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[Saint Seiya] A Aposta - Capítulo 7, escrita por Andréia Kennen

Capítulos: 1 2 3 4 5 6 7
Autor: Andréia Kennen
Fandom: Saint Seiya
Gênero: Amizade, Comédia, Drama, Lemon, Romance, Yaoi
Status: concluída
Classificação: 18 anos
Resumo: Nos dias aparentemente de paz, Milo, entediado de suas aventuras amorosas, propõe aos seus amigos de boemia (Máscara da Morte e Afrodite) uma aposta que poderá fazer de suas noites de verão Ateniense, mais divertidas. Porém, todo jogo de sedução, implica inúmeros fatores de riscos, inclusive, aqueles que envolvem o coração. [Milo x Camus, Máscara da Morte x Dite (e outros)]

Capítulo VII - Final

Todo jogo tem premiados e suas premiações.

Hyoga entrou na sala escura e ascendeu a luz. Foi capaz de ver o homem que já considerava como um pai, passando as costas do punho fechado no rosto, dando a entender que afastava as lágrimas. Achou aquilo muito estranho. Camus de Aquário sempre fora conhecido por sua frieza imparcial. Durante a primeira batalha das Doze Casas, o homem decidiu matá-lo por ter lhe respondido ser impossível abandonar as lembranças de sua mãe. Encerrou-o, ainda com resquícios de vida, em um caixão de gelo que deveria ser eterno, alegando que um guerreiro que não conseguia se desprender de sentimentos como amor e a amizade, jamais seria um cavaleiro completo.

No entanto, naquele mesmo dia, se não existissem esses tais sentimentos — os quais seu mestre tanto desprezava e alegava serem inúteis —, não teria sido salvo pelos amigos. Não teriam salvado a Atena e, talvez, o mundo estaria naquele instante em um verdadeiro caos, dominado pelas trevas do Imperador Hades.

Por isso, ainda não concordava com a forma de pensar de Camus. Mas não achava que ele fosse desprovido de sentimentos, o mestre apenas lutava contra eles.

O que foi, Hyoga?

O loiro notou que apesar do questionamento, Camus se manteve de costas, provavelmente, para que não visse seu choro. Deu um passo para dentro do cômodo, percebendo que o mestre agora recolocava os papéis que Aiólia havia lhe entregado, no começo da noite, de volta ao envelope.

— O Máscara da Morte e o Afrodite queriam falar com o senhor — informou.

— E...?

— Eu disse que tinha ido atender a um chamado de Atena.

— Obrigado.

— Mestre?

— Vai dormir, Hyoga. Estou com dor de cabeça.

— O senhor leu o depoimento deles?

— Claro.

— E o que achou?

O homem se rendeu, visto que o pupilo estava disposto a persistir em uma conversa, mesmo que estivesse deixado claro nas suas respostas secas que não estava nenhum pouco a fim. Retomando seu semblante ameno, virou-se para Hyoga dando-lhe a resposta:

— Pelo que entendi, Câncer não teve nada mesmo com o ocorrido na Décima Segunda Casa. Máscara alegou que esteve no Pôr-do-sol bebendo durante toda a madrugada anterior ao acontecimento, e na companhia de Milo, disse que chegou em casa exausto e dormiu como uma pedra, só acordando com o estardalhaço do seu cosmo. Peixes, por sua vez, mesmo que tudo tenha ocorrido em seu templo, e que você tenha flagrado Shun amordaçado e flagelado sobre o leito dele, insiste em dizer que fez o que fez só para participar de um jogo que Milo criou. Mas que não abusou do garoto e que não o envenenou de propósito. De acordo com ele, estava tratando do seu ferimento quando se sentiu tentado a molestá-lo, mas que não o fez. Então... — o homem soltou um suspiro, e abaixou os ombros. — Só precisei ler o começo do depoimento do Milo... Ele confessou tudo. — concluiu soltando um suspiro ainda mais cansado.

— Mestre Camus, eu fui visitar o Shun no hospital hoje, conforme me pediu.

— E como ele está?

— Fora de perigo.

— Ótimo, assim ele poderá depor.

— Mestre?

— Diga, meu filho.

— O Shun realmente confirmou que se machucou nas rosas. Ele falou também que Afrodite tentou abusar dele, mas que conseguiu impedi-lo de concluir o que desejava, conversando com ele. O Shun não estava desmaiado e sim adormecido, e nem flagelado, o sangue que foi encontrado nele, era do pulso do cavaleiro de Peixes, que usou o sangue envenenado de suas veias como antídoto para curar o veneno das rosas.

