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[Naruto] A Crise dos Sete - Capítulo 12, escrita por Andréia Kennen

Capítulos: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 Extra 1 Extra 2 Epílogo
Autor: Andréia Kennen
Gênero: Lemon, Romance, Universo Alternativo, Yaoi
Status: completa
Classificação: 18 anos
Resumo: Naruto e Sasuke, mesmo sendo um casal pouco convencional, sempre se esforçaram para viverem bem e como uma família comum. Contudo, o mal que assola as famílias comuns (a temerosa "Crise dos sete anos de casados")está rondando esse lar feliz. Será que eles irão conseguir vencer todos os obstáculos e manter o casamento?
Confiram![NaruSasu. +18. Presente de níver pra minha Blond-Hikari-nee-chan.]

A Crise dos 7 - Fase 2 (A separação)
Capítulo 12
Revisado por JM Oliver


Seis meses atrás...

— Ai, ai, ai, ai!

— Dá pra parar com essa choradeira?

— Mas dói...

— Claro que dói! Escovar os cabelos dói. Aliás, ser mulher dói. Vai se acostumando com essa ideia.

— Eu não quero ser uma mulher, então.

— Isso não é algo que você pode mudar tão facilmente, Bara. — a loira maior informou a menor, terminando de puxar os cabelos dela e prendê-los no alto da cabeça, fazendo um longo rabo de cavalo. — Além disso... — Ino prosseguiu, virando a menina pra ela e sorrindo feliz em ver o quanto Bara ficara parecida consigo quando tinha aquela idade ao usar o mesmo penteado. — Ser mulher é doloroso em inúmeros momentos: na hora da depilação, no período de cólica menstrual e principalmente no parto de gêmeos... Mas, você precisa continuar menina pra poder se casar com o cara dos seus sonhos, hã?

— Mas se o cara dos meus sonhos gostar de meninos como o papai Sasuke e o papai Naruto? Eu gostaria de ter nascido menino como o Hi-chan...

A loirinha informou em um tom de tristeza, que fez Ino entreabrir os lábios surpresa. Ela já deveria esperar que Bara tivesse um bom entendimento sobre relacionamento homossexual, afinal, ela era filha de um casal de gays. Mas não esperava que ela ficaria triste por ser uma menina e não poder ser um homem gay no futuro. Para consolá-la, pensou em dizer que o rapaz por quem ela fosse se apaixonar no futuro poderia ser “normal”, mas achou a resposta grosseira, e do jeito que Bara era esperta, perceberia imediatamente que estaria chamando os pais dela de anormais, o que também não era sua intenção. Por isso, ficou aliviada quando a porta do quarto foi aberta e Tsunade irrompeu com ar de indignação, mostrando que tinha ouvido o que a pequena alegara.

— Viu, Ino? Está vendo o tipo de realidade deturpada que estão tendo seus filhos? — A médica contestou o que para ela, era algo absurdo para ser dito por uma criança de seis anos. — Escute bem, Bara! O correto é que...

— Tsunade-san, não! — Ino ergueu-se da cama encarando a mulher. — O que pensa que vai fazer?

— Explicar as coisas de forma correta pra minha neta!

— Bara, pode descer pra tomar o café, senão vai acabar se atrasando pra aula. Depois conversamos melhor sobre isso.

— Hai! — a menina assentiu, pegando a mochila de cima da cômoda e saindo do quarto pela porta que a dona da casa havia deixado aberta e aproveitou-se para fechá-la ao sair, pois sabia que quando os adultos pediam para as crianças saírem, era porque iriam discutir.

— O que há com você, Ino? Vai dizer que concorda com esse absurdo de amor entre dois homens?

— Tsunade-san, eu aceitei ser a mãe dos filhos de um casal gay, não aceitei? Como eu posso não acreditar?

— Achei que já tivesse tido tempo suficiente pra se arrepender e voltar atrás nessa besteira! Eles são seus filhos, Ino! Naruto finalmente acordou pra realidade! É o momento de vocês dois...

— Não! — Ino exclamou, exaltada. — Não existe: “nós dois”, Tsunade-san! Nunca existiu e nunca vai existir! Eu e Naruto sempre fomos como irmãos.

— Eu não entendo porque você se exalta tanto ao lhe pedir algo tão natural...

