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[Naruto] A Crise dos Sete - Capítulo 4, escrita por Andréia Kennen

Capítulos: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 Epílogo (em andamento no site)
Autor: Andréia Kennen
Fandom: Naruto
Gênero: Lemon, Romance, Universo Alternativo, Yaoi
Status: Em andamento
Classificação: 18 anos
Resumo: Naruto e Sasuke, mesmo sendo um casal pouco convencional, sempre se esforçaram para viverem bem e como uma família comum. Contudo, o mal que assola as famílias comuns (a temerosa "Crise dos sete anos de casados")está rondando esse lar feliz. Será que eles irão conseguir vencer todos os obstáculos e manter o casamento?
Confiram! [NaruSasu. +18. Presente de níver pra minha Blond-Hikari-nee-chan.]


A Crise dos Sete

Revisado por Blanxe

Capítulo IV


Naruto caminhava de volta para o apartamento, os passos quase arrastados, como se sentisse o peso do mundo sobre seus ombros. No caminho até o prédio, deparou-se com o jovem neto da sua vizinha, vindo em sua direção, vestido quase do mesmo jeito da primeira vez que o encontrara: um short vermelho curto, uma camisa branca com uma estampa de arco-íris ao centro e uma gola desproporcional que mostrava um dos lados do ombro, o tênis All Star preto de cano longo com cadarços em um vermelho reluzente, a única peça não tão chamativa era a bolsa de feira da avó, feita de um tipo de palha, que estava pendurada em um dos ombros.

Suspirou profundamente. Queria desviar do contato e do choque daquela visão, mas foi impossível, o garoto se deteve bem à sua frente. Quando tentou desviar para o lado, ele caminhou para o mesmo. Tentou o outro e ele repetiu o gesto; sempre se mantendo diante de si. Era certo: se ele estava a fim de chamar sua atenção, havia encontrado o pior momento.

— O que foi? — Naruto perguntou em um tom nada gentil.

— Não vou cobrar um bom dia, porque pela sua expressão e pela gritaria de agora pouco no seu apartamento, tudo indica que não está sendo nada bom.

— Ainda bem que tem cérebro... — Naruto comentou arrogante, para demonstrar que não estava para conversa. Então, continuou andando, mas, novamente o garoto se colocou à sua frente.

O loiro parou e analisou o rosto daquele menino que mascava chiclete àquela hora da manhã e franziu o cenho. Agora que estava mais próximo, conseguia notar o quanto sua pele era clara, no entanto, era devido algum tipo de pó que ele usava; fora isso, havia um brilho molhado nos lábios que os deixava mais volumosos. O garoto ainda tinha alguns acessórios, cordões coloridos em volta do pescoço, além do piercing em um lado do nariz. Naruto realmente não entendera o exagero daquele visual e, por um instante, lembrou-se das reclamações de Yoru que vivia falando que o pai era chato por não deixá-lo colocar aquelas porcarias no rosto. Mesmo assim, certo dia, ele apareceu com as jóias na sobrancelha e no queixo só para confrontar Sasuke, dizendo que a mãe havia autorizado. Depois da ameaça do marido: que ele nunca mais entraria na casa deles enquanto usasse aquilo, o adolescente parou de usá-los para poder visitá-los.

“Será que é esse o objetivo dos moleques de hoje? Chocar os mais velhos com seu visual nada definido?”, ele pensou, suspirando. Estava sem uma gota de paciência. Havia tido uma péssima manhã e ver aquele garoto que parecia não se incomodar com seu mau-humor, mesmo tendo ciência dele, o irritava ainda mais.

— Quer sair da minha frente?

— Na verdade, não. — ele foi sincero, mas Naruto não teve tempo de reclamar, pois ele continuou: — Seus olhos são tão lindos que eu poderia ficar olhando pra eles o dia todo sem me cansar, mas... você está estressado — ponderou de forma sábia. — Então, a minha resposta correta é: sim, eu quero sair da sua frente e vou. Porém, antes...

