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[Sailor Moon] Minha Vida Existe Para Viver com Você - Capítulo 4, escrita por Anita

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Título: Minha Vida Existe Para Viver com Você – Capítulo 4
Autora: Anita
Fandom: Sailor Moon
Classificação: 14 anos.
Gêneros: comédia romântica, aventura.
Resumo: Tsukino Usagi / Chiba Mamoru. Usagi tem 23 anos, um emprego e uma vida toda para encontrar aquilo que lhe parece estar faltando quando sua mãe a empurra para um casamento arranjado. E justo com Mamoru, o sujeito convencido que a atormentou durante sua adolescência! Mas e se ele for justamente a peça perdida que anda lhe fazendo tanta falta?

Notas Iniciais:
 História escrita para a Quinzena Sailor Moon, um desafio promovido pela comunidade Saint Seiya Super Fics Journal. 


Olho Azul Apresenta:
Minha Vida Existe
Para Viver com Você


Capítulo 4 – Laços Conjugais

  Já era bastante tarde quando Usagi sentiu um peso a mais em sua cama. Fazia bastantes dias que ela vinha tentando não pensar que sempre que Mamoru voltava tarde assim podia ser porque estivera com ela.

  Não, não havia o que pensar. Ela mesma o dissera a Motoki: mesmo que Mamoru se atrasasse algumas vezes, não eram todos os dias. E Usagi trabalhava, sabia que muitos acabavam ficando até muito tarde na firma para ganharem bônus maiores. O próprio Motoki era implicitamente obrigado a isso nem apenas por seus superiores, mas também por pressão de colegas. Ninguém via com bons olhos os que escapavam das horas extras.

  E seu estado atual nada tinha a ver com ciúmes. De fato, ela gostara daqueles primeiros dias de casada, mas isto se devia à liberdade que vinha acompanhada ao negócio. Era bem parecida com a que tivera por um tempo em Osaka após a mudança da mãe e do irmão. Por esse mesmo motivo, ela vinha saindo pela rua nas últimas noites. Motoki nunca estava disponível para acompanhá-la; então, por vezes, ela até ia sozinha ao karaokê e cantava por horas com toda a força.

  Naquela noi, como em algumas outras vezes, Mamoru escorregou a mão por entre sua cintura até que a palma pousou em sua barriga. Bem devagar, ele se aproximou de sua nuca. Sua respiração, com cheiro refrescante de menta da pasta de dente, soprou nos ouvidos de Usagi:

- Eu te acordei?
- Sim – disse de forma curta, sem se virar para ele.

  Os arrepios eram causados pelo calor sobre seu umbigo; nada tinham a ver com alegria. Era uma reação natural, de quem não estava ainda acostumada com ter um homem tão próximo.

  Desta vez, Mamoru a compreendera apenas com aquilo. Após uma respiração longa, desculpou-se e voltou a deitar a cabeça atrás da dela.

  Não e não, pensou Usagi. Faltava ainda mais uma parte para ganhar a nota perfeita naquele jogo. Pegou a mão de Mamoru sobre sua barriga e a jogou para trás de forma que não mais a tocasse, como que já acostumada. Vinha repetindo isso toda noite que o marido lhe punha a mão e considerava dormir assim como um casalzinho de apaixonados após uma noite de romance. Algo que ele não teria nem tão cedo se dependesse dela.

  Ouviu-o emitir algum som e virar para o outro lado. Ele nem tentou dissuadi-la com beijos ou sussurros como em noites anteriores. Apenas aceitou o tratamento.

  Tentando convencer-se de que estava satisfeita consigo mesma, Usagi se abraçou ainda mais e fechou os olhos com força para mais uma ou duas horas de sono de má qualidade. Porque estava com raiva, ressalte-se. Simplesmente por isso. Sem explicações enroladas e sentimentalóides de adolescentezinha boboca.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Makoto forçou um riso para uma das piadas das funcionárias do departamento vizinho, com o qual estavam comemorando uma ótima venda na semana anterior. Realmente, confraternizar-se não era muito seu forte, por isso, sempre contava com Usagi para ajudá-la nisso. Mas, só de olhar para a amiga, Makoto já a havia feito optar por se esforçar um pouco mais para se dar com aquelas mulheres.

  O que havia com a amiga? Com certeza, o casamento devia ser uma das causas. Seria por isso que não queria lhe falar nada? Porque ela não entenderia? Bem, a própria Makoto tinha seus segredos, mas eram por uma ótima razão. Usagi compreenderia algum dia quando os ouvisse.

- Ei, Usa... – resolveu tentar perguntar mesmo assim. – O que há contigo? Desde o feriadão que te acho meio pra baixo. Brigou com o seu marido, é isso? Olha, pode me contar! Posso nunca ter casado, mas de briga de relacionamento eu entendo tudo.

