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[Sailor Moon] Cada Vez que nos Encontramos, Cada Vez que nos Separamos - Capítulo 12 (fim!), escrita por Anita

Autora: Anita
Fandom: Sailor Moon
Gênero: Comédia romântica, Realidade alternativa
Classificação: 14 anos
Status: em andamento
Resumo: Usagi/Mamoru. Usagi está na faculdade e acaba de terminar com Seiya, seu primeiro namorado de toda a vida, quando decide aceitar um emprego de meio período no bar de seu amor de adolescência, Motoki. Entre os desafios dessa aventura, o passado decide reaparecer na sua frente, especialmente quando o homem que mais a atazanava retorna a Tóquio, Mamoru. Ela percebe então um conflito entre o que sente por Seiya e por Mamoru. A história também vai explorar os romances de cada uma das senshi! 

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Olho Azul 20 Anos Apresenta:

Cada Vez que nos Encontramos,
Cada Vez que nos Separamos


Capítulo 12 — A Vez que nos Separamos

  Estava quente. Mesmo com o ar-condicionado do apartamento ligado, Mamoru sentia calor deitado ali ao lado de Usagi, os dois nus, sem ar. Ele encarou o controle do aparelho, mas decidiu não o pegar, não queria arriscar mudar de posição e perder o abraço forte. Desde a viagem para Nagasaki, Usagi adquirira aquele costume provavelmente sem perceber, o de segurá-lo com toda a força.

  Não que fosse reclamar, mas isto o intrigava. Não era ser dele o medo de perder? Embora estivesse claramente resolvida com o ex, era exatamente por isso que havia a desconfiança de que ela não precisaria mais dele, de que pudesse seguir em frente para o próximo.

  Precisava parar de pensar assim. Não estava com qualquer prospecto de encontrar um emprego em Tóquio, e suas economias não o manteriam por muito tempo caso deixasse a empresa. Até considerara começar a vida de freeter, trabalhar apenas em empregos de meio-período, até conseguir um emprego de verdade, mas não tinha certeza se valeria a pena quando já tinha recebido o sinal verde para retornar a Nagasaki a partir de outubro.

  Não era como se Usagi tivesse aceitado terem algo mais oficial. Ele havia até considerado confrontar o senhor Hino, falar para ele sobre a perseguição que vinha sofrendo no trabalho, mas conjugando isso à recusa do noivado com sua filha, o resultado poderia deixar sua vida ainda pior.

— Tá quente... — reclamou Usagi, aninhando-se mais em seu peito.

— Logo agosto termina e virá o outono.

— Aí vai ficar muito frio.

— Isso é só no inverno, cabeça de vento.

— E eu não gosto de como nunca se sabe como vai ser o dia no outono.

— O céu do outono é como o coração da mulher? — brincou Mamoru, repetindo o dizer popular sexista.

— Isso mesmo! — ela confirmou em vez de reclamar, como ele tinha imaginado que faria. — Falando em mulher complicada, você chegou a conversar com a Rei depois daquele dia no bar?

— Quando o Motoki tava viajando? Bem, você viu como ela fingiu que não me conhecia.

— Quero dizer depois! Nunca mais a vi... Motoki tava até reclamando noutro dia de como a Makoto não tem tido noites disponíveis e de como a Rei nunca parece poder ficar comigo no bar, e aí ele não pode se divertir com a Reika. — Usagi havia adquirido a mania de usar o tom de voz debochado sempre que se referia à namorada de Motoki. — Tenho certeza de que ela tá me evitando.

— Não se preocupe. Assim que o senhor Hino voltar de férias, eu falarei tudo com ele e rejeitarei o noivado formalmente.

— Mas isso é ruim, né? — Ela suspirou, circulando o peito de Mamoru com os dedos.

  Ele tentou imaginar em que sentido ela achava ruim, mas antes que juntasse forças para pedir que elaborasse, Usagi levantou-se e pegou o controle do ar. Ajoelhada na cama, começou a brincar com a temperatura e a posição das paletas do aparelho. Queria abraçá-la de novo, puxá-la de volta para a cama e amá-la mais uma vez, simulando que o que faziam era simplesmente sexo. E foi o que fez. Não importava, desde que a mantivesse em contato com sua pele. Àquela altura, já tinha se acostumado com o incômodo que o queimava a cada beijo de amor não correspondido. Ainda era melhor que quando não tinha Usagi consigo.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Saindo para a rua, Usagi se despediu de um Motoki bastante frustrado por mais uma vez nem Rei nem Makoto poderem preencher o turno naquela quarta à noite. Para piorar a situação dele, Reika não parecia gostar muito de ter os encontros com ele ali mesmo no bar. Usagi achara divertida a noite em que Mamoru aparecera ali, apesar do clima tenso entre Rei e os dois, por isso, não podia dizer que entendia por que Reika dava tantas desculpas para não ir ao Drunk Crown. Talvez perguntasse a Mamoru quando se vissem, provavelmente na manhã de domingo.

  Queria vê-lo logo. Tanto que chutou o ar em frustração. Especialmente após a última tarde de domingo, quando ele lhe deixara tão claro que o caso deles terminaria em setembro ou logo após. Usagi gritou alto, havia chutado um poste na rua e tentava prender o choro pois já passavam das onze da noite.

— Você está bem? — Ami correu até seu lado, deixando no chão uma bolsa com livros grossos que ela carregava junto à própria bolsa.

— Tô sim, isto sempre acontece. — Usagi fungou, engolindo o choro preso. — Mas, Ami! — gritou, enfim, reparando melhor em quem a socorrera. Uma ideia lhe passava pela mente. — Onde está Rei!?

— Rei? — Ami franziu a testa. — Estou voltando agora da biblioteca, então não a vi hoje. Aconteceu alguma coisa?

— Na verdade, sim. — Usagi juntou sua coragem e olhou a moça nos olhos antes de declarar: — Rei está brava comigo porque estou tendo um caso com o futuro noivo dela.

  Ami não escondeu o espanto. Por um momento, Usagi pensou que seu plano de arrancar informações com um golpe de susto havia falhado, pois Ami talvez não soubesse direito sobre nada daquilo. Contudo, ela balançou a cabeça com força e lhe sorriu.

— Por que não pergunta diretamente a ela? — sugeriu-lhe.

— Mas a Rei tá me evitando — respondeu Usagi com voz chorosa. Não gostava de como isso deixava as duas num lugar ruim, ainda que houvesse começado a sair com Mamoru muito antes do tal noivado. Bem, um pouco antes. De toda forma, antes.

— Vamos lá falar com ela. Eu te levo!

  Usagi deixou-se guiar pelo caminho conhecido até a entrada do templo Hikawa, onde Rei morava com o avô.

— Você parece tão bem, Ami... Que inveja! Quem me dera tudo estar resolvido entre Mamoru e eu também — disse sinceramente. Era de estranhar mencionar o nome dele tão abertamente, mas sabia que falava com alguém que a compreendia. — Como vai tudo com o Masato?

— Hm... Acho que já está tudo superado. — Ami baixou a cabeça. — Faz um tempo que nem o vejo e, quando ele está na cafeteria, saio antes que me veja. Graças a essa distância, posso dizer que já o superei.

— Quê? Vocês não voltaram!?

— Como poderíamos? — ela devolveu a pergunta com resignação. — Masato se sentiu muito mal por machucar a noiva dele daquela forma e não queria mais fazê-lo. Eu também... não queria causar nenhum mal, ainda que já soubesse que seria inevitável caso ela descobrisse.

— É, mas agora que não há mais nada, tinha certeza de que vocês estavam juntos. Só não sabia como perguntar quando o vejo lá no Drunk Crown. Mesmo assim, você não poderia perdoá-lo?

— Perdoá-lo? — O olhar que Ami lhe lançou estava opaco de tão confuso. — Não tenho o direito de ficar brava.

— Espera, você disse que tá evitando ele desde que vocês terminaram!? Então, você ainda não sabe que a Naru terminou com ele, é isso?

  Ami ainda lhe devolvia o mesmo olhar de antes, mas com maior intensidade.

— A noiva dele? Terminou com o Masato? Tem certeza?

