|

[Naruto] A Crise dos Sete - Capítulo 9, escrita por Andréia Kennen

Capítulos: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 Extra 1 Extra 2 Epílogo
Autor: Andréia Kennen
Gênero: Lemon, Romance, Universo Alternativo, Yaoi
Status: completa
Classificação: 18 anos
Resumo: Naruto e Sasuke, mesmo sendo um casal pouco convencional, sempre se esforçaram para viverem bem e como uma família comum. Contudo, o mal que assola as famílias comuns (a temerosa "Crise dos sete anos de casados")está rondando esse lar feliz. Será que eles irão conseguir vencer todos os obstáculos e manter o casamento?
Confiram![NaruSasu. +18. Presente de níver pra minha Blond-Hikari-nee-chan.]

Notas iniciais do capítulo
Nota 1: Tenho consciência de que a Tsunade é uma personagem super digna na história de Naruto, e na verdade, ela é pra mim, a única personagem feminina digna da história. Sei que tem muita gente compartilha da mesma opinião, por isso, estou alertando que aqui na Crise, para o bom desenvolvimento da história que se passa em uma realidade alternativa, a Gondaime interpretará uma mãe homofóbica. Fiquem avisados, sem pedras. :D

Nota 2: Agradecimentos especiais a Blan, por ter revisado o capítulo de última hora. Obrigada, Blan! T_T

Nota 3: Hoje, A Crise está fazendo um aninho de vida junto com a presenteada da fic e por isso, o capítulo é especial e um pouquinho maior.

Nee-chan, sei que você está corrida com exames da escola, não acho que eu tenha te ajudado muito com aquelas dúvidas de português, mas eu tentei. (preciso voltar a estudar e me atualizar T_T.).

Mas, quero que saiba o quanto é especial e o quanto te desejo tudo de bom não só hoje, mas sempre. E também dizer que não consigo deixar de me sentir presenteada ao escrever A Crise pra você.:D E Hoje, mais do que nos outros capítulos, o capítulo é em especial pra você.

Mas permita-me também, compartilhar a fatia do seu bolo, com todos os 79 leitores que seguem a história no Nyah, e aos 14 que seguem pelo ffnet. São 93 pedaços... Espero que todos se sintam satisfeitos. ._.

Feliz aniversário! Agora, vamos degustar o bolo, digo, o capítulo!





A Crise dos Sete
Capítulo 9
Revisado por Blanxe
— Naruto, você sabia que o Sasuke tem uma filha?
O loiro perdeu a sensibilidade dos dedos e a caneca de porcelana escorregou, partindo-se em pequenos pedaços ao se impactar com o chão, espirrando o líquido negro por todo o piso branco e para as bases dos móveis claros da cozinha. A louça se quebrou quase ao mesmo tempo em que a gritaria do casal de gêmeos dizendo ‘vovó’ invadiu o ambiente. Tsunade não teve tempo de se preocupar com a reação do Naruto, pois sua atenção foi tomada subitamente pelos pequenos que praticamente pularam em seu colo.
— Trouxe presente, vovó?
— Ah, seus pequeninos interesseiros! — a mulher sorriu, abraçando um e depois o outro.
Yoru entrou na cozinha, segundos depois dos gêmeos, coçando a barriga por dentro da camisa do pijama.
— Oi, obaa-san.
— Você também está aqui, Haruno-chan?
O adolescente estreitou os olhos na direção da mulher. Odiava ser chamado daquele jeito. No entanto, deu de ombros, pois sabia que era uma provocação da avó. Afinal, nunca usara o sobrenome da mãe e sim o de solteiro do pai: “Uchiha”, a pessoa a qual ela não fazia questão de esconder sua antipatia e, por isso, decidiu não dar margens para discussão, abrindo a boca em um grande bocejo e direcionando sua atenção ao padrasto.
― Ohayo, otou... Ai! — o garoto se deteve ao pisar em um dos cacos no chão. — O que aconteceu aqui?
Naruto despertou do transe e olhou o enteado com ar enfurecido, acabando por descarregar nele um pouco do que estava sentindo.
— Por que está descalço, Yoru?! ­— Naruto gritou, transtornado. — Vá colocar a pantufas! Não está vendo que o chão está cheio de cacos?!
O garoto ficou estagnado por um momento, tentando entender o que havia acontecido ali e qual seria o motivo do tom ríspido do padrasto. Não demorou a deduzir que a alteração dele tinha algo haver com a visita da médica que se dizia avó dele e dos irmãos. Mas, antes que pudesse levantar alguma questão, a mulher afastou os gêmeos e levantou-se.
— Vem cá, Yoru-chan. — ela o chamou. — Deixe-me ver se o corte foi profundo.
— Eu estou bem! — o garoto retrucou, querendo rejeitar a ajuda da possível causadora do tom aborrecido do padrasto. E, tentando provar que o ferimento não era nada grave, virou a planta do pé para cima e puxou o caco que havia adentrado a carne, fazendo o sangue escorrer pelo corte.
Hikari, ao ver a quantidade de sangue que saía do ferimento e escorria para o chão branco, se apavorou e começou a chorar.
— Sangue! Sangue! Nii-san!
Bara apenas tampou os ouvidos com ambas as mãos, para abafar o escândalo que o irmão fazia.