Camus fitou o pupilo por um pequeno instante; piscou algumas vezes e após assimilar aquela informação, e ainda em seu tom formal, concluiu:

— Bem, isso confirma toda a versão de Afrodite da história. O que será bom pra ele no julgamento.

— Mestre, o Milo pode ter confessado que aquilo que induziu Afrodite a cometer essa besteira tenha vindo de uma ideia estúpida de aposta que ele inventou, mas no fundo, o Escorpião é um bom cavaleiro. Ele está assumindo a culpa, sozinho, para poupar os amigos.

— O que está querendo dizer com tudo isso, Hyoga? ­— o homem se remexeu na cadeira, descruzando as pernas e alinhando os ombros, em uma postura mais enrijecida, então encarou firmemente os olhos azuis claros e tremulantes do pupilo, que não demonstrara temor diante do endurecimento de seu mestre e prosseguiu.

— A raiva daquele momento não me deixou enxergar as coisas direito... — Hyoga confessou. — Eu duvidei do que o Shun havia me dito antes, mestre. Ele não é frágil quanto eu penso, ao ponto de não saber se defender. Ele soube fazer isso da maneira dele. Convencendo o agressor de não fazer o errado.

— Hyoga, por um acaso está querendo dizer que vai retirar a queixa?

— Eu gostaria, Mestre.

— Nunca.

— Mas...?

— Você não irá fazer isso! — o punho de Camus, que já estava crispado, bateu com força sobre o envelope na mesa, fazendo o móvel estremecer. — Eu formalizei a queixa ao seu lado! Coloquei meu nome naquele documento. Há muito estou esperando por um deslize desses para acabar de uma vez com atitudes imundas como a de Milo dentro do nosso Santuário. Tente entender, Hyoga. Você também está se contaminando com as ideias mundanas do Escorpião. Não existe essa droga de sentimentos que todos falam. Existe apenas essa coisa suja, libidinosa e carnal, que tornam os homens ensandecidos por sexo! Fazendo até mesmo guerreiros nobres como você, eu, o quem quer seja, desviar seus pensamentos que devem ser sempre elevados a Atena e a nossa missão na Terra! Essa sujeira toda é o que acaba corroendo o homem, até tornar sua sede pelo coito tão insaciável que o faz cometer atrocidades como essa que quase tirou a castidade de um garoto puro como o Shun! Milo será julgado! E se depender de mim, receberá o castigo maior e será exonerado. E com base nesse ocorrido, pedirei a Atena que retome a rigidez das antigas leis. Isso servirá de exemplo para aqueles que estão ou pretendem entrar no caminho da devassidão, tenham tempo de se arrepender ou se converter! — ele finalizou seu discurso encarando ainda mais firmemente o pupilo, deixando evidente que a sua última frase, fazia alusão a ele também.

— Já é tarde, mestre.

— O quê?

— Se está se referindo a mim. Não é a punição de Milo que fará com que os meus sentimentos pelo Shun desapareçam. Na realidade, leis irão apenas nos separar e fazer com que encontremos uma forma de descumpri-la. Não existe nada capaz de mudar os sentimentos. Nem a punição de outros, nem mesmo a reformulação de normas. Não há lei humana ou divina que consiga deter nosso coração de amar. O senhor é um homem muito triste, meu mestre, por não compreender a beleza e nem a profundidade dos sentimentos. Mas eu não acredito que não os tenha. Na realidade, se deparar com o que ele provoca nas pessoas o assusta, e por isso sente essa necessidade de deter seu fluxo. É muito cômodo evitar amar para não precisar lidar com as irregularidades que o amor nos provoca. Mas se fossemos humanos sem a capacidade de sentir, não seríamos capazes também de ter compaixão pelo próximo e assim não lutaríamos com tanta determinação uns pelos outros. E o Milo pode até agir de forma pervertida, mas as pessoas tendem a expressar seu egoísmo de alguma maneira, principalmente, quando o coração ainda não encontrou seu par... Acredito que no momento em que isso ocorrer com ele, milagres e grandes transformações podem acontecer. Transformações que estão chegando ao próprio Câncer e ao Afrodite. E, eu acho, que até mesmo o senhor, mestre, pensaria de outra forma se deixasse alguém transpassar esse esquife de gelo que criou em torno do seu coração.

— Terminou?

Hyoga assentiu.

— Ótimo, então vá dormir. Por que eu tenho que trabalhar para terminar meu relatório.

