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[Sailor Moon] Minha Vida Existe Para Viver com Você - Capítulo 1, escrita por Anita

Primeiro Capítulo - Próximo Capítulo
Título: Minha Vida Existe Para Viver com Você – Capítulo 1
Capítulos: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Autora: Anita
Fandom: Sailor Moon
Classificação: 14 anos.
Gêneros: comédia romântica, aventura.
Status: completa
Resumo: Tsukino Usagi / Chiba Mamoru. Usagi tem 23 anos, um emprego e uma vida toda para encontrar aquilo que lhe parece estar faltando quando sua mãe a empurra para um casamento arranjado. E justo com Mamoru, o sujeito convencido que a atormentou durante sua adolescência! Mas e se ele for justamente a peça perdida que anda lhe fazendo tanta falta?

Notas Iniciais:
 História escrita para a Quinzena Sailor Moon, um desafio promovido pela comunidade Saint Seiya Super Fics Journal. 

A história se inspirou na primeira temporada do anime, adaptando também algumas informações do mangá, como a questão dos shintennou, mas não garanto que estejam usadas corretamente. Esta é minha segunda fic com os nomes originais... Estou muito mais acostumada com as versões brasileiras, então, desculpa pelos erros e pela estranheza que talvez tenha ficado impressa nas frases. Também, como decidi não usar honoríficos, os apelidos fofinhos “Mamo-chan” e “Usako” acabaram sem graça (Mamo e Usa). Acho que não foi uma boa pedida eliminá-los, né? E bem, como estava escrevendo em português, decidi não pôr as pessoas se chamando pelo sobrenome, ou se chamando com o sobrenome na frente do nome como muitas vezes aconteceria no Japão, outra má ideia que acabou me deixando desconfortável, rs. Enfim, é um modo experimental de escrever que não deu muito certo. Sejam pacientes comigo... orz


Olho Azul Apresenta:
Minha Vida Existe
Para Viver com Você


Capítulo 1 – A Nova Vida

  O cheiro de ferrugem mexeu com suas narinas e causou-lhe enjoo. Até aquele momento, tudo havia sido um sonho, mas a ânsia de vômito era real. Usagi olhou para o que estava em seus braços e sentiu vontade de gritar até perder a voz; mas todo seu corpo estava dolorido, cansado. Seus movimentos eram lentos. Era como se sua mente fosse duas: uma parte histérica e uma letárgica.

  Usagi pulou sentada em sua cama.

  Estivera sonhando. Tinha certeza de que tudo, exceto o enjoo, havia sido um sonho. Agora, notava que as lágrimas também haviam sido reais. Olhou para os braços que, até havia pouco, seguravam o corpo de um jovem. Um homem. Não lembrava muito bem seu rosto, nem mesmo por que ele havia morrido em seu sonho, mas sabia que era alguém a quem a moça não via fazia bastante tempo.

  Levantou-se da cama e começou a se arrumar. Precisava tirar do corpo a sensação ruim que aquele sonho lhe deixara; principalmente, quando tinha a sensação de que já o havia tido noutras vezes. Foi quando olhou para o relógio e notou que ainda faltava meia hora para sua hora de despertar.

  Ela deu de ombros e voltou à rotina matinal, até estar pronta para descer e tomar o café da manhã. Sentia-se exausta demais mesmo para dormir.

  Cumprimentou Ikuko no andar de baixo e ajudou a pôr a mesa.

- Seu pai ligou, disse que chegou bem em Osaka, - disse a mãe, terminando de mexer a sopa.
- Bem, ele sempre chega. – Usagi deu de ombros, beliscando o ovo frito já à mesa. – Desde que você e o Shingo voltaram pra cá pra Tóquio, ele vem todo fim de semana. – Virou os olhos.
- Por que será que sinto uma ponta de ciúmes? Eu sei que você se divertia enquanto isso lá em Osaka. Não dê uma de menor abandonada em casa... – Ikuko lhe sorriu, pondo uma tigela de sopa para a filha mais velha.
- Pode deixar, estou feliz por estar de volta a Tóquio. – Usagi também sorriu.

