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[Naruto] A Crise dos Sete - Capítulo 10, escrita por Andréia Kennen

Capítulos: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 Extra 1 Extra 2 Epílogo
Autor: Andréia Kennen
Gênero: Lemon, Romance, Universo Alternativo, Yaoi
Status: completa
Classificação: 18 anos
Resumo: Naruto e Sasuke, mesmo sendo um casal pouco convencional, sempre se esforçaram para viverem bem e como uma família comum. Contudo, o mal que assola as famílias comuns (a temerosa "Crise dos sete anos de casados")está rondando esse lar feliz. Será que eles irão conseguir vencer todos os obstáculos e manter o casamento?
Confiram![NaruSasu. +18. Presente de níver pra minha Blond-Hikari-nee-chan.]

A Crise dos 7
Capítulo 10
Revisada por Blanxe
Naruto abriu um estranho sorriso. Era visível para Sasuke que aquele repuxar de lábios não tinha nada do espontâneo e habitual que o marido costumava esboçar. Era uma expressão forçada, já que os olhos azuis transmitiam, evidentemente, o descontentamento com o que presenciava.
O loiro desencostou-se do carro de tom azul metálico e estalou os dedos da mão direita, pressionando-os contra a palma da esquerda, para depois repetir o processo de forma reversa, dizendo, entre dentes trincados:
— Teme... Acho que a gente precisa conversar.
— Se afaste, Karin. — Sasuke pediu para a ruiva, empurrando-a pelo ombro, fazendo-a sair do seu lado, então, se posicionou: um pé na frente do outro, friccionou levemente os joelhos e, após fazer um gesto com as mãos para que Naruto se aproximasse, cerrou os punhos; em uma pose evidente de luta. — Quando quiser vir, anata[1]... — disse a última palavra de maneira debochada, dando uma repuxada no canto nos lábios.
Karin arregalou os olhos, não acreditando no que estava prestes a presenciar.
— Esperem! Vocês não estão querendo fazer isso aqui, não é?
— Sasukeeeeeeeeee! — Naruto gritou, partindo para cima do moreno, mas, desta vez, seu golpe foi desviado por Sasuke facilmente. O moreno se abaixou e contra-atacou, desferindo um soco certeiro na barriga do marido.
Naruto andou para trás, segurando a parte atingida, sentindo uma dor lacerante com a potência daquele golpe. Não podia subestimá-lo, Sasuke praticara artes-marciais no passado, mesmo que ele estivesse um pouco fora de forma, a lógica é que nunca se esquece aquilo que se aprende. Cerrou os punhos com mais forças e avançou novamente, gritando e reagindo golpes que eram facilmente desviados. O ardor que sentia por dentro só seria amenizado quando conseguisse atingi-lo.
— Está me enganando há quanto tempo, hein, Sasuke?! Há quanto está me fazendo de idiota?! E quanto tempo mais pretendia manter duas famílias?!
— Parem com isso! — Karin desesperou-se. — Sasuke! Eu vou chamar a segurança!
— Está louco! — Sasuke segurou o punho dele e conseguiu revidar, atingindo-o no rosto, fazendo-o tontear, então, o imobilizou por trás, com uma chave de pescoço. — O que te deu na cabeça em me seguir como se fosse um lunático? Tomando conclusões precipitadas. Se não notou, isso aqui não é um motel, Naruto. Isso é um hospital. Estou visitando a filha da Karin junto com ela.
— É verdade, Naruto! — Karin reforçou. — O Sasuke só está me fazendo um favor. Sasuke, eu pensei que você havia contado.
— A Baa-chan tinha razão... — o loiro disse, buscando evitar que as lágrimas se derramassem, enquanto apertava os braços de Sasuke em torno do seu pescoço, tentando afastá-lo da sua garganta. — Você prefere ser hétero. Aquela menina é sua filha. As enfermeiras me confirmaram, além disso, ela é a sua cara.
— Coincidentemente! — Karin exasperou-se, preocupada, notando o rosto do loiro passando do tom vermelho para arroxeado. — Pelo amor de Deus, Sasuke, Solte-o! Ele está ficando sem ar.
