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[Sailor Moon] Por Quem Não me Apaixonar - Capítulo 4, escrita por Anita


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Título: Por Quem Não me Apaixonar
Autora: Anita
Fandom: Sailor Moon
Gênero: Comédia romântica, drama
Classificação: 14 anos
Resumo: Tsukino Usagi / Chiba Mamoru. Usagi presencia uma artimanha de Mamoru e percebe como lhes seria conveniente se os dois começassem a namorar. Quando o escolheu apenas por esse acaso, não fazia ideia de haver conseguido justo seu Tuxedo Kamen como namorado.
Notas Iniciais:
Sailor Moon continua não me pertencendo e eu não lucro nada nadinha com isto. Por isso, não hesitem deixar seus incentivos (como comentários, não dinheiro xD evitemos um processo, né?). ;) A capa linda desta fic foi feita pela Miaka-ELA, mil agradecimentos!!! ♥


Olho Azul Apresenta:
Por Quem
Não me Apaixonar



Capítulo 4 – Acontecimentos Paralelos

  Usagi não tinha certeza se devia estar feliz por ter que ficar no camarote daquela batalha. Percebendo que sua perna não havia se restabelecido ainda, Ami lhe sugerira que não participasse até precisarem do poder de seu cetro. Até aí, era uma maravilha. Não fosse pelo comentário de Makoto, lembrando-lhe de que aquele machucado não era o único obstáculo atrapalhando sua performance. Justo Makoto, a mais nova no grupo, apontava precisamente para o maior problema.

- Acho também que precisa de um tempo pra se recuperar daquele homem também, né? – dissera-lhe na mesma reunião.
- Até porque você se passando por inútil como das últimas vezes só faz o Tuxedo Kamen ter que vir resgatá-la! – Rei comentou com a língua afiada de sempre, mas até dela pôde sentir preocupação. – É bom parar de ficar dando bola pra outros agora que tem o Mamoru.
- Eu não fico dando bola pros outros! – Usagi reclamou com tom de choro.
- Mas não se preocupe com a gente, Usagi – interveio Ami.
- É isso aí – disse Makoto, piscando um dos olhos. – Afinal, você precisa estar em plena forma quando for conhecer os pais do seu namorado!

  Usagi reagiu com estranhamento, incerta sobre de onde Makoto tirara que ela iria ver os pais de Mamoru. Quando mal haviam começado um namoro que nem soava muito real ainda. Ainda que todos os namoros sofressem de alguma condição resolutiva, a deles parecia ainda mais forte.

- Motoki tava me contando – explicou Makoto. – Que eles vão vir a Tóquio.
- E por que o Mamoru apresentaria esta pentelha aos pais? – Rei caiu numa gargalhada.

  Embora aliviada por não ter que se esforçar por um tempo, Usagi sentia algo de tédio também de só ficar olhando a batalha. Mal conseguia acreditar que uma parte dela realmente queria sair do castigo e ir brincar.

- Não vai ajudar suas amigas?

  A voz de Tuxedo Kamen a fez virar-se para trás, onde o encontrou também atento aos acontecimentos. Por um estranho momento, pensara em Mamoru.

- Hoje eu tô no banco dos reservas – Usagi disse o óbvio com um riso, seus olhos pousando inconscientemente sobre sua perna problemática.

  Ele pareceu perceber o movimento e estudou-a antes de retomar a conversa.

- Está machucada?

  Seu coração havia se comportado até aquela pergunta. Mas não era justo ouvir a mesma preocupação daquele homem que ouvira das amigas que tanto lhe queriam bem.

- Sabe, não é da sua conta. – Usagi retornou o olhar para as demais senshi.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Precisava se manter ocupada e, ao mesmo tempo, garantir que sua relação com Mamoru se estabilizasse.

  Estavam no meio de um encontro. Após caminharem pelo bairro comercial, rumavam a um pequeno restaurante que Mamoru garantira servir pratos bem avantajados de ramen. Ainda assim, nenhuma palavra havia sido dita sobre a pendente visita do casal Chiba.