  Após os três terminarem, Usagi juntou suas coisas e o potinho preparado pela mãe com seu almoço para, em seguida, ajeitar o cabelo no espelho. Havia apenas um ano que entrara para aquele emprego, não podia se dar ao luxo de ser dispensada ainda no estágio probatório. Mas deu língua para seu reflexo, precisava relaxar sua tensão em algum momento.

- Já estou indo! – gritou para Ikuko, calçando o sapato na saída.
- Espere, filha. O jantar hoje à noite. Não se esqueça dele.
- Sei, sei... Como saio tarde hoje, irei direto do serviço. Não se preocupe!
- Pra garantir, vou enviar o endereço do restaurante pro seu celular... – Ikuko pegou desajeitada o aparelho pessoal e já estava digitando quando a filha se despediu novamente antes de sair.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Usagi olhou distraída para a revista que a amiga folheava, cheia de fotos de doces coloridos e suculentos. Queria ser boa cozinheira, mas nunca conseguira aprender nada apesar dos dons que sua mãe possuía.

- Vou fazer este no final de semana! – Makoto apontou para um profiterole de chá verde. – Trago alguns na segunda-feira.

  Makoto Kino havia entrado para aquela empresa no mesmo dia que Usagi, mas parecia ser o oposto desta. Era alta, esportiva e acima de tudo ótima cozinheira. Ao mesmo tempo em que era difícil não admirá-la, as mulheres pareciam invejá-la demais para serem suas amigas; enquanto os homens a temiam por sua altura e não se aproximavam muito. Por essa razão, não foi uma tarefa muito competida quando Usagi decidira fazer daquela moça sua melhor amiga. E lucrava bastante com aquilo, já que todo dia a comida que Makoto trazia era deliciosa e todo início de semana havia um doce interessante à sua espera.

  Interesses à parte, fora um alívio ter com quem conversar logo que entrara na empresa. Mesmo sendo de Tóquio, Usagi passara parte da vida na região oeste do país, razão pela qual até seu vocabulário e entonação das palavras estavam um pouco diferentes nos primeiros meses. Assim, a moça temia um pouco ser ridicularizada ou qualquer coisa do tipo. Se bem que viera parar numa excelente firma; seu departamento não era muito grande, mas todos eram amigos e a ajudaram muito.

- Você tá bem distraída hoje, hein? – perguntou Makoto, após pôr um papel adesivo na página com a receita.

  Usagi estava pronta para lembrá-la sobre o jantar quando a porta da pequena salinha de reuniões em que estavam se abriu.

- Aí estão vocês! – Era o chefe do departamento, Shin Saitou, um homem mais velho com quem Usagi se dava muito bem, apesar de ser um intelectual introspectivo algumas vezes.
- Algum problema, chefe? – perguntou Makoto.
- Vocês tão esperando aquela encomenda, né?

  As duas assentiram.

- Por que não vamos tomar um café? Abriu um lugar novo logo ali embaixo do prédio. É por minha conta.

  Ambas se olharam e deram de ombros: não importava o quão estranho fosse o convite, ainda era comida grátis. Ao menos, era esse o recado que ela passou telepaticamente à amiga.

  O local era um restaurante com um ambiente de café que Usagi lembrava haver visto inaugurar fazia menos de um mês, mas nunca visitara. Ainda que agora fosse uma adulta de quase vinte e quatro anos, café não estava entre suas bebidas favoritas e sempre achara um desperdício almoçar em lugares assim. Preferia salvar seu salário para roupas, revistas em quadrinho e jogos. Ela também queria guardar algo para viajar no feriado prolongado de maio, mas do jeito que suas economias estavam indo, só se fosse para a Disney japonesa, logo do lado de Tóquio. Para voltar no mesmo dia, claro. E aproveitando uma daquelas promoções de entrar mais tarde.

- Sejam bem-vindos! – alguém gritou assim que ouviu a porta abrir para o grupo.

