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[Sailor Moon] Por Quem Não me Apaixonar - Capítulo 5, escrita por Anita


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Título: Por Quem Não me Apaixonar
Autora: Anita
Fandom: Sailor Moon
Gênero: Comédia romântica, drama
Classificação: 14 anos
Resumo: Tsukino Usagi / Chiba Mamoru. Usagi presencia uma artimanha de Mamoru e percebe como lhes seria conveniente se os dois começassem a namorar. Quando o escolheu apenas por esse acaso, não fazia ideia de haver conseguido justo seu Tuxedo Kamen como namorado.

Notas Iniciais:
Sailor Moon continua não me pertencendo e eu não lucro nada nadinha com isto. Por isso, não hesitem deixar seus incentivos (como comentários, não dinheiro xD evitemos um processo, né?). ;) A capa linda desta fic foi feita pela Miaka-ELA, mil agradecimentos!!! ♥


Olho Azul Apresenta:
Por Quem
Não me Apaixonar


Capítulo 5 – A Namorada de Verdade

- Aí está você, cabecinha de vento! – ouviu Mamoru dizer assim que ela passou pela catraca da estação, na saída combinada.

  Usagi lhe mostrou a língua.

- Não estou tão atrasada assim – disse, apontando para o relógio da estação.
- Sim, estou impressionado. – Ele bateu palmas.
- E você não tá nem um pouco bravo... – Fazendo beiço, Usagi virou-se para estudá-lo melhor. Desconfiada. – Não acredito. Você me disse o horário errado, né?
- Quê? De onde tirou isso? – Não era uma reação muito convincente.
- Mas seu—! Como pode me apresentar a seus pais quando tem vergonha até da minha pontualidade?

  Não era que estivesse aborrecida. Na verdade, só descobriu que Mamoru lhe havia mentido, porque já estava acostumada com suas amigas e até seus pais usarem a mesma técnica. E custaram bastantes encontros para que ele recorresse a isso. Ainda assim, não era todo dia que recebia em seu colo um defeito de seu namorado. Também, os pais dele eram um ponto sensível na vida dele que Usagi ainda não havia compreendido muito. No fundo, sentia-se feliz por uma oportunidade que nem a Unazuki ele oferecera.

  Ao contrário de um pedido de desculpas, Mamoru lhe apresentou uma carranca em resposta.

- Vai mesmo reclamar de tudo agora? Até disso? – perguntou ele. Estaria realmente frustrado, ou apenas conseguindo driblar o truque de Usagi? Mamoru era realmente ruim em mostrar suas emoções. Isso podia ser proveitoso numa partida de cartas, mas...

  Ela deu de ombros e balançou a cabeça.

- Só quando você me der um bolo – começou a levantar os dedos à medida que falava –, for um convencido, ficar dando uma de gostosão sem provar... Coisas assim.

  Mamoru ergueu uma das sobrancelhas. Isso queria dizer que só estavam brincando, né? Usagi sentiu um alívio no peito por haver arriscado. Gostava de provocá-lo, mas também temia chateá-lo de verdade.

- Sabe, cabecinha de vento... Tenho certeza de que isso vai contra nosso contrato.
- Mostre a cláusula. – Ela lhe devolveu um olhar de desafio. A vitória, ainda que apertada, dera-lhe mais coragem.
- Você quer mesmo pôr esse contrato por escrito? – Ele pareceu comprar e dobrar a aposta.

  Usagi lhe exibiu a língua novamente, jogou as mãos para o ar e saiu andando.

- Escrever um contrato é que não está no contrato – retrucou, ainda seguindo em direção à rua.

  Sentiu que Mamoru apressou-se atrás dela, os sons de sua risada quase provocavam cócegas nos ouvidos de Usagi. Ele segurou sua mão, um calor beirando o de febre transferido a suas palmas.

- Que tal só acertarmos a direção? – Ele a puxou para outra rua; estivera rumando aleatoriamente para o lugar errado. – Ou vamos nos atrasar de verdade e pode ver como eu não gostaria disso.
- Ui, o bom filho se preocupa mesmo com o que os pais pensam?
- Talvez. – Sem olhar para ela, Mamoru apenas continuou andando.
- Bom saber. Pegarei o telefone dos dois e relatarei cada pisada de bola sua. – Ela gargalhava só de imaginar o efeito que a ameaça sortiria.