  A outra sorriu, olhando para o lado. Então, ajeitou o cabelo e disse:

- Só tô um pouco estressada com a festa. Agora que assinamos o contrato com a agência, é como se um trator tivesse passado por mim.
- Você podia pedir uma licença ou algo assim.
- É bom aquele irritante do Mamoru me levar pra algum lugar bem legal de lua de mel, é pra isso que tô economizando minha folga. Mas esse feriadão ajudou bastante.
- É, fazer os convites deve ser um saco...

  Makoto decidiu seguir com a conversa e não escancarar como a desculpa de Usagi lhe soava a mentira. Mas um silêncio insistia em preencher o vazio. Precisava quebrá-lo... Percorreu a sala com os olhos e percebeu um grupo do outro lado.

  Com firmeza, segurou o pulso de Usagi e o puxou naquela direção. Assim que a amiga compreendeu o intuito, fez uma boa pose e as duas conseguiram invadir a foto que estava sendo tirada. Em segredo, fizeram-se um sinal de vitória.

- De quem é a câmera? – perguntou Usagi, já estendendo seu celular para conseguir uma cópia do arquivo.
- É o celular do Jadeite. – Shin estendeu o aparelho, já ativado para a transferência.

  Apenas depois de todos os envolvidos pegarem as fotos, o estrangeiro conseguiu recuperar seu celular.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  O fogo crepitava à sua frente e já havia causado várias trilhas de suor por seu rosto, mas Rei precisava continuar concentrada.

  Quantos anos havia que ela não se dedicava tanto a esses rituais? Desde que entrara para o colegial, vinha se concentrando em cuidar para que o templo crescesse. Ao se formar, até optou por não seguir qualquer outra carreira. Sabia que aquele era seu lugar, por isso, passou a administrar cada detalhe desde aquele dia, enquanto deixara os rituais para seu avô e alguns temporários e aprendizes. Agora, sentia-se envergonhada por haver negligenciado a parte mais importante em um templo: servir a ele.

  Parecendo está-la perdoando, o fogo sagrado começava, fracamente, a lhe comprovar a premonição tida tempos antes.

  Havia algo errado, mas Rei não conseguia precisar o quê. Era fácil demais dizer que seu namorado era um assassino e que desejava destruir o mundo. Difícil era manter-se fora do hospício depois que o fizesse em voz alta. Ela precisava recuperar logo seu dom; entrar em contato com sua espiritualidade para que os deuses lhe dissessem exatamente por que lhes enviaram aquele sonho.

  Sentiu o peito agitar-se. Desejava que fossem seus poderes de sacerdotisa retornando, mas não passava de seu celular vibrando. Com um suspiro, jogou-se para trás de forma a não mais sentar-se sobre a panturrilha e esticou as pernas.

  Uma mensagem justamente de Jadeite. O momento fortuito escolhido por ele para enviá-la fez parecer algum sinal dos deuses. Mas eles não perderiam seu tempo para avisar sobre uma festa na empresa, a menos que fosse ocorrer algum massacre no lugar.

  Rei franziu a testa; sentia-se brava consigo própria. Estava ficando obcecada com um mero sonho e com algumas fantasias que tivera de tanto olhar para o fogo do templo de seu avô. Pessoas que nunca vira na vida, coisas que nunca vivenciara. Pior, que só vira dentro de sua coleção de histórias em quadrinho.

  E a festa mencionada na mensagem sequer era do departamento do namorado, mas daquele tal do Shin Saitou. Sempre a irritara como às vezes Jadeite parecia seguir aquele homem tal como um cachorro ao dono. Ou melhor, ao líder da matilha.

  Uma nova vibração. Jadeite estava enviando outra mensagem; havia se esquecido de anexar uma foto. E aproveitara para convidá-la para um jantar, pois mal vinham se vendo.

  Entenda o recado, pensou ela enquanto balançava a cabeça. Rei precisava de tempo, ao menos para superar aquele estranho sonho.

  Como que estivesse fincando pregos na cabeça do namorado, ela digitou uma resposta com força: “Tô ocupada até tarde.” Não era bem mentira ao menos. Ainda assim, sentiu algum peso na consciência. E se ela estivesse ficando doida de fato? Ainda confiava nos seus poderes, mas não havia qualquer prova de que Jadeite fosse um monstro. Muito pelo contrário, ele vinha sendo como o namorado perfeito por todos aqueles anos. Tão perfeito que sequer havia espaço para chamá-lo de perfeito demais. Era uma relação normal.

  Olhou melhor a foto anexada e sentiu a boca ficar seca.

