Autor: Andréia Kennen
Fandom: Naruto
Gênero: Drama, Lemon, Mistério, Romance, Suspense, Terror, Tragédia, Universo Alternativo, Yaoi
Classificação: 18 anos
Status: Completa
Resumo: Sinopse: Japão, 1890, transição do período Edo para Era Meiji, um jovem brilhante e recém formado investigador é incumbido de um caso estranho em um povoado afastado do grande centro urbano do país. Descrente da causa que estava motivando a série de assassinatos no tal vilarejo, ele segue para o local, certo de que iria desmascarar algum falsário psicopata, e ganharia, enfim, seu lugar de destaque na policia da capital. Contudo... Queria o destino que o mal que aterrorizava aquela região, não fosse uma mera crendice popular. [ItaNaru. Shota. Yaoi. + 18. Drama. Terror. Suspense. Sobrenatural. Lemon.]
Redenção
Revisado por Blanxe
Capítulo 8 - Fatalidades
“A morte se aproxima e a sombra que a precede
lançou uma influência suavizadora em meu coração.
Passando através do sombrio vale, anseio pela simpatia...
Ia dizer piedade? De meus semelhantes.
Desejaria persuadi-los de que fui, de certa maneira,
o escravo de circunstâncias que desafiavam todo o
controle humano. Desejaria que descobrissem para mim,
nos detalhes que lhes vou dar, algum pequeno
oásis de fatalidade, num deserto de erros.”
(William Wilson – Edgar Allan Poe)
— Fez um ótimo trabalho, Zabuza-san... — a voz em tom sussurrado, quase rouco, saiu detrás das árvores.
O matador que tinha o rosto envolto por faixas — usadas provavelmente para esconder sua identidade —, fincou a espada de tamanho desproporcional na terra e fitou aquela pessoa que se aproximava dentre as sombras das frondosas árvores, a passos comedidos. O homem, seu contratante, era dotado de uma aparência estranha: alto, de corpo magro e esguio, sem músculos avantajados aparentes; rosto alongado, que estava sempre coberto por maquiagem, — um pó que empalidecia mais a pele e os contornos roxos e negros em torno dos olhos dourados, destacando ainda mais a cor fantasmagórica —, e, por fim, os cabelos, longos e castanhos que lhe caíam nos ombros.
— Eu já fiz mais do que o combinado, verme! Devolva-me aquilo que me pertence.
O responsável pela funerária da vila não se sentira nenhum pouco ameaçado pelo tom ríspido do comparsa; particularmente, ele gostava daquele timbre, além de admirar o olhar do assassino.
“Ele tem os olhos famintos e insanos...”
— Aquela criança deve ter mesmo um sabor sem igual para fazê-lo cometer tantas atrocidades... só para tê-la de volta.
O sorriso malicioso que se desenhou na face de Orochimaru ao dizer aquilo e o lamber de lábios com a língua avantajada e pontiaguda, fez o matador agir por impulso: puxou a zambatou de onde havia enterrado e deteve o golpe a centímetros do pescoço do funerário. Uma mecha de fios castanhos, que estava sobre ombro esquerdo dele, escorregou para o solo banhado de sangue.
Orochimaru manteve a respiração suspensa; tinha consciência de que a única coisa que impedira sua cabeça de sair rolando naquele momento, era o paradeiro do garoto.
— Se você ousar a tocar um dedo sequer no Haku, aberração, irei até o inferno atrás de você!
Orochimaru aumentou o sorriso e passou a mão pelos cabelos, sentindo a diferença do cumprimento de um lado. Sempre fora chamado de ‘aberração’ desde pequeno. Somente porque nascera diferente: os olhos na cor mel de pupilas verticais e a língua pontiaguda. Por esse fato, fora comparado a répteis peçonhentos sua vida toda. Porém, ao contrário do que todos imaginavam, nunca encarou os apelidos de forma pejorativa e sim, como um adjetivo. Adorava intimidar. Ficava feliz ao ver o pavor estampado no semblante das pessoas. O medo tornava os seres humanos ainda mais fracos e patéticos. Amava sentir-se superior diante de uma expressão de pânico. Por isso, sempre se enaltecia quando lhe comparavam a um demônio.
