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[Sailor Moon] Cada Vez que nos Encontramos, Cada Vez que nos Separamos - Capítulo 1, escrita por Anita

Capítulos:
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Autora: Anita
Fandom: Sailor Moon
Gênero: Comédia romântica, Realidade alternativa
Classificação: 14 anos
Status: completa!
Resumo: Usagi/Mamoru. Usagi está na faculdade e acaba de terminar com Seiya, seu primeiro namorado de toda a vida, quando decide aceitar um emprego de meio período no bar de seu amor de adolescência, Motoki. Entre os desafios dessa aventura, o passado decide reaparecer na sua frente, especialmente quando o homem que mais a atazanava retorna a Tóquio, Mamoru. Ela percebe então um conflito entre o que sente por Seiya e por Mamoru. A história também vai explorar os romances de cada uma das senshi!

Notas Iniciais:

Esta fic é realidade alternativa, mas com grande foco nos personagens da fase classic do primeiro anime de Sailor Moon. Não uso honoríficos aqui. E ainda mais importante, não lucro nadinha com a fic. Por favor, não se esqueçam de comentar, pelo menos isso!

Uma última nota, esta fic quase que nunca foi publicada, mas como é o aniversário de 20 anos do meu site Olho Azul, achei que estava na hora de criar vergonha e finalizá-la. Muitos agradecimentos a todos que a estavam aguardando por tanto tempo que nem leem mais fics. Espero que gostem!

 

Olho Azul 20 Anos Apresenta:

Cada Vez que nos Encontramos,
Cada Vez que nos Separamos

 

Capítulo 1 — O Primeiro Namorado de Usagi

  O chá gelado parecia encará-la de volta enquanto Usagi tentava pôr em ordem seus sentimentos. Não era esta a grande entrada que ela esperava quando abandonara o encontro e embarcara em um táxi. Bem, ela não realmente o havia abandonado, apenas tentado apressar seu fim para chegar àquele apartamento no horário marcado. Contudo, ficara tão ansiosa desde o convite que lhe chegara pelo celular que mal havia prestado atenção em nada.

  E agora não conseguia acreditar... Tudo não passava de uma conversa bêbada? Sentia-se tola. Era tudo tão tolo quanto ser servida chá gelado no meio da madrugada em um apartamento que mal conhecia. De alguém que ela conhecia menos ainda.

  E agora? Voltava para casa e fingia que nada daquilo havia acontecido, né? Era o melhor para todos. Acontecer... o que poderia acontecer entre ela e... Mamoru Chiba! Justo aquele sujeito entre tantas pessoas.

  A tensão entre ambos na última vez que se viram havia sido evidente, mas tudo viera do álcool. Ingerido apenas por ele, valia lembrar. E por que o seguira até sua casa? Por que se comportara assim? Agora até havia retornado à cena do crime para fazer o que não pudera antes.

  Bem-feito. Mamoru mal parecia se lembrar de quem ela era.

  Ainda assim, era tão diferente de quando estava... com o outro. Na primeira vez que estivera naquele apartamento, bastara um olhar mais íntimo de Mamoru para fazer seu corpo parecer pronto para entrar em combustão. Eles teriam se beijado caso não houvessem sido interrompidos.

  Mas o sinal não tinha bastado para impedi-la. Usagi havia retornado, achando que ainda estaria ali todo o desejo que Mamoru parecera sentir antes. Quando ele sequer se lembrava de lhe haver mandado a mensagem que a chamara de volta.

  Fora tão idiota! Durante as duas horas ou mais em que estivera fora, era claro que Mamoru dormiria e toda a bebedeira iria embora. Agora, apenas sobrava nele o embaraço do que ele fizera. E ela também, para aumentar seu problema.

  Ainda assim...

  Como que refletida no copo intocado de chá, Usagi conseguiu ver toda uma aventura. Ela não era frígida, como vinha pensando ao até sentir nojo de se deitar com seu namorado, quem tanto gostava dela.

  Talvez, só precisasse sentir aquela aventura a lhe formigar o estômago. E, definitivamente, a presença de Mamoru lhe causava formigamento. Era a aventura; devia ser. Normalmente, mal conseguia ficar no mesmo lugar que aquele homem e agora não aguentava mais ficar longe. Precisava experimentar o que fora interrompido antes. O sabor do beijo não dado perdurava em sua boca.

  Certo. Tudo já fora terrível naquela noite. A decisão se formou em sua cabeça e seu corpo mal se continha em si. Valia a pena ao menos arriscar um beijo, saber se depois que sua saliva se misturasse à de outra pessoa ela não morreria de nojo no lugar daquela vontade de... Usagi ficava vermelha só de pensar em tudo o que viera imaginando que estaria fazendo naquela hora enquanto voltava ao apartamento.

  Mais rápida que os reflexos em ressaca do outro, Usagi jogou o próprio corpo para o colo de Mamoru e começou a beijá-lo com força, antes que ele cerrasse a boca e impedisse o beijo. Então se segurou, com medo de acabar caindo de costas sobre a mesa logo à frente. Ele estava tão quente... E sua boca! Mesmo ainda se reagir, somente aquele toque alienígena contra os lábios de Usagi já a faziam ter medo de não mais conseguir parar quando ele o pedisse. O que logo deveria acontecer. Mesmo um pouco bêbado, mesmo ainda em ressaca, Mamoru reagiria logo, ela já o sentia se mexer aleatoriamente. Tentou aprofundar a língua contra a dele, sentir melhor.

  A boca de outro homem, pensou enquanto o fazia. Era a primeira vez que beijava alguém que não fosse seu namorado. Não só enquanto estava namorando, mas em toda a sua vida nunca tinha beijado outro. Como podia ser tão diferente? Os dentes se encontravam todos quase no mesmo lugar, a aspereza da língua também era para ser a mesma. Seria o resquício do álcool que também a deixava um pouco inebriada? Não, não haveria ninguém mais a quem culpar por aquilo.

