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[Sailor Moon] Cada Vez que nos Encontramos, Cada Vez que nos Separamos - Capítulo 10, escrita por Anita

Autora: Anita
Fandom: Sailor Moon
Gênero: Comédia romântica, Realidade alternativa
Classificação: 14 anos
Status: em andamento
Resumo: Usagi/Mamoru. Usagi está na faculdade e acaba de terminar com Seiya, seu primeiro namorado de toda a vida, quando decide aceitar um emprego de meio período no bar de seu amor de adolescência, Motoki. Entre os desafios dessa aventura, o passado decide reaparecer na sua frente, especialmente quando o homem que mais a atazanava retorna a Tóquio, Mamoru. Ela percebe então um conflito entre o que sente por Seiya e por Mamoru. A história também vai explorar os romances de cada uma das senshi! 

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Olho Azul 20 Anos Apresenta:

Cada Vez que nos Encontramos,
Cada Vez que nos Separamos

 

Capítulo 10 — Calmaria

  Era já terça-feira e Usagi estava no bar desde cedo, escalada para a faxina semanal. Makoto também a acompanhava, mas para Usagi aquela era uma punição para a falta repentina em pleno sábado. Por outro lado, Motoki só chegara ao bar quando já era quase hora de saírem, provavelmente para as duas não o terem que fechar em pleno funcionamento.

  Makoto a puxou para um canto e perguntou quais as chances de ele estar com a namorada. Usagi mexeu com os lábios, apertando-os em uma careta. Foi uma tentativa sem sucesso de ganhar tempo até Makoto deixar o assunto.

— Acho que sim — disse resignada.

  Makoto suspirou, baixando um pouco a cabeça; então, deu de ombros.

— Enquanto ele continuar escondendo que está saindo com ela, não será nada oficial, certo? — Fechou o pulso, exibindo no rosto uma expressão obstinada no rosto. — Ainda tô nesta!

  Usagi sentiu uma cutucada no ombro.

— Podem ir, meninas. — Motoki fez um movimento de cabeça para a porta. — Amanhã vocês têm aula, não é?

  As duas assentiram e foram pegar suas coisas.

  Saindo do bar, o ar não estava mais gelado como quando começara ou até poucas semanas antes. As flores já haviam todas caído no chão e quase já não havia mais pétalas pelo caminho. Aos poucos, a primavera dava espaço para a estação chuvosa.

  Então, percebeu um rosto familiar saindo da estação em uma direção próxima à dela, mas em sentido oposto. Usagi diminuiu o passo e cumprimentou Ami, que respondeu sem olhar de volta e seguiu com seu caminho. Algo naquela reação lhe chamou atenção, e Usagi a segui-la num impulso de curiosidade. Provavelmente notando isso, Ami apertou o passo e acabou por correr. Por sorte, mesmo não sendo alta, Usagi tinha pernas mais longas. Ela a alcançou em pouco tempo.

— Eu preciso ir pra casa... — disse Ami, seus cabelos curtos grudando na pele enquanto ela abraçava dois livros grossos.

— Ele terminou mesmo contigo, né?

  Ami transpareceu o espanto por um segundo, mas recompôs a expressão como a de quem não compreendera. Em seguida, ela focou os olhos em algo ao lado de Usagi, onde agora percebia estar Makoto. Esta devia tê-las seguida ao ver Usagi disparar atrás de alguém aleatório na frente da estação.

— A própria noiva dele que me contou — Usagi decidiu explicar-se apesar de terem companhia. Ignorando a expressão confusa de Ami, prosseguiu: — Mas eu estou do seu lado. Digo, não que eu esteja contra a Naru...

— Então, não sei do que está falando. — A moça encostou-se a uma parede, era visível não apenas seu cansaço físico, mas o emocional também. Será que Usagi também estaria assim se Mamoru não estivesse apoiando sem pedir nada em troca desde antes mesmo de terminar com Seiya?

  Sorriu para Ami e pôs as mãos em seus pequenos ombros.

— Acima de amiga da Naru, eu também sou mulher, né? — Afastou-se para encostar-se à mesma parede. Esticou os braços para o céu com poucas estrelas àquela época do ano e disse: — Sabe, acabei de terminar com meu namorado também. E talvez seja porque gosto de outro. Quem sou eu para te julgar quando estou em uma situação ainda pior? Por isso, eu te entendo...

  Ami a olhou em silêncio até assentir por fim.

— Então, foi por isso? — Makoto interrompeu.

