Capítulos: Prólogo 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Epílogo
Autor: Andréia Kennen
Fandom: Naruto
Gênero: Drama, Lemon, Mistério, Romance, Suspense, Terror, Tragédia, Universo Alternativo, Yaoi
Classificação: 18 anos
Status: Completa
Resumo: Sinopse: Japão, 1890, transição do período Edo para Era Meiji, um jovem brilhante e recém formado investigador é incumbido de um caso estranho em um povoado afastado do grande centro urbano do país. Descrente da causa que estava motivando a série de assassinatos no tal vilarejo, ele segue para o local, certo de que iria desmascarar algum falsário psicopata, e ganharia, enfim, seu lugar de destaque na policia da capital. Contudo... Queria o destino que o mal que aterrorizava aquela região, não fosse uma mera crendice popular. [ItaNaru. Shota. Yaoi. + 18. Drama. Terror. Suspense. Sobrenatural. Lemon.]
Como devem ter notado, a cada novo capítulo irei trazer destacados trechos dos trabalhos do divo dos poemas medonhos: Edgar Allan Poe. Sim, é sinistro. Mas tem tudo haver com o ambiente da fic. :D
Redenção
Capítulo II – Devaneios
Revisado por Blanxe
“[...] um a um foram caindo os foliões pelas salas orvalhadas de sangue,
e cada um morreu na mesma posição de desespero em que tombou no chão.
E a vida do relógio de Ébano dissolveu-se junto com a vida do último dos dissolutos.
E as chamas dos braseiros extinguiram-se. E o domínio ilimitado das Trevas,
da Podridão e da Morte Escarlate, estendeu-se sobre tudo”
(Morte Escarlate - Edgar Allan Poe)
Um ranger de porta. Pingos de um sangue escuro gotejavam no chão daquele lugar frio, úmido e obscuro. Os zumbidos das varejeiras atiçadas pelo mau cheiro se propagavam em todo o ambiente. A gota do carmesim coagulado escorreu pela carne já em estado de putrefação e juntou-se a poça negra no chão, fazendo movimentos de ondas.
A pessoa que entrara naquele lugar se paralisou; admirava-se daquela pintura demoníaca por mais que os anos se passassem a fio. Coçou o nariz encoberto por um tecido sujo, tentando afastar aquele odor terrível. Pelo menos, não sentia mais ânsia de vômito.
Andou, arrastando um saco negro no chão imundo. Desviando-se tranquilamente dos corpos que jaziam ali inertes; pendurados no teto por ganchos enfiados nos pescoços sem cabeças, transformando aquele lugar em um verdadeiro açougue humano.
Se não fosse uma cripta, o cheiro provavelmente chegaria ao vilarejo. Com a respiração cansada, se deteve de frente a uma imensa mesa de pedra que estava toda encardida por manchas. Abaixou-se até o saco e o apanhou no colo, despejando-o sobre a mesa.
Ascendeu a lamparina ao lado, iluminando uma pequena maleta empoeirada. Abriu-a e dentro dela reluziu uma mistura de ferramentas, talheres domésticos e até, alguns instrumentos cirúrgicos. Apanhando um bisturi, a pessoa fez uma incisão no saco plástico não se aguentando de ansiedade em rever a bela peça que havia conseguido. Era raro aquilo acontecer.
A tez branca e ainda mais pálida devido à ausência de vida daquele menino o excitou. Passou sua língua pelos lábios encoberto pela máscara improvisada, não conseguindo conter a saliva dentro da boca, que umedecia o pano sujo.
— Lindo... – sibilou de forma rouca, enquanto escorria seus dedos revestidos por uma luva de couro negra, no corpo do jovem. – Lindo, lindo, lindo... – não se cansava de repetir. — Tão pálido. Pena que logo começará a apodrecer... – o estranho falou, desatando o nó da gravata do cadáver, enquanto aproximava-se dos lábios deste.
As íris invertidas e de tonalidade anormal, dobraram de tamanho, admirando aquela peça tão preciosa. O ser tremia levemente, sentindo uma necessidade insana de experimentar aquela criança morta. A fome lhe corroia as entranhas. Sempre que ficava ansioso, agia com pressa. Não era essa a sua intenção. Desejava saborear com comedimento.
