Autora: Anita
Fandom: Sailor Moon
Personagens/Casais: Tsukino Usagi/Chiba Mamoru
Gêneros: humor, romance
Classificação: livre
Resumo: Quando Mamoru retorna do trabalho, Usagi está passando muito mal. Ele acaba tendo que levá-la a uma emergência...
Notas: História escrita para a Semana Sailor Moon, um evento organizado pela comunidade OA Fanfics.
Disclaimer: Sailor Moon não me pertenço e não lucro nadinha com esta história
Uma Emergência
Usagi nunca havia
sido muito boa com computadores. Desde nova, tivera terríveis experiências com
aquelas máquinas e apenas usava a famosa internet em seu celular. Foi entrando para
a faculdade e conversando com as novas amigas que percebeu o quanto ficara
defasada. Não que ela se importasse com isso. Estava até acostumada com ser das
últimas em listas de nota e coisas assim. Talvez tenha sido seu namoro com
Mamoru que lhe despertara essa pequena vergonha.
Quando já conhecia
pessoas capazes de criar programa, ela descobria como ligar um computador e até
conseguia abrir processadores de texto para digitar os tantos trabalhos que
sempre pediam em suas aulas. Entretanto, notou que seria também de grande ajuda
saber consultar a internet, bibliotecas lhe causavam alergias. E quem consegue
ficar sentada, estudando, num lugar onde não se pode nem conversar, nem rir,
nem comer... Além de ter que estudar. Procurar dados na internet soava muito
mais atraente, embora sentisse medo de o que mais poderia acabar fazendo.
Logo que começara a
faculdade, conseguiu um notebook de seus pais. Até eles ficaram impressionados
que ela passasse no vestibular e espontaneamente lhe presentearam com um objeto
tão caro. Nem esperavam que ela o usasse para coisas úteis, segundo soubera de
seus próprios progenitores mais tarde. Mais tarde, quando ela já tinha
destruído a máquina por excesso de vírus.
Houve até conserto,
mas sua mãe decidiu confiscá-lo e agora era seu computador que Usagi poderia
usar desde que fosse supervisionada. Não era culpa dela se o site prometia que
tinha o livro que ela precisava para o trabalho! Mais uns vídeos de algum
cantor de que ela gostava.
Ou teria sido aquela
mensagem sobre o FBI? Dada sua identidade secreta como Sailor Moon, Usagi
passou mal quando chegou um e-mail da agência americana e nem pensou antes de
clicar onde lhe pediam para esclarecer por que eles a contactaram. Foi seu
irmão quem explicou que o e-mail devia ser falso, mas ainda tinha pesadelos em
que era sequestrada e torturada até revelar todos os segredos sobre o Milênio
de Prata e desistir de seu plano de construir a Tóquio de Cristal.
Por essas razões que
Usagi percebeu já ser hora de lidar com seus medos e aprender definitivamente
como navegar online. Como digitalizar e imprimir documentos. Como consertar
fotos. E para isso usava o computador de seu namorado, claro. Nada de sua mãe
rindo secretamente de todos seus erros virtuais. E de todas as vezes em que ela
comemorava haver sido a milionésima visitante de um site — alguém teria que
sê-lo, por que não ela? Por que sempre achavam que era mentira? As pessoas não
confiavam mais nas outras... Não era à toa que um dia ela seria a rainha de
todos e reensinaria a todos sobre o amor e a justiça.
Sempre que Mamoru
estava trabalhando — todos os dias da semana, quase sempre até
consideravelmente tarde da noite, algo que ela reclamaria se fizesse diferença
e se não soubesse que logo seriam rei e rainha e aí ele poderia investir a
abstinência de trabalhar fazendo o trabalho dela —, ela pegava a cópia da chave
e se conectava a seu computador. Não o fazia secretamente, mas também nunca
detalhara todos seus movimentos online ao namorado. Apenas evitava abrir
e-mails de desconhecidos, fora o trato que fizeram. Ele também a proibira de
coletar prêmios por milionésimas visitas ou fazer compras. Mesmo se for um
produto natural recomendado por alguma estrela de Hollywood — sublinhara ele. A
mesma pessoa que toda hora fazia alguma observação nadinha pertinente sobre
seus hábitos alimentares!