  Usagi apenas sorriu como resposta. Antes que pudesse pensar muito em como havia dito algo em voz alta antes mesmo de havê-lo admitido para si mesma, Ami começou a falar:

— Nós nos conhecemos no hospital da universidade onde estudo. Temos algumas aulas lá e quase sempre usamos a cafeteria do hospital para almoçarmos por ser mais vazia e silenciosa. Um dia, ele comentou sobre o livro que eu estava lendo e começamos a conversar um pouco. Eu não levo jeito para conversas, por isso, não achei que Masato tentasse se aproximar de mim novamente se nos víssemos uma segunda vez. Contudo, ele não só veio sentar-se à mesa onde eu estava estudando, como me trouxera um livro que ganhara no trabalho e de que me havia comentado da outra vez. Desde então, ele o tinha com ele na pasta para me entregar. Conversamos muito sobre medicina, eu sobre meus planos para o futuro, ele sobre como não pudera fazer faculdade de medicina, mas que agora trabalhava vendendo equipamentos hospitalares, o que o fazia aprender, às vezes mais que muitos médicos.

— Nossa, vocês realmente combinaram, hein? — Makoto também se apoiou na parede, com os olhos sonhadores. — Eu tive um ex-namorado que estava prestando vestibular para medicina uma vez. Os óculos dele eram bonitos... Eu entendo o charme de alguém que sabe de medicina!

  Ami riu sonoramente. E ela nem sabia como Makoto era sempre assim.

— Mas não quero dizer que Masato me enganou nem nada assim. Desde a primeira vez, ou foi na segunda? Não lembro bem, porque eu juro que não começamos com más intenções. Mas desde o início, ele me falou que tinha uma noiva, da minha idade. Que ela estava se formando em inglês em uma faculdade de curta duração e que, depois disso, eles se casariam. Eu sempre soube e ele também nunca tinha outra intenção. Era apenas um ponto em comum entre nós. Sabe, médicos não costumam conversar com vendedores ou com alunos que estavam invadindo seu espaço. Masato sempre reclama de ter que comer sozinho em hospitais e sempre tenta puxar conversa com as pessoas por lá. Era apenas a primeira vez que ele conseguira falar mais vezes com a mesma pessoa e aí nos tornamos algo como amigos.

  Usagi se deixou escorregar pela parede até ficar agachada no chão, Makoto a imitou, claramente entretida com a história. Ou, talvez, ainda pensando nesse ex-namorado. Aquilo também fez Usagi pensar em seu caso com Mamoru e em como ele vinha evoluindo para algo sem nome, simplesmente porque ela ainda conseguira chegar a uma conclusão se seria forte o bastante para comprar para si todos os problemas que acompanhariam namorarem oficialmente. Ami, por outro lado, estava bem ali dizendo que havia aceitado Masato por inteiro, inclusive o fato de ele ter uma noiva.

— Eu não recusei nenhum convite para vê-lo fora do hospital, passados alguns meses desde que nos conhecemos. Fomos ao teatro, ao museu, a musicais... mesmo sem nenhum toque físico, chegamos ao ponto de não mais podermos negar o que éramos. Foi quando nos beijamos. Não muito depois a noiva dele nos encontrou em um restaurante, onde almoçávamos. Assim que a vi entrar, eu já sabia. Nunca vira uma foto e Masato já quase não fala dela, como se eu fosse parte de outra vida. Ainda assim, era ela. E a noiva puxou a mão de Masato de uma forma que eu nunca conseguiria fazer, bem ali eu já havia sentido que a ligação entre eles era muito mais forte que a nossa. Ela me pediu para devolvê-lo, mas a verdade é que Masato sempre fora dela... Depois de desistir, ela saiu de lá, mas é claro que não podíamos mais ficar naquele restaurante. Não, nós não podíamos mais continuar os mesmos de antes. Eu me sinto tola, mas acho que até aquele dia eu vinha me enganando que nunca houvera noiva alguma.

— Aquele dia que você foi ao bar com a Rei...

  Ami assentiu.

— Rei estava tentando me animar... Mas não apenas ele, eu também decidi que era melhor terminarmos. — Então levou um dedo aos lábios, olhando para o alto. — Pensando bem... Aquele moço contigo era seu namorado, então?

  Usagi sabia que sua bochecha estava vermelha. Ao menos, elas não a estavam olhando.

— Ah. — Sem esperar pela resposta de Usagi, Ami desencostou da parede e se posicionou quase no meio da calçada. Um casal vinha correndo por ali e ela parecia esperá-los.

— Rei? — perguntou Makoto, levantando-se ao mesmo tempo em que Usagi o fez.

  O casal diminuiu o ritmo e parou logo à frente de Ami. O homem a cumprimentou enquanto Rei, com os longos cabelos presos em um rabo de cavalo observou com estranheza as duas companhias da amiga naquela noite.

— O que fazem aqui? — ela perguntou, sem esconder que se sentia contrariada, sabia-se lá por quê.

