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[Sailor Moon] Por Quem Não me Apaixonar - Capítulo 3, escrita por Anita


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Título: Por Quem Não me Apaixonar
Autora: Anita
Fandom: Sailor Moon
Gênero: Comédia romântica, drama
Classificação: 14 anos
Resumo: Tsukino Usagi / Chiba Mamoru. Usagi presencia uma artimanha de Mamoru e percebe como lhes seria conveniente se os dois começassem a namorar. Quando o escolheu apenas por esse acaso, não fazia ideia de haver conseguido justo seu Tuxedo Kamen como namorado.

Notas Iniciais:
Sailor Moon continua não me pertencendo e eu não lucro nada nadinha com isto. Por isso, não hesitem deixar seus incentivos (como comentários, não dinheiro xD evitemos um processo, né?). ;) A capa linda desta fic foi feita pela Miaka-ELA, mil agradecimentos!!! ♥


Olho Azul Apresenta:
Por Quem
Não me Apaixonar

Capítulo 3 – Momento Perdido

  Usagi observou cautelosa o segundo monstro se mover furioso pela floresta onde combatiam, uma região montanhosa nos arredores de Tóquio. Ele era musculoso, enorme e peludo. Quanto mais se mexia, mais lançava pelos, os quais funcionavam como espinhos. Após já haverem enfrentado um primeiro monstro, suas amigas se encontravam não apenas exaustas como ainda repletas de arranhões.

  Ela tentou se aproximar ao menos para usar o cetro lunar no primeiro monstro, aproveitando que ele estava caído em um canto. Contudo, o segundo continuava a lançar espinhos sempre que pressentia seu ataque.

- Tem uma energia diferente que vem dele! – declarou Sailor Mercury às demais, seguindo a estudar a tela de seu computador. Nenhuma delas parecia haver percebido a chegada de Usagi ainda.
- Um cristal arco-íris?

  A pergunta de Mars fez com que Usagi apertasse a mão no cetro. Seu adversário, Tuxedo Kamen, deveria fazer uma aparição em breve no lugar de seu príncipe encantado da última vez, quando aqueles malditos cristais não estavam envolvidos.

  Mercury meneou a cabeça, ainda parecendo incerta sobre as leituras que lhe surgiam no visor. Jupiter não quis esperar a confirmação e lançou seu golpe, mas o monstro o repeliu e investiu seu enorme corpo contra elas, quebrando algumas árvores no seu caminho.

  Usagi usou sua tiara para impedir que elas caíssem em suas amigas, ocupadas demais evitando o monstro. Contudo, este não apreciou o brilho da Tiara Lunar e cavalgou até onde ela se encontrava.

- Sailor Moon! – Jupiter gritou, correndo para ajudá-la.
- Em que está pensando distraída assim, sua inútil?! – Mars berrou ao observar a cena.

  Não havia sido distração; suas pernas não lhe obedeceram. Não fosse por Makoto, Usagi teria sido esmagada pela fera. O terror desse pensamento se encarregou de responder por ela:

- Que acha de eu ir embora pra não atrapalhar sua grande atuação sendo esmagada como agora há pouco? Tava ganhando mais no meu encontro...

  Ignorando que o monstro já se recuperava à sua frente, Usagi cumpria com suas palavras e já se virava de volta para a cidade.

- Ei! – brigou Mars ao perceber. – Pode voltando aqui! E que encontro é esse? Com seu amigo imaginário?

  Usagi cruzou os braços.

- Nem vou responder, estou acima disso.
- Ótima estratégia, mas não caio nessa.
- Meninas... – Mercury as chamou com a voz fraca. – O monstro...

  As duas olharam o primeiro monstro se reerguer, enquanto o mais peludo continuava caído desde o ataque de Jupiter. Em seguida, ambas combinaram seus ataques para derrubá-lo mais uma vez.

- Isso já deve ser o bastante – declarou Mars, fazendo sinal para Usagi.

  Após o Cura Lunar, o primeiro desapareceu um raio de luz, tornando-se uma placa de indicação.

- Mercury! – Jupiter e Mars gritaram ao mesmo tempo.

  O segundo monstro havia se aproveitado daquela distração e agora jogava seu corpo na direção de Mercury, quem prosseguia fazendo cálculos com seu computador. Rapidamente, ela fechou o visor e lançou seu golpe.