Naruto arqueou uma das sobrancelhas ao ver o garoto arregaçar mais a gola da camisa, abaixando-a até mostrar um dos mamilos o qual tinha outro piercing, desta vez dourado e não verde como o do nariz. Ficou mais abismado com aquela atitude repentina, no entanto, por alguns míseros segundos, prendeu-se no formato daquela jóia que parecia algum tipo de arma atravessando o pequeno botão róseo que estava avermelhado, destacando-se no peito pálido e liso do garoto.

— É uma kunai em miniatura — o garoto o informou, ganhando seu olhar aturdido. — É uma arma ninja. — continuou ele explicando, deduzindo que não saberia o que era. — Eu vi em um anime e achei linda, pedi por encomenda em uma joalheria. Mas o que eu queria mesmo saber é... se isso excita homens como você?

Naruto entreabriu os lábios. Logo, voltou a fechá-los, juntamente com os punhos e os olhos. E antes que sua mente começasse a agir contra, instigando–o imaginar “coisas indevidas” que o fizesse esquecer de que era casado, para dar o que aquele garoto praticamente pedia gritando em seus gestos, segurou firmes os ombros dele e o empurrou para o lado. Assim, conseguiu passar por ele e o fez marchando, tão firme eram suas pisadas no chão, e foi resmungando em tom audível e de indignação que seguiu para dentro do prédio.

— Era só o que me faltava! — esbravejou. — Essa juventude de hoje em dia anda mesmo perdida! Mas que inferno! Onde já se viu ficar se mostrando desse jeito!

Sasori, por sua vez, abriu um imenso sorriso, vendo o loiro se afastar bufando e praguejando. Passou a língua nos lábios, até prendeu o inferior entre os dentes. Ficara muito satisfeito com aquela reação, porque demonstrara que havia surtido algum efeito. Então, abraçou o próprio corpo, tocando os ombros onde as mãos firmes do vizinho da avó haviam apertado.

— Ah! Ele é tão tudo! — comemorou sozinho, sentindo o rosto esquentar. — Eu preciso contar pro Deida minha investida corajosa! Será que ele já tá no twitter?! Aquele preguiçoso dorme até tarde... — ele se perguntou, apanhando o celular no bolso apertado do short e conectando-se a internet, enquanto andava. ­— Acho que vou colocar um post no meu Blog também! Oh, Gosh! Eu quero muito esse loiro pra mim.

...

Naruto entrou em casa, ainda mais arrasado. Então, deparou-se com aqueles três pares de olhos claros encarando-o, o que não ajudou muito naquela depressão que ameaçava derrubá-lo com força. Os pequenos ainda tinham cara de choro, enquanto Yoru mantinha-se sério.

— Venham cá. — ele chamou os três, fazendo o gesto com as mãos para que se aproximassem. — Deixa o papai conversar com vocês.

Bara foi a primeira a correr para o colo do mais velho e recomeçar o choro. A pequenina era bastante sentimental e emotiva, características herdadas em parte da personalidade de Naruto, o restante acreditava que deveria ser por causa da regência astral, sentimentalismo era uma das características do pisciano, fora isso, ela era a única menina da família e, por isso, era a mais mimada, protegida e o pequeno xodó dos dois pais e dos dois avôs.

Sabia também que Bara era mais apegada ao Sasuke; ela sempre o seguia quando estava em casa, ajudava-o na cozinha, gostava da área em que ele trabalhava, porque apesar de ser menina, ela tinha paixão desmedida por tudo quanto era tipo de bicho, inclusive, insetos, anfíbios e répteis. Quando ele estava parado fazendo os planos de aula, ou corrigindo trabalhos dos acadêmicos até tarde da noite, ela sempre ficava no colo dele, quietinha para não atrapalhá-lo, até pegar no sono e ser colocada na cama.

