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[Saint Seiya] Axton - Capítulo 4, escrita por Nemui

Capítulos: 1 2 3 4 5 6 7
Autor: Nemui
Fandom: Cavaleiros do Zodíaco 
Gênero: drama
Status: Completa
Classificação: não disponível
Resumo: Axton é uma fanfic constituída de 7 capítulos, cada um narrado por um personagem diferente. Todos eles são sobre um personagem que criei: Axton, um guerreiro andarilho armado com espadas e filho de um cavaleiro, que causa estranhamento por onde passa. Em cada uma das pessoas com quem lida, Axton deixa um pouco do que é, do que pensa e do que acredita.



Eu nunca imaginei que viver no Santuário pós-Hades seria tão entediante. Todos os dias, no salão do mestre, ficava ouvindo reclamações dos soldados e cavaleiros, pedidos de pessoas que vinham fazer manutenção do local, etc. O que mais preocupava Saori, agora, era a ausência de cavaleiros de ouro para proteger o coração do Santuário, o caminho das Doze Casas. Novos aprendizes a cavaleiros brotavam, aqui e ali, mas nenhum demonstrava o talento para alcançar o poder de um cavaleiro de ouro, o que tornava tudo muito mais chato.

Sentei de lado no trono do mestre. Estava cansado de ficar sentado como um bom menino a esperar por um adulto. O braço esquerdo do trono virou o meu encosto; o direito, o apoio para os joelhos. Fiquei assim por quase uma hora extremamente estática, ouvindo relatórios e pedidos dos servos do Santuário. Era uma perda de tempo, quando podia estar lá fora, treinando o meu cosmos.

Quando o soldado anunciou mais um visitante, quase morri na espera. Joguei minha cabeça para trás e fiquei olhando para o teto. Eu não agüentava mais fazer papel de mestre do Santuário! Queria sair, treinar, correr, fazer coisas importantes em vez de ficar feito um boneco ou um ornamento do salão.

“Senhor. Meu nome é Axton. Sou filho de Solon, cavaleiro de prata de Volans, caído em combate há alguns anos. Vim pedir ajuda aos cavaleiros de Athena quanto a um problema de grave natureza.”

Todos os problemas eram de grave natureza naquele Santuário, até a briga de um ou outro soldado. Que chatice!

“Senhor?”

“Sim, sim… É grave, é grave. Deixe a folha de reclamação na pilha daquela mesinha ali.”

“Senhor!”, disse ele, mais irritado. “Eu vim de longe apenas para vir conversar com alguém no Santuário!”

De longe, sim… Provavelmente do outro lado do Santuário.

“Eu sei… Deixe o relatório do lado, que eu cuido depois.”

“Mas…!”

Aparentemente, ele desistiu. Eu já estava de saco cheio de ser o mestre do Santuário. Shun seria um mestre muito melhor do que eu. Ele sempre foi bom em escutar problemas alheios.

Ouvi uns ruídos próximos e olhei para o lado. De repente, quase pulei e quase morri sozinho. Havia uma lâmina posta bem no meu pescoço! Como permitiam que alguém entrasse armado na minha sala? Além disso, o uso de armas no Santuário era proibido! O que aquele cara estava fazendo? Qual era o nome dele mesmo…? Axton?

“Agora, vai me ouvir?”

“Você morrerá se me atacar.”

“Ah, sim. Mas pode ser que você tenha me deixado irritado o bastante para aceitar a pena. Afinal de contas, um mestre que se preze deve ouvir o que os outros têm a dizer, não é verdade? Matá-lo não fará diferença nenhuma, se não está trabalhando.”

Senti o cosmos dele e notei algo maior que a própria ameaça.

“Você é um cavaleiro?”

“Não. Não sou do Santuário, nem tenho qualquer relação com ele, sem ser o meu pai, que foi cavaleiro.”

Então por que ele carregava aquele cosmos tão poderoso? Eu bem tive a impressão de ter sentido um cavaleiro de prata. Talvez, de ouro. Ele era bem mais forte que a maioria dos cavaleiros de prata. Aquele não era um sujeito normal.

“Está bem, diga.”

Felizmente, ele guardou a espada e afastou-se antes de falar. Contudo, não quis mais se ajoelhar, tal como devia.

“Como eu disse, sou Axton, filho de Solon, cavaleiro de prata de Volans. Vim de longe para pedir a ajuda dos cavaleiros e alertá-los para um grave problema. Creio que envolva alguns cavaleiros do Santuário de grande destaque, apesar de seus baixos status. Tenho motivos para acreditar que algum inimigo do Santuário esteja atrás das vidas de dois cavaleiros de bronze: Shun de Andrômeda e Shiryu de Dragão. Pode ser que haja outros.”

Era importante, afinal! Pulei da cadeira e quase avancei sobre ele.

“Do que está falando?! Aconteceu alguma coisa com o Shun ou o Shiryu? Eles estão bem?”

“Bem”, respondeu ele, meio hesitante. “Eu não disse que eles morreram, não é?”

“Qual a sua relação com eles?”

O sujeito sorriu. Não era hora de sorrir!

“Por que eu devo falar? Até há um minuto atrás, você não queria me ouvir. Acho que irei embora e o deixarei em paz.”

O desgraçado agora não falaria até que eu pedisse desculpas! Mas eu estava preocupado demais para brincar com ele.

“Por favor, me desculpe por não ter dado mais atenção. Diga, o que houve com eles?!”

Como resposta, ele fez uma cara estranha e cruzou os braços.

“Afinal, quem é você? Por que Athena deixaria um desleixado no comando do Santuário?”

“Eu sou Seiya, o cavaleiro de bronze de Pégaso. Shiryu e Shun são meus amigos. Mais do que amigos, eles são meus irmãos! Por favor, responda!”

