|

[Saint Seiya ] Acordes do Prelúdio Final, escrita por Andréia Kennen

Capítulos: único
Autor: Andréia Kennen
Fandom: Saint Seiya
Gênero: Drama, angústia, romance, amizade
Status: Em Andamento
Classificação: 12 anos
Resumo: Após a batalha contra o deus dos mares, Saori Kido – Athena – aguarda a batalha final, confinada em seus aposentos no Santuário. Sozinha, ela argumenta consigo mesmo sobre seus anseios, desejos, medos e tormentos. Saori Kido, Aiolia, Saga.

Disclaimer: Saint Seiya pertence a Masami Kurumada e às empresas por ele licenciadas.

História escrita para o Coculto, um Amigo Oculto de fanfics promovido pela comunidade Saint Seiya Superfics Journal.


Os cavaleiros de ouro sobreviventes da batalha das Doze Casas se mantinham em alerta em seus respectivos templos. Saori Kido, a reencarnação de Athena, tentava repousar e recuperar suas energias após a batalha contra o deus dos oceanos.

Apesar do silêncio sepulcral dos aposentos da deusa, ela não conseguia sentir-se relaxada o suficiente para pegar no sono. Havia dias ela vinha tendo o mesmo pesadelo em que sua cabeça pendia, cortada por seres que se esgueiravam dentre as trevas. Sabia qual era o seu destino. Mas dizer que estava totalmente pronta para enfrentá-lo era outra história...

Do dia para a noite sua vida havia dado uma guinada de cento e oitenta graus. Agora ela se via atordoada, confinada pelas paredes antigas do Santuário, ao invés de desfrutar o aconchego confortável do seu luxuoso quarto na mansão em Tóquio, que aliás já não existia.

Chamas.

Fora em labaredas incandescentes que todas as suas lembranças de infância foram apagadas, esvaídas em nuvens espessas de fumaça, como se lhe fosse proibido até mesmo o direito às recordações.

Estava fazendo o possível para evitar o choro, mesmo que a confusão e o ardor em seu peito se unissem para forçá-la a sucumbir. Haviam sido três batalhas até aquele dado momento: contra Ares, contra Hilda, contra Poseidon... E ainda haveria muito mais.

E o mais difícil era saber que mesmo sendo uma garota de quatorze anos, tinha que agir com firmeza e seriedade perante um exército de homens, e a maior parte deles, homens maduros que jamais entenderiam suas agonias e incertezas de adolescente.

Revirou-se no leito mais uma vez e envolveu a cintura com os braços, comprimindo o estômago e tentando aliviar a dor daquela agonia. Só desejava retornar ao aconchego do seu lar. Acordar e descobrir que ainda poderia correr para os braços sempre acolhedores do avô. Queria apenas ser mais uma menina no colegial vivendo as incertezas do primeiro amor...

O primeiro amor...

Sentou-se no leito e recostou-se na cabeceira alta daquela cama de madeira rústica, e cobriu o rosto com as mãos. Por mais que fosse obrigada a não se abater, aquela era uma tarefa quase impossível. Sentia-se imensamente combalida, principalmente quando presenciava a morte.

Seus cinco guerreiros de bronze sofriam e se mutilavam em cada combate. Não, não eram apenas “seus guerreiros”; Seiya, Shiryu, Hyoga, Ikki e Shun, eram seus companheiros, resquícios vivos da sua infância humana. Quando conhecera os meninos que vieram de um dos orfanatos da fundação do avô, era uma mera criança mimada e cheia de caprichos, que os submetera a todo tipo de provação e humilhação por achar que eles não passavam de empregados. Mesmo depois de terem sofrido tanto quando menores, ainda vieram os treinamentos torturantes; por último, aquelas batalhas infindáveis, uma atrás da outra.

Eram cinco escudeiros fiéis. Jovens, assim como ela, que não podiam ser simplesmente o que eram: adolescentes vivendo as inconstâncias da idade.

