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[Naruto] Redenção - Capítulo 4, escrita por Andréia Kennen

Capítulos: Prólogo 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Epílogo
Autor: Andréia Kennen
Fandom: Naruto
Gênero: Drama, Lemon, Mistério, Romance, Suspense, Terror, Tragédia, Universo Alternativo, Yaoi
Classificação: 18 anos

Status: Completa
Resumo: Sinopse: Japão, 1890, transição do período Edo para Era Meiji, um jovem brilhante e recém formado investigador é incumbido de um caso estranho em um povoado afastado do grande centro urbano do país. Descrente da causa que estava motivando a série de assassinatos no tal vilarejo, ele segue para o local, certo de que iria desmascarar algum falsário psicopata, e ganharia, enfim, seu lugar de destaque na policia da capital. Contudo... Queria o destino que o mal que aterrorizava aquela região, não fosse uma mera crendice popular. [ItaNaru. Shota. Yaoi. + 18. Drama. Terror. Suspense. Sobrenatural. Lemon.]

Redenção

Capítulo 4 - Só

Revisado por Blanxe

“Não fui, na infância, como os outros e nunca vi como outros viam. Minhas paixões eu não podia tirar de fonte igual à deles;”

[...]

“Tudo o que amei, amei sozinho. Assim, na minha infância, na alba, da tormentosa vida, ergueu-se, no bem, no mal, de cada abismo, a encadear-me o meu mistério.”

[...]

“Veio daquela nuvem que se alterava, só, no amplo azul do céu puríssimo, como um demônio, ante meus olhos.”

[Só - Edgar Allan Poe]

“A escuridão de tão atormentadora chega a ser fascinante... Sinto-me imergido na penumbra desfocada do desespero sem fim. Vejo avançando contra os que não prestam a fera voraz devoradora dos hereges. Ser maligno? Nunca. Anjo dourado, com asas de fogos e cheiro inebriante, o terror daqueles que erram, que desprezam e que são saborosos alimentos. Alimentos do anjo das trevas. A carne do pecador é mais macia, saborosa. Sinto em minha própria boca, o sabor que impregnam as presas afiadas que dilaceram com o prazer, a carne humana corrompida...”

O investigador fechou o caderno de escola do último desaparecido da lista de vítimas que o governante de Konoha lhe dispusera. Optou por começar a apurar os fatos pelo final por dois motivos: primeiro, por essa ser sua forma de investigar, estudando cada vítima de maneira decrescente, pois acreditava que assim, encontraria pistas mais frescas e, por consequência, mais fáceis de serem rastreadas; segundo, porque algo em Danzou o havia intrigado.

Depois de ler o que o pai do menino nomeou de “Caderno de Poemas”, contemplou por algum tempo a capa preta que, de acordo com o homem, fora customizada pelo próprio filho. Notou também que não era apenas de poemas macabros de que Sai gostava; o jovem era um pintor nato e as paredes estavam cobertas por estranhos desenhos abstratos. Itachi não entendia muito sobre arte, mesmo tendo convivido por quatro anos com elas. Seu ex-companheiro em Londres era um artista egocêntrico. Deidara sempre lhe dizia que a alma de um artista era um mistério indecifrável, pois suas percepções de mundo eram distintas das dos “humanos normais”. Nunca se importou com o ego elevado do ex-companheiro, muito menos com suas esculturas horríveis — as quais ele insistia em denominar como “arte contemporânea” -, desde que ele mantivesse seu excelente desempenho na cama. Na realidade, foi isso que o prendera tanto tempo ao lado do loiro fogoso e de magníficos orbes azuis escuros. Deidara, por ser desprendido de convenções, fossem elas políticas, sociais ou religiosas, não se importava em satisfazer-se da maneira que bem entendesse. Assim, acabara por acostumá-lo e enlouquecê-lo com seu sexo sem pudor e suas fantasias eróticas...

Pigarreou, tentando retomar o fio da averiguação, principalmente, ao perceber o pai do menino desaparecido fitando-o com o semblante endurecido. Não era o momento para recordar-se da sua “aventura amorosa” que durou três anos; menos ainda, lembrar-se da forma como foi facilmente trocado por um garoto ruivo, considerado um gênio de quatorze anos, novato da escola de Artes.

Voltou-se para Danzou. Ele lhe relatara que Sai sempre gostara de escrever histórias de terror e retratá-las através das pinturas. Porém, ele alegara que nunca achou que aquilo fosse algo para se preocupar, muito menos, motivo para ficar “fuçando” as coisas do jovem. “Meu filho sempre foi excepcional, criativo e acima da média. Não se perturba um gênio, deixe-o livre para criar.”, foi a resposta do homem que o seguia com um único olho, já que o outro estava encoberto por um tapa-olho.

