Título: Minha Vida Existe Para Viver com Você – Capítulo 7
Autora: Anita
Fandom: Sailor Moon
Classificação: 14 anos.
Gêneros: comédia romântica, aventura.
Resumo: Tsukino Usagi / Chiba Mamoru. Usagi tem 23 anos, um emprego e uma vida toda para encontrar aquilo que lhe parece estar faltando quando sua mãe a empurra para um casamento arranjado. E justo com Mamoru, o sujeito convencido que a atormentou durante sua adolescência! Mas e se ele for justamente a peça perdida que anda lhe fazendo tanta falta?
Notas Iniciais:
História escrita para a Quinzena Sailor Moon, um desafio promovido pela comunidade Saint Seiya Super Fics Journal.
Olho Azul Apresenta:
Minha Vida Existe
Para Viver com Você
Capítulo 7 – Um Vazio Crescente
Enquanto dava passos largos para se afastar o máximo possível daquele
templo, Usagi começou a mancar um pouco. Tá, seu joelho arranhado não doía àquele
ponto, mas não gostava da falta de compaixão por parte de seu marido. Olhou de
rabo de olho para o homem logo atrás, mas ele continuava apenas seguindo em
frente.
- Sinceramente, não é assim que uma
cliente deve ser tratada – resmungou. Quem sabe não conseguia ao menos que ele
concordasse?
- Não creio que um templo deva ter
uma relação de clientela. Ademais, você mesma disse coisas meio estranhas pra
aquela moça. Como foi que se conheceram, afinal?
Usagi fechou o punho com força, mas conteve o impulso de aplicar um soco
para calá-lo. A pergunta que lhe fora dirigida lhe havia feito se lembrar de
algo importante. Inclinando o queixo para cima, virou a cabeça para outro lado.
- Não estou falando com o senhor.
Sei que também riu quando eu caí. Sinceramente, esperava um pouco mais do meu
próprio marido.
Enquanto prosseguia com o sermão, sua mente estava naquele fato
importante. De fato, Usagi já havia encontrado Rei Hino antes. Melhor, esta a
havia procurado com um aviso sobre seu superior. Apesar de somente impressão
inicial de que se tratava de uma louca haver lhe vindo à cabeça durante o
reencontro, Rei também a chamara de Serenity na ocasião. O nome que aparecia em
seus sonhos.
Droga, por que não se lembrara disso antes de caí em uma longa discussão
com a moça do templo? Seria bastante difícil conversarem depois de ter lhe
sugerido uma camisa de força na frente de tantas pessoas. Contudo, Mamoru
estava bem do seu lado, Usagi era quem acabaria no hospício se começasse a
repetir aquela história.
Aqueles sonhos não paravam. Pelo contrário, vinham piorando a cada vez,
arrastando com eles uma solidão, uma dor no peito. Mesmo agora que Mamoru, o
príncipe de suas visões, tratava-a com tanto carinho, era como se um vazio
permanecesse dentro dela. Como podia estar com saudades de quem estava bem ali,
seguindo-a como que para irritá-la?
- Usagi?
E bem quando pensava nele, percebeu que Mamoru a estava chamando.
- Que foi afinal? – Voltou a fingir
a zanga. Bem, não era falsa; realmente havia ficado chateada com ele na hora.
- Acabei de dizer. – Ele agora a
havia alcançado e passava o braço pelo dela, andando bem junto a seu corpo. –
Vou te compensar por hoje.
- Compensar, é? Não creio que seja
fácil. Sabe, foi uma decepção. – Não, não tinha sido. Foi apenas seu Mamoru agindo
como sempre. Ela também riria, e muito mais alto que o marido fizera.
- Que tal irmos para casa e pormos
uma bela roupa? Soube de um restaurante muito bom em Ginza.
- Comida, é? Não sou tão fácil
assim.
Ao mesmo tempo em que o falava, sentiu a respiração de Mamoru soprar
seus cabelos perto da orelha. Deixando-a ruborizada, ele sussurrou com a voz
rouca:
- Eles são famosos pelos parfaits. – Como se percebesse o esforço
que Usagi fazia para não reagir, acrescentou ainda: – Com direito a calda de
chocolate belga.
