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[Naruto] A Crise dos Sete - Capítulo 7, escrita por Andréia Kennen

Capítulos: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 Extra 1 Extra 2 Epílogo
Autor: Andréia Kennen
Gênero: Lemon, Romance, Universo Alternativo, Yaoi
Status: completa
Classificação: 18 anos
Resumo: Naruto e Sasuke, mesmo sendo um casal pouco convencional, sempre se esforçaram para viverem bem e como uma família comum. Contudo, o mal que assola as famílias comuns (a temerosa "Crise dos sete anos de casados")está rondando esse lar feliz. Será que eles irão conseguir vencer todos os obstáculos e manter o casamento?
Confiram![NaruSasu. +18. Presente de níver pra minha Blond-Hikari-nee-chan.]

Notas iniciais do capítulo
Nota 1: Expressões japonesas que encontrarem no texto e ficarem com dúvida quanto ao significado, é só consultar o vocabulário no final da pagina. Apesar de que, inseridas dentro do contexto, fica fácil de deduzir.

Nota 2: Pra não perder o costume, a fic é dedicada à minha nee-chan, Hikari. Sim, o nome do gêmeo menino foi inspirado totalmente nela, a presenteada com a fic. 8D Mas, claro que, todos que acompanham e/ou deixam reviews (da última vez que consultei vi 60 acompanhamentos), têm meu total carinho também. Arigatô Gosaimassu! *curva*

Nota 3: Agradecimento especial à minha beta amada, a Blanxe, que sempre me dá dicas importantes pra manter o texto centrado. E também, dizer que a expressão Borboleta que o Yoru vai usar para o Sasori, é de autoria dela, roubada descaradamente por mim. :D Obrigada pelo ótimo trabalho de sempre, senpai. *curva novamente*

Chega de notas e agradecimentos, vamos a Crise. :D

A Crise dos Sete
Capítulo 7
Revisado por Blanxe
Do lado de fora do prédio, e ainda resmungando, Yoru se aproximava do local onde os moradores deixavam os sacos com lixo não reciclável para serem coletados.
— Merda de saco fedorento...
Da distância a qual se encontrava, percebeu que havia mais alguém no local e pela altura, era alguém sua idade. Porém, sua presença o assustou, pois a pessoa saiu da posição tranquila que se encontrava — recostado na pilastra que sustenta a pequena varanda sobre o container de lixo — e apavorado, moveu-se com intuito de esconder algo.
Assim que o jovem Uchiha se aproximou, identificou que aquilo que a pessoa queria esconder era cigarro, pois o cheiro forte de nicotina impregnou suas narinas. Ao direcionar um olhar estreitado para o fumante, na tentativa de identificá-lo, ficou na dúvida se era “ele” ou “ela”. Franziu as sobrancelhas tentando analisar melhor os detalhes e encontrar algo que pudesse ajudá-lo na distinção. Porém, a roupa de dormir era bem feminina: um camisetão rosa-bebê com estampa de flores ao centro que mais parecia um vestido. Contudo, não havia volume de seios, mas pela altura, Yoru imaginou que poderia ser uma pré-adolescente que ainda não desenvolvera seus atributos.
Desistindo de encontrar uma forma de fazer a identificação pelo físico, resolveu puxar assunto e assim tentaria pela voz.
— Não esquenta... Eu não vou te dedurar por estar fumando escondido... — garantiu, rindo de lado e arremessando o saco para dentro do container.
Porém, a pessoa agiu diferente do que imaginara e não se contentando em ignorar sua fala, virou o rosto de lado soltando um “humpf” em uma atitude tão arrogante que deixou o filho de Sasuke revoltado. Não era do feitio dele retaliar, mas sentiu-se tentado depois de ser esnobado, assim, apanhou o camisetão pela borda e o ergueu, perguntando curioso: — Ei, afinal, o que tem aqui embaixo?
As mãos do outro agiram rápido, empurrando a roupa de volta para baixo.
— O que está fazendo, idiota?! — esbravejou, com o rosto completamente ruborizado. — Qual é a sua?
— Ué, você é um cara? — Yoru quis ter certeza, ao notar finalmente a voz de menino e também, por ter visto uma cueca preenchida com um volume nada feminino dentro dela ao erguer a roupa de dormir do garoto.
— Lógico que sou, seu retardado! — respondeu em um grito, colocando as mãos na cintura para ostentar sua expressão de indignação.
Os olhos de Yoru se arregalaram em surpresa, mas logo sua face se alterou e ele não conseguiu segurar a gargalhada.