— Por que eu não quero ser mãe! — ela gritou, fazendo a mulher diante de si, arregalar os olhos. — Digo, não é só agora. Eu nunca tive essa idealização de ser mãe. Eu gosto de ser livre. E ser mãe é estar presa aos seus filhos. Não é que eu desgoste da maternidade, ou julgue quem tenha esses sonhos de família convencional, ou que queira dedicar sua vida e tempo aos pequeninos futuros do mundo. Mas eu não penso assim. Nunca pensei. Quando mais nova, quando Naruto e eu passávamos horas conversando, falávamos exatamente disso: de como nossos sonhos eram opostos. Enquanto ele só falava em formar uma família e ter filhos, eu falava em viver eternamente livre. Tsunade-san, eu só aceitei gerar os gêmeos porque o Naruto me jurou, me prometeu por tudo em que ele acreditava que jamais me jogaria essa responsabilidade de volta.

— O que você está dizendo é praticamente uma blasfêmia, Ino... Não me faça ter nojo de você também. A essência da mulher é exatamente para dar continuidade a vida, é para isso que somos capazes de dar a luz. Uma mulher que não pode gerar filhos, como eu, será uma mulher incompleta pela vida toda. Não ter tido filhos para mim é como uma desgraça!

— Eu já vejo como uma dádiva.

Tsunade franziu o cenho.

— Não me diga que você também foi contagiada por essa promiscuidade de mundo gay?

— Se está querendo saber se sou gay, Tsunade-san, a resposta é não — Ino garantiu. — Eu gosto de homens. Porém, sou, desde adolescente, simpatizante da causa homossexual sim. Porque, simplesmente, descobri que ver dois homens juntos pode ser excitante, da mesma forma que alguns homens se excitam vendo duas mulheres juntas.

Tsunade ergueu a mão e Ino cerrou os olhos imediatamente; certa de que levaria uma bofetada e tanto. Porém, ao notar que o golpe estava demorando, reabriu um dos olhos e viu Tsunade com a mão detida no ar. Então viu algo quase milagroso acontecer: a médica que não se preocupava em resolver as coisas nos golpes recolheu a mão e cerrou-a em punho.

— Eu vou levar os gêmeos na escola, senão eles vão se atrasar — disse ela, um tanto atordoada, e deixou o lugar.

A loira suspirou, aliviada, ao ver a mulher lhe virar as costas e deixar as pressas o quarto onde às crianças estavam hospedadas.

— Não acredito que finalmente disse isso...

...

Tsunade desceu as escadas, aturdida. Imaginara que Ino fosse estranha por estar beirando os trinta anos e ainda não ter se comprometido com alguém a ponto de fixar um relacionamento sério. No entanto, chegara a pensar que ela só estava sendo exigente na escolha do futuro marido. Nunca esperara ouvir algo como aquilo vindo dela.

— Vamos, vamos! Vocês já estão atrasados! — ela chegou à cozinha batendo as mãos, apressando o casal de gêmeos.

— Vovó Tsunade, o Hi-chan não comeu nada.

— Você desceu primeiro pra comer e ainda não terminou, Hikari?

— Eu não gosto dessas coisas. Não quero legumes e nem arroz. Quero leite achocolatado com cereal.

— Leite achocolatado com cereal? — a mulher vocalizou a pergunta de maneira perplexa. — Você é estrangeiro por acaso, gaki? Essa coisa açucarada de cereal enche seus dentes de cáries! Coma o que eu preparei, é mais saudável! — ela espalmou a mão na mesa, fazendo os utensílios balançarem e assustando o pequeno, cujos olhos encheram de lágrimas.

— Mas eu não querooo... — o menino choramingou.

— Ih, ele vai chorar! Vai chorar!

— Cale a boca, Bara! Eu não vou chorar — o garoto contradisse a irmã, esfregando a mão no rosto e deixando-o vermelho.

Mas a sapeca continuou com a provocação.

— Menininha! Menininha!

— Bara! — Tsunade a repreendeu. — Onde aprendeu isso?

— Ops. Gomen, baa-chan?

— Desculpe-se com seu irmão!

— Gomen, Hi-chan.

— E você, Hikari? Vai para escola sem comer. Só está rejeitando a comida porque está sem fome, quando sentir fome de verdade vai comer todo o obento que te preparei, até mesmo a vasilha! Agora, mexam-se!