— Entendo – Itachi replicou sem interesse, mostrando mais curiosidade no manuscrito em suas mãos.

As palavras de Sai, para si, que também ficara diante do demônio, eram familiares. Até então, achara que havia sido pego por uma armadilha da sua mente, um devaneio que o fizera imaginar aquele ser do outro mundo. Mas, estava começando a crer na existência do monstro. Vira o demônio diante de si. O cheiro inebriante ao qual o garoto se referira era o mesmo odor que sentiu: um hálito quente, impregnado de sangue. E as “asas de fogo” pareciam ser aquele manto alaranjado que o encobria como se fosse uma névoa. Itachi tinha quase certeza que Sai vira a fera antes. Mas não adiantaria continuar interrogando Danzou, pois via a má–vontade estampada em cada ruga de sua tez envelhecida. Com certeza, iria responder da mesma forma que respondeu todas as suas questões anteriores: “O assassino do meu filho é aquele maldito de feições estranhas... Não existe essa coisa de demônio!”.

— Será que posso levar? – ergueu o manuscrito.

— Não vejo como isso pode ajudar a encontrar o Sai, mas... – o velho resmungou, claramente insatisfeito. – Mas, faça como bem entender. Não sei como crianças podem se tornar investigadores. Esse mundo está de perna para o ar.

— Por hoje eu vou me retirar. Agradeço a atenção, Danzou-san.

O homem limitou-se a soltar um esturro para, em seguida, acompanhar o jovem até a saída.

— Quando terei alguma posição sobre o paradeiro do meu filho, jovem?

O rapaz de longos cabelos negros suspirou brevemente ao ouvir a pergunta. Era óbvio que não tinha ideia do que responder; recolhera muito pouco material e nada dito por aquele homem fora mesmo proveitoso. Observou que o seminarista o aguardava na carruagem em frente a casa e agradeceu-o, mentalmente, por ser seu veículo de escape.

— Em breve, senhor – disse, meneando cabeça e pedindo licença.

— Espero que seja mesmo breve! – ouviu-o esbravejar quando já estava ultrapassando o portão da residência.

Tanto Iruka quanto Itachi ouviram um baque forte de porta se batendo, o padre direcionou um olhar assustado para o seu hóspede, mas esse pareceu não se incomodar com o tom de ameaça proferido pelo o outro e se acomodou no banco ao seu lado, cerrando os orbes escuros. Deduziu com aquele gesto, que o jovem oficial estava se fechando para comentários, principalmente, em elucidar-lhe o motivo pelo qual Danzou parecera tão irritado. Assim, bateu as rédeas no lombo do cavalo e seguiu, rumo à saída da vila.

...

Itachi continuou revendo as suas anotações do primeiro local que investigara, enquanto a carroça sacolejava; decidiu voltar com o padre, fato que nem ele mesmo compreendia. Afinal, o governante Asuma lhe oferecera hospedagem em sua própria residência. Contudo, havia uma força maior que o atraía para aquele lugar. Era como se o mistério envolto naquelas paredes fosse parte importante das pistas que o levaria a desvendar o paradeiro do irmão ou talvez, algo muito maior.

Talvez não.

Talvez, fosse somente atração e fascínio que os olhos azuis tão límpidos daquela criança misteriosa lhe causavam. Por mais que estivesse concentrado em seus afazeres, não conseguia tirar da sua cabeça a imagem de Naruto; seu grande sorriso, o jeito curioso, a fala inocente, as mãos tão pequenas e o mais importante: sua origem. Quem era Naruto? Por que estava escondido? Por que Iruka ainda não o mencionara?

Um tranco brusco na carroça e o pedido de desculpas vindas por parte do padre-condutor fizeram com que o investigador retomasse suas anotações. Havia tido uma conversa muito truncada com Danzou. O homem respondia todas as suas perguntas com má vontade. Quando perguntou sobre o que o motivou a adoção, sendo que era um homem sozinho, ele só faltara avançar sobre si. Grunhiu, bateu o cajado que usava como bengala no chão de madeira, estufou o peito e replicou ofendido: “Um homem não pode criar um filho sozinho, é isso que está querendo me dizer? Se a vida não me deu uma esposa, eu não posso querer adotar uma criança?! Sou obrigado a morrer velho e só?!”. Até explicar a ele que não era ofendê-lo sua intenção, já havia perdido um tempo precioso, porém, Iruka acabou dando-lhe a resposta que queria, logo que pegara à estrada.

