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[Saint Seiya] Axton - Capítulo 1, escrita por Nemui

Capítulos: 1 2 3 4 5 6 7
Autor: Nemui
Fandom: Cavaleiros do Zodíaco 
Gênero: drama
Status: Completa
Classificação: não disponível
Resumo: Axton é uma fanfic constituída de 7 capítulos, cada um narrado por um personagem diferente. Todos eles são sobre um personagem que criei: Axton, um guerreiro andarilho armado com espadas e filho de um cavaleiro, que causa estranhamento por onde passa. Em cada uma das pessoas com quem lida, Axton deixa um pouco do que é, do que pensa e do que acredita.

Na ilha de Andrômeda, havia pescadores e pescadores. Sendo o solo infértil e pouco, nosso meio de sobrevivência residia no mar de Poseidon. Por essa razão, apesar de eu servir a Athena, como chefe da ilha, precisava realizar um tal ritual ao deus do mar toda lua cheia. Os chefes de cada família reuniam-se em casa para jogarmos ao mar uma escultura de um animal da terra, feito de pedra ou de madeira. Essa estátua era esculpida por Lorca, o artesão da vila. Em troca de comida, fazia arte para nós.

Às vezes, quando sentia saudades do Japão, ia até o ateliê dele e olhava as belíssimas esculturas de animais. Quando ele precisava de material, eu encomendava do continente. Os moradores davam tanta importância ao ritual que lhe permitiam dedicar todo o tempo às esculturas.

Como os peixes estavam ficando menos numerosos, Lorca encomendara uma madeira européia com a qual sempre quisera trabalhar. Naquela tarde, carreguei a tora sozinho até o ateliê, onde ele enchia as folhas de croquis. Quando entrei, ele primeiro olhou minuciosamente para a madeira e depois para mim.

“Está ótimo. Deixe aí. Obrigado, Shun.”

“Não há de quê. É meu dever cuidar dessas coisas.”

“Essa madeira nos trará muitos peixes. Eu vou caprichar e esculpir um touro. Isso nos devolverá os cardumes.”

Lorca sempre acreditara nas oferendas. Eu já preferia entrar em contato com a Fundação Grado e perguntar ao centro de pesquisas na África; sem que ninguém soubesse, é claro.

“Eu também espero. Não vi um rosto muito feliz na tripulação do cargueiro… Mas não podemos fazer muito a respeito, além de continuarmos a pescar…”

“Não se preocupe, não se preocupe. Esta madeira é de primeira. Vai dar uma ótima oferenda.”

Era curioso como os moradores de Andrômeda todos concordaram com a aquisição daquela cara matéria-prima, quando nossa economia ia tão mal. Contudo, quem era eu para reprimir uma tradição?

“A propósito”, comentou Lorca, sem parar de desenhar, “você soube que um sujeito estranho desceu ontem do navio? Ele se instalou na casa do Rufus… Algumas pessoas da vila o viram e ficaram com medo.”

“Medo? Por quê? Ele fez alguma coisa?”

“Não, nada de anormal. Mas diziam que ele carregava duas espadas na cintura, uma de cada lado. Por isso as pessoas se sentiram inseguras. Você como autoridade, deveria verificar se é seguro ter alguém armado em nossa vila.”

“É mesmo…? Não conheço ninguém que use espadas, porque no Santuário não é permitido empunhar armas. Acho que não custa nada ir visitá-lo.”

“Ótimo. Assim vou poder trabalhar mais sossegado.”

“Tem todo o tempo do mundo para fazer o que tem de fazer, Lorca. Eu já vou.”

Deixei o ateliê e me dirigi direto para a casa de Rufus. Duvidava que alguém quisesse causar encrenca justamente numa vila pequena como a de Andrômeda. Além disso, todos da costa sabiam que a ilha de Andrômeda estava muito bem protegida por um casal de guerreiros de Athena.

“Shun? Ora, que surpresa… Por que veio?”

“Desculpe incomodar, Rufus… Mas Lorca me contou que um estrangeiro instalou-se em sua casa. Isso é verdade?”

“Ah, está falando do Axton? Ele está hospedado aqui sim. Você acaba de perdê-lo. Ele saiu não faz nem quinze minutos. Foi na direção do ponto de pesca, carregando aquelas espadas tenebrosas.”

“Obrigado!”

Por que ele carregaria espadas para lá? Fiquei com uma sensação muito ruim no espírito, como se algo estivesse para acontecer. Eu sabia que June estaria por lá, treinando, por isso nem pensei duas vezes antes de ir atrás daquele desconhecido. Por mais que confiasse em June, tinha medo por ela.

“Ajudem! Ajudem!”, gritou uma mulher ao longe. Saí correndo, esperando que não fosse aquele visitante. Seria péssimo ter de expulsar um visitante da ilha.

Vi a praia com os pescadores. Alguns direcionavam os barcos à costa. No centro da atenção de todos, vi um desconhecido. Ele voltava do mar, todo molhado, carregando um menino que tossia sem parar em seus braços. Surpreso, parei para ver o que ele faria.

O rapaz deitou o menino na areia, e todos os pescadores se colocaram em volta da criança. Ele pegou duas espadas caídas no chão, amarrou-as no cinto da calça e deu alguns passos atrás para permitir que os moradores se encarregassem do garoto. No próximo segundo, percebeu que eu estava ali. Seu olhar era calmo, mas muito frio. Tive a impressão de estar olhando para um tigre.

Mesmo com aquela impressão, não podia negar o fato de que ele salvara uma criança de minha proteção. Aproximei, sorri e pensei na melhor maneira de dirigir-lhe as palavras.

“A criança está bem?”

“Sim, ela vai ficar bem.”

“Que bom… Muito obrigado por salvá-la. Meu nome é Shun. Sou o responsável pela ilha de Andrômeda. Você é bem-vindo aqui.”

“Shun… você disse?”

“Sim.”

“Sou Axton.”

“Prazer, Axton. Escute, há algo que eu possa fazer para agradecer-lhe?”

“Existe sim.”

“Então diga. O que estiver no meu alcance, prometo que farei.”

Axton sacou a espada esquerda muito rápido. Aquela lâmina não era simples enfeite. Era muito bom com armas, pela leveza do movimento. Contudo, ele não o fazia com a intenção de matar-me. Parou a lâmina a poucos centímetros do meu pescoço. E eu sabia que ele pararia.

“Na próxima vez, não mantenha a guarda baixa para mim. Ou eu arrancarei sua cabeça muito fácil.”

Minha intuição dizia: não era um blefe. Aquele homem possuía alguma coisa contra mim, apesar de eu não conhecê-lo. Todavia, ele não parecia ser uma má pessoa. Axton guardou a espada, afastou-se cauteloso de costas, até ganhar uma distância segura de mim e virar-se para ir embora.

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“Eu conversei com o pessoal que estava por lá”, comentou June, enquanto jantávamos, à noite. “Axton não lhes disse nada o tempo todo, mas não pensou duas vezes antes de pular na água atrás do menino. Ele não deve ser uma má pessoa, mas para apontar uma arma para você…”

“Nunca o vi na vida. Não sei o que ele tem contra mim.”

“Não o reconhece de nenhum lugar? Nem de quando você trabalhava no Santuário?”