- Está bem... Já que você insiste.
Vou te fazer companhia. Você sozinho não daria ao parfait todo o apreço que ele merece. – Ela sorriu enfim. Era tão
bom ser mimada de vez em quando...
Quando olhou para o marido, porém, percebeu que ele franzia a testa.
- Não vá dar pra trás agora, Mamoru.
Em resposta, ele balançou a cabeça. Mas continuava um pouco aéreo.
- Eu só tive uma sensação estranha.
– Assim dizendo, olhou para trás.
- Que foi? Não que diga que alguém
tá nos seguindo. Ai, será o pervertido daquela vez...?
- Que pervert- Ah, o gato? – Então
passou a mão pelos cabelos. – Deixa pra lá. Foi só sensação mesmo.
- Mamoru, Mamoru...
Mas ele sorriu e disse antes que ela continuasse:
- Nem me venha falar das suas
camisas de força, sua boba.
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
Escondendo-se no meio dos clientes de uma pequena loja, Jadeite
amaldiçoou o alvo de sua perseguição. Ele havia percebido que o seguia? Quis conferir
novamente se aquele homem ainda olhava para trás como se o procurando, mas
hesitou por um momento.
O que diria se fosse confrontado? Não, ele não o faria, né? Não na
frente da própria esposa. Ainda bem que, ao ouvir a confusão de Usagi com sua
namorada, Jadeite não havia se exposto ao grupo. Aquele homem não tinha
qualquer informação sobre sua identidade; diferente dele próprio que trabalhava
com a esposa do dito-cujo.
Pensando assim, deu um passo para fora da lojinha e procurou o casal que
vinha seguindo desde o templo. Os dois estavam bem mais distantes agora, ainda
com os braços enlaçados. Agora, Usagi se inclinava sobre o marido e falava
animada sobre alguma coisa.
A cena o fez se lembrar de quando conhecera Rei. No início, os dois
também andavam assim, né? Bem, ao menos sua namorada, sim. Jadeite apenas se
deixava levar, um pouco confuso com seu jeito tão direto. Todavia, algo havia
mudado não apenas nele nos últimos meses. Ela própria vinha se afastando de
alguma forma e sequer passava a noite em seu apartamento. Bastava escurecer
para lhe inventar alguma desculpa e voltar para casa como se o namorado fosse
algum lobo mau.
“Heh.
Quem sabe eu seja...” Olhou para as próprias mãos com alguma atenção, vendo
o que apenas ele poderia. Ou Rei também já conseguia enxergar? A mancha de
sangue.
Após mais algum tempo perdido em pensamentos, decidiu correr atrás do
casal antes que o perdesse de vista. Precisava descobrir mais sobre aquele
homem.
- Não dê mais um passo, Jadeite!
A forma agressiva com que a voz lhe dirigia já seria o bastante para
assustá-lo, mas o fato de estar vindo de um gato preto era aterrorizador.
Jadeite olhou para os dois felinos que pularam à sua frente. Eles avançavam em
sua direção, olhando-o fixamente.
- Não vamos deixar se aproximar nem
mais um centímetro deles, General. – O gato branco ergueu uma das patas para
mostrar suas garras.
Jadeite não tinha medo de gatos, mas aqueles dois causaram uma emoção
forte nele que fazia seu estômago revirar. O que era aquilo? Sentiu as mãos
geladas e o coração bater anomalamente. Antes que decidisse o que fazer, seu
corpo já havia começado a correr para longe numa velocidade que nem sabia ter.
Quando deu por si, estava tão longe que nem sabia ao certo onde exatamente.
- Eles não me seguiram, né? –
perguntou-se, assustado demais para manter as palavras em pensamento. Precisava
ouvir a própria voz, saber que ainda fazia parte do mundo.
Em seguida, levou a mão à barriga. O nervoso continuava a fazê-la se
contrair. Seus braços pareciam arrepiados e as palmas suavam. Por quê?