Devagar, passou a despir os trajes sofisticados que encobriam o cadáver. Nunca vira alguém daquela vila com vestimentas tão finas, notava–se de longe que era um forasteiro — um pequeno lorde — ou algo acima. Nada comparado aos moradores insignificantes do local.
Enquanto o despia, o homem — pelo menos na aparência física -, aproveitava para molestar cada parte do corpo mais jovem. Escorria sua língua pelos ferimentos feitos, provavelmente por presas e garras afiadas, principalmente o do pescoço. Lambeu o sangue ressequido daquela região, enquanto apertava os pequenos mamilos que não podiam mais ser ouriçados.
— Seria um virgem, pela idade, talvez... – pensou alto, após enfiar uma das mãos dentro da calça que abrira e adentrar com um dos dedos o orifício anal do cadáver. Gargalhou maquiavelicamente ao idear aquilo, acreditando que seu achado poderia ser ainda mais raro.
O ser se debruçou sobre o pequeno, apertando o maxilar de ambos os lados da face, com cuidado, para que suas unhas longas, finas e afiadas não deformassem uma tez tão perfeita. A pressão fez com que a boca do cadáver se entreabrisse. Erguendo o pano o suficiente para descobrir a boca, retirou a língua salivante para fora da boca e direcionou-a na abertura, enfiando-a até o limite que conseguira. Só então, passou a sugar os lábios sem vidas de forma demente e urgente.
Subiu sobre o frágil e endurecido corpo, roçando seu ventre ao do que descansava no leito de pedra, com a intenção de satisfazer um prazer fora dos padrões normais.
Estrondos abafados que vinham do lado de fora anunciavam a tempestade que estava prestes a cair.
...
Um relâmpago monstruoso se propagou no céu. A janela bateu com força e a tempestade de vento invadiu o pequeno quarto. Itachi agora entendia por que aquele lugar cheirava a madeira podre. Precisava fazer algo, a chuva estava alcançando o leito. Porém, o ferimento da sua perna não o permitia ser ágil, mas, mesmo com dificuldade, se levantou e pulando em uma perna só, chegou até a janela.
A primeira tentativa de fechá-la foi falha; o investigador até conseguiu colocá-la no lugar, mas no momento em que se abaixou para apanhar o talho que servia de fechadura, a mesma foi rebatida com força contra a parede. Por sorte, havia se abaixado ou teria sido nocauteado. O jovem tentou mais uma vez, puxou a janela que não era tão leve, enquanto a chuva fina chicoteava seu rosto e encharcava suas roupas.
O barulho alto, um novo relâmpago iluminou o terreno do lado de fora, fazendo com que o coração de Itachi cessasse as batidas por alguns segundos. Ao se recobrar do susto, voltou a sua tarefa de tentar deter a chuva que inundava o quarto, encerrando a janela, entretanto, igual ao dia que fora atacado na estrada, teve aquela sensação de estar sendo vigiado. O Uchiha entortou o pescoço para o lado, verificando o quarto atrás de si; estava vazio.
Deduziu que não podia ser o Naruto, o menino lhe contara que todos os dias às sete horas da noite ele e o futuro padre iam rezar na capela que ficava no mesmo terreno, há alguns metros de distância da casa. Fato confirmado pelo próprio seminarista, que após lhe servir o jantar naqueles dois dias, avisava que iria se ausentar por algumas horas, para dedicar-se as orações. Talvez, aquela fosse só mais uma sensação adversa criada por sua mente cansada, afinal, era o segundo dia que estava confinado naquele lugar, remoendo dentro de si a ânsia de ir atrás do irmão, e impossibilitado pela falta de mobilidade, devido ao ferimento na perna.
Retomando a decisão de trancar a janela, Itachi empurrou-a contra o vento forte que insistia em atrapalhá-lo no seu intento e, quando só restava o espaço de uma brecha, um novo clarão o fez notar algo sombrio do lado de fora: alguém, perto da floresta, parado no meio da tempestade. Um arrepio percorreu seu corpo. Pareceu-lhe, de onde estava, a silhueta de Sasuke.