  Deixou suas mãos sentirem o tórax dele. Era um pouco mais largo que o de seu namorado e estava tão quente. Precisava abrir sua blusa, saber como era a pele por debaixo. Quanto tempo mais ela teria? O pensamento a apressou para desabotoar a camiseta. Era difícil. Quantas vezes na vida já pusera a mão em botões alheios? Talvez nunca? E ele ainda usava mais uma camisa por baixo. Perfeito. Isto não contava como chegar a base nenhuma fosse este um filme americano, né? Em que letra do alfabeto dos relacionamentos japoneses seria conseguir ver a camisa de dentro da camisa? E ela já ficava sem ar após todo o esforço e movimento. Precisava partir os lábios, respirar.

  Foi nesse momento que ela sentiu as mãos de Mamoru subirem até a altura de seu cobro e segurarem seu casaco. Um calafrio. Usagi decidiu continuar a marcar território na boca do outro, mas parou de se mexer tão tensa estava. Aquilo qualificava como estupro? Homens podiam ser estuprados? Se pudessem, ela o havia feito justo contra alguém que iria até o fim para puni-la, com certeza.

  Mas o que ela sentiu em seguida foi uma brisa, um refresco por seu corpo. O casaco começou a deslizar por seus braços. Não, Mamoru começou a tirá-lo. Por um momento, ele afastou-se um pouco, deixando a tarefa e, de repente, ele já havia se livrado de suas blusas, agora terminando de lhe remover o casaco enquanto devolvia o beijo.

  Oh!

  Era só o que sua mente respondia enquanto os lábios de Mamoru desciam por seu pescoço, por seus ombros e retornavam à sua boca. Toda a emoção do que fizera, do que apostara parecera lhe aumentar exponencialmente o prazer e seu corpo já suava. Mamoru já havia lhe tirado as blusas e agora devia estar encarando seu sutiã. Ela nem lembrava qual havia escolhido. Bem, devia ser algo bom, já que tinha um encontro com o namorado naquela noite, mas nada especial. Não para aquilo, o que quer que estivesse fazendo.

  E aquilo já não era apenas uns beijos, pensou, vendo várias letras de alfabeto saírem correndo à sua frente quando ela inspirou fundo e seguiu para o cinto do outro.

— Vamos para o quarto, — A respiração quente de Mamoru, ainda com resquício alcoólico, parecia capaz de derreter sua orelha.

  Não havia mais volta.

  Tudo havia mudado. Ela havia mudado tudo. Seu namoro, seu relacionamento com Mamoru, ela própria.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  As pessoas não costumam saber quais são os dias que serão marcos em sua vida. Apenas muito depois elas olham para trás e o definem. Põem um marcador naquela página, circulam aquela hora exata e apontam: “Ali minha vida mudou”.  Há sempre aqueles que digam que esses momentos, exatamente porque não ouvimos um tocar de sinos festivos, são pura ilusão, construção dos dramáticos. A vida para eles se trata de uma sucessão de causalidades acontecendo desde antes de nascermos e tudo estaria conectado. Assim, se houvesse um ser onipresente, com acesso a todas as informações do mundo, bastaria um jogo de lógica para que ele soubesse tudo o que viria a acontecer. Não era um momento por si próprio que mudava tudo, era só inevitável.

  Infelizmente, nenhum humano tem essa capacidade para testar a segunda teoria, por isso, começamos histórias a partir daquele dia em que o marcador será posto, na cena exata cuja hora virá a ser circulada por aquelas pessoas e não conseguimos imaginar como poderia ter sido possível caso esse momento definidor da história houvesse sido diferente ou deixado de existir.

  E esse momento deve ter sido aproximadamente quando Usagi Tsukino saiu do trem naquela tarde, acompanhada de sua amiga de faculdade, Minako Aino. As duas haviam se conhecido em turmas em comum cursadas no primeiro ano e aprofundaram amizade no segundo ano, após viajarem com mais duas meninas para esquiar em Hokkaido nas férias de primavera.

  Minako correu atrás da amiga, que havia deixado a bolsa para trás ao se levantar de seu assento e brigou com Usagi por ser tão desatenta. Mas Minako já fizera o mesmo tantas vezes que o sermão fora apenas para constar, ou uma forma de extravasar o medo de aquele atraso dentro do vagão fazê-la ficar presa até a próxima estação, onde teria que pegar outro trem para retornar àquela, perguntando-se se a amiga se haveria dado por sua falta.

  Usagi agradeceu a bolsa, sem ouvir as reclamações de tão acostumada. De toda forma, ela estava nervosa naquele dia, tinha que ser perdoada por fazer algo assim no dia de seu primeiro emprego. Era só um de meio-período e todo mundo já havia passado por isso algum dia, era verdade. Ela apenas nunca se preocupara com arrumar um. Na verdade, desde seu terceiro ano colegial, vinha se concentrando em se manter na média. Inferior, mas ainda na média. O primeiro de faculdade fora um choque maior que o vestibular, mas ao fim concluíra que não passara de um susto. Era possível sobreviver à universidade. No segundo ano, envolvera-se com um rapaz, seu primeiro grande romance. Estava apaixonada demais para pensar em dinheiro e nem precisava, pois ele sempre fizera questão de pagar tudo, e Usagi nunca o objetaria, até porque os dois nunca se divertiriam se dependessem de sua mesada calculada para as despesas com a universidade.

  As duas apressaram o passo quando notaram já estarem atrasadas em mais de quinze minutos. Era outro péssimo hábito de Usagi, do qual Minako reclamava sempre que conseguia chegar antes da amiga. Mas ver quem se atrasaria mais o era uma competição acirrada entre as duas.

— É aqui! — apontou Usagi para um prédio após poucos minutos desde que saíram da estação. Ficava em um pequeno beco paralelo à rua principal. — No subsolo, — acrescentou, após checar a mensagem em seu celular.

— E estamos pontualmente atrasadas também! — Minako aproveitara para esticar o pescoço e conferir a tela do celular rosa da amiga.

— Já disse que ele não liga. — Usagi fez sinal, chamando para que descessem a escada negra.

