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[Naruto] A Crise dos Sete - Capítulo 15, escrita por Andréia Kennen

Capítulos: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 Extra 1 Extra 2 Epílogo
Autor: Andréia Kennen
Gênero: Lemon, Romance, Universo Alternativo, Yaoi
Status: completa
Classificação: 18 anos
Resumo: Naruto e Sasuke, mesmo sendo um casal pouco convencional, sempre se esforçaram para viverem bem e como uma família comum. Contudo, o mal que assola as famílias comuns (a temerosa "Crise dos sete anos de casados")está rondando esse lar feliz. Será que eles irão conseguir vencer todos os obstáculos e manter o casamento?
Confiram![NaruSasu. +18. Presente de níver pra minha Blond-Hikari-nee-chan.]

A Crise dos Sete
Revisado por Blanxe
Capítulo XV


Naruto se esticou na cama de casal ao despertar e sentiu dois sobrepesos rentes ao seu corpo. Não foi preciso acionar a luz para notar do que se tratava, pois a claridade que já adentrava pela janela fora suficiente para visualizar o casal de filhos deitados na cama um de cada lado, e com os bracinhos esticados em torno da sua cintura, emendando-se em um abraço. Aquilo estava virando rotina.

Por não ter Sasuke em casa, os gêmeos estavam pegando o mau-hábito de migrarem para sua cama durante a madrugada, com a desculpa de que não conseguiam pegar no sono sem as histórias de dormir do outro pai.

— Bara-chan, Hi-chan, acordem. Hora da escola. — chamou os filhos e se levantou, fazendo os dois pequenos se desvencilhar do agarre em sua cintura.

Naruto até sentia vontade de repreendê-los, mas ficava com pena, pois quando fizera os dois voltarem para o quarto deles da primeira vez que vieram, a dupla chorou quase a noite toda.

Cambaleando, o loiro entrou no banheiro anexo ao quarto e, após as necessidades, passou ao seu ritual diário de higienização, começando por escovar os dentes.

— Hi-chan, vamos! Banheiro, escovar os dentes, lavar o rosto! — Bara, que havia despertado totalmente, enumerava animada enquanto sacudia o irmão, que havia se encolhido depois que o pai saiu.

Ao ver que Hikari se espreguiçava, Bara pulou da cama, mas, antes de seguir para o outro banheiro da casa, foi espiar o pai sorrateiramente pela porta entreaberta do lavabo do quarto.

Bara viu o pai passando aquela espuma estranha no rosto e curiosa, adentrou o local e ficou assistindo, aquilo que, na visão dela, parecia algo interessante; algo que ainda não tinha visto e não sabia ser necessário fazer.

Quando o mais velho colocou o pote de creme na pia, ela rapidamente o apanhou e, sem pensar duas vezes, enfiou a mãozinha na pasta branca, trouxe consigo um bocado e começou a espalhá-lo em seu rosto. Depois de fazer exatamente como o pai fizera, observou atentamente como era o próximo passo, notando que agora o pai retirava a espuma com algo brilhante e que reluzia como os utensílios domésticos da cozinha. O pai limpava o objeto com água da torneira e voltava a deslizá-lo pelo rosto, repetindo o mesmo movimento até sair toda a espuma.

Assim que Naruto terminou de se barbear, viu uma mãozinha ser estendida para ele.

— Empresta, otou-chan. Minha vez.

— Ah, cla-...

Mas um estalo na mente de Naruto o fez parar a poucos centímetros de entregar a lâmina de barbear para a mãozinha que lhe era estendida e, com o cenho franzido, voltou-se para a filha com a intenção de repreendê-la, porém, sua reação ao invés de ser repreensiva, foi uma grande gargalhada.

Hikari, que ainda se remexia na cama, levantou-se em um salto ao ouvir o pai rindo exageradamente. O menino entrou no banheiro e se assustou ao ver Bara com o rosto todo coberto por um creme branco.

— Doushite, otou-san? O que é isso, Bara?

A menina fez um bico e cruzou os bracinhos no peito, reclamando do pai:

— Parece que é bobo...

— Ei, pirralha! — Naruto a repreendeu, dando-lhe um peteleco na cabeça. — Não fale assim com seu pai.