  O cheiro de doce atacou o estômago de Usagi, já vazio após mais de quatro horas desde que almoçara. Sempre considerara Shin Saitou algo como um rapaz muito seu amigo a quem ela sempre tratara como um irmão mais velho, Motoki. Mas, diferente deste, Shin era seu superior e, pior, os dois não estavam num salão de jogos como o em que Motoki trabalhava quando o conhecera. Era um pouco frustrante não poder escolher todos os bolos da loja, como faria com Motoki.

  Assim que se sentou de frente para Shin, sentiu o cotovelo de Makoto bater em sua cintura. Ao olhar para a mulher a seu lado, o sinal fora bastante óbvio.

- Então, logo a encomenda vai chegar, né? Vão direto pra casa depois. – Shin forçou um assunto.

  Mas já era tarde demais, pois seus olhares o haviam traído, fixos em uma loira que limpava as mesas do outro lado do restaurante. Para a confusão do homem, ambas começaram a rir da situação.

- Ah, Usagi – Makoto disse após fazerem seus pedidos. – Vai ter uma reuniãozinha neste sábado com um pessoal, vamos conhecer uns garotos, vai ser bem divertido. Vamos?

  Usagi sentiu algo no peito. Todas as vezes em que Makoto se lembrara de lhe chamar para coisas assim, ela estava em Osaka visitando o pai. Não foram muitas, apenas recentemente. Por isso, desta vez que estava livre, não havia como não ficar animada.

- Ih, você tem o tal do cara, né? – Lembrou a outra. – Que seus pais tão te apresentando.
- Um encontro arranjado? – interrompeu Shin.
- Mais importante que isso! –Não fazia ideia de se estaria errado ir ao encontro em grupo ou não. Então, Usagi fugiu do assunto: – Qual é a dessa garota? – E virou o rosto para a loira.

  Após dar um pulo no assento, Shin corrigiu a postura e limpou a garganta.

- Que garota?

  Usagi sentiu Makoto a seu lado rir da reação evasiva do superior.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  O espelho refletia Makoto, enquanto esta refazia seu penteado para algo mais arrumado. Agora que Usagi se via, não importava o quanto retocasse a maquiagem, não se sentia arrumada para o restaurante onde seus pais marcaram seu encontro.

- Vamos, Usa. Esse cara deve ser um almofadinha que não vale a cara feia que você tá fazendo pra si mesma.
- É só que...
- Bem, pela foto que te mandaram, não dá pra saber nada.

  Usagi riu com a lembrança de quando vira a foto do pretendente. Nunca experimentara nada como um casamento arranjado. Nenhuma amiga sua encontrara o namorado assim, nem mesmo pela internet; por isso, ansiara pela chegada dos documentos do homem que seus pais lhe arranjaram. Até que, ao ver a foto, Usagi tivera um choque.

  A mesma estava como uma imagem parcialmente corrompida de computador e acompanhada por um bilhete de desculpas feito pela mãe do rapaz e amiga de Ikuko. Aparentemente, ela não encontrara nada com apenas ele em seus arquivos e, quando tentara imprimir o que tinha, aquela havia sido a melhor cópia. Ikuko já havia respondido por telefone que estava tudo bem, que aparências não importavam; então, Usagi teria que ver o homem pela primeira vez naquela noite. Ao menos, os pais dela sequer enviaram uma foto decente e sim uma 3x4 usada na época de sua busca por emprego com seu pior cabelo e rosto irreconhecível. Uma foto que não era dela, em conclusão.

- Mas repito o que já te disse quando sua mãe começou com a ideia de te arrumar pretendente. – Makoto havia terminado o penteado e agora se apoiava no mármore do banheiro da empresa. – Quando foi seu último encontro?

  Usagi riu, aquele fora o golpe final da amiga para convencê-la antes.

- Acho que em algum goukon na faculdade.
- Goukon só é encontro se você de fato encontrar alguém lá, Usa.
- Poxa, Mako, isso já é bullying. Vai me chamar de encalhada de novo? – Fato que havia ocorrido na primeira conversa sobre o encontro arranjado.
- Ninguém vai te obrigar a se casar com ele nesse miai, é só o que eu tô falando. Vocês nem vão tá com os pais dele do lado, né? Aí seria mais tenso dizer não depois de ver a cara dos velhinhos tremendo de medo de morrer sem neto, ha ha.

