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[Naruto] Redenção - Capítulo 11, escrita por Andréia Kennen

Capítulos: Prólogo 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Epílogo
Autor: Andréia Kennen
Fandom: Naruto
Gênero: Drama, Lemon, Mistério, Romance, Suspense, Terror, Tragédia, Universo Alternativo, Yaoi
Classificação: 18 anos

Status: Completa
Resumo: Sinopse: Japão, 1890, transição do período Edo para Era Meiji, um jovem brilhante e recém formado investigador é incumbido de um caso estranho em um povoado afastado do grande centro urbano do país. Descrente da causa que estava motivando a série de assassinatos no tal vilarejo, ele segue para o local, certo de que iria desmascarar algum falsário psicopata, e ganharia, enfim, seu lugar de destaque na policia da capital. Contudo... Queria o destino que o mal que aterrorizava aquela região, não fosse uma mera crendice popular. [ItaNaru. Shota. Yaoi. + 18. Drama. Terror. Suspense. Sobrenatural. Lemon.]


Redenção

Revisado por Blanxe

Capítulo 11 (final) – Redenção

“A lembrança da felicidade de ontem,

é a angústia de hoje;

Ou agonias do agora

tiveram suas origens nos êxtases daquilo

que outrora podiam ter existido...”

[Berenice – Edgar Allan Poe]

O sol nascera radiante naquela manhã. No lugar do que fora a funerária da cidade, havia somente cinzas e assim o lugar iria permanecer de acordo com a vontade dos moradores da Vila da Folha que, enfim, mostraram suas feições transtornadas diante da tragédia que ocorrera levando vários pais de família, mas que marcara o fim dos acontecimentos macabros que abalaram o lugar.

O mistério do demônio fora solucionado. Descobriram que os responsáveis pelos assassinatos não tinha nada haver com “demônios” e que, na verdade, era um assassino, humano, contratado pelo funerário e seu jovem aprendiz que estavam envolvidos com rituais satânicos a fim de despertar demônios verdadeiros.

Também foi descoberto onde estavam os corpos dos moradores desaparecidos, e estes foram resgatados de uma cripta na floresta e devolvidos para serem velados e enterrados por suas famílias. Interinamente, a jovem viúva de Asuma Sarutobi — Kurenai —, foi nomeada governante da vila.

Orochimaru fora encontrado morto junto com os corpos dos desaparecidos e de um menino que fora identificado como auxiliar do assassino. Já Zabuza e Kabuto foram encontrados junto com os cadáveres nas proximidades da funerária.

Mesmo depois de tudo solucionado pelo investigador trazido por Iruka da capital, ainda se ouvia rumores estranhos. Os adultos que sobreviveram relataram que havia mesmo uma criança demônio, revestida de um manto de fogo, com olhos vermelhos flamejantes, garras e presas de uma fera que devorava carne humana. Por outro lado, as crianças que presenciaram parte dos acontecimentos falaram que havia um garoto sim, mas que este parecia um anjo, de cabelos loiros, olhos azuis e sorriso radiante, que os defendeu até o último instante. De qualquer forma, fosse o que fosse, fora embora para o seu mundo, pois simplesmente desvanecera no ar. Ninguém encontrara seu corpo, ou algum vestígio de sua existência.

A mulher de olhos castanhos — quase em um tom avermelhado —, que segurava a pequena filha de um ano e meio nos braços, acompanhada do senhor Inoichi e das crianças Chouji, Shikamaru e Ino, reverenciou o investigador.

— Nem sei como agradecer por ter resolvido tudo, Kakashi-san.

— Yare, Yare... Assim me deixa encabulado, Kurenai-san. O padre e o meu assistente fizeram todo o trabalho duro, eu só encerrei o caso. — ele sorriu, coçando a parte de trás da cabeça e segurando a mãozinha da pequena que acenava para ele do colo da mãe. — Acha que vai ficar bem no cargo?

— Se o Inoichi-san me ajudar como prometeu, acredito que sim.

— Farei o possível. — o homem loiro assentiu, repousando a mão sobre a cabeça da filha que estava ao seu lado. — Afinal, minha filha está viva. Eu quero fazê-la esquecer de tudo que viu naquela noite horrível e tentar transformar essa vila em um lugar verdadeiramente pacífico para se viver a partir de agora.