— Encontrei com a Usagi quando saía da estação.

  Rei olhou ao redor, seu rosto suado se contorceu.

— Mas aqui não é bem a saída da estação.

— Estávamos conversando apenas. — Ami voltou-se para o homem que acompanhava Rei. Usagi podia jurar que era um mendigo, com a barba por fazer e o cabelo bem longo bagunçado. — Yuichiro parece bem em forma.

  Ele levou a mão a nuca e soltou uma risada alta.

— A Rei diz que vai me dar a disciplina necessária, preciso acompanhar o ritmo dela, né?

— Mas já está tarde. Amanhã você tem que acordar cedo para cuidar do templo, certo?

— Eu não sou desocupada, Ami, — interrompeu, Rei. — É que precisei estudar antes, e se deixasse os livros pra depois estaria cansada demais.

— Não podiam deixar pra outro dia? — perguntou Makoto.

— A ideia é disciplina. Ensinar isso adiando compromissos não me parece um bom método. — Rei ajeitou o prendedor no cabelo.

— Então, o Yuichiro acabou de entrar no templo? — Usagi tentou falar alguma coisa, em vez de apenas olhar para a provável futura esposa de Mamoru.

— Já faz um ano, né? — respondeu o moço, gargalhando.

— A Ami te falou do templo do meu avô? — Rei ergueu as sobrancelhas.

— Ah... — Usagi congelou. Mas ao menos isso tinha sido mesmo a própria Ami quem lhe revelara, então, confirmou com a cabeça e um sorriso nervoso.

  Rei suspirou, esticando os braços.

— Acho que não poderei cuidar do templo depois que me formar. Como somos apenas nós três, meu avô, eu e Yuichiro, preciso garantir que o Yuichiro esteja pronto.

  Pelo jeito, ela já devia saber sobre o casamento. No entanto, não havia esboçado qualquer reação ao conhecer Mamoru. Talvez ela ainda não possuísse nenhuma informação sobre o noivo. Usagi queria saber, mas não tinha como perguntar.

  Por isso, só olhou para o chão, engolindo o gosto amargo de ver em quantos níveis estava perdendo para Rei.

— Quer dizer que não vai assumir o templo depois, Rei? — perguntou Makoto, distraída com o visor do celular.

  Rei baixou a cabeça e Usagi teve algo como uma confirmação: do casamento ela devia saber. Que logo teria que sair do templo do avô e ir morar com seu marido, ser uma boa esposa, como se espera de um casamento arranjado tradicional.

— Mas a Rei pode contar comigo! — Yuichiro levantou a mão em uma pose de vitória.

  Makoto sorriu, e Usagi teve que se esforçar para replicar o gesto. Rei, por sua vez, empurrou o homem pelas costas.

— Vamos voltar à corrida pra não perdermos o ritmo. Anda.

  E sumiram pela rua.

  Ami também parecia sorrir distraída quando Makoto voltou-se para a direção oposta à que Rei havia seguido.

— É melhor irmos pro trem, Usagi.

  Usagi olhou com os olhos sem focar para onde a amiga apontava com o dedo, mas concordou e se despediu de Ami.

  Por que ver Rei a machucava tanto? Não era mais a irritação usual. Era aquele sabor amargo que lhe vinha à boca junto à sensação de estar com o nariz entupido. Ela já havia cogitado antes a possibilidade, mas agora começava mesmo a acreditar que talvez estivesse mesmo apaixonada por Mamoru. Justo por Mamoru... A pessoa mais próxima dela fisicamente e tão mais distante em qualquer outro aspecto.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Usagi viu sua vida tomar ritmo de forma que não estava mais pensando em Seiya, apesar do término sofrido. O convite de Mamoru para passarem a golden week juntos também a ajudara a tirar o ex da mente. Sabia que Minako o vinha encontrando de alguma forma desde então, graças a seu relacionamento pouco resolvido com Yaten, e que Naru também mantivera contato, mas nenhuma delas contava muito para Usagi. Isto ao menos a ajudava a esquecê-lo.

  E agora já era terça-feira da golden week e Mamoru pegava sua pequena mala da esteira do aeroporto de Nagasaki. Usagi a aceitou apesar de no fundo preferir que ele a levasse também, ao menos até o ônibus para o centro da cidade. Os dois caminharam um pouco em separado, mas não havia como negar: todos os consideravam namorados àquela altura. Ao menos, todos ao redor. Sua mãe apenas conhecia Mamoru de nome, como o amigo de Motoki, e nunca imaginaria que ele estivesse junto dela naquele desembarque. Motoki, por sua vez, parecia já saber, mas Usagi que não sabia de o quanto exatamente. Quando fora trabalhar na sexta-feira anterior, ele mencionara haver falado com Mamoru sobre a viagem e até a incentivara a ir. Usagi nem teria que ir trabalhar no final de semana seguinte, podendo voltar com Mamoru no sábado pela noite, como combinado inicialmente, caso o chefe dele permitisse.