— Bem, ela agora está com outro... creio que não tenha mais volta. — Usagi assentiu algumas vezes, animada por notar que podia ser como um cupido para aquela relação.

  Ao assistir a Ami tapar o rosto com as pequenas mãos, Usagi a olhou incerta do que mais lhe dizer.

— Ami...

— Desculpa, é que... Eu não achava que eles fossem terminar. Ela não parecia... eu realmente... Desde que começamos, eu realmente nunca achei que fosse acontecer. — Ela limpou as lágrimas dos olhos.

  Usagi a abraçou, feliz por ela. Ao menos, aquele caso havia dado certo.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Um som de risada preencheu o quarto surpreendentemente normal de Rei. Usagi esperava ao menos um futon no lugar cama já que estavam no meio de um templo, mas até onde podia dizer, aquele poderia até ser o seu próprio quarto. Até uma caixa cheia de histórias em quadrinho Usagi havia encontrado no pouco tempo que ficara lá, e planejava revirá-la em busca de alguma nova leitura assim que entendesse o que seria tão engraçado para Rei Hino. Usagi tinha acabado de perguntar se ela a estava evitando no Drunk Crown por causa da história do noivado e era assim que reagia?

— Afinal, como você poderia roubar um namorado meu? — Rei perguntou, pausando as gargalhadas. Fala sério, se eu realmente o quisesse, bastaria uma palavra. A menos que aquele cara não bata bem da bola, o que é bem provável, né? Pra namorar você podendo tão melhor! — E gargalhou novamente por um longo período.

  Usagi não conseguia acompanhar aquela lógica. Na verdade, parecia mais que faltava lógica em tudo o que Rei dizia sobre Mamoru e o noivado deles.

— Que bom, né, Usagi? — comentou Ami. — Mas eu tinha certeza de que a Rei não ficaria brava por um motivo assim.

  Rei balançou o indicador próximo ao nariz de Ami e disse:

— É claro que eu ficaria brava de alguém roubar meu namorado! Não confunda eu estar tranquila aqui com isto. Pra Usagi, seria crime impossível.

— Isso é muito malvado, Reeei! — reclamou a própria Usagi, cruzando os braços. — Então, por que você não tem mais feito turnos comigo? Não é por minha causa?

  Ami assentiu e tornando-se para Rei também em expectativa pela explicação.

— Bem... — Rei suspirou e voltou a se sentar em sua cama. — O fato de ele já ser seu não muda muito meu raciocínio. Não era para mudar. Digo, meu avô merece o conforto que o dinheiro do meu pai poderia nos dar, não ter apenas que depender do que ganha com o templo. Claro, meu pai já paga minha faculdade, minhas despesas, mas é sua obrigação.

— Então, você ficou sem graça de encarar a Usagi porque você vai estar roubando o namorado dela, né? — concluiu Ami, surpreendendo Usagi.

  Era verdade que Usagi já vinha se sentindo injustiçada, mas dado o real estado de sua relação com Mamoru, não esperava que outra pessoa pudesse considerar assim. No final das contas, Mamoru nem mesmo era dela.

— Não se preocupe com isso. — Usagi sorriu ao notar a expressão perturbada de Rei. — O Mamoru me disse que irá rejeitar a proposta e se mudar para Nagasaki.

— Kyushu? E a sua faculdade?

— Pra começar, não estamos realmente namorando.

— Mas que homem sairia de casa num dia de semana pra proteger a namorada de bêbados no trabalho quando esse tipo de gente já faz parte do nosso dia a dia faz tempos? E lembro muito bem que ele ficou contigo por um bom tempo, mesmo depois de já saber que não apenas eu, mas que o Yuichiro também estava lá.

— Tá aí! — Usagi apontou para o ar. — O Yuichiro fez isso por você. Vocês estão namorando então? Hein? Hein?

  O rosto de Rei ficou corado, mas logo ela balançou a cabeça repetidas vezes.

— Ele trabalha no templo, eu também sou obrigação dele.

— Me engana que eu gosto. — Usagi estava de braços cruzados e assentindo, mas sua mente não saíra do assunto real. — De qualquer jeito, ele precisa ir para Nagasaki. Sabe, o Mamoru nunca se adaptou bem ao departamento dele, eles vivem isolando ele de tudo, é quase como uma escola ou algo assim. Noutro dia, o chefe direto dele o chamou para almoçar, bem, ele o intimou, né? E aí o Mamoru teve que pagar uma conta milionária! E ele nem reclamou de ter que pagar prum chefe que é mais velho, ganha mais que ele e escolheu o restaurante. Só ficou me falando a história como se fosse a coisa mais comum do seu dia. Uma conta milionária!

— Mas por que ele não reporta isso aos superiores? — interrompeu Ami.

— Acho que não é tão fácil, ele tem medo de tudo só piorar. E, bem, é o que ele me disse: ele tem alternativa muito menos arriscada.

— Voltar pra roça? — perguntou Rei, bufando pelo nariz. — Não é como se ele não pudesse encontrar lugar aqui em Tóquio, mesmo, certo? Ele tá numa empresa conhecida e tem que ser bom pro meu pai havê-lo escolhido! Hm? — Rei agora olhava para Ami com a testa franzida. — Você não tá meio estranha hoje?

— Eu?

— Ah, é o Masato! — Usagi responde sorridente. Ami virara para ela um ícone de que o amor acaba dando certo de uma forma ou de outra.

— Não me diga que você aceitou aquele traste de volta.

  Usagi tentou afastar Rei que avançara como uma leoa sobre sua presa.

— Não! Eles ainda nem se falaram! — explicou, então, toda a confusão que Ami e Masato haviam se causado sem motivo.

— Não me diga que agora tá se sentindo culpada por tirá-lo da sua vida? — perguntou Rei, e Ami não parecia pronta a negar. Isto apenas fez Rei parecer ainda mais lívida. — Vamos, bem-feito pro traste por tentar enganar duas jovens de coração puro.

— Eu não fui realmente enganada...

— Você que pensa. É só te olhar para desconfiar que o traste usou magia negra ou droga pra te hipnotizar e te tirar o juízo.

  Usagi não segurou o riso ao imaginar Masato como um grande vilão que hipnotizava moça de coração puro como em um dos mangás que estava bisbilhotando da coleção de Rei.

— E você não tá muito longe — Rei voltava sua ira para Usagi, apontando um dedo no seu rosto —, pobre do seu outro namorado!

— Nem tão pobre assim — respondeu Usagi sem perder tempo. — Sabe a ex do Masato? Adivinha com quem meu pobre ex anda? A Naru tá até pensando em se mudar pro apartamento minúsculo dele e arrumar um meio-período naquele fim de mundo que ele mora.

— Só uma doida largaria uma vida confortável por um homem. — Cruzou os braços. — Se bem que esse feitiço deve ser bom. Perder todo o juízo e se entregar a alguém... Jogar pro ar as responsabilidades, o que os outros pensam e ficar com alguém por mais inútil, desajeitado que fosse esse homem.

— E casar com o Yuichiro — Usagi completou abrindo os braços —, ter uns filhos, povoar o templo!

— Algo assim... — Mas Rei suspirou ao perceber seu erro. — Usagi! Não foi nada disso que eu quis dizer! Quem quer saber daquele inútil!

— E desajeitado? — sugeriu-lhe com um sorriso de vencedora.

— E pode largando minha revista! — Rei lhe tomou o mangá que só tinha tido tempo de ler até a metade.

— Mas você já até leeeeu!

  Ami forçou-se a parar de rir e interveio no meio da disputa corporal pelo mangá.

— Rei — disse em tom apaziguador, assim que ambas se acalmaram. — Por que, em vez de esperarmos o namorado da Usagi fazê-lo, você mesma não conversa com seu pai?

— Conversar com ele? — Rei fez um muxoxo, não escondendo o desagrado.

— Sobre seu avô, o templo e o casamento. Seu pai sempre foi bastante ausente, mas nunca me pareceu uma pessoa má. E ele nunca te obrigou a se casar, nem nada, certo? Converse com ele talvez sobre aumentar o dinheiro mensal ou fazer alguma aplicação em seu nome. Faz sentido ele passar a empresa a um sucessor que não será você, mas converse sobre todas essas suas inseguranças financeiras.