  Então, a jovem suspirou concordando com a amiga. Quando aceitara o pretendente arranjado pelos pais, não havia parado para pensar em como realmente tudo funcionava.

  Começou a se lembrar da conversa com Ikuko, uns dez dias antes. Ao ouvir o que a mãe lhe sugerira, Usagi ficara vermelha num misto de vergonha e raiva. Certo que ela era uma encalhada, mas estava nova demais para até sua mãe se preocupar com isso.

É uma amiga minha de Quioto, aquela que trabalha num hospital. E o filho dela está com quase trinta, mas só trabalha, nunca arruma namorada. Como nos gostamos muito mesmo agora que moramos longe, achamos que ia ser bem legal ver os nossos dois juntos. Afinal, Usagi, quando foi a última vez que você me trouxe um garoto aqui?”

  Usagi ficara boquiaberta com a nova insinuação sobre seu... estado social.

Com a sua idade eu já tinha você e me preparava para o Shingo,” continuara Ikuko. “Garanto que o rapaz é bonito, de ótima família e que ganha muito bem.
Beleza não é tudo se ele não estiver comigo quando eu precisar.” Usagi virou os olhos.
É de tanto esperar esse príncipe encantado que a bela adormecida aqui vai ficar toda enrugada. E precisando da mãe pra arrumar marido!

  Mais um golpe bastante doloroso.

  Ikuko tomara ar e pusera firme sua mão na mesa. Ela havia vencido nesse instante.

  Um apito de seu celular despertou Usagi daquelas lembranças. Era exatamente Motoki Furuhata, o irmão mais velho que Usagi não tinha.

- Esse sim é um desperdício de homem - comentou Makoto ao ver o nome na tela do celular da amiga.
- Um desperdício de homem casado, não esqueça - respondeu com um riso, mas ocultou a mensagem da amiga. Em sua opinião, nem sempre o que aquele homem lhe mandava era para sequer ser lido pela própria Usagi. Após ver o conteúdo, inspirou fundo e anunciou: – Bem, hora de eu ir. Deseje-me sorte!

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Usagi deveria ter simplesmente se esquecido do encontro e aceitado o convite de Motoki para beberem em um bar próximo a seu trabalho.

  Agora que os dois eram grandes amigos, ela gostava muito de se divertir com o irmão postiço, mais do que quando ela morara antes em Tóquio. Os dois haviam se reencontrado apenas um ano antes, época em que Motoki passava por alguma fase de mudança de amigos. Isso permitiu com que ela se encaixasse perfeitamente em seu ciclo social. Dissesse aquilo a seu eu de catorze anos, talvez ela não acreditasse, mas Usagi acreditava agora que estava próxima de virar a confidente do moço. Uma vitória, sem dúvidas.

  E ela devia ter ido até o bar com Motoki. Não até o restaurante para dar seguimento à história doida de casamento arranjado que sua mãe arrumara. Ainda não podia acreditar que o pai, sempre tão conservador quando o assunto era homem, houvesse concordado. O que um pouco de dinheiro não fazia... Só porque a outra família era rica – uma médica aposentada e um diretor de hospital, – o pai ficara quieto. No último final de semana, até parecera incentivar o encontro daquela noite.

  Mas o cúmulo de tudo aquilo estava bem diante dos olhos de Usagi, assim que ela localizou a mesa com seu pretendente, que já a esperava. Era um rapaz alto, usando um blazer preto com uma gravada listrada de prateado e branco, tomava um copo de vinho branco, enquanto admirava as luzes da cidade abaixo. O restaurante ficava em um prédio bastante alto; então, Usagi poderia dizer que era possível ver toda Tóquio desde ali. Mesmo assim, suas mãos tremiam e seus olhos não se decidiam se desviavam ou se olhavam fixamente para Mamoru Chiba.