“Ajude-me, onii-san...” ouviu uma voz ao longe, que parecera projetada direto em sua cabeça.
— Sasuke, é você?! Eu estou aqui! Está me vendo?! – Itachi gritou, soltando a janela e deixando-a ser empurrada novamente. Tentou se impulsionar do chão para subir no beiral, mas a dor em seu pé foi mais intensa que sua determinação. – Espere, Sasuke! Eu vou até aí te buscar! – urrou, suplicando para o vulto estagnado.
Voltou-se para dentro do ambiente e procurou algo que pudesse ajudá-lo a pular pela janela. Os olhos do Uchiha rapidamente recaíram sobre o criado-mudo, saltitando em uma perna só. Tomando cuidado para não escorregar na água que já cobria o chão, chegou até o móvel e o puxou com dificuldade, até encostá-lo abaixo da abertura. Subiu nele e conseguiu sentar-se no beiral. Olhou para o chão lamacento e percebeu que a altura não era tão pequena, talvez, mais de um metro. Não se importou, olhou na direção do vulto e o viu do mesmo jeito.
“Talvez esteja em estado de choque...”, deduziu o motivo pelo qual este não se mexia.
— Estou indo, Sasuke! – ao dizer isso, impulsionou o corpo para frente jogando-se de lado para não forçar o pé machucado na queda. Ao cair na poça de lama, sentiu uma pontada no braço que suportara seu peso, no entanto, a motivação não o permitira ficar remoendo a dor por muito tempo.
Tentou pôr-se de pé e foi nesse instante que a depressão lhe assolou. Não havia mais ninguém a sua frente. Apertou os olhos na direção que vira o vulto, mas não enxergara nada. Gritou em desespero.
— SASUKEEEEEEEEEEE!!
Um novo relâmpago cortou o céu tempestuoso. O investigador aproveitou-se da claridade momentânea e girou o pescoço em busca de algum vestígio que lhe provasse que não estava vendo coisas. Porém, se fosse mesmo o irmão, não teria porque fugir, não era? E se tivesse se enganado? E se não fosse Sasuke? E se fosse...
A sua respiração tornou-se pesada de repente, na mesma proporção que o medo que o abalava fazia seu corpo estremecer. Se não bastasse a perna ferida, agora seu ombro também sangrava. Apertou o ferimento com a outra mão. Olhou para a janela de onde pulara. Nunca conseguiria voltar por ali, precisava encontrar a entrada na casa...
Não concluiu seu pensamento, havia algo parado atrás de si. Sentiu o odor fétido e hálito quente, roçando sua nuca. Congelou, sentindo que cada fibra do seu corpo sacolejava.
— Q- q- quem é? – gaguejou a pergunta, batendo os dentes de pavor e de frio.
O Uchiha se auto-recriminou por ter sido tão imprudente em deixar o quarto daquela forma. E o mais torturante: não obteve resposta daquilo que o vigiava. Somente o silêncio. Todavia, tinha certeza absoluta, havia algo atrás de si. Algo que queria brincar com sua sanidade.
— Se- se deseja acabar com a minha vida como fez com o meu irmão, então faça de uma vez, monstro! – incitou a criatura sobrenatural, tentando arrancar desta alguma reação.
Ouviu-se um resmungo, quase parecido com uma risada. A mente de Itachi nublou-se e um instinto louco de sobrevivência o assolou. A única coisa que conseguia pensar era em correr, correr para se manter vivo. Correr para não ter sua cabeça arrancada, para não ter o mesmo destino que o irmão. Não podia ficar parado esperando pela morte.
A dor na perna não o preocupara mais; desaparecera. Os estrondos dos trovões uniram-se ao que pareciam grunhidos atrás de si, fomentando sua angústia e seu desejo de se salvar. Avançou desesperadamente na direção da longa varanda que ladeava a residência, enquanto um arrepio percorria sua espinha dorsal, tropeçou, caiu com o rosto na enxurrada, sentiu que aquilo o alcançaria.