— E sobre o Yuichiro! — acrescentou Usagi, apenas para levar um soco no meio da cabeça.

  Após algumas risadas mais e muitas brigas, Rei sugeriu que ambas durmam por lá, pois Usagi já havia perdido o último trem, mas ela recusou. Saiu sem dizer nada e começou a andar pelo refrescante ar da noite. Levaria apenas uma hora até o prédio com que se familiarizara tanto.

  A conversa parecia haver trazido paz de espírito para Rei, mas deixara Usagi inquieta. Não via como Rei conversar com o pai realmente ajudaria Mamoru.

  Claro que não desejava o casamento arranjado, mas ao menos era um motivo para que Mamoru ficasse em Tóquio. Perto dela, mesmo que não com ela. Ela precisava vê-lo, aproveitar aqueles últimos dias antes que sumisse de sua vida de novo.

  E setembro se aproximava.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Setembro já havia começado, e aquele dia talvez fosse o primeiro com temperatura amena desde que a estação chuvosa começara em maio. Provavelmente estava exagerando, mas foram tantos dias quentes desde então, que Mamoru não se lembrava mais do que era sentir frio. E talvez nem pudesse realmente dizer que fazia frio naquela terça-feira e fosse apenas o frio em sua espinha que fazia os pelos em seu braço arrepiarem. Conferiu o relógio de pulso; em poucos minutos o senhor Hino apareceria no pequeno restaurante próximo à empresa.

  Desejava que Usagi também o tivesse acompanhado. Mamoru nunca havia tido problemas para dizer não até começar naquele emprego. Esforçara-se tanto desde o primeiro dia para ir bem e assim poder retornar a Tóquio que temia que o hábito de apenas obedecer às ordens fosse atrapalhar quando explicasse ao senhor Hino tanto sobre como não podia casar-se com sua filha quanto sobre precisar voltar a Kyushu no mês seguinte. Isso tudo apesar dos esforços que o mesmo senhor Hino havia empreendido para trazer Mamoru a Kanto. Era uma posição delicada, e a companhia de Usagi ao menos o acalmaria.

  Ainda assim, não se surpreendeu quando ela recusou. Olhando para o caso deles como apenas um caso, um jantar com um chefe de Mamoru não fazia qualquer sentido para uma amante. Era verdade que Usagi vinha enfatizando que Mamoru poderia achar algum trabalho em Kanto, deixando claro que o desejava por perto. Também era verdade que isso o deixava feliz. Contudo, não era o mesmo que a famosa cena em filmes românticos de quando a mocinha corria até o aeroporto e comprava a última passagem no voo que estava para sair apenas para anunciar a todo o avião seu amor pelo mocinho.

  Mamoru fez uma careta ao imaginar a cena. Além de improvável, era desnecessária. Usagi sempre poderia contactá-lo em Nagasaki que ele voltaria correndo para ela. Ele sabia que, acima de tudo, ir para lá era sua forma de voltar ao tempo em que não precisava da presença constante daquela mulher em sua cama. Não seria contra prosseguirem com o caso após sua ida, caso ela também estivesse disposta, mas a distância, a impossibilidade de vê-la se não quando ele tivesse alguma folga para pegar o avião para Tóquio inevitavelmente iria esfriar aquele desejo todo.

  Ainda assim, ressentia que Usagi não estivesse com ele na reunião com o senhor Hino.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Usagi olhou de esguelha para o relógio do bar. Seu corpo estava dolorido após a limpeza de toda terça-feira, e aquele calor de final de verão não estava ajudando seus ânimos. Muito menos o fato de que agora, alguns minutos após as oito da noite, Mamoru estava conversando com o pai de Rei em algum restaurante.

  Mesmo havendo sido convidada, não havia como Usagi ir e a desculpa de que precisava ajudar Motoki não colara. Bem, Mamoru devia saber melhor que Usagi preferia ir de minissaia para o Polo Norte a ouvir sobre como ele tinha tudo planejado para voltar para Nagasaki a sabia-se lá quantos quilômetros dela. Não, Mamoru não o sabia, Usagi nunca realmente lhe explicara como se sentia sobre isso, e por isso ele podia tão casualmente sugerir algo assim.

  Que complicado, pensou. Em que momento sua vida mudara àquele ponto? Usagi nem conseguia mais explicar seu envolvimento com Mamoru. Sabia que gostava dele, ansiava por ele. E que, em algum momento do passado, ele também havia gostado dela. Pelo menos, era o que ele tinha lhe dito.

  Mesmo que Naru não parecesse se lembrar disso, Usagi buscou e buscou na mente sobre o que Mamoru tinha querido dizer com já ter se declarado para ela antes. Enfim, tinha lhe ocorrido uma vaga recordação de haver sido perguntada por Naru sobre como se sentia sobre Mamoru tantos anos antes e, mesmo sem se recordar da resposta, tinha certeza de que não dissera nada encorajador. Era uma hipótese inimaginável, um absurdo que os dois viessem a ficar juntos um dia.

  Sua vida estava virada a esse ponto agora. Estava junto de Mamoru e queria muito mais que isso dele.

Usagi! Dá pra me ouvir!? — gritou a voz de Minako do celular em sua mão.

— Sim, você disse que o Yaten volta pra casa em março.

Você não entendeu como isso é horrível!? Poxa, achava que se houvesse alguém que entenderia minha dor, seria exatamente você Usagi... Ano passado, você não tava nessa mesma situação com Seiya?

— Bem, nós estávamos namorando. E o Seiya pretendia achar um emprego aqui.

O Yaten, não! Ele pensou e desistiu, acredita? Não entendo como ele pode... E eu, como fico?

  Usagi não tinha certeza se Yaten consideraria abrir mão de um futuro confortável, já que ele parecia haver conseguido uma boa proposta de emprego em sua terra natal, por apenas um enrolo. Minako era a única pessoa que chamava o que o casal tinha de namoro e nada do que Usagi já houvesse lhe dito a fazia enxergar que nunca dera alguam dica à outra pessoa da relação sobre isso. Os dois raramente haviam saído sozinhos, e Yaten nunca sequer a beijara. Não, Minako a corrigiu, eles já haviam se beijado sim, mas ela iniciara as duas vezes. Yaten estava embriagado após um jogo no karaokê em uma dessas.

Bem, por isso terminei tudo! Íamos ao cinema hoje, mas falei que não dava para alimentar um romance sem futuro.

— Isso soa ao Seiya... — Usagi agora podia rir do raciocínio que lhe havia estraçalhado o coração menos de um ano antes.

Não vejo graça alguma.

— Por que não vem ao bar? Não sei se conhece o Masato, mas ele tá com uns amigos bonitões aqui pra uma happy hour da empresa dele.

Esse não era o noivo da Naru? — Minako fez silêncio. — Segura eles aí então que eu tô indo!

  Usagi ainda estava rindo após encerrada a ligação quando percebeu a porta se abrir. Não era um cliente entrando, mas Makoto. Ela tão alta, caminhou lentamente apesar das pernas longas até onde Motoki estava, ele igualmente confuso com a sua presença. Ele sabia que não era turno dela. Aliás, Usagi imaginava que naquele dia Makoto estaria no outro bar onde vinha trabalhando agora duas vezes na semana, às vezes até três.

  Makoto a cumprimentou de longe e voltou o foco para Motoki. Tirou uma carta da bolsa e com alguma cerimônia estendeu-lhe. Em seguida, saiu do bar sem se despedir.

  Era uma carta de demissão, Usagi tinha certeza. Nunca vira uma em sua vida, a não ser em novelas e filmes, mas Makoto estava se demitindo e depois saindo sem dizer qualquer palavra. Usagi colocou o celular atrás do balcão e tentou correr atrás dela, mas foi impedida por Motoki, visivelmente aturdido.

— Eu falo com ela — disse antes de sair.

  Pareceu demorar uma hora. Mesmo com o relógio à sua frente indicando que nem dez minutos haviam se passado, Usagi podia jurar que ele estava quebrado e que Motoki estava do lado de fora havia horas demais. Foi quando ele voltou ainda mais pálido que quando saiu.