— E nós também ajudaremos a tomar conta da vila, acho que era isso que o Itachi-san iria querer da gente, né, Shikamaru? — Chouji falou, abocanhando mais um onigiri dos vários dispostos em um pequeno obento que ele carregava.

— Cale a boca, Chouji... — o outro menino balbuciou, coçando um dos ouvidos com o dedo mindinho. — Não prometa as coisas no lugar dos outros.

— Você só não quer se comprometer porque tem preguiça, Shikamaru!

O garoto bocejou em resposta, fazendo o grupo rir.

— Diga tchau pra ele por nós, ojii-san. — Chouji pediu. — Diga para vir nos visitar qualquer dia.

— Darei o recado, sim. Mas, por favor, não me chame de ‘ojii-san’, é Kakashi-san.

— E quanto ao filho do Danzou, Kakashi-san? — a mulher o lembrou.

— Não se preocupe. Como ele não tem mais ninguém aqui, irei encaminhá-lo para um lar de adoção, ou quem sabe... — o homem suspirou. ­ — Estou ficando mesmo velho... Acho que está na hora de ter uma família, talvez, se ele quiser viver comigo...

— Isso me deixaria realmente aliviada. — a mulher sorriu e o reverenciou novamente.

— Cuidem-se! Até mais!

— Ja ne! — os garotos acenaram.

O homem entrou na carruagem, que agora seria guiada por um cocheiro.

— San, no caminho, gostaria de fazer uma parada no seminário, por favor.

— Sim, senhor.

...

Quando a carruagem parou diante do seminário, Kakashi desceu. Adentrou o terreno analisando a primeira construção do local. Achou o lugar grande e imponente, com sua arquitetura européia, que dava ao lugar um ar de chalé inglês. Estacou diante da porta e após as batidas sem resposta, forçou o trinco; certificando-se que estava mesmo trancada, continuou caminhando até chegar ao prédio ao lado, uma capela. Essa estava com a porta aberta; encostou-se ao beiral da entrada e ficou observando em silêncio o rapaz moreno —que agora vestia roupas convencionais —, ajoelhado diante do altar. Ele fez um último gesto religioso erguendo os olhos para o crucifixo na parede e levantou-se, apanhando a mala ao seu lado. Quando finalmente Iruka se deu conta que estava sendo observado, sobressaltou-se.

­— Kakashi-san! — exclamou, levando a mão ao peito. — Não faça isso, por favor.

— Gomem, gomem, não quis assustá-lo. Quer que eu ajude com isso? — apontou a mala.

— Está tudo bem. — assentiu, aproximando-se do investigador e ficando de frente com ele ao encostar-se no beiral do lado oposto; a imagem do crucifixo ao fundo ficando entre eles.

— Tem certeza mesmo que quer deixar esse lugar? — Kakashi perguntou, admirando o interior da capela. — É uma estrutura realmente incrível.

— Sim, tenho. — deu a resposta prontamente. — Eu cometi muitas injúrias, Kakashi-san. Seria hipocrisia da minha parte continuar querendo ensinar as doutrinas divinas enquanto a minha fé está tão abalada; como se não tivesse acontecido nada. Ainda por cima, falhei com o meu Deus ao aceitar a proposta daquele lunático... Tantas pessoas perderam suas vidas. Nem que eu viva em inteira penitência de agora em diante, jamais irei pagar por todos esses crimes.

— Você não cometeu crime algum... — o homem meneou a cabeça e repousou a mão sobre o ombro de Iruka. — Não foi você quem tirou aquelas vidas.

— Claro que foi por minha...

O dedo indicador do investigador sobrepôs os lábios do rapaz que arregalou os olhos; surpreso e confuso com aquele toque. Não entendera porque o coração se desesperara daquela forma por causa de um gesto tão insignificante como aquele; sentiu sua face arder. O dedo do investigador descobriu os lábios de Iruka em seguida. O rapaz sentiu-se ainda mais indigno de seguir as doutrinas sacerdotais. Afinal, não era normal ter aquele tipo de reação dentro da morada de Deus e diante da imagem do Filho crucificado.