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
Mais uma cerimônia de casamento daquele domingo estava terminando. Ami
se posicionou logo atrás da senhora Aino e a acompanhou nas despedidas dos noivos
com o alívio que sempre sentia quando eles deixavam a agência.
Minako sempre comentava que devia ser mais divertido se casar no Japão,
em vez de seguir um monte de passos burocráticos chatos em que a cerimônia
sequer fazia parte. Mas o trabalho da agência já era tão grande e tudo sempre
dava tão errado que era bom a cerimônia não ser a celebração oficial do
matrimônio. Não conseguia imaginar o quanto mais poderia dar de errado ali caso
ainda tivessem que cumprir com formalidades de lei.
Ao perceber que todos os clientes já haviam ido, a senhora Aino se
voltou para Ami e pediu que fosse cuidar das festas que ainda aconteciam ali.
Despedindo-se da superior, ela se apressou para continuar o serviço. Faltava
somente mais uma hora de salão para um deles, por isso, era melhor se
direcionar àquele. Parando à porta apenas para endireitar suas roupas e
inspirar um pouco, preparava-se para entrar quando alguém saiu pela passagem
restrita a funcionários.
- Boa tarde. – Zoisite fez-lhe um
cumprimento comedido e se afastou logo em seguida, carregando sua pasta de
partituras.
Mais uma vez, o músico havia agido como se fossem desconhecidos. Não
queria se importar; dizia-se que a frieza dos últimos dias não devia ser
estranhada. Zoisite havia se declarado para ela, que o havia rejeitado. Ele
ainda tentara insistir, continuavam até a se falar. Sem mencionar as flores,
quase diárias por um período. O que mudara desde então?
Lembrou-se subitamente de Minako. Ela saberia a resposta? Mas Ami
balançou a cabeça; não podia ficar falando disso. Não mentia quando o
rejeitara. Havia algo errado em sua vida e, por isso, não poderia ficar com
ninguém até entender o que seria.
Quando mais jovem, não questionava muito sobre a vida. Nem tinha tempo
para isso entre a escola e o cursinho, além dos estudos por ela própria. Então,
desde o final do ginasial, ela passou a contestar um pouco seu estilo de vida.
Antes o tivesse feito radicalmente, mas foi apenas na faculdade, quando se
amigara com Minako que tomara coragem de enfrentar a vida que sua mãe lhe
planejara e sair para descobrir a dela própria.
Não, a culpa não era mesmo da companheira de quarto. Ela incentivara-a
sempre, dera-lhe a coragem que lhe faltava. Ami queria muito seguir seus
conselhos agora também e aceitar Zoisite, mas não estava pronta. E não podia
decepcionar mais um, enquanto sua batalha interior em busca de si mesma
prosseguia tão forte como quando decepcionara sua própria mãe.
Enquanto isso, sabia que o estava perdendo.
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
Pondo a seu lado uma pasta cheia de papéis fora da ordem, Makoto passou
a observar Usagi. Sua grande amiga naquela empresa, qualquer um diria, mas
havia sido criado um abismo entre as duas. Ela mesma o provocara, claro.
Nunca se abrira sobre Motoki e nem podia culpar a insistência do próprio
em fazer segredo. Makoto não quisera contar; não pudera mostrar aquela parte
suja de sua vida. Agora, como contar sobre Masato, sobre por que o
recusara?
Todavia, Usagi também lhe escondera bastante. E, nos últimos dias, não
vinham se falando mais que o necessário. Precisava fazer algo. Decidira ajeitar
sua vida desde aquele dia, não era?
Levantou a mesma pasta e a deixou cair mais uma vez sobre a mesa,
causando um pequeno barulho. Quando percebeu a amiga dar um pequeno pulo e
olhar incomodada em direção ao objeto causador do distúrbio, Makoto voltou todo
o corpo para ela.
- Favor me dizer o que há de errado
– demandou. Arrependeu-se um pouco do tom que usava, mas nunca fora uma menina
de indiretas. – Não gosto de como tem me ignorado.