“Não fique tão exasperado. Eu garanto a você que eles estão bem. Tanto Shun, com aquela bela amazona, a June, quanto Shiryu e Shunrei, que me ajudaram muito lá na China. Eles são ótima gente, todos me receberam muito bem em suas casas. Shiryu já deve ter entrado em contato com vocês quanto à retirada de um corpo. Ele me instruiu para vir aqui e pedir ajuda.”

“Mas Shiryu fez isso há dois meses! Por que demorou tanto a vir?”

“É que… Eu tive uns contratempos”, justificou-se ele, com um largo sorriso. O que quer que fosse o motivo, não era ruim.

“Que contratempos?”

“Não é de interesse neste problema.”

Aquele cara era suspeito demais. Senti-me irritado com o jeito calmo e o sorriso confiante dele.

“E você fala de um ‘inimigo’, mas não sei de quem está falando…”

“É porque eu também não conheço sua identidade. Tudo o que tenho são pistas, apenas isso. Mas seja quem for, ele é meu inimigo, e eu quero encontrá-lo. É uma longa história. Se fosse possível, queria conversar sobre essa causa com a própria deusa Athena.”

Esse cara vindo não se sabe de onde queria uma audiência com Saori assim do nada? Era confiável?

“Bem… Precisamos confirmar sua história antes para que tenha uma audiência com ela. Afinal, não podemos permitir que alguém de fora armado tenha acesso a ela, quando mesmo os soldados não têm permissão para chegar perto de onde você está agora mesmo.”

“Eu entendo. Posso esperar por isso, mas gostaria muito de conversar com ela a esse respeito.”

“Terá de falar para mim antes. Afinal, qual é a sua relação com Shun e Shiryu, afinal? O que aconteceu?”

“É uma longa história”, respondeu ele, sorrindo. “Posso me sentar em algum lugar para falar-lhe?”

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Minha cabeça dava voltas com aquela história. O sujeito era um assassino e de repente ficou amigo do Shun porque este o convidou para jantar em sua casa com June? E Shiryu ajudou-o a encontrar o corpo da irmã que tinha sido seqüestrada? Sua história era maluca demais para ser mentira, não? Estava em minhas mãos permitir que um cara assassino com duas espadas falasse com Saori. Normalmente eu diria sim ou não no mesmo minuto, mas agora estava em dúvida! Mandei que ele esperasse e arranjei-lhe um quarto num lugar qualquer do Santuário.

No dia seguinte, de manhã, saí para treinar, como sempre. Era triste estar destinado a ficar o resto da tarde sentado naquele trono estúpido, ouvindo coisas chatas. Fui para o campo de treino e pensei em fazer exercícios padrões. Não havia um cavaleiro de ouro que pudesse me ajudar com os exercícios, por isso eu me sentia relativamente só. Hyoga ainda passara pelo Santuário no mês passado, e pudemos treinar um pouco, mas agora só havia guerreiros mais fracos à minha volta. Eu estava me alongando, quando vi o sujeito das espadas se aproximar.

“Ei, você parece mais animado aqui do que no salão. Realmente é um cara que nasceu para o campo de batalha.”

Era a última pessoa que eu esperava encontrar naquele lugar. Mas espere! Não era ele que tinha um cosmos mais forte que a maioria dos cavaleiros de prata? Além disso, se ele tinha conseguido ferir o Shun, significava que tinha boas técnicas de luta.

“Você também é assim? Também vive para o campo de batalha?”

Axton sorriu e levou as mãos à cintura. Tive a sensação de que ele tinha me compreendido perfeitamente.

“Não sou nenhum viciado em batalhas. Se possível, gostaria de não precisar destas duas espadas. Mas como você pode notar, somos parecidos em temperamento. Eu não consigo ficar sem fazer nada. Passar o dia sentado, ouvindo coisas entediantes, é coisa de quem tem uma paciência quase infinita e uma boa vontade completamente irreal. Eu não o culpo por ficar sufocado lá.”

“É exatamente o que eu penso. Preciso treinar, preciso me mexer.”

“Sei”, disse ele, de um jeito desconfiado. “Diga, vamos encurtar esse bate-papo sem sentido e partir para o que interessa? Quer que eu lute com ou sem as espadas?”

Como ele sabia que eu ia chamá-lo para treinar? Por acaso Shun e Shiryu tinham falado sobre mim para ele? Considerei sua pergunta. Com ou sem espadas? Meu poder era superior ao dele, por isso decidi:

“Com ou sem espadas, eu vou ganhar mesmo. Saque-as.”

Vi meu oponente cruzar os braços em frente ao corpo e tirar lentamente as lâminas da bainha. Eram longas, brilhantes, retíssimas e um pouco sujas de gordura. De fato, eram armas de um assassino. Aquelas lâminas deviam estar engorduradas pelo sangue de Shun e de outros, ainda inocentes. Como eu podia ir com a cara de um assassino? E matava pessoas inocentes! E, no entanto, estava empolgado com o combate porvir.

“Belas lâminas.”

“Obrigado. Mas o crédito é do ferreiro. Minha função é apenas desgraçá-las.”

“Pretende me matar com elas?”

“Num treino, nunca matamos o outro. Além disso, um estrangeiro matar um cavaleiro dentro do próprio Santuário é pedir para ser linchado, não é verdade?”

“Como se houvesse chances disso”, ri. Axton seria uma boa diversão para a manhã.

Meu oponente posicionou as espadas na frente, uma mais embaixo e a outra em frente ao peito. Era uma postura ofensiva e defensiva ao mesmo tempo, mas com duas armas. Devia quebrá-la com minha velocidade. Queimei o cosmos, avancei e logo recuei. Axton tinha girado a lâmina tão rápido que quase não o vira. Ele era bom, extremamente habilidoso.