Fazendo uma massagem na região que fora atingida, e a qual não sentira tanta dor já que o mais velho não impusera força, a pequena pediu, ainda emburrada:

— Então, explica, oras!

Naruto fechou a lâmina e guardou dentro do armário do espelho, na parte mais alta e bem longe das mãozinhas curiosas dos seus pequenos.

— Primeiro: isso aqui é uma lâmina, algo cortante, que machuca. Igual às facas da cozinha, por isso, os dois não tem permissão para pegar, entenderam? — ambos assentiram ao mesmo tempo, com os olhos claros fixos no mais velho. — Segundo, hime. — ele apanhou a filha e a sentou na tampa do vaso que estava abaixada e revestida com uma capa de tecido, então pegou sua toalha e passou a retirar o creme de barbear no rosto da menina. — Meninas não precisam se barbear.

— Ahh?!— ela exclamou, chateada com a notícia, afastando a mão do pai e apanhando a toalha pra ela mesma terminar de limpar o rosto sozinha. ­— Por que não, otou-chan? Quer dizer que o Hi-chan vai poder?

Naruto assentiu.

— Sim. Mas isso ainda vai demorar, quando os pêlos no rosto dele começarem a nascer. Por enquanto, ele também não precisa.

O garoto coçou a cabeça.

— Hm... Ainda bem. Porque isso parece ser chato e perigoso.

Os olhinhos de Bara se encheram de lágrimas.

— Mas eu queria...

O loiro mais velho revirou os olhos e se ergueu.

— Você também vai ter coisas para fazer que só as meninas fazem.

— Como o quê, otou-chan?

— Quando chegar a hora, a Ino e a sua avó irão te explicar.

— A Ino-nee-chan já falou algumas coisas... Mas eu não quero fazer coisas doloridas e chatas...

Naruto arregalou os olhos ao ouvir aquela informação a qual processou ligeiro e de maneira destorcida.

— Q-q-quê?! Que coisas chatas e doloridas são essas, Bara?

— Mas a Ino-nee-chan disse que só seria dolorido no começo, depois a gente se acostuma a fazer e não sente mais tanta dor.

— O quê aquela louca anda te falando, Bara?! Eu... mato... ela...

Naruto saiu esbaforido do banheiro, atrás do seu celular.

Depois de algum tempo discutindo com a mãe biológica dos filhos, ele conseguiu entender que a conversa da loira com Bara fora sobre depilação feminina e não exatamente sobre o que ele havia pensado.

“Como pode ter uma mente tão ero, hein, baka? Você achou mesmo que eu já estava falando sobre sexo com a Bara? Ainda é cedo pra falar dessas coisas com ela. Mas é bom que você comece a pensar sobre o assunto. Afinal, o tempo passa em um piscar de olhos e logo-logo Bara estará uma adolescente linda, deslumbrante e rodeada de olhares famintos sobre ela. Ho, ho, ho!”.

Uma veia pulsou latente na têmpora de Naruto ao lembrar-se daquele trecho da conversa por telefone com Ino. Os pequenos aguardavam impacientes à mesa, enquanto preparava o café.

— Estou com fome, otou-san...

— Vamos nos atrasar para escola, otou-chan!

Só de pensar na filha sendo assediada, Naruto sentiu seu estômago contrair e, mais uma vez, não deixou de pensar que Sasuke saberia lidar melhor com uma situação como aquela.

— Bara-chan?! — Naruto se voltou para a mesa e bateu as mãos sobre o móvel, chamando atenção do olhar apreensivo da menina, que achou que o mais velho ainda estava bravo por causa do mal-entendido de mais cedo.

— Hai?

— Prometa pro seu otou-chan que só vai querer namorar os meninos quando tiver trinta anos?!