  Não, não era uma premonição de massacre. Nem algum fantasma dando uma de engraçadinho. Era simplesmente uma foto com pessoas de escritório, incluindo Jadeite, o tal de Shin e... Quem eram aquelas duas meninas mais na frente da foto?

- Serenity? – sua boca pronunciou aquele nome tão familiarmente estranho. O fogo à sua frente começou a arder forte como se um vento o houvesse soprado em sua direção.

  Nesse momento, a porta se abriu. Era seu avô para avisar que a enviada pela agência de matrimônios já havia chegado.

- Já estou indo, vovô – respondeu ao se levantar.

  Com o movimento, seu celular rolou por suas vestes de sacerdotisa e caiu no chão. Uma mensagem de Jadeite piscava no visor. “Já falei com seu avô e fui convidado para jantar com vocês.” Simplesmente isso. Jadeite nunca acrescentava símbolos às suas mensagens. Não que Rei costumasse fazê-lo, mas isso tornava difícil saber qual tom o namorado usava. Antes, isso apenas a fazia pensar em como havia um lado fofo nele, agora a deixava apreensiva de que ele estivesse desconfiando de algo.

- Senhorita Hino? – Uma voz feminina ecoou pela sala. Droga, seu avô já havia deixada a moça da agência entrar.

  Rei sacudiu sua cabeça e guardou o aparelho na veste. Em seguida, passou uma toalha no rosto e cumprimentou a jovem, pedindo desculpas por seu estado. Quando, enfim, olhou diretamente para ela, teve o impulso de pular para trás como se visse um espírito desencarnado.

- Mercury? – murmurou, mas ainda em tom audível.

  A moça devolveu-lhe uma expressão confusa e então se curvou em movimento apologético:

- Sou a assistente da senhora Aino. Peço desculpas, mas ela não pôde vir. Vim em seu lugar, discutir sobre a agenda para os próximos casamentos que faremos no seu templo. Chamo-me Ami Mizuno. – E se curvou mais uma vez para aguardar a resposta de uma Rei estupefata.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

- Nossa, você já mandou relatório pra patroa? – Shin havia pegado o celular do amigo Jadeite e lia em voz alto um recado recém-enviado, provavelmente, à namorada.

  Não acreditando na cena que incluía seu superior, Makoto ria livremente tal como todos ao redor. Então, lembrou-se de um boato ouvido no banheiro feminino. Jadeite não parecia estar muito bem com a namorada. Claro, as mulheres que o diziam usavam tons invejosos, em parte por torcerem para que terminassem e pudessem ter chance com o estrangeiro, noutra porque isso parecia vir usando o tempo que Shin passaria na companhia delas normalmente.  Se bem que a não ida do superior aos bares devia ter muito mais a ver com aquela loira do café perto dali do que com os problemas conjugais do amigo, concluiu Makoto com um estalar de língua.

- Sabe, Usagi... – Virou-se para a mesma, quem observava a cena divertida. – A bochecha do Jadeite me lembra muito a de um namorado que tive.
- Ah, é? Eu bem ando pensando que já o vi em algum lugar também. Vai ver ele é um desses caras familiares. – E riu com a mão atrás da cabeça.

  Makoto não a seguiu na gargalhada. De fato, não era só a bochecha de Jadeite que a fazia pensar no passado. Pensando melhor, ela passara a falar mais com Usagi e Shin exatamente porque desconfiava que já os conhecia de antes e estava tentando lembrar de onde. Ter amigos ia contra sua natureza, ela não era boa nisso. Mas com Usagi, ao menos, a relação surgira naturalmente. Bem, o fato de a outra não haver se assustado com sua altura tenha contribuído mais que algo tão vago como o “destino”.

- E seus goukons? – Usagi perguntou, tirando-a dos devaneios.
- O que tem eles? Lembre-se de que agora a senhora tem um marido em casa.
- É que você normalmente sai de um já planejando outro... Mas agora não anda falando nada. Não me diga que arrumou um namorado secreto e não me disse!?

  Negando instantaneamente, Makoto riu do absurdo. Ela não era mais criança para ter namoradinhos pelos cantos. Sem contar que poucos homens se sentiam confortáveis com ela. Quando possuísse um de verdade, com certeza contaria à amiga.

- Vamos, Mako! Por que mais você desistiria?
- Bem, acordar pelada no apartamento de um estranho me soa como um belo alerta de que eu fiz algo errado, - explicou.

  Apesar de usar um tom leve, a lembrança daquele dia ainda a assustava. Certo, a causa d e seu comportamento peculiar fora a bebida, mas ela só bebera porque estava no goukon.

  Usagi estava para redarguir algo quando seu celular vibrou. Antes de ler, porém, escondeu a tela como sempre o fazia quando ele mandava mensagens.

