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[Sailor Moon] Por Quem Não me Apaixonar - Capítulo 2, escrita por Anita

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Título: Por Quem Não me Apaixonar
Autora: Anita
Fandom: Sailor Moon
Gênero: Comédia romântica, drama
Classificação: 14 anos
Resumo: Tsukino Usagi / Chiba Mamoru. Usagi presencia uma artimanha de Mamoru e percebe como lhes seria conveniente se os dois começassem a namorar. Quando o escolheu apenas por esse acaso, não fazia ideia de haver conseguido justo seu Tuxedo Kamen como namorado.

Notas Iniciais:
Sailor Moon ainda não me pertence e eu não lucro nada nadinha com isto. Por isso não hesitem deixar seus incentivos (como comentários, não dinheiro xD evitemos um processo, né?). ;)E a capa linda desta fic foi feita pela Miaka-ELA, mil agradecimentos!!! ♥


Olho Azul Apresenta:
Por Quem
Não me Apaixonar


Capítulo 2 – Seus Termos

  E bem quando Usagi pisou dentro de casa e cumprimentou sua mãe, bem antes de ela poder subir para seu quarto e trocar a roupa melada de suco de frutas vermelhas... seu comunicador a convocou para novo ataque de monstro.

  Aquilo deveria ser ilegal. Ela já havia salvado o mundo uma vez naquele dia, por que tinha que ir de novo? Era o que pensava do alto de um armazém, ao observar o monstro saquear um container.

  As meninas ainda não haviam chegado, nenhuma realmente esperava a segunda aparição e cada uma havia se distraído com algo. Makoto, a garota nova, estava visitando amigos em outra cidade. Nem havia sido possível chamar Ami... ela devia estar no cursinho, ou estudando na biblioteca, ou só sendo um supergênio com alguma coisa noutro lugar. Rei estava a caminho, mas ter que lutar com ela não elevava tanto assim o ânimo de Usagi.

  Suspirou ao perceber que um dos empregados daquela fábrica havia aparecido para ver do que se tratava o barulho e agora gritava ante seu encontro com o monstro.

- Ele vai atacá-lo também! – gritou-lhe Luna. – Todos os outros que estavam aqui foram atacados e levados inconscientes para lá.

  Luna apontava para um canto escuro além dos containers. Não dava para identificar nada; teria que confiar naquelas palavras. Ou seja, não tinha tempo para esperar Rei resolver aquele problema.

- Ai, ai... – Usagi lamuriou.

  Saltando do armazém, lançou sua tiara contra a mão escamosa do monstro. Em seguida, apontou para o monstro e gritou que o puniria em nome da lua. Mas, enquanto tentava fazê-lo da mesma forma de sempre – isso lhe dava mais ânimo para lutar, pois se sentia a heroína do videogame da Sailor-V –, seu pé perdeu apoio e virou de forma perigosa. No próximo momento, ela abriu os olhos para ver o céu estrelado e vários zumbis de trabalhadores a cercando com equipamentos cortantes em mãos.

  Tamanho o pânico, Usagi fechou os olhos de novo e berrou um pedido de socorro na esperança de Rei já haver chegado. Ouviu enquanto eles ficavam cada vez mais perto, mas ninguém respondia a seu choro. Como caíra antes de receber a tiara, ela não tinha certeza de como poderia se defender sem machucar aquelas pessoas. Não conseguia pensar em nada. Só em gritar mais alto.

  Havia funcionado uma vez, né? Algo amplificara seu choro de forma a afastar o monstro. Contudo, havia sido sua primeira missão como Sailor Moon, e nunca mais algo assim ocorrera.

  Precisava pensar...!

  De repente, não precisava mais. Uma rosa vermelha voou no meio dos zumbis e caiu bem aos pés de Usagi.

- Tuxedo Kamen! – ela bradou com os olhos brilhando na direção de seu príncipe encantado. Não havia esperado por sua aparição, já que não o havia visto na luta contra o monstro de mais cedo.

  Pulando desde outro armazém, ele fez uma aterrisagem perfeita logo à frente daquela cena e avançou sobre os zumbis.

- Deixo aquele monstro com você, Sailor Moon – disse ele na voz galante de sempre.
- Sim! – Ela se levantou do chão e pegou seu cetro.