— Como quiser — Hyoga concordou, abaixando a cabeça e seguindo rumo à saída. — Boa noite.

— Hm.

Assim que o pupilo deixou a sala com um ar desolado, Camus voltou a sentar-se mais relaxado em sua cadeira, repondo seus óculos de leitura. Retirou novamente os depoimentos de dentro do envelope e releu as últimas linhas do relato de Milo. Parecia algo tão ridículo, mesmo assim, mexera muito com seu interior, principalmente, após aquelas palavras de Hyoga.

“Os olhos de decepção do Camus quando me flagrou beijando seu pupilo. Nunca pensei que um olhar de mágoa de alguém tão especial me causaria tanta dor...”

— Milo... — o homem esmurrou a mesa novamente com o punho fechado e debruçou-se sobre os papéis. — O que você fez, seu estúpido?

...

O dia do julgamento chegou. No anfiteatro do Santuário dispuseram no palco uma longa mesa para receber as autoridades. Ao centro dela, já estava a presidente da Sindicância Marin de Águia, de cada lado dela, as cadeiras onde ficariam o Grande mestre e a deusa.

Na primeira fileira em frente ao palco, os três acusados. Ao lado deles o Capitão das tropas do Santuário, Aiólia. Do lado esquerdo, o relator da acusação, Camus, e do lado direito a defesa, Shura. Na platéia, testemunhas, curiosos, cavaleiros de bronze, prata e ouro, a audiência fora aberta para ser assistida, já que o ocorrido não era mais segredo no Santuário.

Todos pareciam impacientes e não paravam de falar entre si, criando um zumbido no auditório. No entanto, assim que a porta lateral ao palco foi aberta e o guarda pediu atenção a todos, o alvoroço se desfez.

— A divindade maior do Santuário: nossa deusa Atena e o grande Mestre!

Saori foi a primeira a entrar, usava seu traje tradicional, um vestido longo e esvoaçante decotado nos seios, cheio de adornos dourados na cintura, no pescoço, nas mãos. Atrás dela veio Seiya, vestido com a armadura dourada de Sagitário e, em seguida, o Grande Mestre. O japonês puxou a cadeira para que ela se acomodasse, em seguida, fez o mesmo para Saga. Sorriu, cumprimentando a mestra, que estava de máscara e vestida com uma beca preta, provavelmente por cima da armadura de Águia, já que a tiara da armadura era visível em sua cabeça. Ao concluir, prostrou-se atrás da deusa.

Após os cumprimentos das autoridades à mesa e o acomodar dos demais que ainda estavam de pé, Atena deu ordem para iniciar-se a seção.

— Bem... — Marin concordou, abrindo o relatório que tinha a sua frente. — Estamos reunidos aqui hoje devido à denúncia levantada pelo cavaleiro Camus de Aquário, de indisciplina, má conduta e desrespeito às normas do Santuário dos acusados aqui presentes, cavaleiros de ouro: Milo de Escorpião, Afrodite de Peixes e Máscara da Morte de Câncer. Camus, por favor. Leia a acusação.

— Certo — o homem concordou, levantando-se da primeira fileira e caminhando até o púlpito, disposto do lado esquerdo entre a platéia e a mesa de autoridades. Após abrir seu relatório, direcionou o olhar para os acusados, Milo era o único que tinha a cabeça baixa. Então, suspirando fundo, começou: — No domingo antepassado, por volta das nove horas da manhã, estava na minha casa, o Décimo Primeiro Templo, trabalhando na pesquisa solicitada por Atena, quando senti a expansão da cosmo-energia do meu pupilo vindo do Décimo Segundo Templo...

Enquanto Camus falava, repetindo toda a história que muitos ali já sabiam, na platéia, Shun tocou discretamente o braço do amigo loiro, fazendo-o abaixar-se o suficiente para lhe cochichar ao pé do ouvido:

— Não tentou falar com seu mestre novamente?

— Não. — respondeu no mesmo tom sussurrado do outro. — Meu mestre é mesmo uma pessoa muito dura, Shun. Ele não abriu espaço para que eu me aproximasse.

— Talvez o Shura consiga evitar a exoneração.

— É o que esperamos. Até porque, se as leis ficarem mais ríspidas, nós teremos muitos problemas. — ele lembrou, buscando a mão de Shun e apertando-a na sua.

— Shhh... Silêncio, meninos. Não querem ter a atenção chamada, não é? — Aldebaran que estava na fileira atrás dos dois, comentou, mantendo seu sorriso simpático no rosto moreno. — Não se preocupem tanto, tenham fé.

