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[Sailor Moon] Por Quem Não me Apaixonar - Capítulo 6, escrita por Anita

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Título: Por Quem Não me Apaixonar
Autora: Anita
Fandom: Sailor Moon
Gênero: Comédia romântica, drama
Classificação: 14 anos
Status: sendo publicada
Resumo: Tsukino Usagi / Chiba Mamoru. Usagi presencia uma artimanha de Mamoru e percebe como lhes seria conveniente se os dois começassem a namorar. Quando o escolheu apenas por esse acaso, não fazia ideia de haver conseguido justo seu Tuxedo Kamen como namorado.

Notas Iniciais:
Sailor Moon continua não me pertencendo e eu não lucro nada nadinha com isto. Por isso, não hesitem deixar seus incentivos (como comentários, não dinheiro xD evitemos um processo, né?). ;) A capa linda desta fic foi feita pela Miaka-ELA, mil agradecimentos!!! ♥


Olho Azul Apresenta:
Por Quem
Não me Apaixonar


Capítulo 6 – A Mentira

- Depois de conversarmos, achamos que é melhor você evitar o Mamoru – concluiu Makoto, após relatar em detalhes as conversas que as três, Rei, Ami e ela própria, tiveram a respeito.

  No fundo, Usagi preferia acreditar ser mera coincidência o evento ocorrido dois dias antes no apartamento de Mamoru. Foi como se ele tivesse levado um choque de seu broche tão rápido fugiu da cama onde estavam ambos. Não queria se preocupar com o que Makoto lhe dizia agora. Na verdade, sua amiga só estava repetindo um parecer conjunto.

  Usagi encolheu-se sobre o chão ao lado da cama de Rei. Não esperava que a reunião no templo Hikawa tomasse aquele rumo. Sobre por que Mamoru lhe permitira e até ajudara ir ajudar as amigas no meio de um jantar com seus pais.

  Talvez por causa da expressão que Usagi fazia, Makoto se apressou para acrescentar:

- Nada drástico como terminar com ele do nada! Só evitar vê-lo, sabe? Não foi Motoki quem disse que ele não era de sair muito com as namoradas? A gente ganha tempo para investigar se ele poderia ser mesmo... você sabe... o Tuxedo Kamen.

  Usagi queria parar sua cabeça de juntar peças e montar todo um caso contra Mamoru. Devia contar aquela reação no apartamento? Devia mencionar como ele agira como um vampiro que quase tocou uma cruz?

  Não obstante haver se preocupado na noite, após aquela rejeição abrupta, era a primeira vez que pensava novamente no evento. Considerando o que acabara de ouvir, porém, aquela era uma informação mais pertinente que qualquer outra que já tivesse trazido a alguma reunião. Uma evidência sobre Mamoru ser a identidade real de Tuxedo Kamen.

  E ela não queria pôr em palavras. Ela não queria agourar as chances.

- Pensei que gostassem dele... – disse com a voz fraca, para depois perceber que isso em nada influía no fato de que Tuxedo Kamen era um inimigo.

  Sentia-se desnorteada. Ela também gostara dele. Mais que gostava de Mamoru, ao menos no início. Como se pudesse ainda saber de algo àquela altura.

- Mas a reação dele foi estranha com o comunicador – Makoto repetia o que havia dito logo no início da reunião.
- Não vou mentir – Rei interferiu. – Eu voto que ele a mandou ir embora porque era o jeito perfeito de deixá-la longe dos pais.

  Doeu em Usagi. Mesmo havendo percebido que Rei não o dizia no estilo sarcástico de sempre, mas como forma de diminuir a tensão que o pedido de Makoto havia causado.

- E se ele só tava se livrando mesmo de mim? – Usagi considerou a sugestão mais seriamente, evitando contato visual com Rei. Por mais que lhe fosse uma tábua da salvação, admiti-lo ainda não era tão fácil.
- Não estamos falando de ir lá e confrontá-lo – era Ami quem falava agora. – Mas precisamos de cautela. Ao menos, até localizarmos o Cristal de Prata. Ou entendermos de que lado Tuxedo Kamen realmente está.
- Poderia ser lucrativo invertermos a espionagem – notou Rei. – Quem sabe Mamoru não acaba liberando alguma informação? Acho que desconfiarmos que Tuxedo Kamen é apenas Mamoru e não um alienígena poderoso já diminui bastante o perigo.