A menina abriu a boca surpresa com o pedido do pai. Apesar de imaginar que trinta anos demorariam muito tempo para passar, já que, apenas um ano que esperava para o seu aniversário parecia uma eternidade. E, em todo aquele seu tempo de vida, só sabia que tivera seis aniversários, dos quais nem se lembraria dos primeiros se não fossem os álbuns de fotografias. Bara ainda não tinha interesse nos meninos, mas de acordo com o que a mãe lhe dissera, um dia teria. Apesar de que apenas um menino lhe interessava no momento: o pai Sasuke. Pensou por mais algum tempo, achando que era algo difícil de ser prometido na pressão, e ficou alisando o queixo com a mão e o cenho franzido, enquanto Naruto esperava a resposta. Depois de algum tempo, ela resolveu tirar outra dúvida, antes de fazer aquela promessa.

— Otou-chan, tenho uma dúvida.

— Hã?

— E com as meninas?

— Como assim? Com as meninas o quê, Bara?

— Se com os meninos vou poder namorar com trinta anos, com quantos anos poderei namorar as meninas? Sabe, porque vai depender dessa resposta pra fecharmos um acordo. Se não, vou pedir mais algum tempo pra pensar.

—...

...

Sasuke estava tomando café da manhã no refeitório da universidade, acompanhado de Mizuki, professora da área psicologia, a primeira indicação de Karin para o combinado deles de que ele tentaria se distrair em novos encontros.

A ideia de sua superior, inicialmente, lhe parecera absurda. Mas havia de confessar que era uma possibilidade de sair daquela neurose obsessiva que ainda sentia pelo marido. Sim, era exatamente assim que Sasuke ainda procurava nomear Naruto: como sendo seu marido. Tratá-lo como “ex” era dar-se por vencido; levantar bandeira branca, afirmar que o havia perdido para sempre. E isso ainda estava fora de cogitação.

Porém, havia decidido dar uma chance a sugestão de Karin: de procurar se entreter em alguns encontros aleatórios. Mas só o faria por acreditar que essa seria uma maneira de chamar atenção de Naruto, fazê-lo sentir ciúmes, perceber que poderia perdê-lo para alguém.

Mesmo assim, Sasuke ainda pesara muito a ideia antes de aceitá-la e passou horas na casa da Karin estudando as futuras pretendentes. Acabaram montando uma pequena lista, onde Arisa Mizuki era a primeira. A jovem era psicóloga e especialista na Área de Recrutamento e Seleção. Por isso, além de trabalhar recrutando funcionários em uma multinacional, dava aula no curso de Psicologia da Toudai.

Mas Sasuke acabou se arrependendo da ideia, pois enquanto conversavam, naquele primeiro contato, sentiu-se em uma entrevista de emprego e, de certa forma, ficou aliviado quando o celular tocou e viu que era Naruto. Ficou feliz e ao mesmo tempo receoso de que fosse algo com os gêmeos, por esse motivo, pediu licença para a professora e saiu da mesa, distanciando apenas alguns metros para atender a chamada. Fora exatamente como imaginara, só foi atender e Naruto disparara ao narrar o episódio com Bara.

— O quê você quer que eu faça? — perguntou quando o loiro finalmente fez uma pausa, querendo encontrar uma brecha para que pudesse mencionar que estava acompanhado. — Você sabe muito bem o quanto a Bara é esperta. Para que inventar de abordar esses assuntos com ela?

— Mas ela ainda é tão criança, Sasuke...

O moreno suspirou, deslizando uma das mãos nos cabelos e jogando-os para trás, não percebendo o deslumbramento que causou na mulher que o aguardava. Mas, internamente, sentiu algo agradável aquecer seu interior. Desde a pronúncia suave que seu nome teve na boca de Naruto até a confirmação de que era aquilo que não queria perder.

Não queria perder o contato com seus filhos, deixar de vê-los crescer. Já havia perdido de acompanhar o crescimento de Yoru, não queria que aquilo se repetisse. Não gostaria de estar ausente nas transições de fase dos gêmeos. Momentos como aquele que somente Naruto vivera seriam raros, únicos e jamais voltariam.

Desligou ao prometer que passaria depois do serviço para vê-los e esqueceu-se de mencionar que estava acompanhado. Quando se voltou para a mesa, notou que Mizuki não estava mais lá, mas ao aproximar-se, percebeu que ela havia deixado um recado anotado em um pedaço de papel.