Não era algo incomum Sasuke fazer sucesso com o sexo oposto, fora assim na escola, na vizinhança e, com certeza, ele deveria ter muitas alunas e professoras que morreriam por ele na Universidade. Lembrou-se de quando os gêmeos ainda eram novinhos, iam passear em família no parque e Sasuke preferia carregar a menina e ficar sentado em um dos bancos lendo. Enquanto Naruto levava Hikari para ver as outras crianças no parquinho, ao retornar, sempre tinham outras mães em volta deles, admirando, com certeza, não só a beleza da menininha no colo do jovem pai, mas a própria beleza do homem. E a mesma situação se repetia em shoppings, restaurantes, supermercados, festivais...

— Você tá bravo com o papa, otou-chan? — ela resmungou, esfregando o rosto na camisa do loiro, que suspirou ainda mais desolado.

Não poderia deixar de negar aquilo, mas resolveu não afirmar para não desencadear mais choro.

— Calma, Hime-chan — ele pediu pra filha, ajeitando-a em seu colo.

Olhou para os dois meninos. Yoru tinha aquele olhar sério e o pequeno Hikari tentava imitá-lo, apesar de saber que seu filho também era bem sentimental. Mas, ao contrário da irmã, ele não demonstrava. Tudo porque, certa vez, Sasuke bronqueou com ele, falando que choro era coisa de meninas e se ele não quisesse que o “pipi” dele caísse, tinha que parar com aquilo. Desde aquele dia, dificilmente via o pequeno chorar. O menino também era mais apegado consigo, talvez, por compartilhar das peraltices dele.

Mas Hikari era inteligente e estratégico, algo que não herdara de Naruto, e o loiro sabia bem. O garoto adorava jogos, por isso, aprendera a jogar futebol. Com os avôs, ele aprendeu a jogar Shogi. Com o irmão mais velho, jogava todo o tipo de jogos de computadores e com o pai Sasuke, xadrez.

Já Yoru era um pré-adolescente típico da atualidade, adorava estar sempre interagindo. Se não o limitassem, viveria na internet vinte e quatro horas por dia, lendo, assistindo, fazendo download de jogos, música, e o que mais houvesse na rede do seu interesse. Além de estar fazendo novos relacionamentos, o que na realidade assustava Naruto que não era muito ligado as tecnologias. Não tinha paciência necessária para ficar detido na frente de um computador por horas. Tinha um e-mail, o tal de MSN, o qual sempre precisava de ajuda pra acessar. E o tal Orkut e o Facebook, era dele e do Sasuke, e por isso, era gerenciado pelo marido, que falava que os sites de relacionamento eram importantes para manterem contato com seus ex-colegas de escola, além dos alunos que o adicionavam.

Ele ainda preferia o velho telefone, ligar e marcar uma reuniãozinha de amigos para conversarem, comerem e saberem das novidades. Mas tinha que concordar que com o dia-a-dia tão corrido e os horários muitas vezes incompatíveis tornavam os encontros algo complicado. Por isso, acabava por saber das fofocas por aqueles sites mesmo. Toda vez que Sasuke entrava lhe fazia um apanhado geral. Fora assim que descobrira que Shikamaru se divorciara da Temari fazia mais de seis meses e que os dois estavam em uma briga ferrenha pela guarda do casal de filhos. Soubera também que o Kiba havia se juntado com uma mulher bem mais velha que tinha se separado do marido para ficar com ele. E que o Shino estava na Amazônia, fazendo um novo documentário sobre a vida dos insetos da região.

Suspirou.

Não era o momento para se pensar naquilo, devia se focar nos pequenos e como explicar a eles o que acontecera. Fizera algo vergonhoso e, por mais que Sasuke e ele já tivessem brigado na frente deles, nunca se agrediram. Evitavam também falar palavrões. Mas, pela primeira vez, perdera a paciência com a arrogância do moreno.

— O papai fez algo errado. Fiquei irritado com o papai Sasuke e... — ele suspirou novamente. — Não vai se repetir, eu prometo.

— Vocês vão se divorciar?

A pergunta de Yoru fez os olhos de Naruto se arregalarem. Os dois pequenos, que não entenderam a pergunta, olharam para o pai.