“Não. Eu lembro bem de todos que passaram por lá. Nunca vi esse Axton por lá…”

“Hum…”

A maneira como June voltou-se ao prato de comida, interrompendo o diálogo, me deu a impressão de que não acreditara em mim. Para ela, era inconcebível que alguém viesse me provocar sem termos tido algum contato. Eu era uma pessoa de poucos inimigos na vida cotidiana, principalmente porque sempre conseguia minimizar as desavenças entre os chefes da família com extremo cuidado. Além disso, meu convívio com os demais cavaleiros não era ruim, pelo menos no meu ponto de vista.

June encheu o copo de água, bebeu tudo de uma só vez. Ela cozinhava muito bem, mas parecia não conseguir engolir o peixe.

“Shun… Olha, se esse tal de Axton quiser lutar contra você, terá de passar por mim primeiro. Eu não gosto nem um pouco do jeito como ele te ameaçou hoje, e se ele fizer isso de novo, vou até a casa de Rufus me entender com ele!”

June era tudo menos tolerante. Quando não gostava de algo, não media esforços para mudá-lo. E ela não gostava de muita coisa… Eu acreditava que, se um dia a ilha de Andrômeda ficasse sem peixes, June sairia e espantaria cardumes em nossa direção. Era uma pessoa forte com temperamento forte, sem rédeas nem limites. Se algo desse errado, ela suspirava e me dizia: pelo menos eu tentei. Era muito segura no dia-a-dia, mas tinha um medo gigantesco em relação a mim. Ri e tentei acalmá-la.

“Não precisa ir tão longe, June. Contanto que cada um fique num canto, ninguém sairá machucado. Por enquanto, esse Axton não causou nenhum problema para os moradores da vila, por isso não pretendo incomodá-lo. E se por acaso ele quiser me provocar, pode deixar que eu resolvo o problema.”

“Tem certeza? Porque eu não gosto disso nem um pouco. Às vezes você me deixa morrendo de preocupação porque fica se fazendo de bonzinho.”

“Você é que me preocupa… Eu te quero longe daquelas espadas.”

“Eu não sou uma garota fraquinha e indefesa para ser protegida por você, Shun”, respondeu ela, aborrecida. “Eu faço o que quero, quando quero, e você nem pense em me dizer o que posso ou não posso fazer, porque sou uma guerreira e sei muito bem me defender.”

Como eu disse, June não tinha rédeas, mesmo quando a situação envolvia riscos. Eu sabia que ela não ficaria parada.

“Desculpe. Eu não estou dizendo que você deve fazer o que digo, é só que me preocupo, só isso…”

Meu maior problema com June estava ali. Minha preocupação sempre soava como falta de confiança. E eu, sinceramente, ficava em dúvida na hora de pôr nome nas coisas. Não sabia se era mesmo falta de confiança. Quando June saía numa missão, eu tinha vontade de ir atrás para ter certeza de que nada de ruim aconteceria a ela. Eu ficava esperando, mas os mais terríveis medos me assombravam enquanto ela estivesse fora. Era um sentimento inevitável que feria o seu orgulho como guerreira.

“Você se preocupa demais comigo.”

Ela continuou a comer, em silêncio. Fiquei aterrorizado com a possibilidade de que ela fosse atrás de Axton, decidi:

“Amanhã eu vou falar com ele.”

“Por que mudou de idéia agora?”

“O problema de Axton é comigo. Seria péssimo envolver outras pessoas por minha causa.”

Terminei de comer e levantei-me da mesa para lavar o prato. Mas June segurou a cabeça com as duas mãos, cotovelos na mesa. Os olhos, que apenas eu tinha o direito de ver, estavam fixados num canto qualquer do cômodo.

“Eu sou tão fraca assim? Tão fraca assim, Shun? Tenho treinado todos os dias, tentando alcançá-lo em força, mas você não enxerga, não entende o que sinto. Será que sou tão insignificante a ponto de você ir atrás do perigo antes de mim?”

Talvez jamais conseguiríamos morar juntos. Enquanto as garotas normais não faziam nada além do seguro apoio moral, June tentava apossar-se do sétimo sentido para um dia me proteger no campo de batalha. Por incrível que parecesse, nosso problema era sermos bons demais um para o outro. Como resolver? Voltei a sentar à mesa. A conversa não tinha terminado.

“Eu entendo sim, mas também estou sendo egoísta demais. Eu só não quero que vá provocar uma briga desnecessária. Axton não parece ser uma pessoa ruim. Se me prometer que não irá com a intenção de brigar com ele…”

“Mas você, como sempre, vai ficar preocupado demais.”

“Eu tentarei lidar com esse sentimento. Você pode ir conversar com ele amanhã?”

June suspirou, desviou o olhar e respondeu, não contente:

“Está bem. E vou falar com ele.”

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Eu fiquei ali sentado, sem mover um músculo, do outro lado da ilha, esperando o retorno de June. Não conseguia sequer treinar, tamanha era a preocupação. Simplesmente não conseguia me concentrar no treino sem pensar nela e nos riscos de conversar com o tal de Axton. Eu precisava ceder a June, pelo menos quanto àquilo. Era importante para ela ser uma guerreira, antes de qualquer outra coisa. Aceitar a minha proteção era recusar a própria profissão.

Eu queria que ela voltasse logo. Não sabia se isso significava que eu gostaria de ter o controle total sobre ela, apenas desejava que voltasse sã e salva, sem nenhum arranhão. Mesmo sabendo que ela precisava de um espaço próprio para atuar, era difícil ceder. Havia a June companheira do cotidiano e havia a June amazona de Athena. Duas entidades diferentes, ocupando o mesmo espaço.

Meia hora secular depois, June apareceu caminhando, parou a poucos metros de mim. Era impossível saber seu semblante por trás daquela máscara, mas eu sentia que a atmosfera que a cercava não era das melhores. Quanto a mim, estava apenas aliviado por vê-la viva.

“Conversou com ele?”, perguntei. June não queria que eu mostrasse preocupação, por isso agi como se fôssemos dois colegas cavaleiros.

“Conversei.”

“E como foi? O que ele disse?”

“Ele confirmou a minha suspeita. Ele tem algo contra você, mas não sei o que é. Disse que pretende matá-lo.”

“Matar-me?”

“Sim.”

“Teria sido mais fácil se ele tivesse dito para mim logo de início.”

Como eu não sabia mais o que perguntar além do estado de June, calei-me. Não podia demonstrar preocupação por ela porque soaria como falta de confiança. June sentou-se no chão do meu lado e suspirou. Como eu poderia fazê-la feliz se ela nunca ficava contente com minhas ações?

“Não ficou preocupado comigo?”

“Eu… sabia que voltaria sã e salva, porque acredito em você.”

“Está mentindo.”

Sim, eu estava. Mas eu só queria agradá-la. Havia algum mal nisso?

“Mas eu quero acreditar em você. E isso não é mentira. Preciso me forçar a aceitar que você é uma guerreira de Athena, não uma mulher como as outras. Você precisa de espaço para crescer como guerreira, e eu… eu acabo atrapalhando com a minha preocupação.”

“Shun…”

Havia algo de muito errado com June. Ela definitivamente não estava feliz. June devia saber que Axton não tinha cosmos suficiente para matar-me. O que ocorrera afinal entre ela e Axton?

“E… E o que mais esse Axton falou?”

Por algum tempo, June hesitou. Eu não queria apressá-la, por isso esperei até que ela decidisse responder, o que foi por volta de um minuto.

“O que eu vou dizer agora… Quero que você encare e comente como um cavaleiro de Athena, Shun.”

“Está bem. Eu prometo.”