Saori apertou o lençol entre seus dedos, na mesma intensidade com que mordera o lábio inferior. Não iria chorar, simplesmente porque não podia se dar aquele luxo. O avô lhe dissera que deveria se manter forte perante seus guerreiros se quisesse ser respeitada por eles, mas que sempre lhes falasse com carinho.

— Carinho? — de repente aquela palavra escapou de entre seus lábios e a imagem de Seiya se fez nítida em sua mente.

Pégasos, o seu cavaleiro mais dedicado. Ele estava se recuperando da batalha contra Poseidon no hospital da Fundação.

Mas de quantas batalhas mais ele haveria de se recuperar até que sucumbisse de uma vez?

Pensar naquilo fez suas entranhas se contraírem ainda mais. Ergueu-se da cama de súbito e caminhou até o espelho que se estendia ao longo daquela imensa parede de pedra, tão diferente das paredes revestidas de papel colorido no que outrora fora seu quarto no Japão. Contemplou sua face pálida que lhe era refletida de volt;, tocou com as pontas dos dedos o espelho analisando com certo pesar aquela figura. Viu-se apagada, sem as cores que a vaidade um dia lhe inflamara. Estava sem vida, estava...

— Morta...

Recolheu a mão como se quisesse se afastar daquela figura estranha do outro lado e deu as costas a ela, saindo do quarto. Iria perambular como um fantasma; quem sabe assim recuperaria o sono perdido? Andando pelos corredores escuros e explorando aquele lugar que nem sequer requeria energia elétrica; a luz vinha das lamparinas nas paredes. Já havia tomado uma decisão: quando tudo terminasse, iria modernizar as instalações daquele templo velho para que ele se tornasse um lugar habitável para os humanos dos dias atuais.

Se houvesse uma televisão ali, talvez não se sentisse tão angustiada. “Um bom seriado de comédia viria muito a calhar nessas noites de pesadelos e insônias inconstantes...”, ela pensou, enquanto caminhava tranquilamente, vasculhando os cômodos. No entanto, quanto mais caminhava, mais decepcionada ficava. Parecia estar dando voltas infinitas no mesmo lugar. Era tudo igual. As mesmas paredes de pedras, pisos de mármore reluzente, pilastras brancas, salões imensos sem nenhuma mobília. No máximo, havia alguns bustos esculpidos em gesso de um passado mitológico do qual não se lembrava, além dos raros vasos de plantas. Pelo menos, tudo estava impecavelmente limpo.

Foi quando ela adentrou uma área diferente. Apesar da escuridão, havia luz que vinha de uma abóbada no teto, provavelmente a claridade da lua que era refletida em um imenso lago. Admirou aquele lugar; talvez fosse o tal banho de que a criada havia lhe falado mais cedo.

“Se a senhorita quiser, preparo o banho na área de repouso do Mestre... Digo...”

A mulher que lhe falara aquilo de repente ficara pálida, fazendo-a sobressaltar-se.

“O que há com você?”

“Desculpe-me, senhorita. É óbvio que não vai querer se banhar num lugar em que um morto se banhava...”

Claro que a situação dita daquela forma fez um arrepio de horror percorrer seus braços, ouriçando seus pêlos. Mas obviamente Saga se banhava ali quando ainda era vivo...

De repente, sentiu-se incomodada. Era como se estivesse sendo observada. Saiu do lugar às pressas. Tudo que precisava para melhorar suas “boas” noites de sono era visualizar um fantasma se banhando.

Continuou seu passeio da madrugada, mas antes, apanhou uma das lamparinas que estavam presas nos suportes nas paredes. Desta vez, adentrou um quarto. Havia uma cama de casal de dossel no centro do cômodo, e cortinas azuis escuras que encobriam provavelmente o que era uma janela. Viu um espelho gigante ocupando a altura de uma das paredes. Parou diante do seu reflexo, mais uma vez. Era parecido com o que tinha no seu quarto; só era maior. Engoliu em seco, olhando o quarto refletido atrás de si, e novamente teve aquela impressão de haver algo a vigiá-la. Virou-se rapidamente ao imaginar que alguma coisa se movia e ficou paralisada, notando que os véus em torno do dossel daquela cama moviam-se. Suas pupilas se dilataram. Talvez fosse só o vento entrando por alguma fissura.