  O nome daquele possível remetente veio à mente de Makoto sem qualquer conexão com a conversa anterior, mas fez seu corpo se encolher assim que pensou melhor. Claro que ela guardava segredos da amiga. Alguns por deixarem-na envergonhada, como nas vezes em que pensava no estranho daquele goukon; outros porque a fazia se sentir a pior pessoa do mundo.

- Motoki? – perguntou Makoto com os lábios trêmulos. Não que Usagi pudesse notar, absorta com o aparelho em suas mãos.

  A amiga apenas confirmou com um aceno e continuou a olhar para a tela oculta. Porque aquele silêncio a fazia temer o conteúdo da mensagem, Makoto decidiu aproveitar a necessidade de falar com sua própria curiosidade.

- Como vão ele e a esposa? Já se acertaram depois daquela noite do bar?

  Sua amiga não era nenhum baú fechado a sete chaves. Usagi sempre lhe comentava sobre os problemas que Motoki vinha enfrentando no casamento, mas o susto em seu olhar após ouvir a segunda pergunta fez Makoto dar um passo para trás.

  Droga.

  Ela não lhe contara do bar. Usagi não lhe mencionara uma só palavra da vez em que fora buscar Motoki e ele machucara a perna fugindo de um possível atropelamento. Nem sobre a declaração dele acerca da traição de seu marido. Bem, todos tinham seus segredos.

  Makoto apressou-se para consertar a gafe:

- Você me comentou noutro dia, que ele tava bebão, - mentiu.
- Contei? – Não havia apenas confusão no olhar da amiga, também era visível o seu medo.
- Sim, que você o buscou de novo. Parece que ele tinha brigado com a esposa ou algo assim? Tô misturando as coisas?

  Com algum alívio na face, Usagi sorriu.

- É, eles tão se entendendo. Bem, não tinha sido nenhuma briga; só o de sempre.
- Ah. – Makoto tentou não falar mais nada para não transparecer seu desânimo. Mas não sucedera pelo que a outra lhe disse em seguida:
- Você realmente não gosta da Reika, né?
- Eles deviam se separar logo.

  Assim que o disse, Makoto se arrependeu. O quanto Usagi deveria estar usando aquele casamento como espelho do seu próprio? Queria se remendar, falar qualquer coisa mais. Contudo, nada lhe vinha à mente. Aquela conversa a havia cansado. Não, a lembrança daquele assunto pendente a cansara.

  Após inventar qualquer desculpa, pegou suas coisas e deixou a festa. O ar úmido e quente da rua lá fora veio a seu rosto. Ótimo, estava chovendo. Makoto abriu a bolsa para pegar seu guarda-chuva e aproveitou para pegar seu celular. Enquanto digitava uma mensagem, acabou por esbarrar em alguém. Com a bochecha quente de embaraço, ela curvou o corpo para se desculpas. Quando levantou o olhar para a pessoa que atingira, sentiu o ar prender-se na garganta.

  Passando do outro lado da rua, estava o homem do goukon.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  A chuva continuava a fazer barulho quando batia contra o rio de água que ela mesma havia formado no chão.

  Verão... Minako olhou de novo desanimada para a paisagem fora do café e voltou-se para o interior. Sua patroa acenava-lhe com um sorriso ainda, como se aguardasse para ter certeza de que a empregada havia mesmo ido embora. De fato, aquela tempestade a animava a se esconder em algum canto do seu trabalho e ficar lá até o dia seguinte.

  Por que seu guarda-chuva tinha que ter quebrado logo naquela manhã? E por que ela não aproveitara para comprar um novo durante o expediente? Sua patroa não se importaria com uns minutos de ausência. Claro, era porque a chuva da manhã havia parado pouco depois de Minako chegar encharcada para trabalhar, com o guarda-chuva virado por uma ventania repentina. E também porque ela possuía uns seis outros em casa de tantas vezes que comprara por haver sido surpreendida com aquelas chuvas.

  O verão era uma estação tão pouco romântica... Seu cabelo ficava constantemente levantado e até meio ondulado em razão da umidade e das chuvas constantes. Sua maquiagem se misturava com o suor. E ela suava desde o momento em que punha os pés na rua. Ainda tinha o ar condicionado do trem e do café, que deixava sua garganta ressecada.

  E os namorados! Era só cair uma mísera chuva que inúmeros casais surgiam com seus guarda-chuvas batendo um no outro. Ou pior, dividindo um cujo tamanho obrigava um ombro a colar com o outro em formato de coração. Certo, Minako sempre se sentia animada quando avistava um casal; era difícil não suspirar com o ar de romance que eles exalavam. Mas sua idade estava avançando e nada vinha para ela. Já saíra com tantos...