June fez uma nova pausa. Ela estava se armando contra mim antes de dizer? O que quer que fosse, não devia ser visto pelo lado pessoal.

“Axton me disse que… Eu jamais devia ter ido conversar com ele sozinha porque sou fraca demais. Ele me disse que se você se importasse comigo, teria vindo atrás de mim para proteger-me contra ele. E terminou dizendo que estava ‘poupando’ a minha vida… Como se eu não tivesse a menor chance contra ele.”

O que era bem verdade. O cosmos de June não era capaz de equiparar-se ao cosmos de Axton. Ela ainda estava na categoria bronze no quesito poder, enquanto aquele sujeito apresentava um cosmos comparável ao de um cavaleiro de prata.

“O que você acha disso?”, perguntou-me ela. Com certeza ela ficara abalada com aqueles comentários. June queria me proteger fisicamente, mas era incapaz disso.

Se eu respondesse na posição de Shun, o seu par, tentaria amenizar as palavras de Axton… Mas um cavaleiro de Athena devia sempre ser preciso em suas observações, de modo a elogiar ou repreender o companheiro com justiça.

“Ele disse a verdade. A diferença cósmica entre vocês não é pouca, por isso você estaria em séria desvantagem caso lutasse contra ele. A chance de perder uma luta contra ele é alta, mas não é total. Lembre que nós podemos elevar o cosmos infinitamente, ensinamento de nosso mestre Daidaros. Um cavaleiro não pode se descuidar de um inimigo mais poderoso, é lógico, mas também não deve temer demais. Um cavaleiro covarde não merece pisar no campo de batalha, afinal. Esta é a minha opinião como cavaleiro.”

June ficou em silêncio. No fundo, ela sabia que essa seria a visão de um cavaleiro, só perguntara para ouvir de outra pessoa. Aquilo seria o que qualquer cavaleiro responderia, mas… eu não devia dizer exatamente o mesmo que os outros, devia?

“Mas há mais uma coisa importante a considerar sobre as circunstâncias de uma batalha entre você e Axton, June. O motivo. Se você precisasse, acima de todas as coisas, enfrentá-lo numa batalha, eu acredito que teria sérios problemas. Mas quem disse que vocês precisariam lutar em qualquer situação? Como cavaleiro, eu acredito que a primeira coisa que um guerreiro deve fazer… é evitar a guerra. Somos sim treinados na arte da guerra, mas ninguém gosta de ver sangue derramado. E eu não acho que exista necessidade de uma luta entre você Axton. Eu acho que a maioria dos conflitos pode ser resolvida de forma mais simples, com palavras. É isso que eu busco como prioridade. Portanto, na minha visão como cavaleiro, um verdadeiro guerreiro é aquele não sabe apenas lutar com o corpo, mas também com as palavras. Saber lutar com as palavras é importante, por que elas carregam o poder de evitar o confronto físico. Foi por isso que eu disse que você poderia ir, contanto que não fosse para provocar uma luta.”

“Você estava preocupado com isso ou com o meu bem estar?”

“Com os dois, June, com os dois.”

Seria muito difícil para ela acreditar naquilo? June sempre fora muito focada em lutas e não estivera em muitas situações em que palavras vinham antes da luta.

“Entendi… Mas…”
“Mas…?”

“Mas eu me sinto frustrada. Eu queria ser forte para proteger você um dia, Shun. Eu queria ser uma guerreira melhor… a melhor… só para poder te proteger um dia. Eu sei que você é mais forte e experiente do que eu, e é isso que me irrita… É como se a sua preocupação fosse uma espécie de pena, de um olhar de cima para baixo…”

Eu me ria com June. Então quando ela se preocupava comigo, era o quê? Pena?

“Se fosse assim, você não precisaria se preocupar comigo, não é verdade?”, disse, rindo. “Não é nada disso, June. É só algo normal, da afeição e não da pena. Por isso, você devia ficar feliz por eu me preocupar, da mesma forma como eu fico contente quando a vejo brava porque me arrisquei. Vamos fazer assim: resolvamos o caso Axton juntos e fim de briga, certo?”

“Como dois guerreiros de Athena deveriam fazer.”

“Exatamente.”

“E o que pretende fazer?”

“O que sempre faço antes de enfrentar um adversário. Tentar evitar o conflito físico. Esse Axton ajudou o menino na praia. Pode ser que ele também pense na segurança dos moradores numa possível luta. Eu vou conversar com ele e convidá-lo para vir em casa. Assim poderemos conversar com calma e resolver tudo de uma vez. Se houver um confronto físico não prejudicaremos a vila.”

“Eu vou com você.”

Era impressão minha ou finalmente tínhamos entrado em acordo? Levantamos do chão e começamos a caminhar na direção da casa de Rufus.

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Quando Axton me viu, ficou em silêncio. Pudera, June tinha acabado de colher a informação de que ele buscava a minha morte. Antes que ele se sentisse ameaçado, tratei de acalmá-lo.

“Não vim aqui desejando uma luta. Você terá sua oportunidade para ter o que quer, mas longe dos moradores da vila. Eu não pretendo fugir de ninguém. Só quero conversar.”

“Conversar… Sobre o quê? Duvido que haja algo de especial sobre o caso. Sua mulher já deve tê-lo avisado. É tudo o que precisa saber.”

“Não. Se quer tirar a minha vida, ao menos tenho o direito de saber o porquê, ou ao menos a possibilidade de não envolver outra pessoa sob a minha proteção. Em troca, eu não fugirei, nem serei falso com as palavras, em nenhum momento, tal como exige a honra de um cavaleio de Athena. Por favor, aceite a crença em minha honra.”

Axton ponderou antes de responder. Ele parecia considerar as minhas palavras com seriedade. Assim eu esperava.

“Eu já ouvi a respeito de você. Nada me faz crer que esteja mentindo, pois é bem afamado pela pureza e espírito pacífico. Mas eu não entendo por que veio. Parece desejoso da própria morte.”

“Eu não vim lutar. Eu vim agradecer-lhe por ter salvado a vida do menino. Não aceitaria vir à minha casa hoje à noite? Sem nenhum confronto. Se temos de lutar, vamos ao menos conhecer quem morrerá na luta antes. Antes de nos matarmos, sejamos sensatos.”

“Você é louco por propor isso para mim. Não acha que é confiar demais nas palavras do outro?”

“Eu confio num homem que não pensa antes de salvar a vida de uma criança. Ela estava sob a minha proteção. Eu realmente gostaria que viesse, Axton. Não temos muita comida atualmente, mas ficarei feliz por partilhar com uma boa pessoa.”

Axton quase caiu na gargalhada, acabou com um riso jocoso. Uma reação cuja conseqüência parecia ser uma recusa. Contudo, ele respondeu:

“Tudo bem. Eu aceito. Não quero que morra pensando que eu sou um bom homem, pois sou apenas ponderado. Prometo que não erguerei a minha arma contra você até amanhã, e esta noite será um encontro civilizado, sem ofensas.”

“Obrigado. Espero realmente que venha.”

Axton riu novamente e fechou a porta. Ele podia rir à vontade, contanto que me escutasse. June, que permanecera em silêncio até então, afastou-se comigo até a rua e comentou:

“Você confia demais nos seus oponentes, Shun. Nem reparou que ele segurava o cabo da espada, pronto para decepá-lo.”