A cabeça do loiro girou. Estava tentando processar o que Tsunade acabara de lhe dizer e aquela balburdia não o deixava raciocinar direito. Iria abrir a boca para pedir por silêncio quando o marido surgiu na porta da cozinha com um ar endurecido e a expressão contraída em preocupação, o que fez seu estômago se retorcer.
— O que está acontecendo aqui? — Sasuke perguntou, mas não precisou de resposta, ao passear os olhos pelo ambiente pôde assimilar o que ocorrera; caminhou até o gêmeo, que gritava ao lado do pé que sangrava do mais velho, e o apanhou no colo, segurando-o apenas em um braço, enquanto que com a outra mão limpava o rosto dele, já banhado em lágrimas. — Pare com essa choradeira, meu filho. Seu irmão está bem, foi um corte pequeno.
— Ma- mas... sangue, papai. San- sangue! O- o- o nii-san... de- deve tá doe- doendo... — o garoto soluçava, sem saber ao certo se esfregava o rosto ou se apontava para o pé machucado do mais velho.
— Eu tô bem, Hi-chan — o adolescente garantiu, querendo tranquilizar o menor.
— Tem caixa de primeiro socorros nessa casa? — Tsunade perguntou, chamando atenção de Sasuke que, só então, pareceu perceber sua presença.
— Claro — Sasuke respondeu tranquilamente. — Está no banheiro, no armário do canto da pia. A chave está pendurada atrás da porta.
— Então vá, Yoru. — ela ordenou para o menino. — Vá buscar, aproveite para lavar o pé com bastante água e depois traga a caixa até a sala que eu vou fazer um curativo.
— Eu posso ser a ‘fermeira, baa-chan? — a menina, que estava do lado da avó, perguntou, puxando a barra da calça para ganhar atenção da mais velha.
— Claro, minha boneca. Você é uma menina que me dá orgulho. É tão corajosa.
— É que quando eu crescer vou ser médica de animais ou biologra. Não tenho medo de sangue que nem o Hi-chan.
— Eu não tenho medo! — o menino se defendeu, rapidamente.
— Tem sim, seu chorão! Deve até ter feito xixi nas calças.
— Baaaraaaa!! — o menino esperneou no colo do pai e foi repreendido por ele.
— Não faz isso, Hikari!
— Daqui a pouco eu volto, Naruto. — a mulher falou, saindo após pegar a mão da loirinha e levá-la consigo.
— Eu quero ir também, otou-san. — o garotinho protestou, cessando de vez o choro. — Me põe no chão.
Sasuke colocou o filho no chão e o viu sair correndo atrás da avó e da irmã.
— Não corra, vai acabar caindo e se machucando também. — alertou, suspirando desolado, passando as mãos nas longas franjas para alinhá-las e voltando-se para Naruto, perguntou: — Mas qual foi o motivo dessa confusão tão cedo?
Sasuke não obteve resposta e, por um segundo, sentiu algo estranho comprimi-lo por dentro. Franziu o cenho. Naruto ostentava uma expressão vazia; os olhos azuis claros estavam fixos em si, mas pareciam enxergar além, perdidos em outro espaço, outro tempo... Aquilo era muito incomum. Aproximou-se com cuidado para não pisar nos cacos e se deteve diante dele, tentando decifrar aquela feição.
— Você está bem?
A pergunta despertou Naruto do transe momentâneo. Tentando se afastar da proximidade e do olhar investigativo do moreno, ele deu um passo para trás, elevou a mão na nuca e sorriu forçadamente.
— Eu derrubei a xícara de café e fiz merda, ‘ttebayo! — bateu as mãos ao longo do corpo, suspirando em seguida. — Vou pegar algo ali fora para limpar essa bagunça. — deu a desculpa para evitar olhar nos olhos de Sasuke. — Melhor você ter cuidado pra não acabar com o pé igual ao do Yoru.
O loiro saiu pela porta lateral que dava na pequena área de serviço e ali conseguiu respirar, enquanto procurava organizar seus pensamentos. Não queria fazer, falar e nem pensar nada, antes de verificar aquilo que a mulher, que considerava como sua mãe, havia lhe dito e, principalmente, saber no que ela se embasara para levantar tal suspeita.
Dentro da cozinha, Sasuke teve certeza: havia acontecido algo de muito errado e tinha haver com a visita de Tsunade. Naruto só fugia do seu olhar, ficava mais atrapalhado do que normalmente era e falava aquele bendito ‘ttebayo’, quando estava muito nervoso ou escondendo alguma coisa. Eram dez anos juntos. Sete anos de casados. Era capaz de reconhecer até as mínimas alterações de comportamento dele, mesmo se estivesse a quilômetros de distância, mais ainda, aquele sorriso forçado. Olhou sobre o ombro e pôde ver, pela porta da cozinha aberta, a bagunça que se fazia na sala onde os gêmeos se encontravam em torno da ‘avó’ que cuidava do ferimento do seu filho mais velho.
Sabia exatamente como agir, bastava pressionar um pouco, fingindo-se indiferente que conseguiria descobrir. Pensando assim, desviou dos cacos no chão e foi até a pia, onde apanhou uma caneca no escorredor de louças e serviu-se de café, observando Naruto do lado de fora encher o balde com água na torneira do tanque.
— Então, ao que devemos a visita da Tsunade tão cedo? — perguntou, tentando mostrar-se casual.