Ao sair da cozinha as crianças se depararam com Naruto que vinha descendo as escadas.

— Papai, ohayo!

Os dois grudaram nas pernas de Naruto e o loiro acarinhou a cabeça dos filhos.

— Bom dia, crianças. — ele forçou um sorriso, mas era visível pelas olheiras que Naruto não havia dormido quase nada. — Baa-chan, você vai levá-los para escola? Eu vou com vocês.

— De jeito nenhum. Você não está bem, meu filho. Fique e descanse.

— Mas eu preciso ir pra casa...

— Papai trás o Luffy e o Senhor Boo, se não eles vão morrer de fome e de sede. — Hikari lembrou-o.

— Ah, é mesmo! O M-13 e o R-17 também!

— Ratos, lagartos e insetos na minha casa?!

— O Luffy e o Senhor Boo, não são ratos, Tsunade-baa-chan! São hamsters.

— Oh, não diga?

— Bem que o Senhor Boo tá precisando de um regime.

— Baraaa!

— Parem! — Naruto exclamou. — Mas eles estão certo, preciso alimentar os bichos e também, não é certo ficarmos aqui ocupando sua casa e sua privacidade, baa-chan...

— Naruto, você precisa descansar a cabeça. Colocar as ideias em ordem. Acho que a sua casa no momento, é o lugar menos apropriado. Já disse que podem ficar aqui o tempo que for necessário.

— Mas eu quero ir, baa-chan. Eu preciso ver a casa, pegar algumas roupas. Tem coisas que devem estar estragando na geladeira.

— Deixe isso comigo, então. Eu vou passar lá, apanho os bichos, insetos, ratos, roupas e retiro as coisas estragadas da geladeira.

— São hamsters, baa-chan! — Hikari continuou defendendo.

— Ou isso! — ela falou para o menino e voltou-se para o loiro maior. — Fique aqui com a Ino e descanse, Naruto. — Tsunade insistiu, puxando as crianças pelas mãos. — Vamos, já estão mais do que atrasados!

— Mas, eu...

— Ittekimassu, otou-san!

— Itera... — O barulho da porta batendo o impediu de concluir a despedida.

Sentindo-se ainda mais cansado, Naruto sentou-se no degrau da escada. Vestido com a bermuda verde escura e a camiseta branca com a estampa de um rodamoinho alaranjado no peito e chinelos de dedo. Roupas que a mãe lhe comprara no dia seguinte a sua chegada, para evitar que voltasse para casa.

Era o terceiro dia que estava hospedado ali, longe da sua vida, da sua casa e principalmente, longe de Sasuke...

Novamente, seus pensamentos foram interrompidos, desta vez, pelo barulho de porta se abrindo e se fechando atrás dele. Em seguida, ouviu passos de salto nas escadas que pararam atrás de si.

Ino sentou-se um degrau acima do dele e Naruto foi capaz de sentir o perfume forte que ela usava àquela hora da manhã.

— Tá indo trabalhar? — perguntou, sem real interesse.

— Não. Estava de plantão ontem, hoje estou de folga. Vou encontrar com umas amigas — ela repousou a mão no ombro dele, apertando-o de vagar. — Quer vir?

Naruto nem teve forças para responder, era gay, mas não significava que gostava de participar de encontros de garotas. Por isso, não soube dizer se o convite fora mesmo uma tentativa de gentileza da loira ou se ela estava sendo irônica. Preferiu ignorar e, lembrando-se que acordara com gritos dela e de Tsunade, procurou saber o que havia acontecido.

— Porque você e a baa-chan estavam discutindo?

Ino soltou um grande suspiro; cansada. E acabou se debruçando sobre as costas de Naruto, envolvendo o pescoço dele com seus braços e repousando o rosto no vão entre o ombro e o pescoço dele.

— Que foi? — o loiro sobressaltou, ficando vermelho ao sentir os seios da loira roçando suas costas. — Ino? Não gruda em mim desse jeito...

— Ué, não foi você quem estava falando de como poderia ser se nós dois tivéssemos ficado juntos? Então, que tal, a gente fazer um teste agora. — ela passou a língua úmida no lóbulo da orelha dele, vendo-o se arrepiar e riu internamente ao notar que o arrepio fora de repulsa. Gostando da reação, ela se encaixou atrás dele, abraçando-o com as pernas, que ficaram totalmente expostas, devido à minissaia preta que vestia. — Né, Naruto? Vamos fazer sexo aqui e agora? Bem nos degraus das escadas, hã? — ela sugeriu, forçando uma voz sensual. — O que me diz?

