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[Sailor Moon] Por Quem Não me Apaixonar - Capítulo 1, escrita por Anita

Primeiro Capítulo – Capítulo Seguinte
Título: Por Quem Não me Apaixonar
Capítulos: 1 2 3 4 5 6 7 8
Autora: Anita
Fandom: Sailor Moon
Gênero: Comédia romântica, drama
Classificação: 14 anos
Status: completa
Resumo: Tsukino Usagi / Chiba Mamoru. Usagi presencia uma artimanha de Mamoru e percebe como lhes seria conveniente se os dois começassem a namorar. Quando o escolheu apenas por esse acaso, não fazia ideia de haver conseguido justo seu Tuxedo Kamen como namorado.

Notas Iniciais:
E aqui começa minha mais nova fic de Sailor Moon. Apenas umas notas rápidas. Sailor Moon, claro, não me pertence e eu não lucro nada com isto. O que significa que preciso de comentários, são o meu combustível. Preciso, preciso! 
Sobre a história em si, eu sigo o anime e os eventos levam em consideração a época logo após Usagi conhecer a Makoto. Considerei que a Usagi tinha quinze anos aqui nesta história.
E acho que eram esses os avisos. Espero que goste!


Olho Azul Apresenta:
Por Quem
Não me Apaixonar


Capítulo 1 – Uma Proposta Absurda

- Você só pode tá brincando – foi o que Mamoru lhe respondeu após sua proposta tão animada.

  Usagi parou por um momento, tentando compreender o que poderia ter sido mal compreendido. Ademais, sua lógica era perfeita!

- Você tá se achando o gostosão, é? Pois duvido que encontre outra em pouco tempo.

  Ignorando suas palavras, Mamoru deu-lhe as costas e voltou a andar na direção que tomava, antes de Usagi lhe puxar para aquela conversa. E ela não podia acreditar que, além de aquele homem não se importar em negar que se achasse acima dela, ele iria ignorá-la assim.

  Seu rosto queimava quando ela se abaixou até seu sapato e o atirou com toda a força contra as costas de Mamoru. De forma alguma, aquele assunto se encerraria assim. Não depois do quanto lhe havia custado criar coragem e pedir algo como namorar aquele sujeito intragável.

  Assim que ele se virou e pegou o objeto que acabara de se chocar contra suas costas, Mamoru olhou acusador para ela, pronto a lhe dar uma bronca. Por isso, Usagi se apressou para dizer antes:

- Eu te vi! Ontem, com a irmã do Motoki. – E avançou sobre ele para recuperar o pé de seu sapato, agora prisioneiro daquelas mãos enormes e ruidosas.

  Mamoru ergueu o braço mais alto. Era impossível alcançar, ainda que tentasse dar vários pulos.

- Finja que é uma boa moça e peça desculpas, sua cabeça de vento – demandou ele, seu típico sorriso de escárnio voltado para Usagi.
- De jeito nenhum que me desculpo. – Ela cruzou os braços, já cansada de tanto se esticar. – Mais fácil pedir pro Motoki cuidar disso pra mim, enquanto ele esclarece que história foi aquela com a irmãzinha dele. – Ela sorriu maliciosa.

  Rapidamente, a mão livre de Mamoru agarrou seu braço e o puxou. Ao menos, parecia cuidar para não machucá-la não obstante ser nítido seu desespero.

- Afinal, o que você quer dizer com isso? – perguntou-lhe, o sorriso já apagado de seus lábios.
- Eu vi tudo!

*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Usagi retornava mais tarde do colégio após cumprir mais uma detenção injusta e desproporcional da professora Haruna quando algo lhe puxou toda a atenção. Seu alerta para pessoas patéticas disparado, ela se encolheu e decidiu atravessar a rua a fim de não ter que encarar Mamoru. Contudo, seus olhos encontraram uma cena curiosa que o alerta havia ignorado: ele estava de braços dados com Unazuki, a irmã mais nova de Motoki.

  Mas não era só isso! Assim que ela se aproximou, outra garota, esta desconhecida, entrou em seu campo de visão. E parecia furiosa. Era como se estivesse pronta para matar os dois e mais Usagi, ou quem entrasse em seu campo de visão. Por isso, ela se escondeu tão bem para não ser percebida. A mulher desconhecida a assustava. Isso somente contribuiu para aguçar sua curiosidade com o que ocorria ali.