Naruto fechou a torneira, cessando o barulho da água caindo no balde e, de repente, sentiu seu coração disparado, batendo daquele jeito tão desesperado que ficou com receio do barulho ser captado pelos ouvidos de Sasuke. Tentou se acalmar; não podia simplesmente responder a verdade. Manteve os olhos voltados para água cristalina que tremulava em ondas no recipiente de cor alaranjada, o pano de chão encardido submerso no fundo. Sasuke já estava desconfiado da visita da médica e, pelo que Naruto percebera, o marido havia notado sua reação forçada e agora estava lhe analisando para tentar descobrir o porquê da interpretação. E, se ele estava fazendo isso, era porque deduzira algo; e se estava deduzindo, era porque, talvez, tivesse mesmo algo a esconder. Não que o loiro suspeitasse da palavra da sua ‘quase-mãe’ — por mais que ela tivesse sido contra ao relacionamento deles no começo —, queria somente acreditar que havia algum equívoco naquela informação. Sasuke não podia ter uma filha sem que ele soubesse. Mas também não conseguia crer na hipótese da médica estar inventando algo daquele porte para transtorná-los: ela nunca inventara nada para tentar separá-los e não seria agora, depois de tanto tempo juntos, que ela começaria.
Por outro lado, como poderia duvidar de Sasuke? Do seu Sasuke? Da pessoa por quem sentia verdadeira obsessão?
“Será que ele seria capaz de esconder algo dessa gravidade? E, além disso, quantos anos teria essa tal filha? Quando ela foi concebida? Quem é a mãe? E será que é mesmo filha dele?”
— Naruto, eu te fiz uma pergunta! — O loiro sobressaltou ao ter seus pensamentos irrompidos daquela maneira . Seus olhos acabaram se encontrando com os olhos desconfiados de Sasuke. — O que a Tsunade veio fazer aqui tão cedo? ― o moreno foi mais direto.
— Não posso vir ver meus netos? — a resposta em forma de pergunta veio da própria médica que retornava para a cozinha secando as mãos em uma toalha pequena, dando a entender que já havia concluído o curativo em Yoru.
Sasuke engoliu a réplica “Que netos?” que se formulou imediatamente em sua cabeça, devido à raiva que sentira por sua conversa com o marido ter sido interrompida pela visitante. Mas não a vocalizou, pois sabia que a médica tinha a língua tão afiada quanto a sua, ou até mais, e com certeza retrucaria algo ferino como: “os mesmos que não são seus filhos legítimos”. E para não ouvir aquilo que não queria ouvir, resguardou-se ao silêncio e ao ardor que consumiu seu âmago por ter que segurar aquela resposta.
Ao perceber o silêncio dos dois homens e, principalmente o olhar assustado do rapaz loiro, a médica conscientizou-se de que não deveria se intrometer na possível discussão que estava prestes a ocorrer. E a fim de deixá-los mais a vontade para resolver os problemas pessoais reservadamente, pensou em uma resposta que seria também uma solução para eles ficarem sozinhos para conversar.
— Eu vim pegar meus netos para passar o fim de semana comigo.
Os olhos do rapaz moreno se arregalaram em surpresa e ele se voltou para Naruto, buscando confirmar se ele já sabia de algo em relação àquela notícia, mas ao vê-lo retornar para cozinhar com o balde nas mãos e com o mesmo ar de espanto que o seu, soube que não.
— Nem pensar. — retrucou, prontamente. — Eles passaram as férias inteiras com os nossos pais. Agora que voltaram, queremos um fim de semana em família.
Tsunade inflou o peito, fazendo seus seios avantajados ficarem ainda maiores, adotou um ar de indignação e determinação, e argumentou:
— E a avó não tem direito de passar um fim de semana com os netos? Só os avôs? ― ela jogou a desculpa. ― Não aceito um ‘não’ como resposta, Sasuke. Além disso, eu quero levá-los para ver a mãe deles também. Essas crianças precisam passar um tempo na presença feminina. Senão, que tipo de mentalidade eles irão adquirir convivendo só com gays? Pais gays, avôs gays? Eles precisam interagir com adultos normais.
— Tsunade-baa-chan!
Apesar do grito repreensivo de Naruto, Sasuke não conseguiu suprir o turbilhão de revolta que se apossou de si ao escutar aquilo e avançou na mulher, segurando-a pela gola do jaleco que ela ainda vestia.
— Sua velha maldita... — resmungou entre dentes trincados. — Quem você está chamando de anormais?!
― Não venha me dizer que dois homens se comendo seja normal, Sasuke. ― ela falou, sem receios. ― Se fosse para existirem gays, as mulheres não existiriam. E se a mulher não existisse, quem daria a luz a vocês, seus ingratos?!
As mãos de Sasuke se apertaram no tecido e ele só não fez uma besteira porque o marido se interpôs entre os dois afastando-os. Mas, Tsunade aproveitou-se do momento de ira do Uchiha e o provocou um pouco mais, motivando-o a agir por impulso.
— Está vendo, Naruto? Está vendo como ele me trata?
— Você entra na minha casa, me ofende, ofende a concepção da minha família e quer que eu fique quieto?! – gritou o rapaz.
A discussão estava prestes a se tornar mais abrasiva quando o telefone da casa tocou e, segundos depois, Yoru adentrou o ambiente com o aparelho sem fio na mão.
— Naruto, telefone pra você.
— Agora não, Yoru. Diz que eu retorno mais tarde.