Foi depois de um dia
como esse — sem pisar na bola e sem comprar frutinhas revolucionárias, ou sua
saúde estaria indo muito melhor, né? — que Usagi começou a se sentir mal. Sua
barriga doía terrivelmente, como se agulhas estivessem dançando sapateado ali
dentro. A noite demorava a chegar, e ela não tinha forças para se levantar e ir
para casa. Queria sua mãe, mas também tinha vergonha de ligar e pedir que a
buscasse no apartamento do namorado porque tava com dor de barriga.
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
Não era o normal que
Mamoru retornasse antes das nove noite, havendo acabado de começar seu emprego
e ainda estando em estágio probatório. Usualmente, ele nem via Usagi por seu
apartamento, já que ela precisava jantar e, para isso, tinha que voltar para
casa. Os dois realmente só se encontravam nos finais de semana e nas raras
ocasiões em que Mamoru conseguia ir mais cedo para casa. Ocasiões em que,
claro, ele mandava mensagem prévia para avisá-la de que poderiam comer juntos.
O estômago de sua namorada era pior que uma bomba relógio, e ela sempre tomava
muito cuidado para não deixá-lo explodir de fome, chegando para o jantar com
sua família — uma disparidade em seu histórico de pontualidade.
Ele sabia que a
namorada usava seu apartamento durante o dia. Além de não ser nenhum segredo, o
vazio que deixava em sua geladeira e despensa provavam cabalmente sua
visitante. Ademais, Usagi tinha o costume de deixar rápidas mensagens num
caderninho próximo à entrada do apartamento, o qual ela mesma havia comprado e
decorado.
Esse foi o primeiro
indício de algo anormal para Mamoru naquela noite. Quando abriu a porta para um
apartamento escuro — era igualmente comum que a luz da entrada fosse esquecida
acesa após Usagi escrever seu bilhete —, ele se deparou com o caderno fechado.
Teria pensado que a namorada não viera mexer em seu computador e ignorado, se
não lembrasse que a porta estava aberta quando ele chegou. Usagi também tendia
a deixá-la assim. Mamoru, nunca. Era um prédio tranquilo, quase todos seus
vizinhos tinham o costume, mas ele não gostava de criar um hábito pouco
benéfico. O zelador teria a chave em qualquer emergência.
Usagi estivera ali e
não se recordara de lhe escrever um bilhete? Era peculiar, Mamoru refletiu. Mas
acabou dando de ombros. Soubesse que a reunião terminaria tão cedo, ele a teria
avisado para esperá-lo. Mas talvez ela também houvesse saído com pressa por
alguma razão.
Ouviu um gemido.
Sentiu os pelos eriçarem, dominava-lhe agora todo seu instinto após anos
atuando como Tuxedo Kamen e ele correu para a origem do som sem duvidar que o
ouvira mesmo. Sua experiência não abria espaço para tal.
E assim descobriu
parte do que acontecera com a namorada. Sua vista ficando turva ao encontrá-la
caída sobre o chão de sua sala de estar.
— Usako! — chamou-a, agachando-se a seu lado.
— Mamo-chan... é você mesmo? — ela perguntou com a voz
fraca, lamuriosa. — Está doendo...
Percebeu que Usagi
segurava a barriga com força, mas não parecia machucada. A sala também se
encontrara no mesmo estado em que a deixara pela manhã antes de ir trabalhar,
exceto por algumas almofadas espalhadas pelo chão.
— O que houve, Usako?
— Tá doendo, faz alguma coisa! — ela chorou. — É bem do lado
direito e tá pulsando! Isto não é normal... me ajuda!
— Usako... — ele a estudou enquanto lhe acariciava o rosto e
pescoço suados. — Fique bem aí, já volto com um chá e uma bolsa de água quente.
Estava pronto a se
levantar quando sentiu as mãos de Usagi segurarem-lhe a perna.
— Não, Mamo-chan! — ela disse com urgência, quase sem ar. — Precisa
chamar uma ambulância, eu acho que é algo muito sério. E se for alguma pedra?
— Pedra?
— Sim! Pedra no rim não dá isso?
Não sendo da área
médica e nunca havendo passado por esse problema, Mamoru apenas meneou com a
cabeça e voltou a acariciar o rosto aflito da namorada. Ela tremeu ao toque. Sentia-se
impotente até para dizer que ela poderia estar exagerando. Soava uma
preocupação legítima.