  “É uma briga!” ela concluiu em poucos segundos, já aguçando os ouvidos. Não passou nem meio minuto para um tapa ressoar até mesmo aonde Usagi se ocultava. Um tapa! Um tapa dado no meio da bochecha de Unazuki, mas que doía ali também.

  Por sorte, Mamoru deu alguns passos de forma a ficar entre as duas e agora encarava a mulher furiosa. Sorte para a mulher, já que Unazuki parecia pronta a retribuir o gesto pela forma como seu corpo se retesava. Mas lançando sobre ela um olhar mais analítico, Usagi começou a duvidar de que realmente houvesse recebido aquele tapa. O sorriso de Unazuki se expandia de orelha a orelha como se houvesse acabado de ser chamada para receber algum prêmio. Aquela estranha devia se considerar bem feliz por ter Mamoru ali para protegê-la da outra.

- Vá embora, por favor – ele pediu à mulher. – Se preferir, nós conversamos melhor noutro dia, quando estiver mais calma.
- Nem pensar que te deixo a sós com ela! – Unazuki protestou, enquanto voltava a se enroscar nos braços de Mamoru.

  Usagi não conseguia conter o próprio sorriso, incapaz de acreditar no que presenciava. Aquilo... parecia até cena de novela!

- Como se eu quisesse mais alguma coisa com você, Chiba! – respondeu a mulher, aparentando recuperar sua calma. Até mesmo sua postura havia mudado, o que deixava seu corpo mais bonito. Pensando bem, ela própria era bonita.
- Bom saber. – Unazuki sorriu mais abertamente.

  Era como se uma veia estivesse estourando no rosto da outra mulher, mas esta esforçava-se para remanescer calma. Apenas apontou um dedo por cima do ombro de Mamoru, diretamente para Unazuki e disse:

- Quero ver quanto tempo você aguenta. Toda minha paciência com as manias de Mamoru só ganhou uma recompensa: chifres.

  Antes que Unazuki pudesse retrucar, contudo, a mulher saiu batendo cm o salto contra o chão até desaparecer. Restou àquela cair em uma gargalhada que assustava quem passasse por perto. Unazuki olhou para Mamoru, como se comunicando algo com esse gesto, e exibiu a língua na direção que a mulher havia seguida pouco antes. Usagi achou que ela estava pronta a fazer ou falar mais, mas Mamoru a puxou para mais perto antes disso.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Usagi parou a narração do presenciado e exibiu um sorriso de triunfo, levantando um dedo para o ar.

- Que coisa feia – disse estalando a língua algumas vezes – fingindo que está traindo a namorada pra terminar com ela. Não sabia que você era tão covarde! E o namorado da Unazuki sabe dessa armaçãozinha? Motoki também te mataria se soubesse que tá usando a irmã dele pra limpar suas sujeiras. E que ela ainda levou um tapa por sua culpa!

  Mais satisfeita ainda ela se sentiu ao observar a garganta de Mamoru se mexer enquanto a ouvia. Para cima. Para baixo. Usagi aproveitou o momento para recuperar seu sapato e calçá-lo. Ele nem sequer protestou, engolindo diversas vezes enquanto parecia escolher suas próximas palavras.

- Ainda prefiro recusar essa proposta absurda.
- Não pensou em tudo o que tem a ganhar? – Usagi ergueu as sobrancelhas, fingindo confusão. – Seus pais ficariam tão tristinhos se soubessem do que aconteceu...
- Agora vai me chantagear com meus pais?
- Bem, só estou dizendo o que eu ouvi!

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  A agitação de antes parecia já arrefecida quando Unazuki voltou-se para Mamoru e perguntou:

- Não quer mesmo ajuda com os seus pais?
- Eu cuido deles. – A expressão não parecia nada convincente para ilustrar a resposta, mesmo para alguém apenas o observando à distância, como Usagi.

  Mas Unazuki assentiu.

- Se acha melhor assim.
- Agradeço muito sua ajuda até aqui. – Mamoru lhe sorriu de uma forma que Usagi não se lembrava de já haver visto antes.

  Ele parecia até... humano. E um bem atraente. Era tal como aquela mulher de antes ficara mais bonita quando endireitou a postura em vez de se arquejar como um monstro pronto para o ataque.

  Sofrendo ainda mais os efeitos daquele sorriso direcionado para si, Unazuki corou levemente antes de balançar as mãos.