— É seu ex-chefe. Ele disse que é um caso de vida ou morte.
O loiro suspirou. Sabia que “os casos de vida ou morte” de Chouji não tinham nada de realmente arriscados, mas decidiu atendê-lo. Pegou o aparelho da mão do enteado, abafou o fone na camiseta e, antes de atender a ligação, pediu ao marido e a médica: — Dá pra pararem com essa merda?! — ele olhou de um para o outro, recordando-se do sermão que levara do pai no dia anterior sobre não discutir dentro de casa. — É exatamente esse tipo de comportamento que devemos evitar expor na frente das crianças.
Os dois silenciaram, enquanto o loiro adentrara a sala para atender ao telefone. Sasuke decidiu ignorar a presença da médica, mesmo que em seu interior a ira inflamada quisesse fazê-lo reagir ao contrário. Nunca caíra nas provocações de Tsunade e concluiu que estava mesmo sob estresse para se deixar levar por aquela conversa tão ignorante. Assim, tentando ocupar sua mente com outra coisa, se pôs a limpar a sujeira que ainda estava no chão, remoendo o nervoso de todo o desaforo dito por ela. Naruto tinha razão: já bastava a briga que tiveram, agredindo um ao outro dentro da casa; não era saudável para os filhos ouvir mais aquele tipo de discussão. Sempre ignorara os homofóbicos como a mulher que se dizia sua sogra, e não era naquele momento delicado pelo qual estava passando que iria dar aquele gosto a ela. Tsunade, desde o princípio, deixara claro seu desgosto em relação ao casamento deles, por isso, era normal dela criar situações constrangedoras entre eles.
— Sasuke, eu não o entendo, sinceramente! — foi ela quem quebrou o silêncio, desabafando e voltando-se para ele com o olhar de indignação. — Por que está fazendo isso com o Naruto?
— Fazer o quê com o Naruto, Tsunade? — Sasuke terminou de limpar o chão e levantou-se, apertando a alça do balde agora cheio de água suja.
— Como o quê? Prendê-lo nesse relacionamento sem pé e nem cabeça! Se você gosta de garotas, deveria ficar com elas e incentivar o meu filho a procurar por uma mulher também, ao invés de iludi-lo com essa coisa incabível de casamento gay! Vocês ainda são jovens, são bonitos, tem toda uma vida pela frente! — ela exclamou.
“Eu não vou discutir com essa esclerosada! Não vou!” ele repetiu para si mesmo mentalmente, saindo da cozinha com o balde e derramando a água suja no tanque da área de serviço. Retornou para o ambiente ao mesmo tempo em que o loiro.
― As crianças estão terminando de arrumar as coisas para irem com você, baa-chan. ― Naruto ditou, arrancando um olhar de incredulidade do marido.
— Eu não permiti isso.
— Eu também sou o pai, Sasuke, e estou permitindo.
— O único pai, você quer dizer, não é, meu filho?
— Fique fora disso! — os dois exclamaram em uníssono e a mulher se calou.
― De repente, você está dando razão pra ela? ― Sasuke quis saber, não conseguindo segurar o nervosismo. ― É por causa daquela briga que tivemos ontem?
— Eles também querem ver a mãe, Sasuke. ― o loiro explicou. ― E disseram que querem passar o fim de semana com a avó. Que mal isso pode ter?
— Essa velha deve ter enchido a cabeça deles enquanto fazia o curativo e...
— Não é só por isso, Sasuke! ― Naruto exclamou, interrompendo a fala dele e, antes que o moreno retrucasse de volta, prosseguiu: ― A gente precisa mesmo de um tempo sozinhos... pra... pra... pra dis- dis- discutirmos a nossa... relação... — o loiro, enfim, conseguiu dizer aquela frase, arrancando assombro do outro. — E é melhor que as crianças não estejam aqui, caso as coisas fujam do controle, como vem acontecendo.
— Era tudo que eu queria ouvir! — Tsunade disse com alívio, juntando as mãos e as erguendo para o céu, como se estivesse agradecendo ao atendimento de suas preces. — Vou rezar para que finalmente caiam em si. Eu vou ajudar as crianças com as malas. — ela se propôs.
Sozinhos, Naruto e Sasuke ficaram em silêncio por um tempo, apenas ouvindo os gritos eufóricos e de comemoração das crianças. Passarem o fim de semana com a médica era sinônimo de diversão, já que ela os mimava, os levavam ao parque de diversão, shopping, cinema e ainda os enchiam de brinquedos.
― O Yoru não vai querer ir. ― o moreno falou de repente.
Naruto lhe deu as costas, recolhendo as xícaras da mesa e levando-as para serem lavadas por ele na pia.
― Não tem problema. Ele vai passar o fim de semana com a Sakura, não vai?
― Sim. Eu tinha me esquecido.
Um novo silêncio se fez e a angústia crescente em Sasuke, principalmente, diante da estranha calma do loiro, o fez sugerir:
― Já que quer conversar, Naruto. Vamos fazer assim que eles saírem.
— Não vai dar. Eu vou ter que trabalhar.
— Mas você disse que tinha pedido demissão.
— E pedi. Mas o Chouji acabou de ligar falando que precisa da minha ajuda e que está com a corda no pescoço por estar sem funcionário. Ele ainda não conseguiu um substituto para as entregas no meu lugar, afinal, eu saí de lá sem dar justificativas. É começo de mês, ele está corrido tanto no mercado, como na pizzaria. Eu vou fazer isso porque ele sempre me ajudou quando precisei e acho que uma mão lava a outra, não custa retribuir o favor.