  Era estranho... Ela havia visto seu nome antes nos documentos. Certo, Usagi nunca chamara aquela pessoa pelo nome completo e, desde que fora morar em Osaka no fim do ginásio, não o vira mais. Motoki, que era um amigo em comum, também não o mencionara nas conversas; talvez os dois colegas de faculdade houvessem perdido o contato. Mas como Usagi não o reconhecera? Queria dar-se um tapa na cara. Como pudera ter sido tão superficial em examinar os detalhes sobre o pretendente que deixara passar o fato de já conhecê-lo. E o mais importante: de odiá-lo.

  Certo, ódio era um sentimento forte. Mesmo com quatorze, quinze anos, Usagi não odiava Mamoru. Apenas não se entendia com ele. O rapaz não fazia por menos, tinha que dizê-lo em sua defesa. Nunca perdera a oportunidade de dizer que Usagi iria engordar, que sua média de notas era bastante baixa e que não arranjaria namorado. Mas agora que o tempo passara, apenas restara-lhe a sensação de que Usagi não gostava daquela pessoa. E, mesmo assim, lá estava ele no lugar onde seu pretendente a aguardava.

Valeu, mãe...” Usagi sussurrou, enquanto pegava o celular e armava sua rota de fuga.

  Tarde demais. Nesse mesmo momento, Mamoru já se voltava em sua direção. Foi aí que Usagi percebeu um detalhe importante, cuja descoberta a congelara ali: Mamoru estava provavelmente ciente de que era ela desde o início. Bem, ao menos, desde que ouvira o nome de sua pretendente. Diferente dela própria, aquele homem tinha o ar diligente demais para se espantar com algo assim.

  Ele lhe acenou, instante em que o garçom que a apontara a mesa reservada reapareceu para terminar de conduzi-la. Fuga impedida. Usagi sentou-se com um sorriso fraco nos lábios. No interior, ela soltava uma gargalhada desesperada.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Já se havia passado uma hora quando Mamoru fez sinal para se levantarem da mesa. Com a sobremesa transformada em mera carcaça e a conta paga sem mesmo que Usagi soubesse o valor, não havia realmente muito mais que fazer ali. De fato, a vista era atraente. Estranho só se lembrar disso agora que se levantava para ir.

- Algum problema? – perguntou-lhe Mamoru.

  Mais alto do que ela se recordava, Mamoru tinha como diferença o cabelo um tanto mais arrumado e óculos de armação fina. Agora, Usagi tinha certeza de que seu par possuía consciência de com quem jantaria naquela noite. E isso a enfurecera antes mesmo de chegar a refeição pedida. Não fazia sentido: “se ele sabia, por que não cancelou?” não parava de se perguntar. Mesmo agora, não o compreendia.

- Usagi? Deseja comer mais? – Não era uma gentileza; o tom de voz possuía um sarcasmo que mesmo alguém de inteligência abaixo da média como ela podia perceber.
- Só estava pensando que devia ter pulado daqui quando te vi. – E apontou para a vista.

  Mamoru ergueu as sobrancelhas sobre a armação dos óculos.

  Aquela reação a fez corar levemente. Então, começou a andar antes que o outro percebesse que a desconcertara.

- Fala sério... – respondeu a moça, com o rosto mais à frente de forma a ocultá-lo. – Quem acreditaria em algo assim?
- Ah, - foi tudo o que ele disse.

  O silêncio se prolongou até a saída do prédio em um bairro de alta classe de Tóquio. Perceber que o jantar luxuoso terminara fez Usagi arrepender-se mais uma vez de haver se irritado tanto com a companhia. A noite podia ter sido muito melhor para ela.

  Makoto já havia lhe advertido que ela não seria obrigada a se casar. Então, por que seria algo ruim se divertir ali? Talvez por essa mesma razão Mamoru não parecesse se importar com quem ela era. Ele apenas a recusaria a seus pais, tal qual Usagi faria quando chegasse em casa. Uma atitude madura. Ela não tinha mais quatorze anos.

  Por que não pudera só aproveitar a noite? Era o primeiro encontro de sua vida! E Mamoru era um homem atraente. Um pouco nerd demais e introspectivo também, mas, com um pouco de imaginação, aquele Clark Kent poderia se tornar um super-herói.