Elevou as mãos na cabeça e o grito que vociferara foi tão alto e agonizante que nem reconhecera como sendo seu. Tremia, exageradamente, enquanto se remexia de um lado para o outro. De repente, sentiu o peso de duas mãos firmes em seus ombros, sacolejando-o e tentando trazê-lo a consciência.
Mas o medo fez sua reação ser contrária: ao ter o ombro puxado com firmeza, desferiu golpes sem rumo, porém, suas mãos foram juntadas e foi, praticamente, arrastado para a varanda e recostado na parede. Dois tapas arderam em sua face esquerda e direita, então, conseguiu discernir a figura do jovem seminarista, gritando assustado diante de si.
— Uchiha-san! Uchiha-san! O que está fazendo?! Por que estava no meio desta tempestade?!
Demorou algum tempo até Itachi se recuperar da aflição e do choque que o assolava. Só depois disso, Iruka conseguiu conduzi-lo para dentro da casa. O padre jogou um manto sobre ele, na intenção de aquecê-lo, enquanto esquentava água em um latão no fogo a lenha.
— Tem uma banheira aqui embaixo. Vou prepará-la para que se banhe na água quente. Precisa tirar essa lama ou irá se resfriar. – o seminarista falava, atiçando as chamas com espeto metálico. — O que deu em você pra sair lá fora nessa chuva, Itachi-san? Tem ciência da loucura que cometeu?
— Eu pensei... ter visto o meu irmão. – ele confessou, um pouco mais calmo.
— Provavelmente foi um delírio.
Itachi soltou um suspiro pesado e gelado. Teve certeza que vira algo e não fora um mero devaneio. Este algo, ainda lhe perseguiu e o acuou. Deveria ser a mesma coisa que levara seu otouto, e por algum motivo, ele também o queria.
Apesar do susto, estava satisfeito com algo: constatara que o ferimento na sua perna não era mais tão incômodo; conseguiu correr, então, podia se movimentar. Iria para cidade na manhã seguinte, nem que precisasse seguir a pé. Não iria perder mais tempo naquele lugar sujo, com aquele padre esquisito que cuidava de uma criança escondido. Sentia pena de Naruto. Não queria deixá-lo só, pelo menos não, até saber de sua história. Talvez, pudesse continuar como hóspede do seminário, se o vilarejo não estivesse tão distante.
— Se eu for caminhando até a vila, padre, quanto tempo eu levarei?
— A pé? Com a perna desse jeito?
— Só responda minha pergunta – pediu, sem paciência alguma com aquele homem.
Itachi percebeu que seu tom ríspido não agradara nada o sacerdote que lhe dirigiu um olhar ressentido. Estava ciente que aquela pessoa era seu salvador e que lhe devia mais do que sua vida. Porém, aquele excesso de zelo o estava irritando. Não precisava daquilo, não era uma criança.
Assim, não se desculpou pela forma seca com que falara — se era isso que ele estava esperando – apenas, manteve-se imparcial, aguardando pela resposta.
O seminarista, ao perceber que seu hóspede falava sério, soltou um breve suspiro e respondeu:
— A pé leva umas seis horas. Mas, tenho uma carroça, a qual eu uso para buscar mantimentos e fazer visitas mensalmente à vila, posso levá-lo amanhã se é o que deseja de verdade. De carroça, levaremos em torno de umas duas horas para chegarmos.
— Perfeito. – Itachi sentiu-se aliviado, finalmente o homem o compreendera. — Se quiser me emprestar somente o cavalo, eu vou sozinho, não precisa deixar os afazeres desse lugar. – O investigador propôs, pensando no pequeno Naruto. Não era bom deixar uma criança sozinha naquele lugar, com o desconhecido rondando-os.
— Não. Estou preocupado com você. Suas condições físicas ainda não são das melhores.
— Padre, isso é exagero da sua parte! Eu estou bem! Um ferimento na perna não me torna um inválido!
— Não estou falando disso, rapaz! Estou me referindo ao seu estado psicológico!
Itachi arregalou os olhos, compreendendo o que o futuro padre estava tentando lhe dizer. Então, desfez a postura ofensiva que tomara: as mãos crispadas e as sobrancelhas juntas. Agora o entendia. A visão de alguém rolando na lama, em meio a uma tempestade e com as mãos nos ouvidos, não deveria ser considerada normal.