— Não fique assim... — Kakashi pediu, ajudando-o a puxar a porta e fechar a capela. — Você ainda é um rapaz jovem, tem muito que aproveitar da vida.

— Eu sinto que quero recomeçar também. — Iruka confessou. — Mas tenho receio ao pensar em como.

— Em primeiro lugar, deveria tentar outra profissão. Acho que você daria um bom professor para crianças lá em Edo. Posso indicá-lo. Além disso, sinta-se a vontade em hospedar-se na minha casa o quanto tempo for preciso, eu vivo sozinho e a casa é grande.

Iruka parou, olhando as costas daquele homem que agora caminhava na sua frente. Havia algo perturbador em seu peito ganhando intensidade. Kakashi era realmente bondoso, como Minato fora. Estava feliz de tê-lo encontrado.

— Doushite? — o investigador perguntou, ao virar-se e perceber que andava sozinho. O investigador viu Iruka curvar o torso para frente e o reverenciar.

— Não sei como agradecê-lo, Kakashi-san. Mas, de qualquer forma: muito obrigado.

— Não se preocupe com isso, apenas apresse-se. — Ele esperou o rapaz alcançá-lo para seguirem lado a lado rumo à carruagem. — Esse lugar vai ficar bem, sem ninguém cuidando?

— Ie... — Iruka negou em um balançar de cabeça. — A diocese logo deve mandar um substituto para cá.

— Hm. Entendo.

— E como está o Itachi-san?

— A operação foi bem sucedida, se não tivéssemos nos apressado em resgatá-lo, certamente ele não teria sobrevivido. Parece que por muito pouco a adaga não atingiu um ponto fulminante. Acho que existem mesmo milagres, padre. Itachi estar vivo pode ser considerado um.

— Eu não sou mais “padre”, Kakashi-san. Por favor, me chame só de Iruka.

O homem estreitou os olhos e sorriu, abrindo a porta da carruagem.

— Certo, Iruka-kun... né?

— Hm. — ele concordou, envergonhado. — Melhor assim. — disse, entrando e se acomodando no banco dentro do veículo. Kakashi entrou logo atrás, fechando a porta e sentando-se ao lado dele. — Eu quero muito falar com o Itachi-san e saber o que aconteceu. Espero que ele tenha uma resposta para o desaparecimento do Naruto. Tenho esperanças de que ele tenha. Afinal, ninguém soube nos relatar ao certo o que ocorreu aquele dia.

A carruagem ganhou movimento e o homem mais velho observou o rapaz, que apertava as mãos uma na outra, aparentemente nervoso. Em seguida, direcionou sua atenção para a paisagem que se destacava pela pequena janela. As folhas das árvores frondosas caíam com a chegada do outono e a construção tão imponente ia sendo engolida pelo verde conforme se distanciavam. Achou prudente não verbalizar aquilo que veio a sua mente e, por isso, só respondeu despretensiosamente:

— Sou da[1], né...

...

Havia muito sangue espalhado pelo chão, poças e mais poças de um sangue escuro, coagulado; apodrecido. Havia cabeças decepadas espalhadas, cujos olhos moviam-se seguindo seus passos. Caminhava tentando desviar-se dos corpos mutilados e não prender-se naquilo que mais parecia um campo de guerra após a explosão de uma bomba. Via ao longe um facho de luz dourado desenhando-se no horizonte. Era o sol que se esforçava para nascer naquele ambiente obscuro. Sentiu-se ansioso para alcançar a claridade e iniciou uma corrida, mas, quanto mais corria, mais sentia o corpo pesar e a falta de ar ferir-lhe o peito.

Levou a mão até o coração e se deteve ao perceber a adaga, com símbolos estranhos, incrustada de jóias, cravada em sua carne enquanto o líquido carmesim escorria. Desesperou-se e tentou puxá-la, mas não conseguiu. Não tinha forças. Quis voltar a andar, mas suas pernas se arrastavam. Olhou para o chão e viu mãos em decomposição agarradas em seu tornozelo. O corpo em meio ao lamaçal de sangue tentava se erguer, olhos amarelos e que lembrava um réptil, a língua bifurcada escorregava para fora da boca e era tão gigantesca que quase alcançara sua face.

