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[Sailor Moon] Por Quem Não me Apaixonar - Capítulo 7, escrita por Anita

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Título: Por Quem Não me Apaixonar
Autora: Anita
Fandom: Sailor Moon
Gênero: Comédia romântica, drama
Classificação: 14 anos
Resumo: Tsukino Usagi / Chiba Mamoru. Usagi presencia uma artimanha de Mamoru e percebe como lhes seria conveniente se os dois começassem a namorar. Quando o escolheu apenas por esse acaso, não fazia ideia de haver conseguido justo seu Tuxedo Kamen como namorado.

Notas Iniciais:
Sailor Moon continua não me pertencendo e eu não lucro nada nadinha com isto. Por isso, não hesitem deixar seus incentivos (como comentários, não dinheiro xD evitemos um processo, né?). ;) A capa linda desta fic foi feita pela Miaka-ELA, mil agradecimentos!!! ♥

Vamos ao penúltimo capítulo?


Olho Azul Apresenta:
Por Quem
Não me Apaixonar



Capítulo 7 – A Traição

  Um sonho havia se tornado recorrente desde que terminara com Mamoru. Ele abertamente a acusava de sugerir o contratá-lo para obter os cristais arco-íris e dizia que nunca mais gostaria de vê-la. Em algumas noites, Usagi o acusava de volta, que era ele quem jogava sujo de repente tendo se revelado um inimigo depois de salvá-la tantas vezes. Noutras noites, eles chegavam ao acordo de fingir que não sabiam de nada e voltarem juntos, mas doía ainda mais.

  Se pudesse voltar ao tempo, permaneceria na dúvida. A partir do momento em que Mamoru e Tuxedo Kamen se confirmaram como a mesma pessoa, a relação não podia mais ser salva. Era como seus sonhos ressonavam.

- Vocês conversaram? – Motoki veio buscá-la na porta do salão de jogos minutos depois que Mamoru já havia saído. Ele os tinha visto juntos, provavelmente.

  Usagi balançou a cabeça, sua unha ainda cravada na palma das mãos.

- Venha, vou te fazer um chocolate quente! – Ele lhe deu um sorriso, e Usagi quase pulou para um abraço. Doce era a única cura por agora. Mas Motoki já virara de costas, entrando sem mais palavras.

  Uma vez na pequena salinha reservada a funcionários, Usagi observou a xícara com a bebida prometida e levantou os olhos a Motoki.

- O Mamoru tá muito mal – ele disse sem mais rodeios. Pelo alívio que estampava no rosto, parecia haver falado o que contivera com muito custo. – Eu nem acreditei quando soube. Dois meses já era um período considerável e você até conheceu os pais dele. Por que, Usagi?
- Não diga como se fosse culpa minha – ela respondeu em um tom cortante que nem ela acreditava ser capaz de produzir.
- Não é? Ele não se daria ao trabalho de terminar, a menos que tivesse sido traído.

  Os olhos de Usagi se esbugalharam com a frase.

- Como pode pensar isso? – ela perguntou ofendida.

  No fundo, uma voz a perguntava se não seria o caso. Mamoru havia sim tido participação ao terminarem. Porque ele se sentia traído. Mas de que adiantava correr atrás e dizer que ela não fazia ideia de sua identidade? De toda forma, Usagi também se sentia traída por aquele destino estranho que brincava de entrecruzar o caminho dos dois.

- É porque nem cogito isso que quero saber por que terminou tudo. – Motoki se sentou também e pôs as mãos na cabeça. – Eu fui meio contra isso de ele namorar justo minha irmãzinha. E agora que vocês tavam me provando o contrário... Não gosto de ver meu amigo assim. Nem sei que fazer. Não é o normal, entende? Aliás, eu nem entendi nada. – Ele pousou o olhar de novo sobre Usagi, seus lábios contraídos. – Realmente, não tem como consertar?

  A cada dia que passava, ela tinha mais certeza de que não.

  Bem ali, começou a chorar tudo o que ainda não havia conseguido.  Embora reconhecesse a gentileza de Mamoru ao “se dar ao trabalho” de terminar com ela, não estava pronta ainda para agradecer.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Quando Usagi pediu por um tempo de ser Sailor Moon, não era mais porque odiasse a parte de si que causara seu estranhamento com Tuxedo Kamen. Sim, a ideia nascera dali, mas logo notou que seu estado era um perigo para suas amigas. Porque, muito mais que antes, não conseguia ainda ver aquele homem como um ser perigoso.