— Quêeeee?! Não me diga que a baa-chan conseguiu fazer uma lavagem cerebral em você?!

Ino riu alto, então deu um safanão na cabeça do loiro, mas manteve-se na mesma posição.

— Nem. Finalmente contei pra ela sobre a minha decisão de não querer ter filhos e... — Ino inspirou profundamente e sorriu, realmente descansada em dar ao loiro, que era como irmão para ela, aquela notícia: — Eu contei pra nossa “mãe” sobre o meu fetiche em ver homens se pegando...

Naruto arregalou os olhos, e forçando-se pra se livrar do agarre de Ino, virou-se e ficou de lado no degrau, olhando-a nos olhos.

— Mesmo?

— Tô falando.

— Contou também sobre seus encontros sem compromisso?

— Aí é abusar da sorte, né, Naruto? Ainda não sei como escapei de ter levado uma super-bofetada. Além disso, isso é algo pessoal, a Tsunade-san não precisa saber dos meus fetiches, nem das festinhas que participo, muito menos dos meus encontros a três.

— É... Você tem razão...

— Pelo menos acho que agora ela vai parar de tentar me empurra pra você.

— Espero... — o loiro falou, chamando a atenção de Ino para o ar melancólico que ele ainda carregava.

— Ei, três dias chorando por um pé na bunda é o limite até pra uma garota, sabia? Essa dor não vai passar em um passe de mágica; terá que aprender a lidar com ela. Agora o que você precisa é erguer a cabeça e chamar o gatão Uchiha pra uma conversa. Vocês precisam definir em que estado se encontra o relacionamento de vocês. Os dois precisam chegar a um consenso para explicar as coisas para os gêmeos, não acha?

O loiro voltou a abaixar a cabeça.

— Quer a minha opinião? — Ino perguntou.

— Você vai falar mesmo que eu diga não.

— Então. Aquela mulher que veio aqui no dia seguinte a toda discussão...

— A Karin...

— Isso. Ela mostrou os documentos e provou que o Sasuke não é o pai da menina internada, não é? Na verdade, o que ele tá fazendo é algo até nobre, para alguém que sempre foi obcecado pelo próprio umbigo. Confesso que fiquei surpresa. Naruto, pense bem. É só admitir pro Sasuke que agiu por impulso, pedir desculpas e pronto. Os dois estarão fazendo amor essa noite mesmo.

— O problema não é só esse, Ino...

— Como não?

— O que houve no hospital aquela noite foi apenas a faísca necessária pra ascender o estopim de uma bomba que já vem se armando há algum tempo. O nosso casamento já não estava indo essa maravilha toda. Sasuke e eu já vínhamos brigando por coisas triviais. Até mesmo por causa da faxina da casa. Aí eu sempre acabava ouvindo coisas do tipo: o que eu ganho não dá pra nada, que eu deveria largar o serviço pra cuidar da casa e dos gêmeos, que eu deveria me preocupar em estudar, que eu sou relaxado...

— Mas esse é mesmo você.

— Exatamente! Então porque diabos ele aceitou se casar comigo sabendo disso tudo?

— Só que, meu bem... Você também o pediu em casamento mesmo sabendo o quanto o senhor Uchiha era cricri, não foi? Sabe de uma coisa? O que vejo é que vocês são dois turrões e orgulhosos que não querem dar o braço a torcer por nada. São gays, no entanto, tem aquilo que todo o homem tem: orgulho besta.

Naruto sentiu um baque ao ouvir aquela verdade de repente. E ficou feliz em não precisar ter que pensar em uma contra resposta, já que a bolsa de Ino tocou e ela sobressaltou. Desajeitada, a loira tentou abrir a bolsa, enquanto praguejava a procura do celular, que ao ser encontrado já havia parado de tocar. Mas ao consultar de quem era a ligação, ela se levantou rapidamente e seguiu em direção da saída.