“Um corpo... eu preciso de um novo corpo...”

O rapaz franziu as sobrancelhas, notando que aquela figura ofídia parecia fundida a outro corpo, pois na lateral do rosto via-se outra face, a de um adolescente de óculos. Juntos pareciam um tipo de monstro de duas cabeças. Fez uma cara de repúdio e cobriu o nariz com as mãos, tentando evitar o odor fétido que impregnava o ar devido à carniça em volta.

“Nii-san, venha!”

Itachi espantou-se ao ouvir aquela voz. Voltou-se para a direção do horizonte e viu que alguém lhe acenava; esperando por ele. Seu ânimo se reavivou. Puxou o pé que estava sendo preso e, sem se importar em ter cuidado onde pisava, correu, correu na direção do garoto. Enquanto corria, outras mãos foram se erguendo daquele lamaçal, tentando impedi-lo de seguir, pedindo por ajuda, chorando.

“Ajude-nos... Ajude-nos...” repetiam em um eco agonizante.

Havia compreendido, não precisavam de ajuda, queriam na verdade prendê-lo em meio aquela podridão junto com eles. “Não, me soltem! Eu não posso ficar aqui. Soltem-me!”, enquanto tentava se livrar dos agarres, olhou para o garoto e percebeu que ele que ficava cada vez mais distante; menor. “Não... Não desapareça! Espere, por mim!”

“Estou te esperando, nii-san! Venha rápido!”

“Naruto! Narutoooo!”

...

A enfermeira avançou pelo corredor ao ouvir o baque de algo caindo em um dos quartos, adentrou o cômodo rapidamente com uma lamparina e repousou o objeto e a prancheta sobre a mesa. Foi até a cama do rapaz que gritava por alguém com os braços estendidos para cima e tentou acordá-lo.

— Uchiha-san! Acorde! Está tendo um pesadelo! Uchiha-san!

— Naruto! Espere, Naruto!

A mulher deu tapas leves no rosto do paciente e conseguiu fazê-lo se acalmar. No entanto, quando o jovem abriu os olhos, a mulher deu um pulo para trás e gritou.

— Ahhhhhhhhhhhhhhh! Deus, o que é isso?!

A enfermeira paralisou-se de medo, encostada a parede. Outro enfermeiro adentrou o quarto, também assustado.

— O que está havendo, Shimura-san?

— Os olhos dele, os olhos... — a mulher apontava na direção do paciente, com o braço trêmulo. — Estão vermelhos! O formato das pupilas parece o desenho de uma cruz ou algo parecido, é horrível!

O homem, que também entrara segurando uma lamparina, aproximou-se do paciente e tocou-lhe o ombro, erguendo as chamas a altura do rosto dele, para confirmar o que a colega havia dito.

— Ei, você está bem?

Itachi, que esfregava os olhos com os punhos fechados, os descobriu e ambos os enfermeiros olharam-se em estranhamento. O enfermeiro, que era um senhor alto e de cabeça raspada, ergueu os ombros para mulher, confuso.

— Shimura-san, são olhos negros; normais.

— Mas eu vi... Eu juro que vi, Yakumo-san!

— Onde estou? — Itachi perguntou.

— Talvez, você só tenha imaginado coisas. Precisa parar de fazer um plantão noturno atrás do outro, Shimura-san — ele suspirou, respondendo ao rapaz: — No hospital, meu jovem. Esteve em coma durante alguns dias.

...

Itachi acordou após ficar uma semana em coma. Depois disso, permaneceu mais duas semanas internado, totalizando uma estadia de três semanas no hospital. Ficara sabendo, através das visitas de Iruka e Kakashi, que toda a situação no vilarejo havia sido resolvida. Porém, diferente do que os dois esperavam, ele não pôde dar nenhuma resposta sobre o que acontecera naquela noite; pois desacordara antes do desfecho e nem acreditava no fato de ainda estar vivo. Ficou preocupado quando soube que Naruto estava desaparecido e quis quebrar o resguardo pós-cirúrgico para procurá-lo, mas fora impedido pelos médicos. Iruka se propôs a procurar pelo garoto e duas vezes por semana ia até a Vila da Folha. Mas Itachi sabia que aquela tarefa era sua, só ele era capaz de encontrar Naruto, porque os dois compartilhavam daquela estranha ligação. Conseguia senti-lo, vê-lo em outro espaço, ouvir seu chamado mesmo que longínquo...