  Ao chegarem ao subsolo, encontraram uma porta de madeira com o nome do bar, Drunk Crown. Usagi riu-se ao constatar que não recebera errado o nome do lugar onde iria começar sua vida profissional. Meio período, mas isso também contava, certo?

  Um frio na barriga lhe veio assim que Minako abriu a porta e o bafo do aquecedor chegou a seu nariz.

— Bem-vindo! — gritou alguém de algum lugar no interior. Era uma voz levemente nasal, que repetia apenas o que estava no script de encarregado de qualquer estabelecimento comercial. Mesmo assim, Usagi percebeu-se rindo ante a nostalgia.

— Motoki! — gritou de volta, pulando em um dos bancos ao lado do balcão.

  Havia apenas uma pessoa do outro lado, um homem agachado com o rosto dentro de um dos armários na parede. Ao ouvir seu nome, ele se virou em um instante e abriu um imenso sorriso para a recém-chegada.

— Nossa, Usagi, como você continua a mesma! — disse, pondo as palmas das mãos no balcão e esticando o corpo em direção à moça.

— Isso é um elogio? — perguntou em resposta, puxando uma mecha de cabelo enquanto fazia bico.

— Bem, pra mim é ótimo! Quem me dera não envelhecer a cada ano como você. — Então, pareceu perceber a segunda menina. — Ela também está querendo emprego?

— Ah, não! — Minako respondeu prontamente, balançando a mão na frente do rosto. — Só vim acompanhando a Usagi. Sou Minako Aino, prazer!

— Motoki Furuhata.

— Então, vocês eram realmente amigos... Achei que a Usagi estava exagerando, não esperava que ela tivesse um amigo de infância tão mais velho a ponto de possuir um bar. Ainda conta como sendo de infância?

— Eu meio que só estou começando aqui — respondeu Motoki com um sorriso sem graça —, abrimos no final do ano retrasado. E, é mesmo. Não sei se seríamos amigos de infância, eu era meio período em um salão de jogos ao qual Usagi sempre ia depois da escola, nos tempos de ginásio. Depois, eu saí de lá, me formei, encontrei um emprego...  Ficou mais raro nos vermos. Mas realmente, não somos amigos de infância.

— Ignora a Minako, ela só faz o que quer...

  Minako riu-se, soltando os longos cabelos dourados de dentro do cachecol laranja.

— Pendure aí mesmo. — Motoki apontou para um cabide próximo à porta de entrada, aonde as meninas procederam a pôr seus agasalhos. — Li que hoje vai ser um dia bem frio, não esqueçam nada aí quando saírem.

— Não sou criança!

— E quase deixou a bolsa no trem, — disse Minako, e sentou-se no banco ao lado de onde Usagi havia se sentado antes.

— Realmente, você não mudou nada... — A voz de Motoki diminuiu, mostrando que sua mente estava em algum lugar distante.

— Tem certeza de que quer contratá-la? — Minako perguntou, pondo a mão no queixo.

— Ela não será a única e eu tô sempre aqui para ajudar. Mas, Usagi, você tem certeza de que está tudo bem trabalhar em um bar? Seus pais não ligam?

— Bem, contanto que eu não fique muito tarde nas vésperas de aula...

— Nem precisaria, nossos dias de movimento são sexta e sábado. Domingo é cheio, mas logo esvazia quando é quase hora do último trem, você verá se pegar esse dia. Segunda não abrimos. Nos demais dias, não costumo ter mais que uma pessoa trabalhando além de mim, a não ser terça à tarde quando damos uma geral no lugar. Mas, voltando, como já te disse por telefone, preciso de alguém que fique a noite toda sexta e sábado. Não precisam ser sempre esses dois dias, nós somos bem flexíveis com turnos, até porque todos são jovens e têm vida social, né? Só que você precisa ter certeza de que pode desde já. Infelizmente, não vale a pena ensinar alguém apenas para os demais turnos.

— Ai, Motoki, já disse que quanto mais trabalho eu tiver, melhor! Eu estou realmente precisando.

— Meu celular também agradece, sábado passado ela não parou de me mandar mensagem até umas três da manhã porque estava entediada e não conseguia dormir — complementou Minako.

— Então, está contratada mesmo! Por que não vem pro balcão e começa contando pro seu irmão postiço sobre esse namorado ingrato que te abandonou?

  Usagi sorriu, sentindo um cafuné na cabeça. Estava decidida a se recuperar do fim de seu namoro naquele emprego. Conheceria mais gente, mais coisas. A oferta de Motoki não podia ter vindo em melhor hora. Tinha certeza de que aquele era um momento de virada em sua vida. Ela mesma o havia decidido.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Custara a Motoki várias horas até passar a Usagi as instruções necessárias naquela tarde, enquanto Minako fingia ser um cliente. Ao mesmo em tempo que a simulação era perfeita, Usagi sentia-se nervosa por ter que servir à própria amiga. Ao perceber as horas passarem, um frio subiu-lhe à barriga.

— Droga! —Minako gritou após ter olhado o relógio de parede por cima do ombro de Usagi e agora pulava até o cabide onde as roupas haviam sido penduradas.

  Era verdade, Minako tinha seu próprio trabalho a algumas estações dali e já havia adiantado que não ficaria para sua real estreia dentro de vinte minutos.

— Tô muito atrasada. Obrigada por tudo, Motoki, foi ótimo conhecê-lo! Passo qualquer dia por aqui. — Acenou para Usagi e fez com a boca: “Você consegue!” piscando para a amiga.

  Usagi ouviu a porta se fechar, mantendo nos lábios um sorriso. Minako havia gostado do Motoki, por isso ficara por tanto tempo quando apenas a acompanhara para que não se perdesse. Usagi nunca ia para aquela parte mais agitada da cidade sem o namorado. Que agora era seu ex.

— De um sorriso para um suspiro? Ainda nem apareceu o primeiro cliente! — Motoki lhe fez o milésimo cafuné na cabeça, mas a sensação era similar à do primeiro: de conforto. — Aliás...

  Um som de passos apressados pela escada. A porta se escancarou.