— Ha, ha, ha, ha! Que bicha! — disse, apontando. — Deveria usar uma calcinha por baixo também...
— Quê?! Eu sou um garoto, seu paspalho. Não uso essas coisas!
— Sério? Juro que fiquei na dúvida. — o garoto moreno confessou, mantendo o sorriso de deboche. — Esse condomínio tem mesmo pessoas interessantes.
— Só que eu não moro aqui. — o jovem que tinha os cabelos vermelhos, fez questão de informá-lo, e acrescentou: — Eu só estou passando um tempo com a minha avó e... — De repente ele parou, prestando atenção na feição daquele garoto abusado que erguera sua roupa, reconhecendo-a de algum lugar. — Espera... Você é idêntico ao vizinho que mora no apartamento em frente ao da vovó... Um com cara de mal-humorado...
— Você deve tá falando do meu velho. Todos dizem que sou a cópia dele, mesmo eu não sendo de idade e muito menos barrigudo.
— Você se parece. Mas não chega a ser uma cópia, só se for uma mal tirada... Afinal, seu cabelo não é totalmente negro, o tom é meio pro roxo, sei lá... E os seus olhos são totalmente diferentes. Além dos cílios longos que te dão um ar feminino, a cor é estranha, verde berrante...
— Quê? — Yoru sentiu o rosto esfoguear de raiva. — “Verde berrante”?! Todo mundo diz que meus olhos são lindos... Só podia ser uma bicha mesmo...
— Hm... — o ruivo segurou o cotovelo direito com a mão esquerda, o qual a mão ele levou ao queixo, em uma pose pensativa, continuando a avaliação. — Acho que já vi sua mãe também… É uma mulher toda chiquetosa de cabelos rosa, né? — tirou a mão do queixo, movendo-a em círculos. — Até que gostei do jeito perua dela...
— Sério? Por que será? — perguntou irônico, revirando os olhos.
— Isso significa que seu pai já foi hetero.
— Por que o interesse? — o moreno desconfiou. — Nem se anime, ô, borboleta. Você tá longe de ser uma mulher e mais longe ainda de fazer o tipo do meu velho.
— Não me chame assim! Meu nome é Akasuna, Akasuna Sasori! E sai fora! Você acha que tô interessado naquele cara pançudo? Nun-ca! — ele silabou a ultima palavra, fazendo novos gestos circulares com as mãos e repousando-as na cintura na sequência. — Eu gosto dos tipos mais viris...
— Nota-se. — Yoru girou os olhos novamente e virou o corpo, dando as costas e fazendo menção de se retirar. — Vou indo nessa, ja.
Sasori, ao ver o garoto indo embora, estapeou sua própria testa. Estava conversando com o enteado do homem por quem estava atraído e o estava deixando partir. Ele era a chance que procurava de ter mais acesso ao apartamento, além de informações; correu, seguindo-o.
— Ei! Chooto matte!
Yoru não parou, continuou andando, mas notou que o tal Akasuna o alcançara e agora caminhava ao seu lado; resolveu apertar o passo.
— Ei, pra quê a pressa?
— O que é? Não tô a fim de que pensem que arrumei uma ‘namorada’.
— Você também não faz meu tipo, estúpido.
— Que bom! Então não precisa andar do meu lado. Continue fazendo o que estava fazendo quando eu o interrompi...
Mais uma vez, Sasori quis se espancar por agir por impulso; precisava ser mais cordial para conquistar a amizade daquele garoto que era exatamente do tipo que detestava: infantil, irritante e que lhe tirava do sério.
— Olha... quero dizer... Sabe, não tem muitos garotos legais nesse prédio, e eu não fiz amigos ainda... Digo, somos vizinhos. Acho que começamos mal... Eu já me apresentei, que tal você dizer seu nome também e tentarmos ser amigos, hã?
O rapaz de cabelos arroxeados estacou e, voltando-se para o ruivo, o olhou de cima embaixo. Em seguida, estendeu a mão para ele, abrindo um sorriso meio de lado, o mesmo sorriso que diziam ter herdado do pai, e forçando a simpatia, se apresentou:
— Uchiha Yoru...
Por um mero instante Sasori vacilou, achando um tanto repentina aquela transformação de garoto riquinho e arrogante para um conquistador de sorriso sacana, mas deu de ombros e estendeu a mão para uni-la ao do garoto, com a intenção de corresponder ao cumprimento formal, porém, ou como sua intuição o alertara, a mão do vizinho se desviou da sua em um movimento rápido, e foi parar nos cabelos, os quais ele alisou e jogou para trás, concluindo em seguida:
—... o prazer é todo seu, óbvio.
