Autor: Andréia Kennen
Fandom: Saint Seiya
Gênero: Amizade, Comédia, Drama, Lemon, Romance, Yaoi
Status: concluída
Classificação: 18 anos
Resumo: Nos dias aparentemente de paz, Milo, entediado de suas aventuras amorosas, propõe aos seus amigos de boemia (Máscara da Morte e Afrodite) uma aposta que poderá fazer de suas noites de verão Ateniense, mais divertidas. Porém, todo jogo de sedução, implica inúmeros fatores de riscos, inclusive, aqueles que envolvem o coração. [Milo x Camus, Máscara da Morte x Dite (e outros)]
Capítulo IV
Todo jogo se dificulta no nível seguinte, começa a segunda rodada!
Shaina sorria por debaixo da máscara, principalmente, devido à expressão carrancuda de cada integrante daquele jogo.
Milo havia sido o terceiro a entregar o VHS com a tarefa terminada. Ela, com o aval dos outros dois integrantes, decidiram atribuir à avaliação um “bom” para o beijo que ele dera no pupilo do melhor amigo, visto que o rapaz não teve tempo para tal, já que o próprio Camus flagrara o momento dos dois e atrapalhou o final da “lição”. Porém, o Escorpião ficara ainda mais fulo, e alegara que estava evidente que Hyoga lhe daria a avaliação máxima pelo beijo.
Já Máscara da Morte, mesmo estando na frente da disputa, não conseguia engolir o desaforo de ter sido ignorado por Afrodite na taberna e se conformava menos ainda por ter visto — quando decidiu segui-lo — “seu” Dite deixando-se possuir por um mero serviçal. Nunca imaginou que o amante estivesse tão disposto a ganhar aquele jogo a ponto de ir contra seus próprios princípios que era: nunca se deitar com alguém de nível abaixo do seu.
Enquanto o Cavaleiro de Peixes julgava-se incapaz de se livrar daquela sensação de sujeira, por mais que tivesse tomado dezenas de banhos, não conseguia parar de lembrar das mãos calejadas do soldado de Saga marcando sua pele antes imaculada daquele tipo de toque. Mas o pior de tudo aquilo, era saber que havia sentido um prazer tão intenso com o jovem plebeu; sentia-se traído pelo seu próprio corpo.
— Por essas caras devo imaginar que estão querendo desistir? — a juíza da disputa perguntou, descruzando os braços sobre os bustos e apoiando as mãos na cintura.
Mas resposta de todos fora única, alta e em um perfeito uníssono que ecoou pelas paredes da pequena adega:
— NÃO!
“Eu não fodi com a amizade do Camus, pra simplesmente entregar os pontos agora!”
“Agora que já dei pro desgraçado daquele plebeu, não tem mais como voltar atrás.”
“Eu estou na frente da disputa, por que eu desistiria agora?”
A amazona de Ophiuchus apenas suspirou. “Acho que eles terão que ter mais pra poder aprender...”, ela continuou sorrindo por debaixo da máscara, então saiu de frente do quadro com os resultados:
— Bem, essa é a pontuação de vocês.
1º Máscara da Morte – Total de Pontos: 3100
Descrição da pontuação: 200 pontos de Agilidade (Prova cumprida no 1º dia) + 200 pontos de qualidade (Avaliação Excelente) = 400 pontos x 6 (multiplicador de acordo com grau de dificuldade, no caso, Avançado) + 700 (Referente Bônus da Categoria: prata) = Total geral = 3100
2º Afrodite – Total de Pontos: 2520
Descrição da pontuação: 180 pontos de Agilidade (Prova cumprida no 2º dia) + 200 pontos de qualidade (Avaliação Excelente) = 380 pontos x 4 (multiplicador de acordo com grau de dificuldade, no caso, Médio) + 1000 (Referente Bônus da Categoria: ouro) = Total geral = 2520
3º Milo – Total de Pontos: 1100
Descrição da pontuação: 150 pontos de Agilidade (Prova cumprida no 3º dia) + 150 pontos de qualidade (Avaliação Bom) = 300 pontos x 2 (multiplicador de acordo com grau de dificuldade, no caso, Leve) + 500 (Referente Bônus da Categoria: bronze) = Total geral = 1100
— Olhando assim, até parece que não alcançaremos o Máscara nunca. — Dite resmungou ao lado de Milo.