Eles concordaram com um balançar de cabeça, então se voltaram para o discurso.

— Assim, eu acredito que atitudes como essas vindas de cavaleiros que devem ser exemplos para as novas gerações, denigrem a imagem do nosso santo templo e principalmente de todos nós, cavaleiros, que devemos ter como foco principal: a justiça. Por isso, espero que os três acusados aqui presentes, recebam as punições cabíveis por Atena.

— Bem... — Marin retomou a palavra. — As acusações levantadas por Camus infringem as seguintes leis: Máscara da Morte de Câncer está sendo acusado de participação em uma competição não regularizada por Atena e por infringir nessa competição a norma que diz que os cavaleiros devem se manter em abstinência sexual durante o período de treinos. Afrodite de Peixes detém as mesmas acusações do primeiro acusado, além de assédio sexual e tentativa de homicídio doloso — quando não se tem a intenção de matar — por envenenar com suas rosas o cavaleiro de bronze, Shun de Andrômeda.

Ao ouvir a acusação daquela forma, Dite encolheu-lhe.

Marin prosseguiu.

— Milo de Escorpião está sendo acusado como criador, idealizador e responsável de uma competição não regularizada por Atena. É também acusado de mandante indireto do crime de assédio sexual e tentativa de homicídio doloso cometido pelo cavaleiro Afrodite contra Shun de Andrômeda. Além de infringir as normas de condutas de manter abstinência sexual em período de treinamento. Se provadas as acusações, Atena dará a sentença cabível de acordo com o grau de cada acusação. Vamos começar com a apresentação de provas da promotoria, Camus.

— Obrigada, Marin. Quero chamar a principal testemunha, então: Hyoga de Cisne.

O jovem que estava ao lado de Shun se ergueu, atendendo ao chamado. Caminhou até a parte central, sobre os olhares atentos dos presentes, então, sentou na cadeira e após fazer o juramento de dizer somente a verdade em nome de Atena. Foi questionado por Camus:

— Hyoga, pode repetir diante da comissão e dos presentes o que foi que você viu na Décima Segunda casa no domingo antepassado?

O loiro suspirou e menos energético de quando deu o primeiro relato, de acordo com a visão de Aiólia, ele respondeu:

— Shun, amordaçado na cama de Afrodite.

— Muito bem. Ele estava acordado?

— Não.

— Com roupas?

— Não.

— Poderia descrever como ele estava exatamente?

— Mestre...

— Hyoga, você está em uma audiência e jurou perante Atena dizer somente a verdade. Responda o que lhe perguntei.

O loiro olhou para a feição firme de Saori e também para os olhos de Seiya atrás dela, que também parecia chocado com tudo aquilo.

— As mãos presas na cabeceira da cama. As pernas... afastadas e... desacordado.

Uma exclamação de perplexidade se propagou pelo ambiente, fazendo Afrodite ficar vermelho de raiva de Camus.

Algumas horas se passaram então. Shura se mostrou um ótimo advogado de defesa, e conseguiu arrancar dos depoimentos, pontos importantes, que no fim da audiência reduzira e muito, as acusações.

Marin releu os relatórios, agora, embasados nos testemunhos apresentados.

— Máscara da Morte, pelo que vimos, não teve envolvimento no caso da casa de Peixes. Não há provas que indique que ele estava mesmo participando da competição, a não ser o fato dele sempre ser visto bebendo no bar na companhia dos outros dois acusados. Também não foi comprovado, já que não houve testemunhas, que ele descumpra a norma de abstinência. Assim, declaro absolvido das acusações contra ele.

O homem suspirou. Milo sorriu aliviado também e Dite apenas torceu os lábios, da mesma forma que Camus, ambos contrariados. Em seguida, Marin tomou atenção de todos.

— Mantenham a ordem e vamos prosseguir. — ela pediu. — Sobre o Afrodite de Peixes. Shun alegou aqui, assim como fizera em seu depoimento anterior, que se feriu sozinho com os espinhos das rosas do Jardim do acusado. Assim, Peixes está absolvido da tentativa de homicídio. E também, como ele estava tentando ter relação sexual com Shun em um dia de domingo, um dia liberado para laser, inclusive para o sexo, está absolvido do descumprimento da lei de abstinência.

— Graças a nossa deusa! — Afrodite exclamou eufórico.