- Você estava bastante triste quando disse aquilo, - Mamoru interrompeu sua imaginação de uma capa e máscara misteriosas. Agora ele era apenas o sujeitinho estranho que voltava a cruzar seu caminho. – A coisa de pular. Suicídio é um assunto real, não diga coisas do tipo.
- Eu falo o que quero. – Mas Usagi já estava arrependida daquele revide infantil. E saturada de se arrepender naquela noite. – Desculpa, Mamoru. Foi só o choque todo, você é a última pessoa no mundo que eu esperava estar ali, entende?
- Não é como se eu também não houvesse me surpreendido com os documentos. É exatamente por isso que não entendo.
- Ei, por que eu não retribuo a janta com um lanchinho? – Usagi apontou para uma pequena barraca à frente de enroladinhos de polvo.
- Quer dizer agora?
- Quando mais? – Ela lhe franziu a testa.
- É que acabamos de comer... Não estava bom? Você podia ter pedido mais.
- Mas já faz um tempo que comemos! Até deu para eu comer a sobremesa inteira, né? Vamos; eu divido uma porção contigo.

  Ela correu até o moço que virava as bolinhas na máquina com rapidez até ficarem no formato e na cor perfeitos. Após terminar de pagar e receber a pequena caixinha com seis bolotas de salgado de polvo, Usagi começou a pôr molho e maionese.

- Você realmente morou em Osaka, né? – Mamoru comentou quando ela se aproximou com o petisco.

  Os dois caminharam até um banco na pequena praça a alguns minutos da barraca e Usagi olhou para o salgadinho.

- Vamos comer? – ela perguntou, com água na boca.
- Não quer que eu vá à loja de conveniência comprar algo para bebermos junto ao menos?
- Cerveja! Uma lata de cerveja, por favor! – Ela levantou os braços em comemoração. – Ih, mas eu é que tô pagando desta vez... Pera! Vou pegar umas moedas.
- Não precisa realmente...
- Precisa sim!

  Mamoru sorriu ao receber a moeda de quinhentos ienes.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Sua lata já havia terminado e tudo o que sobrara do enrolado de polvo foi o papelão sujo de molho e maionese.

- Seu apetite sempre me surpreenderá, cabecinha de odango - as palavras de Mamoru a surpreenderam enquanto ele esticavas as pernas no banco.
- Você também comeu...
- Um, porque você quase o esfregou na minha boca.
- Mas estava gostoso demais pra ignorar. Se bem que acho que prefiro o de Osaka...
- Arrependida de voltar pra Tóquio? Minha mãe adoraria que a nora dela morasse por lá na região oeste mesmo.
- Não fale essas coisas; nem brincando. E Tóquio é Tóquio, né? Minha mãe também já tava morando aqui com o meu irmão por causa da faculdade.
- Ah, ele não veio sozinho?
- Minha mãe tem algum medo inexplicável de nos deixar sozinhos faz alguns anos... Até parece que o bicho papão vai vir e nos pegar.

  Mamoru deu uma risada.

- Todas são assim.
- Não, dona Ikuko é bem pior.

  Depois dessas palavras, os dois apenas ficaram sentados olhando em frente ou para cima. A lua estava bastante clara naquela noite e havia bastantes estrelas apesar não mais ser inverno.

  O que mais chamava atenção naquela noite era o cheiro. Um aroma diferente que vinha de Mamoru e lhe transmitia alguma sensação de conforto. Ao mesmo tempo, não era o mesmo perfume ou colônia ou o que fosse que fazia aquele cheiro. Era algo típico, apenas de Mamoru, porque ele não era nem seu pai nem Shingo. Aquele pensamento causou-lhe um arrepio e a parte defensiva de sua mente gritou que não podia ser “típico apenas” daquele homem, era apenas alguma marca diferente que muitos outros deviam usar. O sermão terminou com um “sua encalhada que não sabe nada de homens” para depressão de Usagi.