  Mas desde que assumiu para si estar se apaixonando por Mamoru, Usagi vinha se sentindo com ainda menos coragem de aceitar a proposta de namorá-lo. Para começar, nada havia mudado que ele estava prestes a se tornar noivo de sua colega de trabalho ou nem que planejava se mudar para Kyushu.

  Ainda assim, havia algo de especial naquela viagem. Mamoru apenas se encontraria na quarta-feira com o antigo chefe, e os demais dias até a partida na noite de sábado seriam exclusivos dela.

  Sentaram-se no ônibus do aeroporto e Usagi aproveitou para encostar-se ao braço do homem a seu lado, pouco se importando com a janela no lado oposto. Fora uma hora até a estação de Nagasaki em que ela mal se dera conta da paisagem verde e azul de Kyushu. Desceram em uma garagem e caminharam com as malas até um táxi para o hotel. Usagi limpou um início de suor na testa. Era apenas início de maio, mas o calor mais ao sul do país parecia maior e a umidade também era mais alta que a de Tóquio.

  O local escolhido por Mamoru para se hospedarem era bem simples, o mesmo em que ele ficara quando primeiro chegara à cidade. Era central o bastante, a uns dez a quinze minutos da estação, e não possuía nenhuma vista em especial. Na verdade, tudo o que Usagi podia ver eram outros prédios e pontes ao longe. O monotrilho que ligava toda a cidade, ao menos, passava quase em frente e, por ele, podiam chegar a qualquer ponto turístico da capital, ao menos era o que prometia o folheto da portaria.

  Prestou atenção no barulho do chuveiro enquanto se sentava na cama deles. Nunca viajara assim com Seiya; aquela intimidade com outro homem era uma situação nova. Sempre que os dois saíram, estiveram acompanhados por um longo grupo, fosse de amigas de Usagi, fosse deles. Quase sempre, Minako estava incluída. Viagens com pernoite também não eram tantas.

  Tudo era novo agora em Nagasaki.

  Um frio na barriga a envolveu. Uma viagem como aquelas era uma coisa tão adulta. Bem, Mamoru já o era com certeza. Mas e Usagi? Adultos de verdade não ficavam pensando nisso, né?  Sentindo o nervosismo, por isso, decidiu ligar para avisar a mãe de que havia chegado. Ikuko perguntou sobre Minako, quem pensava ser sua companhia na viagem, e Usagi teve que mentir que ela estava no banho do albergue que haviam alugado, bem longe do quarto, mas que estava bem e animada como sempre. Não era difícil imaginá-la numa excursão pelo menos.

  Ao desligar, tentou não se sentir mal pela mentira e logo mandou mensagem à própria Minako, que, apesar de ainda não oficialmente apresentada a Mamoru, estava a par de onde estavam. Usagi até tentara juntá-los algumas vezes naquela semana, afinal, ela tinha se encontrado com ele quase todos os dias desde quarta, mas a incerteza de como ia fazê-lo a venceu. Ela simplesmente não conseguia sequer explicar a Mamoru por que ele tinha que ser apresentado. Namorados são apresentados. Casos, não. E o que Usagi diria se ele perguntasse o que significava ele conhecer sua amiga? Não que ele tivesse cobrado qualquer resposta a seu pedido de namoro.

  Pouco depois de Minako mandar uma série de emojis como resposta, a porta do banheiro se abriu e um cheiro úmido de xampu e desodorante masculino invadiu o quarto. Mamoru surgiu do corredor onde também ficava a porta de saída já com uma calça e uma blusa, para decepção de Usagi, que o imaginava com um roupão de toalha e cabelos despenteados.

— Pode ir lá — disse distraído, indo abrir sua mala. — Depois descemos para comer algo, aposto que você está faminta, né?

  Usagi sorriu ao ouvir aquilo. Seu estômago também deu pulos de alegria com a proposta. Ao menos, ele a conhecia bem.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Durante o almoço, Mamoru só observava enquanto Usagi abria animada um dos guias da entrada do hotel. O momento era resumido em feliz. Ela brilhava enquanto comentava de todos os destinos que queria que fossem. Não que sua companhia parecesse importante naquele momento.

— O que acha deste saruku-haku? — perguntou, franzindo a testa, para depois mostrar do que se tratava.

— Uma caminhada? Acho que não...

— Mas parece tão divertido! — Ela estava com um sorriso largo, pegando outro folheto, agora com uma ilha cinzenta na capa.