  Estava certa. Suas palavras lograram que ele parasse e a olhasse bem nos olhos.

- Nem ouse – ele disse tão assustador que não parecia poder ser chamado simplesmente de tom de ameaça.

  Não que Usagi se sentisse assustada ou ameaçada ou mesmo levemente perturbada. Sentiu mesmo foi uma coceira na barriga subindo até sua garganta e o riso explodiu de sua boca. Quando notou, Mamoru a acompanhava no ataque de riso, puxando-a pela mão, que notava ainda estar ligada à dele.

- Posso confessar algo? – ela perguntou, enquanto limpava um pouco a lágrima do olho. – Sei que pedi isto, mas tô aberta a propostas alternativas. Juro que ia chegar na hora, mas minha barriga começou a doer na hora que entrei no trem e aí tive que descer e respirar um pouco. Que tal? Vamos pra outro lugar? – Ela piscou os olhos algumas vezes e pegou a mão livre de Mamoru, balançando-a no mesmo ritmo que a outra. – Podíamos nos beijar em vez de inventar assunto com eles.

  Após um suspiro, Mamoru baixou sua testa até tocar a de Usagi. A sensação era semelhante a de um beijo, mas era bem mais intenso o calor do contato.

- Não me dê ideias, que é a capaz de eu não resistir. – Sua voz saía ligeiramente ofegante.

  Como assim? Ele havia interpretado demais e pensado em coisas além de beijos? Usagi sentiu-se ficar vermelha, quase queimando. No final das contas, se houvesse um contrato escrito, estaria com a assinatura dela de que atividades além de beijos também se incluíam na oferta. Fizera parte de sua oferta na fase de negociações...

- Em que você tá pensando aí sozinha? – Mamoru perguntou, nitidamente sobressaltado.

  Usagi notou os olhos cheios de lágrimas de novo.

- Você quem fica provocando – ela respondeu chorosa, não mais secando o rosto.
- Só essa sua cabecinha de vento pra me fazer rir assim.
- Devia ter posto no contrato que era proibido me chamar com esse nome.
- E aí eu nunca aceitaria, já que perderia a maior parte da graça.
- Mamoru? – um homem o chamou.

  Como se houvesse sido seu próprio nome, Usagi virou-se para ver o dono daquela voz descer com uma senhora de um táxi parado quase ao lado de onde conversavam. Se desenhasse a imagem mental que possuía dos pais de Mamoru não conseguiria ter sido tão fiel com a caneta. Os dois poderiam ter só passado por ela que poderia apontar e dizer quem eram. Claro, se não estivesse tão entretida com o filho deles como agora.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Já estavam sentados sobre o acolchoado da sala reservada pelos pais de Mamoru, e Usagi não conseguia parar de olhar para seu arredor. Logo que entravam, ela compreendeu o tipo de restaurante que era aquele. Puxou imediatamente a manga do blazer de seu namorado e sussurrou brava:

- Eu não tô nem um pouco vestida pra isto!

  Ele pareceu apenas agora se deter aos detalhes de sua saia e blusa. Usagi não havia escolhido nada simples, mas focara-se mais em parecer comportada e, principalmente, madura do que bem arrumada. Quando ele só levantou os ombros apaticamente, ela insistiu:

- Disse que era só um restaurante de sempre. Como alguém pode comer sempre num lugar assim? – Apontou brava para um enorme aquário na entrada da casa principal, após um imenso jardim podado milimetricamente. – Podia ter mencionado ryoutei em algum momento...

  O olhar de Mamoru lembrou-lhe o de uma enfermeira de hospital, e Usagi se silenciou até chegarem à sala e tomarem assento sobre o tatame.

  Os pais de Mamoru fizeram questão de que o casal se sentasse voltados para o jardim. O cheiro de verde, o som de passarinho misturado ao de água corrente... Era difícil acreditar que ainda estavam no meio de Tóquio e não em um lugar mais bucólico a centenas de quilômetros da civilização.