— Esqueci meu cachecol! — Era Minako, que já fechava a porta de novo acenando com ainda mais energia.

— Acho que encontramos uma irmã gêmea sua. — Motoki caiu em uma gargalhada, voltando a conferir o lugar onde guardava as toalhas quentes e secando o último copo em que ensinara Usagi a fazer outros dos drinques mais populares.

  Ela passou para o lado dos clientes e sentou-se em um banco para descansar, mas sem tirar da cabeça as receitas dos drinques. Fechou um pouco os olhos, tentando visualizar a embalagem de cada bebida. Mas o que via na sua frente era o ex-namorado.

  Ela achava até então que quando se terminava com alguém, você ficava se lembrando dos momentos juntos. Como os bons encontros, até os beijos mais intensos. Também havia os presentes que ganhara, os quais ela ainda não conseguia olhar desde que tudo tinha terminado. E mesmo fotos, que Usagi não conseguia tirar de sua vista por muito tempo, sempre voltando a elas, fossem as físicas, as do computador ou as de seu celular. Ela não entendia por que as fotos ela não podia deixar de olhar, inconscientemente estaria tentando se transportar para aquele dia? A verdade era que Usagi ainda não conseguia dizer o que realmente fizera de errado... Fora uma boa moça, aprendera até a cozinhar para lhe fazer marmitas ao menos uma vez na semana, quando as comiam juntos no jardim da faculdade. Daquela forma, apenas teria que se encaminhar para o fim inevitável.

  O que a fazia voltar, infelizmente não pela última vez, à cena do fim. Precisamos conversar. Não há mais por que ficarmos juntos. E Usagi começava a se culpar de novo, mesmo suspeitando, quase tendo certeza, de que não fora exatamente ela. Ainda assim, talvez pudesse ter se empenhado mais e dado um jeito. Tudo para não ficar assim, tão só.

  E agora? Que cara iria querer saber dela? Sequer entendeu o que aquele tinha visto para a escolher... Talvez ainda houvesse tempo de ao menos perguntar, para cultivar-se e conseguir logo o próximo.

— Seja bem-vindo! — a voz nasal de Motoki com a saudação costumeira deu-lhe um susto.

— Seja bem-vindo! — Usagi acompanhou, imitando o tom e correndo para a função número um de sua lista de tarefas. — Este é nosso cardápio, fique à vontade para decidir o que deseja. — Então, ajeitou a toalha quente para o homem engravatado e serviu-lhe um copo de água gelada, fingindo ir se ocupar com o bar enquanto o esperava. Motoki, na pia mais afastada, fez-lhe sinal de positivo e ela respirou com alívio.

  Logo depois foi chamada para receber o pedido, servindo-lhe o drinque escolhido.

— Nada mal... — disse o homem após um gole, mas na direção de Motoki.

— Masato! Não precisava entregar tudo! — respondeu o outro, enfim, se aproximando.

  Usagi olhou para ambos, sentindo a bochecha queimar, mas incerta da razão para isso. O homem assalariado de cabelos meio ruivos e relativamente longos continuou a beber como se realmente houvesse gostado. Tudo bem, então.

— Masato Sanjouin, um amigo. Ele estava curioso com essa irmãzinha minha que viria trabalhar aqui!

— É sempre bom encontrar garotas bonitas. — Masato lhe sorriu.

— Ei, longe dela. — Motoki pôs um pano de prato no meio de ambos.

— Poxa, eu crente que era meu primeiro cliente... — comentou Usagi, com a cabeça baixa.

— E não é? — Motoki passou as mãos em suas costas por uns segundos. — O bar não é tão grande e metade das pessoas é amiga minha. Os outros estão virando. Por isso, trate bem o Masato, ele é seu cliente sim!

  Usagi sentiu-se corar, agora soava mesmo óbvio que Masato fosse um cliente. Em pensar que tudo estava indo tão bem, ela tinha que ter dito algo assim?

— E a Naru, como está? — perguntou Motoki, debruçando-se na frente do amigo.

  Usagi checou o relógio na parede e eram apenas quinze minutos depois das oito da noite. Ficaria até às onze. Calculou quantos erros cometeria caso mantivesse a média de um a cada quinze minutos. Onze? Para um dia de semana e sem movimento, aquilo era mais de um por pessoa... Começava a conferir sua conta nos dedos, quando a porta se abriu de novo. Desta vez, foi ela quem cumprimentou primeiro o cliente.

  Quando Motoki lhe avisou que podia ir, que acertariam todas as horas trabalhadas no sábado, Usagi juntou suas coisas percebendo que perdera as contas de seus erros, incluindo um copo quebrado.

— Ei, eu te levo até a estação! — Era Masato, tentando pôr o casaco enquanto subia as escadas.

— E-eu sei o caminho.

— Não se preocupe. Eu tenho uma noiva, só estou sendo um bom rapaz!

  Usagi corou pela terceira vez devido àquele homem. Ao menos, tinha que ser o último erro da noite, achar que um cliente estava dando em cima dela. E que presunção!

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Após passar a primeira sexta-feira no Drunk Crown, Usagi passara a conhecer a maioria dos que trabalhavam com Motoki, incluindo Makoto. Esta tinha sua idade, mas era a veterana de todos os funcionários. Talvez por sua altura, Usagi achara que Motoki houvesse feito vista grossa quando a contratara quase um ano antes, mas logo descobrira que Makoto havia falsificado a idade para se passar por maior de idade e somente revelara mais um mês depois de seu aniversário. Com apenas um dia trabalhando no mesmo turno, era incrível ter já alguém que conversasse tão sinceramente com ela, por isso, não deixava de ficar ansiosa por vê-la no sábado. Começava a perceber que fizera a escolha certa em trabalhar ali; aos poucos formaria uma rede de relacionamentos com pessoas que nunca viram seu namorado e que talvez nunca viessem a saber de seu nome. Isso já funcionara antes com outros romances: novo lugar, nova vida. Não podia ser tão difícil apesar de aquele haver sido o único namoro concreto de Usagi.

