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[Sailor Moon] Cada Vez que nos Encontramos, Cada Vez que nos Separamos - Capítulo 3, escrita por Anita

Autora: Anita
Fandom: Sailor Moon
Gênero: Comédia romântica, Realidade alternativa
Classificação: 14 anos
Status: em andamento
Resumo: Usagi/Mamoru. Usagi está na faculdade e acaba de terminar com Seiya, seu primeiro namorado de toda a vida, quando decide aceitar um emprego de meio período no bar de seu amor de adolescência, Motoki. Entre os desafios dessa aventura, o passado decide reaparecer na sua frente, especialmente quando o homem que mais a atazanava retorna a Tóquio, Mamoru. Ela percebe então um conflito entre o que sente por Seiya e por Mamoru. A história também vai explorar os romances de cada uma das senshi! 

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Olho Azul 20 Anos Apresenta:

Cada Vez que nos Encontramos,
Cada Vez que nos Separamos


Capítulo 3 — Embriaguez

  Na noite em que Usagi brigou com Seiya, Mamoru não estava no bar. Na verdade, segundo Motoki, ele estivera, mas já havia ido para casa, pois tinha que trabalhar no dia seguinte. Nem no dia em que ela contava com aquela distração o homem conseguia ser útil, pensou enquanto se sentava no banco de frente para o balcão. Motoki a olhou intrigado, mas apenas sorriu e pôs um prato de batatas-fritas bem na sua frente, por conta da casa. Era terça-feira, um dos dias de menor movimento em que apenas o rapaz fazia turno no Drunk Crown e não houvera nenhuma surpresa quando ela abrira a porta apenas para ver Sanjouin Masato, o amigo-cliente de Motoki, bebendo um enorme copo de cerveja.

— Foi um dia tão ruim assim? — perguntou o homem, ainda com a roupa do trabalho.

— Quê? — Usagi levantou os olhos do prato de batata. Aquele homem estava sempre por ali e poderia já considerá-lo um amigo dela própria, apesar de as conversas pessoais costumarem partir dele. Não que seus assuntos sobre confusões na empresa e a noiva, quem Usagi nunca vira, fossem realmente íntimos, apenas cotidianos. Por essa razão, não havia como se abrir para ele, mesmo que Minako ainda não tivesse respondido à sua mensagem.

  Não tinha como ela contar ao amigo de seu quase irmão mais velho que o namorado com quem ela mal havia feito as pazes tentara forçá-la a dormir com ele em uma sala de karaokê. Ela mesma não sabia como dizê-lo a Minako, sua melhor amiga de agora. Nunca conversaram muito sobre isso, apesar de investidas anteriores de Seiya. Bem, ele nunca parecera desejá-lo tão seriamente, pois o romance tinha prazo de validade. Até agora.

— Seu rosto está tão abatido que mal a reconheci, — explicou, tomando um gole despreocupado de sua bebida.

— Ah... Tá tudo bem, só discuti um pouco com o meu namorado.

— Mas já? — Motoki voltara da cozinha, agora com uma pizza para Masato.

— Coisa nossa... — Usagi baixou a cabeça, indicando que não queria mais conversar.

  Era estranho algo tão ruim ocorrer justo no dia em que começava a considerar seu trabalho ali como algo sem sentido. Voltando ou não para Seiya, Usagi tentou prometer-se que não largaria Motoki tão facilmente. Como se lesse seus pensamentos, o homem lhe fez um cafuné na cabeça.

— Ah, bem-vinda! — cumprimentou ele em seguida. Aquela tinha se tornado bem rápido sua segunda casa.

— Olá, Motoki! — Era a voz de Minako, que viera sentar-se do seu lado, passando as mãos em suas costas, em movimentos circulares. — Não sei o que houve, mas o Seiya é um cretino!

  Usagi caiu na risada. Não havia dito de jeito nenhum que brigara com o namorado, nem sequer havia mostrado seu rosto, e Minako já deduzira.

— Minha cara tá feia até pelas costas?

— Bem, hoje seria o grande encontro, e você me chama pra um bar? Se fosse para comemorar, haveria mil emoticons naquele e-mail, né?

— Pois é... — Usagi levantou-se com seu prato de batatas e levou Minako para uma mesa mais no canto, pedindo a Motoki por um copo de cerveja para ela.

— Pra mim também! — acrescentou Minako, sentando-se bem na frente da amiga para ouvir a história. — E yakitori, por favor, estou faminta! — Ilustrou pegando uma das últimas batatas no prato à sua frente e devorando-a em um instante.