  Era difícil não se sentir reanimada após ser salva por Tuxedo Kamen. Ainda que ela não quisesse pensar nele – em especial após a declaração de ser seu rival na busca pelos cristais arco-íris e pelo Cristal de Prata –, seu coração batia desesperadamente a ponto de doer até mais que suas costas de quando caíra no chão.

  Um riso lhe escapou os lábios quando sua cabeça associou as emoções. Acabou pensando em Mamoru. No beijo que havia recebido pouco tempo antes. Era uma emoção parecida. Entretanto, aquela se tratava de uma reação natural à aparição Tuxedo Kamen e uma de total oposto ao natural quando se tratava de Mamoru.

  Antes de usar o cetro, olhou de novo para onde Tuxedo Kamen combatia os trabalhadores controlados com todo o cuidado para não machucá-los, nem permiti-lhes escapar até onde Usagi se encontrava. Ele... lembrava um pouco Mamoru. Alguém já havia lhe comentado algo similar antes, né?

  Ela sacudiu a cabeça e apontou o cetro lunar para o monstro. Não era hora para pensar em besteira, precisava salvar todo mundo antes que algo sério acontecesse.

  Assim que o poder do cetro atingiu a criatura, esta brilhou forte e sumiu. Um brinquedo de plástico caiu inerte no chão, seguido logo pelos homens que enfrentavam Tuxedo Kamen.

- Sailor Moon! – Sailor Mars gritou, vindo correndo por entre os containers.

  Mas ela parou ao perceber que não havia mais inimigos à exceção de Tuxedo Kamen – não que este fosse mesmo um. Imediatamente, ela assumiu uma posição defensiva e o encarou.

 Em resposta, ele se resumiu a dar uma risada e fazer uma reverência para as duas. Não disse nenhuma palavra antes de ir embora.

- O que ele fazia aqui? – Sailor Mars perguntou, estudando cautelosa os trabalhadores caídos ao chão.
- É que eu tinha levado um tombo quando cheguei, e aí todo mundo me rodeou e... – Usagi continuou a relatar, enquanto conferia se todas as vítimas estavam bem.

  Sailor Mars bateu a mão enluvada contra a testa, balançando a cabeça com uma carranca.

- Não acredito que você conseguiu perder o equilíbrio fazendo as coisas que sempre fez. Ao menos, ele te salvou. Mas da próxima vez, um cristal arco-íris pode estar envolvido e não podemos confiar que ele não te matará em vez disso.

  O instinto de protestar não venceu a sensação de que Sailor Mars devia estar certa, razão pela qual Usagi apenas apertou um lábio contra o outro sem responder nada. Então, lembrou-se de algo.

- Mars – chamou-a. – Uma vez você disse que achava o Mamoru parecido com o Tuxedo Kamen, né?
- Agora vai me dizer que decidiu que essa é a identidade secreta dele? – Ela não havia negado, mas não parecia nada satisfeita com o assunto. – Só porque o Tuxedo Kamen está nos tratando assim e o Mamoru te trata mal não é razão pra pensar abobrinha, sua cabeça de vento.
- Não é o que quis dizer! – Usagi se defendeu.

  Preferiu não acrescentar que ainda não havia parado e pensado no que a semelhança podia significar. Ela só estava curiosa se não estaria associando seu ídolo, Tuxedo Kamen, com o homem que acabara de beijá-la.

- Mas isso nunca seria verdade, né? – Usagi riu nervosa, olhando fixamente para Sailor Mars em busca de algum conforto. – Aquele Mamoru nunca seria meu Tuxedo Kamen! Impossível!

  Sem responder, Sailor Mars apenas deu de ombros. Então, foi interrompida por Luna que anunciava haver mais pessoas desmaiadas no canto que ela indicara mais cedo.

- Vou lá checar. Sailor Moon, avise à polícia enquanto isso – ordenou antes de sumir por entre os containers.

  Usagi assentiu, decidida a esquecer a conversa de antes. Justo quando começava a considerar um namoro com Mamoru não devia pensar em Tuxedo Kamen. Em vez de juntá-los, ela devia substituir os pensamentos em um pelo outro.

  Não era esse seu plano inicial quando fizera a proposta maluca?