— Ele não conseguiu a pontuação máxima que a rodada teria se ele tivesse como desafio ficar com um cavaleiro de ouro. — Milo respondeu ao colega, falando no mesmo tom sussurrado, enquanto seus olhos se mantinham fixos no quadro. — No caso, seriam 3400 pontos. E eu ainda posso conseguir essa pontuação e ficar na frente, e você Dite, ainda pode alcançá-lo.
— E ultrapassar, se ele sair-se mal nas próximas rodadas.
— O que as duas meninas estão cochichando?! — Máscara saiu do canto da parede onde estava recostado. — Eu não tive só sorte nessa rodada, mas fui o mais ágil, então, não tentem desmerecer meu empenho.
— Ninguém está falando do seu empenho, meu amor. — Afrodite levantou-se e encarou o amante, de maneira rude: — Estamos analisando a nossa possibilidade de ainda vencer a disputa.
O Câncer apenas esturrou, virando a cara de lado.
— Vamos fazer logo o sorteio para definir quem vai escolher pra quem na segunda rodada! Estou perdendo tempo, já poderia estar cumprindo a prova.
— Eu vou torcer muito pra tirar você e lhe indicar o Aldebaran no sorteio...
— Cuidado que os feitiços podem virar contra o feiticeiro, Rosa Venenosa. Eu posso sair com você e lhe indicar o Jamian...
— Máscara seu...
— Parem! — Shaina interrompeu a discussão. — Máscara tem razão, vamos logo ao sorteio. Mas vamos seguir o protocolo: primeiro definimos o grau da tarefa, depois o nível da vítima e então por terceiro, quem vai escolher para quem. Afrodite, você é o primeiro. Como você já saiu com o nível ouro, só lhe resta agora cavaleiros de prata e bronze. E como você já saiu com o grau médio, só lhe resta o grau avançado e leve.
Conforme o sorteio ia acontecendo, Shaina já ia definido os dois quadros, da primeira e da última rodada. No fim, ela leu os resultados.
— Bem, ficou assim. Afrodite: 2ª Rodada. Grau Avançado, categoria bronze. E quem vai escolher seu adversário agora na segunda rodada é... — Shaina mexeu na caixa aonde havia colocado os nomes dos três e então, suspirou, virando o papel para o grupo: — Máscara.
Foi impossível o cavaleiro de Câncer não sorrir, no entanto, ele já tinha feito a análise de todas as possibilidades, mas não esperava que seria tão fácil. Era agora que ele iria tirar Dite da disputa. Já que, ele teria que fazer sexo completo com um cavaleiro de bronze, então só tinha uma opção que seria totalmente complexa pra ele.
— Shun.
— O quê?
— O que você queria, o Seiya?
— Mas o Shun é uma... uma...
— Desista, se você acha que não consegue.
— Você pode usar a carta coringa, Dite. — Shaina o lembrou.
Afrodite olhou para sua carta coringa. Era agilidade. Não tinha porque aumentar o tempo. Se não conseguisse dentro do prazo estipulado, não conseguira nunca.
— Eu não vou desistir e também não vou usar a carta coringa. Se eu não for capaz de conseguir levar um reles cavaleiro de bronze pra cama, então eu não seria merecedor da fama de mais belo.
— Certo, então. — Shaina fez a anotação no quadro. Enquanto os outros dois olhavam Afrodite com certo assombro. — Ok. Agora é a vez do Máscara. — ela mexeu novamente na caixa e retirou o nome: — Milo.
Máscara sorriu de lado, já estava com tudo planejado, sua categoria era ouro, então...
— Aldebaran. — Milo foi direto.
— Ok, vocês acham mesmo que vou dar um beijo na boca daquele Touro brasiliano, maledeto, não é? Mas tenho que desapontá-los, porque eu já tinha pensado nisso. Eu quero usar minha carta coringa, que é o nível, então vou mudar para bronze.