Quem disse que eu não tinha reparado? Teve um segundo em que vi Axton segurar a arma com mais força, e eu quase me afastei para desviar de um possível golpe. Eu não estava desatento, mas sabia que ele me atacaria se eu me defendesse sem razão.

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Pelo resto da tarde, June e eu arranjamos a casa para receber nosso convidado para o jantar, entre reclamações de minha companheira sobre o trabalho de um cavaleiro ser ‘preparar um jantar para o inimigo’. Eu particularmente não me importava de fazer aquilo para conhecer aquele guerreiro. Seria ótimo se não precisássemos lutar e tirar vidas, não?

Já tinha anoitecido quando ouvimos o esperado bater na porta. June foi atender, desconfiada de que pudesse haver um ataque. Abriu a porta e quase deu um passo para trás ao ver as espadas penduradas na cintura de Axton. Contudo, ainda era cedo para conclusões precipitadas. Por um momento, eu achei que June pularia sobre ele, seguindo o velho ditado, ‘o ataque é a melhor defesa’. Por isso, apressei-me e tentei ser gentil com Axton.

“Axton! Que bom que veio. Por favor, entre. Ainda não estamos totalmente prontos, mas você fique à vontade.”

“Obrigado”, agradeceu ele. Entre nós havia esse acordo de aparente confiança, apesar da presença das espadas. Com a guarda baixa, ele entrou, caminhou tranqüilamente até a cadeira e sentou-se com os antebraços apoiados na mesa. Estava atento, é claro, mas não aparentava.

“Eu vou pegar o vinho lá no fundo, Shun. Já volto”, disse June, um tanto indecisa. Ela não parecia disposta a receber bem um homem que desejava a minha morte.

Quando ela saiu de vista, Axton comentou:

“Ela está insegura. Tem certeza de que ela não tentará me atacar?”

“Tenho. June me deu a palavra. Ela só ficou apreensiva porque você trouxe as suas espadas.”

“E você não?”

Com espadas ou sem espadas… que diferença faria se a nossa principal arma era o cosmos?

“É claro que não. Provavelmente seria perigoso largar espadas tão caras em qualquer lugar. Não devem ser comuns. Será que eu posso vê-las?”

“Claro”, disse ele, sem hesitar. Axton de fato desejava confiar em mim para cedê-las tão fácil. Peguei uma das espadas e tirei-a da bainha. “As duas são iguais”, acrescentou Axton.

Eu procurei por qualquer sinal do criador da lâmina, mas não havia nenhum. Contudo, não dava para negar que se tratava de uma lâmina extremamente bem acabada. Afastei-me um pouco de Axton e cortei o ar com ela. Cavaleiros não podiam usar armas, mas deviam saber utilizá-las, sempre.

“Onde conseguiu essas espadas?”

“Uma pessoa fez especialmente para mim, há alguns anos. Vou a todo lugar com elas.”

“Hum…”

Guardei a espada e devolvi para ele. June voltou dos fundos, trazendo um jarro de vinho para a noite. Tínhamos deixado um frango no forno, e provavelmente já estava bom. Era a nossa única carne diferente de peixe que tínhamos em casa. Tirei a carne, June preparou os pratos com cozidos. Tudo muito natural.

“Como é que você veio parar nesta ilha, cavaleiro, como líder da vila?”, perguntou Axton.

“Bem… Acontece que eu era discípulo do cavaleiro de Cefeu, Daidaros. Antigamente, ele era o responsável pela ilha de Andrômeda. Contudo, foi morto por Afrodite de Peixes por desavenças entre cavaleiros e o Santuário… Isso foi há alguns anos. Como eu devo a ele tudo o que sei, assumi os seus deveres como líder na ilha de Andrômeda.”

“A vida de um cavaleiro é mesmo complexa além da conta. Mais vale ser um errante como eu.”

“Você tem alguma relação com o Santuário, Axton? É muito difícil encontrar alguém que possui cosmos e não tem nenhuma relação com o Santuário.”

“Evidentemente. Apenas o Santuário possui guerreiros capazes de instruir alguém no caminho do cosmos. Alguém pode acidentalmente despertar o cosmos, mas é muito improvável dominá-lo sem conhecê-lo na teoria. O meu pai costumava ser um cavaleiro de prata. Morreu quando eu ainda estava treinando, numa missão.”

“Então você vivia no Santuário?”

“Não. Nós morávamos fora, na África do Sul. Meu pai tinha um pequeno terreno, não muito grande, mas o suficiente para vivermos com dignidade. Éramos muito felizes lá… Meu pai, minha mãe, minha irmã mais nova e eu. Nós ríamos muito.”

“Deve ter sido uma boa vida. Eu nunca conheci os meus pais. Meu irmão e eu vivíamos abrigados numa pequena igreja, quando pequenos.

“Talvez seja melhor assim para um cavaleiro. Mas eu trocaria tudo para ter minha família de volta.”

“O que houve? Você não vive com a sua mãe e irmã?”

“A única pessoa que me restou depois que minha mãe morreu foi a minha irmã. Mas ela me foi tirada… por um desgraçado.”

“Como assim? O que houve?”

June silenciosamente ofereceu um prato para Axton, que aceitou e começou a servir-se, enquanto continuava o relato. Eu fiz o mesmo. Era estranho falarmos sobre um assunto tão sério enquanto comíamos.

“Foi uma vez… quando eu vivia sozinho com ela. Depois que o meu pai morreu, eu continuei o treino, mas não para ser um cavaleiro de Athena. Eu queria é ser o mais forte possível para proteger a minha irmã. Para viver, cultivava as nossas terras. No meu tempo livre, treinava o cosmos. Nós vivíamos num povoado muito pequeno, mas que ficava próximo a uma vila maior. Um dia…”

Axton comeu o frango e bebeu o vinho sem um pingo de desconfiança. Não tinha sequer esperado que nós puséssemos comida na boca, para mostrar que acreditava em mim.

“Um dia eu fui chamado para cuidar de um suposto assaltante na vila. Foi o que me informaram. Eu sempre ajudava as pessoas, porque meu pai me ensinou a ser assim. Ele era um cavaleiro de Athena, um verdadeiro herói, capaz de dar a vida para salvar um inocente. Ele podia mentir como ser humano… mas quando vestia a armadura, sempre agia de forma verdadeira. É por isso que eu sou assim. Ajudo as pessoas porque assim o meu pai continua vivendo através de mim.”

“Entendo. Eu sei que é uma péssima comparação, mas eu sempre quis seguir os mesmos passos de meu mestre. Eu sempre quis ser um cavaleiro igual a ele.”

“Sim… Eles são os nossos modelos, afinal. Pois então… Como eu estava acostumado a ajudar pessoas, naquele dia eu acreditei naquele sujeito e deixei-me guiar até a vila. Mas era uma armadilha… Eles tinham seqüestrado a minha irmã.”

“Por que eles fariam isso?”, perguntou June, entrando, pela primeira vez, na conversa. Não era apenas isso. Eu sentia que alguma coisa tinha mudado dentro dela depois que Axton começara a falar. Ela parecia… adquirir confiança por ele.

“Por causa disto aqui… Eu sempre carrego comigo. Gostaria que dessem uma olhada…”

Axton tirou do bolso do casaco dois papéis dobrados, cartas feitas com recortes de jornais. A primeira dizia: ‘ Se quiser sua irmã viva, mate o homem que se encontra na cela vinte e um da prisão desta cidade.’ A segunda, que parecia mais nova, dizia: ‘Traga a cabeça do guerreiro de Athena da ilha de Andrômeda para provar sua força. Se não o fizer, devolverei sua irmã aos pedaços.’