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Ainda que estivesse determinada a tentar algo com Mamoru, não esperava que seu coração fosse aceitar a mudança de atitude tão rápido. Na segunda seguinte ao encontro, Usagi pegou-se decepcionada com encontrar apenas Motoki no salão de jogos.

- E cadê o Mamoru? – perguntou sem poder pensar melhor no quão estranho agia.

  Motoki franziu a testa e olhou para os lados.

- Não se unharam hoje ainda? – Ele gargalhou, sempre divertido com as histórias de discussões.
- Não o vejo... – Ela conteve o “desde sábado”, apesar de não ser incomum trombar com Mamoru pela rua a qualquer hora. - ...faz um tempo.

  Para sua surpresa, Motoki soltou um longo suspiro.

- Então, ele deve ter ficado trancado em casa – disse com a voz arrastada.
- Trancado?
- Ele terminou o namoro na semana passada. Digo, dizer namoro de meses não parece nada, mas deve ter sido o mais longo de todos. Então, dá pra imaginar como ele tá, né?

  Usagi entortou a cabeça e tentou não balançá-la, mas sua cabeça não a obedeceu. Era difícil juntar a imagem deprimida que Motoki estava descrevendo com o Mamoru galã convencido de sempre no encontro daquele final de semana. Principalmente, quando aquele havia sido um encontro.

 “Ele não parecia nada assim”, ela estava pronta a explicar, mas notou que Motoki sequer percebera seu gesto. A bem da verdade, julgando por sua expressão, mais parecia que era dele o relacionamento rompido.

- Eu achava que desta vez ia dar tudo certo. Eles duraram tanto, apesar das manias dele.
- Manias? – Sem levar a sério o assunto, Usagi começou a listar enquanto levantava um dedo por item: – Como não chamar os outros pelo nome, ficar aparecendo em todo lugar a todo momento como se não tivesse melhor pra fazer além de vagabundear, fazer questão de mostrar que sabe de tudo e realmente saber...

  Não era por falta de que reclamar que ela não prosseguiu e sim porque não lembrava mais como havia elegido Mamoru a pessoa que a faria se distrair de Tuxedo Kamen. Tudo encaixara tão bem na sua cabeça assim que a ideia lhe atingira... Agora soava mesmo a uma loucura.

  Ainda assim, a tarde passada com aquela mesma pessoa da lista havia sido digna de um filme romântico, não? Exceto pela mancha no seu vestido novo. Talvez até isso poderia ser parte de uma comédia romântica.

  Ela ainda não havia conseguido concluir nada quando a risada de Motoki a interrompeu.

- Esse amor todo é um tratamento especial pra você, né? – ele disse como se broncas e nomes feios fossem algum motivo de orgulho. E complementou em uma voz baixa, como se falasse para si mesmo: – Antes ele também tratasse as namoradas assim...

  Estava pronta a inquirir que garota aceitaria aquilo, se Motoki realmente já havia presenciado as coisas horríveis que Mamoru lhe dizia e se Motoki também dava esse “tratamento especial” para sua namorada. E Mamoru parecia ter o dom de saber exatamente onde doía mais, como quando lhe dizia que estava engordando e que nunca conseguiria um namorado. Podia soar como algo bobo, mas fazia seu sangue ferver.

  Todavia, Motoki já havia se distraído com outro cliente enquanto Usagi preparava uma boa resposta para aquela linha de pensamento ao avesso.

  Pensando melhor, a parte importante daquele assunto havia sido perdida com a chance de perguntar melhor sobre aqueles relacionamentos de Mamoru.

  Era justamente o que lhe interessava e não podia ser perguntado a qualquer momento, pois Motoki não parecia fazer ideia do que estava acontecendo. E estava longe de Usagi deixar escapar qualquer informação sobre seu encontro do final de semana ou sobre suas intenções de ali em diante. Não podia falar sobre o que havia visto que dera aso a tudo isso, pois sua vantagem residia justamente em manter-se quieta sobre o envolvimento de Unazuki.

- Droga – disse frustrada, pois agora lhe restava somente uma fonte de informações, que era o próprio Mamoru.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Usagi olhou para o relógio em seu pulso e o conferiu com o relógio da estação de trem. Era já meio-dia e meia, e o local estava cada vez mais cheio de pessoas correndo para todos os lados em busca de algum lugar para almoçar. Todos pareciam já haver encontrado a quem esperavam, mas ela continuava ali de pé.