  Era do tipo que não esperava uma chance, saía correndo atrás. Exceto que ela corria tão rápido que não tinha como saber antes se o que perseguia era o que ela desejava de verdade. Nunca era. Sempre estava pulando de homem em homem. Sequer se envolvia sexualmente com a maioria deles, desinteressava-se na segunda conversa, quando não antes.

  Sempre se considerava a deusa do amor e adorava aconselhar todos no que fosse relacionado, mas ela devia ser imune aos próprios poderes. Apenas não desistiria. Seu par perfeito estava por ali, no meio daquela tempestade. E, para achá-lo, Minako estava disposta a se molhar.

  Assim pensando, inspirou fundo e se preparou para correr até a estação.

  Foi nesse momento que a chuva parou de cair a seu redor. Instintivamente, olhou para cima. A tempestade não havia passado ainda; continuava tão forte como antes. Mas agora havia um guarda-chuva a protegendo.

- Ah, olá. – O homem que o segurava lhe fez um leve aceno com a cabeça. – Está indo para a estação, né?

  Sentindo um incômodo no estômago, Minako devolveu o gesto para aquela pessoa.

- Ah, é o amigo da Usagi! – disse, batendo o punho contra a palma da mão, feliz por reconhecê-lo.

  Por sua vez, o homem inclinou discretamente a cabeça, antes de lhe responder:

- Usagi? Você a conhece?
- Nós conversamos noutro dia. Ela estava aqui com o noivo. Sabe, um cara bem alto, moreno, charmoso. – E riu-se de sua descrição vaga.

  Os dois começaram a andar enquanto ele lhe explicava ser o chefe do departamento de Usagi e que se chamava Shin Saitou. De fato, ele parecia um pouco mais velho, mas Minako ainda se surpreendeu com a informação.

- E o casamento deles? Como foi?
- Vai ser daqui a uns dois meses; ela já tá entregando os convites. – Ele pausou por um momento, Minako sentiu ser observada.
- Algum problema? – Decidiu inquirir.
- Hã? Nada. – Shin voltou a olhar para frente e pareceu andar mais rápido por um momento.

  Estava observando ela porque a achava bonita? Mina não conseguia fornecer-se outra opção. Agora que pensava melhor, ele frequentava o café com bastante frequência, sempre na mesma mesa. Iria também nos dias ou horários em que ela não estava? Também se interessava pelas outras garçonetes?  E riu-se da linha que seus pensamentos seguiam. Não importava a competição: Shin era basicamente seu tipo.

  Contudo, logo chegaram na estação. Agora, ele fechava o guarda-chuva para pegar seu cartão do trem. Minako o olhou um pouco contrariada. O caminho havia sido curto demais. Por que ele não andara mais lentamente? Se estava mesmo interessado, porque não aproveitou nenhuma chance? Já fizera o pior, que era lhe oferecer aquela carona. Então, era só chamá-la para sair.

- Bem, nós nos vemos da próxima vez – disse-lhe ele. Ao fazê-lo, pareceu perceber que ainda segurava o guarda-chuva molhado. Estendendo-o para Minako, continuou: – Minha casa é bem perto da estação, e essa chuva não vai passar. É melhor ficar com você.
- Quê? Mas ele é seu. E mesmo que a casa seja perto...
- Por favor, leve-o. Eu insisto.

  Após ver o objeto ser sacudido algumas vezes na sua frente, Minako aquiesceu com um suspiro e pegou-o.

- Obrigada... – disse embaraçada. Não se sentia bem com aquela gentileza, o que fizera para merecê-la além de ser pão-dura em não comprar um para ela?

  Quando voltou a encará-lo, Shin já havia se despedido e passado pela catraca. Sério que era só isso? Ele fica olhando para ela durante o caminho, dá seu guarda-chuva e simplesmente cai fora? Com pressa, Minako afundou a mão em sua bolsa até achar seu próprio cartão de transporte e o passou violentamente contra o leitor da estação.

- Shin! Espere! – gritou para o homem, enquanto corria até ele.
- Algum problema, Minako?
- Seu endereço! – E estendeu o celular. – Você não me deu nem seu endereço de e-mail.

  Como ele ainda não parecia entender, Mina levantou sua outra mão onde estava o guarda-chuva. Tentava ignorar o embaraço que ela mesma sentia com sua atitude. Estava tudo bem, era seu jeito normal de abordar homens que a interessavam.

- Para eu poder devolver. Preciso do seu e-mail – explicou.