Desta vez, foi o ruivo quem sentiu o sangue ferver; crispou a mão, antes em riste para corresponder ao cumprimento, e adquiriu um ar de fúria.
— Qual é a sua?!
— Eu conheço garotos da sua laia, Borboleta. Sei muito bem que eu não sou do tipo que te agrada e você já deixou bem claro isso. Sejamos sinceros: seu interesse é outro, e já saquei bem qual é. Então, se fazer amizade comigo era um plano pra se aproximar “desse seu interesse”... — Yoru estreitou os olhos e, de maneira ameaçadora, concluiu: — esqueça. Eu nunca irei permitir.
Sasori se admirou da seriedade com que Yoru falara e também da perspicácia em ter percebido suas verdadeiras intenções. “Será que dei tanto na cara assim?”, pensou, mordendo o lábio inferior. Mas achou melhor mostrar-se desentendido:
— Mas, do que você está falando, afinal?! Tá doido, é?
O jovem Uchiha não deu ouvidos ao adolescente e voltou a andar, seguindo para o apartamento. Ao adentrar o ambiente, não deixou de notar a falta de discrição do garoto que o seguira e havia se detido diante da entrada, mantendo as reclamações e esticando o pescoço, provavelmente, querendo espionar dentro do apartamento e visualizar o foco do seu interesse.
— Deveria ao menos, tentar disfarçar. — Yoru falou entre dentes trincados, tentando não elevar o tom da voz e chamar a atenção do padrasto. — Você não tem ideia do quanto meu pai é ciumento.
— Quê? Tá achando que tô a fim do seu padrasto? — o ruivo continuou fingindo não entender do que o vizinho estava falando.
Yoru se irritou ainda mais e após girar os olhos pela última vez, bateu a porta na cara dele.
Naruto, que estava quase cochilando no sofá após tomar quatro latinhas de saquê, se sobressaltou.
— Nã- Não fui eu! Eu juro!
— Gomen, otou-san. — o enteado se desculpou, apertando a fronte com dois dedos, procurando suavizar a feição contraída por causa do outro garoto. — Não quis te assustar.
— Ah... É você Yoru-chan... — Naruto comentou, relaxando no sofá. — Onde estava?
— Fui colocar o lixo lá fora, como me pediu.
— Ah, é... — Naruto coçou a nuca, abrindo a boca e soltando um grande bocejo.
— Meu pai ligou? — o garoto perguntou, depois de deixar o tênis na soleira e entrar na sala descalço.
— Não... — respondeu, contorcendo os lábios em um bico. — Eu conheço bem seu pai, Yoru-chan. Ele é orgulhoso suficiente para me fazer sentir culpado, mesmo que o desencadeador de todo o atrito tenha sido ele.
— Hm... — Yoru resmungou, dando a volta no sofá e parando atrás do loiro. — Eu sei bem como é... — confirmou, repousando as mãos nos ombros do padrasto e apertando o local devagar, fazendo Naruto se retesar.
— Ei, o que é isso?
— Massagem... — ele respondeu, mantendo o mover condensado dos seus dedos nos músculos retesados. — Está tenso... Precisa relaxar um pouco.
— Eu estava tentando, de outro jeito... — Naruto ergueu a latinha de bebida.
— A mamãe gosta das minhas massagens, ao menos, ela nunca reclamou. Álcool engorda, além de te viciar. E, vamos concordar, Naruto, você não combina com o tipo alcoólatra que normalmente são caras velhos, feios e gordos...
— Hm... Acho que entendo...
Naruto sentiu-se incomodado com o toque do garoto de início, mas estava cansado e o amolecer provocado pelas latinhas de saquê que havia tomado fizera-o não reagir. Não demorou a gostar daquela sensação relaxante que aqueles toques tão precisos provocava. Yoru era bem habilidoso, as pontas dos dedos friccionavam exatamente os lugares mais doloridos. Sua respiração ficou tensa de repente e foi difícil controlar um gemido que escapou quando o enteado concentrou a massagem em uma região mais sensível; os dedos percorreram as laterais do seu pescoço, desceram para os ombros e voltaram escorregando em direção o seu tórax.
Yoru sentiu o rosto aquecer ao ouvir o gemido do loiro e um frio instaurou-se em seu estômago. Estava tocando a pele do padrasto e ele demonstrara sentir prazer com seu toque, não conseguiu conter a excitação que fez seu baixo ventre formigar e o calor abrasar ainda mais sua face; prendeu os lábios entre os dentes para não gemer também. Porém, não conseguiu conter o ofego que deixou escapar bem próximo ao ouvido de Naruto; notou que o padrasto arrepiou-se imediatamente e, em seguida, suas mãos foram detidas pelas dele, impedindo-o de prosseguir.