— Porém... — Marin pontuou. — Foi comprovado aqui, que houve a tentativa de assédio de sua parte, Afrodite. Por mais que não tenha sido finalizado. Além disso, você confessou que tudo isso não passava de uma “brincadeira” idealizada pelo Milo, o que comprova também a acusação de envolvimento na competição ilegal.

— Mas...

— Atena? — a amazona voltou-se para a deusa.

Saori olhou para Afrodite que estremecera levemente.

— Um ano ajudando no campo de aprendizes. — ela sentenciou, calmamente.

— Quê?!

— Prefere deixar a função de cavaleiro?

— Não resmungue, Afrodite. Não abuse da sua sorte e considere que Atena tenha levantado de bom humor. — Shura cochichou apertando o braço dele e sorrindo para Atena. — É lógico que ele aceita, minha deusa, além de tudo, ele está grato por sua compaixão e misericórdia.

A jovem assentiu com um leve sorriso e Marin deu continuidade. A juíza suspirou ao constatar que os depoimentos não aliviavam muito as acusações sobre Milo.

— O que eu faço com você, Milo? — Saori interpôs, meneando a cabeça negativamente, aparentemente descrente em tudo aquilo.

— O que tem que ser feito, minha deusa. — o rapaz respondeu, sorrindo ternamente para a jovem de cabelos arroxeados.

— Atena?

Todos voltaram seus olhos para o chamado do aquariano.

— Sim, Camus.

— Eu sei que pode soar estranho, afinal, sou relator da denúncia. Mas... — ele inspirou fundo e falou: — É evidente que Milo está assumindo a culpa de toda essa confusão, sozinho. Todos nós sabemos que esse trio não é flor que se cheire, mas se levarmos em conta históricos, Milo é o “menos pior” dentre os dois.

— Ora... seu! — Dite iria protestar, mas desta vez, foi detido pelo segurar firme de Máscara em seu braço.

— Não complique as coisas, Rosa.

— Pare, Camus! — Milo pediu, pressentindo o que o amigo faria. — Você não preci-...

— Minha deusa... — Camus cortou a fala de Milo. — Eu lhe rogo, pela confiança que tens em mim que não dê a esse estúpido do Milo a punição máxima. No fundo, ele só está metendo os pés pelas mãos por um sentimento que ele defende com unhas e dentes que é a amizade.

— É verdade! — Máscara concordou em uma exclamação. — Já enjoei dessa ladainha! E se no fim nós não sermos sinceros com Atena, perdemos a armadura de qualquer jeito! Porque ela vai sair correndo por não sermos dignos de usá-la. E eu acho que quem não assume suas cagadas pode ser considerado lixo. Eu não vou deixar o Rabo-torto sair dessa como heróizinho injustiçado porra nenhuma!

— Olha o palavreado diante da deusa, Máscara! — Shura o advertiu, com os olhos arregalados.

— Escuta, minha deusa. — o Câncer prosseguiu. — Eu sei que você conhece bem seus cavaleiros. O Dite, o Milo e eu somos parceiros de farra sim. Curtimos uma boa noitada e isso não é segredo pra ninguém. O Rabo-torto idealizou essa bagaça de jogo porque ele é o mais cabeça de nós. Mas o Dite e eu não pensamos duas vezes em aceitar a brincadeira e eu levo neguinho pra minha cama sim! Faço isso quando eu sinto vontade. Sem ligar com essa coisa de normas, abstinência e o diabo! Então, se o Milo vai perder a vestimenta dourada, escreve meu nome do lado dele, porque eu também mereço perder a minha.

— Ah! — Dite suspirou, revirando os olhos. — Fazer o quê, eu também, né? — Afrodite se incluiu, pegando na mão do câncer e apertando-a na frente de todos. — Afinal, o que eu queria de verdade com esse jogo, eu consegui. Não tenho mais o que perder.

O silêncio era devastador, os olhares de perplexidades eram unânimes. Até que Seiya, apontando para o cavaleiro de Câncer, quebrou o silêncio:

— Ainda bem que se assumiram! E vê se dá o que ele quer, Afrodite! Pra ele parar de atacar as pessoas que entram na casa dele!

— Seiya, não diga que você...? — Saori olhou para o rapaz atrás dela.

O silêncio se quebrou de vez e os cochichos, voltaram a criar zumbidos dentro da sala.

— Não, não, esperem! Não é verdade! Eu sou o culpado. — Milo ainda tentou ajeitar a situação. — Por que estão fazendo isso? Vão perder a armadura de vocês também, seus retardados!