  Usagi não demorara nem cinco minutos para contar tudo. Achou que foi tão rápido que devia ter faltado algo, então recomeçou, acrescentando detalhes demais. Frustrada, começou a falar todos os defeitos do namorado, como se Minako já não os soubesse todos após quase um ano de relacionamento. O único detalhe que Usagi até então não havia se incomodado de revelar fora aquela tensão sexual, a qual a própria vinha ignorando. Pensava que homens eram assim; ainda que soubessem que não conseguiriam nada, continuariam tentando.

  Minako sorriu, já em seu terceiro prato de comida, agora uma porção de onion rings.

— E por que não? — resumiu-se a essa pergunta, mais distraída com a comida que com o copo ainda cheio de cerveja.

— O que quer dizer com isso? — O rosto de Usagi ficou mais vermelho que pálido com a sugestão.

— Bem, temos vinte anos, somos adultas o bastante para bebermos legalmente em um bar. — Balançou um pouco o copo de cerveja. — O que mais precisamos esperar?

— Quer dizer que você aceitaria se tivesse alguém? — O rosto de Usagi ficava ainda mais vermelho com o esforço de soar natural.

  Agora, era a amiga quem ficava com as bochechas rubras:

— É, nunca vi nenhum problema.

— Você... já fez?

  Minako bebeu algumas goladas da cerveja, não precisava mais de palavras para confirmar.

— E ele é seu namorado, não é qualquer um, — completou, após um silêncio considerável. — Você não disse que o amava depois de tudo o que ele aprontou, terminando contigo por bobagem?

— Bem, ele ia voltar pros Estados Unidos.

— E isso é um bom motivo, é? Quem ama, ao menos acha que um relacionamento à distância não é tão ruim. Você concorda comigo.

— Está dizendo para eu ir em frente e depois que ele não me ama?

  Minako arrotou.

— Acho que bebi demais... — O vermelho de suas bochechas agora tinha outro tom e isto fez Usagi rir.

  Seiya tinha razão de como os japoneses podiam ser fracos com álcool. E pensar nisso, deixava-a com calor, pois se lembrava do beijo com sabor de álcool e perfume, trocado na noite em que haviam voltado.

— Você o ama; não importa o que o cretino sente, — disse Minako, como que lendo os pensamentos da amiga. — Essa decisão deve ser de acordo com você mesma. Só acho besteira ficar esperando os sinos encantados de uma noite auspiciosa de Natal nevado enquanto toca “aquela” música, entende? Não é como se a primeira vez fosse ser boa, também. Guarde a supernoite pra sua lua de mel na Europa! — Ela virou os olhos e prosseguiu: — Não é uma frase positiva quando se diz que a primeira vez a gente nunca esquece.

  Usagi riu com o comentário, apesar de ainda se sentir muito pouco à vontade com o assunto.

  Percebeu Minako olhar para o relógio na parede.

— Está quase na hora do último trem. Terminamos a noite ou — E Minako jogou o punho no ar para a segunda opção: — Vamos nos esbaldar num superkaraokê?

  Usagi riu-se e, seguindo o entusiasmo, levantou-se da cadeira e apontou para a televisão acima do balcão do bar.

— Ué, pra que pagar uma sala se temos esta aqui já quase toda para nós?

— O karaokê tá quebrado! — respondeu Motoki prontamente.

— Quebrado!? Como? Tava tão direitinho no sábado... Aquele senhor ficou cantando até fecharmos, né? — Largando seu copo na mesa, Usagi correu para conferir o aparelho, já acostumada a ligá-lo.

  Motoki lhe forneceu o controle, e ela percebeu que sequer a luz de energia acendia. Olhou novamente para os botões, apertando todos.

— Poxa, eu crente que ia poder cantar a noite toda de graça!

— Que pena, né? — Motoki estava de costas, mexendo em um dos armários.

— Não achava que isto poderia quebrar...

  Então, percebeu sons de duas risadas. Uma vinha de Minako, já bem do seu lado, debruçada no balcão. Outra de Masato, que apontava para Motoki.

— Vamos, devolva o cabo de energia pra ela. Não tem graça implicar com a sua irmãzinha... — disse o homem, voltando a beber sua cerveja.

— Como assim? — Então, Usagi percebeu que Motoki havia escondido o cabo naquele armário, arrancado em algum momento entre seu anúncio e sua tentativa de ligar o aparelho. — Ah, Motoki! — disse, frustrada, correndo para trás do balcão.

— Ei, clientes não podem possar essa barreira, olha lá o quadro de regras!