Sasuke o fez, mas não saiu da posição de guarda. Naruto, por sua vez, tossiu assim que foi solto e massageou o pescoço com as mãos.
— É isso? — o moreno o inquiriu ríspido. — Prefere mesmo acreditar no que aquela velha homofóbica diz?
— Ela é como uma mãe pra mim.
— Eu estou lhe dizendo a verdade. Nunca tive nada escondido com a Karin. Estou aqui porque ela me pediu um favor: se passar pelo pai da filha dela. Eu iria te contar tudo ontem antes da sua ‘mãe’ chegar causando alvoroço. Depois eu ainda tentei conversar, mas foi você quem não me deu oportunidade, lembra?
Naruto apertou os olhos e balançou a cabeça.
— Ha, ha, ha... Não me venha com piadas... Você não quer mesmo que eu acredite que do nada, você passou a se importar assim com alguém ao ponto de fazer um favor desse tamanho? Sem ter nada em troca, ou algo a esconder?
Sasuke parou por um instante, arregalando os olhos. Desde mais novo sempre fora do tipo mimado e egoísta. Colocava seus problemas acima de tudo e realmente não se importava com terceiros. Mas, depois de conhecer o que era ter uma família, o que era ser amado de verdade, passou a se importar com todos aqueles que lhe eram valiosos. De alguma forma, fora chantageado pela Karin no começo, mas não foi devido a chantagem que escolheu ajudá-la: seu coração amoleceu diante dos olhos da Midoriko, que o reportou aos olhos da sua própria filha e o fez imaginar-se no lugar da coordenadora, que estava prestes a perder uma parte importante de si. Agora estava sendo julgado por ter sido condescendente com a dor dos outros uma vez na vida, pela pessoa que mais prezava em ajudar.
— Você tem razão. — afirmou, de repente. — Eu estou fazendo isso por algo em troca. Aliás, eu até já fui pago. Afinal, não é de graça que se consegue o cargo de assessor da coordenação dentro de uma faculdade tão grande em tão pouco tempo, não é?
— Sasuke! — Karin chamou atenção dele. — Isso não é verdade! Você não...
— Não interrompa, Karin. — ele pediu, sério. Mantendo os olhos fixos no marido.
Naruto crispou mais os punhos e abaixou a cabeça.
— Por que, Sasuke?
— Como “por que”, Naruto? Não é evidente? Um status melhor na faculdade gera uma remuneração maior, consecutivamente, uma vida mais confortável pra nossa família.
— Ou seja, fazer aquilo que seu marido inútil aqui não pode fazer?
— É você quem está falando isso.
— Em troco de enganar uma criança doente, Teme? — Naruto perguntou, aproximando-se dele e segurando-o pelo colarinho. — Eu não o reconheço mais...
— Reconhece sim. Afinal, é você quem está falando que eu não faria isso por uma boa causa. Você se casou com alguém insensível, conscientemente, Naruto. Não venha dar um de ferido agora. Não seja tão patético. Pare de agir como se fosse uma mulherzinha ofendida...
Para Naruto, aquela fora a gota d’água e, em um impulso, seu golpe pegou Sasuke desprevenido e esse foi só estopim para uma grande pancadaria entre os dois. Eles caíram no chão do estacionamento, não medindo murros e nem ofensas. Karin saiu correndo na direção do prédio, mas, no caminho, encontrou-se com o segurança do estacionamento que já estava indo averiguar a gritaria que estava ouvindo.
O homem segurou Naruto com ambos os braços e o puxou para cima, tirando-o de cima de Sasuke.
— Irei chamar a polícia se não pararem com isso agora mesmo! — esbravejou, mantendo os braços de Naruto presos pra trás.
— Me solta!
— Vamos conversar em casa... — Sasuke pediu, levantando-se e limpando o canto da boca com o punho, pegando a chave do automóvel que havia caído longe e destravando o alarme.