  Usagi começou a gargalhar, fazendo suas amigas a olharem sem tempo de esconder a surpresa. Torceu para que não enxergassem também o desespero que causava aquele acesso de riso.

- É que tudo parece impossível! – explicou-se. – Como posso ser sortuda a ponto de namorar justo o Tuxedo Kamen?
- Agora que fala assim, lembro que um tempo atrás você mesma tinha achado eles parecidos – lembrou Rei pensativa. – E eu também acho que já tive a mesma impressão.
- Mas pense bem, não faz sentido!
- Usagi – Makoto a chamou, suas sobrancelhas arqueadas. – Pode até ser um pouco excessivo terminar com ele, mas tome cuidado.

  Ami assentiu com firmeza, como se repetisse aquelas palavras.

  Como não seguir o conselho depois que a dúvida de dois dias antes havia acabado de tomar forma mais definitiva? Usagi continuou a rir da boa piada que a hipótese poderia ser, mas seus olhos e sua mão voltavam a seu broche.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Iria ignorar o aviso, era o que decidira por fim. Claro, seria mais vigilante, mas para que evitar Mamoru?

  Após entregar o último trabalho, durante sua última aula, Mamoru estava finalmente de férias até o final do verão, e Usagi deliberou que comemorariam na lanchonete próxima à universidade dele. Ela o esperaria lá e, depois, pretendia convencê-lo a ir a algum shopping ou coisa parecida. Já havia percebido que era mais fácil mantê-lo em movimento que incluir todo o roteiro no convite para o encontro. No fundo, também tinha medo de planejar várias etapas e surgir qualquer emergência.

  Ainda que Mamoru houvesse se demonstrado compreensivo até demais com suas emergências muito mal explicadas.

  Não, não queria pensar nisso. Não precisava. Bastava ser cautelosa com o que dissesse. Como no meio de beijos ela revelaria o local onde guardavam os cristais arco-íris? Desde a reunião no templo Hikawa, sua cabeça voltava o filme de todos seus encontros e nunca falara nada demais sobre suas atividades paralelas. Não havia como falar, quando, oficialmente, ele nem sequer possuía conhecimento disso.

  Sim, estava segura. Manteria alguma desconfiança, prestaria mais atenção. Ainda assim, não se sentia alarmada. Tudo estava sob controle.

- Vai mesmo comer aqui? – Ele havia acabado de chegar e já encarava o prato de bolo que Usagi beliscava. – Achei que ficaria aqui só pra fazer hora enquanto eu não chegava.
- Claro que vou! – Puxando o prato para perto de si de maneira protetora, ela voltou a comer o bolo. Percebia que nem notara qual seu sabor até então. Mesmo sem motivo, a tensão a dominava. Está tudo bem, fique calma. – Com vergonha da sua namorada do ginásio?

  Ele exibiu um sorriso com um pouco de malícia.

- Normalmente, caras universitários preferem se gabar de ter uma.
- Ótima oportunidade! – respondeu ela, voltando a comer.

  Sentiu Mamoru observá-la um momento antes de pedir um copo de café gelado. Não estaria tudo escrito na sua testa, né? Não, estava tudo bem. Por que se preocupar? Era só um caso de amigas que não aprovavam o namoro e pronto, o motivo que não soava muito convencional com a coisa de ser um alienígena do mal. E elas nem eram seus pais para terem algum direito a interferir sua vida amorosa. Haviam expressado sua opinião de que não confiavam em Mamoru, e Usagi ouvira, analisara e provavelmente iria descartar.

- Fala logo o que foi. – Mamoru apontou para o prato na frente de Usagi. – Esse bolo ainda não tá nem na metade. – Havia uma ruga em sua testa, seus olhos ainda a estudavam.
- Nada não. – Podia até dizer isso a ele. Minhas amigas não vão com a sua cara.
- Está pensando na minha ex? – Ele levantou a sobrancelha, mas seu tom era inseguro. – Ela até passa aqui na frente pra ir pro trem, mas não é muito fã deste lugar. – Mamoru riu de leve. – Sinto muito estragar seus planos de esfregar nosso amor na cara dela.