— Está achando que estou desequilibrado?
— Não me interprete mal, meu jovem. Você passou por uma grande perda e uma experiência fora do comum, eu não o culpo por estar nesse estado. Só não peça para que eu ignore isso, deixando-o seguir essa viagem, sozinho.
— Eu ainda não perdi meu irmão, padre... Não acabe com as minhas esperanças dizendo que sofri uma grande perda. Por favor. – Itachi pediu, com a voz embargada, aproveitando para se levantar e seguir mancando na direção do banheiro. Estava farto. Não queria mais conversas com o “Homem de Deus” por àquela noite.
O seminarista percebeu que não conseguia — por mais que se esforçasse — manter um diálogo amistoso com o jovem da capital. Itachi, por algum motivo, não confiava em si. Era estranho. Mas não tinha muito que fazer, estava tentando ajudá-lo, mas cabia a ele, aceitar ou não a mão que estava lhe estendendo. Apanhou, com uma toalha, a lata de água que borbulhava no fogo e adentrou o recinto onde hóspede já estava aguardando. Despejou o conteúdo fervente na banheira, temperando a água que já estava ali.
Percebeu que Itachi estava de costas, retirando as roupas sujas de lama.
— O banho está pronto. – informou ao rapaz que desfazia o laço que prendia seus longos cabelos negros. — Bem, depois que você se banhar e dormir um pouco, se sentirá melhor. Vou subir para secar o seu quarto e trocar as roupas de cama. Perdoe-me, Itachi? Não quis desfazer suas esperanças...
O moreno apenas murmurou em resposta, estava muito irritado, tanto, que nem o pedido de desculpas dele fizera com que aliviasse o sentimento de raiva. Era um sacerdote divino, deveria semear a fé ao invés de desmotivar os “irmãos”. Ficou contente quando este saiu do ambiente e o deixou sozinho.
Precisava colocar sua cabeça no lugar. Talvez, o que vira, ou pensara que vira, fosse mesmo só um delírio. Já que, até o devido momento, estava sendo assombrando por uma criatura a qual não conseguira visualizar.
Com uma caneca metálica que estava no chão, o Uchiha apanhou um pouco da água da banheira e despejou sobre sua cabeça, eliminando assim, o excesso da sujeira. O calor do líquido quente limpando-lhe a pele fora mesmo reconfortante. Era como se fosse embora com a imundice, todos os seus medos e preocupações, era exatamente daquilo que estava precisando.
Ao sentir-se limpo suficiente para não turvar a água limpa, pôs um pé, depois o outro dentro da banheira e, devagar, foi sentando-se no espaço que era suficiente somente para um corpo adulto. O investigador escorregou as costas pela louça gelada até submergir todo o corpo; seus longos cabelos flutuaram na água. Ficou assim por um tempo, até que seus pulmões reclamaram a falta de ar. Ao abrir os olhos, ainda embaixo da água, viu duas esferas azuis, planando e cintilando sobre si.
Ergueu-se rápido e o cabelo lambido pela água, pesou em seus ombros. Chacoalhou a cabeça de vagar para eliminar o excesso umidade e então, sentiu algo bom lhe acalentar o peito. Olhar para o rosto infantil e belo de Naruto — que era a única coisa boa naquele lugar tão obscuro — lhe fazia muito bem.
— Oi, Naruto.
— Oi. – o pequeno assentiu com um menear de cabeça. – Você não parece muito bem, Itachi-nii-san.
— É. Eu não estou bem. – foi sincero. — Mas vou melhorar. – ele disse, com um sorriso tão singelo no rosto, que fez o pequeno Naruto também sorrir.
Então, Itachi acompanhou com os olhos o menino se livrar das roupas do corpo.
— Ei, ei, o que está fazendo?
O garoto parou com a mão no cordão que prendia o calção, olhou com estranhamento para o adulto e, mais uma vez, com aquele ar de que fosse óbvio o que estava fazendo, respondeu:
— Ué! Vou tomar banho com você, oras! – informou, baixando o calção e ficando nu.