O loiro olhou a porta do passageiro, que havia sido aberta por Sasuke com desdém. O segurança, ao notar que os dois iriam embora, soltou Naruto que também parara de se debater. Mas, frustrando as esperanças do moreno em continuarem aquela discussão em casa, Naruto cuspiu no chão o sangue que se acumulara em sua boca e passou a mão fechada em punho sobre ela, limpando os resquícios.
— Para mim, já conversamos o suficiente. — enfatizou, dando as costas ao marido e indo direção da saída do hospital. — Eu vou ficar na casa da baa-chan por um tempo.
Mais uma vez, Karin apavorou-se, demandando ao colega:
— Vai atrás dele!
Mas o moreno a ignorou, fechou a porta que havia aberto para Naruto entrar, rodeou o veículo e entrou na parte do motorista, colocou o cinto e deu partida na sequência.
— Espere, Sasuke! — ela ainda tentou pará-lo, indo até a janela. — Vocês não podem terminar um casamento assim! — sem responder à mulher, Sasuke aumentou a velocidade do veículo e saiu do alcance dela. — Ei! Sasuke! Ei! Sasukeeee! — ela bateu o pé no chão, irritada. — Como podem ser tão mulas desse jeito! Homens! ARGH!
— Dona... — o senhor segurança do estacionamento a olhou confuso. — Eles não estavam brigando por causa da senhora?
Karin apenas suspirou, cansada.
— Não, meu senhor. Acabou de presenciar uma briga entre dois maridos. — ela explicou, massageando a fronte com dois dedos e seguindo em direção do próprio carro. Deixando para trás um senhorzinho bem aturdido.
— Dois maridos? Como assim? Maridos de quem afinal? Ei? Dona?
...
A médica tentava não falar alto para não acordar as crianças que estavam dormindo, enquanto fazia os curativos no rosto de Naruto. Mas, não conseguia controlar a indignação que sentia.
— Eu sempre te disse! Sempre! “Essa coisa de casamento gay não existe”! Agora veja o que aquele... aquele...
— Onde estão as xícaras, Tsunade-sensei? — interrompeu a moça loira, de cabelos cumpridos, que estava vestida com um hobby curto, de seda e com estampas de flores. Ela havia acabado de preparar o chá que a dona da casa lhe pedira.
— Nesse compartimento em cima da sua cabeça, Ino. — a mulher respondeu, impaciente, voltando a umedecer o algodão na solução despejada em um recipiente redondo de acrílico sobre a mesa, ao lado de outros medicamentos, gazes e bandagens que ela havia retirado de sua caixa de primeiro socorros. — Foi só no rosto que aquele maldito te socou?!
Naruto de repente despertou do transe, sentindo a pontada aonde fora atingido perto do estômago latejar. Mas resolveu ficar quieto, não aguentava mais o falatório da sua “mãe”. Na verdade, tudo que ele menos queria naquele instante era ouvir aquele bendito: “não te falei?” dela. E também, não se sentia no direito de revidar, ou contestar como sempre fizera. Havia dito a ela, quando ainda era um irritante pré-adolescente, que iria fazê-la entender que aquilo que sentia era real e que poderia existir e perdurar. Porém, ela sempre lhe repetira a mesma coisa: “está se iludindo, não existe amor entre homens”. Agora, nem ele sabia ao certo da verdade.
— Naruto, estou falando com você?! — a mulher gritou, fazendo-o sobressaltar na cadeira.
— Tsunade-sensei, vai acordar as crianças! — Ino a alertou, deixando as canecas de chá na pia e aproximando-se do loiro, apanhando-o pela mão. — Vem, Naruto. Você precisa de um banho e descansar. Amanhã estará mais disposto para conversar, não é?
O rapaz admirou os olhos azuis da mãe dos seus filhos, sentindo aquele calor bom que ela transmitia ao segurar a sua mão com firmeza, disposta a ajudá-lo a sair daquele sermão. Era um pouco de compreensão que precisava, mesmo que viesse dela. E talvez fosse o fato de estar sentindo-se carente, mas Ino lhe parecera a garota mais bela e meiga do mundo naquele instante. Mesmo que soubesse que aquilo era uma ilusão, afinal, a loira podia ser bonita, mas não tinha nada de ‘meiga’.