  Masato, que também testemunhara o ocorrido, mas só prosseguido com sua reunião com os amigos, levantou-se da mesa rodeada de homens estranhos de terno e foi até Motoki perguntar se Makoto estava bem, mas o fato de ela não haver retornado junto não podia ser uma boa indicação, concluiu Usagi.

  Quando Masato insistiu por uma explicação, se ele realmente havia conversado com calma com ela, Motoki assentiu. Mas ainda parecia emitir aqueles comandos de um local distante do próprio corpo.

— E se eu for lá? — sugeriu Masato. — Vejo qual o problema e penso em alguma proposta. Negocio direto com os médicos, não pode ser mais difícil.

— Não vai dar... — respondeu Motoki, balançando a cabeça mais vezes que o necessário.

— Eu vou então! — disse Usagi o que realmente queria fazer, independente de com quantos empregados ficasse o Drunk Crown ao fim daquela noite.

— Ela já me disse o que quer, Usagi. Não é isso.

  Usagi franziu a testa.

— Ela... me beijou. — A bochecha de Motoki ficou tão vermelha que ele poderia ser um ginasial beijado pela primeira vez.

  Makoto havia decidido por ela mesma qual seria o momento em que sua vida mudaria. Mudou definitivamente de emprego e ainda se explicou a Motoki, deixando um ponto final capítulo de sua própria história.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Minako não demorou muito a aparecer naquela noite. Nem a se entrosar com os amigos de Masato, mesmo agora sendo a melhor amiga da ex dele e soubesse que ele já havia se acertado com outra, apesar de Minako ainda não conhecer Ami.

  Aos poucos, Usagi percebeu que suas técnicas também vinham dando resultado e Minako passou a ignorar Masato em favor de um dos homens presentes. Era um homem aparentando mais velho que Masato, com cabelos quase prateados — não podia ser natural né? Ele não parecia ser tão velho assim, será que tinha pintado com essa moda de nevar cabelos? — e de pele bastante morena. Ao menos, se tudo desse certo desta vez, não haveria dúvidas se Minako estava mesmo namorando ou não.

  Usagi olhou para Motoki do outro lado. Já era hora de ir embora, mas ela não sabia se podia apenas deixá-lo ali. Considerou ligar para Rei apenas para desistir antes mesmo de o celular começar a chamar. Por mais que as coisas já estivessem resolvidas entre ambas, aquele não era um dia em que Usagi quisesse ouvir falar dos Hino.

  Invejava a postura de Makoto de apenas ir lá e dar um ponto a toda a história. Um ultimato. Mas conhecendo Makoto, ela nunca esperara que Motoki ficasse daquela forma quando impusesse que largasse Reika para ficar com ela e o ultimato fora apenas para mostrar quão definitiva era sua resolução. Por outro lado, a de Motoki não parecia ser, olhando perdido para os clientes que chegavam e faziam pedidos.

  Já eram onze horas, e o movimento diminuía, mas sendo férias de verão para as faculdades, muitos universitários acabavam aparecendo assim que perdessem o trem após alguma festa ou outra para esticar a noite no ar condicionado. Motoki ficaria bem, né? Para se assegurar, Usagi pediu que Minako e Masato fechassem a loja com Motoki assim que saíssem.

— A Makoto vai ficar bem, né? — perguntou Motoki, assim que a ouviu se despedindo.

— Acho que agora sim... A gente dá um jeito com o bar. — Usagi lhe sorriu, tentando parecer calma. Sabia que aquele seria o pior momento para pensar no emprego.

  Ao mesmo tempo, talvez se tornasse uma distração bem-vinda, tal qual no início do ano. No fundo, sentia que não seria tão fácil esquecer sua relação com Mamoru como fora com Seiya, muita coisa havia se acumulado em seu coração para simplesmente deixá-lo ir. Coisas que ela não se sentia capaz de expressar.

  Uma criança, Usagi se sentiu. Ela era uma criança. Mesmo que Mamoru soubesse disso, nada poderia ser feito. Se ao menos ela o houvesse levado a sério anos atrás quando Naru agira como intermediária. Mas só em pensar nisso, ela já se ressentia de como a pergunta tinha sido sutil demais. Tal qual uma criança a culpar outros por aquele relacionamento prestes a ruir.

  Usagi pegou suas coisas, fazendo um gesto para Masato cuidar de Motoki, já que Minako havia se distraído demais com aquele moreno.

  Um bafo a cumprimentou quando abriu a porta. Já era setembro e ainda parecia início de agosto. Bem, em um mês, Usagi começaria a sentir falta do calor, por isso deu de ombros e tomou o caminho da escada. Tão distraída, quase gritou quando percebeu um vulto se mexendo no vão formado com a parede.

— Desculpa, não achei que fosse te assustar — disse Mamoru, que devia estar encostado a um canto antes.

— Tava me esperando? Por que não entrou?

— Motoki está aí, né? Eu liguei para ele mais cedo.

  Usagi assentiu.

— Isto quer dizer que temos que conversar? — perguntou a ele com um suspiro. — Não era melhor ter me chamado pro seu apartamento? — Mas percebeu a resposta assim que o sugeriu.

— Vamos andando até a estação? Podemos conversar na plataforma pra você não perder o trem.

  Assim fizeram em silêncio.

— Eu pensei em mantermos contato depois que eu fosse para Nagasaki — Mamoru disse assim que Usagi se sentou. Ele estava de pé ainda, olhando os trilhos. — Não seria problema eu vir de mês em mês, ou quinzenalmente até.

  Oh, havia essa opção? Seria custoso demais, então Usagi não tinha imaginado que Mamoru quisesse isso. Só que o “mas” era a continuação óbvia, por isso, Usagi apertou as próprias mãos, sentindo as unhas nos punhos e nas palmas.

— Isso não é justo com você — continuou Mamoru. — Para mim, seria conveniente até demais. Poderíamos ficar juntos quando eu quisesse. Já para você, seria te prender, igual a quando você estava naquela relação sofrida com aquele estrangeiro. Há quanto tempo estamos nesta? Eu estava feliz que, mesmo havendo virado a transição desde que terminou com ele, você continuava a mesma. Ainda parecia me querer tal como antes. Mas, sabe... Este não é o momento para você se contentar com um caso assim, Usagi. Foi bom como passagem. A partir de agora, você deve voltar à sua vida e estar pronta a perceber o próximo que virá. Eu tenho medo de que você possa acabar distraída demais para perceber essa pessoa enquanto eu a segurar.

  Usagi não sabia o que falar desta vez. Nunca havia achado que estava sendo segurada. Na verdade, por todo aquele tempo, cada vez mais, ela tinha a sensação de fincar as unhas na pele de Mamoru com a mesma força que fazia em si própria no momento.

— Eu apenas pensei em mim, sinto muito — completou Mamoru, voltando-se para ela agora.

— Pelo jeito, sua reunião com o senhor Hino correu bem — Usagi se forçou a dizer qualquer coisa.

— Sim. Ele já sabia de tudo pela filha, aliás. Acho que devo te agradecer... O senhor Hino até me ofereceu outro lugar na empresa. Ele já sabia que eu queria sair.

— Rei disse isso tudo pra ele? Eu não esperava...

  Mamoru lhe sorriu, não parecendo incomodado com a interferência.

— Eu realmente agradeço, Usagi. Não imaginava que estivesse tão preocupada assim comigo. — Um som avisou que o trem se aproximava. — Mas é hora de você pegar o trem.

— Este não é o último, posso ficar mais.

  Ele se sentou a seu lado e estendeu a mão.

— Lembra quando te falei sobre o Seiya? Que seria doloroso no início, mas que era o melhor a longo prazo?

  Usagi continuou a olhar aquela mão estendida. O som do trem aumentou.

— Não sei o quão ruim será para você agora, mas este é o melhor para nós dois a longo prazo em vez de continuarmos com isto.