  E Shin a interessava.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  A noite estava bastante quente quando Mamoru deixou o bar acompanhado de seus colegas de trabalho e alguns clientes. Enquanto todos se despediam, ele baixou seus olhos para o relógio em seu pulso. Eram só oito da noite; havia terminado bem cedo aquela reunião. Antes não houvesse avisado a Usagi mais uma vez para não esperá-lo. Sempre lhe doía um pouco saber que ainda nem haviam tido sua festa de casamento e já possuíam tantos problemas em casa.

  Havia quanto tempo que não faziam sexo? Às vezes, a distância parecia tanta que ele até duvidava que já houvessem dormido juntos. E Mamoru sentia falta de senti-la contra seu corpo, de abraçá-la. Agora, tinha até medo de tentar alguma aproximação. Não queria ser recusado novamente. Não queria pensar em onde Usagi estaria recebendo o afeto que lhe satisfazia a ponto de não querer mais o dele. Naquelas primeiras vezes do casal, ela o procurara, ela o quisera. Então, tudo apenas desapareceu. Sem que pudesse reclamar, restava a Mamoru tentar fazer sua parte como marido. Ao menos, ganhar o direito de dizer qualquer coisa. Mas noite após noite ele vinha se atrasando no trabalho, tendo outros compromissos... Decepcionando a esposa.

  Enquanto assim pensava, sentiu o celular vibrar no bolso do paletó. Era ela. Mamoru não queria encontrá-la, ganhar mais motivos por que seu casamento fracassara na lua de mel. Todavia, como sempre, acabou por aceitar vê-la naquela noite em vez de voltar para sua esposa.

  Ao abrir a porta do pequeno café próximo à estação de trem, Mamoru logo avistou Reika. Seus cabelos continuavam longos como sempre, mas hoje estavam devidamente presos para trás. Devia ter acabado de sair da universidade, pois usava roupas sociais e parecia um pouco cansada.

- Que bom que pôde vir! – disse ela assim que o avistou. Sobre a mesa, encontrava-se uma xícara de café.

  Mamoru também pediu uma para si e encarou a mulher à sua frente. Queria poder resistir, simplesmente não atender aos chamados dela. Era o melhor para seu casamento, o que era melhor também para seus pais e seus sogros. Por outro lado, preocupava-se com a palidez cada vez mais evidente no rosto da amiga, queria poder aliviar sua preocupação ao menos um pouco. Que tipo de amigo a deixaria assim?

- Como tem passado, Reika? – perguntou sem esconder seus pensamentos do tom de voz.

  Com um sorriso amargo, ela começou a falar de Motoki. Era sempre essa a razão para aqueles encontros, afinal. Mesmo quando Reika apenas queria passar um tempo ou conhecer algum café novo, o marido continuava sendo a grande razão por trás dos convites.

  Mamoru não tinha certeza foi ele quem viu a menina loira familiar antes ou se ela o abordou primeiro, mas agora a voz grave de Reika foi sobreposta por um grito animado. A loira pareceu pular sobre a mesa e o cumprimentou eufórica.

- Como é bom revê-lo! – dizia ela, enquanto Mamoru buscava em sua mente de onde conhecia aquela menina.

  A verdade era que grande parte dele estava simplesmente aliviada por aquela loira não ser sua esposa. Não sabia como explicar que seu “trabalhar até tarde” incluía tomar um café calmamente com outra mulher. Não que houvesse algo errado em se encontrar com Reika: os dois eram amigos de faculdade! E não que ele estivesse tão calmo quanto tentava transparecer. Todavia, nem ele mesmo conseguia se convencer de sua inocência. E, desta vez, era tal qual houvesse mentido.

  Como se a moça pudesse ler seus pensamentos, ela lhe perguntou em seguida:

- Como está a Usagi?

  Estava consciente de que havia se ajeitado na cadeira e voltado os olhos para Reika de forma culpada. E de que esta havia reagido negativa à menção daquele nome. O nome tabu, não obstante nenhum dos dois haver estabelecido essa proibição verbalmente.

- Está bem, tudo bem – respondeu coma  voz rouca.
- Soube que o casamento mesmo é em dois meses. Que legal, né? Ela deve estar louca atrás dos detalhes da festa. Adoro casamentos! – continuava a loira. Suas risadas deixavam claro que “adorar” era um verbo que não expressava com fidelidade o quanto gostava de casamentos.

  Antes que ela pudesse continuar com sua excitação exagerada, porém, um homem aproximou o corpo da mesa e se curvou levemente para cumprimentar Mamoru.

- É um prazer conhecer o marido da Usagi. Trabalhamos juntos na empresa e espero que minha subordinada não esteja dando muito trabalho. – O homem, então, entregou-lhe um cartão de apresentação.
- Ah, senhor Saitou. – Mamoru levantou-se de sobressalto após ler o papel recebido e retribuiu o gesto entregando seu próprio cartão. – Eu que espero que a Usagi não esteja lhe dando trabalho.
- Ela é uma boa menina. – Shin sorriu apenas um pouco. – Como já deve saber, não é das mais eficientes. Mas sempre podemos confiar nela. Ela é de ouro.