Doushite, Naruto?
— Chega, Yoru — o loiro demandou, ouvindo a consciência que havia lhe apitado. — Tá tarde, melhor ir dormir.
— Mas eu nem ter-...
— Eu também vou dormir. — ele atropelou a fala do enteado, apanhando o controle da televisão que havia largado ao lado e desligando o aparelho à sua frente; passou por ele sem olhá-lo, desejando o “boa noite” gaguejado: — Oy- Oya- Oyasumi.
O adolescente franziu o cenho, crispou o punho e o bateu na costa do sofá, sussurrando:
— Covarde... — ele se desencostou do móvel, ergueu sua camisa e admirou o volume despontado na calça que usava para dormir. — Uau! Nunca os pornôs da net fizeram isso acordar tão rápido, e... caramba... Tá tão duro que está doendo... Espero que ninguém queira usar o banheiro pelos próximos quinze minutos. — ele concluiu, tampando a ereção com ambas as mãos, e seguindo rápido para o banheiro.
No quarto, após trancar a porta, Naruto arrancou a camisa por cima da cabeça, acalorado. Voltou apagar a luz, abaixou a calça de pijama o suficiente para tirar o membro ereto pra fora, lambeu os dedos, deitou de bruços na cama e, deixando o quadril um pouco elevado, afundou o rosto no travesseiro, envolvendo o pênis com a mão fechada e passando a fazer movimentos de subida e descida de maneira frenética. Não queria parar e pensar que havia ficado excitado com a massagem do enteado, só queria se aliviar; deitar a cabeça cansada no travesseiro e acordar no dia seguinte e descobrir que tudo que estava acontecendo na sua vida não passava de um mero pesadelo.

Sasuke havia terminado de jantar com Karin e o marido, que por sinal, cozinhara pratos que nunca havia experimentado. A salada com folhas amargas, tofu e frutas adocicadas, temperadas com licor, pouco sal e ervas finas, tinha um sabor agridoce ao mesmo tempo que picante. O creme de alga, o arroz integral e o fettuccine com molho de iogurte e hortelã, encerraram o cardápio da noite. Eram alimentos totalmente opostos ao que o professor costumava ingerir no seu cotidiano: iguarias de sabores exóticos e suaves, que fizeram a veia em sua fronte latejar ao lembrar-se das sobras gordurentas do Ki-pizza que Naruto insistia em levar para a casa.
Em determinado ponto da refeição, admirou-se também da interação entre Juugo e Karin. Os dois conversavam abertamente sobre tudo. O homem expôs, de forma extremamente calma e educada, os motivos por não concordar com a proposta que a mulher havia feito ao colega de trabalho: não admitia mentiras. Por isso, ele não aceitava o fato de Karin querer sustentar aquela para a filha. Juugo também informou ter ciência de que havia concordado — ao se unir a Karin —, que jamais se meteria nos assuntos da menina; fora um pedido direto dela. Mas agora, sentia-se mal e de punhos atados por não poder ir contra. Mesmo assim, na visão do professor, a comunicação estabelecida entre os dois era algo invejável.
Novamente, Sasuke sentiu aquele ardor corrosivo apossar-se do seu estômago ao perceber-se invejando o relacionamento do casal. Quando os dois se levantaram, pedindo licença para retirarem a mesa, o moreno retomou mentalmente tudo que Karin havia lhe dito pouco antes. Ainda não dera a resposta; não por não ter certeza em negá-la, mas porque a mulher lhe pedira para não fazê-lo enquanto não lhe mostrasse algo.
— O Juugo vai cuidar das louças... — a ruiva informou, voltando à sala de jantar. Então, ela fez um gesto com a mão para que ele a acompanhasse. — Vem. Eu quero te mostrar algo.
— Karin, seja o que for...
— Sasuke, eu te pedi, não foi? — ela o interrompeu. — Não me dê uma negativa ainda. Nem me faça usar daqueles artifícios que lhe falei mais cedo na faculdade.
— Você não é louca em cavar um processo por danos morais. — o convidado rebateu, lembrando-se de que ainda estava com o gravador amarrado ao tornozelo. Mesmo assim, se levantou dando a entender que a seguiria.
Karin apenas sorriu e deixaram a sala de jantar indo em direção ao hall, por onde subiram pela a escada que levava ao segundo piso.
— Você não processaria uma mãe desesperada, não é?