  Entretanto, o monstro desviou e mudou seu curso para mais uma vez atacar Usagi, lançando uma chuva de espinhos em sua direção. O que ela só conseguiu observar chegar mais perto a cada instante. Não pôde pular, apenas se jogar ao chão e se encolher, esperando pelo pior.

  Mas o monstro não logrou seu intento, pois Tuxedo Kamen a resgatou a tempo e a carregou para longe.

- Por que não fugiu? – ele perguntou bravo, soava exatamente como Sailor Mars minutos antes.

  Mas ela não conseguiu retrucar como antes, todas as palavras pareciam presas em uma enorme barreira formada na sua garganta. Por isso, fugiu de seus olhos para conferir se suas amigas estavam bem. O monstro agora estava imobilizado após um ataque de Jupiter.

- O cetro lunar! – disse Tuxedo Kamen com urgência.

  Usagi respondeu reticente:

- Certo... – Então, pulou à frente e gritou pela Cura Lunar.

  Os dois observaram a mesma luz de antes envolver aquele segundo monstro, fazendo-o diminuir. Uma pedra pôde ser vista bem no meio do corpo. Todavia, ele escapou do golpe e pareceu aumentar seu tamanho mais ainda. Irritado, o monstro lançou outra tempestade de espinhos, da qual Tuxedo Kamen protegeu Usagi abraçando-a apertado, enquanto usava suas rosas para bloquear aqueles espinhos e contra-atacar.

  Envolta por aquele calor, ela começava a se esquecer de suas diferenças quando suas palavras a acordaram de volta à realidade:

- Aquela pedra... será mesmo um cristal arco-íris? – Tuxedo Kamen parecia perguntar para si mesmo, o rosto fixo na criatura.

  Mas não houve tempo para odiá-lo por mais uma decepção. A voz de Mercury já a chamava com urgência:

- Nós três vamos tentar segurá-lo com um ataque simultâneo enquanto você usa o cetro!

  Os olhos de Usagi pousaram inconscientemente sobre Tuxedo Kamen enquanto ela indicava ter ouvido o plano:

- Está bem – resumiu-se a dizer bem baixo, já com o cetro novamente preparado em mãos.

  Agindo conforme pedido, ela aguardou até que o monstro peludo fosse subjugado e atingiu-lhe com um Cura Lunar. Pôde novamente ver o formato de uma pedra junto ao vulto de um animal, mas quando a luz do cetro se extinguiu, não havia mais nada ali.

  Um som de ganido, cada vez mais distante, preencheu o silêncio aturdido.

- Mas aonde ele foi com o cristal?! – Mars perguntou furiosa, saltando para cima de um galho de árvore. – Ah, estou vendo uns arbustos se mexendo!

  Usagi voltou a observar Tuxedo Kamen, quem ainda tinha o rosto voltado para onde Mars apontava.

- Vai atrás do cristal?
- Não está confundindo as coisas, Sailor Moon? – a voz dele era quase mecânica ao dizê-lo. – Eu nunca a enganei sobre esse ser meu objetivo.

  As lágrimas já rolavam por seu rosto.

- É você quem tá confundindo – acusou-o com a voz esganiçada. - Se é para ficar do meu lado só na metade do tempo, prefiro que nunca mais nos falemos.

  Tuxedo Kamen não tomou um momento sequer para considerar aquelas palavras. Em vez disso, ele lhe sorriu.

- Se é assim que prefere, Sailor Moon... – E fez uma reverência, antes de sair em direção ao possível cristal.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Rei culpava-a depois de perder o animal – um cachorro? – de vista. Não realmente pelo sumiço do cachorro; não havia mesmo que se fazer quanto a isso, até porque Ami tinha agora quase certeza de que não se tratava de um dos cristais arco-íris. A questão era o elevado número de vezes que Usagi havia quase sido morta durante o confronto.

  Sua perna ainda doía. Era o grande problema. Desde que a virara antes de seu primeiro encontro com Mamoru, ela ainda não conseguiu se reestabelecer já que sempre havia algum monstro para enfrentar e piorá-la.

  A tela do fliperama à sua frente começou a piscar letras rubras infelizmente familiares: “game over”. Estivera tão preocupada com sua situação que se atrasou nos comandos do jogo e agora não tinha mais ficha alguma. Procurou no fundo de sua pasta, mas só encontrava papel. Resignada, apenas baixou a cabeça e marchou em direção à saída do salão de jogos.