“Konoha foi fundada pelo próprio governo de Kyoto para ser uma vila de estratégia militar. Sua intenção era abrigar uma força de apoio inteligente ao exército, chamada de ANBU (1). Os próprios moradores da vila, na realidade, sempre foram bodes expiatórios, pessoas vindas de várias regiões do Japão, a maioria, desabrigados; imigrantes, gente de baixa renda. O governante da vila era um grande general, conhecido também como “Hokage” (sombra do fogo) ou “Kage” (Sombra). No passado, Danzou disputou o cargo de Hokage com o antigo governante, Sarutobi Hiruzen, pai de Asuma. Mas, não conformado com a perda para seu ex-colega, ele formou, com aval da capital, uma nova organização chamada: ANBU Ne (2). Porém, ambas as organizações foram dizimadas depois da guerra. Os poucos sobreviventes retornaram para vila sem nenhum louro, afinal, os dois grupos agiam nas escuras, eram o apoio secreto dos verdadeiros combatentes. Entretanto, dizem que a vila manteve o grupo ANBU formado, mesmo com as ordens vindas de Kyoto que diziam que eles não seriam mais necessários. Da mesma forma, aconteceu com a Ne. Sai, na realidade, é um recruta de Danzou.”

Itachi percebera, assim que pusera os olhos sobre Asuma Sarutobi, que aquele homem de feição máscula e de bom porte físico, era algum tipo de combatente, um soldado. Porém, sua atenção estava tão direcionada em anotar os detalhes para a investigação dos assassinatos, que acabou esquecendo-se de tirar aquela dúvida com ele. Agora, depois da explicação do seminarista, tinha certeza. Isso também explicava o fato da Vila da Folha ser estranhamente pacata. Eles ainda viviam um disfarce. Contudo, não conseguia entender o que todos aqueles acontecimentos tinham em comum. Era muita informação para um único caso: o massacre no seminário, o Padre Minato, os mortos sem cabeças, o desaparecimento de Sai e de Sasuke, o ataque a sua carruagem, o demônio...

— Chegamos, Itachi-san.

O anúncio do padre trouxe o investigador de volta ao tempo corrente. Já era quase noite, estava frio e um denso nevoeiro tornava o entardecer obscuro. Lembrou-se do poema de Sai “A escuridão de tão atormentadora chega a ser fascinante... Sinto-me imergido na penumbra desfocada do desespero sem fim”. Sentiu a cabeça latejar e um aperto dolorido condensou no seu peito e lembrou-se do irmão caçula. Se não fosse capaz de montar aquele quebra-cabeça, o mais rápido possível, perderia Sasuke para sempre.

— Sasuke... – sussurrou, inspirando profundamente, tentando regularizar o desespero que ameaçava tomá-lo mais uma vez.

O padre percebeu a indisposição do seu hóspede e, preocupado, ajudou-o a descer da carruagem.

— Uchiha-san, você está bem?

— Só um pequeno mal-estar. – apressou-se em responder.

— Acho que precisa descansar por hoje. A viagem até a vila já é cansativa e a conversa com Danzou deve ter lhe estressado.

— Talvez. Mas um banho quente, aquele chá calmante, uma boa noite de sono e estarei bem disposto pela manhã.

— Vamos entrar, então. Eu vou preparar seu banho.

— Obrigado, padre.

...

O caldeirão fervilhava um conteúdo que exalava uma fumaça que aliviava o odor enjoativo da carniça. O lugar estava úmido, sombrio e o zumbido dos insetos atormentavam a mente daquele jovem que não conseguia parar de tremer de frio e de medo. O que havia feito para merecer estar naquele lugar? Por mais que esforçasse sua mente, não encontrava uma resposta.

Parecia estar no próprio inferno. Por mais que fechasse os olhos não conseguia dormir ao lembrar-se que estava rodeado por corpos pendurados que, às vezes, se embalavam sozinhos de um lado para o outro.

Tampara os ouvidos e se encolhera no canto da cela onde havia sido encarcerado. Não tinha noção de quanto tempo se passara desde que chegara ali, nem se era dia ou noite. Só sabia que aquele lugar parecia uma caverna. Não ouvia som de nada. Pensou muitas vezes em gritar e pedir por socorro, mas o medo de que algo pior aparecesse lhe aturdia, fazendo-o desistir do intento. Em alguns momentos, o medo e o cansaço davam espaço para fome e a sede. Estava enfraquecendo. Fizera suas necessidades fisiológicas ali mesmo, que se juntaram ao vômito que pusera para fora quando o estômago não suportou o cheiro daquele lugar pela primeira vez. Sentiu a cabeça latejar, condensando a dor na sua fronte; se continuasse doendo daquela forma o enjoou iria retornar, mas o problema é que não tinha mais nada dentro de si que pudesse pôr para fora. Fechou o nariz e respirou pela boca, tentando concentrar-se e não deixar o desespero e a vontade de chorar lhe tomar.