Sasuke não respondeu, pois haviam terminado de subir os degraus. Karin se antecipou até uma porta cor-de-rosa e, após abri-la, o convidou a entrar. Respondendo com um menear de cabeça, o moreno adentrou o ambiente pedindo licença e sua primeira reação foi de surpresa ao deparar-se com o mural na parede sobre a cabeceira da cama que ficava no centro do quarto. Ali havia inúmeras fotos: da menina sozinha, dela com a mãe, com Juugo, com enfermeiras, com outras crianças vestidas com roupas hospitalar em um tipo de sala de recreação. Na maioria das fotos a pequena exibia um sorriso sempre aberto, o que fez Sasuke sentir um aperto no peito ao lembrar-se de Bara, que herdara o sorriso grande do marido. A menina também tinha os cabelos longos como o da sua filha, mas o que lhe surpreendera fora a cor. Midoriko tinha os fios e os olhos negros da mesma forma que os seus próprios. Se não tivesse certeza absoluta que nunca havia tido nada com Karin, poderia desconfiar que fosse mesmo o pai dela.
— Surpreso? ­ — Karin se aproximou dele, após fechar a porta. — Não é por coincidência que ela se parece com você, bastava um cara ter cabelos e olhos ônix para conseguir algo a mais comigo...
Mais uma vez, Sasuke se resguardou da lei do silêncio. Apenas observou a mulher de soslaio; ela tinha os olhos fixos no mural e os braços cruzados no peito, e pareceu ter dito aquilo sem a intenção de chocar, por isso, preferiu não responder ao comentário. Voltou-se para o quadro novamente, notando a quantidade de fotos suas, boa parte delas, de quando ainda era acadêmico, junto com os amigos que compunham seu antigo grupo de estudo. Entre eles, Karin.
— O quê significa isso, afinal, Karin?
A ruiva suspirou e apanhou uma das fotos, estendendo-a para ele e perguntando:
— Se lembra desse dia?
Sasuke segurou o retrato. Era uma foto do grupo de estudo: Suigetsu, Kimimaru, Karin e ele. O primeiro e o mais animado era quem mais atormentava Karin, apelidado por eles somente de Sui. Sasuke sabia que ele tinha se especializado em alguma área de biologia marítima e trabalhava na costa nordeste do Japão. O segundo, Kimimaru, sofrera um acidente um ano após concluírem a faculdade e infelizmente, não sobrevivera. Quanto a Karin, descobrira que a mulher além de sua coordenadora, era casada com um homem chamado Juugo, paisagista e tinha uma filha doente. Sasuke lembrou-se bem daquele dia; estava frio, era o último semestre do curso e haviam concluído suas monografias e estavam comemorando em um bar-restaurante nas proximidades da Toldai (1).
— Foi nesse dia que...
— Sim, foi o dia que você... — ela deu uma pausa, suspirando fundo, e então falou aquilo que parecia feri-la como uma facada no peito. — Foi o dia que você anunciou que iria se casar.
Sasuke fechou os olhos e, em questão de segundos, fora transportado paras aquela época. O bar lotado de estudantes, a música misturando-se com as conversas, os garçons passando pelos espaços entre as mesas com as bandejas carregadas de pedidos, as luzes amareladas nas paredes ao lado das mesas e as janelas de vidros totalmente brancas, embaçadas, devido à neve que caía com força do lado de fora.
“Tenho um anúncio importante para fazer!”, gritou, levantando-se e batendo o hashi no copo de saquê, a voz um pouco amolecida e a face ruborizada da bebida. “Será que podem me ouvir um minuto? Vocês falam demais!”
Quando Sasuke se deparou com os três pares de olhos arregalados sobre si, ele sorriu abertamente, como não costumava sorrir, fazendo até Suigetsu se assustar.
“Fale logo, Sasuke! Esse seu sorriso é horripilante, caramba!”
“Vou ignorar seu comentário idiota, Sui...”, ele respondeu e então começou um pequeno discurso. “Estou terminando com vocês, hoje... nesse instante... uma grande etapa da minha vida que foi a faculdade. Mas... agora, estou prestes a engrenar uma etapa tão importante quanto... E espero realmente que me desejem sorte...” mais uma vez ele parou, admirando as expressões de curiosidade estampadas nas faces dos colegas, enquanto ele deixava o copo e o hashi sobre a mesa, para retirar a luva de couro preto, que não havia retirado ainda, — mesmo que a boa educação mandasse, já que estavam à mesa —, para manter em segredo a surpresa que faria naquele momento. Então, expôs as costas da mão pálida e de dedos longos, onde reluzia uma argola dourada que ornamentava seu anelar direito.