— “Bateu o sino para a minha aula, tive que ir. Conversamos outra hora. Mas acho que deveria tentar voltar pra sua esposa, seus olhos brilhavam enquanto falava com ela no telefone. Mizuki.” — o moreno suspirou. — Que ótimo... Vou ouvir um monte da Karin.

...

— Sasuke, você não está se esforçando! — ouviu a alegação de Karin tirar-lhe a atenção das fotos que passava para o computador. — A lista está diminuindo de maneira assustadora, e só se passaram duas semanas! Você não está se esforçando nesses encontros.

— Não me culpe por essas garotas não quererem algo com um homem casado.

— Oh, céus, Sasuke! Esse é o seu problema. É lógico que a maioria das mulheres não quer se envolver com homens casados. O problema é que você já foi casado. Prestou atenção no verbo? “Já foi”, Sasuke, é passado. Você não é mais casado. Enquanto não colocar isso na sua cabeça-dura de vez, não vai conseguir deixar que as pretendentes se apro-... Sasuke? Você está me ouvindo?!

— Hm?

Blaft!

Karin fechou o notebook, prendendo os dedos do subordinado nas teclas.

— Itai! — ele reclamou, puxando os dedos prensados. — Você ficou maluca?!

— Não. Estou tentando ajudá-lo e você nem está se dando ao luxo de prestar atenção no que estou falando. Mas pode deixar... Eu já me decidi. Hoje você vai sair com alguém que não está na lista.

— Hoje?

— Sim. Hoje. Afinal, é sexta-feira, o dia perfeito para os solteiros saírem em encontros.

— Mas amanhã eu vou ficar com as crianças.

— Você pode ir apanhá-los um pouco mais tarde.

— Mas e a visita para Midoriko?

— Faremos assim: eu vou buscar seus filhos e os levo para Hospital. Mais tarde você nos encontra lá.

— Karin...

— Sem desculpas, Sasuke. Agora vai, levanta a bunda daí e vai pra sua casa se arrumar. Depois de estar perfeito e perfumado, você irá a um endereço que vou te passar. — ela levantou-se, foi até a mesinha de telefone no canto da sua sala e arrancou a folha de cima do bloco de anotações. Aproximou-se de Sasuke, que já estava de pé e com o computador portátil debaixo do braço, e estendeu pra ele a anotação que fizera mais cedo.

Sasuke apanhou o pedaço de papel e observou o recado desconfiado. Só havia um endereço e o horário, mais nenhuma informação.

— O que é isso?

— Não é óbvio? Um pedaço de papel com um endereço.

— Sim. Eu vi. Estou perguntando o que significa? Eu vou me encontrar com as paredes? Não tem um nome aqui. Nem um telefone.

— Vai ser um encontro as escuras. Apenas vá.

— Eu não gosto dessas coisas, Karin. Isso não está me cheirando...

— Cale-se. — ela o interrompeu, virando-o e o empurrando na direção da saída. — Você disse que estava disposto a tentar. Então, é só isso que irá fazer: tentar.

— Não é o combinado, Karin. Não gosto de surpresas.

A porta se abriu e Sasuke calou-se ao se deparar com o companheiro de Karin, que estava chegando com sacolas de supermercado.

— Já está de saída? — o homem observou. — Eu vou preparar o jantar.

— Não precisa se preocupar com ele, Juugo. Sasuke vai jantar fora.

O marido de Karin apenas assentiu, deixando o calçado na porta e passando pelos dois, indo na direção da cozinha.

Karin se despediu de Sasuke.

— Qualquer coisa, me ligue. Boa sorte.

Sasuke suspirou, vencido. Calçou seus sapatos e saiu da casa sem dizer mais nada.

Assim que a ruiva se viu sozinha no hall de entrada suspirou profundamente e foi flagrada pelo companheiro que a analisava, após deixar as sacolas de compras sobre a pia da cozinha e retornar.

— O que está aprontando?

Karin voltou-se para Juugo, que estava encostado no beiral da porta, e abriu um sorriso largo para o companheiro.

— Encurralando o Sasuke.

O homem ficou pensativo por um instante e logo em seguida quis saber, curioso.

— Como?