  E não imaginava que o encontraria tão logo, no meio da mata próxima à pequena hospedagem aonde fora justamente se esconder dele.

  Saindo em um dos primeiros trens de Tóquio e após várias transferências e um ônibus, Usagi, suas amigas e Luna haviam encontrado o minshuku em que reservaram um quarto poucos dias antes. Lá passariam o final de semana. À exceção da distância, do calor úmido do verão, das anotações que pesavam inutilmente em sua mala – Ami fizera questão de conferir que todas haviam trazido seus livros, já que todas estavam ali para estudar. Na opinião dela.

  O minshuku era gerenciado por uma senhora simpática.
 
  Ela estava sendo especialmente amigável com Usagi. Quando a encontrou andando sozinha na área externa da hospedagem, pouco tempo após ogrupo chegar, a senhora lhe ofereceu um pedaço de melancia para comerem na varanda da enorme casa. Contou-lhe que havia perdido o marido havia em torno de cinco anos e, por muito tempo, deixou o minshuku fechado, apenas esperando a hora de se reunir com o falecido. Com o passar das estações, notou que sua vida ainda continuaria por muito e retomou o trabalho a que sempre se dedicara.

- Mas, nossa! Não é muita coisa limpar isto tudo sozinha? – Usagi comentou, já em seu segundo pedaço de melancia. Encontravam-se as duas sentadas lado a lado, como se fossem neta e avó.
- Não, não. – A senhora sorriu, balançando uma das mãos. – Um rapaz que mora no anexo me ajuda. Na minha idade, não conseguiria aparar essa grama toda e a casa sumiria com o mato, né?

  Usagi olhou ao redor. Nada além do verde da grama curta cercando e as árvores, exceto pelo pequeno caminho de terra que levava ao ponto de ônibus na rodovia a dez minutos dali.

- Uau, até pra ele deve ser um trabalhão – disse, sentindo sono só em pensar. Deitou-se sobre a madeira, com a cabeça para dentro da casa e contemplou o teto sem qualquer atenção.

  Pensou ali em como se tornava fácil esquecer Mamoru, quando não havia risco de encontrá-lo na próxima esquina. E notou que, exatamente ao pensar assim, seu coração se apertava com a impossibilidade vê-lo de novo até seu retorno no dia seguinte.

  Droga.

  Mas não era como ocorria com a senhora. Usagi ainda podia encontrá-lo. Ao mesmo tempo, sentia compreender com exatidão a saudade permanente sobre que aquela senhora lhe havia contado. Balançou a cabeça. Não precisava exagerar tanto aquele coração partido. Ainda sofreria outros mil; não podia ficar comparando cada vez dessas com a morte. Era um desrespeito aos sentimentos da senhora.

  Fechou os olhos e percebeu que já sonhava. Acordara cedo demais, não era surpresa dormir sem qualquer esforço. Talvez porque houvesse sonhado com ele naquela noite, desta vez tivera um sonho mais normal. Não que o lembrasse direito quando acordou em um sobressalto.

- Aí está você! – A senhora havia se levantado da escada e andava apressada na direção de um homem com boné, parado de pé entre as árvores. – Não o via desde ontem à noite, e nossas hóspedes já chegaram, olhe – dizia ela, o tom um pouco bravo, mas nada assustador.

  Usagi sorriu com a cena familiar, ou talvez fosse pelo sonho de que não mais se lembrava. Notou que o homem segurava uma máquina, provavelmente um cortador de gramas. Ele realmente pretendia usá-la agora?

- O que houve, não vai nem se desculpar? – A senhora já o havia alcançado e ficou ali inerte. Usagi não entendeu por que, podendo ver apenas as costas da mulher, mas o homem não parecia prestar atenção no que lhe fora dito.

  Ele parecia um boneco, estacado como estava. Uma parte sua ainda se irritou com aquela apatia com a pobre senhora e quis fazê-lo ver o que eram bons modos. Outra parte, porém, já sabia o que tinha ocorrido.