“Você me subestima, Seiya de Pégaso, se acha que vou permitir a quebra de minha postura tão fácil. Além disso, acha mesmo que eu confiaria tanto numa única postura? Se alguém descobrisse como furá-la, eu estaria morto, e isso não pode acontecer.”

Ele mudou a posição das espadas, agora mais baixas e postas paralelamente à frente. Axton estava me dizendo: ‘eu tenho uma coleção de posturas para você quebrar!’ Bem, se ele tinha muitas posturas, minha única opção era livrá-lo do que ele tinha como trunfo: a arma. Desarmado, Axton perderia todas aquelas posturas. Sabia o que fazer: lançaria o Pegasus Ryuseiken e aproveitaria para desarmá-lo. Queimei o cosmos e lancei meu ataque. Simples espadas não conseguiam protegê-lo. Ataques e mais ataques, na brecha, eu atingiria sua espada.

A troca de golpes foi muito rápida. Quando nos afastamos novamente, senti meu abdome doer e pus a mão, para verificar que havia um corte ali. Por outro lado, Axton não recebera nenhum ataque. Como ele se protegera?

“Ah, que ataque perigoso”, comentou ele, aparentemente aliviado. “Por pouco não me desarma. Você está pensando em tirar-me todas as posturas de luta com esse seu golpe, não é verdade? Muito perspicaz… A minha sorte é ter conseguido acompanhar a sua velocidade. Você é tão poderoso quanto o Shun!”

“Shun também fez isso?”

“Shun luta com menos estratégia e mais habilidade. Você deve saber disso, sendo amigo dele. Ele possui uma capacidade incrível de ler os movimentos do adversário, independente da postura ou posição. Tive dificuldades para acompanhá-lo. Para ser sincero, nossa luta chegou num ponto em que achei que seria esmagado pelo cosmos dele.”

Shun era assim mesmo, veloz e habilidoso na luta corpo a corpo para adaptar-se aos movimentos do adversário. Essa era uma capacidade necessária para o manejo das correntes. Aquele cara não mentia: ele conhecia o estilo de luta de Shun.

O fato de ele ter lido tão bem o estilo de luta de Shun me fez tomar uma nova decisão. Elevaria mais o meu cosmos e mostraria a ele o que era ser um verdadeiro cavaleiro de Athena: Axton conheceria um pedacinho do meu sétimo sentido. Meu cosmos cresceu, e eu me preparei para dar o meu Pegasus Ryuseiken mais uma vez. Axton também queimou o cosmos, preparando-se para a defesa.

O choque dos nossos poderes causou uma pequena onda de destruição no Santuário. Para a minha surpresa, Axton não foi atingido. Seu cosmos, embora oscilasse, alcançava o sétimo sentido! Era como nós na batalha das Doze Casas!

“Axton! Você também possui o sétimo sentido!”

Mas ele não respondeu por estar concentrado na defesa. Como seu cosmos era instável, não agüentaria por muito tempo. Eu já pensava em encerrar o combate, quando ouvi aquela voz.

“Pare, Seiya!”

A voz que eu jamais desobedeceria. Imediatamente parei e Axton cambaleou depois do golpe. Ele ia cair para trás, mas foi segurado por Saori, que o sentou no chão com gentileza.

“Ah… Obrigado… Você é…?”

“Eu sou Saori, guerreiro. Sou a atual reencarnação de Athena.”

Imediatamente, Axton pulou de seus braços e ajoelhou-se, com os dois joelhos bem colados na pedra, tal como faziam os servos.

“Minha deusa! Eu sinto muito por este momento de fraqueza!”

Saori apenas sorriu para ele. Ela conseguia sorrir para todos, até mesmo para um assassino como ele.

“Eu soube que você é filho de Solon, o cavaleiro de Volans. Isso é verdade?”

“Sim… É verdade, minha deusa. Meu nome é Axton.”

Eu jamais imaginei que fosse ver aquilo. Saori aproximou-se dele e abraçou-o junto ao peito, com um carinho maternal. Axton também ficou surpreso; pude ver pelos olhos arregalados.

“Está tudo bem. Pode relaxar agora.”

Senti o cosmos de Saori trabalhar sobre ele. E no instante seguinte, Axton chorava. Por que diabos ele resolvera chorar assim, do nada? Mas ele não estava apenas emocionado por encontrar Saori. Era como se desabafasse de todo o peso com aquele choro, escandaloso, abafado pelo vestido dela.

Aproximei, e ela negou com a cabeça para mim. Minha única opção era ficar olhando. E o nosso combate? Seria interrompido assim, de uma forma tão estranha? Axton demonstrava ter potencial para dominar o sétimo sentido, o que só tornava as coisas mais interessantes. Eu realmente queria terminar aquele treino.

“Você é uma pessoa que espelha a próxima, sem se esquecer da bondade… embora aprisione o desespero, o sofrimento que a morte de seu pai desencadeou, não é? Agora você pode libertá-lo, Axton.”

Mas que conversa era aquela? Às vezes, Saori dizia coisas que eu não entendia mesmo. Axton chorou mais ainda. Meu combate estava acabado. Pensei em deixá-los a sós, já que ele com certeza não tinha a intenção de machucá-la, mas ela olhou para mim.

“Seiya.”

“O que foi, Saori?”

“Você pode confiar em Axton. Ele é um guerreiro nobre, e uma pessoa ainda mais nobre.”

O que me restava senão concordar? Eu me afastei, permitindo que ficassem a sós.