Queria correr, mas o medo não lhe permitiu fazê-lo.

“Que inferno! Eu sou uma deusa! Ou um rato? Eu já estive do outro lado graças àquela bendita flecha que foi enterrada em meu peito... Apesar de não me lembrar de muita coisa, só de uma fileira imensa de mortos andando para o mesmo lugar. Foi lá que vi o Hyoga. E também, onde presenciei a luta de Máscara da Morte e Shiryu”. Sentindo-se mais corajosa, Saori recuperou a sensibilidade nas pernas e desencostou-se do espelho, tomando uma nota mental: “Na minha reforma, quando tudo isso acabar, vou mandar sumirem com todos esses espelhos...”

Deixou a lamparina sobre a cômoda e foi até as portas do que parecia um armário embutido na parede; abriu-o e deparou-se com aquelas vestes. Inúmeras delas, todas naquele tamanho gigantesco. Voltou a fechar.

Suspirou, e aproximou-se da cama. “É óbvio que uma mente perturbada em um lugar como esse só tende a ficar ainda mais atormentada”, ela constatou, olhando o leito que, como o esperado, estava vazio e muito bem arrumado. Parecia até mais confortável do que a sua cama. Tinha muitas almofadas, algumas delas no tom vinho e outras no tom champanhe, da mesma tonalidade dos lençóis.

Deitou-se e seu corpo nem se moveu naquele colchão de espuma dura. Encobriu os olhos com os antebraços e inspirou cadenciadamente. Não precisava ser uma perita pra saber que aquele fora o quarto de Saga. Sentiu uma estranha angústia apertar o peito, principalmente por se lembrar de como a feição delicada daquele homem que todos viam como um demônio, naqueles últimos instantes de vida em seus braços, parecia tão serena.

Livre de culpa, peso na consciência, noites de tormento...

Imaginava quantos momentos de terror ele vivera ali, naquele mesmo quarto, diante daquele espelho, confrontando a sua personalidade maligna.

— Que tipo de pessoa eu seria e que tipo de cavaleiro você teria sido se não tivesse existido o atentado? Será que eu seria mais forte? Mais imponente? Todos os cavaleiros de ouro ainda estariam vivos? Seiya e os outros poderiam ser poupados de tanto sofrimento? Eles teriam tido a chance de viver uma adolescência normal? Entenda, Saga... não estou lhe culpando... Até porque, o nosso destino, o meu, o seu e dos outros cavaleiros seriam o mesmo no fim. Ou... será que no final eu terei o poder para salvar a todos? Por mais que eu sinta que a minha energia cósmica seja gigantesca e capaz de milagres, muitas vezes me sinto tão incapaz, tão inútil...

Sem perceber, Saori foi abatida por uma estranha sonolência. Poucos segundos depois, estava ressonando, embrenhando-se em um mundo de possibilidades que o seu subconsciente buscou do seu consciente, podendo pelo menos ali transformar sua imaginação em realidade. Viu-se vestida como a Athena do busto de um dos corredores, a vestimenta grega, a sandália de amarras até os joelhos, os cabelos compridos enrolados e presos em um coque no alto da cabeça e enfeitados por uma coroa de louros. A deusa Niké no formato original na palma da sua mão. Enquanto caminhava, ao seu lado andava um Mestre que nunca conhecera. Um homem belo, de cabelos verdes, e dois sinais circulares na testa no lugar das sobrancelhas, algo que fê-la lembrar-se do Ariano, Mu. Ele tinha um sorriso gentil nos lábios, e sua cosmo-energia era quente e abundante.

“Estão todos esperando para vê-la...”, ouviu-o dizer-lhe. “Não se preocupe, tudo ficará bem.”

“Eu tenho certeza disso,” a voz dela afirmou para o homem, mais firme, sonora, imponente. Diferente daquele seu timbre sempre suave, delicado.