“Ele não pode ser humano, é um demônio...”
A frase o engrandecia. Odiava ser humano. Os seres humanos, na sua concepção, eram seres sujos e fracos, que viviam de aparências; fingiam ser fortes, quando na verdade a fraqueza era seu maior mal; aparentavam ser melhores que os outros, mesmo que os mandamentos ditassem que perante o criador todos deveriam ser iguais; que erravam, mas mostravam ser idôneos; que pecavam, mas dissimulavam serem beatos... E usam máscaras para esconder a verdadeira natureza: podre e corrompida.
“Por esse fato, que os homens temem tanto a morte, o inferno, os demônios, a punição... Por pressentirem que na hora do julgamento não haverá máscara capaz de encobrir a sujeira cometida em vida... Não podem fingir — ou acham que não podem —, diante do juiz divino. Mesmo assim, fingem não saberem desse fato durante toda a vida, mas nos últimos instantes, temem a condenação por seus atos e a eternidade fervendo em um caldeirão de lava incandescente ao invés do recanto florido e pacífico do paraíso. É essa constatação, nos momentos que antecedem o fim, que os fazem expôr sua natureza frágil e patética diante do leito da morte, onde clamam por perdão e pela redenção dos pecados...”
Por isso, Orochimaru não conteve o sorriso ante ao prazer de ter diante de si uma espécie rara: um humano verdadeiro; aquele que apesar de encobrir sua face, externava seu verdadeiro ser. Um homem que a sociedade hipócrita chamava de assassino, por colher vidas em troca de dinheiro, ou de doente pervertido, por amar uma criança de forma madura. Mas que para si, era o significado verdadeiro da patética essência humana.
— Qual é a graça, verme? Acha que estou brincando?! — o ressoar indignado do homem diante do funerário, cortou-lhe os pensamentos.
— Eu nunca faltaria com respeito a sua digna pessoa, Zabuza-san... Sabe muito bem disso. Temos um acordo. E no final dele, devolverei não só a sua criança, mas lhe darei todo o dinheiro escondido nessa vila, conforme prometido.
— Então porque manter o Haku encarcerado?
Orochimaru sorriu brevemente. Se o assassino soubesse a verdade, estaria sem a cabeça há muito mais tempo. Na realidade, quando o contratou não sabia da existência do menino. Só descobriu, quando já era tarde.
“Orochimaru-sama...”
“Sim, Kabuto...”
“Tenho uma má notícia.”
“Hm?”
“Zabuza disse que vai embora...”
“Do que está falando? Por quê?”
“Parece que ele não é um lobo solitário como imaginamos. Hoje, ele apareceu aqui, dizendo que tinha uma companhia, um criança que viajava com ele. Parece que o garoto estava escondido no acampamento dele na floresta... e, simplesmente, desapareceu. Agora ele quer encontrá-lo, e disse que não tem mais tempo pra ficar ao nosso dispor... Também avisou que quer o ‘acerto’ pelo trabalho feito até agora...”
“Então aquela bela criança... Que destino irônico...”
“Como, senhor?”
“Chame-o aqui, Kabuto. Teremos uma conversa séria. Agora ele será obrigado a ficar e cumprir o nosso acordo, se ele quiser, um dia, rever o corpo... digo, a criança, novamente...
— O garoto é a minha garantia de que... — Orochimaru segurou o cabo da zambatou e afastou-a do seu pescoço, concluindo: — irei viver até o final do nosso acordo. Agora leve essas cabeças para a estrada e continue certificando-se de que ninguém saia da vila. Depois que se ganha o passaporte de entrada para o inferno, não podemos deixar que ninguém escape antes da verdadeira diversão...
O homem moveu a arma no ar com uma agilidade fora do comum e a guardou no suporte que carregava nas costas.
— Você disse que eu teria minha recompensa depois do massacre da vila inteira. Quando será isso?
— Está impaciente para ver mais sangue sendo derramado? — o homem sorriu. — Você é mesmo interessante, Zabuza-san...
— Estou impaciente pela recompensa! E para ter de volta o meu bem mais precioso.