- Nem te vi aí, Usagi! – Motoki falou quando ela passou por seu balcão. Ele passou as costas da mão na testa. – Estava lá dentro organizando uns papéis. Espere um pouco!

  Observou-o passar para a sala reservada a funcionários e voltar antes que a porta se fechasse. Uma lata foi posta na frente de Usagi. Ela se encolheu instintivamente ao estudar o rótulo.

  Tratava-se um suco gaseificado da mesma marca de seu primeiro encontro. Ao menos, não era de frutas vermelhas ou qualquer sabor que manchasse. Não que ela estivesse planejando sacudir como se estivesse tocando uma bateria com a lata. Havia aprendido sua lição.

- Pode pegar! – disse Motoki ao vê-la hesitar.

  Aceitando o presente, Usagi o abriu e deu um rápido gole. Não estava realmente com vontade de beber nada.

- Usa!

  Ainda com a lata nas mãos, ela se virou para a porta de vidro que acabara de abrir, Makoto entrava seguida de Ami.

- Parece até que tá fugindo de nos contar daquele seu encontro! – Makoto deu-lhe um tapa nas costas não intencionalmente forte demais.

  Usagi tossiu tanto em reação quanto pelo susto. Seus olhos voaram desesperados para Motoki. Ele definitivamente não poderia saber de nada, ou acabaria descobrindo por que Mamoru sairia justo com ela. O que, aliás, era justamente um dos motivos para ele fazê-lo. Ao mesmo tempo, não havia como a acusação de Makoto não ter sido ouvida...

- Encontro, é? – Ele confirmou suas suspeitas com tom sugestivo. – E foi tão mal assim que tá com essa cara?
- Motoki! – Makoto pareceu percebê-lo só nessa hora; seus olhos brilharam como se Usagi nem mais estivesse ali. Mas ela pareceu se lembrar de tudo antes que uma fuga pudesse ser completada com sucesso. – Ei, nada de me distrair. Como assim não nos contou nada? Somos suas melhores amigas!

  Ami assentiu acanhada, mas acrescentou também:

- Sentimos muito por ter atrapalhado sua conversa.
- Bem, era urgente – sopesou Makoto, que lançou mais um olhar apaixonado para Motoki e logo pareceu haver levado um choque. Sua boca quedou-se aberta até que ela o acusou: - Você já sabia!
- Eu? De jeito nenhum! – ele respondeu num tom pouco convincente. Pensando melhor, Usagi diria que Motoki estava confirmando mais que negando.
- Não acredito, Usagi – Makoto prosseguiu, ignorando aquela resposta. – Não falou nem pras suas amigas, mas abriu a boca pra ele? A não ser que tenha...

  Usagi a interrompeu antes que um absurdo fosse pronunciado:

- Não foi ele! E o Motoki não sabia de nada. Eu falei pra Luna e só.

  Mas as risadas de Motoki abafaram suas palavras e ficaram bastante altas até que ele conseguisse explicá-las:

- Foi mal, Usagi. Mas é claro que sei também.

  Todas o olhavam curiosas quando outra voz vinda de trás delas se inseriu na conversa:

- Luna não era o nome da sua gata? – Mamoru falou perto de suas costas, pondo a mão em seu ombro direito. – É só pra ela que não te deu vergonha de assumir, cabecinha de vento?

  A sensação em suas costas e ombro era tão idêntica à de Tuxedo Kamen que Usagi não sabia se deveria ficar feliz ou não por isso.

- A-a-a-assumir o quê?! – perguntou ela, enquanto escorregava para romper aquele contato.

  Motoki abafou o riso sem esconder a expressão divertida do rosto.

- Acho que todas já sabem agora.
- Não tem nada pra saber! – Usagi virou-se para Mamoru e continuou: – Para de brincadeira.

  Ele franziu a testa de modo tão inocente que uma parte de Usagi se perguntou se havia dito algo errado. Então, voltou a olhar para Motoki sem entender por que ele também estava envolvido.

- Claro que ele sabe – Mamoru adiantou-se ao dizer.

  Mas sabe o quê? A mente de Usagi não compreendia por que aquela brincadeira estava indo tão longe. Ou não era brincadeira? Estudou a expressão de ambos sem conseguir concluir nada.