— E você devia era mexer com alguém do seu tamanho! Poxa... — Recuperou o cabo e o estudou por um longo momento, incerta de como encaixá-lo de volta.

— Juro que foi autopreservação! Já bastou você ter cantado boa parte das músicas com aquele senhor sábado passado.

— Ele disse que tenho um “canto singular”! — repetiu a expressão ouvida.

— E não mentiu, é singularmente ruim.

— Motoki! — Usagi começava a ficar chorosa.

  Sentiu, logo após, o cabo ser tirado de sua mão e viu que seu chefe estava ligando o karaokê para ela.

— Vai lá, sabe que não consigo vê-la chorando... Apenas entenda o sacrifício que Masato e eu estamos fazendo, hein!

  Usagi abriu um sorriso, pulando de alegria enquanto já selecionava as músicas que queria cantar.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Mamoru sacudiu o cabelo assim que saiu do trem, perguntando-se por que havia descido naquela estação. Era como um impulso ir até ali, mas até começar a tocar o apito do trem avisando que as portas se fechariam, ele já se havia convencido a apenas voltar para seu apartamento. Ainda assim, em vez de esperar o próximo trem que logo pararia na plataforma, Mamoru, pôs a pasta do trabalho contra o corpo e passou pela catraca em direção ao bar de Motoki.

  Já ouvira o amigo lhe dizer algumas vezes sobre como nas terças-feiras ele ficava a tarde toda dentro do recinto, limpando com cuidado todos os acidentes e incidentes do final de semana anterior. Era uma regra que ele se estabelecera pouco após começar ali, já que o próprio nunca fora muito fã de uma faxina. Por isso, precisava não apenas transformar em um hábito, mas em uma obrigação. Havendo contratado já alguns auxiliares, a ordem para eles era ainda mais forte para o próprio patrão.

  Pensando assim, Mamoru nem sequer ligara para Motoki, seguiu direto ao bar para conversar com o amigo. Talvez ele entendesse como algo estava errado em sua vida, de como ele não sabia mais o que fazer dali em diante. Incluindo, como se sentia arruinado tendo se fingido doente pela primeira vez em anos na empresa para não ter mais que ficar no escritório naquele dia.

  Desceu as escadas para o subsolo do prédio, onde o Drunk Crown se encontrava, e abriu a porta, percebendo seu peso pela primeira vez após as cerca de cinco vezes que viera ali. Um cumprimento de boas-vindas ecoou atrasado pelo bar vazio, e Mamoru procurou de onde vinha a voz feminina.

  Era verdade, Motoki também lhe mencionara que costumava estar acompanhado de uma ou mais pessoas para limpar tudo. Normalmente, aquela pessoa era sua funcionária mais antiga, mas a segunda pessoa, ou terceira, dependendo do estrago, era uma escala aleatória de quem se dispusesse a participar. Mamoru sabia que a voz vinha de Usagi, que devia ter sido a sorteada a fazer turno naquele horário não muito querido pelos funcionários.

— Ah, aí está você. — Mamoru sorriu, após se debruçar sobre o balcão, para achar a moça entretida com um pano e mais um vidro de produto de limpeza para remover sujeiras. — Não deveria prestar mais atenção aos clientes que chegam?

— Eu disse “bem-vindo”, não foi?

— Não pareceu muito convidativo. Apenas fantasmagórico.

  Usagi pareceu não ouvir. Bem, claramente fez que não ouvira. E continuou em sua empreitada contra um círculo vermelho acobreado no chão bem ao lado do móvel.

— Onde está Motoki? — perguntou Mamoru, sentando-se e pondo seu paletó e pasta no banco ao lado.

— Não te interessa... — A resposta fora pronunciada para dentro, como se ela nem quisesse que ele a ouvisse.

— Ele está na cozinha ou no banheiro? Tá tudo tão silencioso...

— Motoki não está, você vai pedir alguma coisa antes de ir embora? — Usagi estava agora sentada no chão e a saia que usava abria ao seu redor.

— Pode me trazer cerveja?

— Não.

— Como?

— Leia no quadro.

  Mamoru percebeu o quadro negro com algumas regras do lugar, incluindo a de que a moça devia estar falando, sobre não se vender bebidas alcoólicas antes do expediente, que nas terças começaria às oito da noite. Instintivamente, conferiu seu relógio e não eram nem quatro. Até para serem quatro horas ainda faltava uma eternidade, então Mamoru agradeceu que a pessoa ali fosse ao menos Usagi, com quem teria a intimidade de insistir.