“Sasuke, isso é o que eu estou pensando...?”, Suigetsu perguntou, quase vesgo ao admirar a jóia.
Mantendo o sorriso no rosto, ele assentiu.
“Parabéns...”, Kimimaru que era o mais sério do grupo, foi o primeiro a se pronunciar de maneira formal. “Claro que terá nosso apoio...”
“Obrigado...”, respondeu a ele.
“Cara, é isso mesmo? Tu vai se amarrar? Não creio que aquele loiro cabeça de vento teve essa coragem?”
“Sui... Eu já estou ‘amarrado’ por ele faz tempo e o Naruto tem muito mais coragem que nós quatro juntos...”
“Palavras de um futuro marido!” Suigetsu garantiu, sorrindo e levantando-se para abraçá-lo. “Quero ser padrinho!”
“Não, Sui! Nada de abraços! Me solta... Para de apertar... Você sabe que não gosto disso!”
“Chatoooo...” cantarolou o rapaz de cabelos prateados, fazendo as risadas na mesa se espalharem.
Karin fora a única que se manteve séria e fora a última a se pronunciar também. E, antes que o grupo a questionasse, ela se levantou com o copo em punho, sugerindo em tom elevado:
“Vamos brindar a... modernidade!”, exclamou. “A mudança de tempos! Que permite a união estável de... dois homens... E a... a...”
Karin queria pronunciar ‘e a decepção das mulheres’, mas não conseguiu; o engasgo e o nó que se formaram em sua garganta não permitiram; as lágrimas que cintilavam nas margens dos olhos vermelhos, escorreram pela face já ruborizada da bebida.
Suigetsu, prevendo o pior e tentando impedir que a amiga transformasse o último encontro deles de faculdade em um drama de novela, pegou seu copo e concluiu:
“Ao amor!”
— Foi nessa época que eu engravidei... — a voz da Karin atual, atravessou os pensamentos de Sasuke. — Eu saí daquele bar tropeçando de bêbada. O Sui tentou conversar comigo, mas eu estava tão desesperada que não dava ouvidos. Mesmo assim, me lembro claramente o que ele me disse: “Você não pode competir com isso. Se conforme. Levante a cabeça. Você ainda vai encontrar um cara que lhe ame.” Mas eu não conseguia, eu não queria me conformar que estava perdendo um homem como você para... outro homem... Fui para casa, troquei de roupa e fui para noite. Passei meses fazendo isso, indo para balada enchendo a cara, dormindo com caras que nem sabia o nome... Quando a consciência bateu... Eu já estava me sentindo enjoada, estranha e então, o choque.
— Você tem que se considerar sortuda por não ter pegado uma doença.
— No estado de depressão que eu me encontrava, eu realmente não estava me importando com isso, Sasuke.
— Então, foi por isso que você sumiu por algum tempo e nem foi ao meu casamento?
— Isso mesmo... — ela confirmou, puxando o elástico que prendia os cabelos e soltando-os. — Eu não queria que ninguém soubesse. Nem o Sui soube; só o Kimimaru porque ele foi me procurar, para saber por que eu não havia ido à formatura, porque não ligava mais para eles e, por fim, porque não havia ido ao seu casamento. Foi aí que mostrei a ele a Midoriko; foi através dele que conheci o Juugo, eles são primos. Depois que o Kimimaru morreu, Juugo e eu ficamos mais próximos... Precisava de alguém para me ajudar a me reconhecer como mãe... Principalmente, depois que descobri a doença da Midoriko. Ela nasceu com Anemia de Fanconi, é uma doença rara caracterizada por uma deficiência na medula óssea que impede a produção de células sanguíneas normais. E, mesmo com o tratamento corria-se o risco de desenvolver a Leucemia e foi o que aconteceu. Como eu não tinha nem ideia de quem era o pai dela, eu mostrava essa foto... dizendo: “Olha o papai, Midori-chan... Ele quer que você fique bem...”. Ela se apegou a essa imagem. Ela cresceu e eu já não conseguia mais desmentir. Contava à ela que você foi o grande amor da minha vida, mas que não ficamos juntos, porque você havia sido roubado de mim. Sabe, tipo um conto de fadas? Mas eu não imaginava que ela iria se apaixonar por você como se apaixonou...
Sasuke desviou a atenção do rosto agora contraído da mulher que estava se esforçando pra não chorar e passeou novamente os olhos pelas fotos, parando em uma imagem da menina no leito do hospital, agarrada com um ursinho e exibindo um grande sorriso com uma janelinha.