— Retardados não, Rabo-torto! Figlio de una cagana! Estamos tentando salvar seu traseiro, disgraziato!

— Máscara! Olha a boca suja diante da deusa!

— Não enche, Capricórnio de uma figa!

Uma balburdia se instaurou até que Marin gritando:

— ORDEM! – ela bateu o martelinho em sua mesa com força e, ao conseguir a atenção de todos, voltou-se para Atena: — Minha deusa, remarcamos a audiência, ou, baseada na nova confissão deles, a senhorita dará a sentença?

Saori voltou-se para o trio que agora a encarava com seriedade.

— Bem... No fim vocês mostraram que são verdadeiros cavaleiros de Atena. O espírito dos meus guerreiros é exatamente esse: proteger e se necessário, dar a vida uns pelos outros. — ela sorriu. — Milo?

— Sim, divina?

— Quando quiser montar joguinhos por se sentir entediado, antes de tudo, venha me procurar. Tentaremos fazer uma competição mais saudável, que envolva a todos. Ou quem sabe, lhe mando para gastar suas energias em alguma missão, está bem?

— Você... é quem manda, minha deusa. — ele respondeu, após engolir em seco.

Então, ela voltou-se para os outros dois, que mantinham as mãos entrelaçadas firmemente.

— Máscara e Afrodite, juntos? — ela quis ter certeza do que via.

— Pois é, minha deusa. — O canceriano concordou, alisando a nuca. — Esse pisciano maledeto me amarrou pelas pernas. Ou melhor, entre elas...

— Cala essa boca, Máscara! — Shura desesperou-se.

Mas Atena apenas riu, divertida.

— Vamos dar por encerrada a seção, eu já perdi um dia inteiro. Ouçam, eu sempre confiei em cada um de vocês aqui dentro e não os trouxe de volta a vida, no final de tudo, porque desconfiasse da lealdade ou da competência dos meus cavaleiros. Mas, confesso que estava ficando realmente preocupada com o concluir dessa audiência e se não tivessem confessado, aí sim, eu sentiria que havia me enganado e feito algo muito errado. Afinal, eu sei que esta brincadeira entre vocês está acontecendo desde quando ela começou. Certo, Shaina?

— Sim, minha deusa.

A mulher adentrou a sala, ao lado do monitor de televisão e colocou sobre a mesa de provas uma caixa contendo várias fitas.

— Mas, é uma cobra mesmo! — o pisciano esbravejou.

— Na realidade... — Atena chamou a atenção do trio, olhando mais para Afrodite que havia feito a exclamação. — Shaina confiava em vocês mais do que eu mesma. Ela estava investigando-os há algum tempo por ordens minhas. Recebemos denúncias de irregularidade o tempo todo. E é o próprio Camus que as filtra, por isso, ele é tão rigoroso quanto aos cumprimentos das normas. Dependendo das denúncias feitas, investigamos ou não mais a fundo. Contudo, nem Camus sabe as providências tomadas por mim. Convoquei Shaina para espioná-los, ela poderia tê-los entregue no momento em que vocês sugestionaram o jogo. Todavia, ela teve a ideia de mantermos tudo em sigilo e ver até onde as coisas iriam. E quando eu dizia que era hora de intervir e acabar com tudo. Ela sempre contrapunha que não era o momento, e que acreditava em vocês. Mas, no último instante, vocês confessaram e provaram que são dignos de continuarem sendo cavaleiros do meu legado. Só que, espero que vocês, e todos os presentes aqui, percebam que a administração do Santuário não está de olhos fechados para as irregularidades e que pensem duas vezes antes de quebrarem as normas.

— Então, estamos absolvidos? — Afrodite quis ter certeza, um sorriso de entusiasmo brotando em seus lábios.

Mas, o sorriso durou pouco.

— Terão que prestar serviços comunitários, como ajudar nos campos de treinamentos durante dois anos. E o Pub Pôr-do-sol está proibido para os três durante um ano. Com pena de detenção de três meses para cada violação. Agora sim, caso encerrado.

— Mas, Atena! Não vamos nem poder tomar umas biritas pra relaxar? — Máscara perguntou, incrédulo.

— Peça por encomenda e beba no âmbito da Quarta Casa, Máscara. Já tem um companheiro mesmo, considere esse tempo um período de Lua-de-Mel. — ela afirmou, levantando-se para se retirar, porém, Máscara a deteve com uma pergunta que deixou todos os presentes ainda mais pasmos.

— Espere, minha deusa. Está nos dando a benção?