- Você tem que ir! – disse Usagi, após explicar sobre um festival que começaria na próxima sexta-feira. Um festival na vizinhança que teria muita gente, conhecidos e não conhecidos. Era uma boa forma de publicizar mais o que eles tinham.
- Tá certo... – Mamoru passou a mão pela nuca. – Só que tô no meio de período de provas na faculdade, não vou ficar muito. – Seus olhos pararam sobre Usagi. – Por que está mancando?

  De ouvir tanta gente preocupada com ela, já reconhecia a nuance de preocupação nas vozes dos outros. Algo ausente na pergunta de Mamoru. Ele estava se aprontando para implicar de novo, era isso?

- Você lembra, naquele primeiro encontro... – ela respondeu sem muito ânimo.
- E por que aceitou ficar andando hoje? – Ele mais parecia era brigar com ela. – Ainda por cima, quer ir assim pra um festival?
- Ai, isso é quase daqui a uma semana. Por favor, né? E só vamos ver as barraquinhas, comer um pouco. Não é nenhuma maratona.
- Quase uma semana. E já faz duas que você caiu.

  Usagi não queria mentir sobre suas atividades como Sailor Moon, embora também não pudesse explicar que a lentidão em se recuperar decorria desse esforço e não de caminhar com o namorado. Ademais, desde ontem já estava obrigada a uma suspensão. Por sorte, uma loja de nome familiar apareceu no campo visual.

- Olha lá, é o restaurante de ramen que você falou, né? – Ela apontou, torcendo para estar certa.

  E estava. O lugar exalava um cheiro gostoso de shoyu, porco e sal que fazia sua barriga roncar, não a deixando se acanhar por estar cheio de homens engravatados e alguns universitários. Os dois caminharam até a mesa mais reservada e fizeram o pedido.

- Achei que nos finais de semana haveria ao menos algumas mulheres – Mamoru comentou desanimado.
- Eu não teria coragem de pisar aqui sozinha – confessou Usagi com um riso.
- Sinto muito.
- Não! – Ela balançou a mão direita para enfatizar a negativa. – Eu tô feliz de poder vir aqui, é isso. Pelos moldes na entrada, os pratos são ótimos!
- São sim. – Mamoru também sorriu. – Sempre venho com o pessoal da faculdade. Vai gostar de ver a quantidade também. É o dobro do que normalmente já me satisfaria.

  A comida chegou quase no instante seguinte à afirmação, duas enormes tigelas cheias de macarrão, cada uma com pequenos pratos de acompanhamento e uma travessa de gyoza.

- Tão gostoso! – ela disse após experimentar cada parte do que pedira.

  Seus problemas estavam evaporando com a fumaça saída da sopa do ramen quando Mamoru pôs seus hashi no descanso silenciosamente e perguntou:

- O que fez ontem depois da escola? – Ele aguardou que Usagi terminasse de mastigar um gyoza, mas logo balançou a cabeça e dispensou a resposta. – Não é nada, continue a comer. – E forçou um sorriso.
- Hã? Que tem ontem? Eu acho que fiquei vendo tevê. E uns bons anos no banheira me preparando pra hoje! Estou me esforçando pra você não acabar com nosso contrato, viu? – E voltou à missão na frente de seus olhos para facilitar o pobre funcionário limpando o máximo de seus pratos.

  Demorou um pouco para se lembrar de que entre cochilar assistindo à televisão e entrar em coma dentro da banheira, havia corrido para o local onde aparecera um youma. Não que fosse dizê-lo para Mamoru, mas era importante notar para si mesma que havia se esquecido por um momento de que se encontrara com Tuxedo Kamen.

- Por que está rindo assim do nada? – indagou Mamoru com as sobrancelhas arqueadas. – Pelo prazer de minha companhia, é? – Mas seu rosto se fechou novamente, como se houvesse recordado algo. – Ou estava pensando naquele Tuxedo Kamen?

  Até mesmo Mamoru não parecia haver apreciado trazer o nome à tona, pois agiu tal como quando começara o assunto do dia anterior e sugeriu que Usagi ignorasse a pergunta.