- Já está de férias, filho? – perguntou a mãe de Mamoru.
- Daqui a mais ou menos uma semana – ele respondeu sem parecer notar a preocupação inclusa na voz que lhe fora dirigida.
- Já? que inveja! – Usagi disse sem pensar, cortando-o quando ainda terminava de falar. Então, desculpou-se pela interrupção com um gesto de cabeça. – Quer dizer que vai voltar para casa pro obon? – indagou tentando falar mais lentamente.
- Devo ficar por aqui mesmo.
- Uma pena. Não seria ruim tê-lo lá em casa – disse a mãe.
- Falando nisso, vocês já estão juntos há um bom tempo, né? – comentou o pai com um sorriso que lembrava orgulho. – Logo que chegamos pude perceber como são próximos.

  Usagi virou tão rápido a cabeça para o namorado que seu pescoço estalou. O que responder? Não haviam combinado qual história contariam. Que deslize! Sabia que uma das razões para estarem juntos era não preocupar aquele casal; de forma alguma podia decepcioná-los corrigindo que estavam juntos fazia apenas–

- Uns dois meses – Mamoru esclareceu, sem se dar conta do pedido de ajuda, pois seu olhar estava na porta.

  Talvez ele tivesse ouvido movimento. Antes que os pais pudessem reagir, a senhora de quimono que os receberam na entrada abriu para que viessem dois homens servir a primeira parte da refeição. A cena fez Usagi lembrar-se com desconforto de se sua vergonha por estar vestida tão simples.

- Dois? Tem certeza? – O pai de Mamoru não esperou a sala esvaziar. – Você não tinha acabado de começar quando foi lá em casa pra passagem de ano? Lembro até que perguntamos por que ela não o acompanhou e nos respondeu isso, que era muito cedo.

 Fosse Usagi, poderiam estar namorando por dez anos que seus pais não lhe permitiriam viajar com o namorado em pleno ano novo... Mas o pai de Mamoru se referia, obviamente, à namorada anterior. Isso se não fosse alguma de ainda antes daquela que Usagi havia conhecido. Pelo jeito, o casal nem sequer sabia os nomes de quem o filho namorava.

- Era outra – Mamoru novamente respondeu sem transparecer qualquer hesitação na voz.
- Oh – seu pai pareceu dar-se por satisfeito. Ou talvez percebeu que não conseguiria maior detalhe.
- Sentimos muito, Usagi – a mãe lhe ofereceu um sorriso embaraçado. – Não havia me dado conta de que falávamos de outra moça. Que coisa. – Ela riu fraco, com a bochecha um pouco corada.

  Havendo acabado de pôr comida na boca, Usagi teve que balançar o hashi.

- Não acho que seja pra mim que tenham que se desculpar. – Ela também riu, enquanto pensava satisfeita que aquela mulher traidora realmente devia se sentir mal por perder Mamoru.

  Não importava que todos os defeitos que o próprio lhe enumerara estivessem presentes e a frustrassem consideravelmente por vezes. Ele próprio não era para se desperdiçar, muito menos quando sua família podia pagar uma refeição daquelas mais de uma vez na vida. E sem cupons.

  Agora que começava a se acalmar, podia estudar ambos. O casal Chiba, de fato, tinha a imagem dos pais de Mamoru, mas as semelhanças pareciam se encerrar aí. Talvez aquela gentileza fosse fachada de gente rica que estava acostumada a se fazer de legal, mas até agora os dois haviam se demonstrado sinceramente preocupados com agradar Usagi. No decorrer da refeição, tanto um quanto o outro lhe lançava olhares e sorrisos como que perguntando se estava gostando.

  Sentia-se à beira de pular a mesa e sacudi-los: era ela quem precisava agradar. Eles já estavam no registro de família de Mamoru. Não que ela pretendesse entrar também, mas também não era como se os pais pudessem ter seus serviços dispensados e o contrato rasgado — figurativamente.

  Seu comunicador atrapalhou tudo. Estavam ainda no meio do prato principal quando o sentiu do bolso da saia. Tentou ignorar o quanto pôde, mas logo os demais também perceberiam.