“Essas são apenas as duas últimas… Esse desgraçado me transformou numa ferramenta, por causa de minha irmã. Por mais que eu tente, não consigo encontrá-lo… Ele já me mandou um dedo dela quando eu hesitei em obedecê-lo… E como pode ver, ele me mandou matá-lo, embora eu não tenha a mínima vontade de obedecê-lo.”

“Então esse é o seu motivo… Sua irmã…”

“Você tem um irmão. Deve saber como eu me sinto… Preciso recuperá-la, leve quanto tempo precisar… Pelo menos… era assim que eu pensava antes de vir para cá. Sei que estou errado, mas… Eu jurei que a protegeria.”

“Eu entendo… Se o meu irmão estivesse numa situação semelhante, eu também hesitaria.”

“E o que você faria em meu lugar, cavaleiro?”

Considerei a pergunta com calma. Se algo semelhante acontecesse com Ikki niisan…

“Eu hesitaria, eu sei que hesitaria… Mas… Ikki niisan jamais me perdoaria se eu matasse uma pessoa inocente em seu lugar. Eu sei que me doeria tremendamente… Mas uma pessoa inocente… jamais.”

Axton sorriu e olhou para baixo.

“Eu sou mesmo um fraco. E eu pensava em realmente matá-lo, cavaleiro.”

“Isto não é justo”, comentou June. “Não pode ficar assim. É dever de um cavaleiro impedir a morte de inocentes. E sua irmã é inocente.”

“Isto é… se você acredita em minha história”, disse Axton. “A senhorita acredita em mim?”

June demorou a responder. Contudo, fiquei orgulhoso de suas palavras.

“Eu não sei responder, Axton. Não tenho como verificar a sua história. Mas um verdadeiro guerreiro de Athena não deve temer a profundeza de um buraco. Se pode haver um inocente preso lá embaixo, ele precisa descer, independente de sua própria segurança. Somos treinados para sair de situações que são impossíveis para os civis. Você pode estar mentindo para mim. Mas mesmo que eu caia na armadilha, haverei de sair dela, porque sou uma guerreira treinada por Daidaros, o cavaleiro de prata de Cefeu.”

Axton riu. Eu não pude evitar um sorriso para ela.

“Agora sim parece uma guerreira falando. Lembra um pouco o meu pai. Sinto saudades dele.”

“O que você pretende fazer agora, Axton?”, perguntei. “Quer marcar um dia para nós lutarmos até a morte? A escolha é sua.”

Ele meneou com a cabeça, colocou mais vinho no copo e continuou a comer.

“Não… Não é certo. Você não é o tipo de homem que merece morrer cedo, cavaleiro. Afinal, essa bela donzela e a ilha… precisam de você para viver… Eu vou partir no próximo navio de volta ao continente sem encostar um dedo em vocês. Eu continuarei a minha busca, mas não mais obedecerei esse desgraçado. Creio que preciso me preparar para o pior… Mas eu não posso mais sujar minhas mãos de sangue por causa de minha irmã. Não é certo.”

“Eu não sinto que isso seja justo para você”, respondi. Depois de tanto sofrimento, ele não poderia ter a irmã de volta? Eu não podia deixar que isso acontecesse.

“E o que sugere que eu faça? Não posso matá-lo, cavaleiro.”
“Não sei… Mas eu não posso deixar que continue assim. Preciso pensar em algo…”

“Eu agradeço à sua consideração. Mas não creio que possa me ajudar… Somente este jantar delicioso já me convenceu a não matá-lo. Mas não quero causar mais problemas do que isto…”

June, que terminava de comer, pegou uns pêssegos, importados do continente, e soltou-os na mesa. Pegou um para si e começou a descascá-lo.

“Eu tava pensando agora… Alguns animais, quando se sentem ameaçados, se fazem de mortos. O Shun não precisa morrer para fazer o seqüestrador pensar que você cumpriu a missão.”

“Simular a minha morte? Acha que isso pode dar certo, June?”

“Por que não? Pelo menos nós podemos tentar localizá-lo. Eu sei que Shun jamais permitiria que sua irmã morresse sem lutar, não é mesmo, Shun?”

June sorriu para mim, com aquela expressão de ‘eu sei tudo sobre você’. Ela tinha razão. Eu não podia dizer que recusava perecer sob a espada dele sem tentar salvar a irmã. Nenhum cavaleiro de Athena faria algo tão desonroso.

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Axton e eu combinamos uma falsa luta para o entardecer do dia seguinte. Como o seqüestrador tinha meios de ver as lutas, segundo as pistas fornecidas pelo nosso novo aliado, precisávamos tornar tudo próximo do real. Desde o final do jantar, eu virara ator de um perigosíssimo filme.

Parei diante dele na praia, em frente à nossa casa. June já tinha arranjado tudo, e estava um tanto tensa. Contudo, não podíamos sequer pensar na possibilidade de errarmos. Tudo haveria de ser perfeito.

“Tal como prometi, Axton, sua luta viria depois do jantar. Um combate de vida e morte, sem tréguas. Em troca, você não prejudicará June, nem ninguém da minha ilha.”

“Eu tenho a minha honra, cavaleiro, e cumpro as minhas promessas. Podemos começar a luta?”

Assumi postura de batalha. Para que nosso seqüestrador acreditasse em nós, aquela precisava ser uma luta de verdade. Teríamos de arriscar as nossas vidas de verdade e confiarmos em nossas habilidades para prolongarmos o combate até a noite.

“Quando quiser.”

Axton avançou como um flash de luz, tamanha era sua velocidade. A lâmina girou no ar na direção do meu abdome, e eu tive de recuar para desviar-me. Ele estava atacando com todas as forças, pois o tal seqüestrador, por algum motivo, conhecia a existência de cosmos e não se deixaria enganar por uma simples encenação. Eu não medi a distância com perfeição, e minha camisa rasgou, junto com a pele. Era um corte raso, mas foi o suficiente para fazer um fio de sangue sujar o pano rasgado. Ele era bom, e mais perigoso com as espadas.

Imediatamente, corri lateralmente. A única forma de enfrentar um adversário com um alcance maior era mover rapidamente e esperar por brechas para atacar. Sabendo disso, Axton correu na mesma direção, tentando manter a velocidade. Assim, dificultaria a minha defesa.

Mudei de direção e avancei, queimando o cosmos. Axton notou e girou a espada em proteção. Saltei, desviei e me afastei de novo. Era difícil atingi-lo, apesar da diferença de poderes. Axton estava se esforçando para prolongar a batalha, e eu não podia economizar meus poderes. Conseguiríamos chegar vivos à noite?

Eu abri uma brecha ao saltar que Axton não ignorou. Avançou rapidamente, tentou perfurar-me com a lâmina, mas não pôde. Eu sabia me defender com as mãos nuas por ser um cavaleiro. Prendi a ponta da espada entre as mãos e empurrei-a para o lado. Entretanto, Axton estava pronto para colocar-me em desvantagem. Senti o seu cosmos elevar-se, e a outra espada, muito rapidamente, cortou o meu bíceps esquerdo. Quando me afastei, era tarde demais.

“Até que você não é tão bom quanto dizem”, falou Axton. Ele podia muito bem ter continuado a lutar, mas preferiu esperar que eu me recuperasse do ataque. “Para provar a minha força, preciso de um adversário mais forte.”