  Mamoru a reconheceu instantaneamente por ser um dos destinos mais famosos fora da cidade.

— Uma ilha fantasma! Não parece legal? — Ela ficou por um momento fazendo algumas caretas sem perceber. — Oh, que complicado pegar barco e tudo... E olha o preço! Não, de jeito nenhum.

— Hoje não daria tempo de algo assim também — Mamoru comentou, servindo-os de mais chá gelado. — Por que não compramos algum city tour no hotel? Eles devem ter algum para a tarde.

— Tá doido, Mamoru? E eu acho bem mais divertido pegar esse trenzinho! — Ela olhou para o monotrilho sinceramente ansiosa.

— Então, vou pedir dois passes pro dia. — Mamoru se levantou, mas Usagi fez o mesmo, segurando sua mão.

— Nãaao! Olha a distância disto! — Um guia foi alongado até parecer um mapa. — Dá totalmente para andar quase tudo. Vamos até o mais longe e aí descemos, que acha? — Ela agarrou em seu braço já o empurrando para fora do pequeno restaurante ao lado do hotel.

  Era um peso confortável no braço, e Mamoru queria poder mantê-lo sempre ali, mas bastou o monotrilho chegar para que Usagi o abandonasse, correndo até um dos últimos assentos disponíveis. Ele caminhou até lá rindo e ficou de olho naquela que gostaria de ao menos poder chamar de namorada. Logo, eles estavam na estação de Matsuyamamachi, e Usagi fez questão de pagar a própria passagem para seu pesar.

  Poucos minutos depois, ela gritou em desespero.

— É um morro! Tem certeza de que é por aqui? — Usagi virou o guia para todos os lados.

— Creio que sim...

— Mas é um morro enorme.

— Nem tanto assim.

— Isto não é pertinho da estação, que horror! — ela soava traída.

— Apenas segura no meu braço e logo chegamos lá. — Mamoru ofereceu-se e prendeu a respiração até por fim poder sentir aquele peso de que tanto gostava.

  Apesar de algumas reclamações de Usagi, similares à primeira, conseguiram passar uma tarde agradável. Agora, um vento soprava enquanto os dois admiravam o último item em seu roteiro, um monumento em homenagem a vinte e seis mártires do século XIX, acima de outro morro em frente à estação de trem de Nagasaki. Um vento soprava balançando os cabelos loiros de Usagi para todas as direções e ela parecia decepcionada, enquanto tirava mais fotos. Ao perceber-se observada, ela o puxou para si e tirou mais uma foto dos dois. Mamoru sentiu o rosto queimar, apesar de já haver perdido a conta de quantas fotos Usagi tirara da mesma forma. Ele queria ter a mesma espontaneidade e tirar algo assim com ela. Ou apenas dela, de preferência. Sabia que a jovem já tirara várias dele, apesar de a intenção haver sido puramente para divertimento próprio, ao captar caras e poses pouco naturais. Mamoru apertou a pequena câmera no bolso da calça, mas a manteve lá.

— Por que você nunca tira foto alguma? — perguntou ela, sentando-se em um banco da praça com o monumento. — Oh, é mesmo! Você morava aqui! Por que vivo me esquecendo? Por isso tá tão acostumado com tudo, né?

  Era verdade. Ao menos os pontos visitados naquele dia já lhe eram conhecidos, mas não era a única explicação.

— Eu não morava realmente aqui. — Mostrou a praça com a mão. — Era meio longe do centro, em um apartamento bem barato. Mas era perto da empresa, acho que a vantagem de Nagasaki sobre Tóquio é essa proximidade.

— As pessoas também são gentis, né? — Usagi sorriu. De fato, mais de uma vez ela se surpreendera com pessoas na rua a cumprimentando.

— É uma cidade menor, com menos estresses. Mas o transporte também é problemático mais longe do centro. Mesmo aqui, os trens só circulam até as onze da noite, é bem cedo.

— Nossa, eu perderia todo dia que trabalhasse no Motoki!

— Acho que ele se adaptaria ao horário, né? — Mamoru riu, mas não era mais objeto de atenção da outra.

  Usagi se ajoelhou no banco e apontou para um morro próximo.

— O que é aquilo!? Parece tão legal!

  Mamoru deparou-se com uma enorme estátua na direção que ela apontava, uma mulher. Ele também não sabia dizer o que poderia ser, então acompanhou-a em um ritmo intenso, sua energia renovada pela curiosidade. Bem, renovada até deparar-se com outro morro pela frente, o que a fez desistir da pequena aventura.

— Puxa, eu crente que podia te levar a algum lugar inédito! — reclamou, jogando todo o peso do corpo para Mamoru.