- Eu só me lembrei de que ele apareceu de novo ontem – explicou Mamoru, voltando a comer. Já era nítido o esforço que fazia para não desperdiçar a comida. – É estranho... como você simplesmente largou dele. Só isso.
- Melhor deixar essa conversa pra lá mesmo. – Usagi virou um pouco o rosto emitindo um som de desdém. – Prefiro que não me lembre daquele exibido ou nem faz sentido sairmos juntos.
- Não serei nada como ele.

  A firmeza com que o disse fez Usagi voltar-se novamente para ele, pois não parecia que fora apenas uma afirmação vazia, uma brincadeira. E de fato, o olhar que Mamoru lhe devolvia tinha uma força estranha. Ao menos assim se manteve por um segundo quando um bocejo lhe escapou a boca.

  Usagi não conteve o riso com a cena.

- O que você ficou fazendo ontem à noite? – perguntou-lhe ela divertida.
- Desculpa, eu... bem, eu disse que estou no meio do período de provas. – Ainda assim, ele demonstrava frustração pelo deslize. – Acho que é melhor ir pra casa depois daqui.
- Vou junto contigo – ela disse prontamente, e puxou com seu hashi dois dos gyoza restantes na travessa de Mamoru.
- Do que está falando? E fica longe da minha comida.
- Com a cara de nojo que começou a fazer, isto tudo ia pro lixo mesmo. – Ela soltou uma risada, aproveitando para pegar também um pouco do kimchi dele. – E eu disse que ia pra sua casa também. Assim você fica mais relaxado, mas nosso encontro não é perdido!

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Usagi havia se arrependido da ousadia ao se convidar para a casa de Mamoru, mas agora que os dois estavam se beijando no sofá da sala, ela se chamava de boba por duvidar de seu instinto inicial. Não era porque simplesmente quisesse beijá-lo que fez o que muitas boas meninas evitariam. Claro que queria beijá-lo e ser beijada, era prazeroso e não podiam fazê-lo em muitos outros lugares. Muito menos com a despreocupação de ter pessoas aparecendo. Estar ali também simbolizava um avanço. Ademais, não mentira quando afirmou não querer desperdiçar o encontro.

  Mamoru se afastou do beijo e pareceu interessado demais no piso de sua sala.

- Ei... – Usagi reclamou, pegando seu rosto e o voltando para si. – Namorada aqui.
- Foi mal. – Mamoru passou a mão pelo cabelo, bagunçando-o mais que consertando o amassado que as mãos de Usagi acabaram de deixar. – Têm sido dias longos.
- Poxa, só umas horinhas de atenção. – Ela forçou um beiço aborrecido, embora sentisse culpa por está-lo puxando ao limite. – Não nos vemos desde que descobri que estamos namorando!

  Mamoru virou os olhos, nem um pouco motivado pela atuação. Podia ter ao menos rido da piada. Rido dela?

- Sabe que normalmente eu nem as trago pra cá?
- Por que é quase um sociopata? – Usagi gargalhou, mas silenciou-se quando percebeu que ele nem reagia, novamente com o olhar perdido no chão. – Vou ser uma linda namorada então e te deixar ficar mais íntimo da mobília – disse ao se levantar, o braço preparado para uma despedida resignada.

  Entretanto, sentiu-se presa e seu corpo sofreu um solavanco. Olhou assustada para ver a mão de Mamoru sobre a dela. Segurando-a com uma gentil carícia.

- Fique mais – ele disse com a voz arrastada. – Não vamos nos ver por mais uns dias, né? – Então, indicou que retornasse ao sofá.

  Após aquiescer, Usagi aceitou os novos beijos, mas não conseguia mais ignorar o quanto cada movimento parecia ainda mais pausado, letárgico. Mais um pouco e ela também cochilaria.

- Que tal você se deitar um pouco? – sugeriu, afastando-se apenas o bastante para pegar uma almofada e pôr sobre seu colo.