— Estou atrasada. Pensa no que eu disse. Ligue pra ele. Ou pelo menos, atenda as ligações dele. Naruto, vocês se amam, o quê tá faltando é só um pouco de tolerância da parte de ambos. De repente, conversando sem ser com os punhos, vocês se entendem, hã? Beijos, meu gato!

Naruto acenou para a Ino e após pensar mais um pouco tomou uma decisão.

...

Sasuke simplesmente não queria acreditar naquilo que seus olhos contemplavam. Era como um filme chato sendo repetido no domingo a tarde. Suspirou fundo, e tentou simplesmente desviar sua atenção daquela visão no estacionamento da faculdade como se fosse uma miragem e seguiu em direção ao prédio da instituição que dava aula.

— Não adianta fingir que não me viu, Sasuke! Espere!

— Sakura, eu tenho que dar aula.

— Eu sei. — ela o alcançou, passando a marchar do lado dele. — Mas o que combinamos? Sabe de onde estou vindo? Você tem ideia? Eu fui deixar o Yoru, que está com o pé esfolado, na escola! E sabe o que eu deveria estar fazendo? Me preparando pra viajar com o Sai para uma exposição internacional dos trabalhos da academia de arte dele! Sasuke, combinamos que o Yoru ficaria com você, não foi? Eu estou te ligando desde segunda-feira e você não me atende. Eu fui naquele antro que você e seu marido chamam de casa e não tinha ninguém! Você quer parar de me fazer de idiota e dizer o que está acontecendo?!

Sasuke estacou e voltou-se para a mãe de seu filho, franzindo o cenho ao deparar-se com o par de seios que pareciam ainda mais avolumados e saltados para fora do decote do que o habitual. Imaginou que Sakura estava exagerando, ela era bem comportada na maneira de se vestir na adolescência. Realmente não conseguia se acostumar ou gostar daquela Sakura mais extravagante e exibicionista.

— Você aumentou o silicone?

— Você reparou? — Sakura abriu um sorriso satisfeito e ficou mais ereta para que os volumes ficassem mais amostras.

Porém, seu orgulhoso sorriso se desfez com a observação seguinte de Sasuke.

— E tem como não reparar nesse exagero?

— Eu não esperava mesmo que um gay fosse ver com bons olhos. — ela rebateu ofendida, fazendo questão de frisar: — O importante é que o meu marido, que gosta de mulheres, aprovou.

— Okay, Sakura. Vamos encerrar essa conversa. Eu estou hospedado na casa dos meus pais. Eu não posso ficar com o Yoru agora.

— Por quê? Ah, já sei! Estão dedetizando aquele moquifo? Ou, melhor! Você resolveu reformá-lo e aumentá-lo para fazer um quarto pro nosso Yoru, não é? E... — a mulher franziu as sobrancelhas, aproximando-se tanto do rosto do professor que deu um passo para trás. — Você foi atropelado ou algo do tipo? O que são essas marcas roxas no seu rosto? Também está com olheiras e... — Sakura estreitou os olhos, notando que a barriguinha saliente do pai do seu filho, que sempre fazia a camisa branca por debaixo do paletó ficar justa, estava folgada. — Você emagreceu? Está fazendo regime? Se tiver, eu quero saber qual é agora!

Aquela última observação de Sakura fora a gota d’água pra Sasuke que girou os olhos nas órbitas e deu meia volta, continuando seu caminho. Era óbvio que havia perdido peso, mas não fora por causa de regime algum, e sim, por andar sem apetite desde as últimas discussões com Naruto.

— Sasuke você quer parar de me ignorar?!

Sakura seguiu no encalço do moreno, que se deteve ao sentir o smarthfone vibrando no bolso da calça social, mas ao apanhar o aparelho e ler o nome no display, um gelo imediato consumiu seu interior. Depois de três dias ele finalmente estava retornando as suas ligações, porém, em uma péssima hora, pois Sakura havia se detido e olhava curioso para ele, como se estivesse esperando para ouvir a sua conversa.

— Será que dá pra me dar licença?

Sakura só fez um gesto para toda a extensão do estacionamento, como se dissesse, está livre para se afastar.

— Vou esperá-lo aqui — ela fez questão de avisar.

Sasuke ganhou distância, não muita, pois tinha receio de que se o telefone parasse de tocar, e ansiosamente, tocou no botão verde da tela do aparelho e o direcionou rapidamente ao ouvido.

— Naruto?