  Tinha certeza de que havia marcado com Mamoru sábado, na saída da estação, ao meio-dia. E ela havia chegado fazia duas horas de tanto esforço para não se atrasar daquela vez – ainda se certificara de “esquecer” seu comunicador na gaveta do quarto a fim evitar os mesmos imprevistos de antes. Queria cumprir nos mínimos detalhes sua parte naquela história e ver se o “tratamento especial” do último encontro mudaria para algo mais cavalheiro.

  Era difícil acreditar que fosse ele quem não houvesse chegado ainda.

  Custara até terça-feira para revê-lo e, mesmo assim, havia sido um esbarrão rápido enquanto ela corria para encontrar Rei e as meninas no templo Hikawa. E foi Usagi quem lhe lembrou que ele lhe devia um encontro antes mesmo que Mamoru pudesse fazer alguma de suas piadas tipicamente implicantes. Contudo, quem escolhera o lugar, o dia e o horário foi ele. Tinha sido só uma piada? Vai que ele disse algo como “claro que vamos sair! No dia 30 de fevereiro, tá?”... Não seria a primeira vez que seu raciocínio lento a atrapalhava entender essas coisas. Ainda assim, era maldade demais fazê-la esperar daquela forma.

  Seus olhos já estavam cheios de lágrimas quando Mamoru a chamou.

- E eu achando que você só estava atrasada, cabecinha de vento. – Como que para ilustrar o apelido “especial”, ele lhe passou a mão no topo de sua cabeça e pressionou de forma carinhosa.

  Uma risada escapou da boca de Usagi, mas logo parou ao pensar que devia estar mostrando a mesma expressão satisfeita que Luna fazia sempre que a acariciavam assim. E se irritou por fazer essa imagem mental depois de uma sensação tão boa. Graças a isso, teve que sair debaixo daquele peso para esquecer a associação e aproveitou para encarar Mamoru.

- O atrasado aqui é você! – Apontou para o peito dele num movimento impetuoso. – Cheguei aqui há horas só pra te fazer cumprir sua promessa.

  Mas ele pareceu confuso assim que ela mencionou a palavra promessa, e Usagi teve que pausar seu sermão para explicar:

- Que se eu agisse direitinho, você também agiria. Pra eu não aprontar mais.

  Sem indicar que se lembrava daquilo, Mamoru fez um gesto para o outro lado da estação.

- Na verdade, eu estava há meia hora no lugar onde te falei que estaria, cabecinha de vento. – E sorriu divertido. – Na saída em frente ao Sizareya. Sabe, o restaurante onde vamos almoçar?

  Usagi se deu um tapa na testa ao perceber que as palavras realmente soavam familiares. Até se lembrava de haver ficado indecisa se pediria massa ou um dos pratos feitos com hambúrguer que acompanhavam uma tigela de arroz com o tamanho preferido pelo cliente. Ela sempre pedia o maior, claro. Por isso, também se lembrava de seus planos para convencer Mamoru a fazer o mesmo e ela pegar o excesso para si.  

- Achei que era aqui em frente ao Mrs. Doughnuts – disse Usagi com a voz fraca.
- Sua barriga tá pensando em almoçar doce? – Ele franziu a testa enquanto gargalhava.

  Como sempre, ele fazia um comentário de fundo pejorativo sobre seu apetite aguçado por alimentos calóricos. Daquilo, era um passo a dizer que nunca se qualificaria para ser namorada de ninguém, muito menos dele. Contudo, ela não sentia qualquer irritação e apenas acompanhou sua risada, mostrando a ponta da língua.

- Já vi que nossa sobremesa já foi escolhida, né? – Mamoru olhou novamente para a loja.

  Com o estômago reclamando após a longa espera e tanta conversa sobre comida, Usagi passou a andar na direção do Sizareya na esperança de que ele não quisesse atrasar mais seu almoço. Mas preferiu não deixar a impressão errada sobre o assunto, por isso explicou:

- Eu nunca disse que não comeríamos aquele pudim delicioso do Sizareya! – E riu com uma piscada de olho para Mamoru, que pareceu entender que o pudim também não excluía a visita ao Mrs. Doughnuts.