  Podia jurar que o rosto de Mamoru ficou um pouco vermelho enquanto tentava compreender por inteiro o que lhe fora oferecido. Custou a Usagi muita paciência para não abraçá-lo e descer sua cabeça à força. Ainda assim, aguardou-o se acostumar à ideia e, por fim, cumprir com a proposta. O que não demorou nada foi para o rosto relaxado de Mamoru indicar que ele havia caído em sono profundo.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Animada com suas expectativas de caminhar pelo festival ao lado de Mamoru, Usagi até evitou falar com qualquer amiga que iria lá. Claro que lhe interessava poder se exibir para todos agora que tinha namorado. Era sua justificativa maior! Ao mesmo tempo, fazia quase uma semana que não o via. Seria injusto perder parte da atenção dividindo-o com os outros.

  Olhou para seus pés. Já não sentia dor, contanto que não pensasse nisso. Com certeza, ficar fora das batalhas por aquela semana revelara-se o remédio de que precisava. Após a da sexta anterior, houvera mais duas. A primeira parecia tão intensa que Usagi estava pronta a intervir quando Tuxedo Kamen apareceu e ajudou suas amigas contra qualquer expectativa otimista.

  Não queria pensar nele, mas estava grata. Sim, não fosse por sua ajuda, a dor voltaria e ela não conseguiria usar geta com seu yukata, perderia parte da diversão em seu encontro com Mamoru naquela noite.

  Até sua mãe notara seu empenho em cumprir o papel de boa namorada, perguntando diretamente quem era o “garoto”. Usagi indagava-se se, para seus pais, Mamoru ainda se encaixaria na categoria. Ele mais agia como um homem feito na frente de desconhecidos, mas toda sua pose não a enganava. No entanto, pôde manter a calma e só responder que um dia seriam apresentados.

  Confusa, Usagi encarou o relógio do templo e buscou pela multidão alguém que lembrasse o tal namorado, garoto ou não.

- Como é que justo ele se atrasaria? – perguntou-se irritada.

  Ela própria já havia chegado em torno de dez minutos após o combinado, mas agora passava de meia hora. Mamoru não viria?

  Decidiu andar por todos os pontos de encontro usuais, procurando os mais peculiares quando os óbvios se esgotaram. Ela já estava quase na estação de trem mais próxima – apesar de Mamoru poder andar de sua casa até ali – quando Naru a avistou.

  No final, seu festival se resumiu ao que sempre havia sido quando não tinha namorado. Rodou-o todo acompanhada das meninas de sua classe, olhando com inveja para os casais que passavam. Mamoru não estava em qualquer parte.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Mamoru apenas havia perdido a hora. No dia seguinte, Usagi encontrara com Motoki, quem lhe pediu desculpas pelo amigo. Aparentemente, Mamoru havia decidido terminar uns trabalhos na biblioteca da faculdade, descansar e ir ao festival. O trabalho não saiu como esperado e o corpo dele falhou no meio do caminho. Ele acordou mais de onze da noite no meio da biblioteca quase vazia por completo.

- Ele não ficou trancado? – ela perguntou boquiaberta.
- Ah, eles têm daquelas portas que abrem só por dentro depois de certa hora – Motoki esclareceu.

  A história soava tão assustadora que ela não conseguiu transmitir nenhuma bronca por Motoki. A raiva retornou depois, quando se lembrou de que o festival ainda estava acontecendo e Mamoru poderia ter oferecido levá-la naquele sábado mesmo ou no dia seguinte, o último dia. Mas ele nem deu as caras.

  Uma pena não houvessem combinado para sábado. Um novo youma apareceu mais ou menos no horário que haviam marcado na sexta. Desta vez, teria sido Usagi a dar o bolo.

  Tão distraída estava imaginando aquela realidade alternativa que, quando deu por si, estava já suspensa pelos braços do corpulento youma.

  A voz lhe falhou quando abriu a boca para gritar. Seus músculos não obedeciam além de debater as pernas no ar.

  Um vulto negro fez o youma soltá-la por fim, pondo-se entre este e Usagi. Ela não precisava de contato visual para reconhecer o perfume de rosas tão particular de Tuxedo Kamen. Toda a reação que lhe faltou quando o inimigo a surpreendera no esconderijo agora se concentrava em fugir daquele homem recém-chegado.

  Durante a tentativa de se afastar dele, Usagi tropeçou com a grama e caiu aos pés do youma fazendo o som de um estalo. Seu corpo congelou. Sentiu-se tonta quando pensou na possibilidade de haver quebrado algo por culpa exclusiva de uma imprudência sua.