- Cuidado! – ela gritou tarde demais para a senhora, que foi arremessada ao chão pelo mesmo homem de boné.

  Usagi olhou para dentro, desenhando um mapa mental da localização de cada uma de suas amigas. Mas não precisou se mexer, Sailor Mars apareceu no instante seguinte e lançou seu golpe contra o homem-monstro.

- Oh, não! – chorou a senhora ao vê-lo em meio a chamas. – Não o machuque, por favor! – Ela se rastejou sobre a grama.
- Usagi, cuide dela. – Jupiter havia acabado de chegada, acompanhada de Mercury, e as duas apontavam para o interior da casa, de onde Luna agora observava o conflito. – Vão!
- Mas e meu menino? – a senhora perguntou com lágrimas sobre a face. – O que houve com ele? Salvem-no...
- Elas vão salvá-lo! – Usagi disse firme, depositando as mãos sobre os ombros da senhora.
- Você promete? Por favor... ajude meu menino...
- Confie nelas, são as melhores!

  Mas logo percebeu que o salvamento não seria possível apesar de toda a habilidade de suas amigas. Precisavam do cetro lunar. Apressou a senhora até o cômodo mais distante a que pudesse chegar e a fechou lá sem dar explicações.

  Tinha que pensar no que fazer agora. Não estava preparada para sequer se transformar durante a viagem, muito menos trouxera o cetro em sua bolsa. Talvez conseguissem enfraquecer o monstro a ponto de amarrá-lo e aí ela buscaria tudo em casa? Mas seriam tantas horas até sua casa e mais outras para voltar... Se houve ainda algum ônibus até ali àquela hora.

  Enquanto tentava se recordar da tabela que vira no ponto bem longe do minshuku, percebeu Luna perto de seus pés. O cetro e o broche quase caíam de sua boca.

- Mas como? – Usagi os pegou boquiaberta.
- Notei que os havia esquecido e coloquei na sua bolsa. Como sempre. – Seu tom era o de costumeira reprovação.
- Obrigada, Luna. – Ela acariciou a cabeça da gata e gritou as palavras para a transformação. – Agora podemos salvar aquele moço!

  Embora parecesse prestes a sufocar novamente naquele uniforme, Usagi apertou forte o cetro na mão e correu de volta ao jardim lateral da hospedagem. Uma árvore havia recebido tantos choques que podia cair a qualquer momento, mas os demais danos não deviam ser tão graves para seu alívio. Não costumava se preocupar os estragos de uma batalha, mas a pobre senhora não teria condições de consertar nada.

  Tomaria cuidado, decidiu ao jogar sua tiara sobre o agora monstro em que o homem havia se transformado. Ele evitou o golpe lançando seu aparador de gramas, que abriu enormes destes para mastigara tiara e cuspi-la ao chão. Tanto a máquina quanto seu dono pareceram crescer com a energia.

- Sailor Moon! – ouviu Jupiter lhe chamar o nome com alegria.
- Que bom que veio – disse Mercury.

  Sailor Mars resumiu-se a exibir um sorriso, antes de lançar mais um ataque sobre o oponente.

- Ele parece estar enfraquecendo – Mercury informou após consultar as leituras em seu visor. – Precisamos continuar, pois cada golpe que impede, ele se recupera.

  Apertando o cetro lunar em sua mão, Usagi avançou com um chute sobre o monstro e aproveitou para recuperar sua tiara logo após derrubá-lo. Seguindo o aviso de Mercury, Jupiter não perdeu tempo e também invocou seu ataque.

  Arrastado até a base de uma árvore pela força do golpe, o monstro parecia menor que antes e as olhava desnorteado.

  Usagi sorriu. Era hora de retornar à senhora o que lhe haviam tirado!

- Cura lunar! – gritou todo o ar de seu diafragma.
- Não! – Mercury exclamou quando a energia já tocava o monstro.

  Não compreendeu imediatamente o que a amiga quisera dizer. O formato do moço de antes aparecia no meio da luz do cetro lunar. Tudo voltaria ao normal, como sempre.

  Usagi sentiu um peso contra suas costas. Um calor humano. E ouviu algo como um urro, que não soava nada como a voz de suas amigas. Nem poderia ser elas; conseguia contar todas em seu campo de visão. E todas olhavam com olhos esbugalhados para o dono daquele peso.