  Poucos momentos depois de Makoto, era a vez de Mamoru dar forma ao momento que Usagi sabia que mudaria a vida dela própria. E ele nem fazia ideia do quão dolorido foi aquele aperto de mão.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Mamoru nunca se imaginara morando fora da capital. Nagasaki não era bem a definição de interior. Era uma cidade grande, das maiores do sul do Japão. Tinha história, tinha influência da cultura europeia, tinha turismo, tinha o porto, as ilhas. Era um ótimo lugar, mas era tão longe de tudo... Ainda assim, havia chances de voltar para Tóquio em poucos anos ganhando o dobro e trabalhando com bem menos pressão que em quaisquer das empresas que o haviam aceitado na capital. Qualquer das duas aliás, nem havia tanta escolha.

  Com Motoki um caco como estava, não havia como Mamoru lhe pedir conselhos, principalmente quando a distância havia sido a responsável pelo fim do noivado do amigo com a namorada de anos que agora morava na África. E não havia realmente nenhum outro amigo com quem Mamoru se importasse o bastante para saber a opinião.

  O problema era que ele mesmo não queria ir. E por uma razão pouco racional: Usagi, aquela por quem estava apaixonado, morava ali e não parecia sequer saber para que direção ficava Nagasaki.

  Não que seu paradeiro importasse a ela. Os dois não poderiam se dar pior apesar de a relação entre ambos haver melhorado um pouco desde que se conheceram. Isto ocorreu em razão de o próprio Mamoru haver assumido para si mesmo seus sentimentos e começado uma campanha para melhorar sua imagem. Desde então, um ano se passara e ele já conseguira ter uma ou outra conversa com ela. O estado emocional de Motoki havia servido como um belo assunto nos últimos tempos. Mas mesmo com aquele progresso, era um futuro incerto. Eles nem tinham o contato um do outro. E ele também não tinha coragem de pedi-lo.

  Mamoru já estava quase certo de que iria para Nagasaki quando se encontrou com uma das amigas mais próximas de Usagi ao procurar um guia sobre sua futura residência em uma livraria. Mamoru nunca conversara muito com Naru, por isso, apenas se cumprimentaram inicialmente até ela apontar entusiasmada para o livro que ele tinha em mãos.

— Você vai viajar pra lá?

  Mamoru ainda olhou confuso até entender a que se referia. Então, assentiu.

— Na verdade, acho que vou me mudar pra Kyushu a trabalho.

— Nossa, que legal! Você tá se formando na faculdade, né? Que bom que já encontrou emprego e tudo... Eu já fui a Nagasaki, as pessoas lá são muito gentis e a cidade é linda!

  Ele assentiu mais uma vez, com o olhar perdido nas fotos de capa do guia, que incluíam a estátua de um herói da revolução, o porto, a ilha abandonada que parecia um navio de guerra, vários jardins e como destaque a foto de um dos monumentos em razão da bomba atômica de 1945. Paisagens estranhas para ele. E não desejadas.

  Ao olhar novamente para Naru, ela estava com o rosto franzido.

— Você não parece muito animado.

— Ainda não é algo certo — explicou-se.

  Ela então comentou que havia um café a uns minutos da livraria e o convidou, prometendo que pagaria. Mamoru consultou o relógio e faltava tempo o bastante para ao menos uma xícara até seu trabalho de meio-período, por isso, aceitou.

  Antes não o houvesse feito. Talvez, ele estivesse tão necessitado de se abrir com alguém sobre sua questão que quando percebeu já havia relatado a Naru tudo com uma facilidade que o surpreendia.

  Após ouvir de como o relativo sucesso de seu plano de aproximação com Usagi vinha lhe fazendo querer arriscar ficar na capital em vez de quebrar contato, Naru fez beiço. Ela mexeu um pouco sua xícara de leite com chá.

— Por que não pergunta a ela?

— Não preciso perguntar pra saber que é ‘não’. Talvez daqui a um ano ou algo assim, eu teria chance, mas agora...

— É que a Usagi nem tem namorado, né? Ela vive fantasiando com o cara certo que sempre vai salvá-la do que for e estará lá para ela... Mas sabe, acho que alguém que gosta de verdade de você já é isso. E se você está disposto a abrir mão de uma segurança profissional por ela...

— Acho melhor deixar assim.

— Eu pergunto, então! Casualmente, eu entro no assunto e vejo se há chances. Também não adianta você ficar aqui se não houver nada. Deixa comigo, Mamoru.

  Não era uma boa ideia, por isso, ele apenas concordou e se fez esquecer quando se despediram na estação.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Usagi havia acabado de fazer as unhas. Como unhas pintadas eram contra o código de sua escola, preferia deixar sem fazer, mas naquele domingo ela sairia com Naru e mais algumas amigas para fazerem compras. Ao menos naquele dia, ela queria estar bonita e bem-vestida. Contente consigo própria, ela mostrou a Naru sua nova conquista. Estavam no apartamento da amiga exatamente para isso — a mãe de Naru tinha de tudo.

— A minha vontade é pintar uma de cada cor! — declarou Usagi, dando pulinhos apesar de sentada no chão do quarto.

— Hein, Usagi. — Naru, que estava sentada na cama ainda limpando ao redor das unhas, prosseguiu: — Noutro dia, eu bem vi aquele amigo do Motoki.

— O chato do Mamoru? O que isso tem a ver comigo?

— Eu soube que ele foi selecionado por mais de uma empresa e está escolhendo. Não é legal? Ele deve ser um ótimo partido.

  Usagi deu de ombros, começando a ajeitar a bagunça de algodão sujo que ficara ao seu redor.

— Você realmente nunca pensou nele assim? — Naru se curvou em sua direção, os olhos enormes de curiosidade.

— Como bom partido? Aquele chato, implicante e metido do Mamoru? Eu nunca nem conversei direito com a criatura! Nem quero, já deixo claro.

— Mesmo? E se ele se declarasse para você? Dissesse que seria aquilo que você sempre diz, como era mesmo? Alguém que estaria sempre contigo não importa quando, onde ou como. Algo assim. Nem com isso você o consideraria? Não faz mal sair em um encontro ao menos. Estamos nessa idade, né? — Naru deu uma risada leve.

— Se gosta tanto dele, vá em frente. — Usagi olhou para as próprias mãos. — Será que vai ter alguma promoção boa? E podíamos ir ao Mister Donuts depois ou algo assim.

— É sério que pensar em comida te anima mais que alguém como o Mamoru?

— Pensar em alguém como Mamoru poderia até me fazer perder o apetite — brincou Usagi, soltando uma gargalhada malvada.

  Mas ela só o disse, porque não lhe passava pela cabeça que havia qualquer fundo de realidade no que a amiga lhe sugeria. Mesmo se Naru tivesse lhe dito que suas indagações vieram do próprio Mamoru, que ele estava a ponto de negar uma proposta boa de emprego por uma chance com ela, Usagi nem acreditaria.

  Era tão improvável assim um relacionamento amoroso com Mamoru Chiba naquela época.

  Hoje ainda parecia tal qual antes, mesmo após terem se aproximado física e emocionalmente. Mas agora, embora houvesse se lembrado de o que Mamoru tinha querido dizer com ter tentado se declarar para ela no passado, embora fosse ela quem o sentisse atualmente, Usagi precisava seguir em frente e superar aquele amor não correspondido.

  Foi assim que Mamoru lhe dissera adeus quando o vira pela última vez na plataforma de trem.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Fazia já quase um mês que Usagi não via Mamoru. Ela tinha certeza de que ele a estava evitando, pois algumas vezes percebera Motoki ao celular, como se estivesse procurando por ela com os olhos. Noutras, quando ela se atrasava para sair no meio da semana, Motoki lhe pedia para sair assim que desligava alguma ligação. Mamoru devia estar por perto para conversarem entre os dois. Esse esforço todo valia a pena? Que espécie de rompimento era aquele em que não podiam sequer ficar no mesmo ambiente? Era esforço demais para evitá-la quando fora ele mesmo a sugerir essa separação.

  Toda aquela história começara com um coração partido e agora terminava com outro ainda pior. A qualquer momento, Mamoru partiria de Tóquio e não retornaria tão cedo, talvez nunca o fizesse. E não era como se a partida dele pudesse significar qualquer coisa, Usagi se repetia. Tudo já havia terminado naquela plataforma.