Quando saíram por uma abertura, deram diante de uma sacada. No pátio, na parte inferior, inúmeros soldados e guerreiros, todos trajando suas armaduras de bronze, prata e ouro. Alguns rostos bem conhecidos, outros não. Todos a aclamavam. Sorriu ao ver Saga com a vestimenta de ouro na parte de baixo... Não, não poderia ser ele, a feição era diferente. De repente, olhou para o seu lado; o Mestre lhe chamava a atenção.

“Vamos, Athena, teremos reunião com o comandante das tropas e seu conselheiro.”

“Conselheiro?”

Em um segundo, já estava adentrando uma sala; todos os guerreiros dourados estavam sentados em torno de uma mesa redonda. Sentou-se no local destinado a ela. Então viu ao seu lado Aiolos, o cavaleiro de Sagitário, o capitão, conforme o Mestre lhe falara; e do outro lado, um homem sem armadura, que discretamente repousou a mão dele sobre a sua.

“A batalha final está para ter início. Estamos preparados.”

Ela deveria ter ficado feliz. Aquele homem era Saga. Porém, sorriu amargamente. Direcionou um olhar terno para todos aqueles à mesa, e então balançou a cabeça negativamente.

“Infelizmente isso não é verdade”, ela falou, puxando sua mão de volta e ganhando um olhar aturdido de Saga.

“Do que está falando, minha deusa?”

“Você está morto”, ela afirmou, e não se importando com a expressão chocada que ele fazia, voltou-se para os demais. “Não só Saga, mas muitos de vocês. Aiolos, Camus e até esse Mestre o qual eu nunca vi vivo. A batalha nem começou, e já a iniciamos com muitas perdas. Isso aqui não passa de um sonho...”

De repente, a escuridão foi tomando todo o ambiente, engolindo as pessoas presentes. Os rostos foram ficando desfocados e as vozes longínquas... Mas Saga ainda insista, a mão voltando a segurar firmemente a dela; ele tentava lhe dizer algo.

“Não, não Athena! Espere! Ainda tenho algo a dizer... Olhe para cima! Para cima!”

Saori despertou.

A cabeça rodando, o corpo formigando inerte. Percebeu que havia claridade no quarto. A luz provavelmente forçava a invasão pelas frestas da janela por trás da cortina azul escuro, que agora parecia um azul muito claro. Havia dormido do jeito que se deitara: com os pés para fora da cama. Ao tentar se mover, sentiu dores pelos músculos e também na cabeça. Voltou a fechar os olhos e subiu os pés para a cama. Tentava relaxar e se focar no tempo real.

Respirou devagar e viu a face desesperada de Saga, olhando-a atordoado. Foi então que se lembrou de algo que ele havia dito no sonho.

— Olhar para cima?

Reabriu os olhos e viu uma parte amarelada do que parecia um papel enganchado na armação do dossel. Ergueu os braços, mas a cama era tão alta que teve que se sentar para alcançá-lo e, com extremo cuidado para não rasgá-lo, retirou dali um envelope. Por incrível que pudesse parecer, a carta era destinada a ela, escrito em letras gregas. Traduziu a inscrição no centro: “Para Athena”. Estava lacrada. Conferiu o outro lado e percebeu que não havia remetente, mas se estava ali, só poderia pertencer a uma única pessoa: o ex-Grande Mestre, Saga.

Passou os dedos pelo papel, sentindo sua textura. Aguardou um minuto, ponderando se a abria ou não. Mas já que estava destinada a ela, decidiu-se. Assim que rompeu o selo, a porta do quarto também se abriu com um baque, fazendo-a sobressaltar-se e esconder o papel embaixo de uma daquelas almofadas.

O cavaleiro de Leão, assustado, apareceu, olhando-a na cama. Por um instante, viu o rosto nervoso do homem se suavizar.

— Não faça isso comigo novamente, minha deusa!! — ele pediu, adentrando o quarto após fechar a porta atrás de si.