  Igualmente forçando uma risada leve, Usagi balançou a cabeça.

- Era um ótimo plano – brincou.
- Mas não foi isso que te deixou tão distraída.

  Surpreendeu-se com a preocupação na voz de Mamoru. Bem, eles eram namorados, e ela estava demorando uma eternidade para comer o bolo. Era normal preocupar-se. Né?

- Talvez eu deva fazer uma dieta.
- Como? – A boca de Mamoru ficou aberta, seus olhos sobressaltados. Ficaria menos abalado se ela revelasse ser a Sailor Moon.
- Dieta. Emagrecer.

  Viu a mão dele passar por sobre a mesa e pousar sobre sua testa. Quente. Áspera.

- Será que preciso te levar num médico? – ele perguntou em tom apenas parcialmente de brincadeira.

  Usagi afastou-o de seu rosto com rispidez.

- Não tem graça – ela reclamou. Sabia que estaria mentindo, mas precisava mais engolir a real origem de seu comportamento. Para isso, precisava continuar falando; ocupar a conversa sem oferecer chances para qualquer outra. – A culpa é sua, sabia? Você saiu correndo de mim noutro dia com medo de ver o tamanho da minha barriga, né?
- Do que... – Ele pareceu lembrar, então estalou a língua e virou os olhos. – É uma cabeça de vento mesmo. E por que isso de repente? Faz quase uma semana aquilo!
- Você não compreende o coração de uma garota. – Era ela quem estava apenas parcialmente brincando agora. E sem querer tocando o perímetro do problema.

  Mamoru compreenderia seu coração de garota o bastante. Para entender que ele precisava se explicar. Dizer que não fugira por que lembrara estar prestes a levar sua rival para a cama.

  Secretamente, Usagi lhe implorava que usasse seu cérebro e lhe fornecesse logo uma explicação convincente. Negasse todas as desconfianças de suas amigas. Não importava mais a verdade.

- Pois acho que fui muito compreensivo, já que mal nos conhecemos ainda para um passo desses.

  Um silêncio. Não é isso, queria gritar de volta. Mas Usagi não sabia o que mais dizer para pressioná-lo, e Mamoru mantinha os olhos fixos sobre ela. Não era este o encontro que havia planejado.

  Esforçou-se para pegar um pedaço grande do bolo. Se terminasse a fatia e pedisse mais, poderiam fazer alguma piada sobre sua dieta e clima de encontro salvo. Mas havia exagerado no tamanho e sua boca ressecou antes de conseguir engolir. Não haveria espaço para beber do copo de água...

  Era uma chance. Optou por passar o vexame e tomou um amplo gole. Sabia que engasgaria. Logo veio um acesso de tosse, um pouco do colo caiu em seu prato, um fio de água lhe rolou o queixo.

  E Mamoru apenas lhe ofereceu guardanapo. Seu olhar fixo em cada movimento de Usagi.

  Oh, não...

  Após desfazer a confusão que provocara, ela empurrou para longe de si o prato ainda com um pedaço não tocado do bolo. Sentia ânsia de vômito só de imaginar colocando um farelo sequer na boca.

- Vamos andar um pouco antes do trem? – sugeriu ela com a voz rouca; sua garganta parecia machucada do incidente. – Por que não me mostra algum lugar daqui?

  Mamoru assentiu e pegou a conta da mesa para pagar sem dizer uma palavra.

- Podia, ao menos, narrar o caminho? – Usagi perguntou tão logo se viu em uma rua desconhecida.
- Não tem muito o que ver, só vamos para um pequeno parque.
- E por que é você quem tá agindo estranho agora?
- É recíproco.
- Podia ter rido. Quando me engasguei.

  Mamoru parou de andar e virou-se. Atrás dele, a dois minutos ou algo assim de caminhada, já era possível ver alguns brinquedos de criança sobre um terreno. O parque estava tão perto...