— O que é “divorciar”, otou-chan? — perguntou a menina no colo, esfregando os olhos e limpando as lágrimas.

— Bara, você é burra mesmo. Divórcio é separar. — o pequeno Hikari explicou, fazendo Naruto se sobressaltar ainda mais e olhar para Yoru com as sobrancelhas crispadas.

— Burro é você! — a pequena rebatera.

Então, olhou para o menino mais velho.

— Yoru-chan?

— Não fui eu. — o menino negou, meneando a cabeça também.

— Quem te explicou o que é divórcio, Hi-chan?

— Ué, a professora da escola! Quando alguns dos nossos colegas de sala se apresentaram falaram que os pais eram divor- divor-...

— Divorciados. — Yoru completou.

— Isso, onii-chan! Aí ninguém sabia o que era, e o menino não soube explicar direito, então a professora falou que o divórcio acontece quando o papai e a mamãe não se gostam mais. Aí, cada um vai morar em uma casa.

— Eu não querooooo! — gritou a loirinha esperneando no colo de Naruto. — Não quero que vocês fiquem divorciados, otou-chan! — a menina agarrou a roupa do pai, retomando o choro. — Eu e o Hi-chan vamos ter que divorciar também?!

— Com certeza! — o outro gêmeo falou animado, como se aquele fosse o lado bom da notícia. — E eu escolho ficar com o papai Naruto e o meu onii-san! Você e o papai Sasuke são dois chatos mesmo! Podem ficar juntos!

— O papa Sasuke e eu não somos chatos, Hi-chan! Você que é! Seu feio!

— O quê...

— Parem agora mesmo! Vocês são irmãos pra começo de conversa e irmãos não se divorciam...

Por um instante, Naruto se lembrou sobre a situação do amigo Shikamaru e, na verdade, parecia que os pais estavam tentando entrar em um acordo para que cada um ficasse com um filho, o que tornava sua afirmação mentirosa. Porém, nunca permitiria que os gêmeos crescessem separados, afinal, divórcio era a última coisa no mundo a qual gostaria de pensar.

— O papai vai fazer o possível pra ninguém aqui se separar, está bem?

— Promete? — a pequeninha pediu com os olhinhos brilhando e, de repente, o pai teve que engolir o nó que se formou em sua garganta.

­— Eu queria prometer, Hime-chan... — alegou sincero e cabisbaixo. — Só que essa não é uma escolha que depende só de mim, eu não posso obrigar alguém a ficar comigo se um dia ele não me quiser mais, né?

Mas ao ver que sua fala não a convenceu e que o choro iria retornar, ele apressou-se em consertar o que dissera, sorrindo abertamente para ela e afirmando um compromisso: — Não se preocupe, Hime! Eu prometo que vou fazer o possível pra todos nós continuarmos juntos, tá bom assim?

— Hai! — ela assentiu, mais animada, abraçando-se ao peito do mais velho.

Mas, para a surpresa do loiro, os dois meninos não comemoraram nada.

— Eu vou terminar de arrumar minhas coisas — avisou Yoru, dando de ombros. E foi seguido pelo o caçula.

— Eu te ajudo, nii-chan!

...

Na universidade, Sasuke entrou na coordenação de ciências biológicas e passou rápido pela recepção, tentando não ser notado. Adentrou a sua nova sala e suspirou aliviado por não ter sido parado por ninguém. Imaginou que aquela promoção tinha vindo bem a calhar naquele momento, afinal, ser assessor da coordenação restringia seu trabalho às funções mais administrativas, que podiam ser feitas no espaço da sua sala. Assim, evitaria que vissem seu rosto naquele estado. Retirou a pasta que carregava transpassada no peito, onde guardava o notebook, e a depositou sobre a mesa, deu a volta no móvel para se acomodar em sua cadeira quando o topo de uma cabeleira azul-prateada o fez sobressaltar.

— O que é...?!