Saori esperou o cavaleiro atordoado se aproximar. Mas ele passou direto, indo para as janelas, o barulho de do salto metálico se propagando no chão de mármore dos aposentos. Cingiu suas pálpebras, assim que a claridade invadiu o quarto, quando Aiolia descerrou as cortinas.

— Bom dia, minha deusa. Desculpe-me a intromissão. Mas por que diabos não está em seus aposentos? Sabe o quanto me atordoei ao não encontrá-la lá?

Saori esfregou os olhos e tentou se pôr de pé. A noite de sono mal-dormida ainda fazia seus efeitos, e ela se sentia como se pesasse uma tonelada. Demorou um pouco até acostumar-se ao ambiente claro, e então ver o invasor mal-educado se curvar diante do leito, olhando-o com aqueles olhos de gato feroz.

— Bom dia, Aiolia... — desejou por fim. — Eu não estava conseguindo dormir naquele quarto, então procurei por outro — ela explicou, não se importando em abrir um grande bocejo diante do seu capitão de tropas. Deixava claro que não havia descansado o suficiente; talvez ele entendesse o seu recado e se retirasse logo.

Porém, como era esperado, o homem não quis “ler” na entrelinhas e continuou como uma estátua, prostrado no mesmo lugar.

Ela suspirou.

— Será que poderia me dar um tempo para retornar ao meu quarto e me higienizar antes de começarmos o dia com análises estratégicas de guerra?

— Darei toda a privacidade que a senhorita deseja, minha deusa. Mas antes, tenho algo importante para lhe adiantar.

— Sim?

– Vossa majestade...

Saori revirou os olhos. Quando o cavaleiro de Leão vinha-lhe com aquela frase polida e carregada de formalidades, pressentia que ele não vinha com boas notícias.

– Diga, Aiolia.

– Minha deusa, sei que estou sendo repetitivo e sinto por ser tão inconveniente, mas venho lhe cobrar novamente, em nome dos outros cavaleiros também, uma posição sobre o cargo de Grande Mestre. O antigo está morto. Saga está morto. Mas uma tropa deste tamanho precisa ser comandada por alguém com...

– ... “punhos fortes” – ela concluiu a frase, do repertório mais que batido que vinha ouvindo do seu cavaleiro havia dias.

– Desculpe-me por ser tão impertinente, minha deusa. Mas estamos preocupados...

– E você acha que não estou? – ela devolveu a pergunta de maneira ríspida. Contudo, diante do olhar firme e do silêncio do seu protetor, ela amenizou o semblante. – Não é como se eu não entendesse a necessidade de se ter um novo Mestre, Aiolia. Antes de ser uma deusa, eu já era uma empresária e sei muito bem a importância de se ter um administrador, que nada mais é que um intermediário entre a presidência e seus comandados. Mas antes de tomar qualquer decisão eu preciso analisá-la com prudência.

– Eu concordo plenamente, Athena. Mas a batalha final está se aproximando e precisamos desse intermediário entre os cavaleiros e a senhorita o mais rápido possível. Eu entendo que depois da traição de Saga haja uma preocupação maior por parte da senhorita em nomear alguém para esse cargo, mas...

— Saga não me traiu por que quis, Aiolia — ela interrompeu a fala do guerreiro. — Não volte a repetir isso, por favor.

— Como queira — ele concordou.

— Por que você não aceita essa função ent-...

— Não! —desta vez, foi o homem que a interrompeu, respondendo avidamente. — Agradeço imensamente a confiança que deposita em mim, minha deusa. Mas eu já lhe disse: eu prefiro decididamente a frente de batalha. Estou mais do que satisfeito com a posição de capitão das tropas no lugar do Piton. Até porque, senhorita, a guarda dourada está defasada depois da Batalha das Doze Casas, e é preciso que os poucos guerreiros restantes se mantenham em seus postos.

— Se não é um dourado, Aiolia... então quem?

— Era exatamente este o ponto a que eu queria chegar. Ontem, Milo, Shaka, Aldebaran e eu nos reunimos e discutimos sobre quem poderíamos sugerir.