— Hai... — balbuciou em concordância e levantou-se, tentando evitar o olhar fuzilador da médica.
— Deixe-o dormir no quarto que arrumei pra você, Ino. E você dorme comigo.
— Sim, senhora. — a moça assentiu e puxou Naruto para que saíssem logo dali.
— Vai querer comer algo?
— Estou sem fome...
— Óbvio que está... Quem não perderia a fome com absurdos desse tipo...
Depois de saírem da cozinha e adentrarem o hall da casa, os dois seguiram em direção da escada metálica que levava para o piso superior. Ino continuou segurando a mão de Naruto, como se ele precisasse ser guiado, mesmo na casa que conhecia muito bem; pois passara férias no lugar muitas vezes. Tsunade tivera um romance com o pai viúvo de Ino no passado. Os dois trabalharam no mesmo hospital; hospital hoje, o qual Ino é médica. Assim, aquela foi a casa da loira por um bom tempo e foi passando férias na residência que os dois ficaram mais próximos. Naquela época, Sasuke e Tsunade já não se davam bem, por isso, o garoto não frequentava a residência Senju.
A dona da casa também nunca escondera a torcida em ver o casal de loiros juntos, por mais que se parecessem apenas irmãos.
Assim que entraram no quarto — que fora de Ino no passado e o qual Tsunade fazia questão de deixar reservado a ela —, a moça largou da mão de Naruto e retirou as revistas que ela lia antes da chegada abrupta dele, de cima da cama, colocando-as sobre a mochila com as coisas que trouxera para passar o fim de semana na casa, em companhia dos filhos.
— Bem, vou pegar só algumas coisas e vou deixá-lo descansar. — Ino disse, voltando a colocar tudo o que havia tirado da bolsa dentro dela novamente. — Como não pensei que teria que deixar o quarto, o banheiro está uma zona. Mas, tem toalha seca no armário e bem... você precisa tirar essas roupas sujas. Até parece que você estava rolando no chão, eu acho que tenho algo que vai ter servir... — ela voltou-se novamente para mochila e a vasculhou no fundo, retirando uma peça de roupa e exclamando: — Achei!
Ela mostrou o camisetão que comprara de tamanho Extra “G” e que ficava como um vestido nela. Nas noites que ela queria dormir confortável vestia aquela peça. Naruto apanhou a camisa de maneira dispersa, e nem comentou sobre a cor rosa ou a estampa de flores, apenas respondeu:
— Arigatô...
Ino revirou os olhos, ao ver o tamanho do amargor estampado no rosto o qual se acostumara ver esbanjando alegria, então, suspirou e sentou-se ao lado do loiro.
— Você sabe que não sou boa pra consolar ninguém, né, Naruto? Não espere isso de mim.
— Eu sei... Ino... Eu agradeço por você ter, pelo menos, me livrado do falatório da baa-chan.
— A Tsunade-sensei realmente exagera no drama. Mas ela só se intromete e fala todas essas coisas que magoam porque ela te ama absurdamente. — a moça apertou o ombro dele. — Né?
— Hm.
— Bem. Só confirmando que sou péssima nisso. Vou me retirar. Acho que você está querendo ficar um pouco só. — ela o viu manter os olhos fixos na peça nas mãos, analisando a textura como se fosse algo interessante. Então, se levantou, apanhou a alça da mochila e colocou-a sobre o ombro.
— Tenta dormir, tá? Amanhã a gente conversa.
— Ino?
— Oi? — perguntou, sem se virar pra olhá-lo ou soltar da maçaneta.
— Você acha que a gente teria dado certo?