— Mamo-chan... — Ela gemeu alto assim que o chamou. — Eu não
tô bem. — Usagi pôs agora as duas mãos sobre a boca, encolhendo o corpo. — Não!
Não quero vomitar na sua frente. — Ela começou a afastá-lo até Mamoru quase
perder o equilíbrio.
Ainda desnorteado,
ele se levantou e correu até sua pasta para buscar o celular.
— Não chama os meus pais! — ela brigou, a ânsia de vômito
parecia haver passado.
— Estou ligando para um médico, Usako.
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
Usagi conferiu se o
sinto estava bem preso e se segurou quando Mamoru virou a próxima curva como se
pretendesse fazer audição para um filme de corrida de rua.
— Mamo-chan! — ela brigou mais uma vez. — Eu vou acabar
vomitando assim... — disse, encolhendo-se no banco. Não sabia se olhava para
frente, porque a velocidade do carro era tão alta que a paisagem não se
estabilizava o bastante para lhe curar o enjoo.
E a dor voltou ainda
mais forte.
— Falta muito? — perguntou ao namorado, a barriga bem
pressionada.
— Estamos chegando, fique calma! — a voz sempre controlada
de Mamoru tinha picos agudos.
Ela conteve o
impulso de pedir desculpas, doía demais para pensar nisso agora. Pretendia
compensá-lo sendo uma boa garota por pelo menos o próximo fim de semana. E voltou
a olhar a paisagem correr pela janela, tentar distrair-se.
Mais cedo, a
conversa de Mamoru ao telefone com o médico conhecido dele não fora nada
tranquilizadora e o fizera pegar a chaves e Usagi em um só movimento e no
próximo lançá-la dentro do carro em direção ao hospital. O parecer do médico
era que, se fosse pedra na vesícula, não haveria tanta urgência, mas que a
descrição também se assemelhava a apendicite. E o possível diagnóstico deixou o
rosto de Mamoru pálido. Fosse o caso, Usagi precisaria ser operada com
urgência, aparentemente.
Ela não queria
realmente. Pensara em pedra exatamente para afastar o temor de uma iminente
operação. Pedra poderia ser tratada... ou assim ela ouvira falar. Não conhecia
pessoas com apendicite que não tivessem sido cortados.
Apertou de novo o
abdômen.
O hospital passara
tão rápido por si quanto todo o caminho desde o apartamento até a garagem. O
tempo que tiveram no trânsito talvez até houvesse aumentado a urgência nos
passos de Mamoru. Usagi não deixava de sentir um calor no peito por aquele
cuidado.
Por isso mesmo que
desejou que ele nunca houvesse reagido assim quando ouviu o médico lhe dizer
mais tarde, já no hospital:
— É apenas uma indigestão — declarou o senhor para o casal.
— Podemos deixá-la em observação aqui pela noite, mas não vejo necessidade.
Beba bastante água e sugiro evitar comidas gordurosas ou em excesso.
— Mas... — Mamoru balbuciou. — Quando disse ao meu médico
que ela estava com dor do lado direito...
O médico franziu a
testa.
— Não foi o que ela me disse.
Não que Usagi
desejasse ser operada, mas ela tinha si falado da dor e foi rápida em mostrar o
ponto onde havia doído até tomar o remédio fornecido pela emergência do
hospital.
— Aqui, doutor, era aqui que doía!
— Oh — disse Mamoru, enquanto o médico assentia com um
sorriso.
— Quê? — Usagi os olhou e então baixou a cabeça para onde
suas mãos mostravam. Era um ponto próximo ao umbigo, mas do seu lado esquerdo. Seu
“outro direito”, como sua mãe às vezes brincava.
— Claro que fizemos alguns exames mais. Se a dor retornar,
peço que nos procure novamente. Mas, de acordo com o que descreveu... Não se
preocupe, é apenas uma indigestão.
Usagi mal sentia as
pernas, seguindo Mamoru até a saída do hospital. Só de lembrar a corrida até
ali, o desespero que causara nele... E justo no dia em que ele havia saído mais
cedo, quando ele podia aproveitar um jantar tranquilo, um banho mais longo, um
programa diferente na televisão.
— Que acha de marcarmos uma consulta com o meu médico para
termos certeza? Não dá pra confiar só em emergências — Mamoru sugeriu, voltando
o rosto para ela. Era como se não estivesse bravo. — Mas já está se sentindo
melhor, né? Posso ficar aliviado? — E sorriu aberto, como raramente fazia.