— E vocês chegaram a qual conclusão?

— Existe uma pessoa. Não é bem um cavaleiro, ele trabalha em outras posições para o Santuário, já foi espião e informante... É um jovem como eu, Milo e os outros. Treinamos juntos nos campos aqui do Santuário, mas infelizmente ele não conseguiu desenvolver a cosmo-energia necessária para pleitear uma armadura. Por isso se tornou um professor. Mas sua inteligência é acima da média, ele é um estrategista nato e já acompanhou vários cavaleiros em inúmeras missões. Ele conhece todas as leis do Santuário, estruturas, lendas, histórias e é um devoto aficionado pela nossa cultura, ou seja, um devorador de livros. Creio que uma mente como a dele fará uma grande diferença ao lado da senhorita na guerra.

Saori ficou pensativa por um instante, admirada da convicção com que Aiolia falava. Confiava plenamente no cavaleiro de Leão, e se ele dizia que aquele homem era a melhor opção, não tinha motivos para duvidar.

– Parece-me uma boa escolha – Saori assentiu. – E onde encontramos esse gênio?

– Ele trabalha como historiador e faz pesquisas para a Universidade de Athenas. Nesse momento, acredito que ele esteja trabalhando em um dos seus projetos. Mas eu acho que sei onde encontrá-lo. Dê-me alguns dias e eu o coloco diante da senhorita – Aiolia pediu, lembrando-se de que o amigo de infância tinha uma irmã que morava em uma das populares ilhas gregas. Por isso, havia cem por cento de chances de encontrá-lo em Mykonos.

Saori inspirou profundamente e soltou o ar. Realmente não precisava ter receio de um mero professor, apesar de acreditar que em muitos casos a inteligência sobressaía à força bruta.

– Tudo bem, Aiolia – ela concordou com um sorriso. – Traga-o a mim.

– Sim, senhorita. Eu farei isso.

Ele finalmente deixou seu semblante sério e sorriu para a deusa, o que fê-la aumentar o sorriso de volta. Porém, ele continuou na mesma posição, fazendo-a crer que ainda não concluíra.

– Ah? Você não iria me dar um minuto de privacidade?

— Darei, minha deusa.

O verbo no passado fez Saori murchar, desfazer o sorriso e revirar seus olhos claros nas órbitas mais uma vez. Aiolia conseguia, muitas vezes, lhe sair mais chato que Tatsume.

— Então há algo mais para discutirmos?

Desta vez, foi ela quem percebeu o guerreiro suspirar, parecendo um pouco incomodado.

– Diga logo, Aiolia. Por favor. Esta terra é muito quente, estou louca por um banho.

– Athena, é sobre Seiya e os demais cavaleiros de bronze.

Aquela estranha pauta, de repente, fez a atenção da deusa se prender completamente nos olhos do guerreiro.

— Eles ainda estão se recuperando no Hospital da Fundação, logo estarão de volta.

— É exatamente sobre o final dessa sua alegação que quero lhe falar.

— Seja claro, Aiolia. Eu não tive uma boa noite de sono. Estou com o raciocínio lento e não estou lhe entendendo. O que tem o retorno dos cavaleiros de bronze?

— Seria melhor... — ele deu uma pausa para limpar a garganta, principalmente por ter os olhos penetrantes da deusa sobre si. O cavaleiro de Leão nunca vira Athena lhe direcionar um olhar tão firme. Mesmo assim, já havia discutido com os outros dourados e todos haviam chegado àquela mesma conclusão: — Para o bem deles próprios, seria melhor que eles não fossem convocados para a batalha que está por vir.

Saori arregalou os olhos em surpresa. Entreabriu os lábios e ficou atônita por um instante. Então voltou a fechar a boca, sem saber exatamente o que dizer. Na realidade, já havia pensado naquilo e só constatou que sua preocupação era a mesma dos cavaleiros de ouro, ou talvez... Aiolia e os outros guerreiros da elite só imaginassem que Seiya e os demais atrapalhariam seus desempenhos no campo de batalha. Também não era importante o que eles pensavam, e sim, que ela estava de acordo.