— Você é quem sabe.
— E você, não vai trabalhar?
— Eu estou de folga agora de manhã.
— Hm... Mal começou no novo cargo e já está tirando dia de folga? Todos os assessores têm esse tipo de mordomia? Parece que realmente vale à pena estudar.
— Acho que não preciso ouvir mais ironias depois dos insultos dessa mulher que acredita ter moral para nos dar sermão.
— Ué? Você se sentiu ofendido, Sasuke? ― o loiro terminou com as poucas vasilhas na pia e abanando as mãos e secando-as na lateral da roupa, se voltou para o marido. ― Mas por que se sentir assim, se foi você mesmo quem disse que havia perdido até seu orgulho ao deixar de usar o sobrenome “Uchiha” quando aceitou casar comigo?
Sasuke crispou os punhos sentindo o ardor em seu estômago aumentar. Naruto havia escolhido uma péssima hora para lhe jogar aquilo na cara, mesmo assim, esforçou-se para manter a calma.
— Não me faça perder a paciência, Naruto... Por favor.
Os pequenos gêmeos, alheios a toda aquela tensão e após se despedirem dos pais, seguiram com a médica para passar o último fim se semana antes do retorno das aulas na companhia dela e da mãe biológica deles.
Assim que os filhos deixaram o pequeno apartamento, Naruto não deu margem de conversas com Sasuke. Vestiu o uniforme vermelho que já havia separado em uma sacola para devolver a Chouji, pôs o boné na cabeça e saiu, despedindo-se apenas de Yoru que estava sentado no sofá assistindo televisão com o pé enfaixado suspenso sobre a mesinha da sala.
O adolescente não era ingênuo, sabia que algo grave estava acontecendo e tinha captado a turbulência no meio de toda a confusão daquela manhã. Mas uma coisa estranha aconteceu: assim que o padrasto saiu batendo a porta, sentiu um aperto dentro de si, ao se deparar com o semblante destruído do pai. Seu otou-san ficara fitando a porta por onde Naruto saíra sem lhe dizer nada por um tempo. E, com os ombros baixos, a expressão contraída e olhos perdidos, ele sentou-se no sofá ao seu lado, um pouco distante, e amparou a cabeça com as mãos em um sinal claro de cansaço e desespero.
Aquilo era estranho. Ver o pai, que sempre lhe parecera o homem mais inabalável do mundo, prestes a entrar em colapso devido aos seus sentimentos, era muito estranho. Para si, ele sempre fora uma muralha intransponível, por isso, não podia acreditar que ele estava deixando-se abater. Yoru achou que devesse dizer algo, mesmo que ‘consolar’ não lhe parecesse o papel adequado de um adolescente inexperiente.
― Pai...
Sasuke se levantou, fazendo o garoto se retesar.
― Ligue pra sua mãe, peça pra ela vir buscá-lo.
Qualquer iniciativa sua de começar uma conversa de consolo ao mais velho, morreu instantaneamente, e a única coisa que conseguiu balbuciar, foi um gaguejante “sim”. Concordou, acompanhando com os olhos o pai deixar da sala e se trancar no quarto. Yoru então suspirou, retirando o celular do bolso e procurando o nome da mãe na lista de contatos, mas antes de apertar a teclar ‘chamar’, sentiu-se um pouco incomodado com aquela reação adversa que parecia ser o pressentimento daquilo que estava por vir...
...
Naruto trabalhou duro durante toda a manhã nas entregas do supermercado. Para isso, usava a moto do local. No horário do almoço, não sentiu fome e gastou o tempo do intervalo para conversar um pouco mais com a médica no telefone e tentar esclarecer aquela dúvida que o atormentara. Tsunade explicou exatamente o que acontecera, que vira Sasuke no hospital na noite anterior acompanhado de uma mulher ruiva muito bonita e que ambos foram visitar uma menina internada, a qual a enfermeira acompanhante afirmara que os dois eram os pais dela.
Naruto ainda falou que isso talvez não significasse que o marido estivesse tendo um relacionamento extraconjugal com a mulher, que pela descrição, parecia ser a atual coordenadora dele, uma ex-colega de faculdade.
― Ela pode ter sido um romance antigo do Sasuke e ter tido a filha sem que ele soubesse...
― Meu filho, pense. ― a mulher lhe pedira através do fone. ― Na época de faculdade do seu marido, vocês dois já eram comprometidos. Então, se ele gerou uma filha com ela, significa que os dois transaram e de qualquer forma isso se caracteriza como traição! Ele pode até ter descoberto a existência dessa filha agora, mas isso não justifica as atitudes passadas dele, muito menos o fato dele ter se omitido, não é?
― Baa-chan, eu vou desligar, preciso organizar melhor meus pensamentos.
― Naruto, se você tem dúvidas, porque não vê com seus próprios olhos? Veja como o Sasuke é um homem que nasceu heterossexual e, no fundo, ele quer ser assim. Ele já tem dois filhos, ambos de relacionamento com mulheres. Vocês dois não têm nada de gays.
― Se o Sasuke é mesmo hetero, eu já não sei, baa-chan. Mas eu nunca fiquei com garotas.