  A voz alarmada de Makoto interrompeu seu fio de pensamento:

- Espera! – Ela abafou um riso, alternando olhar para Usagi e Mamoru. – Não me diga que vocês... Mas e a Rei?
- Que tem ela? – Mamoru perguntou.
- Vocês não tavam juntos noutro dia?
- Nós? – ele chegou a perguntar.

  Contudo, Motoki foi mais rápido na explicação:

- O Mamoru estava namorando outra pessoa, então acho que está enganada. Ou você já estava ensaiando mudar a faixa etária antes? – E dirigiu um olhar acusador.

  Mamoru deu um passo para trás balançando as mãos.

- Claro que não! E... não fale como se eu fosse um velho pedófilo.
- Foram só dois encontros bobos – Usagi acrescentou antes que mais dano fosse feito, já que ele não parecia nada preocupado em desfazer aquele mal entendido. Ainda sem convencê-los, ela também disse: – E em todos deu tudo errado.

  Ami curvou-se na direção de Mamoru.

- Por nossa culpa, sentimos muito...

  A risada de Motoki, porém, se adiantou a qualquer reação.

- Uma gata gritando como se fosse morrer é culpa de vocês? – perguntou ele para espanto de Usagi.
- Até isso você contou?! – Ela apontou para Mamoru com os olhos molhados de embaraço. Não queria imaginar a extensão daquelas conversas...
- É que ele não me deixou em paz – Mamoru disse – até explicar tudo sobre eu namorar a irmãzinha querida dele.

  Do lado de trás do balcão, Motoki assentia com algum orgulho de si próprio.

- Não precisava me incluir! – brigou Usagi.
- E como ele faria isso? – indagou Motoki como se o que havia sido dito fosse um absurdo. – A menos que estivesse namorando a Unazuki, não tinha como o Mamoru te excluir e—

  Motoki parou de repente e levou a mão para coçar a cabeça. Então, encarou Usagi por um momento.

- Você tava pensando na Unazuki? – perguntou-lhe ele, seu rosto transformado agora livre do tom jocoso. – O que a minha irmã tem com essa história?
- Nada! – gritaram Usagi e Mamoru.

A resposta fez Motoki suspirar, mas o alívio real foi de Usagi. Ela ainda possuía a vantagem sobre Mamoru, a irmãzinha da história era só ela.

  Seu plano estaria arruinado caso Mamoru revelasse sobre o tapa que Unazuki havia levado por sua culpa, e toda aquela conversa de namoro com irmãzinha levara-a a crer isso. Motoki poderia descobrir até sua identidade de Sailor Moon, mas se Usagi ainda quisesse ter algo com Mamoru, nada daquele dia poderia ser revelado.

  Sua cabeça estalou.

- De que namoro vocês tão falando, afinal? – ela perguntou tentando não pensar muito.
- Pera, Mamoru! Por que a Usagi tá como se não soubesse de nada? – A raiva de antes havia ressurgido no olhar lançado por Motoki. – Não me diga que tudo foi só uma mentira pra ocultar um romance proibido entre Unazuki e você?
- Não! – Mamoru encarou Usagi com uma veia quase estourando em sua testa. – Se não te conhecesse melhor, achava que está fingindo isso tudo pro Motoki me matar. Que raios de pergunta é essa, sua cabeça de vento?

  Ele pareceu se lembrar da plateia os observando – a bem da verdade, além de Makoto, Ami e Motoki, alguns clientes do salão de jogos também lhes lançavam olhares curiosos – e segurou Usagi pela mão.

- Vamos conversar a sós pra você me contar direitinho por que tá aprontando pra mim desta vez.
- Aprontando? – Ela entortou a cabeça.

  Mas não teve tempo de se defender, pois Mamoru passou a andar para a saída, puxando sua mão junto. Sua cabeça estava um branco, a não ser por estar mais que consciente de ter todo tipo de olhar voltado para os dois saindo de mãos dadas.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Tentou seguir o ritmo de Mamoru rua abaixo, mas era difícil adivinhar as curvas que ele fazia. Parecia procurar algo, virando a cabeça para todo lado na esquina. Mas o que Usagi tinha com aquilo?

- Não podemos só sentar? – ela perguntou já cansada.

  Não podia reclamar de suas mãos juntas assim. Era uma sensação muito boa – só não tanto quanto no último sábado quando estavam conectados pelo braço. Logo ela também suaria com todo aquele momento e isso não seria mais tão agradável, né? Não contando o incômodo em seu pé machucado.