Havia um único corpo com a cabeça naquele lugar. Este estava nu, sobre uma mesa de pedra em um canto não muito longe da sua sela. Assim que despertou pela primeira vez, achou que aquela pessoa pudesse estar viva, apenas dormindo. Chamou-o várias vezes, mas como não obteve resposta, desistiu. Estava sozinho ali. Talvez, não totalmente. Afinal, alguém trouxera aqueles corpos para lá e poderia ser a mesma pessoa que o aprisionara. Contudo, desde que acordara, não vira ninguém entrando ou saindo.

Por várias vezes, sentiu um calafrio de horror percorrer seus braços e pernas ao ter a impressão de que, camuflado em meio à penumbra e os corpos, havia algo a observá-lo. Em determinados momentos, chegara a ter certeza de ver duas esferas brilhantes, tais como os olhos de um felino planando pelo ambiente. Poderia ser aquilo que o atacara? Por mais que tentasse, não conseguia se lembrar dos detalhes daquela noite.

Enquanto tentava encontrar algum nexo em seus pensamentos, novamente, viu os corpos começarem a se embalar em um ritmo de uma dança lenta e bizarra. Junto com o embalo, vinha aquele ar frio, a impressão de passos, um rosnar agourento, que podia ser confundido com um riso irônico, de deboche: alguém ou algo, que estava achando graça do seu desespero. O jovem levou suas mãos aos ouvidos, encostando-se no canto mais profundo do cárcere. Juntou os joelhos que insistiam em bater um no outro e rezou, mentalmente, para que àquilo não se aproximasse de si. Se não fosse resgatado logo, enlouqueceria. O seu ente haveria de encontrá-lo, mas não sabia por quanto tempo iria resistir se ele não fosse rápido. O medo era insuportável, latente e palpável. Seu coração desesperava-se no peito e, mesmo que não quisesse chorar, as lágrimas desciam rolando por sua face suja. Havia vivido tão pouco. Não se considerava um garoto ruim. Encarou o escuro e lá estavam as esferas brilhantes e douradas a lhe fitar e rir do seu desespero. Fechou os olhos e desejou imensamente:

“Quero morrer... Quero morrer logo...”

Itachi estava deitado na cama quando arregalou os olhos. Seu coração disparou. O teto... O teto estava encoberto por cabeças. Ficou paralisado por um tempo. Até que viu, em meio às cabeças, uma se movendo. Fechou os olhos com força e o reabriu rapidamente. Os cabelos negros brilhantes...

— SASUKE! – gritou, esticando um dos braços.

Sentiu uma breve tontura, até perceber que seu braço estava esticado em direção da parede do quarto onde estava hospedado. As batidas do seu coração, que martelavam seu peito, causavam-lhe uma dor angustiante. Um fio de suor frio escorreu pela lateral do seu rosto e a dor no pescoço denunciou que dormira de mau jeito — debruçado sobre suas anotações na escrivaninha. Olhou para os papéis amarrotados sobre a mesa e, localizando-se no tempo e no espaço, voltou-se para o teto, só para confirmar que não havia nada de anormal ou bizarro ali, a não ser, o telhado sujo por manchas de umidade e teias de aranha. Tivera um pesadelo. Elevou as mãos à face e esfregou o rosto, massageando a fronte. Inspirou profundamente e, de repente, o tremor do choro lhe abalou, soluços altos fizeram o corpo do investigador convulsionar levemente, enquanto as lágrimas desciam. Não conseguiu mais conter aquela ânsia; estava tentando se enganar, mas, diante das circunstâncias, encontrar o caçula vivo seria praticamente um milagre.

— Droga! — bateu com o punho fechado na mesa, exasperando sua frustração. – Eu prometi no leito de morte da nossa mãe que tomaria conta de você, Sasuke! Por favor, por favor... esteja vivo...

— Itachi-nii-chan?

Aquela voz chamando o investigador o fez voltar-se rapidamente para trás. Seus olhos se encontraram com os orbes azuis claros de Naruto. Sua mente o alfinetou, dando-lhe alertas estranhos. Olhou por cima do menino e percebeu a tranca da porta imóvel, a janela também estava fechada, não entendia como ele havia entrado. Estava começando a se irritar. O que era aquele garoto? Levantou-se tão bruscamente que derrubou a cadeira de lado, fazendo um estrépito estalado no chão. O barulho fez Naruto arregalar os olhos e dar um passo para trás.