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Ouvi dizer que Saori levou Axton para um ritual de purificação perante os deuses, para livrá-lo do peso do assassinato das dezenas de inocentes. Tal ritual demorava várias horas, o que só me permitiu encontrá-los à tarde. Axton conversava rindo com Saori, como se fossem amigos de muitos anos. Dificilmente Saori demonstrava tamanha proximidade dos outros cavaleiros.

“Você realmente sabe como agradar qualquer tipo de pessoa, não, Axton…? Eu me lembro que meu avô me falava sobre isso quando eu era pequena…”

“Meu pai também me falava sobre isso. Acho que é um costume que acabei pegando… Essas coisas que nos são ditas quando crianças, mesmo que nos esqueçamos delas eventualmente, sempre ficam marcadas no nosso inconsciente, e, por incrível que pareça, nós as respeitamos.”

“Eu concordo com você! Parece que… Ah, Seiya!”

“Hum?”

Saori odiava ver-me sentado de lado na poltrona, mas ela não podia fazer nada. Minha natureza era viver longe dos trabalhos entediantes.

“Está entediado?”

“Olha, se tédio matasse, eu teria morrido no primeiro dia.”

Ela riu, de uma forma muito natural. Eu gostava quando ela se divertia assim.

“Eu vou pedir para que mais alguém assuma. Agora eu tenho uma missão para você.”

Uma missão? Ela tinha dito uma missão? Um trabalho verdadeiro de cavaleiro com movimentação e até um pouco de ação? Eu não estava sonhando, estava?

“É pra já! O que quer que eu faça, Saori?!”

“Quero que você descubra o seqüestrador que usou a irmã de Axton e que acabe com ele de uma vez por todas por ser uma ameaça aos cavaleiros de Athena.”

“Um seqüestrador é uma ameaça aos cavaleiros?”
“Segundo Axton, sim.”

“Não é uma certeza”, comentou Axton. “Você pode chamar isso de intuição, Seiya, simplesmente um achômetro. Quero ir a fundo sobre o seqüestro de minha irmã. Sei que parece uma vingança desesperada apenas para achar um culpado, mas não quero que veja assim. A única coisa de que quero ter certeza: se não houvesse outro cúmplice, então tudo estaria resolvido. Mas se há mais um culpado pelo seqüestro de minha irmã, a justiça deve ser feita.”

“Como Axton me provou que o seqüestrador estava atrás da vida de Shun, tenho motivos para puni-lo também. Quero que você vá investigar com ele. Podem levar servos e soldados com vocês. Se quiserem, podem convidar algum cavaleiro para fazer parte de sua expedição.”

“Mas… para onde? Há pistas?”

“Há algo que me incomoda”, disse Saori. “Esse inimigo estava atrás de cavaleiros específicos. Entre a ilha de Andrômeda e Rozan, havia outros cavaleiros de Athena, trabalhando pelas pessoas.”

“Mas o seqüestrador ignorou-os e foi direto no Shiryu… Nós, que somos os cinco cavaleiros de bronze que…”

“Que lutaram e venceram as principais batalhas. Não é difícil concluir que vocês são um muro a ser derrubado antes de mim. Pode ser que o inimigo esteja atrás da vida de vocês, e isso significa…”

“Que estará atrás de Ikki e de Hyoga”, completei. Eles estavam em perigo?! “Mas eles não vão morrer assim tão fácil!”

“É claro que não”, respondeu Saori, aparentemente calma. “Mas precisamos entrar em contato com eles o mais cedo possível. Enviei mensageiros para eles, mas quero que alguém investigue todos os locais suspeitos próximos de suas residências. É por isso que eu quero que você parta para a Sibéria.”

Sibéria, hein? Isso seria de congelar os ossos. Eu só tinha estado na Sibéria uma única vez. Lembro que voltei enrolado em três cobertores. Hyoga ficava rindo de mim porque dizia que era uma vergonha sentir frio justamente no verão. E agora era inverno!

“Uma viagem para a Sibéria no inverno”, comentou Axton, sem sorrir. “Eu, que cresci no sul da África, terei de ir para a Sibéria… Quando comecei esta viagem, não imaginei que acabaria lá. Só espero não morrer congelado…”
Ele olhou para mim e sorriu:

“Aposto que agüento mais o frio do que você.”

Aquele cara estava transformando a viagem numa competição de resistência?

“E que importa quem agüenta mais o frio? O importante é chegarmos vivos lá!”

“O quê? Você está duvidando disso? Pensei que fosse mais forte.”

Que insolente! De onde ele tirava tanta cara-de-pau?

“É claro que eu agüento! Estou falando dos soldados e servos!”

Axton riu. Parecia se divertir com a situação!

“Soldados e servos só nos atrasarão. Eu vou sozinho, se for preciso. Se você conseguir acompanhar o meu ritmo, deixarei que venha comigo.”

“Eu é que me pergunto se você não nos atrasará! Foi você que demorou dois meses da China até aqui!”

“Touché. Você tem uma língua afiada. Eu não pretendo me deter, embora reconheça que, em determinadas circunstâncias, paro no meio do caminho para fazer outras coisas. Pode ser que, se for uma corrida, eu perderei. Mas eu usarei apenas dois cobertores na viagem!”

“Você está louco?”

“Você que é fraco por usar mais.”

Aquele cara realmente estava me irritando. Contudo, estava mais tentado a mostrar para ele como eu podia ser durão no frio. Eu sabia que ele só era valente num lugar quente como Atenas. O que seria dele no meio da neve?

“Eu vou preparar as coisas. Você vai me pedir cobertores emprestados durante a viagem.”

“Vá sonhando”, riu ele, de novo. Que cara mais irritante!