— Não aguento mais trabalho, trabalho, trabalho... — reclamou Minako, afundando o rosto nos braços apoiados no balcão do Drunk Crown. Ela estava exatamente na mesa de sempre Mamoru, no canto do bar.

  Não que Usagi devesse ficar chamando aquela de mesa do Mamoru.

— Trabalhar num café não pode ser tão ruim assim — comentou Usagi, com vários copos recém-lavados nas mãos e que ela tinha que secar. Na semana seguinte, suas aulas começariam junto com o mês outubro e o novo período letivo, e ela ainda não sabia o que Motoki faria com a vaga de Makoto, por isso, esforçava-se para deixar tudo em ordem sempre que estivesse com tempo livre a fim de diminuir sobrecarga quando o bar estivesse cheio.

— Não tô falando de mim! O Saito! Ele vive trabalhando até tarde sem parar, nem o Masato é tão maníaco assim. Poxa, saia para se divertir um pouco às vezes. É bom curtir a juventude.

  Saiko Kunzaki era o amigo de Masato que havia encantado Minako desde o primeiro dia. Logo, eles começaram a namorar de verdade, mas as reclamações só aumentavam quanto mais próximos se tornavam.

— Ele não é mais exatamente jovem. — Usagi fez beiço, tentando imaginar a idade do homem.

— Pois é! Ele é maduro demais pra mim, acho. Se bem que é bom sair com alguém com dinheiro pra variar. Eu sempre tinha que pagar tudo quando saía com o Yaten, isto quando não tinha que ainda pagar a parte dele também, porque só assim tinha convencido o chato de sair da faculdade. Melhor, isto quando saíamos. O que nunca era só nós dois. O Seiya era mais interessante que a namorada, onde já se viu?

— Mas vocês realmente namoraram?

— Claro que sim! — Ela parou logo que deu um tapa no balcão, então levou o olhar para o teto. — Acha que não? Sabe, nós já nos beijamos e tudo...

— Uma vez. Porque você forçou. Depois que ele bebeu.

— Nossa, Usagi, você ficou tão ácida desde que terminou com o Seiya, não precisava jogar na cara. E nem foi só uma vez, tá?

— Ácida?

— É, irônica e tudo! Poxa, éramos pra ser almas gêmeas e tudo...

  Usagi suspirou, tentando não pensar se havia lógica na acusação.

— E as coisas com aquele cara não andam bem, né? Realmente não somos mais almas gêmeas; você não me conta nada. — Minako novamente afundou o rosto nos braços.

Nós nunca namoramos, e isso eu pelo menos posso dizer com certeza. Por isso, não havia o que contar. — Sorriu para a amiga.

— E agora não há nada de nada?

— Não.

— O Mamoru vai se mudar, e a Usagi é uma idiota tal como ele. — A voz de Motoki surpreendeu ambas.

  Ele apareceu com uma bandeja com três copos cheios de cerveja e os serviu. Em seguida, tomou o banco ao lado de Minako e soltou um suspiro alto.

— Devíamos formar um clube — sugeriu ele, tomando uma longa golada. — Dos idiotas.

— Pode me pôr fora dessa. Tô muito bem com o Saito!

— E você também com a Reika, Motoki... — lembrou Usagi.

— Sobre isso... Nós meio que terminamos faz umas duas semanas.

— Quer dizer que...? — Usagi levou as mãos à boca.

— Que somos dois idiotas. Agora bebam, bebam as duas.

  Ambas acataram a ordem, mas ainda o olhavam curiosas. Até Minako, que não sabia de metade da história sentiu pelo clima.

— Tá, eu explico. — Ele, no entanto, aguardou que as duas terminassem o copo. Após isto, encheu novamente os dois. Apenas retomou o assunto quando percebeu que Usagi estava bebendo. — Eu fiquei muito surpreso mesmo com o que a Makoto me disse. E por dias não conseguia parar de pensar nisso. E de comparar a forma como a Reika me fazia sentir com como a Makoto fazia. No final, algo em mim começou a me dizer que eu não gostava mesmo da Reika. Sabe, que eu só estava tentando apagar nosso passado mal-resolvido, já que terminamos tão de repente.

— Aí você terminou.

— Mas não tive cara de ligar pra Makoto. Digo, ela parecia tão decidida com todo o “ou eu ou ela”... Eu não me sinto confiante o bastante sobre ela para isto. Eu me sinto é um total idiota de não ter chegado à resposta antes. Ela tem todo o direito de me odiar.

— Acho que tá tudo bem ligar e pedir um encontro — disse Minako, quem já estava no final do segundo copo. — E pode confiar nos meus conselhos. Quando o assunto é amor, é comigo mesmo!

  Motoki soltou um riso nervoso, nada confiando no conselho.

— Faça agora mesmo! Chame-a para sair esta noite! — prosseguiu Minako, fazendo gestos expansivos com a mão, que certamente não eram pro culpa de embriaguez.

— Ah, esta noite não dá. Eu preciso cuidar do Drunk Crown.

— A Usagi tá aqui pra isso! Deixa com ela. E comigo, que não tô fazendo nada mesmo.

— Minako, você não sabe nada do bar — Usagi lembrou. — Mas pode contar comigo, Motoki.

— Acho que você vai tá bem ocupada hoje... — Motoki olhou para o relógio no pulso. — Beba mais um pouquinho, tá?

  Usagi olhou intrigada para seu copo de cerveja, o segundo da noite, e o terminou.

— Foi bem difícil arrumar tudo — Motoki começou a falar, mas já repunha a cerveja das meninas pela segunda vez, apesar de seu próprio copo ainda estar praticamente intocado desde que chegara. — Eu mesmo tava um caco ao ver tudo acontecer pela segunda vez, bem no meio de outra crise minha com a Reika, aí não pude pensar muito. Ainda bem que a amiga da Rei bolou um plano brilhante quando ela veio com o Masato na outra noite. Não é nada enfeitado, mesmo. É só te fazer beber um pouquinho demais.

  Usagi olhou encucada para o patrão e largou o que teria sido o terceiro copo.

— Como assim?

— É claro que a Rei esteve tentando agir do outro lado de todas as formas, mas você deve saber como o Mamoru pode ser cabeça dura. Por isso, decidimos contar com você pra convencê-lo a ficar. — No mesmo momento, Motoki pegou o celular, que já devia estar vibrando fazia um tempo. — Pode vir sim, não se preocupe. — E desligou com um sorriso pouco inocente. Então olhou para Minako. — Eu só não contava com a Usagi ter companhia hoje. Será que você se incomodaria de ficar sozinha aqui no bar comigo esta noite? No momento, eu terei que pedir à Usagi pra comprar uma marca de cigarro que só vende na loja do outro lado da estação. E ela precisa sair logo.

  Usagi olhou desnorteada.

— Pegue suas coisas e vá. Anda. E quando voltar, espera ali nas escadas um pouquinho.

— Está dizendo que o Mamoru...?

  Motoki lhe sorriu, mas agora com ternura. Em seguida, assentiu levemente.

— Mas ele não quer que eu...

— Contamos contigo. Não apenas eu, mas o pai da Rei também não parece a fim de perder o funcionário pra Kyushu.

— Mas...

— Sabe, Usagi, às vezes precisamos fazer uma força, mas conseguimos mudar a vida das pessoas sim.

  Ela sentiu lágrimas formarem nos olhos. Seria mesmo possível? Nada podia haver mudado desde que Mamoru se despedira dela na plataforma. Motoki poderia estar dizendo que estava mudando por eles, mas realmente seria possível?

  Devia ser culpa de todo o álcool que tinha tomado em pouco tempo, mas ela acabou só seguindo as ordens sem conseguir raciocinar muito. Uma parte sua queria apenas vê-lo, não importava como. Exceto que essa parte também não queria aceitar que aquela pudesse ser a última vez.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Usagi fechou com cuidado a porta atrás de si e olhou para a escada. Mamoru chegaria ali a qualquer momento, se bem havia entendido o que Motoki lhe dissera. Mas o que falar para ele se realmente se encontrassem? Pedir que ficasse? Isto ela já poderia ter feito muito antes, só não o fizera porque não havia uma razão. A lógica de Mamoru era sem falhas para os dois lados: era o melhor para ele voltar ao posto em Kyushu, onde fora feliz por anos, e era o melhor para ela afastar-se de Mamoru o mais logo possível, parar de ficar temerosa e sofrer logo o inevitável.