Itachi também notou que seu tutor relutava em acreditar naquela história do menino-demônio, principalmente depois dele ter lhe perguntado se ainda via Sasuke.

“Sasuke está morto, Kakashi-san. Há muito tempo”, afirmou para o professor que apesar de aliviado com sua resposta, continuava com aquele olhar estranho, como se tivesse analisando-o.

“Não está tentando me enganar, não é, Itachi? Deveria visitar o túmulo do Sasuke, então, não é?”

Na verdade, Itachi não queria pensar em Sasuke naquele momento. Não queria ver túmulo algum, vivia vendo túmulos e gente morta em seus sonhos. Mas sentiu algo estranho naquele pedido. De repente, lembrou-se de um dos seus sonhos, um que vira quando ainda estava hospedado no Seminário, onde um estranho observava as lápides da sua família. Naquele mesmo dia, decidira ir visitar o túmulo do irmão; para alegria de Kakashi.

Ao chegar ao cemitério, caminhou entre as lápides, por aquele cenário o qual andara várias vezes em seu subconsciente. Ao sentir aquela sensação agonizante de déjà vu, foi abatido por uma vertigem. Parou e inspirou profundamente, esperando seu organismo se acalmar. Apalpou também o peito, notando que não havia nenhum buraco ali e nem sangue vertendo abundantemente. Também bateu com a ponta do sapato no solo e certificou-se de que nada em estado de putrefação estava se erguendo dali. Quando constatou que tudo parecia em seu devido lugar, continuou o percurso, tomado cada vez mais pela ansiedade de encontrar respostas.

O dia estava quente, o Sol brilhava em um céu azul resplandecente. Deteve-se, quando conseguiu visualizar o local onde estavam os túmulos dos seus familiares. Não se impressionou, tanto o quanto imaginava, ao visualizar as costas de um homem alto e de longos cabelos negros, detido ali.

Aproximou-se calmamente e parou ao lado daquela figura. Ele estava de frente ao túmulo do seu pai. Achou estranha a vestimenta dele: um sobretudo negro que mais parecia uma capa, mesmo no calor adverso que fazia naquele início de outono. Por debaixo da capa, vestia um tipo de uniforme, a gola cumprida da camisa como a batina de um sacerdote onde havia duas pequenas abotoaduras circulares com pentagramas ao centro. Também notou o mesmo símbolo bordado na lateral do sobretudo e na parte que dava para ser vista da luva, que revestia as mãos enfiadas no bolso do calça. Ele também usava um tipo de óculos que nunca vira antes, as quais as lentes eram escuras.

Itachi voltou-se para os túmulos, tentando lembrar-se de aonde vira aquele símbolo. Queria perguntar quem era e da onde conhecia seu pai, mas algo lhe dizia que já sabia aquela resposta. Então, apenas começou a limpeza no lugar, retirando as flores mortas de cima dos túmulos.

— Você não vem muito visitá-los, não é?

— Não. — respondeu secamente.

— Sabe quem eu sou?

— Hm. É um Pregador. Bem chamativo por sinal.

O homem sorriu, agachando-se, descalçando as luvas das mãos e ajudando-o na tarefa de limpar o túmulo.

— Você não faz orações?

— Eu não creio em deus algum. Não tenho para quem fazer orações.

— Um ateu, hã?

Itachi parou repentinamente ao tocar, sem querer, a mão daquele estranho. Em questão de segundos viu as lacunas daquela noite que recebera a punhalada serem preenchidas como as peças faltantes de um quebra-cabeça. Visualizou quando aqueles homens chegaram a cavalos, todos vestido como o que estava ali presente. Os demais integrantes do grupo o chamavam de Madara-sama. Os olhos vermelhos com a íris idêntica aos símbolos gravados nas roupas, nas armas e até nas selas dos cavalos. Rapidamente, detiveram Kabuto e com zarabatanas atingiram os moradores vivos que caíram ao solo. Foi então que Itachi viu Naruto rosnando, enfurecido diante do seu corpo desfalecido.