  Bem, ao menos ele compreendia seu estômago espaçoso... Ainda que gostasse de implicar com isso.

  E foi bem enquanto pensava assim que Usagi sentiu uma pontada na perna direita e acabou tendo que dar um pequeno pulo para evitar tropeçar em si mesma.

- Vou te deixar tirar uma casquinha pra compensar sua espera – Mamoru disse ao alcançá-la. Ao mesmo tempo, o braço dele enroscou-se no de Usagi em um gesto ambíguo entre apoio ou exibição de afeto.

  Não ganharia nada em saber qual era a real intenção por trás disso, então, Usagi tentou seguir o seguir diálogo para concentrar sua mente em qualquer outra coisa.

- Não faz mais que sua obrigação. Só tinha passado meia hora e você já tava indo embora quando me viu ali, né? – Forçou uma expressão desapontada para acompanhar a reclamação.

 Suas amigas e seus pais deviam ser os únicos que entendiam o fato de meia hora de atraso ser quase tão bom quanto pontualidade em se tratando do modus operandi de Usagi.

- Claro que não – disse ele rapidamente. – Eu te conheço o bastante para não só contar com o atraso como com você se distrair com outra coisa, trocar o ponto de encontro, estar estatelada em algum canto da estação... Era previsível que estivesse perdida, aí fui confirmar.
- Ei! – Ela fingiu sentir-se ofendida. – Perdida eu não tava, não.
- É...
- Que tom é esse? Quando você fala perdida até parece que sou alguma criança que não sabe onde tão os pais, poxa. – Usagi levou a mão livre ao topo de sua cabeça com a lembrança. – Aquele cafuné! Você tá achando que sou criança, é?

  Só estava brincando importar-se com o que Mamoru estivesse pensando. A última coisa com que ela poderia se importar era por receber um tratamento assim, já que primeiro precisava agir como alguém de sua idade se não o quisesse e isso dava muito trabalho. Entretanto, era inegável o alívio que sentiu quando ele lhe balançou a cabeça em resposta e balançou a mão para dar mais ênfase na negativa.

- Não estaria aqui perdendo meu sábado com crianças. – Mamoru sussurrou perto de seu ouvi, complementando o galanteio com uma piscada.

  Era difícil continuar o tom de brincadeira quando seu estômago queimava como se houvesse engolido ácido. Um ácido que a deixava corada e sem ar.

  E essa reação apenas pareceu diverti-lo ainda mais, pois Mamoru soltou uma risada bem alta. Ela não se importou de lhe servir como motivo de chacota dessa vez; estava ocupada demais avaliando se poderia deitar um pouco naquele braço para realmente “tirar uma casquinha”. Ele que ofereceu, certo?

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  O encontro seguiu sem grandes incidentes. A menos que contasse quando Mamoru recusou pedir mais arroz do que ia comer e disse que Usagi pedisse mais uma tigela se ainda não estivesse satisfeita. Ela não teve coragem de responder que nunca estaria satisfeita e que poderia ficar o dia inteiro ali comendo, que apenas tentava se limitar para não ter que ouvir lhe dizerem – e isso incluía principalmente ele próprio – que ela estava engordando. As pessoas não cooperavam com seu regime e depois se achavam no direito de reclamar! Enfim, tirando esse pequeno aborrecimento e a tristeza em observar a tigela média de Mamoru ser esvaziada – ele não ia mesmo deixar nem um grão? –, o dia passava tranquilo.

 Conforme prometido, agora estavam sentados no Mrs. Doughnuts, e Usagi cumpria a missão a que se incumbira assim que entraram: experimentar todos os sabores. Não que já não os conhecesse, mas cada dia era outro dia, certo? Alguns poderiam estar melhores que da última vez. Depois que ela decidisse quais, poderia considerar quantos repetiria. Mas o de blueberry... esse sempre parecia ser o campeão!

- Se eu pudesse, comeria donut de blueberry em todas refeições – comentou lambendo o polegar ao terminar um.

  Quando Mamoru apenas lhe sorriu e tomou mais um gole de seu cappuccino, ela franziu a testa.