  Entrou no bar já um pouco atrasada para o horário que Motoki lhe pedira para chegar. Tinha certeza de haver calculado direito o horário de sua casa até ali, mas como era o primeiro dia que não ia direto da faculdade, não tinha como ter certeza. Ao menos, ainda era cedo. O bar abriria às cinco, por isso, eles ainda tinham quase duas horas para limpar tudo.

— Boa tarde! — anunciou ao abrir a porta, ainda com o sinal de fechado. Na verdade, os clientes sabiam que poderiam chegar mais cedo ali e entrar desde que não estivesse trancado, obviamente, mas a bebida alcoólica só seria vendida quando o bar estivesse mesmo. Era uma regra de segurança para que Motoki não perdesse nem clientes, tampouco se aborrecesse antes da hora, enquanto ainda arrumava o local.

— Usagi, chegou em ótima hora. — Motoki levantou-se de trás do balcão, onde deia estar tentando tirar o álcool derramado ali na noite anterior. — Preciso que limpe o banheiro!

  Não conseguiu esconder a careta; era a primeira vez que tinha aquela função sozinha após seus três dias trabalhados, então, seria a primeira vez que de fato teria que realizar aquela tarefa com suas mãos. E justo após sexta-feira.  Makoto não exagerara quando classificara o turno de sábado como o pior.

— Onde estão todos? — perguntou, pegando os equipamentos em um armário escondido em um canto da sala, sem ter certeza de que era apenas aquilo que deveria usar.

— Parece que os trens se atrasaram por causa de algum problema. A Makoto já me mandou mil mensagens desesperada porque ficou presa em uma estação de transferência para pegar o expresso.

— Enfim sós? — disse para a vassourinha de vaso, ouvindo Motoki rir de trás do balcão.

  Enquanto esfregava o chão, manchado de cinza devido à poeira dos sapatos, Usagi lembrava-se da época em que conhecera Motoki. Era bastante nova, não tinha nem catorze anos quando o rapaz, talvez no seu ano de calouro na faculdade, começara a trabalhar de meio-período no salão de jogos do bairro. Fora amor à primeira vista. Custara-lhe a associar que o fato de o outro a tratar como irmãzinha não estava colaborando com seu caso, muito menos o pequeno detalhe de Motoki ter uma noiva. E esta era uma mulher linda, mais velha, que se chamava Reika, quem mesmo após haver se mudado para a África a fim de continuar suas pesquisas, permanecera como a favorita de Motoki. Foi um pouco antes de os dois perderem contato que o noivado foi rompido e Usagi lembrava-se de haver sabido em uma das raras vezes que o vira após sua saída do emprego que o término viera por decisão de Reika, ainda não houvesse sido inesperado.

  Hoje, ela era capaz de entender muito mais daquela história. Apenas não queria dar razão para Reika desistir dele e agora estar casada com outro, enquanto as mãos de Motoki continuavam sem qualquer anel.

— Usagi, já terminou? — a voz do próprio passou abafada pela porta do banheiro.

— Sim! — disse, ao perceber que estava esfregando o chão mais que o necessário.

   Saiu de lá para encontrar que Minako sentada em um dos bancos, acenando para ela.

— O trem tá a maior confusão, acabei presa justo aqui. Sorte, né? Aí decidi sair e passar um tempo, — explicou, já tomando um chá gelado.

— Uma das meninas que trabalham aqui está presa por causa disso do trem.

— Então, algumas linhas estão totalmente paradas! Meu trem veio parando e andando até chegar aqui e aí nos mandaram descer, um caos. — Passou a mão na testa como ênfase. — Mas só estão vocês dois, é?

  Motoki já havia se afastado para terminar de enxugar os copos, mas virou-se para ambas e respondeu:

— Eu não tocaria em um fio da minha irmãzinha, não se preocupe! — No entanto, agora passava a mão gelada em toda a cabeça de Usagi.

— Meu cabelo! — reclamou, fugindo do afago para se olhar no espelho do outro lado.

— O que você recomenda de drinque, Motoki? — perguntou Minako, puxando da mesa do outro lado do balcão um dos menus.

— Não servimos álcool antes de abrirmos. — Apontou para um quadro de giz. — Mas peça qualquer outra coisa e veremos o que podemos fazer. Pagando a taxa de entrada ou consumindo mil ienes, pode também usar o karaokê à vontade.

— Taxa de entrada? Que absurdo!

— Não dá pra ficar ouvindo não-clientes desafinando a toda hora, né? Inclusive, estou considerando um mínimo maior de consumo para algum cliente pedir para a Usagi cantar...

— Não fale como se eu não estivesse aqui! — Usagi voltou com os cinzeiros da parte mais escondida do bar.

— Ué, mas isso quer dizer que você dá lucro, né? — Minako franziu a testa.

— Ele quer dizer que só ganhando muito pra ouvir minha voz... — A boca de Usagi parecia agora um U invertido, e os cinzeiros fizeram um estalo quando foram postos na mesa.

  Motoki ainda ria quando foi atender uma ligação no seu celular. Afastou-se até a cozinha — não por querer privacidade, imaginava Usagi, mas para deixar que as amigas conversassem em paz.

— Você parece ótima aqui! — Minako revirava o cardápio distraída, enquanto mordia o lábio superior.

— Bem, eu me sinto meio em casa perto do Motoki, mas nem tudo está bem. Não sei quanto tempo mais ele vai me aturar, sabe? Não fui feita pra isto.

— Mas mal começou! Todo emprego é assim, persista.

— Não é como se eu pudesse mudar o que sempre fui.

— Motoki já sabia o que esperar, tenho certeza. Eu nem o conheço, mas vejo que está supercontente com você aqui.

  Usagi sorriu de volta com o incentivo de Minako.

— É meio fofo como ele realmente te vê como uma irmãzinha. Ainda não acredito que você costumava dar mole, e ele nunca se aproveitou.

— Eu era só uma criança também...

— Ele também era mais novo.

— Já na universidade...