— Ela só fala em conhecê-lo... — Karin continuou. — “Meu pai, mamãe... Quero conhecer meu pai...”
— Onde ela está?
— Internada em um hospital para crianças com câncer.
— Podemos vê-la?
— Agora?
— Sim.
— Seria um pouco complicado para você, mas eu sou a mãe, tenho livre acesso.
— Então, vamos. — o moreno girou nos calcanhares e saiu do quarto.
— Espere, Sasuke! Eu preciso pelo menos apanhar minha bolsa e avisar ao Juugo! — ela saiu correndo atrás dele.
...
Pelo vidro que fazia parte da divisória do quarto de Midori, Sasuke visualizava a menina no leito e a ruiva de pé ao lado dela, alisando a pequena mão que apanhara entre as suas. O professor também conseguia visualizar o seu próprio rosto em choque refletido no vidro. A menina que nas fotos exibia sempre um sorriso largo, agora parecia uma boneca de cera, de pele pálida e com as faixas envolvendo a cabeça no lugar que antes fora uma cabeleira abundante; as mãos pequenas e frágeis que agora recebiam o carinho suave da mãe estavam flageladas devido aos conectores que levavam medicamento direto para as veias. Sasuke sentiu uma revolta crescente ganhando espaço dentro de si. Era injusto. Injusto que alguém tão jovem e que vivera tão pouco, estivesse ali, confinada e com o destino traçado.
— Não quer entrar para ver sua filha de perto, pai?
O homem olhou com espanto a enfermeira que havia parado ao seu lado e que lhe sorria amigavelmente. Guiado por aquele sentimento intenso que o invadia — de fazer algo por aquela criança —, assentiu com um menear firme de cabeça, sem se preocupar em corrigi-la sobre tê-lo chamado de ‘pai’ da menina. A resposta pareceu ter alegrado a jovem que aumentou o sorriso simpático no rosto e, em seguida, abriu a porta do quarto da UTI pedindo para que ele entrasse.
— Karin-san?
— Kami-chan? — Karin deixou a mão da filha e seus olhos paralisaram-se no homem que acompanhava a enfermeira. — Sasuke?
— Estava no meu intervalo e a Nanami me avisou que a senhora estava aqui com visita. E quando ela me falou que era um homem moreno e bonito, eu quase dei um pulo de euforia. — ela explicou. — Ele é o pai da Midori-chan, não é?
Karin sentiu o coração desenfrear no peito. Não sabia se desfazia o engano naquele exato momento, ou esperava a negativa de Sasuke. Porém, aquele homem, o qual chegara a sentir ódio por ter sido o causador de tanta turbulência em sua vida, não respondera a pergunta da enfermeira. Ele apenas passara por ela, mantendo os olhos que refletiam uma estranha ternura, fixados na pequena no leito. Sobressaltou-se ainda mais ao vê-lo estender a mão e tocar o rosto dela, fazendo uma leve carícia.
— Ela realmente... não se parece em nada com você, Karin.
O comentário tão natural fez as lágrimas descerem com uma facilidade assustadora pelo rosto da coordenadora que, desta vez, teve a companhia da enfermeira que também se emocionou.
A surpresa maior aconteceu em seguida, pois, mesmo que Sasuke tivesse tocado delicadamente o rosto da criança, ela despertou, abrindo os olhos negros preguiçosamente e perguntando com uma voz fraca, porém de timbre grave e rouco.
— É você, não é, papai?
O moreno ponderou por um segundo, então respondeu:
— Oi, Midoriko.
— Estava sonhando com você, otou-chan. No sonho a gente passeava no parque e eu corria para brincar com os meus irmãozinhos.
— Mas você não tem irmãos, Midori-chan. — a enfermeira falou no impulso, e só então ela se deu conta do anel no dedo anelar do homem. A mãe da menina só havia lhe dito que o pai era ausente, mas não falara se ele tinha outra família ou não. — Quero dizer, eu acho. Afinal, tem?
Sasuke olhou para trás, sobre seu ombro, e fitou as duas mulheres. Ambas com os rostos molhado pelas lágrimas e sustentando esperanças que ele desconhecia. Voltou-se para a criança, que o observava com curiosidade, mesmo naquele estado tão enfraquecido. Agora compreendia o sofrimento de Karin e o fato dela não ter tido coragem de quebrar as expectativas da menina sobre o pai, desmentindo o engano que fizera. Midoriko tinha um rosto radiante, os olhos que não paravam de se movimentar de um lado a outro, pareciam refletir a hiperatividade infantil que o corpo fragilizado não conseguia exasperar. Pressentia grandes problemas, mas não foi capaz de negar.