— Sasuke é esperto, Juugo. Eu não deveria tê-lo subestimado desde o princípio. Esse está sendo o problema da falha nos encontros. Sasuke está se esquivando das pretendentes, exatamente por conhecer previamente o perfil das garotas com quem ele está saindo. Em um encontro as escuras ele não terá tempo de ser armar e, por isso, poderá dar uma chance para essa pessoa.

— Talvez o problema seja ele ainda amar o ex. — Juugo foi direto.

A ruiva arregalou os olhos em surpresa. Juugo era quieto, mas quando falava, sabia ir direto ao ponto.

— É. Também é isso. — ela concordou, tornando sua feição mais terna e se aproximando do companheiro que estava detido na passagem que levava da sala para a cozinha. — Mas... quando o sentimento da pessoa amada não é recíproco, precisamos seguir em frente... — ela disse, tocando o rosto dele ao pensar nela mesmo e em como não se arrependia de ter conhecido Juugo, mesmo que sua obsessão um dia tivesse sido o homem que agora ela estava tentando ajudar. — Né?

Juugo sorriu ao entender o que a companheira queria dizer e retirou a mão dela em sua face, entrelaçando seus dedos nos dela, para em seguida, aproximar-se dos lábios de Karin e a beijar.

...

Sasuke ainda estava receoso quando adentrou o prédio de alto-luxo em uma das áreas mais nobres da cidade. Entrou no elevador e seguiu para décimo oitavo andar; pensativo. Sabia que Karin era esperta o suficiente para ter percebido que estava se esquivando das pretendentes que ela arrumara. Por isso, não se sentia nenhum pouco seguro naquele encontro que ela havia marcado às escuras.

A porta do elevador se abriu e o professor seguiu pelo corredor de chão branco e espelhado, se deteve na porta de número 1201 e hesitante, apertou a campainha.

Era claro que, sem saber nada da sua acompanhante daquela noite, não poderia se preparar antecipadamente e encontrar uma forma de despistá-la. Mesmo assim, precisava focar-se e conseguiria. O local em que a mulher morava já dizia alguma coisa: ela é bem rica. Agora precisava saber que tipo de rica. Se fosse do estilo independente como Karin, saberia como se sair tendo como base a própria coordenadora. Da mesma forma que saberia como lidar caso ela fosse parecida com a Sakura, que conseguiu estabilidade financeira na vida com o que conseguiu arrancar dos ex-maridos, nos casamentos passados.

Mas quando a porta se abriu e aquela mulher surgiu à sua frente. Todo o fio de pensamento de Sasuke se esvaiu para um espaço longínquo.

Ruivos. Longos e ondulados cabelos ruivos que caíam em um dos olhos que tinham um exótico tom de verde. Dava para notar parte dos fios rubros presos de forma desregulada no alto, deixando assim, alguns fios escapando de propósito. O batom vermelho brilhava nos lábios carnudos na mesma forma que o esmalte nas unhas; o quimono azul e de estampa florida, estava totalmente desalinhado, deixando visível através das aberturas da roupa, parte dos seios volumosos e das coxas. Era uma mulher madura, sexy e conservada. Talvez, mais velha que ele alguns anos.

Sem ao menos cumprimentá-lo ou esperar que se apresentasse a sua anfitriã puxou-lhe para dentro do apartamento pelo pulso. Enquanto a ruiva fechava a porta, na qual ela encostou-se após trancá-la, Sasuke retirava os sapatos. Engoliu em seco e, ao erguer-se para fitá-la, ficou mais apreensivo, pois a forma como ela o olhava lhe remetia a uma predadora, prestes a avançar sobre sua presa.

­— A Karin não mentiu, você é muito bonito, Sasuke.

— Bem...

O professor coçou a cabeça. O que ele poderia responder quando se está sendo chamado pelo primeiro nome sem ao menos ter se apresentado?

Sentiu um cheiro forte no lugar, na verdade, eram vários aromas que se misturavam e o deixavam tonto: perfume, sabonete, xampu, incenso, cigarro. Notou uma mesinha no centro da sala onde estava o controle remoto, uma travessa de petiscos, o incenso que exalava aquele cheiro forte para o ambiente, um cinzeiro com vários tocos de cigarros, incluindo um semi-aceso — de onde ainda exalava fumaça —, uma garrafa de uísque, e um copo com gelo. A mulher nem parecia que o estava esperando para jantar, ela certamente havia tomado banho recentemente, colocado uma roupa “mais a vontade” e estava beliscando algo, enquanto assistia.