“Ele parece só uma criança inocente...”

Itachi foi na direção do pequeno, apanhou-o pelo pulso e puxou-o até a cama. Sentou-se primeiro, em seguida, repousou ambas as mãos sobre os ombros do menino, para manter firmeza em suas perguntas. Fixou seus orbes escuros nos claros de Naruto e, mesmo com a pouca iluminação do ambiente — que vinha do lampião na escrivaninha -, enxergava perfeitamente o tom azul naqueles orbes tão grandes. Eram fascinantes.

— Como você entrou no quarto sem fazer barulho, Naruto? – perguntou, deixando sua admiração de lado.

— Pela porta, ué. – o pequenino balançou os ombros.

— A porta está trancada, não minta.

— Não estou mentindo, ‘ttebayo! – ele retorquiu, indignado. — O nii-san trancou depois que me deixou entrar.

Itachi se refreou por um minuto e tentou vasculhar o fato em sua mente, mas não se recordou de ter visto Naruto depois que chegou de Konoha. Lembrou-se de ter tomado banho, ficado na cozinha analisando os papéis até Iruka terminar o jantar, depois que comeram, serviu uma caneca do chá que o padre preparara, desejou boa noite a ele e se fechou no quarto para continuar criando hipóteses com as pistas que havia levantado durante o dia, até que caiu no sono e teve aquele pesadelo.

Franziu as sobrancelhas e, sem que percebesse, empregou força em suas mãos.

— Ai, Itachi-nii-chan, tá machucando meu ombro. – ele protestou e o investigador o soltou. Naruto não podia ser um fantasma, pois era de carne osso. Mas estava começando a duvidar que pertencesse aquele mundo.

— Você não se lembra de como e nem quando veio parar aqui, não é?

O garoto só negou com um balançar brusco de cabeça. Ao fazer aquele gesto, Itachi notou algo no pescoço dele, na lateral, quase chegando à nuca: parecia uma mancha rocha.

— Naruto o que é isso? – indagou, enfiando o dedo na gola da camisa e puxando o tecido para que a pele ficasse mais amostra. Desta vez, foram seus olhos que se arregalaram de surpresa. Aquilo parecia um chupão feito pela boca de alguém. Voltou-se para o rosto do menino e inquiriu, rispidamente: — Quem fez essa marca em você?

— Marca?

— Para com isso! – Itachi esbravejou, não suportando mais o desentendimento do garoto. Não tinha como alguém chupar o pescoço dele, sem que percebesse. – Para de tentar me esconder as coisas, Naruto! Confie no nii-san. Eu não vou lhe machucar, na realidade, é o contrário, eu quero cuidar de você. Mas para poder tomar conta de você, eu preciso que confie em mim e me conte tudo o que esconde.

Itachi percebeu os olhos do garoto lacrimejarem e seu queixo pender para o peito. Era como se estivesse prestes a chorar ou talvez chateado com o tom de advertência que usara, mas não era essa sua intenção. A verdade é que sentia raiva de imaginar que alguém estivesse abusando dele e, mesmo assim, ele continuar protegendo essa pessoa. Assim, tentou se redimir.

— Naruto, escuta. – ele pediu, erguendo o queixo do pequeno e fazendo-o olhar em seus olhos. — O nii-san não está bravo com você, por isso, não chore. O nii-san só está preocupado, se alguém o está machucando. Posso te pedir uma coisa?

— Uma coisa?

— Sim. Eu posso tirar sua blusa?

Itachi viu a confusão se desenhando na face do menino. Na verdade, nem ele sabia ao certo o que estava pedindo, mas, se houvesse mais daquelas marcas, suas suspeitas de que Iruka mantinha o pequeno ali para se aproveitar dele, deixariam de ser meras hipóteses e se tornariam fatos concretos.

Naruto esticou seus dois braços para cima, deixando evidente a resposta para pergunta. O investigador ficou surpreso, mas se manteve firme no seu intento. Após engolir aquela sensação estranha que fazia seu estômago revirar, apanhou a base do tecido preto e o puxou por cima da cabeça do loiro.