  Quando virou-se enfim, um brilho explodiu e a primeira distinção feita por seus olhos foi de um aparador de gramas desabar no chão. Então, olhou para baixo, onde algo mais havia também acabado de cair.

- Mamo– começou a exclamar, mas logo corrigiu-se em uma interrogação: – T-Tuxedo Kamen?

  Antes de pensar no que significava o vermelho sobre a blusa branca de Tuxedo Kamen, ela se ajoelhou a seu lado e buscou seu olhar.

- O que faz aqui? – perguntou com a voz rouca, recusando-se a entender como ele poderia ter se machucado tanto.
- Usa...gi... – Tuxedo Kamen balbuciou.
- Não o deixe dormir ainda! – Mercury gritou. Logo após, cancelou sua transformação e correu até os dois. – E pressione contra o ferimento.

  Suas outras amigas também a seguiram.

- Cuidem daquele homem, acho que ele também mora aqui na estalagem – Ami disse a Makoto e Rei. Apontou para o ajudante da senhora, este ainda desacordado. – Leve-o para dentro e chamem a dona daqui. Precisamos tratar esse ferimento do Mamoru.
  Enquanto observava Ami remover a máscara e a capa de Tuxedo Kamen, Usagi só pôde continuar com as mãos sobre o que agora revelava ser seu Mamoru, apertando trêmula o lugar de onde mais saía sangue.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Ouviu Mamoru gemer.

  Agora desperta, Usagi sentou-se sobre o futon e olhou ao redor do quarto escuro. Havia dormido, mas não por muito tempo. Apenas alguns raios de lua iluminava as figuras adormecidas de suas amigas. Ela procurou por Mamoru, mas ele não estava lá. Claro, havia ficado em um dos quartos vagos do minshuku e não quisera que ninguém o acompanhasse à noite. As paredes eram finas o bastante para ele só precisar pedir por ajuda, caso precisasse de alguém.

  Silêncio...

  Sonhara com aquele som de dor? Coçando a cabeça, Usagi continuou a aguçar os ouvidos. Mas não ouviu mais nada. Havia sonhado mesmo.

  Baixou o olhar para as mãos. Tomara um longo banho no ofurô e esfregara até ver risquinhos de seu próprio sangue. Ainda assim, podia sentir o calor de Mamoru sair pelo ferimento que sofrera ao protegê-la de um último ataque furtivo do inimigo.

  Idiota. Por que fizera aquilo?

  Ela se levantou e saiu do quarto, cautelosa para não acordar nem mesmo Luna.

  Por sorte, a senhora não havia feito muitas perguntas sobre o homem que aparecera ferido do nada. E o moço que a ajudava na hospedagem também parecia bem, mas sem qualquer lembrança das últimas vinte e quatro horas. Isto também era bom.

  Usagi percebeu-se na frente do quarto de Mamoru. Sua mão sobre a porta, pronta a deslizá-la.

  Após ajudar a levá-lo para dentro após a batalha, Usagi fugiu para o quarto, pegou uma muda de roupas e escondeu-se na sala de banhos. Não podia vê-lo. Temia ser incapaz de manter sua decisão se o visse daquela forma e por sua culpa.

  Como o ferimento não era tão grave quanto parecia, Ami disse que talvez não fosse necessário um hospital. Àquela altura, todas estavam já acostumadas com perder um pouco de sangue, e o mesmo devia servir para Mamoru. Disseram que ele também parecia aliviado com a opinião de Ami. Hospitais geravam perguntas e dores de cabeça.

  Ainda de pé em frente ao quarto dele, Usagi lembrou-se do som nítido, doloroso, do gemido que ouvira em seus sonhos. E se Ami estivesse enganada? Ou e se Mamoru houvesse mentido que pediria ajuda se precisasse?

  Cautelosamente, ela deslizou a porta e estudou o quarto. Era bem menor que o dividido com as amigas, mas continha basicamente a mesma estrutura. Uma mesinha arrastada para o canto, sobre a qual se encontrava um pote e um copo com água pela metade, além de outro vazio. Havia, ainda, um armário onde provavelmente ficavam guardados os futons e roupas de cama, uma porta aberta para uma pequena varanda onde havia outra mesa com duas cadeiras.