Usagi a observou por um instante. Então, voltou-se para a tela de seu
computador e disse calmamente:
- E eu não gosto de ser usada. Sei
que sou uma boba, mas eu esperava mais de uma amiga.
- De que está falando?
- Das mentiras do Motoki quando ele
ia te encontrar. Quantas vezes vocês disseram à Reika que ele estaria comigo?
Passou a considerar qual resposta seria a mais apropriada: um choro, um
grito raivoso, algo sarcástico, ou apenas fingir não entender. Insatisfeita com
qualquer dessas opções, Makoto não respondeu. No lugar, anunciou:
- Eu terminei com Motoki. – E voltou
a seu trabalho.
Aquele era o momento em que as duas amigas se reconciliavam aos choros,
mas ela não conseguia derramar uma lágrima pelo romance frustrado. Por isso,
teria que se aguentar sem a grande cena daquela no filme de sua vida.
Por sorte, Usagi era seu completo oposto e a abraçou com o rosto
encharcado de lágrimas enquanto berrava. Ela não se importava com todos os
olhares que atraíra; estava chorando abertamente.
- Hã, Usa? – Makoto ainda a tentou
abraçar, mas não sabia como poderia consolar alguém que a estava consolando. Ou
deveria estar. – Você ouviu que fui eu que terminei, né?
- Mas é tãaao triste! – proclamou, fungando sonoramente. – Desculpa não ter
podido te ajudar! Que amiga sou... Ainda briguei contigo. – E fungou uma vez
mais.
Sem se conter, Makoto passou a gargalhar por cima do choro derramado
pela outra, ia-se embora toda a frustração sentida desde que tudo começara.
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
Os dois gatos estavam de volta a seu novo lugar de sempre, em frente ao
apartamento dividido por Minako e Ami. Hoje não havia visita de nenhum general,
estas não vinham mais ocorrendo. Mesmo assim, eles não estavam mais aliviados.
Haverem encontrado aquele general perseguindo Usagi e Mamoru os preocupava
imensamente.
- Luna... – Arthemis tentou, não
pela primeira vez.
- Não. Já disse que não. Não
posso...
- Mas precisamos do Cristal, Luna!
- Sabe que ele não existe mais.
Quando todas ressuscitaram, aquele foi o último dos poderes do Cristal. Não
consigo mais senti-lo.
- É a nossa esperança. Ele poderia
nos revelar mais sobre esses generais.
- Pois não vou devolver à Usagi
todas aquelas lembranças. Ela sempre desejou ser uma garota normal.
- Que pode acabar morta com esse
bando de general atrás dela. – Arthemis avançou até bem perto, com o cenho
peludo franzido como um gato podia.
A gata suspirou, mas ainda balançou a pequena cabeça.
- Não podemos... Ademais, nenhum
deles parece se lembrar de nós.
- Podem estar fingindo. Todos
apareceram do nada na mesma época.
- Quando as meninas foram trazidas
de volta. Talvez, o Cristal tenha querido trazer os guardiões do príncipe
Endymion junto com ele.
- Ou esse é mais um plano do Dark
Kingdom. Os verdadeiros generais estão adormecidos e voltarão assim que
estiverem fortes novamente.
- Não podemos, Arthemis...
- Não podem o quê?
Assim perguntando, Rei se aproximou de ambos os gatos e se curvou para
vê-los de perto. Dois gatos com o sinal de lua crescente na testa. Os mesmos de
suas visões, sem dúvidas. E falantes! Quem diria que entregar documentos na
casa da tal Mizuno fosse lhe render aquela descoberta? Pensando bem, Ami Mizuno
era a Sailor Mercury; deveria ter
esperado achar mais por ali.
Os felinos a olhavam de volta tão inertes que pareciam ser de pelúcia.
Para constatar que não o eram, Rei estendeu sua mão até o de pelo escuro. Era
macio, familiar. Uma fêmea, tinha certeza mesmo sem entender nada de animais.
- Luna... – sussurrou enquanto o
nome lhe vinha aos lábios.
Devia ser algum nome da vida passada daquele animal, como Serenity era
para Usagi. A diferença era aquele se tratar de um gato que falava.