― Porque não teve oportunidade! Porque você, diferente dele, é um homem correto e fiel, Naruto! Que leva um compromisso, mesmo incabível como esse, com seriedade. Mas, meu filho, ele não. O Sasuke já teve a Sakura, ele tem um filho desse relacionamento e na faculdade ele teve essa outra garota... Ele te usa e te prende nesse mundo, enquanto ele vive solto fazendo o que quer! Isso é injusto com você...
― Baa-chan... o Sasuke... o Sasuke não é assim. Você está esquecendo dos nossos sentimentos...
― Você está enganado. Não pode haver amor verdadeiro entre dois homens, meu filho! Até agora, o que vocês dois vivem está ligado ao carnal, Naruto... Tanto, que o Sasuke tenta preencher o que falta com mulheres. Abra os olhos porque ainda há tempo! Pare de se deixar ser enganado!
― Baa-chan, eu tenho que voltar para o trabalho, depois conversamos mais. Tchau! ― o loiro finalmente desligou, não dando mais espaço para ela continuar golpeando seu peito com aquela conversa.
Desesperado, Naruto levantou do banco onde estava naquele parque de frente ao supermercado Ki-preço, e apertou o aparelho na mão, pensando em atirá-lo longe, mas segurou-o firme para não fazê-lo. Engoliu a vontade devastadora de chorar e, tentando não pensar em mais nada, retornou para o trabalho.
Mas diferente do que queria, era impossível não pensar no que estava acontecendo em sua vida. Até mesmo nas casas em que batia para fazer entrega, a realidade era esfregada em sua cara: mães e seus filhos, pais, cachorro, famílias. Nenhuma parecia ser como a sua. Todas seguiam praticamente a mesma regra, o mesmo formato. A sua era uma exceção e depois de tanto tempo sabendo lidar com aquilo, agora se sentia acuado.
Nunca tivera medo de responder quando lhe perguntavam:
“É casado?”
“E muito bem casado.”
“Já tem filhos?”
“Um lindo casal de gêmeos.”
“Sua esposa deve ser uma mulher de sorte, pois seus olhos e o seu sorriso se iluminam ao dizer isso com tanta firmeza.”
“Eu é que sou sortudo por ter do meu lado a pessoa que amo.”
“Que lindo. Gostaria de conhecer um dia sua esposa. Para trocarmos receitas, falar sobre os filhos. Coisas de mulher, entende?”
“Ah, acho que não vai ser possível.”, respondera com um sorriso ainda mais largo, enquanto coçava a nuca.
“Ué, por quê? Não me diga que ela é tímida?”
“Não é isso. Primeiro, porque não tem como conversar sobre ‘coisas de mulher’ com um homem. E segundo, porque o Sasuke, além de ocupado é bem antissocial, ha, ha, ha, ha, ha...”
― Nunca tive vergonha de amá-lo. Nunca. Mas você sempre me cobrou descrição com a desculpa que era pra proteger nossos filhos. Será que isso era mentira? Será que você foi uma farsa esse tempo todo Sasuke?
Balançando a cabeça negativamente, Naruto passou a mão no rosto, depois nos cabelos, repôs o boné e retornou para as entregas. O dia passou rapidamente nem percebera que a sua última entrega daquela noite havia chegado, também, não imaginara que seria na casa de uma pessoa conhecida.
― É você, Naruto?
― Yo, Shikamaru!
Depois de ser convidado para entrar um pouco, pois o rapaz estava com as panelas no fogo, Naruto finalmente sorriu naquele dia ao ver como o casal de filhos do amigo, Nyoko a mais velha com dez anos e Tandaru com oito, haviam crescido, ao passar por eles na sala e os verem concentrados nos deveres da escola.
― Dá gosto de ver como são aplicados.
― Não se engane, Naruto. Eles estão atrasados na verdade. Aproveitaram as férias até o último instante e deixaram os deveres para última hora. Cumprimentem a visita, crianças.
Os dois se levantam e o reverenciaram, chamando de “tio Naruto”. O loiro retribuiu a reverência percebendo o quanto a menina estava mais parecida com Shikamaru, ela até prendia os cabelos da mesma forma que o pai usava até o momento. A diferença era que os dela eram cumpridos. Nara também havia mudado um pouco, agora usava um cavanhaque e estava bem mais magro do que da última vez que o vira. Já o garoto, tinha os traços da mãe, os cabelos loiros, curtos e rebeldes, e o jeito sério.
― Ha, ha! Não seja tão carrasco, Shikamaru. Nós dois nunca fomos bons exemplos na escola!
― Shhhh, Naruto! Não dê margens pra que eles criem argumentos pra se defenderem!
O loiro riu abertamente e piscou para os dois que sorriram discretamente ao saberem do segredo do pai. Os amigos adentraram a cozinha e o loiro puxou uma cadeira para se sentar, antes mesmo de ser convidado, enquanto via o amigo se revezar entre guardar as compras no armário e mexer nas panelas. Naruto achou engraçada aquela cena: Shikamaru estava com a camisa social com as mangas enroladas e ainda estava de gravata, o que indicava que havia chegado a pouco do trabalho. Porém, lembrou-se de algo que fez logo sua expressão mudar: se ele estava ocupado com os afazeres domésticos, isso significa que a separação que ouvira falar, tinha mesmo acontecido.
― Eles estão passando as férias com você? ― procurou saber de uma maneira menos invasiva.
― Não. Você não soube? Eu consegui ficar com a guarda dos dois.