— Eu não vou sair por aí quebrando o bar, — disse, para logo acrescentar: — E darei uma boa gorjeta.

— É a regra. Agora vá embora e me deixa em paz com esta maldita mancha. Tenho que terminar logo...

— Com pressa, é? Mas não irá a lugar algum, pois o bar não pode ficar sozinho.

— Não vai ficar, eu te trancarei aqui dentro. — Seu olhar era de ódio, apesar de ser brincadeira, ou assim ele imaginava. — Aliás, não está cedo demais pra beber? Se tiver acabado de ser demitido, eu posso abrir uma exceção. — Ela sorriu com malícia.

  Mamoru pegou-se a imaginar se ela não fazia ideia de como fizera uma dedução provável. Afinal, por que ele estaria por ali no meio do dia? Ou era apenas o jeito de ela perguntá-lo?

— Eu apenas saí cedo do trabalho; foi um péssimo dia. Tem sido uma péssima semana, na verdade. Não pode abrir uma exceção? Afinal, sou amigo do Motoki e não causarei problemas. Você já me viu beber antes, alguma vez fiquei bêbado realmente?

  Usagi mordeu o lábio inferior. O pano sujo foi levado até perto de seu ouvido, e ela respondeu, por fim:

— Assim eu fico numa situação complicada... Eu sou proibida de fazer isso, mas e se fosse para te abrir uma exceção? Motoki ficaria bravo se eu não tivesse discernimento o bastante para saber melhor. — Agora ela passava os dentes no lábio superior.

— Estou perguntando se você, Usagi, me abriria uma exceção. — Decidiu se inclinar em sua direção.

  Devia ser a primeira vez na vida em que implorava por algo alcoólico. E confessava que o estava fazendo apenas para implicar com ela, pelo desafio. Havia algo de reconfortante na troca de palavras e, se Mamoru simplesmente aceitasse pedir qualquer outro item do cardápio, o assunto terminaria ali, pois Usagi retornaria à sua tarefa.

  Ao mesmo tempo que insistia, não esperava pela concordância.

— Tá certo... — e mesmo assim, ela disse isso.

  Mamoru olhou de novo para ela, com a expressão de quem pedia que repetisse o que havia sido dito.

— Tá bom, não precisa implorar por algo assim. — Ela se levantou, jogando o pano com violência em cima de uma das pias. — Parece até que vai morrer se não tomar uma.

  Isso lhe deu a sensação de que ela havia desistido com mais paixão de lutar contra a mancha do que de argumentar com ele. Por outro lado, fez-lhe pensar que apenas ele participava do joguinho usual entre os dois.

  Mamoru olhou para o imenso copo de cerveja e para a espuma quase caindo pela borda. Então, voltou-se para a jovem, que também lhe dava uma toalha quente.

— Eu devia ter posto isto logo que você se sentou, né? — comentou ela, puxando um cardápio. — Não quer nada pra acompanhar?

— Você está sendo assustadoramente cooperativa.

— Só tô cansada de ficar no chão. — Mostrou a língua. — Não leve minha fofura pro lado pessoal.

  Mamoru percebeu-se quase rir em retorno. Mas era como se algo bloqueasse o movimento dos músculos da face, então ele voltou a olhar para a cerveja.

— Acho que vou ficar só com esta por enquanto.

  Usagi suspirou e fez as pazes com o pano, sentando-se mais uma vez no chão.

— Mas você tá realmente sozinha aqui? Não tem medo de clientes chegarem? — Ele não queria deixar a conversa morrer ali e apenas ouvir a esfregação junto com o borbulhar de sua bebida.

— Não virá ninguém, só regulares sabem que abrimos a esta hor,a e todos sabem que hoje é dia de limpeza. Temos clientes bem compreensivos.

— Por isso mesmo eu vim, achava que Motoki estaria aqui, — explicou, percebendo que tomara já um quarto do copo, o qual já era maior que o normal.

— Deveria ter perguntado a ele, em vez de fazer viagem perdida. Motoki não virá hoje.

— E você ficará aqui sozinha até fechar?

— Eu não! — Ela sorriu, agora seu olhar era vago. — Tenho um encontro com meu namorado.

  Ah. O namorado.

— Aquele estrangeiro?

— Quantos mais eu teria? — respondeu emburrada.

  Mamoru riu-se.

— Não me venha dizer que não que esperava que eu sequer tivesse um! Aliás, vamos mudar de assunto. Não tô a fim de falar do Seiya pra você.

— Seiya é um nome bem japonês...