— Bom dia, Uzumaki-san. — ouviu o cumprimento do homem que saía debaixo da sua mesa. — Espero que não se incomode, mas a Karin pediu para que eu o ajudasse a se instalar, então comecei arrumando os fios amontoado que... — de repente o homem parou de falar, franzindo o cenho e mudando completamente o foco da conversa: — O que houve com seu rosto? Levou uma surra de algum trombadinha?

Sasuke se afastou rapidamente e deu as costas para o homem, tentando avaliar seu rosto no reflexo do vidro fume da janela e confirmar se o seu estado era tão deplorável assim, e também, fugir do olhar clínico de Kabuto. Aquela era a última pessoa que desejava que o visse naquele estado, por isso, tentou se livrar dele.

— Eu não preciso de ajuda, eu arrumo minhas próprias coisas. Pode ir.

— Não é só para ajudá-lo, Uzumaki-san. Mas, essa sala é minha também, eu sou o secretário da coordenação esqueceu? A nossa sala é conectada a da coordenadora e todos que quiserem falar com ela, precisará passar antes pela gente.

Sasuke viu — pelo reflexo no vidro — que o homem apontara para outra porta, sem ser a que ele entrara, onde tinha uma placa, com o nome da nova coordenadora provavelmente. Havia se esquecido mesmo daquele detalhe. O layout da coordenação começava com a recepção, que era uma sala com um balcão onde ficava a atendente e um estagiário; atrás dela, a sala dos professores do curso, e ao lado desta a sala da assessoria, que dava para o espaço reservado para coordenação.

— E então? ­— o homem se pôs de pé, limpando o pó das mãos em um guardanapo que estava sobre a mesa. — O que aconteceu com seu rosto? Não acha que deveria procurar um médico... ou... a polícia? Sabe... pra lavrar uma ocorrência de agressão.

Aquela sugestão dita daquela forma mansa, como se aquele homem soubesse o que realmente tinha acontecido, fez Sasuke se enervar rapidamente. Era evidente a maldade impressa nas palavras de Kabuto.

— Eu estou bem, foi só uma queda doméstica. — mentiu, tentando parecer natural e evitar criar margem para especulações. — Só precisei marcar dentista pro período da tarde.

— Uau! Você perdeu um dente? O gancho de esquerda da sua esposa é mesmo poderoso, não é? — ele comentou sarcástico, acompanhada de uma risada maldosa.

Sasuke virou-se mecanicamente para o homem em um misto de indignação e ira, e o viu ajeitar os óculos na face, empurrando o eixo sobre o nariz com dois dedos enquanto mantinha aquele sorriso cínico no rosto.

Ele estava querendo tirá-lo do sério, pois todos sabiam muito bem que não tinha “esposa”. E imaginava o motivo dos ataques: inveja. Kabuto estava com raiva porque ele sempre fora o puxa-saco oficial do antigo coordenador, mesmo assim, não tivera os “atributos” suficientes para conquistar uma posição melhor na coordenação, mantendo-se como um mero secretário.

— Eu caí — reafirmou sério e entre dentes cerrados. — E eu não tenho esposa, Kabuto-san.

O homem, que já tinha uma nova alfinetada em mente, se deteve com a entrada súbita da nova coordenadora. Karin estava de óculos escuros, terninho grafite, escarpam e uma pasta em uma das mãos.

— Bom dia, senhores. — ela os cumprimentou em tom formal e não esperou por respostas, passou por eles sem olhá-los e adentrou sua sala, pedindo em seguida: — Sasuke, preciso falar com você. Kabuto, providencie duas xícaras de café.

— Sim, senhora... — o homem respondeu sério e para Sasuke, abriu um sorrisinho debochado e sussurrou em complemento: — Megera...