  Mamoru assentiu com cautela e olhou para Reika instintivamente com o canto dos olhos.

- É melhor irmos, né? – A loira, quem agora Mamoru lembrava-se de haver visto em um café próximo à empresa de Usagi, enlaçou o braço de Shin e passou a puxá-lo.
- Bem, foi um prazer conhecer o noivo. Estou ansioso pela festa de casamento. – Shin sorriu mais uma vez antes de sair.

  Um suspiro de Reika trouxe Mamoru de volta à realidade. Ele continuava de pé com os olhos na porta por onde o casal passara, imaginando como Shin descreveria aquela cena para sua esposa no dia seguinte.

- Isso foi um pouco desconfortável... – comentou ela.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Lá estava. Era o apartamento que Minako vinha dividindo com Ami. Luna ainda não conseguia acreditar que as duas houvessem se conhecido novamente ao longo daqueles anos e que agora dividissem um quarto. Ainda assim, não havia dúvidas. Os nomes na porta de entrada eram de Ami Mizuno e Minako Aino.

  Arthemis havia lhe alertado sobre a coincidência antes de trazê-la, mas não explicado o evento. Em teoria, as duas estudavam em escolas diferentes, possuíam personalidades quase opostas. Luna observou maravilhada Ami se andar próxima à janela e se afastar, desaparecendo para o interior.

- Minako ainda não voltou – comentou Arthemis, sem explicar como o sabia.
- Bem, tirando a Ami, tudo parece normal.
- Vamos esperar. Ao menos até a Minako...
- Já entendi, já entendi. – Luna suspirou com resignação.

  Já era bastante tarde, mas ficara difícil para ela própria observar Usagi desde que ela se mudara para aquele prédio alto. Qual gato poderia explicar aparecer no andar em que sua protegida agora morava? Mas era exatamente por isso que Luna compreendia o parceiro. Ela também esperava Usagi passar pela manhã e à noite enquanto ia e voltava do trabalho. Só vê-la bem já a acalmava.

- Luna, olhe! – Arthemis moveu a pata para o térreo.

  O apartamento de Ami e Minako possuía apenas dois andares de cima e um longo corredor interligando os apartamentos de cada piso, esse completamente exposto para a rua exceto pelo pequeno muro onde os dois gatos haviam se sentado. A escada dava acesso direto tanto para a entrada quanto para o andar mais acima. Era exatamente ela que um homem familiar subia; seu cabelo loiro e ondulados se encontrava apenas meio preso para trás e balançava com o movimento.

  Luna sentiu seus pelos se arrepiarem ante a visão daquele general cada vez mais próximo. O que fariam? Pulavam dali mesmo para o térreo e saíam correndo? Desesperada, olhou para Arthemis a fim de conseguir um conselho.

  Todavia, o general passou sem sequer perceber a presença dos gatos. E apertou a campanhia do apartamento de Minako. Não custou muito para Ami recebê-lo e deixá-lo entrar.

- Ela o conhece!? – perguntava Luna, ainda sem conseguir respirar direito. – Não vi errado desta vez. Tenho certeza de que era Zoisite!
- Eu te disse, Luna. Eles ainda estão vivos.
- Então, aquele estrangeiro também...
- Também devia ser um general. Mas qual será o plano deles?
- O Cristal? Mas... Algo está errado, Arthemis. – Luna deitou no muro e miou fracamente. – Zoisite não me olhou em momento algum. Ademais, quantos deles conheciam as identidades das meninas?
- Bastaria um se estiverem trabalhando juntos. E devem estar; cada um investindo contra uma delas.
- Pra quê? O Cristal não está com elas. E, se agirmos...
- ...elas podem acabar lembrando. – Arthemis gemeu bem baixo com a conclusão. – Já entendi; continuemos a observar.
- Exato. E até onde sabemos, eles lembram tanto quanto as meninas e o príncipe Endymion.

  Com isso, voltaram a esperar até que Minako retornasse. O que aconteceria bastante mais tarde. E na companhia de mais um general.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Após sair do pequeno restaurante, o casal atravessou a rua e caminhou para a estação de trem. Depois de encontrarem os conhecidos de Usagi, a conversa não havia mais progredido.

- Algum problema, Mamoru?

  Devia estar encarando-a o tempo todo. Mas era inevitável.

- Só me perguntava se o assunto importante para tratar comigo era apenas uma desculpa para eu lhe pagar um jantar.

  Reika gargalhou, voltando para ele seu olhar.