— É o nome do meio dele. E isso não te interessa. — Usagi puxou o copo vazio de cerveja e foi lavá-lo. Percebia-se que já estava acostumada a todas aquelas funções.

— Quando começou a trabalhar aqui mesmo?

— Há quase três meses.

— E por quê? Motoki me comentou algo sobre você estar deprimida, mas, na minha opinião, parece muito melhor que eu, bebendo em plena luz do dia.

  Usagi se virou para ele, mas continuava a enxugar o copo recém-lavado.

— Que tal mais uma cerveja? — sugeriu Mamoru, após notar que falara demais. Devia tê-lo interpretado como algum sinal de que o melhor era ter pagado e ido embora atrás de Motoki.

— Aqui está... — disse a moça, mas seu pé esbarrou no plástico do produto de limpeza que vinha usando, e ela pareceu se lembrar de sua grande missão contra a mancha maligna, ao mesmo tempo que se esquecera do comentário infeliz do cliente.

  Mamoru suspirou baixo e notou que o segundo copo também já estava na metade. Por outro lado, o tempo havia passado a ponto de já serem quase cinco da tarde. A esta hora, ele estaria terminando suas tarefas, mas decidiria fazer hora extra como qualquer outro na firma. No lugar, estava terminando sua segunda cerveja e esperando que Usagi se desocupasse para pedir a terceira.

  Nesse momento, sua mente pareceu voltar um pouco no tempo, e quase pudera ver a jovem à sua frente com duas marias-chiquinhas dançando pelo ar, tal qual muitos anos atrás. Quando pensar nela trazia um grande sorriso a seu rosto.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Usagi pegou o celular, certificando-se de que o relógio na parede não estivera errado, nem mesmo Rei, chegando ali pontualmente às sete e meia da noite. Ela marcara às oito com Seiya em uma estação próxima e precisava sair correndo se quisesse chegar algo perto do horário certo, já que pontualmente seria impossível se ainda estava no Drunk Crown. Ainda assim, estava curiosa com o que acontecia na sua frente.

  Acabou por digitar uma mensagem para Seiya: “Acho que vou me atrasar uma hora, você me perdoa?” Sorriu enquanto escolhia o emoticon mais fofo antes de enviar.

— É nisso que dá descumprir as regras. — Rei havia acabado de deixar suas coisas em um canto e ainda conseguira ler a mensagem antes que fosse enviada. Por isso, puxou a outra para dentro da cozinha e a olhava de uma forma ameaçadora, como se estivesse prestes a lhe enfiar os caninos.

— Não tem problema, é só o Mamoru... — comentou. — É até divertido que ele esteja assim.

  Espichou a cabeça pela porta da cozinha e percebeu o moço já com alguns botões da camisa abertos e a mão na testa. Olhava perdido para um ponto do bar que apenas ele devia conseguir ver. Mamoru não passara pela fase alegre da bebida, havia chegado direto para a da depressão, com certeza porque já não estava muito bem desde que pisara ali. Usagi continuou a lhe servir as cervejas na esperança de que começasse a falar algo, até o acompanhou uma vez quando o próprio insistira que não queria beber sozinho daquela forma. Mas a camaradagem de bar ainda não funcionara. Usagi contava agora com o momento de distração em que Mamoru parecia já estar com parte do cérebro dormindo para desvendar seus segredos.

— Você é muito inconsequente, bebendo sozinha com esse cara. Seu namorado não vai gostar nada de saber da razão por que se atrasou. Vocês não acabaram de voltar?

  Usagi estava consciente que aquela provocação, ao menos, a moça não fizera de propósito. Ainda assim, havia conseguido lhe atingir. Fazia exatamente duas semanas que Usagi deixara o namorado dentro de um quarto karaokê e ficara a noite toda no Drunk Crown cantando e bebendo com Minako. Apenas para ligar no dia seguinte para ele e pedir para conversarem. Seiya ainda estava se mudando naquela semana, mas aceitara marcar imediatamente novo encontro na quinta-feira. E Usagi não queria se lembrar da última noite em que o vira.

  Passara todo o final de semana respondendo por alto as mensagens no celular, incerta de como deveria ver Seiya dali em diante. As coisas deveriam ter mudado tanto assim? Não era para ter sido algo mais simples? Foram muitos dias de frustração até acordar no dia anterior e perceber era ela mesma quem estava tornando a situação mais complicada. Por isso, em vez de mandar uma mensagem, ligou para Seiya, disse que estava com saudades e, em resposta, ele disse que queria vê-la. O primeiro encontro após a primeira vez foi algo por que ela vinha ansiando desde o dia anterior. Queria terminar logo com aquela sensação estranha de não ser mais a mesma, queria normalizar sua relação e sua própria pessoa de uma vez por todas. Ainda assim, não importava quão incomum e hilária e até irônica a situação fosse, Mamoru bêbado no balcão à sua frente não era para ser motivo o bastante.