Assim que Kabuto deu as costas, Sasuke apertou o nó da gravata e passou as mãos nos cabelos, como se quisesse se alinhar. Não tinha como esconder os ferimentos, então, teria que encarar seu primeiro dia de “vice-coordenador” deformado daquele jeito. Achou Karin com um ar bem imponente ao passar. Não que antes ela não fosse; a mulher não se destacou só por seus atributos físicos como chegara imaginar, mas por ter fibra e cumprir suas obrigações de forma exímia. Porém, quando ficavam sozinhos, ela deixava a máscara de imparcialidade de lado e dava em cima de si... descaradamente, mesmo tendo ciência que era casado e com alguém do mesmo sexo.

Pediu licença com duas batidas no patamar de madeira aberto e adentrou o ambiente assim que ela lhe deu permissão, acomodando-se na cadeira almofadada diante da mesa dela. Mas ficou aliviado em perceber que a mulher continuava atenta a tela do computador que se iniciava.

— Existe uma condição, Sasuke. — ela falou de repente.

— Como?

— Não gosto de embromação, então, vou direto ao assunto. — ela explicou, digitando a senha para acesso do sistema. — Estou dizendo que o indiquei para esse cargo visando um interesse próprio.

Por algum motivo, ele imaginava aquilo.

— E qual seria? — perguntou, após engolir em seco.

Ela suspirou, retirando os óculos de grau, os quais haviam sido substituídos pelos escuros e repousou-os sobre a mesa de tampa de vidro. Ela girou na cadeira para ficar de frente para o homem e foi nesse momento que percebeu o estado do rosto dele.

— O que houve com seu rosto?

— É... Bem...

— É pessoal? — ela perguntou, deduzindo pela gagueira que o subordinado iniciara.

— Hm.

— Não se incomode em inventar uma desculpa, então. Só cuide para que isso suma logo.

— Farei o possível. — ele afirmou, aliviado por não precisar se justificar à ela.

— Bem, Sasuke. — Karin retomou o tom inicial. — Não é novidade que sou apaixonada por você desde quando nos cruzávamos pelos corredores na época em que ainda éramos meros acadêmicos, não é?

— Achei que já tivesse superado isso.

— Juro que tentei. — ela recostou-se na sua cadeira. — Mas não é tão simples.

— Então sua condição tem haver com isso?

— Exato.

— Eu sou casado, Karin...

— Sim, eu sei. Mas, sinceramente, não me importo com isso.

— Não estou...

— Sasuke, somos adultos. Então, vou tratar isso da forma mais objetiva possível. Eu quero que... — ela se deteve, ao olhar para porta aberta e ver uma sombra no chão. — Se ficar esperando mais tempo aí parado, Kabuto, o nosso café vai esfriar...

— Com licença. — o homem pediu, adentrando o recinto. — Eu não sabia se deveria atrapalhar ou não. — ele se justificou, depositando as duas xícaras de café sobre a mesa, em seguida pediu licença. — Desculpem.

— Feche a porta.

— Sim, senhora...

— Aqui não é o lugar apropriado para tratarmos de... “negócios”. Vamos jantar no meu apartamento hoje à noite.

— Karin, eu não posso.

— Sasuke... Eu não estou perguntando. Estou informando que iremos jantar lá, hoje.

O professor juntou as sobrancelhas.

— Você não pode me obrigar.

— Eu estou procurando não ser rude.

— Eu não ligo. Seja rude. Você disse que seria o mais objetiva possível.

— Ok. Então serei. Esteja na minha casa para conversarmos em particular sobre as condições do seu novo cargo, ou... Pense da seguinte forma, Sasuke: já existe um professor para sua disciplina com contrato assinado para esse semestre. O cargo de vice-coordenador no momento é seu, mas se você não aceitá-lo, poderá ceder o lugar para o Kabuto que está realmente ansiando por isso. Contudo, as regras do contrato do professor que o está substituindo não podem ser mais quebradas... Assim, não teremos onde alocá-lo caso não queira manter-se subordinado a mim e infelizmente, lhe restará uma única saída... Procurar outra universidade pra lecionar. Só que, levando em consideração que as aulas estão para começar, não deve existir tal cargo disponível para o semestre. Será que aquele rapaz loiro e bonito o qual você chama de “marido” terá condições de bancar com as despesas da sua família por longo seis meses? Eu soube que vocês dois tem muitos filhos...