— E estar na universidade nos torna um bando de velhas decrépitas? Eu sairia com um garoto do ginásio! Mas acho que ele sim me acharia muito velha.

— Até que eu não pensava tanto assim do Motoki, mas é... Era como se houvesse uma linha, e Motoki por pouco ainda estivesse do meu lado. Exceto que para ele eu já estava bem longe lá do outro lado.

— Que dramático. Acho que ele só não tava a fim, Usagi. Com a noiva e tudo...

— Mas olhe, eu ainda sou a irmãzinha dele.

— Tá, você deu esse azar. Foi só acaso, podia ter dado em algo. E ei! Pode ainda dar, não? Esqueça aquele inútil e embarque em algo mais interessante!

  Antes que Usagi pudesse apontar o absurdo que Minako dissera por níveis infindáveis de razões contra, Motoki surgiu da cozinha quase como que saltitando. Fosse uma garota, Usagi diria que havia sido pedida em casamento ou algo assim.

— O que houve? — perguntou Minako, baixando o cardápio sem esconder como achava a cena divertida.

— Não sei se a Usagi já te falou alguma vez, mas tínhamos um grande amigo em comum, o Mamoru.

— Não realmente, acho. — Minako fez beiço e olhou para a amiga como se não contar fosse algum crime.

— Bem, acontece que acabei de falar com ele! — E balançou o celular ainda em mãos.

— Nossa, vocês ainda se falam... Ele não tinha se mudado e tudo? — Usagi, pegou um pano para passar nas poucas mesas pela sala, o que sempre era deixado por último para evitar qualquer poeira antes de o cliente sentar-se ali.

— Bem, adivinha quem acabou de receber uma promoção?

— Oh, ele trabalha em uma dessas empresas chiques com vários escritórios? — Minako nem tentava esconder o interesse.

— Pois é! E ele tá vindo trabalhar aqui em Tóquio!

  Usagi parou por um instante de passar o pano na mesa preta e sentiu sua mente vagar para o passado. Ótimo, tudo de que sua autoestima precisava, o homem que a fizera notar o quão longe ela estava de Motoki, considerando o jeito como ela se comportava. Ou de conseguir qualquer homem em sua vida. O plástico com o líquido de limpeza amassou em sua mão e Usagi tentou não alterar o tom de voz quando respondeu:

— Nossa, que bom pra ele, né? — Secretamente, desejava que não só que a mudança para Tóquio fosse cancelada, mas a promoção também. Um convencido como aquele nem sequer merecia um bom emprego, como o que parecia ter. Mundo injusto. Podia jurar que junto ainda viria uma namorada perfeita. Ou até esposa e filhos. Perfeitos, claro. Mamoru Chiba não era um homem para aceitar menos que isso, ele sempre lhe deixara claro com suas críticas ao estilo de vida de Usagi.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Havia algum tipo de festa pelo barulho que, diferente do usual, conseguia-se ouvir ainda do meio da escadaria até o subsolo do prédio onde o bar de Motoki se localizava. Usagi afrouxou o casaco antes mesmo de chegar ao piso, sabia que assim que entrasse teria que estar pronta para atender pedidos ou limpar alguma coisa. Era quarta-feira, e Motoki estaria sozinho. E Usagi tinha que se atrasar quase uma hora em um dia assim?

  Abriu a porta prendendo a respiração. Risos ressoaram no mesmo instante. Motoki estava passando com uma bandeja cheia de pratos com comida.

— Bem-vindo! — ele lhe gritou sem prestar atenção. Então, olhou para o suposto cliente, mas não lhe sorriu como de hábito.

  Usagi acenou pedindo desculpas com as mãos e correu para deixar sua bolsa e casaco no armário.

— Além de atrasada, ainda fica no meio do caminho! — Rei Hino, a funcionária mais recente até a contratação de Usagi, tinha outra bandeja com vários drinques.

— Pensei que fosse só eu hoje... — disse, incerta do que deveria fazer. Por isso, em seguida olhou para trás do bar, procurando qualquer tarefa em que podia ser útil. Pior que o turno de sábado, Usagi aprendera naqueles dois meses no Drunk Crown, era turnos com aquela mulher.

  Diferente do estilo esportivo e extrovertido de Makoto, Rei fazia mais o tipo dondoca. As unhas estavam sempre perfeitas, os cabelos eram negros, longos e lisos, cílios longos, pele bem clara. Provavelmente, só havia uma razão para que ela estivesse solteira apesar de conhecer tantos rapazes no bar e, com certeza, fora dali também. Seu gênio. Temperamental só podia ser eufemismo para aquela mulher. Mandona e perfeccionista eram pouco da mesma forma.

— Desculpa pela demora, aqui está seu pedido, — dizia para a enorme mesa, usando um tom oposto ao com que tratara Usagi havia pouco. E sorriu ao terminar de listar o conteúdo de cada copo e perguntar se estavam satisfeitos. Então, retornou esbarrando na que apenas observava.

— Motoki me ligou, já que quem deveria estar aqui não estava na hora, e esse pessoal todo surgiu para um happy hour da empresa antes mesmo de abrirmos. — Olhou nos olhos de Usagi. — É melhor você ir, já tô cuidando de tudo.

— Do que está falando, Rei? — Motoki passou a mão na cabeça de Usagi, estalando a língua. — Eu te chamei porque tive a impressão de que Usagi não ia querer trabalhar hoje quando visse quem está aqui. — Moveu a cabeça para um canto do balcão, onde alguns clientes bebiam mais silenciosos. — Ele chegou ainda antes do grupinho, deviam ser ainda umas sete horas ou menos. Disse que só depois das oito, então ele me perguntou se fazia mal esperar.

 Ele... Usagi já sabia de quem Motoki estava falando. No último banco, já encostado à parte, um jovem de pele branca olhava para seu celular vagamente, enquanto bebia um líquido amarelado. Suco de laranja, presumia ela.