— Você está indo? — perguntou-lhe Mamoru quando se notou observado cada vez mais de perto.

— Só tava imaginando se você tava bem.

— Tô sim. O bar já está pra abrir, certo? E sua amiga já chegou. Apenas vá pro seu encontro. — Agora que ele lhe voltava diretamente o rosto, eram claros os sinais do álcool. Bochechas vermelhas, olhos pouco focados. — Sabe, é melhor eu ir. Não aguentaria mais beber nada hoje... — Pegou a carteira do bolso de trás da calça e começou a puxar notas.

— Eu fecho a conta. — Rei havia chegado, quase empurrando Usagi. Discretamente, fez sinal dev que ela fosse logo.

  Usagi passou antes no banheiro e lavou a nuca. Agora nada estava no seu caminho de Seiya, por isso, o frio no estômago retornava. Sentiu o rosto ficar vermelho só em imaginar como eles se olhariam, se alguém ao redor saberia que tudo estava diferente, se tudo realmente estaria diferente. Esperava que não, ao mesmo tempo que uma partezinha dela torcia para que sim. Ouviu Rei conferir o dinheiro de Mamoru enquanto reaplicava a maquiagem no rosto. Estaria com cheiro de cigarro? Mamoru não fumara, mas aquele cheiro parecia permanente no bar. Aproveitou para passar um perfume, não haveria tempo de ir tomar banho em casa, e Seiya já devia saber como era o pós-Drunk Crown.

  Saiu para encontrar apenas Rei ali ainda.

— Ele já foi. E nossa, ele não comeu nada enquanto esteve aqui? — Rei olhava para a cópia da nota com o consumo. — Por que não corre e vai com ele para a estação? Ele é seu amigo, afinal.

— Mamoru não é meu amigo, — respondeu, mostrando a língua.

— Amante? Até onde vi, você deu um bolo no seu namorado pra ficar mais tempo com ele.

— Foi só porque... — Desistiu de explicar, não havia palavras a serem postas para aquilo soar bem. E Seiya tinha que entender, aceitar qualquer coisa depois do que ela fizera pelos dois no último encontro. — Mas tem razão, vou me apressar por garantia.

  E se despediu passando pela porta.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Não esperava encontrar com Mamoru justo ali do outro lado da saída do Drunk Crown, de pé, olhando para o espaço entre a escada e a parede.

— É pra cima, caso esteja em dúvida, — disse-lhe, dando um tapa nas costas.

— Sabe, eu te vi beijando aquele rapaz naquele dia, bem aqui. Tava só me lembrando disso.

— É estranho ver os outros se beijando e depois ainda comentar. — Abraçou-se fingindo ter sentido calafrios.

  Mamoru riu lentamente.

  Usagi franziu a testa, recordando-se daquele dia, quando o próprio Seiya estivera um pouco alcoolizado e a fizera rir, pois dissera pouco tempo antes ser mais forte que um japonês. Mamoru estava numa categoria oposta de bêbado, parecia que toda a sinceridade de sua vida lhe vinha aos olhos, e a moça não conseguia evitar não se aproximar para olhar melhor.

— Afinal, o que te trouxe aqui hoje? — perguntou a ele, consciente de que estava perto demais. Consciente de que, naquele momento, ela poderia até beijá-lo, que mesmo alguém como Mamoru iria acabar retribuindo.

— Problemas... — Ele pôs a mão no cabelo, já não tão arrumado como quando chegara. Bastante distante de arrumado, na verdade. — Acho que o pessoal de onde trabalho tá querendo que eu desista da minha vaga.

— Oh... — O que dizer sobre aquilo? Fosse um cliente qualquer do bar, ela sugeriria cantarem algo em resposta aos “canalhas”, mas nem estavam mais no Drunk Crown.

  Percebeu que ele também não esperava qualquer resposta, pois já subia os degraus. Um por vez.

— Ei, pera. Eu também tô indo pra estação, vamos juntos! — Correu atrás dele, não sem antes prender o pé no degrau e quase cair para trás. Ao menos, Mamoru não percebeu o quase desastre, pois tinha certeza de que nem a bebedeira o seguraria de rir e soltar uma de suas frases presunçosas de sempre.

  Estava já sem ar quando o alcançou na calçada da estreita rua paralela à principal.