― Mesmo? Isso é bom. ― Naruto falou, sem ter certeza do que dizia, afinal, separação não tinha nada de bom. ― Mas deve tá sendo uma barra...
― A parte pior já passou. ― Nara falou, tranquilamente, enquanto continuava com as tarefas. ― E eu acho que se eu ficasse longe deles, aí sim estaria em um estado deplorável. Meus filhos me dão ânimo pra continuar firme. Fora que, me desdobrar em dois papéis, me cansa tanto que me faz colocar a cabeça no travesseiro e dormir como um bebê a noite inteira; esquecendo assim, de tudo que passei.
― Hm... ― Naruto resmungou em concordância, dispersando-se em pensamentos em seguida. Não sabia ao certo o que falar. Não tinha conhecimento ainda do motivo da separação do casal; ficara sabendo apenas que eles haviam pedido o divórcio e estavam brigando na justiça pela guarda dos filhos. Mas, no fundo, imaginava a única coisa que poderia gerar aquele transtorno ao ponto de não se perdoarem, só podia ser o mesmo mal que naquele momento assolava seu lar: a crise adensada por uma possível traição.
Conhecera Shikamaru, assim como seu patrão Chouji, ainda pequenos, na escola. Fizera parte do grupo de baderna dos dois, nunca foram alunos exemplares, viviam de castigo devido suas peripécias. Mas, diferente dele e de Chouji que não tinham muita inclinação para os estudos, Shikamaru não estudava por simples tédio, já que ele tinha um Q.I. acima da média. Mesmo assim, sua humildade e tranquilidade não o permitiram ter ambição na vida. Tudo que ele desejava eram coisas simples, as quais pessoas comuns pudessem almejar: um emprego bom que desse para o seu sustento e o da família, uma esposa que não precisasse ser a mais linda e filhos.
E ele fizera tudo conforme planejara: se formara em administração, trabalhava como gerente de marketing de uma empresa de médio porte quando, na verdade, poderia ter aberto seu próprio negócio de consultoria, já que ele era a grande cabeça da companhia. Mas, ser dono de algo traria muitas preocupações e o que ele queria eram coisas simples. E acabou se casando com Temari, uma garota bonita e que visitara a instituição onde estudava quando houve uma competição esportiva entre escolas.
― Shikamaru... o que deu errado nos seus planos de infância, afinal? ― Naruto deixou a curiosidade vencê-lo. ― Parecia que tudo estava exatamente como você sempre planejou.
O homem desligou uma das panelas no fogo e sorriu de lado; um sorriso onde Naruto percebera as nuances de amargor.
― Eu descobri que nem tudo na vida se planeja, Naruto. Muitas coisas acontecem de forma inesperada e nem sempre estamos preparados para lidar com o fator surpresa. ― ele constatou, suspirando e voltando-se para o amigo. ― Eu fui traído.
Os olhos do loiro se arregalaram ao ouvir aquilo. Certamente, um homem assumir a posição de traído não deveria ser simples, por isso, conseguiu ver claramente a transformação no rosto do amigo.
― Como isso pôde acontecer? ― o loiro perguntou em tom de indignação, franzindo o cenho para notícia. ― Vocês dois formavam um casal tão perfeito...
― Era o que eu pensava também. ― Shikamaru constatara, seriamente. ― Mas quando comecei a desconfiar, ouvir boatos, rumores da vizinhança e de colegas, já era tarde... Mesmo assim, eu quis confirmar com meus próprios olhos e um dia eu a segui. O pior de tudo, além da indignação e da revolta, foi perceber que fui trocado por alguém completamente o oposto de mim, o que me fez questioná-la o porquê dela ter aceitado casar comigo.
― E o que ela respondeu?
― Nada. Não houve respostas. A única coisa que ela me disse foi que eu havia cavado tudo aquilo. Que se eu conseguisse olhar para mim, descobriria as respostas. Mas isso só serviu para aumentar a minha revolta, principalmente quando ela disse que não estava arrependida e que queria o divórcio pra firmar-se com o outro cara.
― Mas que mulher mais filha da...
― Meus filhos estão no outro cômodo. ― o rapaz moreno o alertou e Naruto se calou. ― Sabe, no momento de desespero, eu também pensei coisas desse tipo. E quando a Temari apareceu na primeira audiência pela guarda dos filhos, acompanhada daquele homem, vestida como uma dondoca, em um carro de luxo, coberta por joias... Eu ainda fiquei tentando encontrar a resposta da pergunta que tinha feito a ela.
― Eu entendo perfeitamente como se sente. Você sempre foi um cara tão dedicado à família, Shikamaru.
― Não, Naruto. Acho que você não entende. Só quem passa por uma traição pode imaginar o quanto ela pode ser dolorosa. Mas, sabe de uma coisa? Eu também me achava um cara dedicado.
― E não era?
― Não como ela queria. Diferente de você, eu optei por me casar com uma mulher. Mesmo tendo ciência do quanto elas são problemáticas... Do quanto são seres enigmáticos, delicados e completamente instáveis. Eu procurei pelas respostas, mas só depois de algumas sessões com uma terapeuta, que pude descobrir. A Temari se foi exatamente porque eu passei a tratá-la apenas como a dona do lar. A mulher que cuidava da casa, dos meus filhos, e que com quem eu queria fazer sexo todas as noites. Eu me deixei vencer pela rotina, sem levar em consideração os próprios desejos dela. E percebi, então, o quanto fui egoísta ao levar em consideração apenas os meus sonhos, exigindo de alguém que vivesse apenas para realizar os meus desejos. Foi aí que eu me dei conta de algo assustador também: eu nunca me preocupei nem em saber quais eram os sonhos da minha mulher.