- Não quer falar comigo?
O branco se aproximou mais, como se cobrasse também uma reação da fêmea.
- E você é Arthemis, né? – Rei levou
a mão livre também à cabeça deste.
- Ah. – A porta do apartamento se
abriu para revelar a moça da agência de matrimônios. Ami acenou-lhe com a
cabeça. – Então, já chegou. Por favor, entre.
Com um olhar de pesar para os gatos – eles iriam fugir, não era? – Rei
cumpriu com o comando. Por que estava tão longe de encontrar a peça que faltava
naquele quebra-cabeça? Sempre que começava a pensar que as visões não passavam
de uma vida passada, fatos estranhos aconteciam. Ou teria apenas imaginado os
gatos falantes e o olhar de gelo de seu namorado?
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
Fechando seu celular, Mamoru considerou desligar o aparelho logo, antes
que a próxima mensagem o fizesse trair a confiança de Usagi mais uma vez.
Claro, adultério não estava entre suas atividades com Reika e, apesar de
considerá-la atraente, ela sequer fazia seu tipo. Contudo, sua esposa fora
bastante objetiva ao pedir que não mais se encontrassem – e o fizera com razão.
Por isso, ele não adiara dar a notícia à mulher de Motoki e proibir a si mesmo
de até trocar mensagens com a mesma. Sabia que se preocuparia, já o fazia antes
mesmo de ouvir sobre a gravidez.
A tela externa do celular iluminou-se de cima da mesinha do quarto, ela
devia ter mandado mais uma mensagem demandando que se encontrassem. Talvez
devesse responder desta vez; sequer poderia vê-la, pois estava de partida para
Quioto naquela noite. Não, respondeu-se com firmeza. Pediu que não se falassem
ao menos por um tempo. Reika não possuía amigos mais próximos que Mamoru, mas
também não era isolada do mundo. Ele não era insubstituível. Ademais, também
era a decisão certa com relação a Motoki, se o amigo suspeitava da relação de
ambos a ponto de contar para Usagi.
Irritado com o próprio aparelho, ele o desligou de vez. Usagi ainda não
devia ter anotado o número fixo do apartamento, mas não devia precisar.
Chegaria em cerca de meia hora; não o fazendo, bastava o próprio Mamoru ligar
para a esposa. Do telefone convencional. Tentando se convencer de que estava
mais tranquilo, voltou a arrumar a mala para a pequena viagem.
Estava ansioso por chegar logo e, desta vez, poder ter uma verdadeira
lua de mel antecipada. Mesmo sem precisar, saíra às cinco em ponto de seu
trabalho simplesmente porque não se concentrava mais nas tarefas. Precisava
fazer tudo certo.
Visitariam seus pais no dia seguinte e almoçariam por lá – Mamoru sequer
os avisara que iria na sexta-feira de forma a poder passar aquela noite a sós
com a esposa. Após se despedir da casa dos pais, passeariam pela antiga capital
e falariam do tempo que ela morara na região oeste. Sua faculdade também não
devia ser muito longe, poderia até conhecer o campus onde ela estudara. Tendo
os pais naquela região, já conhecia bem todos os pontos turísticos e não
conseguia pensar em nada muito atraente por ali, mas não se importaria de rever
a ilha de Awaji, ou o zoológico de Tennouji. Pegou-se sorrindo com todos
aqueles planos de adolescente, era como se estivesse esboçando um encontro.
Bem, não o deixaria de ser. O que não poderia permitir era perder o sorriso de
Usagi novamente.
Ouviu um som vindo de fora do quarto do casal e percebeu-se sorrir
novamente. Sem pensar muito, correu para dar as boas-vindas a Usagi – algo
bastante raro; ela raramente chegava depois dele. Foi quando se deu conta de
que o barulho não se tratava de uma porta abrindo, mas deslizando. Então,
voltou-se para a sacada. Havia se certificado de fechá-la antes, mas agora se
encontrava escancarada, deixando o vento do por do sol entrar no apartamento.
De cima de seu sofá, dois gatos o encaravam fixamente.