— É melhor eu pegar um táxi.

  Ela o seguiu e esperou até que ele achasse um disponível. Esperou que entrasse e fornecesse seu endereço, que não era muito longe dali. Inspirou fundo e pulou para dentro do veículo, antes que o motorista fechasse a porta.

— É melhor eu te acompanhar. Foi minha culpa por te deixar beber sem comer nada e ainda fora do horário certo. — E olhou para o motorista, que esperava alguma segunda ordem. — Pode ir, por favor. Para esse endereço.

— E seu encontro? Não vai se atrasar? — Mamoru o olhou confuso.

  Usagi sorriu satisfeita consigo mesma.

— Falta ainda uma hora para eu estar atrasada, e nem é muito longe de onde você mora.

— Não entendo por que está sendo tão solidária comigo. Não aconteceu nada demais mesmo. Eu só estava precisando espairecer.

— Chegamos ao endereço, senhores, — anunciou o motorista, dando o preço pela corrida. O lugar era ainda mais perto que Usagi tinha calculado, podiam só ter andado no final das contas.

  Mamoru lhe deu uma nota de cinco mil ienes e disse:

— Por favor, siga em frente com ela até onde ela disser.

— Não, eu vou subir contigo! — apressou-se Usagi, imaginando o quanto de troco receberia com o tanto a mais que o motorista havia ganhado. Provavelmente uns dois mil ienes. Não tinha muita certeza, Seiya e ela nunca usavam táxi, já que ele tinha sido bolsista do Ministério da Educação até então, e o trem já os levava a qualquer lugar.

— Usagi, eu já sou adulto, sei me virar. Vá pro seu encontro.

— E chegar cedo à toa? Não vamos acostumá-lo mal.

  Resignado, Mamoru recebeu o troco de um sorridente motorista. Em que o senhor estaria pensando naquele momento? Que eram dois irmãos? Amantes? Como seria a vibração que Usagi e Mamoru passavam quando estavam juntos?

  A porta do táxi se fechou, e Mamoru suspirou pelas costas de Usagi antes de andar para o prédio à frente. Era enorme e... caro, definitivamente caro.

— Nossa, quanto você tá ganhando na sua empresa? — perguntou, mas ele já estava bem mais na frente, passando pela porta, não ia conseguir ouvi-la dessa distância. Sem coragem de refazer a pergunta, ela foi correndo atrás.

  Entraram no elevador e ela estudou os botões. Havia mais de vinte andares. Mamoru apertou o número dez e aguardou sem se apoiar no canto, como ela tinha feito no segundo que entrara. Depois, caminharam ainda um pouco até ele parar e rodar a chave na porta, fazendo tudo como se já fosse uma rotina.

— Você tá com dor de cabeça? — concluiu Usagi, depois de tê-lo observado todo o percurso até entrarem na casa dele, e levou as costas da mão à testa dele. Estava quente. — E com um pouco de febre... Que tal eu fazer o chá que minha mãe me ensinou? Sabe, eu não sou de beber, por isso fiquei meio assim nos primeiros dias lá no bar.

— Eu estou bem, vou só sentar no sofá e assistir televisão.  — Tirou o sapato, deixando a porta se fechar sozinha com um barulho. O som o assustou, e Mamoru levou a mão à cabeça, xingando baixo. — Sempre esqueço que fecha sozinha.

  Usagi riu-se um pouco e observou o cômodo. Era uma sala bem pequena, menor ainda considerando-se que um terço na verdade era a parte da cozinha, separada por um balcão de madeira.

— Você mora sozinho? — perguntou, investigando o que havia de ingrediente para ser usado. Talvez pudesse fazer uma sopa para diminuir a embriaguez.

  Ele fez um som parecido com um sim e ligou o televisor com volume baixo, talvez no mínimo do audível. Usagi notou que sua cabeça caía para trás do sofá, já encostada na parede. Seus olhos estavam quase fechados, tremulando levemente. Ele devia estar se sentindo mal demais para dormir e, com certeza, faminto também. Desistiu da ideia do chá e optou por fazer uma sopa. Ainda não sabia cozinhar quase nada, mas aquela sopa sempre a salvara nas manhãs de domingo, quando retornava triturada para casa e sua mãe ainda estava dormindo.

  Deixou a água ferver e foi conferir o enfermo, ainda acordado no sofá. Aproximou bem sua cabeça de seu rosto e gritou seu nome, sem segurar a gargalhada enquanto o fazia.

— Ai, Usagi. Não precisava disso. — Ele massageou a cabeça, com os olhos semiabertos. E abriu-os num repente.