— Tem... — a resposta afirmativa fez um sorriso iluminar a face da criança. — São três irmãos. Um menino adolescente e um casal de gêmeos, de seis anos de idade.
— Três? — ela quis confirmar, impressionada. — Mamãe, eu tenho três irmãos? Você ouviu, mamãe? Mamãe...? Por que você tá chorando tanto?
— Desculpe... — ela pediu, esfregando o rosto. — Obrigada, Sasuke. Você não sabe o quanto estou grata...
— É melhor tomar um pouco de água e ar puro, Karin-san. — a enfermeira propôs, sobrepondo os ombros dela com seu braço e direcionando-a para saída. — Não vai fazer bem para Midori-chan vê-la assim. Fique à vontade, pai. Já voltamos.
Assim que os dois ficaram sozinhos, a menina apertou a mão do homem que segurava a sua, fazendo-o olhá-la.
— Não se preocupe. — ela falou. — A mamãe vai ficar bem, tá?
Sasuke não conseguiu evitar o sorriso que contagiou seu rosto.
— Você é mesmo uma graça.
— Mesmo sem cabelo? — a menina perguntou, tocando a faixa que envolvia sua cabeça.
— Cabelo? O que é isso perto de um sorriso grande e cheio de dentes, hein?
Foi a primeira vez que Sasuke a viu abrir o sorriso que vira nas fotos e, mesmo sem querer, já havia aceitado a proposta de Karin. Não tinha como resistir e não era somente pelo estado debilitado da menina, e sim, porque Midoriko era detentora da única arma capaz de fazê-lo se apaixonar e sucumbir plenamente: o sorriso escancarado daqueles que mais amava.
...
Dado o limite de tempo de visita, Sasuke se despediu da ‘filha’, dizendo que voltaria para visitá-la no dia seguinte e prometeu trazer o álbum dos gêmeos para ela ver. Depois de Karin se acalmar, e também se despedir, ambos foram guiados pela enfermeira até o salão principal, sem perceberem que eram observados do balcão principal na recepção.
— O que foi, sensei? — a jovem no balcão perguntou ao ver a médica de cabelos grisalhos, com os olhos estreitados na direção do casal que conversavam distraídos com uma enfermeira no saguão.
— Eu acho que estou vendo coisas... — ela comentou, esfregando os olhos e voltando a olhar na mesma direção. — Será que é devido ao período de abstinência do meu tratamento, Nanami?
A moça ergueu os ombros, confusa.
— Eu não entendi, a senhora está se referindo aquele casal?
— Casal? — ela inquiriu, claramente assustada. — Eles são um casal?
— Hm, bem, eu não sei ao certo. — a jovem abriu o arquivo onde registrava as entradas e saídas de visitantes e conferiu os nomes: — Nakajima Karin e Uzumaki Sasuke. Os sobrenomes são diferentes, mas quando eu avisei para Kami-chan que havia um moço moreno e bonito acompanhado da senhora Karin, ela respondeu eufórica: “Só pode ser o pai da Midoriko”. A Nakajima Midoriko é aquela menina que vive falando em conhecer o pai e que foi transferida essa semana para Unidade de Terapia Intensiva.
— Então, aquele ali é o ‘pai’?
— Pelo que tudo indica, é sim. A senhora o conhece?
— É... Talvez... — a mulher respondeu, observando os dois cruzarem lado a lado a porta automática de saída. “Eu não posso acreditar que o senhor ‘certinho’ tem uma filha fora do casamento... Eu preciso investigar isso melhor.”, ela pensou, descruzando os braços, e chamando a enfermeira que os acompanhou até o saguão e que agora fazia o caminho de volta para sua sala.
— Ei, Kami-chan. Espere um minuto, preciso dar uma palavrinha com você.
A moça estacou, esperando que a médica, que também era professora dos residentes do hospital, se aproximasse.
— Posso ajudá-la, Tsunade-sensei?
— Sim... — ela respondeu, um tanto ansiosa. — Creio que pode.
Continua...
1- Toldai – Universidade de Tóquio.
Ja: até mais, ou tchau / Chooto matte: espere um minuto ou um pouco / Arigatô Gosaimassu: Muito obrigado (a)/ senpai: veterano(a)/ sensei: professor (termo também usado para médicos) /
Notas finais do capítulo
Como vocês perceberam, a história não vai terminar no capítulo 6, como eu havia prometido, ainda tem muita coisa pra acontecer e ela vai se estender, só não tenho ainda previsão de quantos capítulos a mais. Espero que essa seja uma boa notícia. :D

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