— Não acredito que troquei direita com esquerda — ela disse.
Saber que o namorado
não estava furioso com a confusão causada não lhe dissolveu a culpa. Seria
melhor se ele a castigasse. Com esse pensamento, Usagi começou a chorar.
— Vamos, Usako. Quando chegarmos em casa, você chora. — Mamoru
pressionou com carinho suas costas para que continuasse andando.
— É que... você não entende, Mamo-chan! Fui eu que causei
isto. Bem que minha mãe diz que sou desmiolada demais pra mexer na internet.
— O que a internet tem a ver com você comer demais? — ele
perguntou genuinamente confuso.
— Eu... quando comecei a sentir dor, quis achar alguma coisa
pra fazer passar, talvez a receita dum chá mesmo. Mas aí vi tanto sintoma pra
tanta doença ruim que... — Sua voz morreu em uma reprise do choro.
A risada de Mamoru
interrompeu-o desta vez.
— Faz sentido — disse ele sem maior explicação. — Acredite,
Usako, essas confusões devem ser mais comuns em hospital que pessoas invertendo
esquerda e direita.
Usagi só notou que Mamoru
havia parado de andar e agora a olhava quando o alcançara após tanto tempo
andando passos trás. Ele lhe estendeu a mão e a sacudiu até que Usagi a
aceitasse, segurando seu braço e aproveitando seu calor.
— Obrigada... — ela agradeceu com voz baixa. — Acho que
agora só posso tocar no seu notebook se for supervisionada, né? — E suspirou.
— Do jeito que mal nos vemos na semana e como sempre saímos
nos finais de semana, você nunca faria seus trabalhos.
— Hã? Quer dizer que depois de eu te fazer pensar que tava
morrendo, ainda vai deixar?
— É uma boa isca para te ter na minha casa.
Usagi sorriu, suas
bochechas até pareciam adormecidas de tanto tempo que fazia desde a última vez.
— Não vejo muito lucro se você nem tá lá pra me ver, e sua
geladeira também...
Os dois riram, seus
corpos mais próximos com o movimento.
— Na verdade — Mamoru começou a dizer com o rosto
distintamente corado —, eu te vejo sim. Sentir sua presença quando volto pra
casa é um dos melhores momentos do meu dia. Seus bilhetes, seu perfume, uma
caneta ou elástico de cabelo. Até mesmo o vazio da minha geladei—
Um som o
interrompeu, proveniente da barriga de Usagi. E bastante familiar. Mamoru riu
alto:
— Só você pra ficar com fome depois de uma declaração
dessas.
Usagi olhou para
baixo e então de volta para ele.
— Você falando de geladeira, lembrei que não como nadinha
desde o almoço — explicou. — Tava aqui pensando se devia comer um pouco do seu
braço pra ver se aguento.
Tão logo o ouviu,
Mamoru afastou-se.
— Melhor corrermos pro meu carro. Já passou mesmo da hora de
te alimentar.
Ela assentiu,
pulando de volta para seu braço e ameaçando mordê-lo. Aquele se transformara,
finalmente, em mais um dia de paz em seu felizes para sempre.
FIM!
Anita, 28/03/2015
Notas da Autora:
Muitíssimo obrigada por ler esta fic! Gosto de imaginar que
ela ocorre mais ou menos no mesmo universo que uma outra minha que também é
sobre established relationship. Claro que uma fic não tem qualquer dependência
uma da outra, e se bobear ainda se contradizem, mas eu gostei do feeling de
brincar com o relacionamento dos dois e achei que seria legal tentar de novo. O
que melhor que a Semana Sailor Moon pra usar de desculpa, né?
Enfim, espero que tenham gostado! Não tenho planos de fazer
outra assim, mas repito que gostei bastante da experiência! Quem sabe se eu
conseguir fazer outra Semana eu não tenho mais uma desculpa, né?
Enquanto isso, fica a propaganda da minha próxima fic, que
será bastante como um retorno às origens (pra mim, não é Silver Millenium nem
nada assim a história!). Falta o título pra eu poder fazer uma propaganda
adequada, eu sei... Mas se eu ainda não tiver lançado, consultem meu site Olho
Azul pra um preview desta e de mais uma outra, uma AU que eu também ainda não
aprontei pra lançamento e essa vai demorar mais... xD
E até a próxima!
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