“Ainda é um filhote... ha, ha! Mas é lindo.”

As imagens sumiram, quando a mão que segurava foi puxada.

— Não foi educado da sua parte fuçar nas lembranças alheias.

— Onde ele está, maldito?! — Itachi perguntou, agarrando-se ao colarinho dele. — Vocês não podem...

— Oh, seu poder é mesmo impressionante. — o homem saiu do agarre dele ao se levantar. — Ele é uma criança muito birrenta e difícil de ser domada. Não para de falar no “nii-san”... Humpf. Como se monstros tivessem irmãos. Está sedento de fome e os padres querem matá-lo. Mas somente um legítimo pode fazê-lo, no caso, eu. No entanto, não me senti motivado para tal ainda.

— Quem é você, kisama?

— Uchiha Madara. Acho que sou o seu... decavô?

— Isso não é possível, se for assim, você seria...

— Imortal? — ele concluiu a frase de Itachi. — Não veja como se isso fosse um privilégio, ser o mais antigo dos Pregadores significa apenas que vi mais mortes e coisas bizarras que qualquer outro.

— O que pretende fazer com o Naruto?

— Eliminá-lo, claro.

— Mas se você é o único que pode e ainda não se motivou para tal, é porque tem algo em mente.

— Sim.

— O quê?

O homem retirou os óculos, mostrando os mesmos olhos vermelhos que Itachi vira em sua mente.

— Eu venho fazendo esse pedido sempre a um novo descendente, de tempos em tempos, o que inclui seu pai. Ninguém aceitou até o momento, mas algo me diz que com você será diferente. Por que isso poupará a vida do seu precioso... Naruto, não é? Convenhamos, apesar de irritante, é mesmo uma bela criança-demônio, hã? Ouvi dizer que demônios têm a capacidade de intensificar a sensação de prazer na hora do sexo, juro que fiquei intrigado...

— Dispenso suas observações, ojii-san. — Itachi usou o vocativo em tom de desdém. — Diga-me o seu preço.

O homem sorriu, satisfeito com aquela resposta. Depois disso, ele conduziu Itachi até a diocese da capital. Fora guiado a uma base subterrânea e lá reconhecera os outros homens que vira em sua mente, treinando exaustivamente seus corpos e poderes. Madara explicou que ali era a base dos Pregadores do Japão, mas que havia grupos como àqueles em todos o continentes. Porém, Pregadores legítimos e os quais a igreja tinham ciência de sua existência, eram somente três. Sendo ele o mais velho.

O “decavô” também explicou que os demônios se manifestavam em três tipos de elementos: fogo, água ou ar.

— Os de elemento fogo são os mais raros e poderosos, não por seu poder em si, mas por sua natureza hostil e indomável. Sabemos que um demônio é mesmo forte quando ele tem a capacidade de se personificar em feras. Os de poder fogo se personificam em animais terrenos. Os de ar, em alados e os de água, em seres marítimos. Os pregadores não se personificam em bestas, indiferente do seu poder, porque a natureza humana oprime a demoníaca quando aceitamos lutar em nome de Deus. Para cada um desses elementos deve existir sempre um pregador de mesmo nível e poder que seja capaz de detê-lo. Os similares do bem e do mal se atraem. E é por isso que você deve sentir por esse garoto algo intenso que pode ser interpretado de várias formas: atração sexual, fome ou sede. Os Concebidos também nos farejam à distância, por isso, trabalhamos aqui elaborando armas e formas de despistá-los.