— Milo? — Shaina que também já esperava por aquilo, voltou-se para o outro, para que ele apontasse outro nome, agora dentro da categoria bronze para o italiano.
O escorpião olhou para o quadro com os nomes dos cavaleiros de bronze. Shiryu havia entrado na lista porque ele estaria naquela semana no Santuário, mas ainda tinha Seiya. Qualquer um dos dois, na opinião do Escorpião, estavam no mesmo nível para Máscara. Ambos eram héteros, se relacionavam com garotas, mas ambos eram mais fracos que ele, o que faria o Canceriano simplesmente forçar o beijo, sem avaliação ele cairia no mínimo, no regular, então ele apenas tentaria ganhar pontos com a agilidade. E, nesse caso, talvez Seiya desse mais trabalho a ele, já que ele era o “garoto dos olhos da deusa”.
— Está saindo fumaça, Milo — Máscara riu. — Escolha qualquer um dos dois, pode até mesmo escolher os dois. Eu vou fazer isso no primeiro dia.
Para Milo, o mais insuportável era ter que concordar com aquilo; nunca imaginara que Máscara teria tanta sorte naquele jogo.
— Ok, o Seiya.
Desta vez foi a juíza que se sobressaltou internamente ao ouvir aquele nome. Seiya foi o primeiro amor da sua vida. O homem por quem decidiu morrer. Mesmo assim, ele escolhera Saori Kido, a reencarnação da deusa Atena... E de repente, lembrar-se daquilo fez seu ânimo aquecer e, foi pensando em se vingar de Seiya, que Shaina escreveu o nome do Cavaleiro de Bronze com tanto prazer naquele quadro negro que o branco do giz que delineava o nome dele ganhou destaque entre os demais. Então ela voltou-se para os três rapazes que a fitavam seriamente.
— O que foi?
— Nada — eles responderam ao mesmo tempo.
— Certo — Shaina assentiu e antes que ela desse a palavra a Afrodite o mesmo anunciou de uma vez:
— Jamian para o Milo.
Apesar da pontada em seu estômago, Milo já imaginava aquilo.
— Você pode usar a carta coringa. — Shaina o lembrou.
— Nem pensar. Eu quero o nível avançado para o cavaleiro de ouro, com o qual irei conseguir a pontuação máxima e vencer esse jogo — declarou ele, confiante. — E, de qualquer forma, se eu mudar a categoria para ouro, o Dite vai me jogar o Aldebaran e vai acabar dando na mesma.
— Vai mesmo pagar um boquete no cara de corvo, Rabo-torto? Ha, ha, ha! Esse jogo é mesmo interessante! — Máscara aproveitou para alfinetá-lo.
— Então, está certo! — Shaina bateu as mãos ao longo do corpo, decidida a dar partida antes que as discussões recomeçassem. — Que comece a segunda rodada!
Milo x Jamian
Milo subia pelo caminho estreito de degraus de pedra, pensativo. Um pouco a sua frente estava Máscara e vindo mais atrás, Dite. Ambos em silêncio. Na realidade, sabia que aquela rodada seria a mais complicada de todas, no entanto, não imaginara que teria tantas preocupações. A primeira estava bem diante de si: Máscara da Morte. Depois que havia feito a escolha para o italiano, estava com receio das consequências. Seiya era amante de Atena, se o cavaleiro de Câncer cometesse um deslize sequer, a deusa acabaria descobrindo sobre a brincadeira deles e seriam punidos, isso se não fossem exonerados.
Além disso, havia aquela outra preocupação lhe perturbando a mente: a repentina determinação de Dite. Não conseguia imaginar que ele estava, realmente, disposto a tirar a virgindade do garoto Shun só para se sair bem no jogo. Estava começando a sentir que ele estava levando a disputa como uma afronta pessoal em relação a Máscara da Morte.
Fora isso, ainda havia o mal-entendido que gerara com o amigo Camus.
Suspirou quando alcançou o salão.