- E você podia me dizer por que resolveu falar daquilo assim de repente. Ficamos ainda mais de uma hora no meu apartamento. Devemos ter conversado mais de cinco horas por telefone desde aquele dia. Aí quando nos vemos, parece que estamos no meio de uma briga.
- Eu só queria entender. Foi estranho quando pensei melhor depois.
- Não. Alguém te disse alguma coisa.
- Claro que não! – disse com sinceridade, mas percebeu estar mentindo assim que fechou a boca. – Eu não falaria disso pra ninguém. – Tentava se convencer também.
- Aquele dia... nós... – Mamoru balançou a cabeça. – Isto tá ficando sério demais pra continuarmos desta forma.

  Usagi balbuciou sem emitir som. Sua cabeça se sentia debaixo de um temporal de pensamentos.

- Estou falando que isto que temos está ficando sério demais. Nem você pode mais ignorar, né?
- Não entendo, Mamoru...
- Você quer conversar, mas não quer. Não é a verdade?

  Apesar de tudo em si dizer a Usagi para negar, para mudar de assunto, para se jogar no asfalto e fingir que levara um tombo.

- Por que está falando assim? – ela perguntou com os punhos fechados.
- Porque batemos contra uma parede, e isso está me dando uma grande dor de cabeça, assim como em você. Agora me pergunte logo.

  Ela olhou para baixo. Os sapatos de Mamoru estavam tão próximos de seus pés... De repente, aquela visão pareceu nostálgica. Era o presente, era o que estava vendo naquele momento. Mas... no fundo... já sentia falta daquela distância. Lembrou-se de como, quando terminavam de beijar, ela costumava perceber que seus pés haviam se encaixado de alguma forma. Um ao redor do outro.

- Perguntar o quê? – Usagi levantou a cabeça a contragosto, mas logo voltou a olhar seus pés. Era impressão ou estavam alguns milímetros mais separados que pouco antes?
- Se eu já percebi. Vamos, pergunte.
- Não entendo.
- Está ficando boa em mentir.
- Eu realmente não entendo! – ela exclamou com os olhos ardendo. Pois, embora não entendesse, o conteúdo estava nítido e palpável. – Vamos pro trem – pediu, virando-se para o caminho de onde vieram. – Está ficando tarde já.
- Não vai anoitecer pelas próxima três, quatro horas. É verão. Temos todo o tempo do mundo pra esclarecer logo tudo.
- Está errado... – sua voz soava quebrada.

  Usagi não queria esclarecer nada. Ela só queria uma desculpa. Uma mentira mais inteligente que o que ela fora capaz de inventar para as amigas. Sentiu o calor de Mamoru aproximar-se de suas costas. Aquela sensação também lhe trazia um amargo de nostalgia.

- Não estou – ele disse incisivo.
- Está. Eu– Vamos esquecer tudo. Não quero mais saber.
- Sinceridade – disse Mamoru.

  Aquela palavra... Usagi podia até ver o sinal de aspas no que ele dizia, citando o que ela própria havia pedido na última vez que vieram àquela lanchonete.

- Vamos, Usagi. Vamos derrubar essa parede.
- Estou indo embora. – Começou a andar para longe. Suas pernas cambaleavam, e ela ordenou-lhes que não a fizessem cair.

  Em pouco tempo, Mamoru a alcançou e travou seu caminho.

- Eu sei, Usagi. Eu já sei desde que notei sua perna.
- Não! – Ela fechou os olhos, tampou os ouvidos. Mas os ecos da rua vazia repetiam-lhe a informação que não queria confirmar.
- Sinto muito... mas não dava mais. Não podíamos mais. Eu tentei. – Não podia vê-lo, mas conseguia imaginá-lo apertando os lábios, olhando de um lado a outro.
- Não...
- Por que está chorando?

  Abrindo os olhos, ela enxergou a imagem distorcida de Mamoru. Comprovação de que ela estava mesmo chorando. Suas pernas cederam, dobrando-se sobre o asfalto. Agora tudo o que via através das lágrimas eram os sapatos dele. Notou que seus pés mexiam desconfortáveis, apesar de Mamoru permanecer em silêncio.

- Está mentindo, né? – ela perguntou, quase pediu. Apesar do esforço para falar, havia-o dito tão baixo que pensou até que não fora ouvida.
- Não estou.
- Não! – ela gritou. Implorou. – Não era isso. Hoje não era sobre isso.