“Suas espadas são muito velozes. Eu fui descuidado.”

“Posso não ser um cavaleiro, mas fui treinado por um. Enquanto não colocar na sua cabeça que está lutando contra um cavaleiro armado, perderá.”

“Eu agradeço à sua preocupação.”

De fato, Axton estava me dando um tempo. Rasguei um pedaço da camisa, dei um nó em volta do braço usando os dentes e a outra mão para parar o sangramento. Reassumi a postura de luta, pronto para recomeçar. Ainda era cedo, ainda era cedo…

Sem poder utilizar o braço esquerdo, minhas chances contra ele estavam reduzidas. Assim, nós conseguiríamos lutar em pé de igualdade. Eu não podia me descuidar com Axton. Queimei o cosmos. Estava na hora de lutar sério. Eu precisava confiar nele e atacar com a certeza de que meu aliado se defenderia contra mim.

Avancei. Queimando o cosmos, precisava ser veloz o bastante para esquivar-me das lâminas e alcançá-lo com o punho. A primeira lâmina passou a poucos centímetros do meu rosto, cortando alguns fios de cabelo. A segunda passou perto do meu braço já ferido. Joguei-me contra Axton, dei-lhe um murro e, na perda temporária do equilíbrio, dirigi um ataque de cosmos contra o seu peito.

Afastei-me rapidamente, antes que Axton me atacasse com as espadas. Ele respirava ofegante, seus braços tremiam um pouco. Certamente sentira o golpe no peito. Ao mesmo tempo, meu braço esquerdo ardia como nunca. O próprio peso do braço forçava o corte.

Axton girou as espadas, inclinou o corpo para atacar, saltou e correu na minha direção. Minha mente correu por diversas possibilidades de ataques, mas não sabia de onde viria a lâmina. Um novato ficaria em dúvida e esperaria pelo ataque, mas eu não podia ficar parado. Avancei e corri para a esquerda dele. Naquela posição, Axton ficara com apenas uma possibilidade de ataque sem virar-se.

A espada veio, numa reação quase inconsciente, e pulei para defender-me. Aproveitei o momento após o golpe para avançar. Com a brecha, preparei-me para um golpe, joguei o punho e liberei o cosmos. Apesar de tê-lo atingido de raspão, Axton logrou em agarrar o meu braço esquerdo, soltando a espada. Tive de redirecionar o meu ataque à sua mão para ser solto.

O corte doía demais, assim como o ferimento do peito de meu adversário. Axton sentira o golpe e desistira de reaver a espada, embora estivéssemos novamente distantes um do outro e ele tivesse a chance para fazê-lo com segurança. Em compensação, meu braço doía tanto que estava praticamente inutilizado. Naquele ritmo, morreríamos antes do anoitecer. Começava a escurecer.

“Como era mesmo o nome do seu mestre?”

“Daidaros, de Cefeu.”

“Ele deve ter sido um grande combatente para ensiná-lo a defender-se de forma tão eficaz. Depois de sua morte, prestarei honras a ele.”

“Eu agradeço a sua preocupação. Mas infelizmente não morrerei tão fácil.”

“Se fosse fácil, eu nem me preocuparia com o seu mestre. Faço porque é notável.”

“Então eu também deveria prestar honras ao seu mestre.”

“Seria ao meu pai, mas apenas ao momento de minha infância. A maior parte do que sei aprendi sozinho.”

“Então não seria muito chamá-lo de prodígio. É de fato um combatente experiente. Não gostaria de juntar-se aos cavaleiros de Athena? Sua força seria muito bem-vinda.”

Axton sorriu. Recuperou o fôlego por mais alguns segundos antes de responder. Estávamos feridos, mas precisávamos esticar aquela luta até a noite.

“É a primeira vez que recebo um convite para pertencer ao Santuário. Meu pai dedicou a vida à Athena, e eu mesmo me sinto tentado a aceitar a proposta. Contudo,… Pelo menos, por enquanto, não posso aceitar. Não nas condições em que me encontro.”

“Que pena… Achei que poderíamos interromper o combate.”

“Logo agora, no começo? Quero ver o que mais sabe fazer, cavaleiro.”

“Vai ver… Está pronto para recomeçar?”

“É claro, quando quiser.”

Estávamos ali para lutar e não conversar. Todavia, meu braço estava cansado. Eu precisava ganhar tempo, de alguma forma. Queimei o cosmos e lancei mão do meu trunfo. O ar à minha volta começou a circular de acordo com a minha vontade. Aquela era uma boa forma de ganhar tempo.

“Não vai… Ah… O que é… isto?”

“Não está conseguindo falar direito, não é? Meu golpe pode paralisar seus movimentos. Eu preciso de um tempo para recuperar-me do corte. Mas, se desejar, podermos parar o combate agora, com a sua derrota.”

Mantive meu poder no máximo para ter certeza de que Axton não me atacaria. Naquele estado, podia mantê-lo imobilizado por quase uma hora. Assim, anoiteceria com ambos vivos.

“Que técnica mais covarde, cavaleiro… Pretende me manter prisioneiro até quando?”

Covarde? Talvez. Mas se continuássemos a lutar naquele ritmo, não chegaríamos vivos ao anoitecer. O céu já estava vermelho, e a claridade começava a dar espaço às sombras, mas eu precisava tratar o braço com urgência e impedir a continuação daquele combate. Devia apenas parecer real!

“Você pode render-se. Então o libertarei.”

“Seu…”

Eu sabia que não era certo. Decidi que usaria aquele tempo apenas para cuidar do ferimento. Tirei o pedaço de pano de cima do corte, já encharcado de sangue, e concentrei o poder sobre ele com a mão. Aos poucos o sangue engrossou-se até virar uma grossa camada: um tratamento emergencial, que pelo menos não me causaria a perda do membro. Tirei a camisa e improvisei com ela uma tipóia. Se não podia utilizar mais o braço, melhor seria mantê-lo imobilizado. Axton riu. Devia ser difícil para ele rir, imobilizado na corrente de ar.

“Podia simplesmente ter pedido pelo tempo. Essa técnica fere o meu orgulho. O corte foi tão fundo assim?”

“O próprio peso do braço agrava o corte. É por isso que preciso do tempo para tratá-lo. Corro o risco de perdê-lo movimentando-me de forma tão imprudente.”

“Já arranquei braços de muitos inimigos. Eu compreendo sua preocupação. Mas libere-me. Não quero uma técnica tão covarde.”

Eu podia ceder e continuar o combate, mas não achava que conseguiria prosseguir a luta sem matá-lo.

“Desculpe, Axton. Estamos em luta, por mais que deseje a liberdade. Covarde ou não, esta técnica foi eficaz e imobilizou-o por completo. Se quer lutar, liberte-se sozinho.”

O olhar de Axton tornou-se tão hostil quanto da primeira vez que nos vimos. Não estávamos lutando com o intuito de nos matarmos, mas ele parecia cada vez mais tentado a me enfrentar. Era o orgulho de guerreiro falando mais alto do que qualquer coisa. Ele queimou o cosmos, tentando libertar-se da Nebula Stream, encarando-me feio.

De nada aquilo adiantaria. O meu cosmos estava fixo no sétimo sentido, ao passo que o poder de Axton limitava-se ao de um cavaleiro da categoria prata. Para vencer-me, ele teria de despertar o sétimo sentido.