  Ele gargalhou, em parte pela felicidade que aquele contato vinha lhe provocando. Queria beijá-la. Olhou ao redor e percebeu não haver ninguém passando e aproveitou a chance para puxá-la até si em um longo beijo, o primeiro desde que chegaram, reconheceu.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Usagi se virou estranhando a cama longa e se virou mais um pouco para testar até onde seu corpo podia ir quando se lembrou de não estar mais no seu quarto, mas em um hotel. O cheiro de Mamoru naquele outro lado fora o que lhe fizera lembrar isso.

  Ele não estava mais lá, pensou enquanto abria os olhos decepcionada. Havia ido ao encontro do antigo chefe, provavelmente para discutir quando ocorreria seu retorno àquela região, não que Usagi viesse pedindo por detalhes nos últimos dias. Mamoru até a convidara para ir, que poderiam almoçariam em algum restaurante típico, mas não havia como ir até aquele lugar. Mas ela tinha sido sincera ao lhe dizer que não iria, pois se sentiria no lugar errado, almoçando com adultos. Com um riso, Mamoru aceitou sem discutir. No fundo, porém isto não teria sido o bastante para incomodar Usagi normalmente, ela só não queria estar lá.

  Pegou o celular para ligar para a mãe e percebeu uma chamada perdida de Minako. Apressou-se na ligação para Ikuko e retornou a da amiga assim que pôde, curiosa com o que pudesse ser.

Usagi! Tentei te ligar desde cedo! — A voz de Minako era bastante clara, mas um burburinho prosseguia ao fundo.

— Você não tá em nenhuma festa a esta hora, né? — perguntou, lembrando-se de uma vez quando as duas não eram próximas e Minako de fato lhe ligara às dez da manhã para cancelar uma saída duas horas depois porque ainda estava numa festa desde o dia anterior. Bem, em um prolongamento do prolongamento da mesma.

Pode-se dizer que é uma festa, sim! Adoro a golden week! — ela gargalhou. Uma risada masculina se seguiu ao fundo.

— Acho que tô atrapalhando, então... — respondeu, pronta para desligar.

Espera! Eu te liguei pra te chamar pra almoçar. Ainda dá tempo, mal chegamos ao shopping, então é só vir.

— Minako, eu estou em Nagasaki, esqueceu? — Era a vez de Usagi gargalhar, sentada de camisola no lado de Mamoru da cama, inspirando seu cheiro e sentindo sua falta de novo.

  Mas seu estômago não estava muito sensível e roncou com a menção de comida. Sabendo que era hora de cuidar de sua sobrevivência, ela se levantou para pegar alguma roupa na mala, enquanto as gargalhadas ao telefone se repetiam também. Havia um grupo com Minako, ao menos, e não algum namorado. Que nem era Yaten, já que este não era de rir por qualquer motivo.

Por isso mesmo, amiga. Anota aí, Yume Saito. Se for de monotrilho, é na estação de Ohato, linha um. Anotou? Estamos no subsolo do shopping.

— Disse monotrilho!? — Usagi olhou para os guias, provavelmente recém-organizados naquela manhã por Mamoru, e abriu um já bastante amassado do dia anterior para perceber que a tal estação realmente existia no mapa. Ela não estava inventando coisa.

  Uma risada leve apenas de Minako veio em seu ouvido.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Usagi mal acreditou quando desceu pela escada rolante e Minako veio a seu encontro. Não apenas ela, Naru estava logo atrás. Achava que era algum truque, algum castigo por fugir com o namorado, ou algo assim. Mas a ideia de ter um shopping não tão longe do hotel e até de simplesmente sair por ali a deixara tão animada que nem pegara mais dinheiro além do que já estava em sua carteira desde o dia anterior. Ao menos, com Mamoru pagando por tudo o quanto ele pudera, Usagi praticamente continuava com sua cota diária intacta. Era sempre bom ser um pouco mimada...

— Vocês estão mesmo aqui — comentou após se reunirem na base da escada.

— Quase mágica, né? — brincou Minako dando uma piscada.

— Ela me disse que faria bem viajar com alguém da minha idade pra variar — explicou Naru e sorriu. — Até que está sendo bem engraçado.

— Chegamos no domingo. E lá estão os garotos! — Minako acenou para uma mesa em frente a um restaurante de fast food.

  Assim como ela lhe advertira na ligação, lá estavam Yaten e Taiki.

— E onde está o Masato? — Usagi olhou para o restaurante à frente, mas não havia ninguém familiar.

— A Naru também precisava de um tempo longe daquele lá. — Minako cruzou os braços, assentindo.

— Mas você trouxe o Yaten.