E, apesar de sentir um aperto no peito ao pensar naquilo, não deixava de concordar com o capitão das tropas. Mesmo que os guerreiros de bronze tivessem derrotado alguns cavaleiros de ouros, e tivessem lutado bravamente contra Hilda e Poseidon, ainda assim eram apenas cavaleiros de bronze. Precisavam queimar o cosmo e se desgastar além dos limites para conseguirem uma vitória, e ainda terminava gravemente feridos.

Ela engoliu em seco. Aiolia e os demais estavam preparados para aquele momento; treinaram suas vidas inteiras, física e psicologicamente, para guerrear contra Hades. Já Seiya, Hyoga, Ikki, Shiryu e Shun nunca tiveram a oportunidade de escolher.

— Traga-me o novo Mestre, Aiolia — ela se pronunciou, com uma voz embargada, quase sumida. Então, suspirou fundo, recuperando o ânimo, e garantiu: — E eu vou cuidar para que Seiya e os outros não entrem nessa nova batalha.

O homem assentiu, satisfeito por ter conseguido fazer com que Athena o compreendesse. Após fazer uma mesura com a mão, levantou-se e se retirou.

Saori ficou um tanto desolada. Apesar de ter afirmado aquilo, não tinha ideia de como diria a Seiya que ele não precisaria participar daquela guerra. Com certeza ele se sentiria ofendido e teimoso como era...

Balançou os ombros. Pensaria naquilo depois. Apanhou a carta de Saga onde a havia escondido e tateou-a, sentindo sua textura novamente. Tinha receio de que ali houvesse confissões que a desanimassem. Mesmo assim, sua curiosidade se sobrepunha ao medo. Rasgou a beirada do envelope com cuidado, e retirou de dentro o papel dobrado. Enquanto lia, seu cenho foi franzindo, como se as palavras garranchadas em grego fossem difíceis de compreender.

Era confusa. A caligrafia se alternava ao longo do papel. Em alguns momentos parecia que ela havia sido escrita de forma frenética, como se o autor dela não dispusesse de tempo para tal. Em outros momentos a letra era perfeitamente desenhada. Eram várias folhas; pelo que contou, eram sete páginas. Muitos trechos estavam riscados, rasgados, algumas folhas estavam quase totalmente ilegíveis; a tinta da caneta falhava, ou estava fraca no papel sujo. Em algumas folhas, havia borrões que pareciam ter sido feitos por dedos manchados de sangue. O conteúdo era ainda mais confuso, totalmente sem nexo. Talvez as páginas estivessem em uma ordem aleatória.

Mas alguns trechos ela conseguiu ler.

1ª Página: “Tão lindo o bebê... Uma menina... Nem chora...”

2º Página: “Odiá-lo é odiar a mim mesmo...”

3ª Página: “Nem os deuses podem fazer algo contra a maldição que Gêmeos carrega através dos séculos... Gêmeos... Gêmeos... Gêmeo mal... Gêmeo bom... Ninguém é capaz de desvendar quem é quem. Quem é a sombra, quem é a luz. Quem é o primeiro, quem é o segundo... Sempre tão idênticos. Faces idênticas... Odeio compartilhar a mesma face com alguém. Olhar o reflexo que se move sem a minha vontade, que pensa diferente do que penso... Por quê? Por que existir dois alguéns tão iguais se não podem compartilhar a igualdade do seu interior...?”

4ª Página: “A vidraça se quebrou... Eu consegui segurar sua mão... Ouvi dizer que existe uma forma de acabar com a maldição...”

5ª Página: “Hoje eu queria devorar carne... Queria devorar a carne pura dele. Arrancar seu coração e engoli-lo, só assim ele seria meu...”