- Sem comentários sobre meu peso?
- Considerando o que vi do seu almoço, você emagreceria se comesse apenas donuts de blueberry de refeição. – Ele sorriu vitorioso.

  Havia sido uma armadilha.

- Realmente, você tá em plena forma – Usagi disse, já terminando mais um donut. – A troco de que tá enganando o Motoki, hein?

  Mas ele apenas lhe devolveu uma expressão confusa.

- Ele me disse que você tava todo deprimido que seu namoro terminou. – Apesar de sua tentativa de inserir uma entonação dramática, Usagi não pôde conter o riso ao se recordar da preocupação de Motoki. – Não me diga que nem seu melhor amigo sabe que você praticamente implorou pra terminar?
- Ele sabe – Mamoru respondeu. – Apenas não falei nada sobre a irmã dele ser a outra que eu fingi ter.
- E a depressão foi criação da cabeça dele, é?

  O suspiro longo vindo de Mamoru abafou até o final da pergunta.

- Ele é que nem meus pais. Se digo que terminei algum namoro, todos já ficam achando o pior.
- Só querem que você case logo; normal! – Usagi exibiu um sorriso confiante.

  Pensando melhor, aquela não era a melhor frase para um encontro agora que acabara de dizê-la. Não era como se ela pudesse se casar com quinze anos de idade. Tinha mesmo acabado de advogar contra sua proposta, mandando-o procurar logo outra.

- Meus pais não estão realmente me apressando. Ainda é cedo – ele disse para seu alívio. – Acho que só gostariam que eu encontrasse alguém de quem eu goste. No ritmo que as coisas andam, eles têm medo de isso nunca acontecer.
- Continue tratando tão bem assim as garotas que ninguém vai querer mesmo saber de você. Mas haverá sempre aquela doida que deu um tapa na Unazuki, né?

  Mamoru parecia divertido com o assunto e, mesmo assim, disse:

- Ela tinha outro.

  Surpresa com a revelação – ainda mais quando feita daquela forma –, a pergunta escapou os lábios de Usagi:

- Por isso que você deu o troco?!
- Não – ele respondeu firme. – Ela não queria admitir que preferia continuar com ele. Imagino que eu parecesse um investimento melhor. Depois de tantos meses juntos, ela não devia querer perder para alguma paixonite todos os dias de estresse para se acostumar comigo.

  Usagi observou-o boquiaberta ao ouvir tudo aquilo. Até ele próprio fez uma expressão de quem se perguntava por que o havia falado, mas não parecia realmente arrependido. Ou triste.

- Por isso você devia aceitar minha proposta! – ela optou por dizer. Na pior das hipóteses, poderia recuperar o bom clima do encontro.
- Isso de novo? – Mamoru mexeu-se na sua cadeira e pareceu considerar pedir mais um cappuccino à pessoa que os estava atendendo. – Espero não ter dado a entender que eu tinha aceitado quando falei em sairmos de novo.

  Ela negou rapidamente:

- Não é nada disso! – mentiu para esconder a leve decepção. Claro, não havia entendido que já estavam namorando, mas... Preferiu voltar a falar em vez de pensar mais.

  Contudo, Mamoru se adiantou para declarar:

- Namoros são cansativos. – E o ilustrou com um suspiro.
- Então, por que veio? – Ela agarrou o último donut sem comê-lo ainda.
- Não foi divertido da última vez? – Mamoru sorriu e voltou a se apoiar no encosto da cadeira.
- Não entendo. Por que não tenta enquanto estiver divertido? O que você teria a perder comigo?
- Não sou eu quem deveria dizer que não te entendo, cabecinha de vento? – Ele deu uma gargalhada contida. – Você não me odiava ou coisa assim? Essa ideia repentina... Nem dá pra dizer que é porque beijo bem, porque, né? Mal nos tocamos. Será minha beleza?
- Quem é bonito aqui? Com essa cara de nerd... Você só é alto, depois disso não tem mais nada. Um alto desengonçado. Nem tão alto assim.

  De fato, não havia pensado em mais nada até a noite em que começara a compará-lo com Tuxedo Kamen. Ultimamente, aquela já era uma opinião desatualizada. E precisaria ficar mentindo se não quisesse soar como uma doida.