- Disponha sempre que alguma mulher não quiser cair fora! – respondeu apressada e embolando uma sílaba na outra. Ela parou um pouco para inspirar fundo. Após soltar o ar, acabou por perguntar de novo: – Tem mesmo certeza? Sei que está preocupado com eles. Digo, o meu irmão sempre fala de como você se preocupa com eles e...

  Mamoru a interrompeu, seu dentes aparecendo ainda mais.

- Acabarei cedendo – disse – se continuar insistindo assim. Então, é melhor não perguntar de novo.

  Mas a expressão que ele fez ao virar o rosto para longe de Unazuki, e justamente para a direção onde Usagi estava, não parecia nada resolvida sobre o assunto. O sorriso bonito de antes havia cedido a várias curvas de expressão na sua testa.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

- Afinal, onde você tava pra ouvir e ver tudo isso? – Mamoru perguntou quando Usagi encerrou sua narração.

  Ela se resumiu a rir obliquamente.

- Tentado ou não – ele continuou –, eu não vou mentir pros meus pais. Em que espécie de bom filho isso me faria?

  Usagi bufou ao ouvir aquilo. Então, clicou a língua algumas vezes e direcionou um sorriso para ele.

- Ai, você não ouviu nada do que eu te disse? – perguntou ela, bufando de ansiedade. – Eu perguntei se você aceitava ser meu namorado e não fingir. Sinceramente, depois eu sou a que tem vento na cabeça!

  Dessa vez, Mamoru não gargalhou após ouvir a sugestão.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Usagi não conseguia acreditar que estava atrasada para o primeiro encontro de sua vida. Não apenas isso. O perfume que havia passado com o maior cuidado para não parecer perfume já havia perdido o cheiro. Seu cabelo estava ondulando em vários pontos e não queria ficar no lugar. Algumas mechas ainda teimavam em virar para pontos estranhos. Não queria nem olhar para a sua roupa, agora amarrotada de tanto que ela corria.

  “Um encontro!” Mamoru havia lhe dito após muita insistência. “Nós saímos, fazemos o que você quiser e é só. Nem pense em se atrasar.”

  Ainda correndo em direção à pequena praça onde haviam combinado, Usagi inspirou fundo. Tinha que dar tempo. Mas ele nem estava a fim daquele encontro... Um atraso era o motivo perfeito para o Mamoru cair fora.

  Malditos monstros! Maldita Luna! Maldita Sailor Moon!

  Ela ia conseguir. Havia acordado oito da manhã para separar a roupa, garantir seu visual. Havia almoçado cedo e algo leve que não lhe causasse indigestão. Havia até conseguido o perfume emprestado com a mãe! Estava perfeita. Tudo daria certo. Até sua outra vida exigir atenção para derrotar um monstro em um ponto bastante fora de mão.

  Não podia ao menos ter sido depois? Ou durante, caso o encontro fosse o fracasso que provavelmente seria? Não que agora ela fosse ter algum...

  Já se contentava com ter que arrumar outra vítima quando avistou a silhueta de Mamoru, ainda de pé onde haviam marcado. Isso também foi quando Usagi voou por mais de um metro e caiu de barriga sobre a calçada.

- Ai... – reclamou, olhando para as palmas das mãos. Raladas. Seu vestido devia estar sujo, se não houvesse rasgado.
- A senhorita está bem? – perguntou um senhor que ofereceu o braço para ajudá-la a se levantar.

  Tão acostumada como apenas Usagi poderia estar com tombos daquela sorte, ela apenas aceitou agradecida enquanto tirava a poeira da roupa e da mão.

- Obrigada, eu estou bem – disse com a voz embargada do choro contido a todos que a observavam preocupados. Seus olhos não conseguiam mais ver Mamoru.

  Perfeito. Ela vira Sailor Moon, salva o mundo e se atrasa o tempo que isso tudo havia lhe custado, mais o transporte até o lugar do encontro, para perder tudo só porque havia levado um tombo. Não, de jeito nenhum! Engolindo de volta as lágrimas, ela se virou de novo até a praça e se preparou para correr por ali tudo e reencontrar Mamoru antes que ele realmente houvesse voltado para casa. Não permitiria perder aquele encontro amaldiçoado por conta de um tombo como qualquer outro que ela levava cotidianamente.

  Mas seguraram seu braço tão logo ela criou impulso, seu corpo voltou imediatamente ao mesmo ponto.