­— Hã? — ela franziu o cenho e girou de volta para ele. — Você e eu? Será que as pancadas que levou destrambelharam seu cérebro? — perguntou ríspida, balançando a cabeça negativamente, incrédula pelo que ouvira. — Naruto... Nem vamos começar, tá? Você é gay! Não comece a pensar idiotices porque isso só vai bagunçar ainda mais as coisas. Além do mais, eu só aceitei a proposta de ser a mãe dos seus filhos com aquela condição... — ela se deteve e suspirou fundo. — Você me prometeu. Promessa é promessa.
— Eu não vou quebrar nossa promessa, desculpe.
— Eu sei que não vai. — ela abriu a porta e saiu do quarto, batendo-a em seguida. — Boa noite. — desejou, já do lado de fora.
Assim que Ino deixou o local Naruto desabou na cama, apertando a peça de roupa contra o seu peito e deixou-se ser consumido por aquele ardor que o comprimia por dentro. As lágrimas escorreram rápido dos seus olhos. A loira tinha razão: era tarde para voltar atrás e querer mudar. Sasuke lhe dissera que não tinha nada com Karin, que só estava fazendo um favor, mas isso não amenizava o fato de que há algum tempo os dois vinham se estranhando... e se distanciando.
Virou-se na cama, largando a peça de roupa da Ino que cheirava a amaciante floral e enfiou a mão no bolso da calça, retirando de dentro dele o celular. Olhou para o display apagado. Havia desligado porque o aparelho não parou de tocar desde que deixara o hospital. Mas hesitou em apertar a tecla que o ligaria novamente, constatando que não sabia o que dizer.
“Mesmo que eu tenha exagerado. Mesmo que eu não tenha dado credibilidade para sua verdade. Eu não tenho certeza de que devo voltar atrás... Eu sempre o amei e sempre demonstrei o quanto te amo, Sasuke. Mas os seus sentimentos são um mistério para mim. Por mais que tenha aceitado minha proposta, por mais que às vezes você demonstre ser ciumento e possessivo, eu sinto falta de uma demonstração de afeto maior da sua parte. Talvez, demonstrar que ama um homem deva ser humilhante... E se pensa assim, talvez ainda tenha dúvidas do que realmente é...”, Naruto pensou, largando o aparelho no carpete e esticando o braço para alcançar o interruptor, o qual apertou, encerrando-se na escuridão do quarto. “Eu não tenho ideia do quanto isso pode doer... Mas se realmente me ama, desta vez, é você quem terá que vir atrás de mim...”
...
Tsunade adentrou a sala afobada e atendeu de má vontade o telefone que tocava incessantemente:
— Alô?
— Senju, sou eu, Kakashi.
— Sim? O que você quer?
— Sasuke chegou agora pouco aqui em casa e se trancou no quarto. Disse que veio passar a noite, mas não explicou nada. Tentei ligar na casa dele e falar com Naruto, só que ninguém atende. O celular do Naruto também está desligado. Eu quero saber...
— Sim, ele está aqui. — a mulher respondeu a pergunta, antes do homem do outro lado da linha terminar de formulá-la. — Devo lembrar-lhe que agora ele é dono do próprio nariz e pode ficar onde quiser e o quanto quiser. — complementou, não escondendo o tom de intolerância.
— Mas e os meus netos...
— Seus netos, Kakashi? — mais uma vez ela irrompeu, em seu tom fervoroso, mas ao perceber que havia se alterado demais, abaixou a voz, para evitar acordar os pequenos que dormiam. — Que netos? — o inquiriu. — Você não tem vínculo algum com o Naruto!
— Como não tenho, Senju? — Kakashi respondeu, em tom de indignação. — Você sabe muito bem que eu criei Naruto junto com o Iruka. Além disso, sou pai adotivo do marido dele. Por isso, sou avô das crianças sim, quer você aceite ou não a nossa concepção de família. Só quero saber o que houve. Naruto e Sasuke brigaram novamente?
— “Novamente”? — ela surpreendeu-se com a informação embutida no questionamento. — Então, pelo jeito essa farsa estava por um fio a muito mais tempo do que eu imaginava! Só eu quem não sabia!
— O que houve, afinal?