A porta de aço onde Naruto estava, fora destrancada, havia vários desenhos de selos estranhos na entrada, no chão e nas paredes. Assim que ambos adentraram o ambiente, Itachi ouviu um urro e algo avançou em sua direção. Só não os atingiu porque o homem ergueu a palma de uma das mãos e a criatura bateu em um tipo de barreira invisível que vibrou em ondas que reverberam pelo pequeno quarto. A criatura caiu no chão, mas em segundos estava batendo contra a parede invisível novamente. O Pregador fez um símbolo com as duas mãos, seus olhos brilharam e do chão se ergueram barras do mesmo material rochoso do piso e prendeu a criatura em uma espécie de jaula. Itachi identificou Naruto apesar daquele manto de fogo estar borbulhando em torno dele, fazendo sua pele desprender da carne.

— Naruto, o que houve?!

— Eu disse: o tipo dele são os demônios mais problemáticos com os quais lidamos. Eles são, na maioria das vezes, poucos racionais e só agem por impulso e instinto. Ele está fora de si, e não consegue controlar o manto. O corpo dele é humano e mais alguns dias assim, ele estará somente os ossos. — o homem virou-se pra o parente. — Então, Itachi, agora é com você: o que me diz da proposta que fiz?

— Você disse que eu teria um tempo, quanto? — perguntou, com os olhos fixos em Naruto.

— Dez anos.

— Vinte. — negociou.

— Quinze — o homem ainda contrapôs.

Itachi suspirou.

— Não acha que quinze anos é tempo suficiente para uma lua de mel?

­— Quinze — concordou por fim. — Agora, por favor, solte-o.

— A minha presença o irrita, eu irei me retirar. Alimente-o com seu sangue e ele irá restabelecer-se rapidamente. Quando estiver recuperado, venha até minha sala para que eu lhe passe os detalhes do contrato.

Assim que o homem deixou o ambiente as barras em torno do loiro retornaram para o chão. Itachi não esperou ele se recuperar e o abraçou, lutando contra o ardor das chamas que crepitavam em torno do corpo. De início, ele ainda urrou, se debateu, mas lentamente, as labaredas foram abrandando e, algum tempo depois, Itachi acolhia em seus braços uma criança ferida e que chorava compulsivamente com o rosto escondido em seu peito.

— Vai ficar tudo bem, Naruto. Desculpe-me por tê-lo feito esperar por tanto tempo.

Itachi saiu da diocese com uma tatuagem do símbolo dos pregadores na altura do ombro esquerdo em suas costas. Ela formalizava o contrato e ficaria visível quando chegasse o momento de cumprir o acordo de substituir Madara. Enquanto não chegasse esse momento, poderia viver normalmente. Era contraditório escolher matar demônios pela vida de um único, mas fora a única forma que encontrou de proteger Naruto. Achava que o espaço de quinze anos seria o tempo necessário para que o loiro amadurecesse e assim pudesse compreender sua decisão no futuro, quando chegasse a hora de deixá-lo.

O sol desaparecia no horizonte quando atravessou o portão da casa de Kakashi segurando o garoto pela mão. Naruto tinha um poder de cicatrização incrível, pois ele estava quase totalmente recuperado dos ferimentos que começaram a se fechar no momento em que ele ingerira do seu sangue.

— Iruka-sensei?!

O homem que varria o quintal e juntava as folhas das árvores em um único monte, paralisou-se e deixou o cabo da vassoura escorregar entre seus dedos e tombar no chão de terra ao ouvir seu nome. O garoto que o ajudava colocando as folhas em um saco também parou, preocupado com o estado de choque dele.

— Iruka-san, tudo bem?

Kakashi, que estava lendo sentado no chão da varanda, também largou o livro de lado e levantou-se, olhando admirado na direção deles. Aquele momento da corrida do garoto ao encontro do homem que tinha como pai e das lágrimas que adulto e criança verteram, emocionados pelo reencontro, fez Itachi acreditar que havia feito a escolha certa.

O vento soprou forte fazendo o monte de folhas se espalharem novamente, pressentia um tempo de calmaria; quinze anos de calmaria. Uma grande paz o invadiu, fazendo-o mover os lábios espontaneamente naquele gesto que era tão incomum para ele, mas que refletia exatamente a felicidade que sentia por dentro; um gesto realmente prazeroso quando brotado daquela forma tão natural... Era simples, singelo, mas verdadeiro...

Sorriso.

Fim.

[1] Sou da – normalmente traduzido como “quem sabe”, ou seria “é, basicamente...”;

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