- Pra onde está fugindo, cabecinha de vento? – Mamoru a olhava de volta, ainda sem soltá-la.
- V-você aqui?
- Qual a surpresa? – Ele exibiu um sorriso afetado. – Diferente de certas pessoas, considero normal estar no nosso ponto de encontro na hora combinada.
- M-mas... – “Mas você não tava lá na frente e aí voltou pra casa porque cansou de me esperar de pé?” era o que ela queria perguntar. Contudo, o alívio de não haver perdido tudo a deixara rouca.

  Foi quando percebeu que os observavam curiosos o senhor de antes e mais algumas pessoas. Mamoru também pareceu tomar consciência disso naquele momento, pois se virou para o mesmo senhor e curvou um pouco as costas em reverência.

- Sentimos muito pelos problemas que causamos. Ela vai ficar bem.

  A mão enorme e quente de Mamoru forçou as costas de Usagi para que ela também se curvasse. Assim ficaram até a multidão se dispersar e ele quebrar aquele toque.

  Mesmo sabendo que havia acabado de ser tratada igual uma criança pequena a quem ainda se estava ensinando bons modos, a cabeça de Usagi só conseguia se concentrar naquela sensação estranha nas costas.

- E então? – Mamoru a olhava com uma carranca.
- Eu tô bem mesmo! – Usagi riu apesar de agora estar sentindo arderem tanto as palmas quanto um de seus joelhos. – Vaso ruim não quebra, né?
- Disso eu já sei. – Seu sobrecenho estava carregado enquanto ele a encarava. – Estava esperando suas desculpas para mim.
- Ah, isso?
- Sim. Isso. – Mamoru apontou para onde ela o havia enxergado antes de tudo acontecer. – Fiquei quase uma hora em pé para, de repente, te ver correndo que nem louca, empurrando todo mundo e aí fazendo voo livre até o chão da rua.

  Usagi se desculpou bem baixo. Não era sua culpa que ela tivesse que se apressar porque havia punido uns monstros malvados. Era Luna quem deveria estar aqui de quatro na frente dos dois, pedindo perdão por todo aquele inconveniente. Claro, seria pior ter que explicar uma gata falante e toda sua identidade secreta, por isso, ela apenas concordou em assumir responsabilidade daquela vez.

  Contanto que pudessem começar logo o primeiro encontro de sua vida!

  Pelo menos, Mamoru pareceu satisfeito e logo mudou para uma expressão... na verdade, Usagi estava tão acostumada com vê-lo bravo que quando ele sorriu para mudar de assunto foi que ela pensou em quanto aquela expressão descontraí que era mais assustadora. Guardando o comentário para si, ela apenas lhe sorriu de volta.

- Pensei em um lugar perfeito para irmos – ele disse por fim, apontando em uma direção. – Fica a uns cinco minutos daqui e parece ser a sua cara.

  Ela o seguiu curiosa com aquela descrição, mas o mistério não durou muito. Após entrarem por algumas ruas estreitas, uma pequena loja tornou-se visível. Na porta, o boneco de um porco redondo e rosa indicava que não havia tempo de espera àquela hora.

- Quando você disse que era a minha cara... – Usagi encarou trêmula aquele mascote da loja.
- Não é? – Mamoru lhe mostrou que as orelhas do boneco estavam no formato de um dango. – Uma coisa enorme, rosa, redonda e com dangos na cabeça. Não tive como não pensar em você quando vi.

  Usagi soltou um muxoxo.

- Você tá se divertindo esperando eu reagir, né? – ela disse, cruzando os braços. – Pois fique bem felizinho mesmo, vai precisar de ânimo pra me aguentar quando eu decidir que tá na hora de ir pra casa.

  Segurando a risada, ele assentiu e fez um gesto com as mãos para que entrassem.

  O clima de competição era bem o que Usagi já devia ter esperado de um encontro com aquela pessoa. Mas não era o que ela queria... Realmente havia acreditado que teriam um encontro. Por isso, era difícil conter o suspiro desanimado que soltou em segredo enquanto entravam.

  Ao menos, não estava chato ou estranho. Só não era o esperado. Bem, chantagear alguém a sair com ela nunca resultaria em um encontro de verdade.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Entre uma discussão e outra, aquele dia de castigo que Usagi havia decretado começava a acabar e o céu adquiria tons róseos. Enquanto caminhavam por um longo parque cheio de árvores, ela espiava Mamoru e tentava absorver tudo o que podia sobre ele.