Itachi não entendeu porque aquele pavor lhe atormentou o âmago. Nunca tomara banho com Sasuke na vida. Na verdade, com ninguém. Não era uma pessoa sociável. Mas, sabia que não conseguiria impedir o menino, que já havia colocado o primeiro pé dentro da banheira e procurava um espaço no vão das suas pernas para se apoiar.
— Não tem espaço para nós dois aqui dentro, Naruto! – argumentou a primeira coisa que passou por sua mente. — Além do mais, se o Iruka aparecer? Ele vai te ver aqui e vai ficar bravo, não vai?
O pequeno loiro abriu um grande sorriso e balançou a cabeça em um não.
— O Iruka-sensei não vai vir. Eu sei. E tem espaço aqui sim, onii-san, olha. – o menino contrapôs, sentando-se de pernas abertas sobre o ventre de Itachi.
O espasmo que percorreu o corpo do investigador fora algo tão atormentador que seu rosto se abrasou no mesmo instante, prendeu o ar no peito e sentiu o coração acelerar o compasso. Além disso, para se acomodar melhor, o garoto moveu o quadril sobre a parte do seu corpo onde ficava o órgão sexual; aquilo não era nada bom. Contudo, foi quando o pequeno se debruçou sobre si, estendendo o braço em sua direção e aproximando seus rostos, que o receio de que ele não sabia o que estava fazendo se esvaeceu.
Aquela criança estava pensando mesmo em fazer aquilo? Iria beijá-lo?
“Não pode, ele não pode fazer isso...” era o que sua consciência lhe apitava, todavia, a reação do mais velho foi diferente: fechou os olhos com força e aguardou, enquanto sua pulsação se descontrolava.
Porém, não houve nada. Apenas um questionamento, vindo dele:
— Por que fechou os olhos? Está com medo de cair sabão?
A pergunta fez com que Itachi descerrasse seus orbes negros imediatamente, para só então, notar o equívoco que fizera. Naruto estava esfregando uma pedra de sabão nas mãos. Olhou para trás e viu que em suas costas tinha pequenas repartições onde ficavam os produtos de higiene. Suspirou aliviado, e também, decepcionado consigo mesmo.
Estava ficando louco? Onde pensara que uma criança daquelas saberia o que era um beijo? Ou qualquer outra ideia pervertida que passara por sua mente adulta. Sentiu-se extremamente constrangido, ainda mais, por constatar que não fora só sua cabeça que lhe traíra e sim, seu corpo. O órgão no qual Naruto estava sentado estava desperto e aquela criança nem deveria ter ciência do que significava aquela alteração.
Sentiu-se tão sujo, que nem toda água com sabão no mundo seria capaz de limpá-lo.
As mãos do loiro apanharam uma mecha do longo cabelo negro, e passou a esfregar o sabão nela, comentando com um sorriso:
— São grandes.
Itachi sorriu. Naruto era tão inocente.
— Sim, são.
— Eu vou deixá-los bem limpinhos para você. Precisa esfregar bastante, né?
— Naruto?
— Hm? – o menino respondeu, sem olhar para o mais velho, concentrado na missão de ensaboar os fios cumpridos.
— Você costuma tomar banho acompanhado?
— Às vezes eu tomo banho com o Iruka-sensei. Mas ele não gosta muito.
— Não gosta? Ele te explicou por quê?
— Não muito bem. – o loiro balançou os ombros, parando de esfregar a mecha da esquerda e apanhando a da direita, aplicando o mesmo processo. — Eu não entendo. Ele só disse que não é certo dois homens tomarem banho juntos. Mas quando eu era menor ele me banhava. Eu sinto falta, pois era divertido. Mas ele diz que hoje eu já sou grande e sei fazer sozinho e que agora não preciso mais da ajuda dele.
— Entendi... – Itachi sussurrou, pensando consigo mesmo: “Então ele não é nenhum tipo de pedófilo como eu estava imaginando. Ele cuida dessa criança como se fosse um filho mesmo. Só não entendo por que mantê-lo escondido. Será que não é para perder sua posição de padre?”