- Ah, claro. Comer um pouco de macarrão num restaurante de família é a noite perfeita pra uma garota.
- Bem, deve ser melhor que comer sozinha em casa. Motoki se atrasou de novo hoje? – Por que o tom de desaprovação, Mamoru se perguntava ao dizer aquelas palavras. Ele mesmo estava bem longe da sua esposa.
- Não desta vez. Ele deve estar vendo as notícias a esta hora, deitado no sofá de pijama.
- Então...
- Porque eu queria que fosse o primeiro a saber. Não sei ainda o que fazer, não posso olhar para o Motoki antes de ter conversado contigo antes.

  Preocupado, Mamoru parou de andar apesar de a entrada da estação estar bem à sua frente. Normalmente, ele não gostava de simplesmente parar no meio do caminho. Isso incomodava as pessoas, criava um obstáculo repentinamente. Contudo, o tom de voz de Reika tremulara levemente várias vezes. Eles se conheciam fazia anos. Isso não era típico dela. Pela primeira vez naquela noite, sua atenção estava inteiramente voltada para a mulher enquanto lhe pedia que prosseguisse.

  Ela inspirou lentamente antes de fazê-lo:

- Eu fui ao hospital hoje à tarde e... – Balançou a cabeça e pareceu desistir de explicações complicadas. – Estou grávida, Mamoru.

Continuará...

Anita, 08/02/2013

Notas das Autora:

Muitos agradecimentos a todos que estão acompanhando esta fic! Especialmente pra Maria, Carol, Vanessa Diaz, Professora de Italiano, Tatazinha, MViana, Mari Rodrigues, Bianca Martins, Kurai e Spooky. Muuuuito obrigada mesmo por todos os comentários que vocês andam enviando *_*

E podem deixar que ainda vai ter sim muito romance entre o Mamoru e a Usagi, é que as coisas andam complicadas entre eles, como puderam sentir por este capítulo, né?

E desculpa a demora para atualizá-la aqui no site (e em qualquer lugar na verdade), eu ando numa lerdeza só ultimamente. @-@ Vou deixar o quinto capítulo nos trinques mais rápido pra compensar! (Previsão da Anita: um ano depois e o capítulo não foi lançado. Brincando!!)

Aliás, se alguém se interessar por escrever fanfics, a comunidade Saint Seiya Superfics acabou de abrir as inscrições pro Coculto 9, que é um evento de troca de fanfics. Você escolhe o tema que vai escrever e dá a história resultante de presente pra pessoa que pediu aquele tema. Em troca, uma pessoa também escreve uma história de algum dos temas (tem que fazer ao menos 4 pedidos pro seu amigo oculto ter opção caso a primeira escolha dele não dê certo, né?) que você tenha pedido. É bem divertido, garanto! ;)

Coculto 9: Inscrições abertas! <- a="" amigo="" clique="" coisa="" com="" combina="" de="" entrar="" estiver="" eu="" i="" inscrever="" l="" mas="" medo="" pra="" qualquer="" rs.="" se="" t="" um="" vou="">

E se vocês estão aqui um ano depois pra cobrar o capítulo 5 ainda não lançado... Fico na torcida pra que o Coculto ainda esteja de pé, então eu os convido para o Coculto 11, rs. Ou 12, ou 13.... Enfim, chequem a comunidade e descubram em que edição ele está! :D

(notas feitas em 06/02/2014)

2 comentários:

  1. Não entendo, o final deixou no ar que talvez, só talvez, Reika e Mamoru tenham algo, ou que talvez ela traía Motoki, ou ela seja muito insegura.
    Nossa, se eu fosse Usagi, mesmo que não haja nada entre Mamoru e Reika, ficaria muito brava com ele, já fico com meu namorado, afinal ele deixou espaço para dúvidas não dizendo a ela que se encontra com Reika até por que ele sabe que Motoki é amigo da Usagi e ela deve conhecer a situação deles.
    Embora acredite que este filho não seja de Motoki, só espero que não seja de Mamoru, mas enfim, sei que a relação entre Mamoru e Usagi vai ficar pior até por que a Mina vai acabar encontrando-se com ela ou o Shin vai dizer. É uma pena que esta Usagi seja muito passiva e sofra em silêncio, porque Mamoru tem que ouvir "umas poucas e boas".

    Aguardo atualização :P

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    Respostas
    1. Muito obrigada pelo comentário e peço milhares de desculpas pela demora em responder :( Tem toda a razão, o Mamoru praticamente pediu que a Usagi ficasse brava e desse o troco, né? Vamos ver se a Usagi reage daqui pra frente. Agradeço muito que esteja acompanhando e aguardo seus próximos comentários ansiosamente!

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