de bem facilmente. Eu tenho uma filha solteira, se tiver interessado, posso apresentá-los...

Sasuke saiu da sala do homem com o cartão dele na mão e a cabeça doendo. Estava irritado por ser obrigado a ouvir todas aquelas baboseiras e, como se não lhe faltasse mais nada, assim que adentrou a sala onde Naruto estava detido, viu o oficial que deveria estar vigiando-o cheio de conversa “mole” para cima do loiro. Lembrou-se imediatamente das palavras do delegado que quis lhe dizer claramente que suas “escapadas na juventude” significava que ele já havia transado com homens, mas por mera diversão. E que uma família de homossexuais não podia ser levada a sério.

— Naruto, vamos? — chamou, da porta mesmo.

— Ok. — respondeu o loiro para Sasuke e, mantendo o sorriso simpático para o agente ao seu lado, despediu-se: — A gente se fala, então.

— Matte, Naruto-san? — o oficial pediu, chamando atenção não só do loiro, mas do moreno também.

— O quê?

Sasuke viu o oficial que — apesar de ser alto e ter o porte dos frequentadores de academia, parecia ser bem mais novo que ele e Naruto —, ficar com o rosto vermelho.

— Eu frequento aquele lugar nas terças e quinta, sabe, quando é minha folga aqui. Bem... a gente poderia se encontrar lá qualquer dias desses...

O loiro elevou a mão na nuca instantemente e a coçou, sorrindo sem graça por estar sendo convidado para sair em frente do recém-ex-marido, mas não tinha interesse algum no policial, mantivera a conversa casual para se distrair enquanto aguardava, mas pelo que percebera, o rapaz havia entendido errado. Porém, decidiu respondê-lo por mera educação.

— Né? Eu apareço por lá qualquer dia desses.

— Hai! — o homem não conteve o sorriso e a euforia.

Os dois seguiram rápidos pelo corredor que levava a saída e Sasuke balançava a cabeça negativamente enquanto andava; descrente na cena que presenciara.

— O vizinho, meu filho e agora o oficial-garotão… É, você não perde mesmo tempo, hein?

Naruto estancou nas escadas que os levariam até a rua, onde o carro de Sasuke estava estacionado, e abriu os braços, batendo-os ao longo do corpo e, abrindo seu maior sorriso, respondeu:

— Sabe, se você quer acreditar nessa merda toda, o problema é seu, Sasuke. Você já tinha esse tipo de pensamento quando estávamos juntos. Sempre falando que eu estava dando moral para os “garotões” do futebol e mais um monte de baboseira. Então, dane-se, ok? Vou indo nessa.

— Aonde você vai? Eu te levo em casa.

— Minha bicicleta está aqui e eu não vou deixá-la.

— Vai até Chofu[1] de bicicleta?

— Tô precisando, depois do dia que tive. Tchau, Sasuke!

O moreno continuou balançando a cabeça em negação e entrou no carro, fitando o filho que já o aguardava sentado no banco ao lado do seu, todo encurvado pra frente, e com a cabeça encostada nos joelhos. Yoru fungava, demonstrando que ainda estava chorando desde a hora que o deixou ali.

— Yoru...

— Eu já ouvi sermões demais por hoje, por favor, me poupe de mais um. Estou arrependido, envergonhado, me sentindo mal pra caramba, já é o suficiente, não é? Fora que, nunca mais o Naruto-otou-san vai me perdoar... Eu sou tão burro, tão burro! Agora todo mundo me odeia.

Sasuke suspirou e repousou a mão sobre a cabeça do filho; fazendo o garoto se sobressaltar.

— Não fale idiotices. Cabeça de vento do jeito que o Naruto é, amanhã mesmo ele já terá apagado tudo isso na memória. Não julgue seu padrasto, Yoru. Ele não é do tipo que consegue odiar alguém com facilidade. Mas você deve desculpas, sim, por fazê-lo passar por esse mal-entendido.

— E como eu faço isso?

— Ligue para ele amanhã. — o mais velho disse em tom de conclusão, dando ignição o veículo e seta para sair. — Se arrume no banco e coloque o cinto, não quero ter que ser parado por um guarda de trânsito agora.

— Gomen.

Yoru se ajeitou, conforme Sasuke lhe pedira e passou as mãos no rosto, limpando a umidade deixada pelas lágrimas. Observou o pai e sentiu algo estranho. Fora algo parecido com o dia que o vira tão chateado por causa do Naruto. Poderia estar imaginando coisas, mas estava começando a ter simpatia por aquele homem que antes, acreditava ser uma pessoa ruim.

Certamente, era um sentimento que nascia devido à convivência. Estava começando a perceber que Sasuke não era tão insensível como imaginara e isso fez com que aquele sentimento estranho que nascia em relação a ele, aumentasse.

— Posso... te dizer uma coisa, velho?

— Não me chame de “velho”!

— Mesmo você sendo velho?

— Yoru...

— Tá. Então... Sasuke?

— Qual é o seu problema com a palavra “pai”?

O garoto ergueu os ombros, como se respondesse “nenhum”.

— Enfim. Posso te dizer algo?

— Pare de enrolar e diga logo! Está tirando a minha concentração do trânsito.

— Não perca o Naruto para aquele ruivo, pai... Ou eu nunca vou te perdoar.

A fala de Yoru realmente surpreendeu Sasuke, incrédulo de ter ganhando o apoio do filho mais rebelde. Mas preferiu não questioná-lo e apenas confirmou, em seu típico resmungo.

— Hm.

Continua...

[1] Chōfu (調布市 Chōfu-shi) is a city located in the western end of Tokyo Metropolis, Japan.

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