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Depois de nossa reunião com Saori, levei Axton para reunirmos nossos apetrechos para a viagem. Para a minha surpresa, Axton mostrou-se interessado nos mais insólitos objetos, como complementos vitamínicos e botas extras. Era como se ele se preparasse para uma expedição na Antártida. Quando ele apareceu com uma corda de trinta metros, parei tudo e sentei num banco, próximo ao mercado para conversar com ele.

“Axton, afinal, para que você está comprando todas essas inutilidades? Você não está pensando em ir a pé para a Sibéria, até a casa de Hyoga, está?”

“Ora, é claro que estou. Você não?”

Aquele cara era louco?!
“É claro que não! Nós vamos pegar um avião para lá e chegaremos em algumas horas! Precisamos viajar a pé, mas não são mais que três ou quatro dias!”

“De avião? Eu nunca subi num avião.”

“Está dizendo que viajou do sul da África para a ilha de Andrômeda; da ilha para a China; da China para Atenas, sempre a pé?”

“Sim. Meu pai sempre me dizia: se quer um meio de transporte, use as pernas. Elas te levam para qualquer lugar. Além disso, não tenho dinheiro para bancar a viagem de avião. Eu vou a pé para lá.”

“Você está louco! Levaremos meses assim!”

“Ora, o seu amigo vai ser alertado daqui a pouco. Além disso, ele tem o sétimo sentido. Minha presença não fará nenhuma diferença. Eu vou a pé e farei tudo do meu jeito.”

“Está louco. Eu não vou esperá-lo.”

“É mesmo? Diga olá ao seu amigo por mim, então. Eu irei a pé.”

Aquele cara era de fato insano. Por que Axton recusava um conforto e uma economia absurda de tempo? Por que arrastar-se na terra quando podia passar por cima de tudo?

“Espere! Athena mandou que eu fosse investigar com você.”

“Oh, então você vem comigo?”

“Não posso perder tanto tempo!”

Axton riu, de um jeito jocoso. Não era hora para brincar!

“Eu não posso decidir como você vai viajar, Seiya. Eu já decidi o meu jeito. Você seja mais esperto e escolha: por terra ou por ar. É muito simples. Enquanto você perde tempo em dúvida, eu vou continuar a juntar as minhas coisas.”

O que fazer? Axton não seria convencido do contrário, a menos que eu falasse com Saori. Resolvi voltar para o salão do mestre e conversar com ela. Apesar da demora, achei que valeria a pena relatar o fato de que Axton não embarcaria num avião.

“Vá a pé, então”, disse Saori.

Eu quase não acreditei no que ouvia. Ela concordava com o Axton?!

“Mas Saori! Levaremos meses até chegar lá.”

“Não se preocupe, Seiya. Mandarei soldados e manterei os outros cavaleiros em alerta. Eu estou preocupada com o que Axton possa fazer, porque ele tem um cosmos poderoso, mas não é ligado oficialmente ao Santuário. Eu quero que você o observe de perto para termos certeza de suas intenções e também para conhecê-lo melhor.”

“Mas… a pé?”

“Vai fazer bem para você”, riu ela. “Você queria se mexer, não é? Essa viagem com certeza vai mantê-lo ativo.”

Saí de lá com uma gozação e mais nada. Desci as escadas e encontrei Axton nas ruas, já voltando para casa, carregando uma enorme mochila. Quando me viu, parou e sorriu.

“E então? Foi pedir o conselho de sua deusa?”

“Quando você parte?”

“Amanhã de manhã. Não quero perder um dia de viagem sequer.”

“Será que dá pra esperar um pouco? Eu vou com você, mas preciso reunir as coisas antes.”

Axton tirou a mochila das costas e colocou-a no chão. Aos poucos, foi tirando vários objetos de viagem que comprara durante o dia e dando para mim.

“Eu supus que fosse dizer isso, afinal. Já deixei suas coisas compradas para não perder tempo. Pegue.”

“Como… Como tinha tanta certeza de que eu iria com você?”

“Eu imaginei que essa seria a resposta da deusa Athena. Ela quer um dos cavaleiros de olho em mim e nas minhas ações, porque tenho um cosmos que chama a atenção. Além disso, ela provavelmente me vê como um aliado em potencial. Deve ser por isso que ela quer justo o cavaleiro em que mais confia viajando comigo. Ela espera que você me ‘influencie’, Seiya.”

“Acha que ela pensou em tudo isso?”

“Em algum momento, sim, mas não acho que tenha sido algo calculado. Mas isso não importa. É melhor que você volte para casa e descanse bem, porque amanhã será cansativo. Mas vai ser uma viagem divertida. Anime-se, Seiya! Você vai ficar longe do trono do mestre. Não é legal?”

Animar-me? Bem, pelo menos não seria algo entediante.

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No dia seguinte, as batidas soaram quando mal tinha me levantado. Seika neesan foi atender e encontrou Axton na porta, com a mochila nas costas, animado para a viagem.

“Boa dia. Vim buscar meu parceiro de viagem. O Seiya está?”

“Ah… Sim, eu vou chamá-lo.”

Seika neesan me chamou, e eu terminei de lavar o rosto, ainda sonolento. Axton estava muito bem disposto, até mais do que eu.

“Bom dia, Seiya. Eu estou pronto para partir.”

“Você já tomou o café da manhã?”

“O quê? Não, eu quero partir cedo.”

Seika sorriu, e eu senti que ela forçou a simpatia. Não era para menos: eu estava indo embora por causa dele.

“Por que não fica e toma um lanche antes de ir? Assim o meu irmão poderá se preparar com mais calma.”

“Irmão? Seiya é o seu irmão?”

“Sim. Eu sou Seika, a irmã mais velha dele.”