— Não seja tão afoito, teremos o massacre em massa, assim que conseguirmos despertar totalmente o demônio.
— E o que falta pra isso?!
De repente, o homem que parecia a calma personificada, cerrou os punhos, sentindo a irritação abater-lhe ao lembrar-se de que sua arma ainda estava imperfeita. “Aquela maldita criança-demônio, se ele não fosse tão resistente! Mas, agora eu tenho um trunfo: ele está fascinado pelo jovem investigador. Dois seres compatíveis. A atração que ambos sentem um pelo outro é quase sufocante. Por isso, tenho certeza de que o Itachi-kun não irá resistir à tentação de consumir a carne do pecador. Se ele o fizer, será um passo para que Naruto o faça e, então, ao invés de um, teremos dois seres demoníacos para varrer a terra de toda a imundice humana...”, ele sorriu. “Somente os verdadeiros sobreviverão.”
— Acontecerá essa noite... — Orochimaru respondeu ao outro. — E, desta vez, sinto que dará certo.
— Hm. — o homem resmungou em concordância. — Só um alerta: aquele padre estava junto com eles, mas desapareceu do nada no meio da floresta.
— Não se preocupe com Iruka... Ele não é um problema.
— Se está seguro disso... — o homem deu as costas ao contratante e continuou fazendo ‘seu serviço’.
...
O padre sufocou o grito com ambas as mãos. Seus olhos marejaram rapidamente e, em questão de segundos, estava de joelhos no chão, diante daqueles corpos pendurados.
— Senhor, Pai Poderoso, libertai as almas dessas pessoas... — ele rezou, sentindo as lágrimas descendo por seu rosto.
Iruka tentou abafar os sons do passado tampando os ouvidos, mas fora em vão.
“Ele apenas grita como um demente quando vê um corpo diante dele!”
“E o que você queria, Orochimaru?! O Naruto é uma criança!”
“Ele é um demônio!” a voz do botânico ecoara em sua cabeça. “Do quê demônios se alimentam, padre?! Carne, sangue e alma humana! Se ele não se alimentar desses três elementos, ele será imperfeito a vida toda!”
“Tentamos arrancar a cabeça dos corpos...” ouviu a voz do ajudante sombrio de Orochimaru falando aquilo tranquilamente. “Deduzindo que, se ele não visse um rosto humano, não resistiria ao instinto e a fome e, enfim, se alimentaria, porém, nos enganamos. Ele resistiu. Mas já tivemos alguma evolução: a fome dele é tanta que o fez lamber o sangue que escorreu pelo chão. O sangue o mantém vivo e lhe tira um pouco da consciência humana, fazendo-o agir como uma fera... Contudo, é de uma forma quase brincalhona, como se ele fosse um filhote de leopardo se divertindo com ‘a comida’. No fim, quando a vítima perde a vida, ele apenas suga o sangue do corpo...”
— Então, filho... Todos esses corpos... — o padre esfregou a mão no rosto, limpando as lágrimas, sentindo um estranho alívio o invadir mesmo diante daquela visão bizarra. — Você ainda não o fez... Graças a Deus. Talvez... Talvez ainda haja tempo de salvá-lo...
“Devolva-o, Orochimaru!”
“Você vai desistir, Iruka?! Logo agora? A um passo de concluímos nosso intento?”
“Eu queria apenas que o Naruto revivesse. Eu nunca quis fazer parte dessa chacina ou desse plano maligno! Agora, veja a que ponto chegou tudo isso! Os moradores da vila estão morrendo. Você contratou um assassino para caçar pessoas pra servir de alimento para... Eu não posso ser conivente com isso! Eu sou um homem de Deus!”
“Agora você é um homem de Deus? Agora? Você já está envolvido nisso, padre... Até seu último fio de cabelo.”
“Diga-me! Onde você está escondendo-o?!”
“Escondendo? Você acha mesmo que se esconde um monstro? Ele está solto na floresta. Brincando e fazendo o que bem entende. Não há mais como reverter o feitiço, aprendiz de sacerdote... Ele já está fazendo suas próprias vítimas.”