— Vamos beber um pouco antes de começarmos essa rodada? — sugeriu aos amigos, querendo ter uma oportunidade de arrancar deles mais alguma coisa.
— Eu vou recusar, Milo. — Dite foi o primeiro a negar, prendendo o lábio inferior nos dentes, mantendo os olhos claros totalmente dispersos; criando possibilidade de atrair sua vítima para Décima Segunda casa. — Tenho que fazer uma visita agora à noite. Minhas rosas precisam de um tratamento especial e conheço alguém que gosta delas tanto quanto eu e que poderá me ajudar nessa tarefa.
Máscara deu um sorriso de lado, meneando a cabeça, incrédulo.
— Só gostaria de pagar pra ver como as duas meninas vão brincar. — o italiano não perdeu a oportunidade de zombar.
— Não subestime minha capacidade, Máscara — Dite encarou o amante de forma ferina. — Eu posso ser mais ativo que você, se eu quiser. O problema vai ser se eu gostar mais de comer do que receber, não é? Acho que o maior perdedor, no fim, vai acabar sendo você.
Dite riu maldosamente e seguiu pra saída, sem se importar com a reação do outro que ficara. E foi só quando a presença de Peixes desapareceu por completo que Máscara desfez o sorriso da face, sentou-se em um assento junto ao balcão do bar e esmurrou a base do móvel com o punho fechado.
O taberneiro que já conhecia de cor as bebidas favoritas de cada um daqueles três, colocou uma caneca cheia de vinho na frente do italiano, que havia disparado a xingar o pisciano em sua língua materna.
— Disgraziato! Figlio di una cagna! Pensa que virou macho de uma hora pra outra?!
— Também vou querer o de sempre, Atila. — Milo avisou ao dono do estabelecimento, sentando-se ao lado do cavaleiro de Câncer e puxando conversa: — Não vai à caça, amigo?
— Eu iria fazer a mesma pergunta, Rabo-torto. — o canceriano resmungou, entornando a caneca de vinho.
— Acho que vou precisar me animar um pouco mais, antes. — Milo respondeu, olhando por cima do ombro a mesa onde se encontrava Jamian, desta vez, bebendo sozinho e com uma expressão depressiva.
Mas só obteve de Máscara um esturrar em resposta. O companheiro de boemia, ainda parecia enfurecido com as palavras perversas do pisciano.
Àquela poderia ser a melhor chance do escorpiano com Jamian. No entanto, não era o desafio que estava lhe preocupando. Em sua mente, ainda se fazia nítida a cara de decepção do amigo Camus por tê-lo flagrado beijando seu pupilo. Tentou falar com ele depois do ocorrido, para tentar desfazer o mal-entendido, mas o aquariano era duro na queda e fez de tudo para evitá-lo. Pelo menos, conseguira conversar com o Hyoga no campo de treinamento. O loiro veio lhe agradecer e até disse que havia tentando falar com o mestre, mas ele se recusava a ouvir. Ele também lhe avisou que ainda não tivera a coragem de aplicar o que aprendera com o Shun.
O que fez Milo concluir que Hyoga gostava mesmo do cavaleiro de Andrômeda. O sentimento do pupilo de Camus era algo verdadeiro, era quase como se Shun fosse seu primeiro amor. Além disso, os dois ainda eram adolescentes, inexperientes, Hyoga deveria estar com no máximo dezoito anos, enquanto Shun ainda deveria estar entre os quinze e os dezesseis anos. Provavelmente, ambos eram virgens.
A preocupação de Milo era exatamente esta: Afrodite parecia disposto a tirar a virgindade do outro garoto, só para saciar a ânsia de vitória que despertou nele, de repente. E se aquilo acontecesse, geraria uma avalanche de problemas. O cavaleiro de Cisne poderia descobrir e ficaria extremamente decepcionado com Shun, isso se ele não fosse tirar satisfações com Afrodite, como ele fizera consigo ao pensar que havia descido até o campo de aprendizes com a intenção de cortejar o tutor dos pequenos monstrinhos.