Axton era uma figura muito mais difícil de entender do que o Ikki ou qualquer outro ente misterioso. Depois de ouvir a resposta de Seika, tirou a mochila das costas e decidiu, de repente:

“Mudei de idéia. Vamos partir amanhã.”

Depois de toda a preparação? Ah, não! Protestei:

“Mas Axton, estamos prontos desde ontem!”

“Se quiser, vá sozinho. Eu vou ficar e esperar mais um dia. Acho que não estou muito descansado para a viagem. Ainda não.”

“Mas do que está falando?”

“Eu quero mais um dia de preparação. Hoje eu vou à cidade para me divertir. Seika, não é? Não gostaria de passar um tempo comigo?”

Agora aquele maluco estava cantando a minha irmã na minha frente? Cerrei os punhos, e notei que Seika também tinha sido surpreendida com a proposta.

“Bom, eu não sei…”

“Se o seu irmão for junto, você vai, não é? Vamos, vai ser divertido. Eu lembrei que não tenho um relógio, e na Sibéria a transição de dia e noite é uma coisa confusa. É isso aí. Hoje à tarde, vamos comprar um relógio.”

Eu tinha um relógio de pulso, que ficava na minha mochila. Tirei-o e mostrei-o para Axton.

“Eu tenho aqui. Não precisamos comprar.”

No segundo seguinte, eu via os fragmentos de meu relógio voarem na minha frente, em meio aos vestígios de cosmos de Axton. Só tive tempo de ver a mão dele coberta da aura, depois do ataque-surpresa ao meu relógio.

“Ops. Parece que você também ficou sem relógio.”

“Seu idiota!”

“Desculpe. Eu compro um novo para você para compensá-lo. Só não posso comprar um relógio muito caro… E então, senhorita Seika? Como não conheço o gosto dele, você poderia me acompanhar na compra. O que me diz?”

Por que ele estava tão desesperado para me manter mais um dia na Grécia, mesmo à custa de um relógio? Axton tinha me dito que não tinha muito dinheiro, não era verdade? Então por que quebrar o meu relógio e logo em seguida comprar um novo?

“Somente com a condição de que Seiya venha junto”, disse ela, um tanto seca. Ela estava desconfiada, mas resolvera aceitar as regras de Axton. Restava eu aceitar.

“Está bem”, eu disse. Não sabia aonde aquilo ia dar, mas Axton deixara bem claro com a explosão do meu relógio que as coisas precisavam ser do jeito dele.

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‘Ao menos não estou na sala do mestre’, pensava, enquanto seguia Axton pelas movimentadas ruas de Atenas. Parávamos em todas as relojoarias, mas acabávamos com as mãos abanando. Por outro lado, Seika começava a abrir-se com o estranho andarilho.

“Ele não usa relógio no pulso, mas gosta de carregá-lo por aí.”

“Sei… eu também carrego o meu relógio na mochila”, disse Axton, mais calmo. “Sabe, é porque nós, guerreiros, nunca sabemos o que pode acontecer no próximo segundo. Seria uma pena se algum objeto precioso fosse quebrado no combate. Além disso, acessórios como jóias, relógios, óculos, etc, podem machucar-nos quando caímos.”

“Seria mais fácil se Seiya não tivesse de lutar.”

“Olha só… Minha irmã também dizia isso, a respeito de meu pai. Ela falava ‘ele não precisa ser um cavaleiro, só precisa estar em casa’. Ha ha ha… Eu me pergunto se ela diria o mesmo a meu respeito.”

Seika parou de andar e fitou-o diretamente.

“Ela diria sim.”

Axton também parou, e eu tão tive coragem de dizer nada. Até então, não tinha notado como os olhos dele ficavam tristes quando ele conversava com Seika neesan. Era como se ambos partilhassem dos mesmos sentimentos. Afinal, onde estava o Axton animado com a viagem?

“Obrigado, Seika. Sabe, Seiya é um cara de sorte. Ele conseguiu achar a irmã.”

Achei que ele ia acabar chorando com o rumo daquela conversa, mas parou e olhou subitamente para uma vitrine.

“Mas olha só, aqui também tem relógios. E não são tão caros. Vamos dar uma olhada?”

Seika começou a olhar os relógios, enquanto Axton a seguia de perto, tranquilamente e sempre com um sorriso no rosto. Eu estava um pouco mais atrás, de olho naquele estranho sujeito. Foi quando ele olhou para mim.

“Seiya, o que houve? Por que não vai escolher um relógio com a sua irmã? Eu já disse que pago a conta.”

“É que eu não entendo. O que você pretende com isso?”

“Você está complicando demais algo que devia ser simples. Vá lá. Seika parece em dúvida. Vá ajudá-la, e depois nós conversamos sobre isso.”

“Seiya, venha ver este aqui”, disse Seika, entretida. Suspirei. Se precisava jogar seu jogo, ao menos tentaria não deixar Seika neesan triste.

Levamos mais ou menos dez minutos para escolhermos entre os modelos do mostruário. Axton estava comprando um relógio bem em conta quando mostramos a nossa escolha.

“Oh, parece ser um bom relógio mesmo”, comentou ele. “Quando custa?”

Ele olhou o preço e levou-o até o balcão. Eu queria escolher algo caro como vingança do meu relógio quebrado, mas escolhi um que não era caro nem barato. Contudo, quando Axton vasculhou a carteira, sorriu amarelo para nós.

“Parece que… Teremos de comprar outro modelo… Estou quebrado.”

“Mas você disse que poderia comprar!”

“Sinto muito. Olha, você pode ficar com o relógio que comprei agora. Ele não é ruim, eu juro. Vou comprar um despertador chinês para mim.”

Assim, saímos com o relógio que ele tinha escolhido. Contudo, Seika neesan não parecia brava. Na verdade, quando ele nos mostrou o dinheiro que lhe sobrava, ela riu e perguntou como ele conseguia sobreviver com aquilo.