  Decidira que aquele seria seu namorado logo após vê-lo recusar a proposta de Unazuki para fazer aquele teatro de serem um casal também para os pais dele. Mas Mamoru realmente parecia precisar de alguém, fosse qual fosse o motivo. E ela estava cansada de ver suas amigas conseguindo encontros e namorados enquanto nada lhe aparecia pelo caminho. Por que não? Poderiam sair por aí, beijar-se e...

- Do que está rindo aí sozinha? – Mamoru a encarava com a testa franzida.

  Usagi balançou as mãos e a cabeça repetidas vezes.

- Nada!

  Mesmo sem parecer convencido, ele não insistiu mais e seguiu com a caminhada. Poucos passos depois, a voz de Mamoru quebrou o silêncio quando brincou:

- Confesse que gostou daquele porquinho!
- Claro que não!
- Mas você nem queria sair de lá...
- Eu só queria um sorvete... você é tão pão-duro que nem isso.
- Ia era ganhar uma dor de barriga tomando sorte depois de três fatias de torta. Mais a minha metade que você catou.
- Você que disse que não ia comer mais.
- Claro. Do jeito que você olhava querendo meu prato, eu fiquei com medo.
- Mentiroso! Sinceramente. Com uma personalidade assim, não sei como você teve que inventar história pra fazer aquela mulher cair fora. – Usagi virou os olhos e fez uma expressão de nojo.
- Não é? – Mamoru lhe sorria em resposta. Então, passou a mão pelos cabelos e comentou: – Meu charme sempre foi do tipo que poucas compreendiam.

  Ela balançou a cabeça, mas nada disse.

- Ué, deixei você sem resposta?

  Usagi retorquiu imediatamente:

- Só me cansou mesmo. – E mostrou-lhe a língua. – Agora me compra algo que fiquei com sede.
- Compre você mesma. Fui chantageado pra sairmos num encontro, não pra ser seu pai. – Mamoru tentou lhe dar um peteleco na testa.

  Escapando da brincadeira, ela ainda disse:

- Nem poderia, agindo assim como um velho. Senta quietinho aí no banco que eu já volto, vovô. – E Usagi saiu correndo.

  Logo retornou com uma lata de suco gaseificado de frutas vermelhas em cada mão e um sorriso aberto no rosto. Estendeu uma das latas a Mamoru e explicou:

- Veja como sou melhor que você. Nem precisa me pagar. – E tomou o lugar no banco bem ao lado dele, mas ainda a uma distância segura.

  Ele aceitou a oferta sem questionar.

- É o mínimo depois de ter comido quase a loja inteira, né? – E abriu a lata com um dos dedos, causando um discreto estouro em razão do gás.

  Usagi se encolheu um pouco.

- Pagou porque quis – disse ela com os olhos já fechados.

  Mas... nada aconteceu. Chateada por seu plano maligno haver sido frustrado pelo destino – ela havia sacudido a lata de Mamoru com toda a força, mas o efeito talvez houvesse passado no caminho até ali –, restava-lhe apenas matar a própria sede.

  Foi apenas quando abriu sua lata e sentiu a mão ficar úmida enquanto um zunido machucava-lhe o ouvido que ela compreendeu. No curto caminho da máquina até ali, havia conseguido trocar as latas. Ou esquecer em que mão a de Mamoru estava? Ela nem sequer tinha certeza da trapalhada que se havia arrumado.

  O tombo de antes não havia conseguido fazer muito contra seu vestido novo, apenas o sujara de poeira e arranhara seu joelho. Mas aquele suco... Usagi se olhou para baixo, ainda segurando a lata possuída bem longe do corpo. Lágrimas rolavam de seu rosto e o som de choro saía instintivamente de sua garganta.

  No entanto, ela caiu em silêncio ao perceber com o canto dos olhos que Mamoru havia retirado um lenço de seu bolso. Como se a maior tragédia do dia não houvesse acabado de acontecer, seu rosto começou a queimar e ela tava pronta a aceitar a oferta com um imenso sorrido.

  E o lenço nunca foi direcionado a ela. Em vez disso, Mamoru limpou umas gotas violetas de sua mão e o guardou novamente sem dedicar um segundo para perguntar se ela também precisava.

  - Como pode ser tão desastrada, sua cabecinha de vento?

 Incapaz de conter a ira, Usagi gritou de volta:

- É tudo culpa sua! – Em seguida, levantou-se do banco e amassou a lata agora quase vazia. – Você venceu. Vou embora que já tá tarde.