A situação acabaria chegando aos ouvidos de Camus, que não pensaria duas vezes em relatar as atitudes de Afrodite à Atena, que poderia pedir uma investigação que, mais cedo ou mais tarde, culminaria nele: o grande idealizador do jogo. E aquilo que era pra ser uma brincadeira, estava começando a ficar perigoso.
Além disso, perderia a amizade e a confiança do Aquariano para sempre.
— Está pálido, Rabo-torto? O que foi? A bebida te fez mal?
— Eu tenho que ir... — Milo anunciou de repente.
— Está doido! Sua presa tá quase dormindo na mesa lá no fundo! Vai perder essa oportunidade de terminar a prova em primeiro?
— E você, Máscara? Não deveria estar preocupado em como vai arrancar um beijo do querido protegido da deusa... — Milo sussurrou.
Mas o italiano riu, pedindo outra caneca de bebida para tirar os olhos e os ouvidos curiosos do taberneiro de cima deles, então respondeu:
— Eu não sou idiota, Escorpião. Eu não preciso sair correndo, tenho tudo calculado. Eu analisei todas as possibilidades antes da rodada e fiz um estudo daquilo que você ou o Dite me indicariam nessa rodada. O garoto está treinando na casa de Touro agora, toda sexta-feira ele faz isso. Mais tarde, lá pelas dez horas ele vai passar pela minha casa pra ir até a deusa e é nesse momento que vou atacar.
Milo arregalou os olhos, surpreso. Então, alertou o colega:
— Faça parecer um acidente, Máscara. Não queira ter os olhos de Atena sobre você!
— Não preciso das suas recomendações, Rabo-torto! Eu já disse que não sou idiota.
Milo ficou impressionado. Achou que o canceriano estava somente com sorte, mas ele parecia o mais calculista do grupo. Foi então que lhe veio um estalo: se ele tinha feito um estudo de todas as possíveis escolhas, saberia então lhe apontar onde estava Shun naquele momento.
— Vamos ver se está tão preparado como diz. Se fosse o Shun, no lugar do Seiya, saberia onde encontrá-lo agora?
— Fácil. — ele riu, apanhando a caneca que o velho repusera a sua frente. — Quando os treinos dos pestinhas se encerram antes do sol se pôr, ele os guia para o alojamento. Lá ele ainda ajuda os supervisores do lugar a banhá-los e alimentá-los, aproveitando pra fazer o mesmo. Só depois que os pirralhos estão deitados ele fica em uma das salas, estudando ou talvez planejando a aula do dia seguinte, então, lá pelas oito, ele vai dormir no quarto dele no dormitório.
— Então é só abordá-lo nesse lugar...
— Exato. Só que há um “porém”... Essa agenda dele se refere aos dias de segundas, quartas e sextas. Nas terças, quintas, sábados e muitas vezes no domingo, o garoto fica a disposição para o treinamento com o Shaka.
— Então, se Afrodite quer mesmo os pontos máximos dessa rodada, ele fará de tudo para pegá-lo hoje?
— É por aí...
Milo olhou novamente para Jamian nos fundos do estabelecimento, então consultou o relógio de parede do bar. De qualquer forma, ele seria motivos de piadas se abordasse o Corvo diante dos olhos atentos dos frequentadores daquele horário, porém, se não fizesse nada, iria arrancar desconfianças de Máscara. Assim, teve uma ideia.
— Átila, meu caro! Me empresta um papel e uma caneta!
...
Alguns minutos depois, Milo estava detido diante da porta da casa de Aquário, o punho erguido e paralisado, admirando os entalhe de uma dama segurando um vaso que jorrava água.
Não sabia o que diria a Camus.
Mas de repente, a porta se abriu e o amigo, usando os óculos de leitura e um roupão azul atoalhado, apareceu.
— O que quer? — ele perguntou, seu tom ainda mais ríspido do que o normal. — Estava me preparando para ir dormir.
— Não quero atrapalhá-lo...
— Já atrapalhou.
— Meu amigo, vai soar estranho, mas eu preciso falar com o seu pupilo.