O silêncio do outro lado da linha fez aumentar aquela sensação ruim de aperto no estômago, assim como a dificuldade de respirar. Voltou a olhar a tela pra ter certeza que a ligação ainda transcorria e ao ter certeza disso, insistiu:

— Naruto? Fala comigo. Eu estou tentando te ligar desde aquele dia.

— Eu te falei que estaria na casa da baa-chan, se quisesse mesmo falar comigo era só ter vindo até aqui.

— E ser esculachado, xingado e humilhado por aquela mulher?

— Você não quer se esforçar, não quer se estressar, então, não quer tentar reatar também...

— Eu não disse isso, Naruto. Pare de colocar palavras na minha boca. Pelo seu “tom” quem não está querendo “reatar” é você. Afinal, você desligou o telefone, se escondeu na casa dessa mulher que me odeia. Criou todas as barreiras possíveis pra que eu não me aproximasse e agora está falando que era só eu ultrapassar esse campo minado pra tentar te convencer de que eu não fiz nada de errado?

— Não fui eu quem guardou segredos, Sasuke. Não sou eu quem vive reclamando, cobrando e nem jogando coisas na sua cara. Você não percebeu que é a única parte insatisfeita nesse relacionamento?

— Naruto, não vamos discutir nossa relação por telefone, por favor.

— Certo. Eu concordo. Por isso estou te ligando, pra avisar que vou para casa hoje a noite, por volta das seis, se der pra você aparecer...

— Eu estarei lá. — Sasuke garantiu, não esperando ele terminar.

— Okay, então...

O tom de ligação encerrada fez Sasuke inspirar e passar as mãos nos cabelos notando o quanto havia suado de nervosismo. Notou também que Sakura continuava esperando-o aonde a havia deixado. Voltou a aproximar-se e percebeu que ela estava com um olhar estranho, do tipo que odiava, de pena. Então deduziu que ela havia ouvido a conversa.

— Sobre o Yoru...

— Eu meio que entendi. — ela falou de repente, menos energética, fazendo Sasuke se assustar com aquele estranho tom cordial, que apesar de tudo, ela já teve um dia. — A crise se intensificou, né?

— Sakura, não venha fazer ironias...

Mas, diferente do que Sasuke esperava, a mulher repousou a mão sobre seu ombro esquerdo e o apertou levemente, como se realmente quisesse lhe transmitir força.

— Eu sei o que é isso, Sasuke. Já passei por duas separações. Eu não brincaria com algo assim de forma alguma... Faremos assim, te darei um prazo. Ficarei com o Yoru até as vésperas da viagem do Sai, que será daqui a quinze dias. Mas, depois disso, indiferente de que você tenha resolvido ou não sua situação, terá que assumir nosso filho conforme combinamos. Eu não posso levá-lo nessa viagem até porque isso atrapalharia os estudos dele.

— Eu... Obrigado, Sakura.

Sakura sorriu, um pouco sem graça, então recolheu a mão do ombro de Sasuke, deu meia volta e se retirou.

— Se precisar de algo, tem meu telefone. Bye, bye.

Sasuke ficou ainda mais desolado, pensando que teria sido mais fácil se Sakura tivesse sido debochada, irônica e grosseira, como aprendera a ser. Que se vingasse de todas as vezes que ele não teve compaixão por ela, quando passara por situações parecidas. Na verdade, sempre dera razões aos maridos dela, reforçando as acusações deles de que ela era mesmo fútil, irritante e insuportável, e por isso nenhum homem a aguentava.

Mas, Sakura ter sido condescendente com sua dor fizera Sasuke sentir-se ainda pior do que já estava.

...

Sasori acarinhava os fios loiros e cumpridos do rapaz deitado com a cabeça no seu colo. Havia começado as aulas e por isso os garotos que costumavam treinar naquela quadra, já haviam se recolhido.

— Né, ruivinho? Eu venho te visitar e você fica o tempo inteiro com esse bico.

— Tô preocupado com o meu Loirão, Deida. Faz quase uma semana que ele sumiu. Já perguntei para o maior fofoqueiro do condomínio, o porteiro, mas nem ele sabe do paradeiro do Uzumaki-san.

— Será que ele se mudou?

— Isso não! Estou de olho em qualquer barulho suspeito que venha daquele apartamento. Você acha que eu não ouviria barulho de móveis sendo arrastados pra fora, baby?