Saori entreabriu os lábios e depois sorriu sem graça, não era o que tinha ideado, mas... não conseguiu negar diante dos olhares esperançosos daqueles dois.

— Ah... Digo... Está certo, providenciem uma cerimônia e eu dou a benção.

Aproveitando o embalo, Hyoga levantou-se em um sobressalto após aquela fala, apanhando a mão de Shun e o levantando também, perguntando:

— Espere, Saori! Digo, Atena... Se for assim, será que... Bem, eu e o Shun... poderíamos?

— Hã? Vocês também? — ela olhou para o casal, incrédula. — É... bem, claro, porque não?

— Espere um minuto, Atena! — Camus interveio. — Está tendo noção do que está fazendo? Está liberando a união gay no Santuário?

— Não to liberando coisíssima nenhuma, Camus! Estou apenas dando uma benção para duas uniões estáveis. E o que eu posso fazer, oras?! Casais de homens sempre existiram, principalmente na Grécia antiga. Mas os tempos agora são outros, e casais do mesmo sexo querem ter direitos e se oficializarem. Reclamem para a justiça!

— Isso significa que casais héteros também podem? — Marin se levantou, voltando-se para Aiólia, que pigarreou em resposta, tentando disfarçar.

— E lésbicas... — Shaina ganhou a atenção sobressaltada de todos os presentes do local.

— Não me olhem assim, estou falando de um casal de amigas minhas.

— Vamos com calma! — Atena pediu. — Por enquanto estou liberando somente aqueles dois casais. Cada caso será um caso. Vamos com calma!

Enquanto a confusão aumentava em torno de Atena, Hyoga e Shun, Afrodite e Máscara recebiam parabéns vindos de todos os lados pela coragem de se assumirem e pela união deles. Milo aproveitou-se da confusão, apanhou a caixa da sua armadura no chão e esgueirou-se para fora do tumulto. Tinha um lugar importante pra visitar e Camus pareceu ser o único que notou o cavaleiro sair de mansinho.

...

Milo vestiu a armadura dourada e na sua mente, um único lugar: o cemitério. Andou dentre muita covas, algumas com lápides cheias de honraria, outras com menores. Até chegar em um campo maior, onde os túmulos tinham apenas cruzes de madeira. Ajoelhou-se diante de uma cova, que estava sobre a sombra de uma árvore e sorriu para o nome “Eliseu” cravado na cruz.

Depois de muito tempo, finalmente iria conseguir se livrar daquela agonia em seu peito.

— Viu, pai... — Milo curvou-se, um joelho no chão e descansou os braços sobre a outra perna dobrada. Retirou a tiara dourada, que tinha uma longa calda de um escorpião e a repousou do seu lado; com o rosto banhando em lágrimas e fitando a cruz, falou: — Hoje eu me tornei um cavaleiro de ouro... Agora sou o Milo de Escorpião. Tenho uma missão bonita: proteger a Terra. Mas... eu sinto tanto por não ter percebido antes o que significa de verdade ser um guerreiro... Se não... Eu teria te dado mais orgulho antes de partir... Hoje eu me sinto diferente e eu posso te falar com certeza o que significa. Veja... — ele tocou seu peitoral revestido do material dourado. — É bonita, não é? Mas esse ouro todo não vale absolutamente nada. Não importa se é dourado, prata ou bronze, ou até um bravo soldado... O importante é o que está além dessa roupa, são as pessoas que a vestem que as tornam preciosas. E agora eu entendo que, naquela primeira vez que vi um Cavaleiro de Ouro, não foi pelo brilho reluzente da armadura que ele vestia que me encantei. Foi por sua compaixão...

Milo ficou ali, conversando com o pai como nunca fizera antes. E quando o Sol já se punha, tingindo o horizonte com suas variações de tons quentes, sentiu a companhia de alguém.

— Camus?

— Você fala muito, tem noção disso?

— Ah! Não acredito que ouviu a minha chora-... — a fala de Milo foi diminuindo, ao sentir a mão de Camus no seu ombro, o aproximar do rosto dele e então, àquele toque levíssimo dos lábios que apenas sobrepôs os seus, mas que foi o suficiente para suas entranhas se apertarem como nunca. ­— O que... foi isso?

— O senhor dos galanteios não sabe o que é um beijo?

— Eu sei que foi um beijo! Mas... — Milo elevou a mão no peito, respirando com dificuldade. — Por Zeus, acho que estou tendo um ataque cardíaco.

— Não faça piadas, idiota!