6º Página: “Encontrei naquelas escrituras a forma de me livrar dessa doença. Dizem que a cura está na desigualdade de gêmeos idênticos... Sinto vontade de gargalhar... Na desigualdade de gêmeos iguais? Por mais que eu procurasse essa diferença... Sua face sempre foi a cópia da minha. Até mesmos seus músculos sempre se desenvolveram idênticos aos meus. Seus cabelos compridos da mesma forma, seus olhos azuis claros... Um maldito reflexo que tem vida própria...”

7ª Página: “O fim... é só o fim? Athena, eu a amo... Eu sei que a amo. E sei que no fim, serei sempre o cavaleiro que sempre desejou, e irei servi-la por toda minha existência. Estarei ao seu lado Athena, em espírito, até o último instante... Saga de Gêmeos.”

Saori suspirou, sentindo uma pontada na cabeça. Talvez um departamento de decodificação conseguisse filtrar melhor a mensagem daquele escrito. Contudo, aquele final já fora o suficiente para acalentá-la. Sabia que Saga vivia um debate interno com sua outra personalidade, e pelo jeito, ele tentava escrever aquelas linhas nos poucos momentos em que mantivera domínio sobre ela. Lembrou-se do sonho. Era essa a principal mensagem que seu cavaleiro de ouro queria lhe passar: que mesmo não estando fisicamente ao seu lado, ele estaria em espírito. Sempre.

— Obrigada, Saga... — ela dobrou a carta, devolveu-a ao local onde a encontrara e se levantou. — Agora me sinto mais preparada para o fim...

Fim.

Notas Finais:

Primeiramente, peço perdões à minha amiga secreta, a Nemui! Eu sei que esse trabalho não ficou muito bom. Eu tentei fazer sua primeira escolha: a história do Shun com Daidaros (posso até te mandar por e-mail o que eu comecei aqui), mas chegou em um momento que travei e ela não foi de maneira alguma. Na realidade, comecei todas as suas opções que não eram crossover, já que os crossovers eu vi sinopses que dariam histórias fantásticas, mas infelizmente, eu não conhecia o segundo fandom. Consegui então fazer essa fic, que eu particularmente achei muito simples.

Para ter uma ideia do meu drama, estou desde a segunda semana de outubro escrevendo, apagando, remexendo nos meus arquivos de fanfics e infelizmente fiquei travada de uma forma que nunca aconteceu. Hahahahha! Eu fico até envergonhada de fazer uma one-shot, já que eu gosto de longfic, mas desta vez eu realmente não consegui desenvolver uma história maior a tempo.

Apesar de que essa fanfic será a introdução para uma longfic que é a Batalha de Afrodite, a qual estou em fase de reescrita. Porém, eu não vou presenteá-la com esse trabalho, porque ela está muito voltada para um gênero do qual eu sei que você não é adepta, que é o romance. Até tentei suavizar a história para evitar as cenas melosas e tentar fazer dela um presente decente para você. Mesmo assim, achei que ficou muito carregado para alguém que não curte esse tipo de gênero. Então, decidi presenteá-la só com essa one-shot, que já tem alguns ganchos para essa outra fic: a carta, e também, a busca por esse novo Mestre. :D

Como conversei com a Vane, vou dar essa fanfic da batalha de Afrodite de presente para a comunidade inteira. Mas ainda estou em processo de reescrita, já que essa história foi a primeira fanfic que escrevi, ainda em cadernos, quando eu nem sabia que aquilo que eu escrevia se chamava “fanfic”. Então tá muito melosa, preciso melhorar e adaptar muitos pontos. Mas quero fazer esse trabalho com calma, para fazê-lo bem feito. E para isso, não posso me sentir pressionada com datas, senão eu travo mesmo. E, conforme for terminando, vou postando aqui na comunidade para que todos passam dar sua opinião.

Feliz 2011, Nemui! Para você e para toda comunidade! Espero que goste um pouquinho do presente, mas pode criticar se o achou ruim também!

Agradeço especialmente a Vane e a Anita pelo convite e pela administração desse evento maravilhoso de fanfiqueiros.


Beijos! Até o próximo! o/


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Leia Também

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...