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[Inuyasha] País das Maravilhas, escrita por Madam Spooky

Capítulos: único
Fandom: Inuyasha
Personagens: Kagome Higurashi.
Autora: Madam Spooky
Gênero: Drama
Classificação: Livre
Resumo: Ela sempre soube que sua vida se resumia em esperar por aquele momento.


Shortfic escrito para o desafio dos 140 temas do fórum Mundo dos Fics, com o tema "Espera".


Cinco anos de idade, olhos azuis curiosos. A garotinha chamada Kagome está parada na beirada do poço olhando para baixo concentradamente. Os pais e o avô disseram-lhe muitas vezes para não aproximar-se dali sozinha, mas ela sempre dá um jeito de escapar e ir assim mesmo. Não sabe a razão, mas aquela caverna escura e misteriosa a fascina de uma maneira que as brincadeiras não são capazes de fazer. Sonha, às vezes, que desaparece através dela e vai parar em um mundo distante, como em sua história favorita, Alice no País das Maravilhas.

Sonhos às vezes se realizam, se você acreditar neles, diz sempre Vovô. Então em todas as oportunidades ela vai até o pequeno templo nos fundos e espera. Espera que o poço se ilumine e possa ver as pessoas daquele outro mundo lá embaixo, acenando para ela. Espera que um desses seres maravilhosos apareça e a guie, assim como o coelho branco fez com Alice. Espera que qualquer coisa extraordinária aconteça, mesmo que seja apenas um vislumbre na escuridão. Espera por muito, tanto tempo, que muitas vezes adormece e alguém, o pai ou Vovô, a encontra e, deixando as reclamações para o dia seguinte, a leva gentilmente até o quarto onde, na segurança de sua cama, ela sonha com seu próprio país das Maravilhas, um sorriso espalhado nos lábios.

* * *


Oito anos ela terá em mais três semanas, mas não está pensando em seu aniversário como em todos os outros anos. Sua mãe voltara para casa aquela manhã e sorrira daquela forma que ela conhece tão bem, a mesma como sorriu quando Pao, seu lindo cachorro de pelo amarelo, fora pego por um caminhão de lixo dois verões atrás. A diferença é que dessa vez não se trata de um bicho de estimação, mas de seu próprio pai. Ele estivera doente por um longo tempo e, quando o vira ser levado de maca para o hospital, ela no fundo soubera que ele não voltaria. De qualquer maneira esperara, dizendo a si mesma para ser otimista, todos os dias. Coisas boas não acontecem se você não acredita nelas.

Nesse momento ela olha para as profundezas sombrias do poço, desejando com todas as forças que as luzes se acendam lá embaixo e a levem embora, para longe da dor. Não acredita mais com tanta força, sua fé em qualquer milagre se alquebrara com a perda recente, mas imaginar a distrai. Entre as imagens, porém, assalta-lhe a ideia de que talvez nunca houvesse um coelho branco e aquela sensação que deve continuar esperando é apenas a ilusão de uma menina solitária. No próximo mês estará em uma nova escola, uma em que fará muitos amigos, como dissera repetidamente Vovô, e então tudo ficará bem. O mundo que sempre ansiara pode estar mais próximo do que ela espera.

* * *


Onze anos é sua idade menos favorita. Parece estar começando a descobrir o mundo mais uma vez, sentindo que cresce cada vez mais depressa. Não pensa mais em seu País das Maravilhas a não ser de vez em quando, nas ocasiões em que sonha com o poço e as luzes lá embaixo que anseiam por sua presença. De vez em quando dá uma olhada rápida no poço, com pouco caso, como se entrasse no pequeno templo empoeirado sem querer. Na maioria das ocasiões, porém, apenas deixa o pensamento de lado como bobagens de criança as quais não pode mais se dar ao luxo de alimentar. Ela é uma menina crescida agora e é com o futuro que deve se preocupar.

Mesmo assim, não tão fundo quanto gostaria, há aquele vazio que diz que ela continua esperando o seu grande momento. Um acontecimento que mudará tudo. Qualquer coisa para a qual ela existe exclusivamente.

Ouve um ronronado baixinho e olha para baixo. Buyo, seu gato gorducho de pouco mais de um ano de idade parece espreguiçar-se enquanto rodeia suas pernas. Sorri para ele com afeto e o segura nos braços como um bebê. Quem precisa de coelhos brancos, afinal?

* * *


Aos quinze anos, os sonhos desaparecem completamente, assim como qualquer característica perseverante da infância. Kagome é quase a mulher que imaginara se tornar e, se lhe perguntassem, diria que é completamente feliz.

Souta, seu irmão mais novo, suficientemente crescido agora para aborrecê-la, mas sempre uma pequena criança quando se trata de ter medo do escuro, pede sua ajuda para resgatar Buyo que se escondera naquele velho poço. Ela aceita felizmente e então, tudo acontece rápido como tem que ser. Há uma luz no poço e um instante depois ela está caindo.

* * *


Mais tarde – que importa o tempo agora? – ela pensa em Alice e como o mundo novo que a acolhera não era nada como o da garota do conto, embora contivesse sua própria parcela de maravilha. Muito mais tarde que isso, ela olha para seus dedos enlaçados aos de alguém e pensa como ele é diferente do coelho branco que povoava seus sonhos de infância, mas a guiara tão perfeitamente mesmo assim. Ela entende o que marcara o momento em que estivera esperando por todos aqueles anos: o início do resto de sua vida.


FIM

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