— Camus, você... — ele se recuperou e enlaçou a cintura do aquariano, prendendo seus corpos, fazendo o outro avermelhar-se e bater com as mãos no ombro dele, tentando afastá-lo. — Você me ama?

— Quê?! Que ideia ridícula é essa? E quem disse que podia se grudar em mim desse jeito?! Me solta, Milo!! Ou vou te transformar em uma estátua de gelo eterno.

— Transforme, transforme! — ele o apertou mais, roçando seus rostos ao do outro, fazendo uma espécie de carinho. — Me transforme em cubo de gelo puro, que irei derretê-lo com todo meu calor e a ardência... Camus, você me ama!

— Eu não amo porra nenhuma! Achei que você tivesse mudado, Milo! Por isso pensei na ideia estúpida de me declarar. Mas já me arrependi! Solte-me agora mesmo!

De repente, Milo se transformou, voltando a ficar sério. Segurou o rosto de Camus entre suas mãos e, admirando aqueles olhos que sempre achou lindos por serem tão inexpressivos, concluiu:

— Eu vou te amar, Camus. Vou te amar mais que tudo. Eu ainda tô meio confuso, e os sentimentos estão se embaralhando aqui dentro. Ainda mais porque sei que com você terei que ser sério. Mas acho que esse é o momento certo pra ser sério.

O aquariano ficou sem reação por um minuto, o coração mais acelerado. Não podia esperar muito de Milo, mas aquela resposta já era mais do que esperava.

— Eu duvido que consiga ser sério, idiota — afirmou, com a expressão dura. Tentando afastá-lo novamente.

— Mas e então? — Milo o soltou, vendo-o ajeitar a roupa que havia ficado desalinhada devido seu abraço, e colocar as mãos dentro do bolso da calça. — Não vamos ficar juntos como nos finais dos filmes?

Camus riu, balançando a cabeça e começando a caminhar.

— Anda vendo poucos filmes, ultimamente. Ou ainda continua assistindo aqueles romances cheios de melodrama?

— O que tem de errado com os finais românticos? — Milo o acompanhou.

— Nada. Eles só não terminam muitos filmes românticos com declarações na porta do cemitério.

— Mas foi você que se declarou primeiro!

— Mero detalhe.

— Hein, é você, ou está esfriando? — o escorpiano sorriu, esfregando as mãos umas nas outras, achando um pretexto para jogar os braços por cima dos ombros de Camus.

— O verão está indo embora. Logo o outono chega. Não vai demorar muito para esfriar.

— Então, poderemos assistir filmes melodramáticos juntinhos e embaixo dos cobertores, hã? O que acha?

— Tira seus braços de cima de mim!

— Camus, como você consegue amar e continuar sendo um cubo de gelo?

— Tire, logo!

Os dois seguiram juntos, caminhando sobre as estrelas que começavam a despontar no céu de um tom azul-escuro. Enquanto mantinham a conversa animada. Milo achou que aquele relacionamento iria ser bom, afinal, Camus era seu amigo e apesar do jeito carrancudo, era um dos poucos que o ouviam. No fim, estava feliz por tudo ter terminado bem, exceto por um detalhe: ter que parar de frequentar a Taberna do Pôr-do-sol.

No entanto, por mais que as noites de boemia sejam tentadoras para os boêmios, um dia todos seus frequentadores — se não todos, a grande maioria —, trocam o âmbito acalorado do bar, para dedicar-se ao aconchego de um lar. Deixando seus lugares para os próximos fregueses que virão, as próximas bebedeiras, as próximas rixas, os próximos flertes e quem sabe...

As próximas apostas...

Fim.





Notas finais do capítulo

Apesar de que, não é o fim por completo. (pois vou fazer um Epílogo para história, que vai demorar um pouco. Ando bem atarefada ultimamente). Então, já quero deixar meu agradecimento carinhoso a todos que acompanharam o trabalho, torceram por esse belo trio e me contemplaram com reviews de apoio que foram muito importantes. :D Agradecendo em especial a Vagabond por ter lido e recomendado a fic. Também: ddd, Hyuuga_Manndy, Uchiha_Kushina, pollymayfair, Alexia-Black, Anjodastrevas, ggemmi, maah_belee, Janaerc, moni-d, belle_princesse, NattenScorpius, sayuri hatake, Meyzinha, meguari_uchiha, akito-sou-sama, ri00525! Aos tímidos que não deixam review, meu agradecimento especial também! Até o epílogo! o/ Ja ne!

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