“Não adianta, Axton. Não estou aqui para lutar até a morte. Posso mantê-lo preso por quanto tempo quiser, por isso se acalme e desista.”

Ele permaneceu em silêncio. Com o melhor dos esforços, tentava elevar o próprio cosmos, tentava alcançar-me. Fechou os olhos com força e reuniu todo o poder que possuía. Seria possível para ele quebrar aquela barreira? Era muito raro um guerreiro chegar ao sétimo sentido daquele jeito.

Subitamente, o cosmos de Axton explodiu. Por um momento, achei que ele tivesse extrapolado os limites da própria vida e cometido um suicídio, mas felizmente continuei a sentir o poder dele, bem fraco. A Nebula Stream tinha se dissipado, pelo menos em volta dele. Quando o vi caído no chão, tive vontade de acudi-lo. Contudo, precisávamos atuar para o seqüestrador. Por isso, permaneci no mesmo lugar, observando-o.

Por uma fração de segundo, no momento da explosão, senti o cosmos de Axton elevar-se de forma admirável. De repente, eu me via nas Doze Casas, enfrentando os cavaleiros de ouro. Mas agora, o cavaleiro de ouro era eu, e Axton, aquele que começava a descobrir o sétimo sentido.

Axton, com muito esforço, levantou-se e assumiu postura de batalha. Ele já tinha usado todo o cosmos para libertar-se de minha técnica, mas insistia na luta. Depois de tamanha proeza, eu não tinha mais o direito de fugir do combate. Se ele estava arriscando a vida numa luta de mentira… Eu devia responder da mesma maneira.

Não era um combate de mentira.

“Axton, você podia ter ficado parado, mas arriscou a própria vida para libertar-se da Nebula Stream. Por que se esforça tanto nesta luta?”

“Porque a vida de minha irmã está por um fio, cavaleiro. Ele… não é alguém que pode ser ignorado, entende? Eu preciso provar que posso derrotá-lo.”

Havia algo com o seqüestrador? Nossa luta tinha sido muito próxima do real até então. Por que precisava ser real? Axton parecia estar com medo… pela vida da irmã. Afinal, se o seqüestrador conhecia os cavaleiros, não devia ser qualquer pessoa. Temendo que ele tivesse cosmos, Axton estava lutando de verdade.

“Infelizmente… Eu também não posso ficar parado com tanta coragem. Não seria justo com você, Axton. Muito bem. Eu não vou mais usar a Nebula Stream. Eu quero ver até onde o seu cosmos pode chegar, com a minha técnica mais forte. Prepare-se!”

Queimei o cosmos com força, fazendo da Nebula Stream um jato mais forte de ar. Estava na hora de dar ao meu oponente um belo presente, chamado Nebula Storm. Axton queimou o cosmos, cada vez mais forte, segurando sua espada com as duas mãos. É claro que se eu usasse todo o meu poder, Axton morreria. Contudo, queria ver como ele se comportaria contra um cosmos no nível do sétimo sentido.

Lancei meu ataque com rapidez, enquanto Axton corria em minha direção com o cosmos queimando e a espada adiante. Novamente, seu poder elevava-se até o sétimo sentido, com muita instabilidade, de quem o despertava pela primeira vez.

Foi muito rápido. Era como se Axton cortasse o ar em dois com sua espada e conseguisse penetrar em minha sólida defesa. Com um movimento de lâmina carregada de cosmos, cortou meu abdome transversalmente. Eu não me defendi. Era justo que ele me vencesse naquele combate, depois de tanto esforço. Mesmo que eu ainda fosse superior em poder e experiência, sentia em meu coração que perdera em espírito.

Quando percebeu que eu não reagiria, Axton jogou o corpo contra o meu e deu uma pancada que me atirou longe. Até aquele momento, não sabia em que direção fora arremessado. Entretanto, quando senti o choque com a parede e as pedras desabando em minha visão de poeira, percebi a intenção de Axton. O céu estava escuro o suficiente para camuflar.

Atordoado com o corte, pus a mão sobre o ferimento para estancar o sangue. Axton aproximou-se com a espada, ainda com o cosmos queimando forte. Sorri-lhe.

“Ali… Em cima da mesa, dentro da panela.”

Antes de dirigir-se ao fogão, Axton tirou uma gaze do bolso, enrolou-a rapidamente em volta do meu corte e amarrou firme. Em seguida, levantou-se e tirou da panela o nosso trunfo. Era a minha cabeça, feita com borracha de forma extremamente realista. Uma cópia creditada a Lorca, nosso bom e velho artesão.

Axton segurou a cabeça pelos cabeços, ao mesmo tempo em que gritava:

“Eu peguei a cabeça do cavaleiro de Andrômeda, tal como o combinado! Apareça, desgraçado!”

Vi que Axton afastou-se bastante para que o suposto seqüestrador não me visse. Eu estava na sombra, muito bem protegido. Anulara meu cosmos no momento em que Axton pegara a réplica da cabeça. Com cuidado, me escondi entre as pedras e desmaiei, tonto. O resto, eu deixava com June.

——————————————————————-

Quando acordei com a dor no braço, vi June manusear, muito nervosa, uma agulha sobre o meu corte. Não havia médicos na ilha de Andrômeda, o que nos deixava com poucas opções de tratamento. Já não estava mais preocupado com os meus machucados. Olhei em volta e notei que Axton estava sentado numa cadeira, com a cabeça apoiada sobre as duas mãos.

“Axton…? E então? Teve sorte?”

O rapaz suspirou fundo e olhou para mim com aparência de cansaço. Por quanto tempo eu tinha dormido para ele ganhar aquelas olheiras?

“Eu agradeço a sua ajuda, cavaleiro… Mas… Não foi desta vez. June me ajudou, conseguimos lutar contra o desgraçado e encurralá-lo. Questionei-o por horas… Por mais que eu insistisse, ele respondia sempre a mesma coisa… Que minha irmã já está morta… faz tempo.”

De todas as notícias, a última que eu esperava era aquela. Pela maneira como Axton me contara, achava que a irmã ainda estava viva e era refém. Quase sentei na cama, mas June segurou o meu peito com olhar de reprovação.

“Mas… Existe alguma prova de que ela esteja morta?”

“Ela caiu de mais de vinte metros, num rio de forte correnteza. Minha irmã sempre teve uma saúde frágil demais, por isso… Não acredito que tenha sobrevivido…”

“Mas também não temos certeza de que o seqüestrador tenha dito a verdade”, comentou June.

“É difícil acreditar nisso… Eu ameacei degolá-lo caso não me devolvesse minha irmã. Ele começou a chorar e me disse que ela tinha morrido no rio… Você vê… Ele não tinha motivos para mentir.”

“E o que você fez com ele?”

“O que devia ter feito há anos. Eu nunca o perdoaria.”

Para mim, não perdoar era difícil. Mas para a maioria das pessoas, a vingança era a única forma de perdão. Axton disse, tomando a súbita decisão:

“Eu vou voltar agora. Não tenho o direito de permanecer aqui, principalmente depois do que fiz. Shun, June, eu agradeço pelo que fizeram por mim. Eu prometo que não causarei mais problemas à ilha. Voltarei à costa no próximo navio e depois… ficarei um tempo desaparecido, colocando minha cabeça em ordem.”

June riu, de uma forma inocente. Às vezes, ela não conseguia esconder a reação, mesmo que fosse rude.

“Então terá de organizar sua cabeça aqui. O navio se aporta uma vez por mês, e você veio há dois dias. São vinte e oito dias para voltar à costa, a menos que vá a nado, o que seria uma péssima idéia, mesmo para um cavaleiro.”