- O gato do outro dia? – murmurou
confuso. Havia se convencido de que apenas o imaginara então, mas lá estava e
agora acompanhado. Por que um gato se daria ao trabalho de chegar tão alto com
tantos outros lugares para ir?
- Mamoru, p-preciso que nos
escute... – O gato preto andou até o braço do sofá mais próximo dele e ali se
sentou mais uma vez. – Precisamos de sua ajuda para... – Ele pareceu tomar
fôlego e prosseguiu: - Para recuperar o Cristal de Prata.
Melhor dizendo, tratava-se de uma gata a se tirar pela voz. Mamoru não
entendia de animais para assim confirmar; ademais, tinha medo de estar levando
aquela alucinação a sério demais para sequer tentar fazê-lo. Ao se perceber
assim, deu as costas para os visitantes e caminhou para s cozinha. Precisava de
um copo de água.
- Espere! – A voz masculina saía do
gato branco desta vez, quem tinha uma das patas levantada e apontada para
Mamoru. – É muito importante que nos ouça.
- É pelo bem da Usagi, – a gata
falava mais confiante agora. - Você entende, não é? Mesmo sem se lembrar de
nada, vocês conseguiram se reencontrar. Sei há algum vestígio de lembrança, ou
não creio que isso seria possível.
- Lembrança?
Mamoru se sentou na poltrona e ficou com o olhar fixo na mesinha à sua
frente. Tendo sofrido amnésia quando criança, aquela era uma palavra sensível
para ele.
- Vocês não se lembram, eu sei. –
Abaixando a cabeça, a gata suspirou contrita. – Mas é exatamente para proteger
a Usagi que pedimos sua ajuda.
- Proteger de quê? – perguntou ele,
ignorando as pontadas na cabeça.
- Do passado. De tudo o que
aconteceu.
- O que aconteceu... – Levou a mão
até a nuca baixou o olhar para seus pés.
Aquilo era sobre seus sonhos? Sobre a princesa que gritava por ele, e
que Mamoru não conseguia alcançar em meio ao nevoeiro que os separava? Fazia
anos que via aquela cena e, nos últimos meses, vinha lhe aparecendo com cada
vez mais frequência e clareza. A cena em que ele, Endymion, corria desesperado
até a princesa Serenity.
Junto com essa nitidez maior, outras visões passaram a lhe aparecer. Uma
mulher de longas unhas gargalhando, um choro cortante, lágrimas. Também a
sensação de estar preso, de fazê-la chorar. Não Serenity, mas Usagi. Vinha
culpando a situação por que o casal passara; contudo, essas visões tristes se
associavam cada vez mais com os sonhos do príncipe desesperado e de sua
princesa.
- Vão embora – disse ele decidido,
levantando-se novamente. Desta vez, era melhor tomar algo com álcool e fingir
que estivera bêbado antes mesmo do primeiro gole.
- Não podemos, Endymion. – O gato
branco pulou até sua frente. – Isto é importante. Seus generais estão se
reunindo em torno da princesa Serenity. Precisamos que nos ajude a obter o
Cristal de Prata, que está com sua esposa. – Devendo notar que Mamoru não
reagiria, o gato acrescentou – Nem que para isso precisemos acordá-la.
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
A jovem se desculpava com um cliente curvando-se vários ângulos a mais do
que se recomendaria em uma aula de etiqueta. Seu jeito franco e sua dedicação
provavelmente já haviam compensado qualquer desconforto que seu pequeno erro
causara. E era bem pequeno: uma xícara havia caído do lado da mesa desse
cliente, ele nada mais que se assustara. Minako realmente não precisava se
desculpar tanto.
Sem esconder o sorriso, Shin continuou a observá-la fazer a limpeza.
Vinha sendo ignorado fazia já algum tempo. Devia ser por isso que não sentia
mais qualquer pudor em simplesmente continuar seguindo seus movimentos dentro
do restaurante. Muito vinha acontecendo, e rápido demais. Mesmo desejando poder
conhecê-la melhor, não havia como.