— Eu não acredito que você está me ame-...

— Eu disse que não queria ser rude. — ela o lembrou, interrompendo-o mais uma vez, e, mantendo os olhos fixos no dele, o pressionou: — Então, como vai ser?

Sasuke sentiu um ardor consumir-lhe internamente por estar sendo prensado contra a parede, sem ter para onde correr. Como ela observara, eram adultos e ele não precisava de bola de cristal para saber que a mulher iria lhe propor que fossem amantes. Pressentiu que não lhe faltava mais nada de ruim para acontecer naquele dia. Além de ter sido espancado pelo marido, agora estava sendo vítima de assédio sexual por parte da sua superior no ambiente de trabalho. Mas, de qualquer forma, a mulher não lhe dera opções.

— Eu irei.

— Sabia que iria. Você é inteligente, Sasuke ­— ela afirmou, desencostando-se na cadeira almofadada e sorrindo abertamente. — E não fique com essa cara de que o mundo está desabando. Eu lhe garanto que você vai gostar do que tenho pra lhe propor. Agora vai. Termine de se instalar, depois disso quero que revise o discurso que redigi para a recepção dos acadêmicos na segunda-feira. No período da tarde você está dispensado pra ir cuidar desses ferimentos e a noite, eu lhe espero lá em casa. Agora, mexa-se. E leve essas xícaras de café, eu odeio café frio.

Ao sair da sala de Karin com uma feição desolada, Kabuto que estava avaliando o conteúdo do malote interno que havia acabado de ser entregue pelo office-boy, arrumou os óculos na face novamente e com um sorrisinho cínico, debochou:

— Achou mesmo que a administração fosse o céu e que sua promoção sairia de graça?

Sasuke não se deu ao trabalho de responder aquele homem. Apenas deixou as xícaras sobre a mesa dele e saiu da sala. Precisava respirar ar fresco e pensar em como sair daquela enrascada que se metera. Uma das coisas que mais o irritou foi que Karin parecia ter calculado tudo de forma premeditada. Ela estava segura e suas falas foram certeiras. Nada do que ela alegara estava fora do contexto, principalmente a parte do marido ser incapaz de sustentar a casa. Havia o carro, prestações, condomínio, escola das crianças. Mesmo que pedisse ajuda aos pais, ainda passariam dificuldades. E tudo desabara justo em um momento crítico do relacionamento deles e no exato instante em que Naruto resolvera deixar o emprego para assumir a casa e a supervisão dos filhos.

Como diria a ele que estava prestes a perder o seu emprego? E como justificaria que era devido ao assédio? Escandaloso do jeito que era, ele iria até a coordenação pedir justificativas a Karin e causar o maior escândalo na Universidade, manchando a reputação que construíra com tanto esforço.

Passou pelos corredores vazios, desceu as escadarias de chão de mármores e chegou ao pátio. O dia estava claro, ensolarado, o céu azul típico do verão. Encostou-se em um tronco de uma árvore e respirou cadenciado. Tentando pensar.

“Talvez, se eu fosse direto no velho Sarutobi poderia resolver o problema. Mas para isso, teria que passar pelo Orochimaru, que é o antigo chefe da Karin... É óbvio que ele sabe sobre as ações dela, se não dizer que foi ele mesmo quem a instruiu agir dessa maneira...”, Sasuke bateu com o punho fechado no tronco. “Kisama! Você pensou em tudo mesmo, Karin... Não é que eu achei que não haveria um preço... Só não pensei que você seria tão descarada em expô-lo logo de cara...”

...

Assim que saiu do dentista, Sasuke foi direto para a casa. Por sorte, o dente quebrado teve condições de ser restaurado, o problema foi ouvir da sua dentista o mesmo que ouvira de Kabuto: que deveria registrar queixa de agressão na delegacia. Suspirou. Percebeu a casa silenciosa demais ao entrar, então seguiu direto para cozinha, estancou diante da geladeira com as mãos na cintura. Como esperava, lá estava o bilhete com as letras garranchadas do marido.