  Reatar, neste momento, apenas para perdê-lo para outra mulher seria tão idiota quanto fora reatar com Seiya meses antes. Não. Seria muito pior, já que Usagi não fazia ideia naquela época que não gostava de Seiya como achava e como ele queria que ela gostasse. Já com Mamoru, ele esperava dela apenas um consolo, quase totalmente físico. Usagi estava longe de ser o tipo de pessoa que se encaixaria para ele. Talvez Rei o fosse, que tinha bons modos, era inteligente e ainda madura para a própria idade, mas Usagi mesmo ainda precisava crescer muito e, ainda que o conseguisse no tempo extra que imploraria esta noite, estava longe demais do que combinaria com Mamoru. Ela o perderia. O sofrimento era inevitável, ele estava claramente certo quando o dissera quando da despedida na plataforma.

— Usagi?

  Tão distraída, ela nem ouvira os passos descendo a escada até ele já estar nos últimos degraus, chamando por seu nome. Ela levantou a cabeça e assentiu por falta de palavras melhores. Seu coração começou a bater fora de ritmo, estava ora rápido demais, ora quase parado.

— Mas... — A voz de Mamoru sumiu, e ele pareceu considerar voltar à superfície. — Motoki. — Após concluir o plano para os pôr um frente ao outro, ele desceu o que faltava e fez um aceno como se somente agora a cumprimentasse.

  Usagi correspondeu também em silêncio, consciente de que suas mãos suavam. Sentia que, assim que falasse, tudo o que não podia ser dito lhe escaparia.

— Neste domingo... eu vou para Nagasaki.

— Ah. — Não que ela não soubesse que estava próximo, mas ela não queria ter sabido o dia certo.

— Motoki perguntou se não podíamos adiantar a comemoração pra quinta, hoje. Parece que sexta e sábado são meio complicados... — Ele balançou a pasta do trabalho. — E você? Como tem estado?

— Bem. — Com força, engoliu o restante do que poderia sair de sua boca.

— Está saindo?

— Motoki me... ele me mandou comprar... Acho que ele me liberou.

— E tá tudo bem contigo? Você parece... Está com febre? — Ele começou a erguer a mão até sua testa, mas ficou parado em meio ao movimento. — É melhor ir pra casa mesmo. A gente se vê.

  Usagi assentiu. Agora sua garganta estava tão engasgada que palavra alguma sairia.

  Enquanto ela só ficava parada, sem reação, Mamoru pôr a mão na maçaneta para puxar a porta.

— Hm? — A voz dele soava confusa. Seguida de um som alto de ferro enquanto ele forçava a porta. —Usagi, Motoki estava aí dentro, né?

  Sem precisar olhar mais, Usagi compreendeu o que ocorria.

— Acho que ele quer que eu te convença a ficar — disse.

— Quê? — Mamoru voltou-se para a porta. — Motoki, já conversamos sobre isso. Estou indo embora. — Ao se virar novamente em direção à escada, Mamoru pareceu assustado por encontrá-la ali. — É melhor você ir logo até a estação, eu vou voltar de táxi. — Mamoru baixou a cabeça e pareceu esperar que ela seguisse a sugestão.

  Mas ela continuou lá. Alguns momentos se passaram enquanto os dois apenas se olhavam e mantinham suas cabeças em direção ao chão.

— Por que não está indo? E não importa o que Motoki tenha dito, você sabe por que eu tenho que ir.

— Você estava errado. Sobre ser ruim no início e com o tempo melhorar. Já faz quase um mês que não nos vemos e parece só estar ficando pior. — Usagi levou a mão ao peito, tentando conter tudo o que parecia prestes a vazar, mas as palavras de Motoki ecoavam ali.

...às vezes precisamos fazer uma força, mas conseguimos mudar a vida das pessoas, sim.

— Desta vez, não é como com o Seiya — ela continuou. — Não importa o quanto eu trabalhe, o quanto eu não te veja, tudo só está ficando pior.

— O que está ficando pior? Olha, sua faculdade volta logo, né? Lá você conhecerá várias pessoas, incluindo alguém por quem se sinta atraída. Vai ser simples assim.

— Não vai. Você não pode ir assim pra Nagasaki. Você mesmo não disse que pensou em continuarmos e nos vermos de tempos em tempos?

— E eu te disse que isso só nos dificultaria seguir em frente.

— Eu não me importo. Vamos continuar assim mesmo. — Era tarde demais para dizer que tinha bebido? Sentia-se envergonhada por estar teimando tal qual uma criança que não aceita que a vida mude.

  Mamoru a estudou por um momento, provavelmente também a achando uma criança. Então, disse:

— Deixe-me passar — pediu. Então, subiu pelas escadas com o cenho carregado, como se o estivesse incomodando.

  Usagi quase desmoronou bem ali enquanto os vários passos contínuos do sapato de Mamoru contra os degraus até o topo. Voltou-se até a porta do Drunk Crown, querendo que Motoki surgisse dali com algum conselho, mas não havia nada. Depois, tentou respirar até regularizar a tensão por seu corpo. Nada havia mudado. Aquele fora apenas um momento embaraçoso de sua vida em que nada havia mudado para ninguém.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Mamoru estendeu o braço para o táxi. O primeiro o ignorou, mas logo apareceu outro que encostou e abriu a porta para que ele entrasse. Ele se sentia fora de si. Não esperava ter que confrontar Usagi mais uma vez, muito menos naquela noite. Havia passado a anterior acordado, terminando de empacotar tudo para enviar no dia seguinte ao apartamento que havia reservado para alugar em Nagasaki. Sexta também uma empresa para limpar seu apartamento viria cedo, por isso, precisaria acordar antes do normal. E estava feliz por ter os dias preenchidos de atividades justamente para não pensar.

  Lançou o olhar para a pasta em sua mão enquanto entrava no carro. Estava balançando. Porque as mãos de Mamoru estavam tremendo. Considerou explicar que estava bem ao motorista, que estava com os olhos esbugalhados. Mas percebeu que sua atenção não estava em Mamoru. Usagi havia se jogado para dentro do carro e já ditava as coordenadas até o apartamento de Mamoru, apressando o motorista. Com certeza, para que ele saísse antes que Mamoru o pudesse impedir. E ela conseguiu o que queria.

— O que faz aqui? — perguntou ele, olhando desnorteado a paisagem de fora se mexer pela janela do carro. Ao mesmo tempo, percebeu que a situação replicava a de muito tempo antes.

— Eu... você não pode ir, Mamoru.

— Bem, você mesma deu meu endereço — disse sem pensar.

— Quero dizer para Nagasaki. Esse tempo todo de convivência comigo te deixou burro? O senhor Hino também não quer que você vá. Nem o Motoki. Nem a Minako, nem ninguém.

— Minako...?

— É, minha amiga que você nem conheceu direito! Aliás, vocês já se viram alguma vez?

  Mamoru balançou a cabeça. Usagi conhecia pessoas demais para ele manter a conta.

— Você nem conhece minha amiga!

  Mamoru sorriu sem jeito da declaração. O que mais poderia dizer?

  Poucos minutos depois, eles desceram em frente a seu prédio, subindo em silêncio. Era difícil, mas ele logrou manter distância antes que o costume o fizesse se jogar contra ela. Seus braços tremiam, loucos para senti-la. A porta do elevador se abriu com uma lentidão incômoda e quando enfim retiraram seus sapatos na entrada do seu apartamento, trocando por chinelos de interior, Mamoru voltou a olhá-la.

— Será que você poderia me preparar um chá? — Usagi sentou-se no sofá da sala e fechou os olhos.

  Ele atendeu ao pedido, lembrando-se de que ela já não parecia muito bem quando a encontrara na saída do bar.

— Você... bebeu? — perguntou desde a pequena cozinha, enquanto esperava a água esquentar.

— Um pouco demais.