— Vire-se – pediu e foi obedecido. Correu os olhos rapidamente pelas costas do menino e não avistou nenhuma outra marca; somente aquela mancha roxa discreta, quase na nuca. Sentiu algo revirar em seu âmago quando elevou os seus dedos, pensando em tocar aquela região. Contudo, se detivera a milímetros de concluir seu intento, percebendo a rala penugem loira dos ombros dele se ouriçar. Podia ser frio por estar despido. – Certo, pode ficar de frente para mim... – ditou, recolhendo seus dedos em um apertar de punho.

Naruto o encarou. O torso também parecia intocado, mas ele havia cruzado os braços na frente do peito, o que evitava ter uma visão mais detalhada do tórax. Assim, apanhou os pulsos dele, fazendo-o abrir os braços e foi nesse momento que algo o atormentou de uma maneira tão intensa e tão demente, que fez um ardor queimar sua virilha. Os mamilos de Naruto estavam eriçados, os bicos mais rosados e as bases em torno deles inchadas. Sua respiração ficou densa, sua mente o traiu, fazendo-o se imaginar sugando aqueles lindos botões róseos.

Fechou os olhos fortemente e balançou a cabeça de um lado a outro, tentando afastar aqueles pensamentos insanos.

— O que foi, nii-san?

— Nan de. – o moreno engoliu em seco, reabrindo os olhos e fixando-os no rosto da criança à sua frente. Naruto fitava-o com o ar interrogativo. Claro que a criança não podia estar excitada; os mamilos estavam eriçados por causa do frio da madrugada. Era ele, Itachi, quem estava imaginando coisas. Mesmo assim, ainda queria tirar aquela dúvida, precisava analisar a última parte do corpo dele para ter certeza que não havia mesmo mais marcas e que, talvez, o roxo no pescoço fosse devido a alguma peraltice.

— Posso abaixar seu short, Naruto?

Desta vez, os olhos do menino se arregalaram e, junto com aquela expressão, uma pergunta que fez Itachi entreabrir os lábios.

— O nii-san vai fazer o mesmo que ele?

— Ele? – espantou-se. — Quem é “ele”, Naruto? É o Iruka? E o que ele fez?

O menor respondeu através de gestos, abaixou o short conforme lhe fora ordenado, retirando no processo, as meias e a cueca, ficando totalmente nu diante de Itachi. Porém, antes que o investigador pudesse se mostrar impressionado pela antecipação do garoto, ele o assombrou ainda mais ao subir na cama engatinhando e se posicionar com o quadril elevado, enquanto ficava com o restante do tórax de bruços.

Itachi se congelou por um instante e a respiração se prendeu em seu peito. Não soube exatamente o que o moveu, só deu por si quando estava alisando as duas partes avolumadas que formavam os quadris do pequeno. Apartou-as, sem receio, e analisou o orifício anal. Seu coração deu um salto e o ardor em sua virilha concentrou-se. Não era certo fazer aquilo. Não podia deixar-se dominar por aquele momento de insanidade, contudo... precisava fazê-lo. Necessitava examiná-lo para ter certeza se alguém o havia molestado realmente.

“O que está pensando Itachi? Está criando justificativas para se tornar um molestador também?”, mesmo se repreendendo mentalmente, a textura delicada da pele de Naruto fez aquele sentimento – de tocar aquela bela criança mais a fundo — crescer de uma forma avassaladora dentro do investigador. Ele não precisava de provas. Os indícios que Naruto acabara de dar, indicavam que ele já fora abusado sexualmente. No entanto, mesmo a sua consciência dizendo ser errado seguir com aquele contato, não conseguiu ser motivado suficiente para desistir, assim, não resistiu a tentação e introduziu seu dedo indicador naquela região que parecia bem apertada. Não demorou muito e ouviu o protesto de dor por parte do pré-adolescente.

— Aii! – o menino, que tinha o rosto abafado no colchão, resmungou.

— É assim que “ele” faz com você, Naruto? – perguntou, afundando o seu dedo na pequena abertura, fazendo leves movimentos de vai e vem. – Ele enfiou só o dedo nessa parte do seu corpo ou colocou algo mais?

— Ai! — o pequeno loiro de costas tentou inclinar o pescoço para olhar o adulto. – Algo aí?

— É... – Itachi sussurrou, tentando conter o tremor que o assolava. Aquela posição de Naruto, vê-lo o encarar com o rosto todo corado... Não podia, mas estava ficando mais excitado. Sentiu seu membro se apertar dentro da calça do pijama, a sua respiração tornou-se pesada e a saliva se acumulou em sua boca... A imagem de Naruto de quatro, seu olhos azuis ainda mais claros, pareciam um convite... Talvez fosse, inconscientemente, mas ele estava lhe tirando o pouco do juízo que tentava manter.