  Usagi olhou para a porta em direção ao interior do restaurante e formulou mentalmente alguma desculpa para deixar a sala. Quando voltou a atenção à mesa, deu-se conta de que a mãe de Mamoru a olhava.

- Precisa de algo, Usagi? – perguntou-lhe com um sorriso tenro que não parecia deixar seus lábios desde que se conheceram.
- Ah... Hã... – Ela encarou novamente a saída.
- Retocar a maquiagem? Tem um banheiro logo no final do corredor. – Ela apontou a direção da porta que Usagi vinha observando.
- Oh. Sim, isso! – ela exclamou já se levantando apressada. Quase caiu em cima de Mamoru ao dar-se conta de como suas pernas ficaram dormentes.

  Maquiagem era realmente uma ótima desculpa. Saiu até a entrada dos banheiros, e tentou ocultar o corpo enquanto pescava o comunicador do fundo do bolso.

- Precisa vir logo às coordenadas que te mandei, Usagi! – A imagem de Ami estava falhando na tela.
- São três monstros, suas férias acabaram, Usagi. – Rei apareceu ao lado, empurrando a outra parcialmente para fora da tela.
- Mas... não posso ir!
- Que diabos tá falando?
- Eu falei, hoje estou aqui com os pais do Mamoru. Não dá ainda. Não podem só olhar? Não devo demorar mais que uma ou duas horas.
- Tira sua bunda daí agora! Quer que a gente morra?
- Rei tem razão... – Ami reapareceu na tela, sua sobrancelha pesada. – As leituras que captei mostram que são muito fortes. E eles logo vão perceber que estamos aqui. Pode ser um perigo se alguém se aproximar, não podemos esperar uma tragédia.
- ­E a Mako?
- Tá vindo já. Só falta você – respondeu Rei ainda com mau humor.

  Usagi olhou ao redor, feliz que ninguém parecesse estar em nenhum dos banheiros, ou mesmo vindo usá-los.

- Uma hora, só uma hora. Tentem segurar aí que eu apareço. Por favor...
- De jeito nenhum. Você vai embora sem nem se despedir. – Rei soava ainda mais irritada que antes.
- Não! Não posso fazer isso com o Mamoru. Além do mais, a minha bolsa tá lá com eles.
- Deixa pra trás e venha. Rápido.
- Usagi... – Ami apareceu mais uma vez, sua testa ainda mais franzida. – Precisamos que venha.

  Sentiu o estômago virar, como se lhe fosse corroer por dentro. Não podia sumir depois de ter se convidado para a ocasião. Não sabia a frequência com que ele se encontrava com os pais, mas o rumo daquele jantar parecia tão promissor... Havia conseguido algo para que a ex nem tivera tempo: conhecê-los.

  Não era justo jogar isso pela janela quando sabia que faria pouca diferença contra o monstro. Quando que ela realmente havia sido útil além do uso do cetro? Sua perna havia melhorado, mas e se não fosse por completo? Levaria outro tombo embaraçoso que forçava até mesmo seu inimigo Tuxedo Kamen a resgatá-la?

- Vá.

  Voltou a olhar assustada para o comunicador, mas deu-se conta no segundo seguinte de que a voz viera de trás de si.

- Mamoru! – exclamou ao percebê-lo tão perto.

  Por um momento, havia pensado que Tuxedo Kamen havia aparecido do lado de suas amigas para insistir que fosse. Como conseguira pensar em algo tão inexplicável?

- Ir pra onde? – perguntou, tentando esconder o comunicador com o corpo e parecer inocente.

  Ei... Ele tinha... ouvido? Sua cabeça zunia. Ela precisou mexer um dos pés para conseguir mais firmeza.

- Não sei, mas suas amigas estão te chamando. Vá. – Mamoru devolvia um olhar sério.

  Usagi o estudou. Não, não parecia alguém que acabara de ouvir sobre monstros. E eles só foram mencionados uma ou duas vezes. E provavelmente, antes da última vez em que ela olhara ao redor se alguém aparecia. Ele não ouvira nada demais.

  Ela suspirou.

- Tá tudo bem, não preciso ir.
- Não precisa ficar por causa dos meus pais. Vou lá pegar sua bolsa e dou alguma desculpa. – Mamoru segurou seus ombros e começou a guiá-la pelo corredor de antes. – Me encontre na saída.
- Mas eu...