— Era mentira. Como eu não imaginei que era mentira? Eu vou encontrá-lo, Naruto. Antes que seja tarde. Antes que mais inocentes morram. — Iruka repetiu para si mesmo, dando meia volta. Porém, um ruído estranho, uma voz muito combalida, o fez parar.
— Tasukete...
O padre, paralisado, aguçou os ouvidos, para captar mais uma vez aquele som.
— Tem alguém aqui? — ele perguntou, sentindo arrepios estranhos.
— Tasukete...
Ele ouviu novamente o pedido de ajuda e, mesmo receoso, abriu caminho em meio aos cadáveres pendurados e foi em busca da origem da voz. Chegou ao fundo do lugar e se chocou ao se deparar com um tipo de câmera de tortura. Apertou o nariz com dois dedos: o cheiro de carne em estado de putrefação era nauseante. Havia moscas varejeiras ouriçadas sobre algo encoberto com um lençol encardido sobre uma mesa de pedra. Fez o sinal da cruz com a mão livre na direção, quando ouviu o pedido de ajuda se repetir. Girou o corpo e encontrou uma cela, caminhou depressa até o lugar e segurou as barras, percebendo que a pessoa que pedia por socorro estava caída ao fundo da cela.
— Ei! Oi! Você está bem?! — gritou, apertando as barras entre as mãos e forçando-as como se quisesse rompê-las com sua força, o que parecia impossível. Observou os cabelos negros do jovem então seus olhos se arregalaram em um repentino reconhecimento. — Você... Não pode ser! Eu vou tirá-lo daí! Aguente firme! Eu vou tirá-lo daí.
Iruka começou a vasculhar o lugar em busca das chaves do calabouço. Sabia que seria idiotice de Orochimaru deixá-las ali, mesmo assim, queria acreditar que talvez ele pudesse tê-las esquecido ali. Encontrou uma prateleira cheia de objetos e frascos que continham pedaços de vísceras humanas. Tampou a boca com a mão tentando evitar o vômito.
— Aquele doente... Como eu pude ser tão idiota, Deus?! — Iruka descobriu o altar de pedra, para virar-se de costas no segundo seguinte, sentindo os olhos arderem. — Céus... — balançou a cabeça em negação, não acreditara no que vira. Cerrou os olhos com força e voltou a cobrir o corpo daquela criança, depois de fazer o sinal da cruz mais uma vez, juntar as mãos e fazer uma breve oração. Tentando se centrar na procura das chaves e, pelo menos, salvar aquela outra criança presa na cela.
Encontrou uma maleta e, ao abri-la, viu ferramentas. “Posso tentar abrir o cadeado com alguma delas”, pensou, mas de repente, sentiu um frio estranho em suas costas.
Teve a sensação de que havia alguém, ou algo, detido atrás de si. Logo, viera a confirmação. Sentiu o roçar de um hálito quente em sua pele.
— Então é aqui que o coelho veio se esconder.
O padre sentiu a língua úmida escorrer por sua orelha e a única coisa que conseguiu foi segurar aquela ferramenta, que parecia um perfurador, firme nas mãos e, no momento seguinte, virar, acertando em cheio um dos olhos do homem.
O grito ecoou pela cripta.
— Projeto de padreco desgraçado, eu vou matá-lo! — as mãos de Orochimaru se firmaram no pescoço de Iruka.
O seminarista se debateu, querendo se livrar do agarre no pescoço, mas não conseguira. Aquele homem tinha uma força fora do normal e não demorou faltar ar em seus pulmões. Sentiu o coração acelerar no pedido desesperado por oxigênio. Começou a sentir o corpo convulsionar. Era o fim. Estava perdendo os sentidos. Ficaria de frente ao criador, antes de tentar se redimir do mal que causara a vila. Levaria consigo para o julgamento o peso de todas aquelas almas que perderam suas vidas. Sentiu o corpo pesar, mas a pressão em seu pescoço cessara antes de desfalecer. Seu corpo baqueou no chão ao mesmo instante em que um grito agonizante de dor irrompeu o ambiente.