- Mamoru! – gritou como se estivesse prestes a lhe aplicar um sermão.
- Calma, eu já sei de um lugar.
- Lugar? Mas que... – Sua voz morreu quando percebeu a tela de uma televisão.

  Freou na frente da loja de eletrônicos e observou o rosto distante de Tuxedo Kamen, envolto pelas árvores da floresta. Era uma filmagem amadora feita do alto e sem muita qualidade. Ainda assim, mostrava toda a batalha do último sábado sem perder muitos detalhes.

- Não acredito que parou pra tietar outro cara – Mamoru reclamou sem, contudo, voltar a puxar sua mão de volta.
- Não tô tietando nada!
- Ah, não? Quantas vezes já não te vi suspirando por essa pessoa? Fica morrendo de amores por ele sem nem saber se é perigoso, ou humano ao menos.

  Sentindo-se culpada, Usagi baixou o olhar até a calçada.

- Está enganado – mentiu parcialmente. – Sei bem que devo ficar longe dessa pessoa.

  As pupilas de Mamoru se dilataram; ilustravam genuína surpresa.

- Como? – ele perguntou.
- Disse que sei que ele é perigoso. Ainda que sempre venha resgatar a Sailor Moon, ele só finge que é um príncipe encantado.
- Não pode culpá-lo de fingir se é você que tá chamando ele disso.

  Usagi sorriu fraco e indagou:

- Vai defendê-lo agora? Pensei que não gostasse dele. Que vocês eram completamente diferentes.

  Ele pareceu confuso – quem não estaria com um assunto desses? –, mas meneou a cabeça e respondeu-lhe:

- Não posso te prometer que somos completamente diferentes. – Havia uma nuance estranha na forma como ele o havia dito.
- Tudo bem! – Ela lhe deu um tapa nas costas a fim de quebrar o clima pesado. Então, ergueu a outra mão junto com a que Mamoru segurava e declarou:  – Desde que você não seja ele, pode me arrastar pra onde quiser!

  Lentamente, a ponto de ela achar que estava prestes a ouvir alguma confissão de culpa, Mamoru concordou.

- Vamos, logo ali já poderemos nos falar em paz...

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Ele realmente havia conduzido Usagi até um beco na interseção entre várias pequenas ruas. Havia uns dois restaurantes ali, mas ambos se encontravam fechados.

- Agora você vai me revelar que é o Batman? – ela indagou de sobrancelhas erguidas. – Pra que esse exagero todo?

  Pensando melhor, devia mesmo confiar naquela pessoa. Nem mesmo uma cabeça de vento como ela – estava mesmo se chamando disso? – se deixaria estar tão vulnerável com quem não confiasse.

  Mamoru levou uma das mãos à testa – a outra continuava a segurá-la – e balançou a cabeça estalando a língua.

- Eu é que não estou te entendendo. – Ele estalou a língua. – E aquela multidão querendo saber da gente me tirou do sério. Não sou bom perto de muita gente.
- Multidão que não teria se formado se você tivesse esclarecido tudo ao Motoki.
- Tenho senso de autopreservação para não me tocar no nome da Unazuki.
- Não é isso! – Sentia-se exasperada. Não queria reclamar de algo que lhe favorecia, mas a atitude de Mamoru não encaixava. – Isso de estarmos namorando. No sábado, o que você disse quando eu perguntei e...

  Ele a interrompeu.

- Depois que aceitei você desistiu da proposta?
- Claro que não! Mas... – Ela pausou para respirar e sacudir mais ainda a cabeça. – Disse que aceitou? Porque “namoros são cansativos” e “você é nova demais” não concordam muito com isso.
- Não tenho problema de memória que nem você, sua cabeça de vento. Eu disse isso aí mesmo. – Mamoru levantou dois dedos bem perto de seus olhos. – Então, você me respondeu que iríamos ficar juntos até eu querer terminar e que estava propondo a coisa toda. Agora sua vez de recapitular: o que eu te respondi depois dessa?

  Usagi soltou a mão dele e cruzou os braços não se importando que fizesse uma careta.

- Você me perguntou se aquela não era minha gata. – Seu rosto queimava, parcialmente por ainda recordar-se da irritação por ser interrompida, parcialmente porque a gata inconveniente era mesmo dela.

  Mamoru balançou o dedo, ainda perto demais de seu rosto.