Os olhos de Camus se arregalaram e ele fez a menção de fechar a porta na cara do Escorpião, mas este o deteve colocando um dos pés para impedi-lo do intento.
— Espere, Camus! — Milo apoiou o ombro no patamar de madeira e tentou empurrar a porta para deixá-la aberta, enquanto Camus empregava força do lado de dentro para tentar fechá-la. — Não é nada disso que está pensando.
— Você não deveria estar naquele bar imundo há essa hora, Milo?! Ou não me diga que teve a audácia de vir até aqui só para convidar o meu pupilo pra sair com você nas suas noitadas? Se está pensando que vou permitir que Hyoga se transforme em um devasso como você, está redondamente enganado! Vá embora, agora! E mantenha distância da minha casa ou irei me reportar à Atena!
— Você está entendo errado, Camus!
— Entendendo errado, Milo? — Camus exclamou, soltando a porta de repente e deixando que o colega caísse no chão do hall de entrada da sua casa. — Eu o flagro bei- bei-
— Beijando.
— Isso, droga! Eu o flagro fazendo isso com o meu protegido e agora você tem a cara de pau de vir procurar por ele.
— Eu não tenho nada com o Hyoga, Camus! E nem quero levá-lo para lugar algum, só preciso falar com ele sobre algo importante. Além disso, aquele dia, eu estava apenas ensinando...
— ENSINANDO?! — o Aquariano explodiu, quando a entrada do seu pupilo o fez ficar ainda mais nervoso.
— Mestre?
— Volte pro seu quarto, Hyoga!! — ordenou em um grito.
Milo olhou para o rapaz loiro e desejou no fundo da alma que ele compreendesse seu olhar de desespero.
Hyoga, por sua vez, não gostava de descumprir as ordens do seu mestre, mas a realidade é que Milo só havia entrado naquela situação por estar tentando ajudá-lo com o Shun, por isso, não podia deixar que ele fosse maltratado daquela forma pela a pessoa que ele mais considerava.
— Mestre, o Milo está falando a verdade. — Hyoga elucidou, ganhando os olhos raivosos do seu mestre que se arregalarem em total descrença. Tinha ciência do quanto o cavaleiro de Aquário era um homem muito desconfiado e tinha absoluta certeza que ele pensava que Milo estava tentando seduzi-lo por prazer de engrandecer sua fama de sedutor. Mas ele tinha que desfazer aquele mal-entendido, Milo não era tão ruim quanto o seu mestre achava. — Ele só estava tentando me ajudar porque eu pedi. Eu... eu... eu... estou apaixonado pelo Shun, mestre. — Hyoga confessou, engolindo em seco em seguida. — E eu queria a opinião de uma pessoa experiente. Fui eu quem pediu para o cavaleiro de Escorpião me ensinar a beijar. — Hyoga abaixou a cabeça, sentindo um grande constrangimento. — Me perdoe?
...
Depois de uma hora de conversa com o Hyoga, aproximadamente, Milo manteve-se sentado na escadaria do templo de Aquário, vendo Hyoga desparecer, saltando pela colina em formato “Z” em direção ao alojamento dos aspirantes a aprendiz de cavaleiros.
Para convencê-lo de ir procurar Shun, falou que tinha ouvido rumores na Taberna do Sol e que havia um cavaleiro interessado no Andrômeda e que ele iria procurá-lo essa noite e se Hyoga não tomasse uma atitude naquele instante, poderia perdê-lo para sempre.
Foi o empurrão que o pupilo de Camus necessitava para poder agir e, em questão de segundos, o vira desaparecer atrás da pessoa que amava.
Por um minuto, Milo suspirou profundamente, sentindo-se brega ao achar bonito o sentimento daqueles dois. Hyoga era muito diferente de si, que na idade dele já havia descoberto os prazeres do sexo e não queria nem saber de compromissos, muito menos, se apaixonar.