- Desculpa o atraso – disse Jadeite,
tomando o lugar à sua frente. – Estas semanas vêm sido um inferno. Desde aquilo
de sábado, não consigo pensar direito. Não imagina a confusão que fiz hoje, e
aí tive que refazer tudo e só terminei agora. Isto não está bom, nada bom.
- Já disse que se acalmasse.
Encontraremos uma resposta para essa questão.
- Aquele homem, acha que era um de
nós? Como o que você viu noutro dia?
- O marido de Usagi, né...? Ele não
parece ser como nós.
- Então, por que senti aquilo? Você
também! Agora eu entendo quando me falou sobre ele, sobre ele ser diferente.
- Bem, também acho que a Minako é
diferente, mas não como nós dois.
- Minako? – Jadeite pareceu confuso
por um momento, então seus olhos pousaram na garçonete. – Não vejo nada de
estranho nessa menina. – E virou os olhos.
- Você também me disse que era
loucura sobre o marido de Usagi e aquele homem.
- Bem, estamos em dois a um; eu
retiro o que disse quanto ao tal de Mamoru. Tem algo errado com ele! Você pegou
o cartão dele, não foi?
- Fiz questão.
- Marquemos algo!
- Também pensei nisso quando você me
ligou no sábado.
- Por que esperou até sexta à noite,
então?
- Eu queria conversar com alguém
antes.
- A garçonete?
Shin balançou a cabeça lentamente.
- Bem, eu consegui que ela me
ajudasse a localizá-lo. Ele deve estar chegando a qualquer momento.
- Está falando do homem do outro
dia? Como assim o chamou? Era para conversarmos sobre o lance. Você sabe,
sobre- bem, aquilo.
- Exato.
- Com aquele cara?
- Você verá, Jadeite. Aquele homem,
Zoisite, é exatamente como nós dois.
- Zoisite?
- Um nome peculiar, não acha?
Após um momento silente, Jadeite assentiu. Uma parte sua queria rir da
coincidência de como seus nomes soavam parecidos. Mas era aquela parte
superficial que parecia ser esmagada a cada dia por outra em seu corpo.
Então, passou a olhar para a parte externa, aguardando o tal homem
parecido com ele próprio.
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
Usagi abriu com pressa a porta do apartamento, com apenas uma parte de
sua mente notando como já se acostumara com chamar aquele lugar de sua casa. A
maior parte de sua concentração estava nas desculpas que teria que arranjar
para Mamoru. Os dois não costumavam marcar muitas coisas juntos, já que saíam
do mesmo lugar; então, ela não fazia ideia de como o marido reagia a atrasos.
Principalmente um de mais de uma hora.
Tirou os sapatos, jogando-os para trás, e pisou na madeira da casa,
sentindo a porta bater atrás de si. Ótimo, aquela sim era uma reclamação
constante nos últimos tempos, ela precisava tomar mais cuidado com os barulhos
que fazia. Usagi tomava, mas apenas depois que já os havia causado.
Lembrando-se novamente de que estava com pressa, correu para seu quarto
removendo parte das roupas que usava. Tinha planos de tomar banho antes, – os
poucos minutos da estação até ali foram capaz de derretê-la – mas não queria
dar mais motivos para a ira de Mamoru.
- Desculpa o atraso! – gritou desde o quarto, pondo na mala tudo o que
adiara pôr na noite anterior. – Acredita que errei o trem e nem sei onde fui
parar? Justo hoje que consegui sair bem cedo da empresa... – Para checar um
pouco a expressão do outro, pôs a cabeça para a sala e perguntou: – Quanto
tempo temos até o trem? Não vamos perder, né?
Percebeu que Mamoru estava apenas sentado no sofá sem haver sequer
ligado a televisão para onde parecia olhar. Seu marido voltou o rosto para ela
e pareceu surpreso ao vê-la. Como não ouvira o furacão que acabara de causa?
Estaria tão furioso assim?
- M-Mamoru? – cobrou ao não ouvir
resposta.
- Ah. Desculpa. Bem-vinda de volta.