  Percebendo que sua presa havia retornado, o monstro quase a agarrou novamente. Tuxedo Kamen o impediu.

  Recuperadas, suas amigas atacaram o youma e o deixaram inconsciente. Sailor Mars correu até onde Usagi ainda estava caída e pôs o corpo à sua frente, encarando o segundo inimigo.

- Fique longe dela, Tuxedo Kamen! – disse feroz. – Sua função é cuidar do cristal arco-íris e a Sailor Moon não está com nenhum.

  Pelo pouco que Usagi podia ver entre as brechas deixadas pelo corpo de Sailor Mars, foi fácil distinguir a expressão surpresa de Tuxedo Kamen ao ouvir aquelas palavras. Com alguma demora, ele assentiu e deu vários passos para trás. Enfim, desapareceu da frente de todos.

- Sailor Moon, use o cetro agora – pediu a Sailor Jupiter, mas também custou tempo para Usagi recobrar o controle sobre si.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Era a primeira vez que Usagi escolhia o local do encontro – não podia contar o festival já que encontro foi o que não aconteceu naquele dia. E a primeira vez que se viam desde o ocorrido. No meio disso, haviam apenas trocado dois telefonemas em que marcaram aquele dia e depois para confirmar a lanchonete onde passariam a tarde.

- Seria mais interessante se tivesse trocado o uniforme – reclamou Mamoru tão logo se sentavam.

  Usagi balançou o indicador bem perto do rosto dele.

- Você tá sem moral pra reclamar da minha roupa, senhor furão.
- Quando mulheres falam em reclamar da roupa, eu sou o primeiro a achar que vocês têm direito de se vestirem como quiserem. – Ele riu de leve. – Mas você me escolhe uma lanchonete a minutos da minha faculdade e vem com uniforme de escola. É realmente chamativo.

  Ela se inclinou sobre a mesa e sorriu para mostrar os caninos.

- Com vergonha da sua namoradinha ginasial?

  Em resposta, Mamoru não ficou vermelho como ela esperava. Ele também se inclinou, aproximando seus rostos, e assim pausou o momento. Seus olhos tão próximos... Enfim, apertou a bochecha de Usagi entre seus dedos.

- Ela é uma gracinha – disse ele com tom de escárnio.
- Ai!

  Usagi se encolheu de volta no seu assento e passou a mão sobre a pele levemente dolorida.

- Agora vai me dizer por que realmente está tão chateada? – ele indagou, ajeitando-se também em sua cadeira. – Se fosse o festival, a bronca teria vindo antes, né?
- Seus pais – ela confessou como se soprasse cada palavra com despeito –, você até agora não me falou deles.
- Como assim? O que há pra dizer?
- Aposto que, além de ter vergonha com seus amigos também tem com eles, né? Por isso não pretende nem me deixar saber que eles vão vir?

  Demonstrando estar atordoado, Mamoru tomou um momento antes de falar:

- E por que iria querer saber? Tenho certeza de que encontrar com os pais não faz parte de uma experiência divertida de namoro. Eu mesmo ainda não conheci os seus.
- Bem, meu pai é diferente. – Ela cruzou os braços. – Tem a ver com preservar sua vida.

  Rindo levemente, Mamoru concordou com a explicação.

- Quer mesmo conhecê-los?
- Sim! – Usagi sorria aberto agora, novamente se inclinando sobre a mesa. – Vai deixar?

  Ele franziu o sobrecenho.

- Por que não? – Seu tom era obscuramente despreocupado depois de todo aquele tempo que o silêncio a havia angustiado.
- Eee! – ela comemorou batendo com as mãos sobre as bochechas. – Quando passo na sua casa, então? Ouvi que eles vão tá aí neste fim de semana, né? Sábado tá bom?

  Mamoru ergueu o indicador.

- Calma, cabecinha de vento. Espera. Eu prefiro apresentá-la quando sairmos para jantar nesse dia. 
- Mas... – Usagi sentiu todo o balão de ânimo murchar dentro de si. – Só um jantar?