Os olhos claros do cavaleiro de Cisne brilhavam e suas mãos tremiam enquanto ele se justificava do porque ainda não tinha se declarado ainda:
“Diante do olhar dele eu fico tonto. Minhas mãos suam e meu coração bate descompassado. De repente, todas as minhas convicções não fazem sentindo e a única coisa em que vejo nexo é me manter vivo somente para poder estar perto dele, sentir seu cheiro, ver seu sorriso, ouvir sua voz... Eu não consigo pensar como seria viver sem o Shun. Muito menos o que eu faria se ele me rejeitasse...”
Milo se sobressaltou ao sentir a presença de Camus ao seu lado. O amigo agora estava vestido com uma calça de moletom branca e uma camisa azul-petróleo, exalando ainda mais intensamente aquela fragrância suave pós-banho. Ele sentou-se ao seu lado no degrau e juntou as mãos.
— Não precisa se desculpar... — Milo abriu um sorriso, estranhando o compasso mais acelerado que o seu coração ganhou repentinamente, devido a aproximação do outro.
— Não iria. — Camus foi categórico. — Por mais que tenha me provado que sua intenção não é mesmo corromper o meu pupilo, eu não aprovo o fato de você querer encorajá-lo nessa tolice que é se declarar para o amigo.
— Você não tem coração, Camus? — Milo perguntou, franzindo o cenho para o outro cavaleiro, indignado.
— E desde quando você sabe o que é ter um? — Camus rebateu. — Afinal, não é você quem se gaba de ser um conquistador barato?
Milo voltou seus olhos claros, ficando ainda mais admirado das palavras duras do aquariano sobre si. Era ele o cavaleiro detentor de um ferrão venenoso, contudo, quem continuava lhe ferroando era o colega. Vários argumentos se formaram em sua cabeça, mas simplesmente não encontrou nenhum que contrapusesse aquela afirmação. Desta forma, sem dizer nada, se levantou e começou a descer os degraus.
— Aonde vai?
— Para um ‘conquistador barato’ como eu, a noite de sexta-feira só está começando, não é mesmo? — Milo gargalhou alto enquanto se afastava sem perceber o ar de desapontamento que deixou no colega.
“Pelo jeito, eu sou mesmo um idiota em acreditar que milagres podem acontecer...”, Camus balançou a cabeça negativamente e também se ergueu, voltando pra dentro da sua casa. “Por um momento achei que você estivesse amadurecendo, Milo...”
Já o escorpiano entrou feito um furacão dentro da sua casa e chutou sua mesinha de centro da sala com o vaso que tinha sobre ela, fazendo ambos se despedaçarem ao se chocarem contra a parede. Não conseguia compreender porque seu coração martelava tanto no peito, e porque as palavras do amigo de repente começaram a lhe ferir tanto, sendo que muitos lhe diziam a mesma coisa e nunca deu a mínima para aquilo.
Passou as mãos nos cabelos e foi até seu pequeno bar, abriu a garrafa de uísque que estava pela metade e bebeu o líquido direto na boca. Em seguida, passou o dorso da mão na boca, limpando o excesso da bebida. Foi quando a voz mole de Jamian, adentrando a sua casa, fez algo dentro de si se contrair ainda mais.
— Alguém em casa... ? Hic!
Foi até a porta da cozinha de onde vinha a voz e lá, se deparou com aquela figura grotesca, apoiada no beiral, tão bêbado que estava. Jamian trajava uma calça preta justa ao corpo, uma camisa de manga longa cinza, — mesmo com o calor insuportável que fazia naquela noite de verão — além dos sapatos, envernizados e de bico longo, que completavam o visual brega.
— O que quer, Corvo?
— Eche bilheche que o taberneiro me deu, hic! Diz que você queria me fer na shua casa, hic! Eu bem que achei que fosse uma piada de... mau-gosto e nem iria vir, hic! Mas aquele italiano desgraçado me trouxe até aqui e me deixou na sua porta, hic! — o homem disse já escorregando para o chão e deitando ali mesmo. — Se não che importar, hic... Vou dormir aqui mesmo e amanhã, hic... Eu fou embora...
Milo suspirou, revirando os olhos. Então, apanhou o homem pelo colarinho e o puxou para dentro da sua casa.
Continua...
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