- Só quero um namorado, é isso. Não sou das mais populares e você já dá pro gasto. Seria bem útil quando eu precisasse fazer um trabalho pra escola. – Usagi riu agora que pensava naquela vantagem. – Se penteasse direito o cabelo e se vestisse melhorzinho...

  E esticou a mão por sobre a mesa a fim de tentar consertar uma mecha de Mamoru que sempre parecia dobrada para o lado errado, mas não obteve qualquer sucesso. Apenas a sensação estranha de se perceber tocando no cabelo de outra pessoa. Voltou a falar o mais rápido possível antes que suas bochechas lhe entregassem os pensamentos:

- Dava até pra me gabar pras minhas amigas do meu namorado universitário! Ótimo negócio, certo?

  Mamoru não mudou de posição senão para cobrir a boca com uma das mãos.

- O que eu ganho com isso? – Ele não fazia um bom trabalho para abafar o quanto estava se divertindo com aquela conversa.

  Após pensar um momento sobre a pergunta, não lhe veio outra resposta:

- Não terei outro garoto – garantiu-lhe Usagi.
- É... – Mamoru meneou a cabeça. – Não tenho mesmo que me preocupar com isso.
- Ei! – Ela protestou erguendo uma das mãos, mas preferiu voltar à negociação antes que perdesse o bom clima: –  Garanto que vai se divertir sempre comigo. Farei como você quiser e terminaremos se preferir. Sem necessidade de chamar a Unazuki.

  Ele fingiu ponderar, observando a sua xícara vazia e o último donut no prato de Usagi. Mas o olhar que lhe lançou logo em seguida dizia que era apenas uma preparação para o que estava a dizer.

- Você é novinha demais pra eu me divertir com você – Mamoru falou insinuante.

  Seu corpo reagiu antes que ela pudesse impedir, encolhendo-se com o tom de galanteio. Era estranho... estavam flertando?

- Se estou propondo um namoro, eu estou propondo a coisa toda – tentava falar sem gaguejar e só aquele esforço já deixava as palmas de suas mãos suadas. Ao mesmo tempo, seus olhos não pareciam corajosos o bastante para se focar em Mamoru.

  Não queria saber que expressão ele deveria estar fazendo agora em resposta ao que ouvia Usagi dizer. Mas queria saber se deveria ser mais específica, para que ele tivesse certeza de que ela falava a sério.

  Antes que ela tomasse coragem de retornar à conversa, algo pulou seu colo e começou a unhar o ar, como que ameaçando atingir seu rosto se Usagi não se levantasse e saísse dali no próximo momento.

- Mas... o que a sua gata está fazendo aqui? – Mamoru perguntou com os esbugalhados.

  Usagi tentou balbuciar uma desculpa, mas as garras de Luna estavam muito perto de seu nariz.

- Eu preciso ir! – disse por fim, levantando-se com a gata em mãos.

  Usagi mordeu o lábio inferior. Não era preciso telepatia para saber que algo sério havia acontecido enquanto estivera longe de seu comunicador... Ainda assim, era injusto sua outra identidade atrapalhar mais uma vez seus planos.

  Um pensamento repentino: Tuxedo Kamen... ele estaria lá novamente? Sendo seu príncipe ou seu rival?

Continuará...

Anita, 18/02/2014

Notas da Autora:

Toooodos os agradecimentos a vocês que comentaram no primeiro capítulo! Estou ultrafeliz que estejam mesmo gostando desta história, mesmo que a proposta minha seja, em vez de inovar, dar uns passos para trás e sentir um pouquinho o gostinho da nostalgia. Eu realmente adoro esta cena deles comendo e conversando, não pela cena em si, mas por a conversa sair quase que da boca dos personagens (dentro de minha mente superativa). Não sei quantos aqui escrevem, mas não tem coisa melhor que os personagens fazerem todo o trabalho pra você... xD

Beijos e até o próximo capítulo!

2 comentários:

  1. oi, parabens pela fic está otima. estou gostando muito. Nao abandone ela.

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    Respostas
    1. Muuuito obrigada pelo comentário, fico muito grata mesmo! Pode deixar que a fic não está abandonada, acabei de entrar aqui pra formatar e postar o terceiro capítulo! Espero que goste. ♥

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