“Às vezes, eu pulo no rio atrás de um peixe. E fico horas nadando até achar o meu jantar! A gente sempre dá um jeito. Dinheiro não é tudo na vida, não acha?”

“Tem razão. Mas você considera muitas coisas mais importantes que o dinheiro, não é?”

“Mais ou menos. Mas todas as coisas relacionadas com as pessoas são mais valiosas que o dinheiro para mim. Por exemplo: eu aprendi a duras penas o quanto é importante dar apoio a uma pessoa que é deixada para trás. Nós temos essa horrível tendência de olhar apenas para frente e esquecer-se das pessoas que ficam atrás, nos esperando. Quantas vezes eu vi minha mãe chorar porque meu pai saía em missões perigosas? Foi ele que sempre me ensinou a fazer os outros felizes assim. Antes de sair, ele sempre fazia um agrado para ela… porque sabia que um dia poderia não mais voltar.”

Suas palavras deram um estralo em mim. Por acaso ele tinha desistido de viajar naquele dia apenas para agradar Seika?

“É por isso que você não é um cavaleiro?”

“Não sei. Eu já perdi todas as pessoas queridas para mim, por isso nada me impede de ser um cavaleiro. Estou pensando numa proposta que recebi, de fazer parte do Santuário. Mas por enquanto eu quero viajar bastante, conhecer muitas pessoas e crescer por dentro.”

“Espero que tenha boa sorte”, disse ela, sorrindo. Era tão raro ver Seika neesan sorrir de forma relaxada. Talvez adiar a viagem tivesse sido uma boa idéia, afinal.

Chegamos em casa. Axton olhou mais uma vez para a carteira vazia e comentou:

“Será que se eu falar com a deusa, ela me dará uma ajuda de custo para a viagem?”

“Será melhor você arranjar um emprego”, respondi.

“Eu vou dar uma subida lá para trocar uma palavra com ela.”

Agora ele achava que podia conversar com Saori sempre que quisesse? ‘Uma subida’? Assim, sem nem me consultar oficialmente antes!

“Como dar ‘uma subida’?! Os cavaleiros estão protegendo as entradas dos templos! Você nem tem uma permissão para apresentar a eles! Quer ser morto?”

“Não preciso disso. Eu já conversei rapidamente com ela por cosmos. A qualquer momento, um mensageiro dela chegará com a minha permissão para ir lá. Ah, vejam, lá está ele.”

Um servo já de idade, chegou trazendo um envelope para Axton, que o aceitou com um largo sorriso.

“Obrigado. Era isso que eu estava esperando. Seiya, Seika, vejo vocês mais tarde… qualquer dia desses.”

Ele subiu as Doze Casas com um ar de vitorioso, como se tudo tivesse sido de acordo com os seus planos. Fiquei olhando para a figura que subia, meio revoltado, meio conformado. O mensageiro permaneceu do nosso lado e entregou-me outro envelope.

“A deusa pediu-me para entregar-lhe este aqui, meu senhor.”

Mas eu não tinha pedido nada! Seria uma missão nova? Abri o envelope e fiquei bobo com a mensagem: ‘Sua missão foi cancelada. Aguarde novo aviso’. Mas afinal, o que estava acontecendo? Por que Saori dava tanta atenção àquele maluco? Senti-me irritado com sua ordem, e decidi deixar tudo para lá. Sorri para neesan:

“Eu cozinho hoje. O que você vai querer?”

—————————————————————-

No dia seguinte, fui convocado para conversar com Athena. Subi até seu quarto, onde ela geralmente ficava, cujo acesso era proibido para todos, exceto o mestre. Ela estava esperando com o olhar perdido em algum lugar da parede.

“Saori? Me chamou?”

“Ah, sim”, respondeu ela, meio distraída. “Preciso conversar com você. Sua missão para acompanhar Axton na viagem está cancelada, por pedido dele.”

“Mas você não queria que eu tomasse conta dele?”

“Não será necessário”, sorriu ela. “Apenas o fato de ele me pedir isso já é suficiente para deixá-lo livre. Você tem idéia de por que ele me pediu isso?”

“Para não ser vigiado, não é? Axton está buscando a vingança da irmã, afinal.”

“Pense de novo”, respondeu ela, calmamente. “Axton gastou dinheiro com você, não foi?”

“Ele comprou um relógio idiota para mim depois de quebrar o meu antigo.”

“Ele também comprou o artigo de viagem para você, não comprou? Por que acha que ele faria isso?”

Eu realmente não sabia. Ele era louco. Diante do meu silêncio, ela sorriu:

“Axton ficou muito animado quando você decidiu viajar com ele. Ficou tão animado que resolveu comprar seus artigos como presente. Mas pediu-me para que você fosse aliviado dessa missão por causa da sua irmã.”

“Da Seika neesan?”

“Sim. Ele não quer que ela fique sozinha aqui por causa dele. Entre manter vocês unidos e ir atrás da vingança, entre essas duas opções, ele prefere a primeira. É por isso que ele veio me pedir isso. Axton deixou tudo muito bem claro: ele aceitaria a companhia de qualquer pessoa contanto que ela não abandonasse ninguém atrás. Isso foi o suficiente para que eu tivesse certeza de seus princípios e desistisse de segui-lo.”

“E aquela história absurda de comprar um relógio novo? Ele quebrou o meu relógio só para nos arrastar por aí olhando vitrines.”

“Bem… Acredito que ele quisesse mostrar a você como ele se despediria dela.”

“Como?”

“Ele queria deixá-la feliz. Era simplesmente isso que ele queria, Seiya, apenas isso.”

“Mas… como você pode ter certeza?”