  Antes de poder decidir para que direção era sua casa, ela ouviu um som de risada e olhou ameaçadora para Mamoru.

- Comemorando o fim do encontro?

  Sem respondeu à pergunta, ele também se levantou e fez um gesto como que para indicar o caminho.

- Eu te acompanho por uma parte.

  Usagi cruzou o braço e virou o rosto.

- Não precisa.

  Isso pareceu apenas aumentar a diversão de Mamoru, que soltou uma gargalhada.

- Minha roupa nova tá arruinada, e você fica aí como se estivesse num parque de diversões! – ela reclamou com a voz chorosa.

  Não mais apontando direção alguma, Mamoru pareceu lhe oferecer a mão, erguendo-a para ela. Mas Usagi não cairia naquele truque como acontecera com o lenço. Não mesmo.

- Vamos – disse ele –, não quer nem tentar andar de mãos dadas?

- Não mesmo – Usagi recusou, dirigindo-lhe uma careta de insatisfação e passou a andar na frente. Se ele quisesse, que a seguisse.

  Claro que sua pose não foi mantida por muito tempo após deixarem o parque e ela tropeçou no chão liso. Pensando bem, seu pé direito doía um pouco... Para evitar novo tombo como o de mais cedo, Usagi viu-se forçada a diminuir o passo. Logo acabou se igualando com o de Mamoru.

- Minha mão continua a seu dispor.
- Posso ter parecido, mas não sou uma menina fácil assim! – Ela parou de andar e apontou para o chão. – Eu posso ir sozinha daqui.

  Ele olhou confuso para as ruas, provavelmente não sabia qual seria a da casa de Usagi.

- Se algum dia quiser chegar à minha casa, vai ter que melhorar essas suas técnicas de conquistas. – Sorrindo divertida com as reações de Mamoru, ela acrescentou indicando também com os dedos: – Nota 3 pra você hoje.

  Mamoru seguiu olhando em silêncio para sua mão até que caiu em uma gargalhada mais alta que o normal.

- Não sabe mais contar, cabecinha de vento?
- Hã?

  Mas ele tinha razão, havia quatro dedos levantados naquele momento. De onde viera aquele ponto a mais?

- Que importa! – ela retorquiu, incerta se devia mesmo conter o impulso crescente de chutar a canela daquele ser irritante.

  E o desavisado ainda tomou vários passos para perto. Não possuía instinto de autopreservação? Não via que o pé de Usagi estava até tremendo de tanta que era a vontade?

  Uma pressão candente em seus lábios a fez esquecer o tombo, o lenço, os dedos, o próprio nome.

  Sua primeira reação ao se afastarem foi olhar de volta para conferir se era mesmo Mamoru quem lhe havia dado aquele beijo. Então, deu um giro completo e mais outro para ter certeza de que ninguém havia visto aquele beijo. Queria também voltar a cena até para saber se a beijada havia sido ela de fato.

  Era apenas absurdo demais o que acabara de acontecer ali. Não tinha como!

- Foi estranhamente divertido hoje – disse Mamoru com um sorriso que parecia longe de ser irônico. – Agora tome cuidado e vá direto para casa, cabecinha de vento.
- Não me chame assim; eu tenho um nome!

  Quando ele apenas sorriu divertido, ela acrescentou:

- E só vou logo porque tô toda suja. Não é porque você mandou! Se eu quisesse, poderia tá indo ver outro, sabia? Afinal, hoje só foi um encontro, nada além!

  Sabia que o havia dito para confirmar se estavam em um encontro. Após ser levada para comer torta e passear no parque, não havia pensado na possibilidade de Mamoru achar que aquilo fosse mesmo um. Até aquele beijo... Agora, Usagi temia realmente até desaprender a contar.

  Quando tudo o que Mamoru respondeu foi assentir sem mudar a expressão de quem assistia a um filme de comédia – e nem daqueles bons, apenas do tipo repetitivo que se vê para descansar a cabeça –, Usagi suprimiu um muxoxo e se virou para ir.

- Prometo que me comportarei melhor – Mamoru começou a dizer –, se você também não armar pra mim no próximo encontro.

  Ela o encarou de volta boquiaberta. Então, ele sabia que o acidente com a lata havia sido sua culpa?

  Como se lesse sua mente, ele próprio confirmou.