— Hn, entendi... Bem, eu tenho faculdade amanhã, preciso ir. — o rapaz ergueu-se do colo do amigo, juntando os fios loiros que o ruivo havia desprendido do amarre, e prendendo-os novamente. — Tô querendo cortar o cabelo.

— Você vive ameaçando, mas nunca corta. Acho que não tem coragem. — Sasori ficou de pé passando as mãos na parte traseira do short curto e branco que vestia.

— Olha que te surpreendo e qualquer dia desses e apareço careca, hn? — Deidara levantou-se, juntando as duas mãos na parte arredondada do traseiro do amigo. — Hm... Não estão tão firmes como eram antes. Parou de fazer exercícios?

Sasori, que havia sido pego de surpresa, ficou vermelho.

— Deida! Não fale mal daquilo que não te pertence mais!

O loiro se afastou, subindo os degraus da arquibancada e fugindo dos tapas que o ruivo acabara por desferir no ar.

— Nem me pertenceu. Você ficou me negando, esperando pelo príncipe encantado. Tá aí o resultado: com dezenove anos e ainda virgem.

— Cale a boca, idiota! Eu sei que tem gente mais velha e ainda virgem. E me espere! Vou te acompanhar até a saída...

Sasori alcançou o amigo loiro o qual conhecia desde o ginásio e seguiu agarrado ao braço dele. Os dois seguiram conversando, quando o ruivo se deteve do nada, fazendo o amigo estranhar. Deidara percebeu que os olhos de Sasori se fixaram em um homem que havia descido de um táxi e ultrapassado o portão de entrada do condomínio, após cumprimentar o porteiro, que ficou acompanhando-o com a cabeça para fora da janelinha de atendimento.

— Quê foi, ruivo?

— Dei- Deida... é... ele...

Deidara voltou-se para o loiro que já estava diante deles.

— Yo... — Naruto cumprimentou o vizinho com um levantar de mão.

— Uzu- Uzumaki-san, konnichi wa! — o ruivo curvou metade do corpo em um cumprimento automático.

— Konnichi wa. — Naruto respondeu ao cumprimento, forçando a abrir um sorriso no rosto — Namorado? — perguntou, apontando o rapaz ao lado do vizinho.

Rapidamente, Sasori desvencilhou-se do braço de Deidara, negando com a cabeça e ficando com o rosto muito vermelho.

— Não, não! Não é nada disso! É apenas um amigo. E- ele veio me visitar.

— Domo — Deidara o cumprimentou, com um meneio leve de cabeça.

— Yoroshiku. — Naruto retribuiu o cumprimento, coçando a nuca e então desfez o sorriso, desviou-se da dupla e seguiu em direção ao prédio, despedindo-se com um aceno. — Matta na.

Assim que Naruto entrou no prédio, Sasori praguejou.

— Oh, merda! Por que ele tinha que me ver agarrado no seu braço?

— Bem que você disse que ele é bonitão.

— Eu te falei, Baby. Eu tenho bom gosto.

— Mas ele tá com olheiras e apesar do sorriso, é visível o ar de depressão. Você disse que ele tem um relacionamento estável com um cara, né? Que eles têm até filhos?

— Sim, mas desde que cheguei aqui eles vivem brigando.

— Olha, Ruivo... Algo me diz que a ausência dos membros dessa família significa só uma coisa: separação. Eu vou te dar uma dica, mas ela é cruel. Se esse cara tá mesmo se separando, a hora de você se aproximar é agora. Ele tá de coração partido, normalmente é nesse momento de fragilidade que a presa baixa a guarda.

— Será, Deida?

— Se você ir com calma. Como quem não quer nada. Aproximando-se com a intenção apenas de oferecer um ombro amigo. Acho que tu consegue um lance.

O ruivo arregalou os olhos para o amigo, era um plano ousado, mas que poderia dar certo.

Continua...
Vocabulário japonês: 

Konichi wa: boa tarde
Yoroshiku: prazer em conhecê-lo
Domo: oi; olá
Itekkimasu: Estou indo (pra quem está saindo)
Itterasshai: volte em segurança (Resposta dada a itekkimasu)
Ohayo: bom dia
Gomen: desculpe
Otou-san: pai
Obento: marmita
Matta na: até mais;

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