  Um beijo rápido sobre seus lábios. Usagi pensou em um casal despedindo-se rotineiramente pela manhã, antes de mais um dia de trabalho.

- Vá. – Ele sorriu com firmeza.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Embora menos atarefado que na época do festival, Mamoru continuava indisponível por boa parte do tempo em que Usagi podia encontrá-lo. Passaram-se alguns dias antes de ela vê-lo pessoalmente de novo.

  Àquela altura, ela já se sentir mais à vontade para ligar toda noite assim que saía do banho. No início, imaginava que seria dispensada tão logo restasse claro não haver assunto, mas desde que ele perdera o encontro, Usagi sentia-se com mais confiança.

  Era difícil acreditar que sair como fizera do jantar com os pais não lhe custara um pouco desse crédito. Claro, após dois meses namorando, ficava mais fácil descobrir um assunto em comum – mais fácil ainda não era fácil, vale anotar. Mesmo assim, não conseguia crer que Mamoru tivesse paciência para ouvir suas reclamações de professor da escola e até responder algumas perguntas sobre seu dever de casa. O mais inteligente seria reservar essa despreocupação para usá-la aos poucos, e foi o que Usagi viera fazendo, mas, ultimamente, não resistia a procurar seu limite. Afinal, não era ele mesmo quem se rotulava péssimo namorado, ou coisa assim?

  Seu sorriso apareceu nos lábios como em reflexo ao ver que Mamoru estava apoiado ao balcão do salão de jogos. Saíra correndo da prova do dia, decidida a afogar as mágoas no videogame, mas nem lembrava mais qual jogo tinha em mente agora que o via.

- Motoki! – fez questão de cumprimentá-lo na frente com um largo sorriso. Vinha tendo que ficar até tarde na escola fazendo reforço, por isso, também fazia tempo que não ia ao salão vê-lo. Virou-se forçosamente apática para Mamoru e acrescentou: – Oi, você.

  Mamoru riu levemente, pouco chateado com a brincadeira.

- Está melhor, Usagi? – Motoki perguntou antes que Mamoru dissesse algo.

  Ela o olhou com pontos de interrogação.

- Das provas? Ainda tem bastante coisa pela frente, mas vou dar um jeito.
- É que o Mamoru me contou de sábado, quando foi jantar com os pais dele. Ele disse que devia ser só sistema nervoso, mas você não é muito do tipo que se abala a esse ponto, né?

  Usagi voltou um olhar acusador para o namorado, que lhe franziu a testa sem suceder em ocultar o orgulho pela artimanha.

- O que falou pro Motoki? – ela indagou entre os dentes.
- Só que você teve uma dor de barriga bem forte, e eu tive que te levar pra casa.
- Quê!? – Sentiu sua respiração ficar rápida. – Por que disse isso?
- Não achei que precisava mentir pro Motoki...

  Mas aquilo era mentira. Pior. Soava mais que, em vez de ir para casa, ela voara até o banheiro do hospital mais próximo. E agora lembrava que Mamoru também tinha as coisas dele quando a encontrara na saída do restaurante para lhe entregar a bolsa.

- Então, tá tudo bem agora? – Motoki continuava a estudá-la com o semblante grave. – Só estava nervosa mesmo?
- Err... – O que poderia responder? Mentalmente, imaginou-se arrancando fio por fio do cabelo bagunçado de Mamoru e depois colocando-os de volta com agulhas espetadas bem fundo no couro cabelo para prendê-los.

  Para a sorte sua e a de seu Mamoru mental, um garoto apareceu pedindo mais fichas, interrompendo o assunto. O azar foi do Mamoru da realidade, pois Usagi aproveitou que Motoki havia se distraído com o cliente e puxou seu namorado para fora do salão.

- Vamos tirar isso a limpo – ela disse entre dentes, enquanto o puxava pela manga do blazer. Como ele aguentava estar com aquele blazer verde no meio de julho consistia um mistério.

  Mamoru livrou-se dela e a segurou pelo ombro, puxando seu corpo para perto.