Lentamente, Itachi introduziu o segundo dedo. Era estranho, não estava tão dificultoso. Na verdade, não era estranhamento e sim constatação. Desde que conhecera o pequeno, que nunca fora mencionado pelo padre; imaginou que ele era mantido escondido ali para o bel prazer de Iruka.

— Dói, nii-san! – o garoto reclamou, entre os dentes e apertou os lençóis com as mãos, ao sentir a invasão.

Itachi, ao perceber que o loiro friccionou seu interior dificultando a passagem do seu dedo, o virou, subiu na cama e afastou as pernas dele uma da outra. O investigador percebeu o rosto de Naruto corar violentamente, aumentando ainda mais o brilho daqueles olhos de cor tão sedutora, que estavam marejados, como se estivessem prestes a se derramar em lágrimas. Mas percebeu que o menino tinha um gênio forte e ele não se deixava lamentar facilmente; estava se segurando.

Recolocou os dois dedos dentro no pequeno canal, desta vez, movendo-os rápido, repetindo a sequência do movimento de “entrada e saída”, repetidas vezes, fazendo com que o garoto não suportasse conter sua voz.

— Espera, nii-chan... Tá esquentando, tá muito quente! – Naruto protestava, se remexendo e tentando segurar o braço de Itachi.

— Não está doendo mais, não é?

— ESTÁ SIM! – Naruto gritou, fazendo o coração do mais velho se acelerar ainda mais no peito. A mal-criação do pequeno tornava a tortura mais justificável e até... prazerosa. A sorte do Uchiha era que o quarto do seminarista era no outro extremo da residência, sabia que não seriam ouvidos facilmente. Assim, debruçou-se sobre Naruto e, com a mão livre, apanhou os dois pulsos dele, prendendo-os no alto da cabeceira.

— Não grite. – Itachi pediu, sussurrando no rosto dele. — Agora me responda sinceramente: quem fez isso com você? – insistiu novamente, enquanto intensificava os movimentos.

Naruto apertou o lábio inferior entre os dentes, fazendo com que Itachi se acendesse mais com suas caretas de incômodo. Mas o menino era teimoso, não o respondia. Talvez, tivesse um bom motivo, como estar sobre ameaça.

— Nii-chan... – ele ofegou, voltando a trincar os dentes e retesando o corpo ao sentir o terceiro dedo lhe invadindo o fundo.

— O quê, Naruto?

— Pare...

Itachi continuava duvidoso do quanto Naruto era mesmo “inocente”. Seu terceiro dedo também adentrara o canal sem muita resistência. Seguiu o percurso, fazendo os três dedos chegarem ao limite no interior dele, os retirou e voltou a recolocá-los, percebendo que a reação do pequeno começava a se alterar: primeiro foi o pequeno membro que despontou enrijecido e começou a expelir gotas do líquido perolado; em seguida, foi o tremor que começava a abalá-lo.

— Eu acho que está escondendo algo do nii-chan... Responda, Naruto. É o Iruka? – Itachi não conseguia se reconhecer, nunca em sua vida imaginou tal perversão. Mas não podia negar, estava sentindo um prazer demoníaco ao fazer aquilo. Era como se a excitação por violar alguém, aparentemente inexperiente na arte do sexo, fosse triplicada. Sua respiração se tornou ainda mais pesada. O rosto de Naruto era fascinante: a feição dele contraída, os lábios sendo apertados pelos dentes, todas suas expressões eram altamente excitantes. Seus olhos tinham vida, um brilho felino que desconhecia. Ele era perturbador.

— Está queimando, nii-chan! Tá ardendo bem dentro de mim! Ahhh! – o mais jovem soltou um novo protesto acompanhado de um gemido, enquanto esfregava as pernas no colchão.

O moreno arfou, sentindo-se ainda mais excitado.

— Meus dedos estão chegando no fundo? É aqui que está quente?

— É... Aí... queimando... Estou com medo, nii-chan.

— Não precisa ter medo, Naruto... Se entregue. – Itachi não soube dizer por que dissera aquilo, mas sentia-se embriagado pela beleza excêntrica daquele menino.

Naruto, que havia estreitado os olhos, os reabriu ao ouvir aquelas palavras, fitou o rosto do homem à sua frente, seu coração batia desesperadamente só por estar perto dele. Não queria que o Itachi o abonasse nunca.

— Pro... promete que não vai embora, nii... san? – perguntou, com a respiração entrecortada. Não sentia mais dor com o que ele fazia consigo, somente aquela ardência que não era tão ruim, na verdade, estava gostando da sensação que aqueles toques estavam lhe provocando.