“Terá de ser a nado”, respondeu Axton, sem sorrir. Ele estava tão desesperado a ponto de nadar da ilha de Andrômeda? “Eu não tenho dinheiro para ficar por tanto tempo.”

“Então por que não fica conosco?”, respondeu June. Provavelmente ela estava arrependida de ter rido dele. “Shun e eu não nos importaremos se quiser ficar até o mês que vem.”

“Eu não tenho honra para isso. Matei muita gente inocente no caminho até aqui. Não mereço, entendem?”

Entretanto, nadar até a costa era um absurdo. Havia correntes fortes demais em volta da ilha, o que afastava as pessoas da costa. Talvez não fosse o caso de retornar à costa.

“Por que não fica e trabalha na ilha? Até o mês que vem, pode trabalhar com os pescadores da ilha e colocar a cabeça no lugar. A vida aqui não é fácil, mas talvez um pouco de trabalho pesado seja exatamente o que precisa, Axton.”

“Eu sinceramente não sei o que fazer”, resmungou Axton, com os olhos úmidos. Eu tinha a impressão de ele estava prestes a chorar sem limites pela irmã.

“Então eu proponho que fique. Gostaria de treinar novamente com você. Seu cosmos é extremamente promissor.”

Eu queria lutar com ele mais uma vez. Tinha vontade de ensinar-lhe a utilizar o sétimo sentido com perfeição.

“Eu não quero. Não tenho interesse por isso. Já estou satisfeito com o meu poder e não tenho interesse em elevá-lo.

“Que coisa… Eu gostaria de treiná-lo.”

“Mas eu aceito permanecer até o mês que vem. A partir de agora, com a minha irmã morta, não recusarei o que me aparecer. Não tenho mais motivos para viver ou para morrer, nem para voltar à costa.”

Tal declaração dava pena, mas eu tinha certeza de que Axton não desejava misericórdia. Não podia falar que estava com pena, por isso apenas acrescentei:

“Pode ficar o tempo que quiser aqui, Axton. Se precisar de algo, basta me dizer.”
“Obrigado, cavaleiro. Você já fez muito mais do que mereço. Acabou ferido por minha causa.”

“Quanto a isso… Você lutou porque queria me testar, não é verdade? Você queria uma luta de verdade.”

“Não vou negar que tenho vontade de lutar contra adversários mais fortes. Eu tive sim a vontade de lutar contra você de verdade. Além disso, não haveria uma luta mais real do que a que tivemos. Eu tinha medo pela minha irmã. Sinto por tê-lo ferido.”

“Você também acabou ferido.”

“Não é nada. Não posso reclamar, se vou trabalhar com os pescadores daqui. Além disso, preciso consertar esta casa. Não se importe comigo, cavaleiro, descanse.”

Como se fosse uma máquina, olhou a parede arrombada de cima a baixo, mediu aqui e ali e em seguida dirigiu-se à vila.

——————————————————————-

Felizmente, com a ajuda de June, recuperei-me bem mais rápido do que o normal. Além disso, ela parecia muito mais satisfeita por eu ter permitido que ela assumisse tudo depois da luta com Axton. Eu dormi depois do combate e dormi um sono bem pesado, suficiente para durar quase oito horas. Quando acordei, June já tinha costurado meu abdome sem que eu sequer acordasse.

No último dia antes da partida de nosso hóspede, encontrei Axton sentado sobre umas pedras, descansando depois de trabalhar com os pescadores. Já tinha preparado a mercadoria para vender, e finalmente ele ganhara uma folga. Como poderia não ter uma segunda chance para conversar com ele, aproximei-me.

“Finalmente poderá voltar para a costa. O fato de ter vindo sem saber que o navio só aportava uma vez por mês me surpreende.”

“Eu não estava preocupado com isso.”

“Entendo. Foi por causa de sua irmã.”

Axton suspirou de uma forma desanimada e olhou para o porto, ao longe.

“Tanto trabalho… Por uma mixaria. O povo da sua ilha é tão pobre e ganha tão mal, mesmo trabalhando duro. Conseguem apenas o suficiente para sobreviver… Trabalhei tanto nesse último mês que quase não tive tempo para pensar na minha irmã. Acho que isso me fez bem.”

“O próprio clima da ilha é desfavorável. Muitos jovens rumam à costa em busca de melhores condições… Mas a vida é difícil, tanto lá quanto aqui, não estamos no primeiro mundo.”

“Eu fiquei com pena deles… embora não devesse. Meus olhos estiveram fechados, centrados unicamente em minha irmã e no seqüestro. Não percebi como não era o único a sofrer. E mais, muitos sofrem e não reclamam. Eu não devia reclamar da minha sorte.”

“O que pretende fazer agora?”

“Ainda não pensei nisso. Acho que vou simplesmente pegar minhas coisas, minhas espadas e ir pra qualquer lugar, sem bússola. Perdi tudo, por isso não estou vinculado a lugar algum. Sou livre para ir aonde quiser, por isso vou aproveitar o meu tempo para conhecer melhor o mundo que ignorei até hoje.”

“E a proposta para ser um cavaleiro?”

“Acho que vou aceitar, mas não agora. Não tenho pressa.”

Talvez fosse melhor assim. Conhecer o mundo que protegeria como cavaleiro. Eu gostaria que Axton viesse para o Santuário com o cosmos totalmente desenvolvido e uma nova paixão pelo mundo, pronto para assumir uma armadura de ouro. Entretanto, sabia que tudo isso dependeria apenas de sua experiência depois de sair da ilha.

Axton levantou-se, bateu o pó da calça e disse, mais para si mesmo:

“Bom, preciso descansar para amanhã. Quanto a você, espero que continue o bom trabalho que tem feito com os moradores. Eles precisam de você.”

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Axton partiu no navio ao final do dia seguinte, em meio à carga dos peixes, com poucas palavras. Por muito tempo, não teríamos notícias dele. Depois daquele episódio, senti que June passara a confiar mais em mim e eu, nela, ainda que tivéssemos pequenas diferenças, inevitáveis pelos temperamentos opostos. De certo modo, sempre nos mantivemos unidos, o que nos possibilitou a superação da crise na ilha.

A luta com Axton ainda está presente aqui, comigo, em cada detalhe. Ainda lembro o brilho das lâminas, quase ofuscantes, que pareciam molhadas de sangue ao refletirem o sol poente. Lembro-me exatamente da fração de segundo em que o cosmos de meu oponente brilhou como o de um cavaleiro de ouro. E digo a vocês: este é apenas o começo de uma grande história.

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Cena extra ^-^

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Shun: Ha ha ha…

June: O que é tão engraçado, Shun?

Shun: É que Axton parece nome de desodorante.

June: Shun! É feio rir do nome dos outros! Você pode destruir a sua imagem de coração puro!

Shun: Foi por isso que esperei ele ir embora para rir. Ha ha ha… *Shun vai embora*

June: …

Menino: Senhorita June! Senhorita June!

June: O que foi, criança?

Menino: Estão dizendo por aí que o senhor Shun morreu e que penduraram a cabeça dele num poste!

June: Ah, de novo?! Eu devia é queimar a cabeça do Shun! Eu vou resolver isso de uma vez por todas! *vai embora*

Menino: …… Ah, meu Deus! Será que foi a senhorita June que matou o senhor Shun?! 

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