  Após servir as duas xícaras, ele as carregou em uma bandeja até a mesinha à frente do sofá. Um repente passou por sua cabeça enquanto o fazia.

— Isto é algum plano, Usagi? — perguntou sem se sentar no sofá.

— Sim.

— E de que adianta recriar aquela noite?

— Sabe... Naquela primeira noite, eu cometi um erro — explicou, pegando uma das xícaras para sua surpresa. — Eu não deveria ter ido me encontrar com o Seiya. O Seiya sequer deveria existir. E, agora que ele realmente não existe mais, eu quero recomeçar.

  Mamoru sentou-se por falta do que mais dizer.

— Quando você foi pegar o táxi hoje mais cedo — continuou ela com uma calma pouco característica —, eu me lembrei de algo que me disse. Que você havia sido a “transição”, ou algo assim. Sabe, eu não concordo. Não há nada assim, porque eu não fiquei contigo pra me curar do Seiya. Talvez em um ou outro dia, eu tivesse chateada e precisando de atenção, mas você tá enganado sobre o que significou pra mim.

— E, por causa desse detalhe, você decidiu entrar no táxi comigo?

— Não vê que todo seu raciocínio está se provando errado?

  Ele não conteve um sorriso. Mas isso fez seu rosto doer. Como se o seu corpo respondesse: não é o momento de sorrir.

— Mamoru... Tenho medo de você achar outra e me deixar, que nem eu deixei o Seiya.

  Ele ainda estava sorrindo enquanto Usagi lhe disse aquilo com a voz embargada, o rosto quase todo escondido na xícara de chá.

— Achar outra? — perguntou-lhe quando percebeu que a menina não iria prosseguir. — Você não lembra que eu...

— Que você acha que dá muito trabalho, ou algo assim? Bem, um dia será a mulher com quem você se casará, certo? E olha pra mim, não sou esse tipo pra você.

— Mas fui eu quem te pedi em namoro.

— E como eu poderia aceitar um namoro que só ia durar até um casamento arranjado ou até você voltar pra Nagasaki?

  Mamoru ergueu a mão, pois aquele também era um ponto que Usagi deveria considerar.

— Naquela época, Nagasaki não parecia tão real! — ela protestou. — E eu... Ainda achava que você me trocaria por outra.

— Qualquer namoro tem esse risco.

— Mas com você é ainda mais óbvio.

— Eu tenho cara de quem vai te trair?

— Você só tá comigo porque é o mais fácil, certo? Um dia, você vai conhecer sua garota ideal, de quem você realmente vai gostar. Mas e eu?

— Eu disse que gostava de você. No mesmo dia em que propus que namorássemos.

— É... Sobre isso, eu me lembrei de quando a Naru me perguntou. Acho. Olha, isso foi anos atrás, e eu nunca imaginaria que você estava por trás daquela pergunta!

— Mas eu estou te falando agora. E te falei naquele dia.

— Eu não posso voltar o tempo, Mamoru. Só porque você me jogou uma informação nova. E o errado foi você por não me dizer.

— Eu te disse agora.

— Eu continuo não podendo voltar o tempo.

  Mamoru franziu a testa. Usagi tinha razão de que ele havia errado em seu raciocínio, mas ela havia tido uma participação relevante naquilo.

— Usagi, para de olhar para a xícara e olhe pra mim. — Pediu e ajeitou-se ele próprio no sofá para que pudessem se olhar nos olhos.

  Quando ela o atendeu, Mamoru pôde até perceber a surpresa de que seus rostos estivessem tão próximos.

— Esqueça o passado, aquilo realmente foi culpa minha de não ter me aberto pessoalmente. Mas agora, este momento, ainda não é passado. Eu gosto de você agora e não vai existir outra além de você. O que você vai fazer com isso? — Ele suspirou quando Usagi não se mexeu. — Como eu imaginava, você nem se formou ainda na faculdade. É você quem tem toda a vida pela frente para conhecer seu homem de seus sonhos, certo? E eu não sou alguém fácil de se lidar. Quando anunciei que me transferiria, o meu chefe daqui de Tóquio disse isso. Que não sabia lidar comigo. E você, muito menos, merece ter que o fazer.

  No momento seguinte, Mamoru sentiu uma pressão familiar nos lábios e o aroma do chá de rosas que acabara de servir. Contudo, logo após, Usagi interrompeu o beijo.

— Espera. Se gosta de mim, por que terminou tudo?

— E você pensava que eu quis dizer que gostava de você só anos atrás. Foi por isso que não aceitou o namoro?

— Como eu poderia? Seria o mesmo erro que com o Seiya, quando aceitei namorá-lo ainda que não gostando de verdade dele. Se nós dois namorássemos e apenas eu gostasse de você, Mamoru, não daria no mesmo? Eu não seria trocada por outra no final? Assim como eu o troquei?

— E agora que você sabe que eu gosto de você? — Mamoru o disse, mas de repente notou algo a mais no que ela tinha dito e não esperou resposta. — Você disse que gosta de mim?

— Disse? — Usagi exibiu um sorriso nervoso.

— Para chegar ao dilema de que me falou, você teria que gostar de mim, não é?

  Ele a percebeu suspirar e mordeu o lábio inferior, esperando qualquer resposta de Usagi.

— Bem, achava que isso era mais que óbvio. Afinal, eu vim até seu apartamento. Você já foi mais inteligente que isso, Mamoru. — Havia uma lágrima em uma das bochechas. — Eu realmente estou disposta a um relacionamento à distância. Mesmo que você me troque por outra mais tarde.

— Eu não te trocaria.

— Mas estou disposta! Então, vamos tentar! Agora sou eu quem está te pedindo em namoro. E não vou te dar o tempo que quiser para pensar. Quero a resposta agora.

— E o senhor Hino? Você não disse que até ele queria que eu ficasse? — Mamoru estendeu o dedo, não mais resistindo ao impulso de secar agora as duas lágrimas.

  Usagi sorriu e assentiu em seguida.

— Foi o que Motoki me disse. Eu não sei bem o que houve. — Mas ela parou de falar assim quando ele chegou ainda mais perto.

— Que tal pensarmos nele e em Nagasaki noutra hora então? — Ele fechou os olhos para se segurar. Tentou distrair a cabeça pensando em o que faria pela manhã para cancelar toda a mudança. — Ou nunca... Acho que nunca é melhor.

— E o namoro? — ela ainda perguntou.

— Não é como se meu pedido estivesse vencido. Mas já nos enrolamos demais. Eu aceito o seu.

  Desta vez, eles se beijaram por um longo momento e várias outras vezes.

FIM!

Anita, 04/10/2012

 

Notas da Autora:

Agradeço tanto a quem ficou até o final! Depois de tantas coisas estou até sem palavras pra expressar tudo aqui, só muito aliviada que conseguimos! Estamos no final do capítulo final! Como eu tinha publicado um preview desta fic, certa que logo eu poria tudo online, ela sempre foi uma coisa inacabada na minha cabeça. Mesmo estando acabada desde há tanto tempo. Tanta coisa eu teria feito diferente hoje em dia. E provavelmente fiz em fics posteriores, quero crer. Mas ainda foi uma história muito boa de se escrever. Não saiu nada como era o plano inicial, mas saiu tão fácil, era como se ela estivesse vivendo comigo. Nunca tinha experimentado algo assim antes e nunca mais experimentei. 

Queria muito agradecer cada alma que me apoiou mas em onze anos foram tantas que tenho medo de deixar gente de fora. Mas com certeza, você que está aí lendo é uma delas. 

Se puder, por favor, deixe seu comentário. Também pode ser pelo meu email anita_fiction@yahoo.com se você quiser ser old school rs. Não sei a última vez que recebi um, aliás. Mas o endereço tá sempre aí pra isso. Aliás, ele foi criado pra isso e acabou virando o meu que mais uso.

Normalmente encerro falando do meu próximo projeto e eu tenho mesmo duas fics de Sailor Moon guardadas aqui. Depois disso nunca mais escrevi... Mas sempre que vejo minhas fics dá uma vontade de tentar. Quem sabe quando eu encerrar meu projeto de original se eu ainda estiver viva?

Beijos pra todo mundo e até a próxima!

(17/08/2023)



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