— Vou lavar aqui... – o menino avisou, apontando para o tórax de Itachi e, mais uma vez, debruçou-se sobre ele, para apanhar atrás de si uma esponja natural.
Itachi não conseguia entender porque o idiota do seu coração disparava toda vez que sentia aquela aproximação. O levantar do garoto e o sentar de novo em seu membro, também ajudara a manter seu órgão aceso. Não que estivesse sentindo algum tipo de atração pela criança, não era isso. Mas era homem, e qualquer homem que tivesse seu pênis estimulado poderia sentir o mesmo, não poderia?
A criança passou o sabão na esponja e começou a esfregar o torso do investigador, arranhando seus mamilos. Itachi fechou os olhos ao sentir uma nova excitação querendo tomá-lo, tanto, que seu ventre ardeu. Desesperou-se. Não podia se deixar entregar aquele prazer, na verdade, não podia sentir prazer com aquilo. Apanhou com força o punho do menino e o fez parar.
— Não, já chega, Naruto! O seminarista tem razão! Não é certo dois homens se banharem juntos.
— Mas eu não sou um homem! – respondeu nervoso com aquela bronca.
— Como não?
— Eu sou uma criança.
— Não é tão criança mais! Você deve ter em torno de uns doze ou treze anos. Isso já é quase um adolescente; é praticamente um rapazinho.
— Mas o que é que tem? Rapazinho não pode?
— Não.
— Por quê?
— Naruto... Eu não sei como te explicar. Só não é certo.
— Deus não deixa?
— É... Talvez... Eu não sei o que Deus pensa sobre isso.
— Se não sabe, então por que eu não posso tomar banho com você, Itachi-nii-san?! Eu quero ficar perto do nii-san, por favor! – ele implorou, choroso, abraçando-se ao peito do adulto.
Entendia Naruto. Era um garoto que provavelmente recebia um carinho comedido, e toda criança sentia falta de afeto. Além do que, ele não tinha idade suficiente para saber o que aquela agitação sobre o ventre de um adulto era capaz de fazer. Abafou a boca com ambas as mãos, evitando soltar um gemido; seu corpo continuava lhe traindo. Apertou os olhos, sentindo aquele pulsar irritante lhe dominar os nervos. “Que inferno! Por que eu tenho que passar por toda essa provação? O que eu fiz para ser tentando desse jeito?! Eu estou perdendo o controle sobre mim... O que esse lugar está fazendo comigo?”.
Soltou os braços para fora da banheira e passou a respirar cadenciado. O pequeno loiro não era culpado. A sua mente atormentada é quem estava criando situações que não existiam. Precisava se acalmar. Respirou e inspirou com cuidado. Naruto continuou agarrado ao seu peito como se quisesse evitar ser expulso. Acalmou-se. Era dono dos seus instintos que, não podiam e não deviam se aflorar por alguém do mesmo sexo, ainda mais, um menor. Sorriu do momento de bobeira pelo qual passou, então, reabriu os olhos para encarar os brilhantes de Naruto.
— Está bem, vamos tomar banho juntos – ele aceitou, pegando a esponja que o menino largara e esfregando o rosto dele. — Vamos ver se esses riscos saem da sua cara.
— Não saem! – o loiro gritou, segurando a mão do adulto, evitando que ele continuasse. – As marcas sempre estiveram em mim.
— Eu acho que alguém fez essas marcas com uma faca, não foi?
Naruto meneou a cabeça em um não.
— Estão no meu rosto desde que nasci!
Itachi largou a esponja e com as mãos em formato de concha, apanhou um bocado de água e despejou sobre a cabeça do menino.
— Ora de lavarmos esses seus cabelos rebeldes e sairmos daqui, antes que a água esfrie! Tudo bem?
— Tudo! – o pequeno concordou, mais animado.
Do lado de fora, a chuva se acalmava, mas o vento fazia com que as folhas das árvores farfalhassem provocando ruídos na noite; tornando-a assombrosa. Além disso, vindos, de não muito longe dali, podia se ouvir uma risada doentia, um choro copioso e até mesmo, lamentos, daqueles que não conseguiam descansar em paz.
Continua...
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