  Mamoru se agachou, pondo a mão sobre suas costas, acariciando o local. Usagi jogou seu corpo para o lado e fugiu do toque.

- Não devia ter dito isso. Não foi o que te pedi.
- Você queria saber.
- Não tem o direito de dizer o que eu quero! E agora? – Ela arriscou olhar para ele, mas nem toda a inteligência de Mamoru poderia lhe servir. – Não podemos mais nos ver – disse-o mais para si que para ele. Não havia mais o que dizer para ele.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Desde o início do namoro, Usagi não havia mais ti aqueles encontros por acaso com Mamoru na rua. Fazia tanto tempo de suas topadas acidentais que, no dia seguinte ao término, ela não sabia como reagir quando bateu com a cabeça bem nas costas de Mamoru ao voltar da escola. Um dia, nem vinte e quatro horas depois da cena próxima à faculdade dele. E tão cedo assim Usagi precisou decidir qual tipo de relação eles deveriam ter dali em diante.

- Olá – disse ele lentamente.

  Após Usagi nada responder, Mamoru fez um aceno com a cabeça para se despedir e voltou a andar. Não achava que pudesse sentir tanta falta de ganhar um sermão, ou até mesmo de ser chamada de cabeça de vento.

  Ainda restava contar a notícia para as amigas, mas não queria vê-las. E receber parabéns por algo assim? Imaginava que Motoki já o soubesse, por isso também evitou o salão de jogos.

  Em pensar que o namoro poderia ter acabado a qualquer momento... era o contrato. Mas seu peito estava tão pesado quanto se o mundo fosse desaparecer. Começar tinha sido tão fácil e repentino...

  Rodou todo o corpo para trás, queria ver de novo ao menos as costas de Mamoru enquanto ele se distanciava. Tarde demais, ele já tinha virado alguma esquina e sumido de seu campo de visão. Como não havia nada que fazer em casa, nem iria ao salão de jogos, Usagi arriscou correr para encontrá-lo. Em vão. Mamoru havia desaparecido da mesma forma que surgira do nada à sua frente.

  Agora que lembrava... eles não estavam andando para a mesma direção antes da topada?

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Gostava de pensar em si mesma como alegre e despreocupada. Havia vezes que, porém, considerava que os adjetivos representavam apenas a opinião dos outros sobre sua personalidade. No fundo, ela possuía várias inquietações que, embora fossem banais para a generalidade, lhe tiravam o sono. Por exemplo, houve noites em que acordara após um pesadelo de que nunca conseguira se casar. Mamoru teria zombado se lhe contasse. Por isso, também se perguntava se inquietações banais podiam contar, se para ela fossem importantes.

  Usagi caiu no riso, interrompendo a reunião a qual ela não estava mesmo ouvindo.

- Algum problema? – Rei perguntou com as sobrancelhas carregadas.
- Continue, continue! – ela pediu, fazendo também sinal com as mãos.

  Sentiu o olhar de Makoto sobre si e não pela primeira vez.

- Usagi... – Makoto pareceu enfim querer perguntar o assunto evitado a todo custo até ali.

  Não era a primeira reunião desde quando lhe advertiram sobre a possibilidade de Tuxedo Kamen ser Mamoru, nem mesmo desde que ela o confirmara. Até hoje, contudo, Usagi não mencionara nada às amigas dos desdobramentos.

- O que houve? – Rei pareceu notar o tom preocupado de Makoto e olhou de uma para a outra. – Por que falou o nome dela assim?
- Não percebeu que ela não anda nada bem?

  Usagi sentiu agora os olhos de Rei estudando cada detalhe de seu rosto.

- Não tá fazendo nenhuma dieta sem noção, né? – perguntou-lhe Rei.
- Claro que não! Me deixa em paz com os meus quilos!
- Esse é o problema, você emagreceu ultimamente.
- Nada disso, tenho até comido mais! – disse sem ter certeza. Não era como se o término tivesse lhe roubado o apetite, mas agora que Rei mencionava, sua roupa andava cabendo mais fácil.