— O que você acha, Kakashi? Naruto descobriu que o hipócrita do Sasuke esteve ‘brincando’ com ele até agora com essa história de ‘casamento gay’!
— Diminua um pouco as ironias, doutora... Está tarde e eu estou cansado. Por favor, seja clara, o que está querendo dizer?
— Sasuke tem uma mulher. — ela respondeu naturalmente. — Ele tem uma mulher e uma filha com ela. Foi isso que o Naruto descobriu. Ou seja, nada de anormal, aliás, meu filho só se deu conta daquilo que eu estive tentando dizer a ele desde o começo: a ordem natural das coisas não pode ser alterada! Faça-me um favor, Kakashi? Pare você também de fingir e ficar incentivando essa coisa insensata de “amor entre semelhantes”. Você não tem ideia da ferida que causou no pobre do meu Naruto. Agora, passar bem! — concluiu, batendo o aparelho ao desligá-lo.
Do outro lado da linha, o homem soltou um suspiro e coçou a nuca, enquanto recolocava o telefone no gancho. Se não fosse a preocupação com Naruto e os netos, teria evitado a todo custo àquela conversa. Já tinha ideia do quanto ela seria desagradável. Mas, pelo menos, agora tinha uma ideia do que havia acontecido e que, certamente, a notícia estava aumentada em algumas frações de vezes.
­ — Kakashi? — o chamado o fez despertar e se deparar com o rosto preocupado de Iruka. — Então? Alguma notícia do Naruto?
— Né? Não te falei? Naruto e as crianças estão com a Senju.
— E o que houve?
— Melhor deixarmos para falar com Sasuke pela manhã, você sabe como a Senju é... muito “sensível” quando o assunto é o Naruto.
Iruka apenas assentiu e o braço de Kakashi envolveu seus ombros e os dois seguiram de volta para o quarto.
...
Sasuke estava vestido com o roupão que Kakashi lhe emprestara; os cabelos negros ainda úmidos do banho recém-tomado. Sentou-se no beiral da janela e admirou o jardim da casa iluminado pela claridade da lua cheia. Ironicamente, fora o lugar onde Naruto e ele trocaram votos de “amor eterno”. Pois, fora ali naquele mesmo jardim, que realizaram a cerimônia do casamento; um almoço para um grupo pequeno de pessoas, amigos deles e dos pais.
Mesmo fugindo de passar a noite sozinho no apartamento, foi impossível para Sasuke se livrar das lembranças. Ali, naquele quarto, conseguia ver claramente o Naruto daquele dia, sorridente e mais atrapalhado do que o habitual, tentando alinhar o terno branco que ambos vestiam. Haviam lido em uma revista que aqueles eram os trajes mais adequados para casamentos de homossexuais.
“Sabe que para mim é perda de tempo e dinheiro essa coisa de festa.” Falou Sasuke, afastando as mãos dele da gravata, para que pudesse dar o nó corretamente. “Temos muitos reparos pra fazer ainda no apartamento; mobilhas pra comprar”.
“Mas eu faço questão!” o loiro bradou, fazendo-o se deter e olhá-lo nos olhos. “É o nosso dia, Sasuke! Eu quero que todos saibam que não estamos brincando! Que o nosso sentimento é verdadeiro.”
O moreno sorriu discretamente e meneou a cabeça de um lado ao outro, voltando à tarefa de arrumar a gravata.
“Você diz que não quer que pensem que estamos brincando, não é? Mas o que vamos fazer hoje aqui é o quê, afinal? A lei do nosso país não aprova casamento entre semelhantes, religião alguma também não. O que vamos fazer hoje é simbólico, então, pra muitos lá fora não passa de “fingimento”, ou seja, uma brinca-...” Sasuke parou, ao sentir os lábios do noivo pressionarem os seus com força, os braços dele envolveram seu pescoço e seus corpos se uniram, fazendo a face do moreno acalorar e o coração disparar. Correspondeu ao beijo inesperado, saboreando os lábios que se moviam famintos e úmidos sobre os seus, a língua de Naruto avançou mais e adentrou sua boca, tocando a sua própria e naquele momento sua virilha ardeu e lhe faltou ar. Afastou-o rapidamente, após segurá-lo pelos ombros. “O... o quê pensa que está fazendo?!”, perguntou irritado, saindo de perto dele e tentando respirar calmamente. ­“Quer que eu encare os convidados lá fora excitado?!”