  Os dois estavam perto demais de novo. E o próprio Mamoru havia se dado conta disso. Ainda assim, ele não se afastou, não desviou o olhar. Era o efeito da bebida?

  Mamoru estendeu sua mão enorme para cobrir o rosto de Usagi. Era tão quente, e devia estar ainda mais que o normal devido à febre. A moça deixou-se curvar mais um pouco, jogando parte de seu peso naquela mão.

  Enquanto isso, seus pensamentos não estavam em um transe, em vez disso, corriam a toda repetindo o nome de Seiya, de como ela era comprometida, gritando que o outro estava bastante bêbado e o faria com qualquer outra ali. Era diferente de quando ela se entregara ao namorado na semana anterior; não obstante a consciência de que estava para cometer um grande erro, fizera-o por também saber o quanto seu namorado a amava.

  Agora, justo quando começaria o dia um da nova fase de seu relacionamento com Seiya, ela havia caminhado com os próprios para os braços de outro homem. Mamoru iria se lembrar nitidamente de tudo no dia seguinte, mas não queria dizer que não se arrependeria daquele comportamento. Era apenas um momento de fragilidade, um desejo por um pouco de atenção naquele apartamento vazio. Seiya também ficara várias vezes assim, bêbado e frágil, quando recebera as primeiras recusas de emprego. Ela nem queria imaginar por quem ou como ele havia sido confortado pelas recusas seguintes ao término de seu namoro.

  Certa do próprio erro e quase certa de que ela havia previsto a situação desde que se encontrara com o homem na saída do Drunk Crown, com a bochecha aquecida pela mão de Mamoru, Usagi fechou seus olhos sem se compreender integralmente.

Continuará...

Anita, 04/03/2012

Notas da Autora:

Ufa! Tô quase de volta ao meu cronograma. Mentira, muito mais já era para ter acontecido, mas estou quase em ponto com meu cronograma revisado!

E nossa, a Usagi vai mesmo beijar o Mamoru? Bem, eu tenho que antes de tudo pedir desculpas por essa cena estranha. Ela não ficou direito como eu havia previsto. Era para haver ainda mais tensão entre os dois e eu só consegui mostrar mesmo isso aí no finalzinho, porque o Mamoru continuava agindo sozinho. ¬¬ Sujeito difícil de se controlar hein!

Não deixem de enviar seus comentários, por favor, todos serão bem-vindos. :( O que não dá é ficar falando pro vácuo, né? E visitem o Olho Azul para mais fics minhas. :D HTTP://olhoazul.50webs.com

Notas do Futuro:

Lembro até hoje, mais de dez anos depois, como eu adorei, adorei muito escrever esta cena. A fic toda fluiu muito bom quase o tempo todo (só o fim que acabou comigo xD), mas esta cena da Usagi cuidando do Mamoru já mais sóbrio, mas ainda mais deprimido que antes e o clima ficando cada vez mais forte! Lembro muito! Aquela cena do início obviamente se liga a esta aqui e eram na verdade a mesma cena. Só que o Mamoru demorou taaanto a mostrar serviço na fic (se bem que o meme do Tuxedo Kamen não é por nada, né? Mesmo num AU, o moço continua in character haha), que achei que seria melhor puxar a cena pro início.

Muitos agradecimentos de novo pra Mari.Tsuki, pra Spooky e pra Thaís. Dá um calorzinho muito bom no peito saber que não estou contando esta história pras paredes e é ainda mais especial sendo pessoas que me conhecem desde praticamente sempre!

Beijos a todos e até a próxima!

(18/03/2022)

Próximo Capítulo 

4 comentários:

  1. 😀 guria vir aqui ver se ta viva e achar uma fic é muito bom... não demora muito pra atualizar... ta perfeita... já disse que amo a tua e scrita ne? bjs timbi

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    1. Desculpa esta dívida de meses e meses mas agora tá paga T_T em parte porque ainda tem chão/capítulo pela frente

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  2. Aaaaaaaaah, como que termina o capítulo assim? Eu preciso da parte 4 pra onteeeeeeem! Hahahahaha A fic tá incrível, maravilhosa, e não aguentava mais de ansiedade pra ter uma cena do meu casal favorito da vida! Necessito urgentemente da continuação, porque meu coração não vai aguentar esperar mais kkkkk To amando muito, não pareee <3

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    1. Agora sim o quarto capítulo tá devidamente publicado e o quinta já está quase pronto pra sair! Obrigada mesmo por todos os comentários! Beijos e até a próxima!

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