  Não, nem fazia tanto tempo assim que terminara. Uma semana. Oito dias? Em algumas horas completariam oito. Parecia mais que isso, a bem da verdade. Assim como parecia que vinha dando de cara com Mamoru em todos aqueles dias subsequentes. Que azar, aguentar um namoro no período de provas para terminar justo quando ele entrava de férias. Poderiam sair em encontros todos os dias agora.

- Vocês tinham razão. – E Usagi acabou contando a versão resumida dos fatos. Quando terminou, teve que acrescentar: – Não é engraçado?
- Usagi... – Makoto repetia a palavra no mesmo tom de antes.
- Tá tudo bem! – Talvez estivesse mesmo, não era o fim do mundo. – Eu não tinha dito nada antes, não estávamos juntos porque nos amávamos nem nada assim.
- Isso era meio óbvio, o que o Mamoru ia querer contigo? – Rei virou os olhos.
- Não! Eu acho que ele não sabia no início! Fui eu quem sugeri namorarmos e ele nem queria. – Então, explicou os termos do contrato. – Acho que pode ter sido uma coincidência só. Não fosse meu pé machucado, ele nunca teria descoberto, acho.

  Rei cruzou os braços.

- De fato, não há como saber – disse Ami, participando pela primeira vez da conversa.
- Acho que ele é quem pensa que fiz isto tudo pra espioná-lo. – Usagi baixou a cabeça.

  De repente, um cheiro agradável a envolveu com o calor de um abraço.

- Rei... – ela balbuciou pouco antes de sentir Makoto e Ami juntarem a elas.

  As quatro permaneceram assim até Usagi enfim tomar coragem de falar a ideia que lhe seguia desde quase oito dias atrás.

- Preciso de um tempo, meninas. – As palavras lhe machucavam mais que imaginava. – Eu não consigo mais... ser Sailor Moon.

  Esperou quem seria a primeira a desfazer o abraço e esganá-la, mas foi a voz de Luna quem rompeu o silêncio:

- De jeito nenhum. Você–
- É uma boa ideia – Rei disse contra todas as expectativas de Usagi.

  As três se afastaram aos poucos e a olharam tão firmes que Usagi sentiu os olhos se encherem de lágrimas. Era como se a houvessem abraçado de novo com aquele gesto.

- Posso mesmo? – perguntou piscando para ter certeza de que não era miragem.
- Como fariam isso? – Luna perguntou estridente. – Sem Usagi, não conseguiremos que o Cetro Lunar–
- Daremos um jeito, Luna – respondeu Makoto confiante.
- E antes disso, que tal aproveitarmos o final de semana e irmos para algum lugar longe? – sugeriu Rei, arrancando olhares confusos das demais. – Não tão longe! – E acrescentou uma piscada para acalmar as reações.
- Só o bastante pra dormirmos por lá? – perguntou Makoto ainda não convencida.
- Mas estamos no meio das provas. Por que não esperamos as férias? – Ami sugeriu, sua testa franzida.
- Porque agora é a melhor hora! – disse Rei com o indicador levantado, seus olhos fixos em Ami. – Podemos levar nossos livros e passar o fim de semana estudando por lá.
- E esquecer todo o resto – Makoto adicionou, também piscando o olho para Usagi.

  Luna grunhiu, quase soando como se lhe tivessem pisado o rabo. Mas nada nada disse.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Não havia encontrado Mamoru no dia anterior. Queria vê-lo, mesmo sem assumi-lo para mais ninguém. A ideia de uma viagem parecia animadora quando Rei sugerira, mas horas depois notou o significado de com que concordara: naquele lugar, enterraria as cinzas do que houvera e retornaria a ser a Sailor Moon.

  A dois dias de partir, precisava reencontrar Mamoru. Um pisão no pé dele bastava. Ela também aceitava levar um tombo colossal, nem usaria as mãos para amparar-lhe o corpo. Tudo bem ralar-se toda sobre a calçada. Só queria vê-lo.

  Levantou a cabeça para ler o letreiro que sempre ignorava. Tantas vezes visitara o salão de jogos que havia muito que não olhava mais sua entrada. Foi enquanto permanecia parada, mentalizando as razões por que viera que a porta abriu à sua frente. Primeiro, pensou havê-lo provocado, ficando ali de pé. Mas logo percebeu uma pessoa sair do salão. Uma mulher familiar.