Sentiu-se até constrangido por estar tão formal, até vestira um terno.

— Seu nome é...?

— Mei. — ela respondeu prontamente, um único nome, com certeza o primeiro. A mulher era bem informal, desprendida de etiquetas e lhe parecera ter algo bem determinado em mente sobre ele.

Sasuke a viu desencostar-se da porta com a mão no cinto do quimono, o qual passou a desenrolar da cintura. Ver aquilo fez a respiração do moreno se prender no peito e não foi somente impressão, enquanto ela caminhava na sua direção, a roupa deslizou pelos ombros até atingir o chão. Segundos depois de entrar na casa de uma desconhecida, Sasuke estava diante da mesma — uma bela ruiva e de curvas estonteantes — totalmente nua.

Mei apanhou a mão do seu convidado e a direcionou para um dos seus seios, concluindo:

— Espero que seja prazeroso conhecê-lo, Sasuke.

...

Naruto entrou na cozinha e, por um mero instante, seu cansaço o fez imaginar que era Sasuke quem estava cuidando da pia de louças, mas não demorou seu equívoco ser desfeito, a aparência de Saori era totalmente oposta ao do ex-marido. Não só a cor dos cabelos, mas o corpo e as roupas. Sasori gostava de vestir shorts curtos, e tinha certeza de que nunca veria Sasuke com um daqueles.

— Pode deixar isso aí, Sasori-chan. Sem as crianças aqui, amanhã eu consigo dar conta dessa bagunça.

— Mas não acho justo, Naruto-san. Acho que no dia que seus filhos não estão aqui, você deveria descansar ou relaxar um pouco. Fora que, já comecei, então, vou terminar. Se quiser me ajudar secando tudo. — ele sugeriu.

Naruto suspirou, mas decidiu concordar. Sasori estava sendo de grande ajuda desde que Sasuke se fora. Apanhou o pano de prato e posicionou-se ao lado do garoto, apanhando as louças limpas que ele colocava no escorredor, secando-as e guardando-as nos compartimentos direcionados a cada utensílio no armário.

— A Bara-chan e o Hi-chan dormiram?

— Demoraram um pouco, mas dormiram. É sempre assim, na véspera que antecede a visita do Sasuke, eles ficam tão ansiosos que demoram a pegar no sono.

— Hm. Eu já notei.

— Você é um bom dono de casa, né, Sasori-chan? — o loiro mudou de assunto. Não queria falar no marido.

— É, né? ­— ele respondeu, ficando levemente corado. — O papai e a mamãe morreram cedo. Então, tive que aprender a me virar.

Naruto parou de repente e encarou o garoto, que logo notou que estava sendo observado.

— Doushite? Falei algo que não devia?

— Não sabia que você era órfão.

— Pois é... Não é algo que a gente fala logo de cara. Mas eu sou. Perdi meus pais aos cinco anos e, depois disso, sempre vivi um pouco com os meus tios e um pouco com a minha avó. Mas não me olhe como se isso fosse a coisa mais anormal do mundo, Naruto-san. Eu vou me sentir mal.

— Não é isso... É que... Eu também não tive pais. Fui adotado. Por isso que sempre fui meio obcecado com essa ideia de formar uma família.

Sasori não soube bem o que responder. Era um ponto em comum entre eles, e aquilo fez seu coração disparar, mais do que estava acelerado por ter Naruto tão perto. Ainda não sabia exatamente o que era aquilo que estava sentindo; desde que vira o loiro pela primeira vez, sentiu-se atraído por ele. Mas, de início, achou que era algo ligado ao externo, algo como desejo sexual.

Mas agora que o conhecia mais além do superficial; que vira como Naruto era um homem prestativo, um pai carinhoso com seus filhos e o quanto ele era alegre e gentil, — mesmo passando por tantos problemas —, aquele sentimento de atração física começou a mudar e ganhar uma nova forma. Uma forma a qual ainda não sabia ao certo identificar, mas que era intensa e fazia seu interior todo se aquecer só por estar na presença dele.