— Ele é meu amigo, tá? Não temos nada juntos, só nos vemos às vezes. Nem é como se alguma coisa já tivesse rolado com aquele lá. — Ela rolou os olhos e, enfim voltou a andar em direção aos rapazes. — A gente tá dividindo um quarto num albergue mais ao norte, tá bem divertido. Precisava ver a cara da Naru quando viu onde íamos dormir. Uma fofura!

— Tirando as trocentas escadas para subir e que a internet só pega lá embaixo — acrescentou Taiki.

  Eles estavam para comer os hambúrgueres que compraram quando o celular de Usagi vibrou no seu bolso. Pegou-o e leu uma mensagem nova de Mamoru, pedindo que ela não dormisse o dia todo, que deveria almoçar algo saudável antes de anoitecer. Ela ouviu uma risada sobre si.

— Como você só consegue namorados fofos, Usagi? — Naru voltou a seu hambúrguer, um pouco vermelha após ler o celular alheio. — Desculpa ter lido, mas... Acho que estamos muito perto uma da outra, desculpa de novo.

— Ah, tudo bem. — Usagi mesma estava corada e guardou o aparelho. Responderia mais tarde, o que também serviria de punição a Mamoru por deixá-la sozinha na viagem dos dois.

  Após o almoço, quando eles aproveitaram para mostrar as fotos nas câmeras tiradas por vários lugares como um parque holandês e a ilha deserta sobre que Usagi havia lido, os rapazes anunciaram que iriam andar por trás do prédio onde estavam, onde parecia haver uma área de restaurantes, queriam saber se valia a pena ficarem ali pela noite. Usagi se despediu de ambos, feliz por revê-los, mas suspirou aliviada.

— Nossa, tá tão feliz assim de eles irem? — brincou Minako enquanto tomava um milk shake.

— É que eles são os amigos do Seiya, né?

— Vocês terminaram apenas; os dois continuarão a existir no mesmo mundo.

— Ele está aqui também — acrescentou Naru.

— Eu sei que o Seiya ainda vive no mesmo mundo que eu. Aliás, no mesmo país. É só que não terminamos tão bem quanto teria sido o ideal. Eu fui uma bagunça na vida dele.

— Não — interrompeu Minako, balançando uma das mãos na frente de Usagi. — A Naru quer dizer que o Seiya veio conosco. Ela ficou até me falando pra não te ligar, toda preocupada.

— Quê!? Aqui? — Usagi olhou ao redor, para onde havia uma espécie de feira com várias lembranças da região.

— Não aqui, aqui! — Minako balançou a mão uma vez mais. — Só em Nagasaki. Pela cidade, perambulando. Por que acha que só te chamamos hoje? Eu sabia que uma hora ele ia decidir sair por aí para tirar fotos sozinho, aí aproveitei pra te ver. — Minako lhe deu uma piscada.

— Mas não acredito que você o trouxe!

— Ele também precisava de um tempo, né? — Ela virou os olhos.

Longe de mim. E você o traz pra onde estou com... — Percebeu que não sabia do que chamar Mamoru além da palavra que vinha passando a odiar. — ... outro?

— Mas é realmente melhor que um onsen, como ele queria — disse Naru. — É só vocês não se encontrarem.

  Usagi assentiu, incerta de como isso poderia ser evitado.

  Ela se levantou e pegou a bandeja para levar ao lixo.

— É melhor eu ir de qualquer forma. Uma hora é capaz de ele ligar pro Yaten ou pro Taiki e perguntar onde estão. Conseguem imaginar? — Usagi balançou a cabeça. — Seria horrível.

— Nenhum dos dois tá aqui. E não é como se fosse melhor para ele. — As palavras de Naru cortaram sua frase. A ruiva olhava para baixo, para as próprias mãos. — A gente vem se falado muito, e o Seiya ainda não consegue entender o que houve. É complicado pôr um fim dessa forma. Então, já que é assim, o melhor é mesmo vocês nunca mais se verem.

  Usagi aquiesceu, confusa.

— E, também — prosseguia Naru —, acima de tudo, acho que os destinos dele não devem ser moldados conforme os seus, Usagi. Vocês não têm mais nada um com o outro. Foi o que a Minako estava me dizendo quando o chamou pra cá.

— Ah, Naru! — interrompeu a própria Minako, quase sem ar. — Não é bem assim, né? Eu não falei com essas palavras. Acho. Não nesse sentido. Tenho quase certeza.

  Desta vez, Usagi sorriu.

— Não se preocupem — disse às duas. — Eu já sei que como fui eu quem escolhi assim, sou em quem mereço.

— Não foi o que eu quis dizer! — Naru apressou-se se explicar. — É só que esta viagem tá fazendo bem a ele. Estamos nos divertindo muito, eu que o diga. É bom tomar um ar, e Nagasaki é linda! Não lembrava mais que era assim.