- Estou mesmo aliviado que não tenha sido nada grave com a minha cabecinha de vento – falou ele em tom exagerado. – Você tava comendo como se não visse uma refeição fazia meses e aí deu naquilo, né?
- Deu em quê? Sabe muito bem que tive que ir ver minhas amigas! – Não era realmente mentira, embora fosse eufemismo para a realidade. – Não me diga que seus pais ficaram pensando que saí por isso?

  Ele apenas sorriu, respostas não eram necessárias.

- Ai, que homem mais irritante! – Usagi fechou os punhos e socou de leve a barriga do outro.

  Fingindo muita dor, Mamoru se curvou, sua boca formava um o. Sua pose, porém, logo foi quebrada quando Usagi decidiu que cócegas eram uma punição mais adequada e começou a acertar a barriga dele com a ponta dos dedos.

- Certo, certo! Eu sinto muito! – ele disse com as mãos erguidas em sinal de derrota. – Ligo agora pra eles e falo que você saiu de repente porque precisava ver suas amigas e nem deu pra dar tchau.
- Ei!

  Embora verdade, e ela agora se arrependesse de não havê-lo dito pessoalmente. Pensando melhor, fingir um desconforto assim parecia uma razão mais adequada que correr para o que soaria como uma reunião social.

- Sua irmãzinha, Mamoru?

  Usagi voltou a si para notar uma mulher a apontando. Não uma, mas a mulher. A ex-namorada de Mamoru, de quem ela percebia nem saber o nome. Por um momento considerou que aquela pergunta fora uma forma de rebaixá-la por estar brincando de fazer cócegas no namorado em plena calçada, mas o olhar da mulher não demonstrava nada assim. Ela não devia saber ao menos que Mamoru era filho único?

  Mamoru havia retomado a postura do corpo e agora acenava com a cabeça para a ex.

- Esta é minha namorada. – Olhou para Usagi e lhe perguntou: Você se lembra dela, Usagi?

  Assentindo mais que o necessário, ela não encontrava uma só ideia de o que poderia dizer em uma situação assim.

- De mim? – A mulher a estudou, as sobrancelhas perfeitamente cuidadas juntavam-se com o empenho. – Esta não parece ser a mesma que conheci, Mamoru. Ela era um pouco mais velha, não? – Seus olhos pareciam colados sobre o brasão da escola ginasial que Usagi frequentava.

  Mamoru franziu a testa.

- Eu não disse que você a conhecia. – Usagi não conseguia distinguir se a nuance de tédio na voz era proposital. – Começamos a namorar um pouco depois da última vez que nos vimos.

  A mulher aquiesceu, ainda sem afastar os olhos de Usagi.

- Alguma outra pergunta? – O tom de Mamoru soara pungente o bastante até para tirar Usagi da letargia em que a situação indesejada lhe havia posto.

  Igualmente abalada, a mulher apenas endireito o corpo e sacudiu a cabeça negativamente.

- Valeu pela atuação de quinta – Mamoru disse após observar a ex-namorada sair. – Impressionante como minha namorada falsa parecia mais verdadeira.
- O que esperava que eu dissesse? – Era verdade que alguns momentos deixam as pessoas sem o que falar e só depois dá-se conta de várias opções de respostas inteligentes. A segunda parte não aconteceu com Usagi, que ainda tentava racionalizar cenários em que ela pudesse se mostrar a namorada perfeita que Mamoru merecia ter depois de o que aquela mulher havia causado.

  Ele contraiu ainda mais seu rosto.

- Eu não sei, o que fosse! – respondeu ele, deixando os ombros caírem em seguida. – Você conseguia até o que dizer pros meus pais... e pra alguém que não é nada você vira uma boneca? Não viu como ela te olhava? – ele estava realmente irritado pelo que a mulher fizera com ela?
- Como se eu fosse um bebê? Eu sou mais nova mesmo, fazer o quê? E se eu tinha o que dizer pros seus pais era porque você ficava mudo ou dando respostas impossíveis de continuar uma conversa.

  Mamoru não retrucou imediatamente. Primeiro, ele suspirou e depois passou a mão na nuca, sua cabeça pendendo para baixo.