A dor no seu peito estava se amenizando, tentou respirar e tossiu ao tentar, devagar, tentou novamente, até que conseguiu regularizar a respiração. Abriu os olhos e viu muito sangue espalhado pelo chão, mas ergueu-se rapidamente ao se deparar com os olhos de Orochimaru arregalados na sua direção. Havia algo de errado. Ele não se movia, foi então que percebeu: ele estava partido ao meio.
Não conseguiu segurar a vertigem nem o vômito. Debruçou metade do corpo para frente e vomitou, tingindo a poça de sangue no chão com o líquido amarelado que deixava seu estômago. Quando seu organismo se amenizou, limpou a boca com as costas da mão e percebeu o seu salvador parado diante do altar de pedra, a espada gigante — a arma capaz de cortar uma pessoa ao meio em um só golpe — brilhando recostada na prateleira. O homem acariciava o rosto da criança morta. Não havia lágrimas em seus olhos, mas uma nítida tristeza estava imprensa naqueles olhos estreitados. De repente, ele desenrolou o pano que cobria sua face, e aproximou-se da testa da criança, depositando um beijo na região.
— Imperdoável... Maldito homem-cobra...
Iruka imaginava quem era aquele homem: só poderia ser o assassino contratado por Orochimaru. E, de alguma forma, Iruka compartilhava da dor que ele sentia. Entendia exatamente o que ele estava passando e não conteve as lágrimas. Foi então que o homem notou sua presença, voltou a encobrir o rosto e apanhou a zambatou. O seminarista andou para trás ao vê-lo vindo em sua direção, até suas costas se depararem com o limite do lugar: as grades da cela. Fechou os olhos firmemente, esperando ter sua cabeça arrancada. Mas em vez disso, ouviu um tintilar metálico e o barulho da corrente que trancava o calabouço escorregando para o chão.
Abriu os olhos, sobressaltado, e notou o homem de costas, saindo do lugar.
— Vá embora dessa Vila, padre, e leve essa criança com você.
— Mas, o que pretende fazer?
— Tem marcas de garras e de mordidas no corpo do Haku. Eu vou matar aquele monstro.
— Você não pode matá-lo. Nenhum humano pode.
— É o que veremos... — o homem continuou seu caminho, gargalhando.
O padre esperou que ele saísse, então observou o jovem no centro da cela.
— O que faço agora?
...
Shikamaru, Chouji e uma nova amiga, de cabelos longos e loiros, não paravam de conversar, sentados à mesa da cozinha da funerária, aguardando ansiosos por algo que Kabuto terminava de preparar no fogão à lenha.
— A chuva já acalmou, deveríamos ir. — sugeriu o menino que tinha os olhos fechados e as mãos atrás da nuca, enquanto forçava o corpo inclinar a cadeira de madeira para trás, fazendo-a balançar.
— Nem pensar, Shikamaru! O Kabuto-nii-san nos prometeu bolinhos fritos e eu não saio daqui sem eles.
— Não sei como você consegue sentir fome em um lugar fedorento destes, Chouji.
— Só mais um minuto, crianças e...!
De repente, Kabuto parou com a mão no peito. Ele sentia algo queimar no seu braço esquerdo. — Dro- droga... não pode... — Ele largou de lado a tigela de massa e puxou a manga da camisa cumprida, olhando aquela marca negra brilhar em um vermelho intenso.
Sua respiração ficou ofegante, o som desapareceu e um zumbido intenso passou ecoar dentro da sua cabeça, fazendo-a girar. Ouviu seu coração pulsando cadenciado e conseguia até mesmo sentir o sangue em suas veias percorrendo velozmente.
“Kabutooo” — ouviu em seu subconsciente a voz conhecida do seu mestre...
“Orachimaru-sama... Não pode... O senhor não pode estar...”
Sim, Kabuto... Estou. Terei que usar aquilo -quilo... Precisamos –mos sair daqui –qui – qui... Aquele maldito está vindo atrás do Naruto...
“Como quiser, mestre...”
A panela de gordura girava no chão sujo, a tigela de massa estava virada sobre o fogão e as três crianças gritavam em volta do adolescente ajoelhado no chão.
— Kabuto-nii-san! Kabuto-nii-san!