- A lata de graça, sua carinha toda convencida... – Mamoru abafou uma risada. – Estava bem óbvio.

  Ignorando o vermelho de frustração no rosto de Usagi, ele seguiu um caminho diverso e sumiu na próxima curva da rua estreita. Restava ela naquele lugar, com as mãos nos lábios ante a lembrança repentina de por que sua boca parecia diferente.

  Um beijo tão rápido, um “selinho”, era capaz de deixá-la assim tão atordoada?

  Enfim, Usagi se recordou.

- Ele disse próximo encontro? – Mas balançou a cabeça como se aquilo fosse capaz de limpar a expressão abobalhada que fazia. Por fim, tentou lembrar o caminho e voltar para casa ainda sem se esquecer daquele beijo.

  Ela havia sido beijada por Mamoru Chiba. E provavelmente, teria outro encontro com ele. Pelo qual ela ansiava tanto que sentia vertigem só de pensar no que poderia acontecer da próxima vez.

  “Será que ele mudou de ideia?” pegou-se pensando.

Continuará...

Anita, 15/02/2014

Notas da Autora:

Um mês e uns dez dias depois... do ano seguinte (^^;;;;) a quando comecei, aqui está a fic publicada! O que acharam deste novo projeto? Tomara que estejam gostando!

Comecei esta história porque minhas duas últimas fics longas de Sailor Moon foram bastante tensas. Uma ainda nem foi publicada (ou terminada), mas Minha Vida Existe Para Viver com Você já ilustra bem, e o clima da outra é por aí também. Com este projeto, eu quis recuperar um pouco as origens e este é o resultado.

Como era um retorno às origens, busquei alguns clichês de que gosto muuuuito e tentei dar uma abordagem mais ‘eu de 2015’ a eles. Surpreendo-me com constatar que isso não fez tanta diferença com o resultado, mas sempre podemos ver pelo lado positivo de que sou bem estável e meu eu de 2002 e meu eu de 2015 pensam igual? Tá, 2002 é voltar demais... Acho que eu não escrevi sobre isto em 2002, escrevi? Escrevi tanto Sailor Moon naquele ano que confesso não lembrar :X Saudades...

Antes de voltar ao assunto, relendo a cena final me lembrou incrivelmente de Minha Vida Existe(...)... Ai, ai... Peço perdão a vocês, pobres leitores. Vamos ver como será o restante da história, né?

Aliás, queria pedir desculpas ao pessoal que gosta das outras senshi, mas elas não aparecerão muito aqui... Quando fiz o planejamento, decidi deixar a história simples desta vez em vez do emaranhamento que foram as últimas duas. Isso acabou cortando muitas chances de elas aparecerem. Elas estão aí, mas não tanto. Prometo que quando eu publicar aquela outra fic parecida com Minha Vida Existe, elas aparecerão mais pra compensar! (se bem que Minha Vida foi realmente a fic em que mais as usei, de que me lembre).

Uma nota passageira, fiquei meses pensando num título e acabei chegando a este. Ele vem de uma música pop japonesa bem bobinha, ‘Suki ni Naccha Ikenai Hito’, ‘aquele de quem não devo gostar’, ‘alguém por quem não devo me apaixonar’, ou algo assim.

Feitas essas notas... se eu ainda tiver algum leitor, chegou a hora de implorar por comentários, rs. Mandem-nos, por favor! Eu adooooro!!! Não sabem o que dizer? Digam o que acham da Usagi, do Mamoru, de qualquer personagem que desejarem!

Para mais fics minhas, acessem meu site Olho Azul. Tem até umas que vocês não encontrarão em lugar nenhum! Aproveitando, faço o convite para que participem da comunidade no LiveJournal, onde propomos alguns eventos de escrita. No final do mês de abril, rolou a Semana Sailor Moon, consistente na publicação de uma fic inédita sobre Sailor Moon. Na verdade, a minha teve como enredo uma cena que planejei pra esta fic mas não aproveitei. E no final de junho teremos a Semana Olho Azul, aberta para qualquer fandom, venham! :D E fica o convite aos escritores, não é preciso conta no LiveJournal pra entrar. Venham, venham, venham!
 
E por enquanto acho que é isso, até a próxima!!

OBS: A linda capa foi feita pra mim pela talentosa Miaka-ELA, muuuuito obrigada!! Se alguém quiser uma capa, pode encomendar no email loucosporanime arroba hotmail ponto com

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