  Ao final, Usagi ainda achou melhor ir para bem longe de onde pudesse se encontrar com Seiya. Ela mesma ainda tinha muito em que pensar antes de poder vê-lo normalmente. E quando acontecesse, gostaria de poder fazer por merecer sua amizade que tantas vezes havia estado ali para ela própria.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Caminhou reto desde a saída do shopping, querendo sentir o ar da cidade. Era muito diferente de Tóquio, tinha que admitir. Lera várias vezes sobre a influência estrangeira tanto holandesa quanto portuguesa, mas não as havia notado com tanta firmeza até então. Subiu um morro, desceu... Aquele exercício lhe fazia bem.

  Naru, enquanto a acompanhava até a saída junto com Minako, falou para combinarem algo com Mamoru, já que ainda os havia visto juntos. Usagi havia concordado vagamente na hora, mas como o faria? Não havia desculpa que a permitisse falar para Mamoru se encontrar com suas amigas. E o que faria se elas o chamassem de namorado na frente dele? Seria um desastre. Aquilo não daria certo...

  E nem teriam tanto tempo assim, certo? Se a transferência a Kyushu acontecesse mesmo, não devia ser depois do verão. Eles nem teriam a oportunidade de viajarem juntos novamente? Um onsen seria legal, pensou com um sorriso triste.

  Passou distraída pela linha do monotrilho, continuando basicamente reto, até onde o contorno da cidade lhe permitia. Estava começando a ficar com fome, pensando bem. Quanto já havia andado? E onde estava? Olhou para trás e tentou retornar à linha que havia visto, uma estação estaria próxima com certeza. Contudo, não a encontrava mais. Pegou o celular e tentou usar algum aplicativo, mas não conseguiu se entender. Frustrada consigo mesma, ligou para, mas ele não atendeu. Contemplou tentar Minako, mas como ela a ajudaria? Seria ainda pior se ela já estivesse Seiya de novo. Usagi inspirou fundo e procurou alguém simpático ao seu redor, mas havia apenas um homem velho que não lhe parecia confiável. Muito pelo contrário. Virou na primeira rua que vira, temendo que o contato visual com o homem o fizesse segui-la.

  Ao entrar, seus olhos brilharam. Era uma barraca de hambúrguer. Um hambúrguer gigante! Sua barriga grunhiu só com a imagem na barraca. Não, era seu celular vibrando na mão. Aborrecida pela interrupção, ela o atendeu. Mamoru estava retornando, mas Usagi estava amolada demais para se importar. Desligou rapidamente e foi até sua carteira. Apenas para perceber que possuía apenas duzentos ienes. O bastante para um trem, mas não para um hambúrguer. Agora sim tinha certeza de que seu estômago também reclamava, afinal, havia desligado o celular por completo para que Mamoru não pudesse insistir.

  Olhou a seu redor, um grupo de estudantes havia parado para fazer seus pedidos. Parecia tão apetitoso. Devia ser divertido fazer uma viagem daquelas entre amigos. Tinha sido em uma viagem assim para Hokkaido que Minako e ela haviam sedimentado sua amizade. E agora, ela estava sozinha em Nagasaki, enquanto a pessoa que a acompanhava era um estranho para todos os efeitos de registro oficial, já que não eram nem amigos nem namorados.

  Uma ânsia de choro lhe tomou conta. Ela ainda não era adulta o bastante para viajar sozinha. Precisava de amigos a todo o tempo para tomar conta dela, ou se perderia perto de homens suspeitos e morrendo de fome, mas sem dinheiro o bastante.

— Dois hambúrgueres, por favor. — O próximo cliente do moço da barraca disse. — Vou comer aqui, com esta moça — explicou o homem que vestia uma camiseta polo e calça jeans e tinha uma câmera enorme no pescoço.

  Usagi achava que estava tendo ilusões, mas um príncipe aparecera bem à sua frente de olhos azuis e com dinheiro para seu hambúrguer gigante na hora que ela mais precisava de um milagre.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Mamoru olhou para a mala revirada que Usagi havia deixado antes de sair em alguma hora do dia e ligou novamente. Seu cenho estava carregado não apenas de preocupação por ela, mas pela forma ressentida com que lhe falara antes de desligar o celular no meio da ligação. O que estava errado? Mas ele sabia a resposta. Tudo entre eles, por mais feliz que o deixasse, tudo estava errado.

  Ele devia saber mais que isso, que o dia anterior e todos os outros desde que ele se abrira foram nada além de calmaria antes da tempestade de primavera, pensou ao se sentar frustrado sobre a cama já arrumada pela camareira.

Continuará...

Anita, 10/04/2012

Próximo Capítulo

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