— Rei só está brava porque o tal do seu ex-namorado era um pouco mais do que ela estava imaginando quando nos contou a história. — Motoki ria, enquanto lavava os copos recém recolhidos da mesa de antes. — E ele veio aqui ontem também, mas pediu que não eu contasse nada... Ainda bem que eu tinha pedido pra Makoto ir embora depois que limpamos tudo de tarde, ou você não estaria fazendo essa carinha surpresa. Agora vá lá, já o fez esperar duas horas, não?

  Ela assentiu, mal registrando o que Motoki lhe dizia. Caminhou como se estivesse não apenas dentro d’água, mas também lutando contra uma enxurrada. Havia encontrado seu ex-namorado várias vezes na faculdade, era inevitável. Ele fazia mestrado lá e o conciliava com aulas de japonês. Não havia qualquer turma em comum com Usagi, até o prédio no campus era diferente. Ainda assim, ele sempre parecia estar almoçando no mesmo horário que ela e no mesmo refeitório dos quatro ou cinco que havia, além dos locais alternativos e restaurantes pequenos ao redor. Sempre, claro, era um advérbio exagerado para uma vez ou duas por semana. Ainda assim, era como seu coração ainda doído sentia. Não conseguia dar distância o bastante para esquecê-lo. E agora que as férias de primavera começaram, e ela podia ficar bastantes dias sem vê-lo, lá estava o estrangeiro de olhos azuis, como que em depressão, como se o pedido para terminarem não houvesse partido dele mesmo.

— Desculpa, eu me atrasei hoje... — disse Usagi, sentando-se no banco vago ao lado dele. Era o mais perto que ficavam desde a separação. O perfume que lhe vinha parecia mais forte que antes e irritou seu nariz.

— Tudo bem, já devia ter imaginado e vim mais cedo também. — Seiya sorriu-lhe ao percebê-la.

— Como soube que eu trabalhava aqui?

— Perguntei por aí. Só errei o dia, mas seu chefe é bem legal e me disse quando era seu turno. A menos que eu fosse um stalker ou coisa do tipo, seria ruim ele dizer.

— Bem, não são muitos estrangeiros que me conhecem. — Inconscientemente, ela puxou uma mecha do cabelo do ex-namorado, fios negros, mas com uma textura diferente dos japoneses, e retrocedeu como se houvesse levado um choque. A textura diferente que ela tanto amava e nunca mais sentiria — Foi mal, mesmo depois de meses, o costume falou mais alto.

— Eu queria que fosse a primeira a saber, mas demorei tanto pra te achar em algum lugar longe das suas amigas que não é mais a primeira... — Seiya olhou para o suco, que continuava à mesma altura de quando ela o vira da primeira vez. — Aquele curso reconsiderou. Digo, a pessoa que tinha conseguido o emprego desistiu, e eles me chamaram nesta segunda.

  Usagi queria sinceramente parabenizá-lo, pois estava muito feliz por ele. Seiya apostara quase tudo naquela empresa para começar a dar aulas lá assim que terminasse o mestrado naquele ano.

  Ela acompanhara cada passo de sua busca por emprego desde antes mesmo de ficarem juntos oficialmente e até o ajudara a estudar para as provas eventualmente exigidas pelas empresas. Eventualmente, surgiram algumas propostas no interior, a bastantes horas da capital, mas eram fracas demais e em um ramo que Seiya não tinha confiança de seguir. Uma, ele recusara de plano e com razão. Outras duas, Usagi não tinha muita certeza se ele deveria ter negado, mas compreendera. O resto, ela não soubera; Seiya mudara desde que aquele curso de idiomas o rejeitara e ao fim fora ela própria rejeitada e ele decidira que o melhor seria retornar para os Estados Unidos.

  Com a separação, Usagi sequer quisera saber de mais e apenas o olhava nos ocasionais encontros pelo campus da faculdade, imaginando se aquela seria a última vez que o veria. Na última semana de aulas, duas semanas antes, ela quase se despedira pessoalmente, certa de que não o veria nunca mais. Mas quando fora à faculdade levar um trabalho atrasado, ele estava lá, comendo sozinho no refeitório. Considerou o encontro um extra da vida. Um epílogo para a relação. Nunca mais o veria desta vez.

  Agora, ele estava na sua frente, dizendo aquelas palavras?

— Você vai aceitar? — perguntou Usagi, brincando com o porta-guardanapo.

— Já aceitei, começo junto com o ano fiscal em abril. Mas e a gente, Usagi? — Os olhos azuis de Seiya buscando os seus eram tão intensos que a fazia corar, enquanto se lembrava de cada beijo que ela gostaria de sentir de novo. — Quando começamos de novo?

— Já viu a Usagi? Ela tá bem ali no canto conversando com um amigo! — A voz animada de Motoki a trouxe de volta do mundo sem sons em que Seiya a pusera com a pergunta.

  Usagi virou-se, um pouco grata por uma razão para pausar aquele momento estranho e pelo reflexo de ouvir seu nome pronunciado a algum terceiro. Seria Minako, quem soubera dos planos de Seiya e viera correndo conferir em primeira mão?

  Mas ao lado de Motoki estava um homem alto com terno e gravata, um característico assalariado responsável, do tipo que só viria àquele bar se não fosse por vontade própria.

  O grupo na mesa próxima gritou, enquanto começavam algum novo jogo para beberem mais.

  Os olhos de Usagi, enfim, haviam se adaptado ao passar dos anos e reconheceram quem estava do lado de Motoki. Ninguém menos que Mamoru Chiba, como se brotado direto de suas lembranças para lhe gritar como nunca teria um namorado se continuasse como era, entre coisas piores, enquanto sorria com presunção.

  Não era apenas um sinal para a situação em que ela se encontrava no momento, era um alarme do caos que estava para se estabelecer na vida de Usagi. E aquele momento em que Mamoru curvava-se ligeiramente em cumprimento, infelizmente, também poderia ser chamado de seu momento de virada.

Continuará...

Anita, 25/02/2012

 

Notas da Autora:

Nossa, esse primeiro capítulo coube menos coisa que eu havia planejado, então confesso que adiantei a primeira aparição do Mamoru. Não seria ao mesmo tempo em que quando o ex da Usagi pedisse para voltarem...