- Vá dormir, Usagi – a voz de Mamoru, quase um sussurro, a fez pular contra a parede do corredor de fora do quarto.

  Deitado sobre o futon, seus olhos se encontravam abertos, mas trêmulos. Sua mandíbula tensa. O curativo feito por Ami, visível na pequena abertura do yukata fornecido pelo hotel – idêntico ao que ela própria usava –, atraiu o olhar de Usagi por um instante.

- Credo, achei que era um fantasma falando – ela reclamou após se recompor e aproximou-se novamente. Deu um passo incerto para dentro do quarto, afastando os sentimentos de culpa por aquele machucado que mais uma vez ela fitava.
- Você que pensei ser alguma aparição, parada assim na porta.
- Claro, vim roubar seus cristais – brincou, balançando as mãos estendidas como se fossem tentáculos.

  Ele soltou um riso leve.

- Não estão aqui.
- Será? – Usagi já havia entrado e se ajoelhado ao lado do futon. Agora ameaçou revistar Mamoru.

  Apesar de sorrir novamente, Mamoru não se mexeu nem para se proteger do ataque, nem para participar da brincadeira. Usagi mordeu o lábio, suas sobrancelhas tão contraídas que doíam.

- Como veio parar aqui? Por que fez isto? – perguntou enfim.

  Os olhos de Mamoru se fixaram sobre o teto por um momento e quando ele abriu a boca para responder, já era tarde.

  Usagi levantou-se.

- Você nos seguiu? – perguntou apontando para ele.
- Não – respondeu Mamoru calmamente. – Eu estava sim observando a batalha de longe. – Ele olhou para as árvores do lado de fora. – Mas eu já estava pela região. Vim investigar uma concentração estranha de energia que começou há vários dias nos arredores deste minshuku. Não tinha certeza do que encontraria, mas ao menos poderia servir como um descanso de não fosse nada.

  Parte de sua mente registrou o que ele queria dizer com descanso, mas a outra parte também registrou uma questão mais urgente.

- Essa energia podia ser o cristal? – perguntou apressada, andando pelo quarto com a mãos sobre a cabeça.
- Sim... mas era apenas um youma – Mamoru não falava com o tom e nem aparentava tão arrependido que suas palavras pareciam indicar.

  Usagi parou sua caminhada em círculos com uma pisada forte.

- Eu... até mais. – Passou pela porta sem se explicar.
- Usagi? – ainda ouviu Mamoru chamá-la.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Não precisava possuir o intelecto da Ami para saber que, se Mamoru, com seus recursos limitados, havia percebido algo errado por aquela região, suas amigas também. Não fora qualquer coincidência o ataque do youma ao minshuku que escolheram. Muito menos cuidado exagerado de Luna trazer seu broche e cetro – apesar de o fato não ser inédito, tendo em mente quantas vezes já perdera o último.

  Por que a quiseram enganar assim? Quanto mais pensava, mais doía sua cabeça. Ainda assim, a pergunta se repetia, por quê?

  Quando deu por si, não mais tinha qualquer parte do minshuku em seu campo de visão, nem sequer estava visível o pequeno caminho aberto por entre as árvores que a levaria a ele. Era melhor assim. Se dessem por sua falta, eram baixas as probabilidades de a encontrarem. Ou era o que queria, que viessem logo apresentar seus pedidos de desculpas?

  Não. Tinha que respirar um pouco primeiro, pensar. Seu primeiro impulso ao ouvir sobre as atividades incomuns ali havia sido de correr até o quarto e gritar com suas amigas, apontar dedos, fazer carranca. Mesmo agora, ainda queria fazê-lo, e nada resolveria. Não precisava de mais um atrito, mais um problema.

  Além do mais, não fosse por elas trazendo Usagi e o cetro, a senhora perderia sua ajuda e talvez até a hospedagem que construíra com seu marido. Todas as suas lembranças. Usagi, que nada levara do namoro com Mamoru, sabia bem como até uma foto importava.

- Não tem medo de ficar aí sozinha no meio da mata? – a voz de Mamoru a assustava mais uma vez naquela noite. – Fiquei aqui certo que ia cair no choro.

  Ela o olhou incrédula.