- Antes – pediu ele, aproximando mais o corpo. – Enquanto você nem me olhava de tanta vergonha do que me havia proposto. Aliás, nota dez em passar confiança no que propõe, né?

  Enquanto ele sorria divertindo-se com as próprias palavras, Usagi só conseguia franzir para o que ouvira. Toda a cena de que ela se lembrava havia sido descrita. Exceto por esse “antes”. De que “antes” estavam falando?

- Não teve antes nenhum! – disse com a impaciência acompanhando suas palavras. – Eu disse aquilo e a Luna apareceu.
- Teve um minuto ou dois entre uma coisa e outra.

  De fato, havia acontecido então um daqueles momentos eternos de silêncio constrangedor. “Um minuto ou dois” dizia muito pouco para o que ela havia sentido.

- Dois minutos de puro silêncio – acabou por insistir, virando o rosto para o lado.

  O som da risada de Mamoru a fez voltar para encará-lo. Ela o matava se tudo isso realmente não passasse de piada. Contudo, seus olhos não tiveram tempo de se focar antes de ele puxar seu rosto para um beijo.

  Num reflexo semelhante a chutar o nada se batem no seu joelho, suas mãos se levantaram e tentaram agarrar o ar. Não que fossem conseguir fechar pra fazer isso. Seus dedos não se mexiam mais. Ela nem sequer tinha certeza se ainda estava respirando desde que a língua de Mamoru entrara em contato com a sua.

  Estava quente, abafado, úmido. Seus sentidos pareciam sumir, enquanto a realidade se tornava distante. Só havia os dois ali. E ela própria sentia-se prestes a desaparecer.

  Foi por isso. Ele havia sido enfático em se falarem num local vazio porque já pensava em fazer isso. Usagi se sentiu enganada, mas nem um pouco brava por isso.

  Os dedos dele seguravam seu ombro e seu rosto com a delicadeza que se tocaria uma rosa. Ela podia fugir no momento em que desejasse. Podia até usar as mãos livres para lhe dar um tapa, ou para o empurrar.  Mas por que faria isso quando podia abraçá-lo de volta?

  Terminado o beijo, Usagi cogitou a possibilidade de recomeçá-lo, mas notou que sua cabeça rodava demais para isso. Precisaria levar uma coisa de cada vez.

- Lembrou agora? – ele lhe perguntou, sua voz ligeiramente rouca.

  Aquele tom seria porque Mamoru também estava sentindo aquele começo de vertigem? Ela olhou para uma das mãos, a qual havia ido parar no pescoço dele. Não queria tirá-la dali, por isso desviou o olhar antes que ele dissesse algo.

- Lembrei o quê? – ela devolveu a pergunta cautelosamente.
- Que você é minha namorada.

  Seu rosto queimou. Sua mente queria responder que sim, se isso significava que ela podia roubar-lhe beijos ainda mais duradouros que aquele.

- Eu sou?

  A mão de Mamoru apareceu em seu campo visual – ela havia saído da cintura de Usagi a julgar pelo frio que sentia no local – e passou pela frente de seus olhos, não sabia se ajeitando-lhe os cabelos para o lado ou apenas acariciando-a.

- Eu disse que sim, cabecinha de vento. – Ele usou três dedos para lhe descer pela bochecha e então contornar a linha de seu maxilar até pará-los na parte de trás de sua orelha.

  Usagi perdeu a capacidade de respirar uma vez mais. Não sabia se pela carícia que recebia ou pelas palavras que ouvira.

- Você realmente não lembra? – Mamoru juntou as sobrancelhas e a estudou com os olhos. Enfim, abriu um sorriso. – Está arrependida? Pois eu pretendo cobrar seus termos.

  Ela lhe devolveu uma expressão confusa.

- Primeiro termo – ele voltou a falar –, seremos namorados de verdade. Segundo, você não irá me perturbar se eu for um péssimo namorado.
- Quando foi que eu disse isso? – ela perguntou, afastando a mão dele de sua orelha. – Eu posso reclamar à vontade!

 Sem deixar sua expressão ser alterada, Mamoru explicou:

- Eu perguntei o que você queria comigo, e você mesma falou que só queria um namorado. Mais, que eu podia fazer o que quisesse.

  Usagi já estava com os lábios prontos para protestar, mas soava mesmo ao que ela havia dito no Mrs. Doughnuts. Só que tinha certeza de que havia se referido a contato físico e não a ele ficar livre pra continuar a ser o imbecil de sempre.