- Bem, já está tarde. – Mamoru foi o primeiro a se levantar. – Que tal eu te levar até sua casa?
- Até a estação de trem já está bom. – Ela também se pôs de pé, arrumando a roupa numa tentativa de pôr ordem na cabeça. Ao mesmo tempo, a noite estava muito mais fria que as roupas que pusera para usar de dia, e aquele era sim seu primeiro encontro. Por que não se aproveitar do fato que tinha um homem cheiroso como companhia?

  Com esse pensamento, Usagi impulsionou seu corpo até o braço de Mamoru para agarrá-lo, como os casais que via às vezes na rua. Segurar mão era para os fracos e para os colegiais. Um pensamento perverso a atrapalhou no movimento: e se acabassem em um motel depois de ela dar aquele sinal ambíguo? Em razão dessa confusão, seu corpo não sabia mais o que fazer e, em pleno movimento, ele simplesmente parou no meio do caminho e fez com que ela se desequilibrasse.

  Como em todo tombo de sua vida, o mundo passou a agir em câmera lenta só para deixá-la com mais frustração por não conseguir evitar a tragédia. Usagi pôde ver claramente gestos de Mamoru como se ele lhe fosse aparar a queda para em seguida desistir e apenas dar um passo para mais longe.

  E lá estava ela, com as palmas no chão da praça. E lá estava ele, gargalhando.

- Isso foi muito malvado! – Ela começou a se erguer. – Você me deixou cair! – Nem conseguia acreditar que tudo fora causada por ela contemplar entregar sua virgindade àquele estúpido. Sentia-se enganada por aquele Clark Kent que agora revelava ser a velha bruxa do oeste.

  Mas, antes de maiores xingamentos, Mamoru ajudou que ela voltasse ao equilíbrio, segurando seu corpo bem firmemente. Depois, tirou-lhe todos os sentidos em um beijo suave, tão suave que Usagi apenas percebeu que suas línguas haviam se tocado quando elas se separaram um longo momento depois. Seu corpo inteiro suava e tremia, sem saber se estava com frio ou com febre.

  Mamoru a levou até a estação de trem e de lá até bem perto de sua casa. Agora ela não ousava nem segurar sua mão, aquele encontro era real demais, tanto quanto a sensação de algo roçar que permanecia nos seus lábios.

  Ela parou enfim. Não podia ir com ele até a porta de onde morava, precisava de alguns passos antes de entrar e ter que se explicar para a mãe. Precisava esfriar a vermelhidão de suas bochechas pelo menos.

- Até aqui já está bom, - disse, forçando-se a olhar para o outro.

  Mamoru lhe sorriu com algo de divertimento.

- Foi uma ótima noite.
- É...
- É sério, foi bom me distrair um pouco. – Mamoru tirou do bolso do blazer um celular.

  Após trocarem de número, Usagi lhe acenou até que o seu encontro virasse a esquina de volta para a estação. Com isso, Alice estava de volta do breve mundo das maravilhas. Ao menos, era essa a sensação que restou ao dar a volta e andar mais dois minutos até sua casa.

  A felicidade era tanta que ela até cumprimentou o gato que sempre via rodeando sua casa, acariciando sua cabeça. Talvez ele estivesse com sede? Não faria mal pôr um pouco de leite para ele... E se sua mãe a estivesse esperando, ter uma tarefa seria uma forma de não ficar pensando no beijo que recebera meia hora antes.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  O gato se aproximou do pequeno pote e começou a bebê-lo com o olho para cima, atenta aos movimentos no interior da casa à sua frente. Depois que a luz da entrada foi apagada, um segundo gato, desta vez bem branco, surgiu e começou a beber do mesmo leite que o primeiro.

- Você deveria estar de olho no andar de cima - disse o gato preto, empurrando o segundo com a pata.
- Mas, Luna... Pra que precisamos fazer isso? – perguntou, lambendo o lugar onde as unhas passaram por sua pele.
- Beryl e Metallia dizem alguma coisa pra você? Arthemis, se você acha muito chato cuidar das meninas, apenas vá viver sua vida. – Luna se sentou e o olhou seriamente.
- A princesa viveu por anos longe da gente e voltou sã e salva. Ela só aconteceu de voltar para Tóquio, não tem sinal nenhum nisso. Você pode relaxar, sabia? – Ele a olhou e então baixou o olhar. – Desculpa; eu sei o quanto a princesa é importante pra você.