- Você me seguiu? – perguntou olhando para trás dele; não teria chamado suas amigas, né?
- Estou sozinho.
- E acha que me perdi e preciso de ajuda pra voltar? – Ela cruzou os braços contrariada. – Não sou inútil a esse ponto. – Quando amanhecesse ela poderia se guiar pelo sol e... tentar lembrar se o lugar era norte, sul, leste, oeste, sudeste–
- Que bom... – disse ele com a voz mais fraca, dando alguns passos em sua direção – ...que você está bem... – Ele tomou um fôlego já de pé à sua frente. – Por que saiu daquele jeito?
- Minhas amigas não me contaram nada sobre ter monstros aqui. – Usagi bufou alto, sentindo a cabeça ferver de novo com a lembrança, mas acalmou-se ao notar a expressão confusa que lhe vinha em resposta. – Eu tinha largado – explicou –, dado um tempo! E não se sinta convencido. Só dei um tempo disto tudo. Depois do que houve... – Suas bochechas queimavam tanto que fazia seus olhos arderem. Ela virou a cabeça para outro lado.
- Que bom... – Mamoru repetiu.

  Ao perceber como a voz parecia lhe falhar ainda mais agora, Usagi voltou a encará-lo. Mamoru estava inclinado contra uma árvore, a mão apertando a madeira. No instante seguinte, observou-o deslizar aos poucos até cair sentado sobre o mato do chão.

- Mas o quê– Usagi ajoelhou-se a seu lado e socou-lhe o ombro. – Como pode ser um cabeça de vento de ficar andando por aí com esse machucado?

  Quando ele apenas assentiu com murmúrio incompreensível, ela se aproximou mais para abrir um pouco o yukata e tentar ver os curativos.

- Já pensou se isto piora? – reclamava enquanto forçava que sua visão se adaptasse à escuridão da mata.

  Apenas notou o quão perto chegara quando o cheiro de Mamoru lhe alcançou ao nariz. Aquela mesma fragrância peculiar a seu Tuxedo Kamen, quase como se estivesse de pé no meio de um jardim de rosas... Sentiu um de seus olhos marejar com nostalgia.

- Vai me beijar ou algo assim? – ouviu Mamoru perguntar, uma tentativa forçada de fazer seu tom típico de escárnio. Uma tentativa falha.

  Mas Usagi notou que, mesmo não sendo sua intenção, tê-lo-ia feito com a singela indicação de que o poderia. O que havia com ela? Estavam no meio do mato, ele ferido por culpa dela. Nem precisava adicionar à equação que os dois haviam terminado o namoro dias antes em termos pouco amigáveis.

  Decepcionada consigo própria, Usagi afastou-se dele e virou-se de costas, encolhendo o corpo para abraçar seus joelhos. Não conseguia se mexer. Não sabia o que fazer. Queria que tudo sumisse. Seu broche, seu cetro, a floresta inteira com suas amigas.

  Mas não Mamoru. Porque se tudo sumisse, sabia que eles poderiam ficar juntos. Mais que nunca, ela sentiu seu peito apertar com a vontade de ignorar qualquer precaução, ajoelhar-se para ele e pedir que a aceitasse. Não compreendia a saudade, o vazio de que tomava consciência existir em si, como se notasse estar perdendo algo que sempre houvesse desejado encontrar.

  Sentiu novamente a vontade chorar. Já era tão forte que as lágrimas não conseguiam cair. Pois antes fosse tudo tão simples. Toda sua identidade de Sailor Moon poderia desaparecer, nada alteraria de sua situação.

  Era tal como, inconscientemente, Motoki lhe havia feito perceber: terminar não fora uma decisão unilateral. Mamoru também o desejara, e talvez até o provocara. E já era tarde para desfazer os pequenos desentendidos que restaram. Ou talvez fosse covardia sua em querer manter aquele pequeno fio que a fazia achar que tão logo tudo se resolvesse, poderia ser puxado para reatar a história dos dois.

  Até então, porém, de nada mudaria esclarecer isto ou aquilo. E o mundo não sumiria por ordem sua.

- Vamos voltar pro quarto antes que seu machucado piore – ela disse, concentrada em manter a voz firme. O esforço em falar apenas aquela frase exauria suas forças.