— Sasori-chan? — Naruto chamou, tocando no ombro do garoto.

Aquele toque no ombro, fora suficiente para Sasori desestabilizar e sobressaltar, derrubando o copo que enxaguava dentro da pia, quebrando-o.

— Que descuido o meu! Desculpe-me? Desculpe-me, Naruto-san? — ele pedia apavorado, enquanto tentava catar os cacos de vidros, acabando por se cortar no processo. — Ai!

— Calma, Sasori-chan! O que está fazendo? Vai se machucar. Largue isso aí. — Naruto fechou a torneira e enrolou o pano de prato no ferimento que escorria sangue.

— Gomen? Gomen? Gomen?

— Não precisa se desculpar tanto, eu sou o culpado por ter te assus-...

— Eu gosto de você! — Sasori gritou de repente, interrompendo a fala de Naruto.

Naruto arregalou os olhos e franziu as sobrancelhas, notando que o rosto de Sasori estava completamente vermelho, os lábios trêmulos e os olhos lacrimejados. Soltou as mãos dele devagar e elevando a mão na nuca, a qual coçou e sorriu, totalmente sem graça.

— O quê disse, Sasori-chan?

— Que gosto de você, Naruto-san.

— Isso...

— Eu sei que ainda gosta do seu marido. Sei que ainda está em processo de separação. Sei que ainda me acha imaturo. Mas eu não sou criança. Sou adulto e sei me virar sozinho há muito tempo. Além do que, quando se trata de sentimento, não existe isso de idade, não é? Eu gostei do senhor desde quando o vi pela primeira vez. E gosto a cada minuto que se passa. Gostaria muito que me desse uma chance de lhe mostrar meus sentimentos... Por favor, Naruto-san. — ele terminou e direcionou seu olhar para o chão, mantendo a cabeça baixa.

O silêncio perdurou por um tempo, até tornar-se incomodo. Naruto continuou massageando a parte de trás do pescoço. Não era sua intenção inventar desculpas. Sasori era um garoto bom, que lhe atraía de certa forma por ser bonito; dedicado e gentil. Isso por si já bastava para aceitar ficar com ele. Mas a verdade é que ainda era cedo para pensar em outro alguém.

— Obrigado.

­— Hã? — o garoto abriu os olhos antes apertados pela vergonha e encarou o rosto sorridente do vizinho. Então o ruivo sentiu o toque dele na sua face direita. Em seguida, sua mente turvou-se, ao sentir os lábios dele sobreporem os seus em um beijo singelo.

— Obrigado por seus sentimentos, Sasori-chan. — Naruto repetiu ao desvencilhar-se. — Mas não posso retribuí-los. Não, ainda. Deixa que eu termino as louças. Melhor ir colocar um curativo nesse dedo e descansar por hoje.

— Hm. — Sasori concordou no automático, após menear a cabeça em um sim.

O rosto estava abrasado, principalmente nos lábios onde recebera o beijo e, encorajado, decidiu fazer um pedido.

— Naruto-san?

— Hã?

— Eu sei que já me rejeitou. Talvez, seja até pedir demais. Mas ainda acho que o senhor deveria relaxar nos seu dia de folga ao invés de ficar cuidando da casa. Será que... o senhor... não gostaria de... sair em um encontro?

Naruto terminou de catar os cacos da pia e, após embrulhá-los em papel toalha, passou por Sasori e levou-os para área de serviço, para o tambor de coleta seletiva direcionada a vidros. Retornou pra cozinha e sorriu para o Sasori que ainda esperava pela resposta

— Por que não? — respondeu com um erguer de ombros. — Vamos.

Segurando firme no pano em sua mão, Sasori sorriu e curvou o corpo para frente, agradecendo:

— Arigatô! Amanhã combinamos tudo então. — ele disse, e saiu rapidamente do local, antes que acordasse do que imaginara ser um sonho. — Oyasumi, Naruto-san!

— Oyasumi.

Naruto ouviu o baque da porta do apartamento se fechando e suspirou mais uma vez, balançando a cabeça negativamente.

— Sasori-chan... Você é mesmo insistente, hein?

Continua...

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