  Luna assentiu. Então, levantou a cabeça para onde sabia ser o quarto de Usagi, agora com a luz acesa.

- Eu nunca mais quero vê-la passar por tudo aquilo. Sei que sou pequena e não tenho o poder do cristal de prata, mas tentarei evitar como puder que ela sequer se lembre de todos aqueles eventos terríveis.

  Voltando a beber do leite, Arthemis permaneceu calado.

- Diga logo o que está pensando - brigou Luna. Anos de convivência com aquele gato não permitiam que ele lhe escondesse nada.

  Após um instante mais, Arthemis miou em relutância e respondeu:

- Você rodeá-la não vai realmente ajudar. Quantas vezes por semana a Usagi não acaba por encontrá-la aqui na porta? Eu não sei o quão forte é o poder do cristal em manter essa amnésia em todos, mas o ideal é sumirmos da vida deles.
- Não me diga que você nunca vai visitar o apartamento da Venus. Eu sei que vai ao menos a cada três dias.

  Um silêncio seguiu enquanto os dois gatos se olhavam.

- Eu também ia vê-la... em Osaka - confessou Luna, olhando para as próprias patas dianteiras.
- Eu sei. Você não ia e voltava na velocidade da luz exatamente. – Arthemis gargalhou.

  Passos os assustaram, e os dois gatos fugiram para seus esconderijos no meio das plantas na entrada do vizinho. Era o irmão mais novo de Usagi retornando, mas os dois foram lentos demais e ainda puderam ouvi-lo reclamar com a mãe que a irmã dera leite de novo pros gatos.

  Luna miou desconsolada. Até mesmo Shingo havia se esquecido de que um dia aprendera a aceitá-la. Por mais que quisesse mudar isso ao menos, sabia que, pelo bem de todas as cinco meninas e suas vidas pacíficas, pelo último desejo da rainha Serenity, ela precisava resistir até mesmo àquele impulso.

Continuará...

Anita, 07/08/2012

Notas da Autora:

E aí? O que estão achando? Eu realmente gosto dessa cena final com os dois gatos, rs. Adoro escrever sobre Luna e Arthemis, mas não é sempre que tenho oportunidade. Aí decidi que nesta fic tinha que dar!

Muitos agradecimentos a todos os leitores que estão sempre pedindo por novas histórias. Eu nunca me canso de falar sobre este casal. Pensar e repensar sobre eles. Nesta fic, tentarei explorar um pouquinho a vida dos demais personagens, inclusive falar sobre os Shintennou, pra quem gosta. Aliás, agradecimentos à Kurai, que foi uma grande influência na hora de eu escolher esses quatro para participar na fic. E agradecimentos  especialíssimos à Spooky, quem nunca se esqueceu de me cobrar desde quando falei que escreveria uma fic sobre casamento arranjado.

Sempre me foi um tema menina-dos-olhos e eu até tenho uma ideia jurássica para Sailor Moon que eu nunca pus em prática. Acabou que escrevi esta, uma muito mais recente, rs.

Sobre o título, eu retirei de uma música do Kobukuro, “Ano Taiyou ga, Kono Sekai o Terashitsudzukeru you ni”. Espero não soar tão brega quanto estou achando, rs. Mas fiquei muito tempo pensando e pensando e esse foi o com maior impacto que consegui e que tivesse a ver com a história. Aliás, tinha um pior saído direto dessa música também, rs: “minhas mãos para te proteger, meus olhos para te procurar, meu coração para te amar”. Mas é fofo, né? :( Tá... só eu que acho. Mas é fofo, sim!

Enfim, tenho que agradecer a todos os que estão lendo. Espero ter a honra de vê-los de novo no próximo capítulo.

Para mais fics minhas, visitem meu site Olho Azul HTTP://olhoazul.50webs.com e não deixem de postar seu comentário com sua opinião. Qualquer apoio já vale!

Até mais!

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