Outra coisa é que eu havia até quase o final do capítulo escrito o namorado dela como sendo o Jedite, mantendo a história, como sempre, estritamente na primeira fase. Contudo, ao longo do diálogo, eu comecei a sentir a pessoa do namorado da Usagi mudar de tal forma que não era mais o Jedite. Eu não queria o Seiya, ele parece tão japonês pra mim... Mas ao mesmo tempo, ele é um alienígena, né? Fica até engraçado ele ser um estrangeiro na minha história então. E é uma boa forma de eu fazer um pouco as pazes com outras fases. Mas não tô pretendendo ir muito além. Quem mais tiver que aparecer aparecerá, mas a história não será um festival de outros personagens. Aliás, eu prefiro ainda imaginar isto como uma história da fase classic, apenas com a anomalia de ter um personagem chamado Seiya, prefiro até imaginá-lo como um original de tão relutante sou com mudar de fase, desculpa e me aturem, por favor. :D

Ufa, eu realmente senti que deveria explicar por que por mais que eu confira, ainda pode ter algum vestígio do outro personagem!

Muito obrigada por lerem este capítulo, espero que tenha sido o bastante para fazê-lo ler o próximo também! Vamos ver como isto continua né?

Comentários podem ser enviados para anita_fiction@yahoo.com e para mais fics visitem meu site Olho Azul. Até mais!

Notas Extras do Futuro:

OH MY GOD! Eu venho prometendo esta fic há séculos! Há literais anos! Vocês viram o ano em que o capítulo foi escrito!? Vocês têm noção desta doideira?!

Não tenho publicado quase nada e até tava planejando publicar minha fic mais recente de Sailor Moon quando percebi que 2022 é o ano de aniversário de vinte anos do Olho Azul, meu amado site Olho Azul. Esta foi uma das fics que mais amei escrever na minha vida, vocês não fazem ideia de como a inspiração fluía. Até que de repente ela fugiu. Deu uma de Tuxedo Kamen e disse que seu trabalho estava pronto quando o conflito principal se resolveu e aí eu podia jurar que tinha largado a fic na última cena, até que um dia desses abri e descobri q eu escrevi “Fim” nela. Foi mesmo o final? Vamos ter que ir lendo e descobrindo.

Eu considero muito esta como uma fic de transição. Enquanto eu a escrevia, eu ainda usava os nomes da dublagem, por exemplo, os quais ainda amo muito, mas cada vez menos os leitores vão se identificar com eles. E aí nesta fic eu fui escrevendo com eles sabendo que a intenção era dar um “substituir tudo” depois. Acho que por sorte eu realmente preciso revisar tudo com calma, afinal, já são dez anos, e eu já me acostumei com os “novos” nomes, então espero conseguir pegar o que tiver ficado de resquício. Contudo, já peço desculpas pelo que passar.

Mais uma coisa é que a fic foi escrita há dez anos. Eu sempre escrevo pensando nas tecnologias presentes primeiro por comodismo, segundo porque a menos quando me ajudar no plot, não faz sentido eu ficar pesquisando o que era usado em 1990 quando parte dos leitores nem nascida era nessa época. Nem autora nem leitor se identificaria. Não sei se é uma opinião impopular. Só que o tiro sai pela culatra nestas horas, a fic nem lançada e já tá atrasada dez anos. Again, vou corrigindo/atualizando o que der, mas tem muito o problema de eu não lembrar a tecnologia que seria necessária. Uma coisa que me dá nervoso só de lembrar é que essa foi a época que o Japão tava indo dos celulares mágicos deles de flip pros smartphones. Então enquanto eu tava terminando de escrever já começava a perceber a desatualização. Ai, ai... Vai ser lindo ter que mudar o celular de todo mundo, né? Tecnologia de 1990 está rindo da minha cara agora, eu sei.

Mais um detalhe, o título da música veio de Tsukimisou, do Novelbright. Eu queria muito era tirar algo de Heart da Aimyon, que acho muito a cara desta fic, mas não consegui...

Enfim! Falei tanto que muitos devem ter esquecido, mas tem uma autora carente aqui que teria ganhado cem vezes mais hits se tivesse largado de preguiça e publicado em 2012. Por favor, entenda que seu comentário vale ainda mais que ouro hoje. COMENTE!!!!

E até o próximo capítulo!

(14/02/2022)


4 comentários:

  1. Aaah, como esperei por esse momento! Comentei lá no Twitter e vou falar de novo, que aqui você tem uma leitora fiel das suas fics de Sailor Moon! <3
    Eu sempre tô aqui atrás das atualizações, lendo as fics mais antigas (alô Várias formas de te amar, minha favorita ever) é tô tão feliz com essa nova que não é tão nova kkkkkkk
    Eu amo esse plot que você escolheu como tema e como boa rendida por uma comédia romântica, eu já estou esperando o restante hahaha Me lembro de muitos anos atrás quando escrevi um e-mail pra você sugerindo uma história que tivesse o Seiya no meio, não como principal, mas tivesse parte na história de UsaMamo,e olha essa história aqui depois de muitos anos! Por favor, não deixa de postar o restante, que espinha estarei aqui firme e forte esperando pra ler!

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    1. Obrigadaaaa!!! Aaaah! Obrigada mesmo! É tão bom se sentir acolhida, amo este fandom demais! Não sou anti-seiya mas sou anti-seiya/usagi e juntando com o quanto aquela temporada stars é complicada e eu acho q só a vi duas vezes (se bem que hoje isso pra mim é muito em um anime mas pro meu nivel de fã de Sailor Moon isso nao é nadinha haha) eu não achava mesmo que algum dia eu escreveria algo com ele/ela.
      E pode deixar que eu vou postar mais sim! Cruzando os dedos para que continue gostando! Até lá! ♥

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  2. Estou lendo no FanFiction.Net, mas vim comentar aqui também, porque sério, EU AMO DEMAIS SUAS FICS DE SAILOR MOON <3

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    1. Muuuuuito obrigada pelo apoio!!! Logo, logo eu tô postando mais!

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