O loiro abriu mais o sorriso.
“Não. Eu só queria que você entendesse isso.”
“Entender o quê? Que seu beijo me deixa duro? Isso já não está claro!”
“Não, teme...”, o loiro estendeu a mão para ele. “Que o que sentimos é real. Mesmo que o nosso ‘padre’ hoje seja apenas o Shikamaru, e que nada que fizermos aqui tenha respaldo perante lei ou religião, o importante é que tenha pra nós. Quantos casais que fazem tudo dentro das regras e se divorciam em seguida? Alguns não chegam nem a meses de casado... Além disso, já te falei: vamos formalizar nossa união fora do país logo. Vamos viver anos juntos, passaremos por crises, mas vamos superá-las, vamos ter filhos e vê-los casar, vamos ter netos e vê-los irem para escola, vamos envelhecer um do lado do outro...
Sasuke olhou para a mão que lhe era estendida e, após relaxar os ombros e suspirar, segurou-a.
“Até que a morte nos separe, não é?”, Sasuke riu divertido, vendo o sorriso dele se desmanchar e o rosto avermelhar. “Espero que não gagueje na hora de repetir esses mesmos votos na frente dos convidados, Usuratonkachi.”
“Hãaaaa?!” ele ficou nervoso de repente, ao ser lembrado daquele fato. “Ma- ma- mas...! Meu nervosismo voltou!”
“Ei!”, Ino entrou no quarto. “Tá todo mundo esperando, será que dá para os pombinhos apertarem o passo?!”
Do lado de fora, diante dos convidados, Sasuke segurava a mão de Naruto e direcionava a aliança no dedo anelar, enquanto repetia: “Eu, Uchiha Sasuke, aceito você, Uzumaki Naruto, como meu esposo. Prometo amá-lo, honrá-lo e... aturá-lo...”
Houve alguns risos e Naruto resmungou, enquanto o moreno terminava de colocar o anel no dedo dele.
“Teme...”
“Até que a morte nos separe.” ele concluiu, elevando a mão até a boca e beijando a aliança.
“Agora é sua vez, Naruto.”, Shikamaru ditou para o loiro totalmente corado.
Naruto engoliu seco, olhou nos olhos de Sasuke, inspirou profundamente e apanhou o anel na almofada que o pequeno Yoru carregava, ditando:
“Eu, Uzumaki Naruto, aceito você, Uchiha Sasuke, como meu esposo. Prometo amá-lo, honrá-lo, até...”.
A voz ficou longínqua de repente, se perdendo nas lembranças daquele dia que fora tão feliz. Sasuke girou a aliança no seu dedo, apertando-a. Naruto tinha muita pose na hora de falar e fazer promessas, mas não honrara os votos daquele dia, pois não pensara nenhum minuto sequer antes de lhe virar as costas na hora da discussão no pátio do hospital.
Não havia feito nada de errado, por isso, por mais que o amasse, não evitaria aquela separação. Desceu do beiral da janela e a fechou. “Eu não vou dar o braço a torcer. Se ele cair em si e quiser conversar...”, Sasuke abriu a primeira gaveta da cômoda, retirou a aliança do dedo e depositou a jóia no fundo da mesma, encerrando-a em seguida. “Estarei esperando-o.”
E a crise continua, na segunda fase...
[1] Anata– a tradução literal é “você”. Porém, as esposas japonesas utilizam o termo para se referirem aos seus maridos de forma carinhosa; íntima. Seria quase como o “querido” usado pelas esposas brasileiras. Mas, se alguém não conseguiu perceber, o Sasuke não está usando o termo da forma devida (até porque ele não é uma esposa), e sim, de forma pejorativa e sarcástica.


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