Naruto saiu da casa do amigo um tempo depois, mais atordoado. Ele ainda lhe dissera que havia feito a escolha certa: casar com um homem. “Os dois pelo menos, falavam a mesma língua...”. Mas quando perguntou se ele estava pensando em mudar de opção, o amigo se esquivou, respondendo que ‘não’ e que queria ficar um tempo sozinho. Apesar de ele ter recebido uma declaração de uma colega de serviço. “Por mais problemáticas que as mulheres sejam, eu ainda prefiro ter alguém que eu possa carregar nos braços...”
Queria ter dito ao amigo que a visão dele sobre o casamento gay, assim como da mãe, estava em parte equivocada. Para todos os relacionamentos existem exceções e quem os diferenciam são os casais. Nem todos os homossexuais firmam uma relação estável pensando em sexo. Dois homens podem sim se apaixonar e também desejar coisas bregas e românticas, e passar por crises quando a rotina os vence. Todavia, preferiu ficar em silêncio, não estava preparado para lidar e nem encarar a realidade dos seus próprios problemas. Não, antes de ter algumas certezas, como o amigo fizera.
Antes de sair do trabalho, ligou para a casa. Yoru estava sozinho e lhe dissera que o pai tinha ido trabalhar na parte da tarde e que a mãe estava indo apanhá-lo. Perguntou se o pé estava melhor e ele respondera que havia tirado o curativo para tomar banho, mas que o corte tinha parado de sangrar.
Após receber a remuneração pelo dia de entrega de Chouji, disse a ele que deixaria a bicicleta ali e que iria pra casa de metrô, pois estava exausto.
― Sem problemas, Naruto. E também tenho algo pra você, pegue. ― ele viu uma sacola ser estendida na sua direção pelo amigo corpulento.
― Se são sobras do Ki-pizza de ontem, eu não vou aceitar, Chouji, porque meus filhos...
― Não. É um obento que a minha esposa, a Chile, acabou de preparar. ― Chouji explicou, abrindo um sorriso para o amigo. ― Ela reparou que você ficou sem comer o dia todo, e que parecia “amarelo” e “abatido”. Aceite. É comida fresca e da hora, feita pela melhor cozinheira desse lado da cidade!
Naruto apanhou a sacola e sorriu um pouco desconcertado por gerar aquele tipo de preocupação ao patrão e a esposa dele, que eram grandes amigos seus.
― Desculpe por preocupar sua esposa.
― Não por isso. Ela e eu concordamos que de barriga cheia podemos pensar melhor na solução dos nossos problemas.
Mais uma vez, o loiro sorriu, agora um pouco mais animado e se curvou, despedindo-se do amigo-patrão.
― Arigatô, Chouji. Eu venho amanhã.
― Estarei te esperando, Naruto. Ja!
O loiro estava cansado, o coração ainda turbulento e o balançar do metrô fazia aquela sonolência lhe atingir devido ao cansaço do dia de entregas. Havia pegado a condução que parava na porta da universidade onde Sasuke trabalhava. Ao chegar ao lugar, ficou do lado de fora, escondido, olhando para os poucos transeuntes, já que as aulas ainda não tinham voltado. De onde estava, viu o carro do marido; também percebeu quando ele saiu do prédio ao lado da mulher ruiva que a mãe mencionara: era a nova coordenadora do curso e chefe de Sasuke.
Assim que eles entraram em seus respectivos carros, ele também entrou em um táxi e pediu para que o condutor seguisse o azul metálico. Não foi surpresa quando os dois pararam no mesmo lugar: o hospital do câncer, onde a ‘mãe’ estava prestando trabalho voluntário. Eles entraram juntos no prédio e, pouco tempo depois, Naruto seguiu o mesmo caminho e pediu para falar com a enfermeira que Tsunade lhe indicara por telefone. Conseguiu entrar na ala reservada para doentes em estado mais grave e ficou surpreso quando viu Sasuke e Karin, pela divisória de vidro de um dos cômodos. Não pôde deixar de reparar a familiaridade da menina no leito com Sasuke, a única coisa que diferenciava é que ela era bem sorridente. Toda animada ao folhear algo que Sasuke lhe trouxera. Quando o loiro viu o suficiente, saiu do prédio e foi para o estacionamento, aguardar o marido, do lado do carro dele.
Algum tempo depois, os dois saíram juntos, conversando distraidamente.
― Você viu como ela ficou alegre quando viu as fotos dos irmãozinhos?
Sasuke ficou em silêncio ao ver aquela pessoa encostada em seu carro e, por um momento, Karin pensou em tirar o celular da bolsa para pedir por ajuda, pensando que fosse um assaltante, mas quando viu que o moreno apressou os passos indo de encontro à pessoa, o seguiu no mesmo ritmo e percebeu de quem se tratava na verdade.
― Oi. ― Naruto se desencostou do carro e cumprimentou os dois, mantendo um sorriso estranho no rosto.
Continua...
Notas finais do capítulo
Alguém consegue imaginar qual será a reação do Naruto? Barraco à vista? Aguardo vocês nos próximos! o/


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Leia Também

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...