“Fui pedir demissão. Depois vou passar no parque com as crianças. Deixa que eu preparo o jantar. Descanse. Naruto.”

Constatou que o clima entre eles não iria melhorar tão cedo. Afinal, dava pra sentir nas palavras secas do bilhete que o loiro lhe deixara, o quanto ele ainda estava magoado. Já que, quando estavam bem, ele sempre se despedia com alguma bobeira, desenhava carinhas ou ainda assinava “O seu U...”. Era uma alusão ao jeito que Sasuke o chamava quando eram mais jovens: “Seu Usurantokachi”. Deixou o papel onde estava e seguiu para o quarto. Tomou um banho e se arrumou. Quando estava calçando o sapato na soleira da casa, prestes a sair, ouviu o destrancar da porta e o coração deu um solavanco no peito. Mas logo se acalmou, era apenas seu filho mais velho.

— Tadaima... — o menino falou de um jeito apático, retirando os All Star para deixá-los na soleira da porta.

Sasuke nem se deu ao trabalho de responder, pelo zumbido alto que vinha dos fones do ouvido do garoto, era certo que ele não lhe ouviria. Então, apenas puxou o arco que sustentavam os fones nos ouvidos dele para baixo, fazendo-o escorregar para o pescoço dele, então perguntou:

— Você não estava com o Naruto?

— Estava... — afirmou, passando as mãos nos cabelos para alinhá-los. — Mas ficou chato lá no parque, vendo aquela pirralhada brincar. Ainda por cima, acabou a bateria do meu netbook... — ele mostrou o aparelho que trazia na mão. — Então falei que vinha na frente... — o garoto explicou, reparando os cabelos úmidos do pai e como ele estava bem vestido, além do perfume forte que exalava; juntou as sobrancelhas. — Ué, velho? Aonde você vai assim?

— Reunião — respondeu categórico. — Avise seu padrasto. — pediu, abrindo a porta e saindo.

O garoto arqueou as duas sobrancelhas, assombrado pelo tom mais frio que o normal do outro. Em seguida, deu de ombros e sorriu, voltando a colocar os fones nos ouvidos.

— Se eu lembrar...

Continua...
Notas finais:

E eu é que sou má, né, minna-san? 199% dos leitores gostaram da surra que o Sasu levou no capítulo passado e só 1% não, e eu é que sou a autora má. Hahahahahhahaha

Bem, só quero esclarecer algo também, apesar de que sei que todos vocês são bem conscientes disso, mesmo assim é bom deixar frisado para os sensacionalistas de plantão: sou totalmente contra a violência doméstica, mesmo achando que o Sasuke mereceu as pancadas que levou. 8D

Mas, quero deixar claro, que retratei a briga, porque eles são homens (tem forças que se equivalem) e também porque é meio que natural dos dois, no mangá o Naruto até lembrou o Sasuke que infelizmente eles não se entendem ‘falando’ e sim ‘na pancada’, então, foi algo deles. Mas JAMAIS descreveria algo do tipo se o casal fosse hetero. Pra mim é inadmissível homem que bate ou violenta uma mulher. É um ato de covardia brutal digna de prisão perpétua. Por que, por mais que a mulher “faça por merecer”, a força dela dificilmente se equivale a do homem, e dificilmente, ela irá revidar e mesmo que revide, não provocará danos equivalentes.

Viu gente o Sasu recuperou o dente! 8D

Eu avisei em algumas reviews, em outras não, então vou avisar aqui também. Fiz uma ficha dos personagens principais da Crise, está na área Fanfics Prévias do meu Blog Andréia Kennen - Yaoi Writer. Dêem uma passadinha por lá também e confiram!

Então... Parece que tanto Naruto quanto Sasuke, estão sendo cortejados por pessoas que querem adensar a crise entre eles. O que será que eles vão fazer, hein?

Deixem reviewes com suas opiniões!!


See you next! o/

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