- Nós não nos vemos muito, não há muito que falar – ele disse em um quase sussurro resignado.
- Ué, nós também não temos assunto e sempre arrumamos. Você é ótimo nisso! – Quando sentiu que a sugestão seria ignorada, Usagi acrescentou esperançosa: – É só fingir que sou eu! Só não fique chamando sua mãe de gorda, coitada.
- Eu não te chamo de gorda. Só que, do jeito que come, vai engordar.
- Taí, em vez de ficar me dizendo o óbvio, ligue pra sua mãe e diga isso! – Ela sorriu maldosa. – Você perde a coceira na língua pra falar e ainda tem assunto com seus pais.

  Mandá-lo chamar a mãe de gorda não devia ser um bom conselho – até porque a senhora Chiba era, na verdade, preocupantemente magra. Usagi estava pronta a retirar o que havia dito quando a gargalhada forte de Mamoru a fez esquecer.

  Ainda rindo bastante, ele pegou sua mão e a beijou suavemente.

- Só você pra me pedir pra conversar com meus pais o que falo com minha namorada, sabia? – Ele pareceu rir ainda mais forte.

  Era essa a graça? Não sua mãe ser chamada de gorda? Não que ela fosse, era preciso ressaltar novamente.

- A gente não fala nada inapropriado assim – Usagi comentou ainda sempre compreender.
- Vamos, cabecinha de vento. Nem um pouquinho, é? – Deu um passo para perto, seus olhos fixos nos dela.

  Queria hipnotizá-la? Pareceu funcionar. Usagi entortou a cabeça para cima, evitando que o contato se rompesse quando ele se aproximou mais um passo. Se não estivessem no meio da rua, ela o beijaria. Aquela distância, aqueles gestos... Usagi se notou mordendo a ponta de seu lábio superior.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

- Nossa, isto mais parece uma seção de loja de departamento. Sabe, aquelas que montam o modelo da sala completa? – Usagi disse com o rosto contorcido, aproveitando para revirar os livros da estante. Escolheu um dos mais grossos e o folheou.

  Após se encontrarem com aquela mulher, Usagi pediu que fossem para algum lugar longe. Sabia que as chances de vê-la duas vezes no mesmo dia eram próximas de zero. Depois de como Mamoru a tratara, menores ainda eram de ela tão cedo querer falar com os dois. Ainda assim, queria um lugar para monopolizá-lo. Sugerir o apartamento não foi uma ideia que demorara a lhe vir à mente.

  Agora que o via com mais calma, notava certos detalhes. Ou a falta destes.

- Além de xingar minha casa, vai também criticar o que leio? – Mamoru retirou o livro de suas mãos, devolvendo-o a seu lugar, onde também recolocou os demais em suas posições de origem.
- Achei que pudesse ser só de enfeite. Aqueles livros que só têm capa? Já disse, este lugar parece uma loja.
- Não lembro de você chamar meu apartamento de mostruário antes.
- Você apagou em minutos que chegamos aqui. E eu tava meio ocupada tentando usar o máximo do tempo antes de você desabar de exaustão.

   Mamoru sorriu divertido com a lembrança, sem demonstrar embaraço.

- E agora... – Sua expressão transmutou em algo mais travessa, e ele se aproximou com menos caução que antes quando estavam na rua. - ...não quer mais usar bem nosso tempo? – Suas mãos seguraram a cintura dela, massageando até pararem em suas costas.

  Usagi gargalhou de leve, esforçando-se para também não se abater com a provocação. Ignorou sua bochecha queimando e seguiu em sua excursão pela casa.

- Sua geladeira precisa de carboidratos – comentou após fechá-la e sair da cozinha.

  Novamente, Mamoru tentou segurá-la, mas seus dedos somente roçaram no tecido de seu uniforme. Usagi agora abria a porta do quarto, seu riso ficando mais estridente.

- Gente, isto é mais impessoal que cenário de novela! – disse assim que reparou a cama perfeitamente arrumada com um lençol branco. – Até hotéis são mais acolhedores. Não tem nem fotos?
- Claro que sim. – Ele apontou para a cômoda, onde seu retrato com Motoki e Reika compunha a única evidência de que humanos já estiveram pelo cômodo. Todo o resto poderia muito bem haver sido arrumado por um robô.