Aquele pedido pegou Itachi de surpresa. Não estava louco, sentiu desejo nas palavras de Naruto... Seus olhos nublaram ao ver a boca do loiro se entreabrir e os gemidos se espalharem pelo o quarto; os orbes azuis reviravam nas órbitas e o quadril dele se movia de encontro aos seus dedos. Sentiu sua ereção pingar e molhar a calça do pijama, porém, segurou a vontade extrema que o assolou de libertá-la e trocá-la de lugar com seus dedos. Mas não. Ainda restava um pingo de lucidez na sua mente e foi nela em que se apegou para não cometer a maior loucura da sua vida.

Soltou os punhos do menino e, no mesmo instante, ele se enlaçou em seu pescoço, gemendo de maneira desconexa em seu ouvido. Aquilo foi um incentivo para Itachi aumentar o ritmo das investidas com seus dedos. Naruto estava entrando em êxtase e iria ajudá-lo. Adentrou-o até atingir o fundo do menino e se deteve ali, fazendo movimentos circulares e golpeando com os dedos aquela região.

Um arrepio lhe percorreu ao sentir os dentes dele se fincarem na carne do seu ombro e as mãos pequenas adentrarem seus longos fios e o apertarem com força. Logo, soube o porquê seus dedos foram imprensados pelas paredes internas dele. Extasiou-se com a pulsação intensa que ocorria no interior do pequeno, fazendo-o urrar abafadamente com a boca em sua carne. Ele praticamente rugia, tentando conter toda a injeção de prazer que o orgasmo espalhava por seu corpo. Segundos depois, o corpo de Naruto amoleceu e o investigador deixou-o repousar na cama. Notou o sêmen espalhado pelo ventre dele e retirou os dedos com cuidado de dentro do canal, ouvindo-o resmungar, enquanto o peito subia e descia, buscando regularizar a respiração.

Itachi engoliu em seco, abaixou a calça do pijama e puxou seu membro, que despontou totalmente ereto e pulsante. Passou seus dedos pelo gozo derramado no ventre do pequeno para lubrificar com ele uma das suas mãos e, envolvendo seu órgão, fez movimentos desesperados de vai e vem, estimulando-o. Estava tão excitado que não demorou alcançar o ápice, despejando sua semente junto ao gozo do loiro.

Enquanto sentia o torpor provocado pelo pós-gozo, o peso na sua consciência o assolou. Deixou o corpo cair sobre os joelhos dobrados na cama e observou Naruto ressonando de olhos fechados. Era uma reação comum sentir sonolência, já que o orgasmo proporcionava ao corpo aquele relaxamento sem igual. Foi só nesse instante que Itachi percebeu que a boca do menino estava com um brilho avermelhado. Passou a mão em seu pescoço e sentiu o líquido rusguento, trouxe os dedos à frente do seu rosto para constatar que era sangue. Voltou a cutucar o ferimento e percebeu que o líquido ainda vertia e já escorria para seu peito. Naruto havia feito dois buracos grandes com seus dentes, mas não sentira nada. Debruçou-se sobre o pequeno e passou os dedos sujos de sangue no semblante dele.

— No fim, você continua um enigma para mim.

Itachi deitou-se ao lado do corpo menor e o abraçou, acomodando-o junto ao seu peito. Estava tonto, confuso e sentindo a consciência cada vez mais pesada. Havia acabado de abusar de uma criança e isso fazia de si um criminoso. Logo ele, um homem da lei, que deveria zelar pela proteção de um menor, fazer aquilo... Era inadmissível, por mais que Naruto tivesse dado provas suficientes que havia gostado, não podia ter feito aquilo. Afagou a cabeleira dourada no alto da cabeça e depositou um beijo naquela região. Demorou, mas depois de algum tempo, foi abatido pelo cansaço e embalado em um sono profundo.

Foi o tempo de Itachi começar a ressonar para o pequeno loiro se desvencilhar dos braços do adulto. Vagarosamente, depositou os pés nus no chão e ficou algum tempo admirando o mais velho deitado na cama. Um sorriso estranho adornou-lhe os lábios, até ficar grande o suficiente para deixar visível um par de longas presas, no mesmo instante em que seus olhos brilharam, mostrando não mais os límpidos azuis que fascinaram o investigador e sim, dois orbes vermelhos, flamejante e de pupilas invertidas.

Continua...

1-\t ANBU — Ansatsu Senjutsu Tokushu Butai (Esquadrão Especial de Assassinato e Tática) – Fonte: Wikipédia.

2-\t Ne – raiz.

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