- Falando nisso – ele prosseguiu. – Terceiro termo: nós terminamos quando eu disser. Sem enrolações. Sem chamar a Unazuki pra resolver.
- Acabou? – perguntou Usagi, já cruzando os braços.
- Tenho certeza de que tinha mais...
- É tão fácil esquecer sua própria obrigação...– Ela lhe apertou a orelha. – Não me trair. Ai de você se eu te pegar olhando pra outra!
- Certo! – Mamoru se afastou um pouco. – Só nem pense em dar um ataque de ciúmes se você me ligar, e eu disser que estou ocupado. Eu realmente vou estar.
- E se não estiver ocupado de verdade?
- Vai ter que confiar em mim. Eu direi se só não quiser te ver, sem mentiras.

Ela pensou por um momento e notou que mais parecia estar procurando pontos em que discordar.

- Contanto que você continue sendo sempre assim, eu estarei satisfeita – disse em voz baixa.

Mamoru entortou a cabeça e indagou:

- Assim como?
- Diferente daquela pessoa. Do Tuxedo Kamen.

  Era esperável que suas palavras não fizessem sentido. Por isso, Usagi não sentiu nada ao perceber o espanto no rosto dele.

- Nós não somos realmente tão diferentes quanto você acha.

  Apesar de Mamoru o haver dito com o rosto tão sério quanto o dela próprio, uma risada escapou da boca de Usagi. Ela balançou a cabeça várias vezes e declarou:

- Você só pode tá delirando. Não há melhor aposta de pessoa mais nada a ver com o Tuxedo Kamen. 
- Mas...
- Estou falando do jeito dele de ser, não fisicamente. Sabe, ele é um perfeito cavaleiro e você um cretino convicto.
- Ei! – ele reclamou, mas ficou em silêncio depois.
- Bem, agora que os termos estão expostos... é melhor eu voltar para o salão e explicar o mal entendido todo pras meninas. – Levou as mãos para abanar o rosto. – Só de pensar que agora posso esfregar na cara da Rei que tenho namorado!

  Mas ele se mexeu de forma a bloquear seu caminho.

- Acho que terá que adiar um pouco seus planos – disse-lhe, pondo a mão em seu pescoço. Em seguida, ele se curvou um pouco até seu rosto cruzar o de Usagi e parar bem ao lado de seu ouvido. A distância, o bastante para ele falar sem que seus lábios a tocassem. – Eu ainda não terminei os meus por hoje.

  Ato reflexo, Usagi afastou um pouco a cabeça para poder ver que expressão Mamoru estaria fazendo. Isso apenas facilitou o reencontro de seus lábios e um beijo com um nível acima do anterior, tanto em dificuldade quanto em intensidade.

  Contra sua boca, ele ainda acrescentou com o tom jocoso:

- Eu te levo para mais donuts daqui a pouco.

  Não precisava pagá-la com comida, era o que Usagi quis responder. Mas seu corpo todo estava ocupado demais correspondendo a cada movimento de Mamoru.

  Por que será que aquela mulher reclamara tanto? Seria tão difícil um espaço na agenda dele? Porque bastava um beijo assim para qualquer problema derreter para longe. Da forma como iam, não seria nada difícil esquecer-se de Tuxedo Kamen.

Continuará...

Anita, 22/02/2014

Notas da Autora:

Perdões pela demora pra postar... Faz quase um mês, né? Err três semanas! Até que nem foi tanto...... foi? É que estou enrolada com o fim da dissertação e distraída com tudo o que não deveria. Acabo perdendo a noção do tempo. u.u

Queria aproveitar e convidá-los pra um evento que começa dia 28 de junho (de 2015, a data acima foi quando terminei o primeiro rascunho... sim. Sério). *limpa a garganta* É a Semana Olho Azul, basta você escrever uma fic de 200 palavras (ou mais) sobre o tema "olho azul", não o site, nem necessariamente um olho azul. Subjetivo, entendem? E qualquer fandom ou original será aceito, não tem desculpa pra ficar de fora! Confiram detalhes na nossa comunidade http://oafanfics.livejournal.com/

Por fim, tenho que agradecer a vocês por continuarem me acompanhando não obstante minhas inconstâncias. Sempre me cobrem, please! 

E até o próximo capítulo!!!

Um comentário:

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