  Ouviu o barulho do mato e sentiu Mamoru levantar-se atrás de si. Ela também precisava fazê-lo, né? Devia seguir em frente, levá-lo em segurança ao quarto e sobreviver mais uma noite. Não conseguia se mexer.

- Mamoru, espera um pouco... – pediu, ainda de costas para ele, e inspirou fundo.

  De repente, deu-se conta de que Mamoru não estava realmente de pé como imaginara, mas ajoelhado bem atrás dela. No momento seguinte, sentiu-se envolvida pelo cheiro de rosas, pelo calor, pelo abraço dele. Bem forte, como se fosse ela que pudesse desaparecer a qualquer hora.

- Sinto sua falta – ele sussurrou.

Continuará...

Anita, 16/03/2015

Notas da Autora:

De repente você nota que um mês passou e nenhum capítulo foi publicado para seus leitores sofredores. Ai. Tenho uma ótima notícia a vocês: o próximo será o último! E aí acabam estas esperas todas :D Está sendo ótimo desenrolar a história pra vocês e esperam que também estejam aproveitando. Nesta história, experimentei escrever capítulo mais curtos, mas a verdade é que não gostei muito da experiência, rs. É estranho como para umas histórias funciona e outras não. Acho que pra Sailor Moon eu prefiro continuar com meu número mágico (5 mil se estiverem curiosos). Achava que ficando em 3.500 ao menos a revisão não custaria tanto e bem, é realmente muito melhor, mas eu sempre acabo enrolando igualmente... é um problema psicológico pelo jeito, rs.

Muitos agradecimentos aos que ainda acompanham e fiquem aí que logo eu lanço o ultimíssimo capítulo. Aliás, não fiquem aí, mandem comentários cobrando! XD E até lá!

4 comentários:

  1. Não aguentei esperar você postar no ffnet e vim ler aqui no olho azul e nossa! Tantas coisas!
    Primeiramente, senhor Motoki, qual é a sua mano?
    "Mamoru está muito mal" ele diz, ok que ele é seu amigo, mas e a Usagi? Se ela é sua "irmãzinha" que irmão me merda você é ein, cara? Porque né, pobre ingênuo Mamoru, tendo seu pobre coração patido pela namorada maligna que mal entorou no ensino médio dele. Motoki, a vida não é um seriado de qualidade duvidosa da globo!
    Olha aqui kiridinho, quem é você pra fazer a Usa chorar? Prestenção na sua vida e nas suas escolhas Motoki!
    Pronto, terminei com o Motoki, agora,Usa. Oh Usa. Usa, Usa, Usa... Eu te amo, mas o karma não, né. Suas amigas (não que eu apoie o comportamento, Makoto, como você deixou isso acontecer? DECEPTIOOOON DISGAAARCE) manipularam você da exata mesma forma que você tentou fazer com o Mamoru, né? =S
    Ai e esse final, pobre Mamo-chan ficou dodói, mas o aparecimento dele foi longe de ser surpresa hahaha.
    Agora mal posso esperar pra saber como as coisas terminam. E ao mesmo tempo não quero que elas terminem .
    Falta só um capítulo mesmo? Nenhum extrazinho? :P
    Bem, vou ficar no aguardo!

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    Respostas
    1. Hahaha, o Motoki pegou pesado, né? xD Pior é que depois acho que ele nem aparece pra se redimir de alguma forma XDDD

      Adoro fazer o Mamoru aparecer só pra se dar mal, preciso resistir mais à tentação..... mas...... :x

      E sim, o próximo é o último, provavelmente sem extra. Este capítulo já era pra ter sido o final, mas não consegui encaixar nele tudo o que queria então digamos que o oitavo já é realmente um capítulo extra. Espero que goste @-@ Minha ideia é revisá-lo o mais rápido possível pra lançar logo, já que começando o Nano, eu só revisaria se fosse pra procrastinar, mas nas condições ideais claro que não devia fazer isso né? xD

      Muito obrigada por sempre comentar *_* Beijossssss

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  2. E eu sem internet não podendo te acompanhar... Saudades suas e claro da Usagi e do Mamoru!

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    Respostas
    1. Ohh, que pena!! Mas um muitíssimo obrigada por mesmo assim ter deixado um comentário, fiquei superfeliz! *_*
      Beijos,
      Anita

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