  Não satisfeita, ela decidiu abrir o guarda-roupa. Já tinha as mãos nas portas quando sentiu os dedos de Mamoru segurando-lhe a nuca.

- É falta de educação ficar andando livremente pela casa dos outros.

  Ela se desvencilhou e torceu o nariz antes de responder:

- É do meu namorado, não dos outros.

  Mamoru estalou a língua e depois apertou um lábio contra o outro, encarando-a.

- Sério que vai fazer essa cara braba pra mim? – Usagi caiu no riso. – Já me acostumei tanto que fiquei imune.
- Não estou fazendo, eu estou bravo.

  Enfim, Usagi deixou que seu rosto ficasse sério e assentiu em silêncio, voltando o corpo para a porta e indicando que sairia do quarto. Quando Mamoru também começou a acompanhá-la para fora, ela mudou a direção e se jogou sobre a cama, rolando pelo lençol como um cachorro.

- Cheiroso! E não é de sabão! – ela disse, desejando que o cheiro da colônia de Mamoru se fixasse nela também enquanto continuava a rolar de um lado para o outro.
- Usagi! – ele brigou parado próximo à porta. Então, soltou um suspiro resignado e estalou novamente a língua. Ficou assim, observando-a agarrar os travesseiros por um longo período e só voltou a falar quando ela parou relaxada sobre o colchão. – Dessa forma, mais parece que está me fazendo uma oferta.

  Ela voltou a rir, bem mais alto que antes. Parou um pouco ao perceber que a reação o havia assustado. Novamente, Mamoru devia ter esperado intimidá-la lançando uma frase tão de conquistador clichê na televisão. Quando ela deu por si, porém, Mamoru não se encontrava mais à porta, mas deitado a seu lado sobre a cama, com os lábios prontos para beijá-la. E beijando-a. Com o corpo perto, as mãos novamente lhe segurando a cintura. Alguns dos dedos havia passado por baixo de sua blusa, que subira quando ela arqueou para baixo. O calor do toque lhe queimava a pele. A proximidade de Mamoru era tanta que já podia calcular um pouco de seu peso sobre o corpo dela.

  Espantou-se, pois não encontrava motivo por que deveria pará-lo. Apenas que não queria nunca sair daquela cama.

  Uma das mãos voltou para cima da blusa e subia até bem próximo ao seio, a seu coração. Contudo, afastou-se até o laço de seu uniforme. Mamoru iria desfazê-lo. E Usagi o desfaria se demorasse qualquer segundo a mais.

  No próximo momento, porém, o quarto voltou a ficar claro. E um pouco frio. Ela abriu os olhos para ver que Mamoru havia se levantado da cama com o rosto pálido levemente suado e os olhos esbugalhados olhando para todas as direções, menos Usagi.

- Vou pegar algo para beber – ele explicou, como se eles houvessem apenas acabado de se beijar e agora precisassem de um descanso.

  E saiu.

  Usagi olhou para seu arredor. O lençol desarrumado. Uma parte do colchão revelada em dois pontos. E ela. As mechas de cabelo pareciam cobrir melhor a cama do que o lençol. A saia um pouco levantada, com a carne de suas coxas redondas demais caindo. A blusa também fora do lugar expondo toda sua barriga nada em forma. O laço desamarrado pela metade, como Mamoru o havia deixado. No meio dele, o broche de transformação ainda preso. Intocado.

Continuará...

Anita, 04/03/2015


Notas da Autora:

A partir de agora a história chega ao meio, e a coisa vai desandar... O que estão achando? Tava aqui relendo enquanto corrigia tudo (e nossa, tinha cada erro hilário xD comentando em vez de comendo...), e não lembrava mais como este capítulo tinha cenas fofas. Eu tenho muitas cenas favoritas nesta história e uma delas é essa última aqui. Mesmo assim, não tinha percebido até agora como eu gostei das cenas Mamoru e Usagi que vêm antes, neste mesmo capítulo. ♥ O que vocês têm achado??

Por favor, não deixem de comentar se notarem que o próximo capítulo está demorando. Eu ando perdendo a noção dos dias e deixo vocês esperando sem precisar realmente.

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