  Sem propor qualquer explicação, Mamoru se resumiu a confirmar com a cabeça.

  Após deixarem a lanchonete, caminharam pelas pequenas ruas que os levariam à estação mais utilizada pelos alunos da universidade de Mamoru. Não havia nenhum aluno àquela hora, mas trazia uma sensação boa respirar aquele mesmo ar.

- O que foi? – ele perguntou logo depois. – Esse silêncio é porque já está arrependida de me escolher pro teu contrato?

  Usagi não havia percebido que realmente havia se mantido calada durante o resto do tempo em que comeram.

- Só estava pensando se vale mesmo a pena ir ver seus pais. – E ela se apressou para esclarecer: – Não porque não quero. Faz parte de namorar. Eu quero muito saber como é tudo o que fizer parte de namorar. É pra isso que tô aqui.
- Fico feliz que queira conhecê-los, Usagi.

  Após analisá-lo por um momento, ela comentou:

- Estive pensando... – Ela suspirou lentamente e prosseguiu: – Eu fiz mal em brigar contigo pelo festival. Não tenho mesmo o direito de exigir qualquer coisa, até porque você teve suas razões e eu sabia disso quando o convidei. Mas há algo que eu queria muito quando pedi que namorássemos.

  Ele a aguardou com alguma curiosidade.

- Sinceridade – Usagi esclareceu.

  Após ouvi-la dizer aquela palavra, Mamoru quedou-se a estudá-la. Seus lábios se pressionavam um contra o outro de uma forma que Usagi imaginou se ele próprio não possuiria algo a dizer.

- Eu não esperava que fosse pedir algo assim – ele disse pausadamente.
- Não existe por que mentir aqui, né? Você pode terminar comigo no momento em que quiser.
- Em vez de ficar desse modo, deveria pensar pelo avesso.

  Usagi parou de andar e o olhou com a cabeça ligeiramente torta. Contudo, Mamoru não explicou logo o significado das palavras. Ele envolveu sua cintura, suavemente puxando-a para si. Por fim, beijou-a. Desde o dia em que ela visitara seu apartamento, seus lábios não haviam se encontrado. Havia sentido saudade daquele toque, daquele calor.

  Desde o início, ele a avisara sobre os problemas que sofria quando era namorado de alguém, e Usagi não podia negar que passou a sentir uma inesperada ansiedade no período em que não se encontravam.

  Quem sabe seu plano houvesse dado certo demais... com a pessoa errada.

  Seus olhos se abriram após o beijo, mas não tiveram tempo de aproveitar aquela paisagem incerta de quando suas bocas se separavam. Vindo pelo mesmo caminho que eles haviam acabado de tomar, um grupo de garotas rumavam até a estação. Entre elas o rosto familiar da ex-namorada de Mamoru.

  Num impulso, Usagi puxou-o pelos pulsos até entrarem por uma viela, a qual não parecia ser caminho de ninguém. Atordoado, ele a encarou de volta por explicações. Não queria ter que lhe lembrar da existência da mulher que havia traído, mas ela já usava toda sua conta de falta de sinceridade para sua identidade secreta. Precisava compensar por outra forma.

  Mexeu a cabeça para indicar o grupo.

- Ela? Nós já terminamos. – Ele riu ao reconhecer a ex-namorada, mas logo parou. – Não me diga que tá com medo de também levar tapa?
- Não é isso! – Usagi rebateu. Como que ela que levava golpes furiosos de monstros teria medo de uma qualquer? Não que Mamoru soubesse, mas ele já presenciara seus tombos, sabia que sua couraça era mais forte que aquilo.
- Está com ciúmes? – Mamoru passou o dedo por sua bochecha.

  Ela fechou os olhos, esperando por um novo aperto, mas Mamoru apenas acariciou o lugar.

- Talvez – ela confessou.
- Está certo. – Mamoru agora pôs a mão em sua cabeça e bagunçou m pouco seus cabelos. Então, ele a puxou novamente para perto. – Que tal passarmos tempo já que decidimos perder o próximo trem? Tenho uma ótima sugestão de como. – E a beijou.

Continuará...

Anita, 24/02/2015

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