Saori riu baixo. Aparentemente, ela também tinha sido contaminada pela simpatia doentia de Axton.

“Você sabe que, como deusa, eu consigo entender o que se passa nos corações dos cavaleiros.”

“Mas… somente dos cavaleiros, não é? Axton não é um de nós.”

“Sim. Mas o curioso é que eu entendo, mesmo assim. Vejo e sinto tudo o que se passa no interior do Axton… Como se ele já fosse o meu cavaleiro.”

“Mas… Como é possível?”

“A relação entre o guerreiro e eu é mais forte quando a fidelidade for grande. É por isso que pude sentir a tristeza de Saga e dos outros na batalha de Hades, quando eles ficaram frente a frente comigo… e é por isso que eu sinto cada sofrimento de vocês. Provavelmente eu sei dos sentimentos de Axton porque ele é, da mesma maneira como você, fiel a mim.”

“Fiel? Mas… ele é independente do Santuário, e é a primeira vez que ele vem aqui.”

“Eu sei disso. Mas ele não é ignorante ao Santuário. Ele é filho de um cavaleiro, aprendeu a combater com ele. Provavelmente sabe muito sobre nós. O fato é que ele tem fidelidade a mim, tanto quanto um verdadeiro cavaleiro.”

“Espere… Ele não disse que estava pensando numa proposta para ser cavaleiro? Está dizendo que ele já tem o sentimento de fidelidade para com Athena?”

“Provavelmente sim. Mas o fato de ser independente não o obriga a lutar por mim. Só podemos dizer que ele jamais se voltará contra nós, nem pretende nos prejudicar com sua caça pelo chefe do seqüestrador.”

Aquele louco era fiel a nós? Aquela era difícil de engolir.

“Mas então por que ele não jura aliança conosco?”

“Cada pessoa tem seu ritmo e tempo, Seiya. Axton é jovem e ainda carrega muitas dúvidas para tomar uma decisão tão importante. Além disso, ele nunca enfrentou uma batalha de peso, como vocês. Vamos confiar nele e dar-lhe o tempo de que necessita. Se ele está destinado a ser um de nós, voltará no momento certo. Mas para garantir… Seiya, providencie para que o próximo detentor da armadura de Capricórnio só seja decidido depois do retorno de Axton. Digamos que esta seja apenas a minha intuição.”

Ouro? Era verdade que Axton estava começando a dominar o sétimo sentido, mas ser um cavaleiro de ouro exigia o completo domínio do cosmos superior. Por acaso ela estava sugerindo que Axton voltaria mais forte ainda?

Minha mente rapidamente imaginou como seria se Axton retornasse como um cavaleiro de ouro. Seria de fato uma das figuras mais singulares das Doze Casas, pois Axton preferia não fazer os outros sofrerem em vez de partir para a batalha.

Passada algumas horas, eu me surpreendi torcendo pela sorte dele. Axton não era apenas um sujeito que buscava uma vingança vazia, mas um guerreiro íntegro, que queria resolver seus problemas pela raiz para depois assumir novos projetos de vida.

Depois da reunião, voltei para casa e contei para a neesan que não mais teria de viajar. Primeiro ela perguntou desconfiada por que eu não sairia. Depois, ao saber o motivo, sorriu e comentou, de muito bom humor:

“Quando ele voltar, vamos convidá-lo para jantar em casa. Mesmo que ele seja estranho, é uma ótima pessoa.”

Era porque ele a compreendia. Ele tinha me expulsado da viagem por causa de Seika neesan. Senti-me envergonhado. Desde que a encontrara, não pensara no sofrimento ao qual ela estava destinada, enquanto eu continuava servindo a Athena, sem nem pensar nas conseqüências. Ela ficava em silêncio porque não queria que eu sequer pensasse nisso. Axton só pensou nela e em seu sofrimento.

“Tem razão”, respondi. “Quando ele voltar, vou agradecer pelo que ele fez por você. Espero que ele volte bem.”

E eu esperava. Ansioso para conhecer o Santuário que começava a formar-se no período pós Hades. Um Santuário novo, talvez de uma era de paz, formado por homens com as mesmas preocupações que Axton, que não tivesse de sujar nossas mãos de sangue. Quem sabe? Talvez ele inaugurasse uma nova era aos cavaleiros de Athena.

Esperava, ansioso.

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Cena extra ^-^

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Seiya: Hum… Assim está bom.

AVISO: ARMADURA RESERVADA PARA AXTON

Saori: Para que essas luzes todas? Parece uma árvore de Natal.

Seiya: Será o meu presente de Natal adiantado.

Saori: E o que é esta etiqueta? U$999,00?

Seiya: É o preço do meu relógio. Ele só poderá ser um cavaleiro se me pagar essa dívida! O meu relógio era importado e ele me pagou com esta porcaria!

Saori: Ora, não parece tão ruim assim…

Seiya: Ah, não?

Saori: Não. Para dizer a verdade, parece muito com o nosso relógio de fogo.

Seiya: Pois é! Na verdade, este relógio é uma lembrancinha do Santuário. Você acende aqui e ele vai apagando de hora em hora, queimando a sua mão nesse meio tempo.

Saori: Ahhh, eu me lembrei! Esse relógio foi um modelo que o Santuário criou para arrecadar verbas! Fui eu mesma que desenhei esse relógio! É a minha obra-prima! Aliás, o seu dinheiro todo depende da venda dele… O que achou? Não achou o máximo, Seiya?

Seiya: Ah… Sim! Sim! É lindo! É o relógio mais bonito que já vi!

Saori: Que ótimo! Quero vê-lo usando sempre, Seiya!

*Por dias, gritos de dor foram ouvidos da sala do mestre*

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