A dor se amenizou e o rapaz abriu os olhos que exibiram uma extravagante cor amarelada e as pupilas, tão finas que pareciam apenas riscos. As crianças se afastaram, assustadas.
— Os olhos... ficaram iguais aos do sensei... — Chouji percebeu.
— Boa tarde, crianças.
A menina, que era recém chegada na vila, não conseguiu conter o pavor de ver aquela estranha transformação.
— AHHH! Mas o que é isso?! Estou com medo!
...
Na funerária, Itachi assustou-se ao ouvir a gritaria, provavelmente, vindo de crianças. No segundo depois, visualizou linhas amarelas desenharem um retângulo no teto que se desconectou do teto, abaixando como uma ponte levadiça, finalmente, pôde ver a claridade do dia. Mas durou pouco, pois, em seguida, por aquela rampa escorregavam dois garotos que desceram rolando, até caírem no chão um sobre o outro.
— Ah, meu traseiro!
— Que seu traseiro o quê, Chouji! Sai de cima de mim, meu corpo todo está sendo achatado por sua bunda grande!
— Vocês estão bem? — Itachi aproveitou-se da claridade para ajudá-los a levantar.
— Ah, você é o cara da polícia! Estamos salvos, Shikamaru! — os dois se levantaram e correram na direção do investigador, abraçando as pernas dele.
— Mas o que está acontecendo lá em cima?
— O Kabuto-nii-san ficou louco de repente. — o mais gordinho disse.
— Tsc! Eu tentei chutar a perna dele, mas não consegui fazer nada. O desgraçado pegou a Ino.
— O grito que ouvi foi mesmo de uma garota?
Os dois assentiram positivamente.
— Itachi-san, pode subir aqui, por favor? — o investigador ouviu a voz de Kabuto, entoada de uma maneira mais mansa do que a habitual.
— Não vai, onii-san! Estou com medo. — os garotos agarram-se ao moreno.
— Não vou deixar essas crianças sozinhas aqui!
Após dizer isso, ele viu deslizando pela rampa uma lamparina. Desvencilhou-se dos meninos e a apanhou antes que se chocasse com o chão e apagasse, então, se voltou para os dois.
— Vou negociar com ele a nossa liberdade, vocês dois são garotos fortes, saberão se cuidar. Não podemos deixar a menina sozinha lá em cima, não é? Eu vou pra tentar fazer algo por ela.
— Mas se você não voltar, onii-san?
Itachi admirou o garoto que, além de parecer inteligente, tinha um ar adulto. Realmente cogitara aquela possibilidade, mas não podia desanimá-los. Além disso, estando do lado de fora, poderia tentar fazer algo a mais do que estando confinado naquele alçapão.
— Eu vou voltar. — garantiu, aproximando-se dos dois e sussurrando: — Antes disso...
Os dois arregalaram os olhos, mas concordaram com a ideia. O investigador afagou os cabelos dos meninos ao concluir e subiu, sentindo algo ruim por ter inventado aquela desculpa, mas precisava fazê-los se sentirem confiantes. Havia enxergando potencial em Shikamaru, mesmo assim, achava quase impossível que ele conseguisse articular e pôr em prática um plano de fuga.
Escalou a rampa em aclive com dificuldade e, ao chegar à parte de cima, se deparou com Kabuto do outro lado do corredor, acionando uma alavanca atrás de uma porta que voltou a fechar a porta do alçapão.
— Onde está a menina?
— Em um lugar seguro, o qual você nunca irá descobrir, caso aconteça algo comigo.
— Nada que uma equipe de busca não possa resolver.
— Não em menos de vinte e quatro horas.
Itachi se resguardou ao silêncio, enquanto em sua mente processava os possíveis lugares que aquele “aprendiz de lunático” pudesse colocar em risco a vida da menina. “Um poço? Um armário abafado?”
— Escuta, Uchiha. — Kabuto interrompeu os pensamentos dele. — Não temos muito tempo. Tem um matador enfurecido vindo nessa direção e eu preciso da sua ajuda para resolver um problema.
— Minha ajuda?
— Isso mesmo. — ele confirmou. — Na verdade, Itachi-kun, você pode não acreditar, mas é a solução para muitos problemas...
Continua...
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