  Fechou as mãos em punhos e prendeu a respiração.

  A ex-namorada de Mamoru também interrompeu sua saída para estudar Usagi, seus olhos percorrendo dos sapatos até o laço do uniforme.

- Boa tarde – disse-lhe a mulher.

  Despreparada para tal reação, Usagi esqueceu como falar. Seu pescoço parecia precisar de óleo tão duro o sentia para ao menos acenar à mulher. Esta lhe acenou de volta, seus movimentos bastante mais naturais. Enfim, passou por Usagi e foi embora.

  Vendo-se novamente só, frente às portas abertas para o salão, sua cabeça caiu na direção do piso, livre daquela tensão. Soltou o ar com o alívio de quem não respirasse havia horas. Só agora se dava conta das batidas dolorosas contra seu peito, das pequenas gotas de suor por sua nuca.

  Ao endireitar o pescoço para continuar em seu caminho, seus olhos encontraram o blazer verde, os olhos azuis de Mamoru. A porta do salão não havia remanescido aberta porque Usagi estava ali, mas porque outra pessoa saía junto com aquela mulher.

  Diferente de todas as vezes que o vira desde aquele dia, quando mal pronunciara uma palavra, foi ela a iniciar a conversa desta vez.

- Eu não devo ter o direito de saber, mas... – Queria pensar que isso se devia a já estar se acostumando com o estado em que ficaram as coisas. Mas devia ser em razão de o encontro com a mulher haver antecedido aquele. – Vocês estão juntos de novo?
- Está certa – Mamoru respondeu baixo, sua voz até parecia rouca. – Não tem mais o direito. – Passando por ela, ele parou novamente quando já estava fora de seu campo de visão, a porta já fechada atrás de si.

  Naquele momento, havia apenas os dois no mundo, pois Usagi não ouvia os sons da rua, apenas suas batidas do coração e a respiração entrecortada de Mamoru.

- Mas não estamos – ele respondeu finalmente. – Por que faria algo assim? – E seguiu por direção oposta à da mulher.

  Por muito tempo, ela ficou ali de pé. Não deu qualquer passo para abrir a porta do salão, ou mesmo para liberar a calçada aos transeuntes. Eles que desviassem.

  Era para se sentir aliviada por ouvir isso, no canto de sua mente repetia-se. Mas Usagi se ocupava mais imaginando por que, então, haveriam se encontrado no salão de jogos. Aquele mulher não frequentava ali. Também queria saber mais, se Mamoru estava bem. Se ele a odiava... e o que seria deles dois. O que eles fariam daquele destino cruel se continuarem a se ver todos os dias.

  E por que ele não a fazia desistir da ideia de esquecê-lo?

Continuará...

Anita, 11/03/2015

Notas da Autora:

Este é o antepenúltimo capítulo da história e a coisa só desandou, né? O que estão achando?

Sei que tenho demorado com as postagens, mas confesso que andei desanimada nos últimos tempos, então acabei me distraindo com outras coisas, *cara-de-pau* Aí, de repente, recebi um comentário na FFN me pedindo para continuar. Normalmente, minha reação a esses comentários é de: acabou as férias, mãos à massa pra revisar logo o capítulo e publicar. Desta vez, teve um pequeno porém.

Cara leitora do comentário anônimo – ou leitor... estou apenas presumindo coisas aqui –, eu lhe devo enormes desculpas não simplesmente porque demorei. Mas porque eu tenho certeza de que, ante as suas circunstâncias atuais, minha história não deve ter te ajudado em nada, né? Eu sinto muito mesmo!

Foi a primeira vez em que me vi numa situação de considerar prender mais o capítulo porque alguém me pediu para publicar mais... é uma infeliz coincidência seu pedido vir justo neste momento de virada da história. Sinto muitíssimo.

O que posso fazer é tentar ir mais rápido com os seguintes pra resolvermos logo essa bagunça que os dois criarem, né??

Ninguém me abandone antes disso! E até a próxima. :D

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