- Ah, é. Acabei de chegar! –
exclamou em tom de melodia, só para esconder quão nervosa ele a estava
deixando. Sua risada, contudo, deixou bem claro.
Alheio ao estado da esposa, ele se levantou como se estivesse pronto
para a guerra. Agora que viria o sermão, né? Usagi engoliu em seco. Então, o
homem sorriu; simplesmente lhe mostrou os dentes com os olhos brilhando fixos
nos dela.
- O-o que... houve...? – Usagi
perguntou com a voz lhe falando enquanto olhava para cima, tentando ler o rosto
do marido.
Enquanto o outro se aproximava mais, ela só pode encolher o corpo.
Então, sentiu-se abraçada. Mamoru a havia puxado para bem perto e a segurava
com força.
- Que foi, Mamoru? – perguntou com a
voz abafada pela blusa dele. – Aconteceu alguma coisa? Foi seu pai? – Mesmo
sugerindo isso, sabia que era algo relacionada a ela própria; a forma como lhe
tratava fazia parecer que ela sumiria a qualquer momento.
Após um tempo, ele levantou um pouco a cabeça e deixou os lábios bem
perto de sua orelha.
- Vamos ficar assim um pouco mais, -
pediu-lhe antes de deitar-se sobre seus ombros.
Era para ser algo agradável, simplesmente um abraço... Devia ser aquela
forma estranha e intensa com que era enlaçada por seu corpo que a fazia se
sentir tão triste. Não, estava se enganando dizendo isso. Sempre que Mamoru a
tinha nos braços ou quando a deixava, Usagi sentia aquele aperto no coração.
Estar com ele, pensar nele... Seria apenas amor? Não se enganava mais que não
sentisse algo especial por ele. Mas seria apenas isso? Por isso, ele a segurava
tão intensamente? Então, havia algo errado com amar.
- Vai ficar tudo bem, Usa.
Em vez de sentir o efeito daquelas palavras tranquilizadoras e de seu
nome sussurrado tão carinhosamente – quando ele começara a chamá-la assim? – o
que Usagi percebeu foi um gato preto os observando.
- O que é isso!? – perguntou, dando um pulo para trás e caindo
sentada de mal jeito sobre a poltrona da sala. – É piada, né? Você me achou
esse gato na rua e trouxe aqui só pra me assustar!
Mamoru observou o gato um pouco. Em seguida, caminhou até o felino e o
pegou pelo peito, entregando-o à esposa. Assim que o recebeu, ela percebeu que
o marido lhe sorria divertido.
- Seu susto veio de brinde, na
verdade.
- O quer dizer com isso? – Com o gato
em mãos, ela começou a inspecioná-lo. Era uma fêmea tal qual imaginava.
- Achei que seria legal termos um
bicho de estimação.
- Na véspera de viajarmos?
Não é que não gostasse da ideia; de fato, seu coração estava batendo
mais forte com o gesto. Era apenas estranho, principalmente adicionando-se a
forma como ele se comportava até pouco antes.
- Eu a encontrei na rua, andando
aqui perto.
- Não podemos deixá-la sozinha.
Mamoru olhou para baixo, mas logo sorriu.
- Já pedi pra um vizinho vir vê-la.
Está tudo ajustado. A menos que ache muita responsabilidade... Afinal, mal
estamos nos entendendo só os dois.
Olhando mais uma vez para a gata, Usagi balançou a cabeça. Como poderia
discordar? Abraçou-a junto a si com toda a força e respondeu:
- Vou chamá-la de Luna! Com esse
sinal de lua na testa, parece até a gatinha que eu via perto de casa todo dia,
he he.
Ao dizer isso, sentiu-a pular em seu colo.
- Ela gostou, né? – E a apertou mais
uma vez, sentindo a gata se agitar alegre em seus braços.
- Acho que gostou do nome, mas não
diria o mesmo desses abraços.
- São abraços. Abraços são sempre
bons! – Levantou meus olhos da gata, começando a perceber que ele não
concordava. – Você não acha?
Mamoru lhe exibiu um sorriso leve e assentiu.
- Claro que gosto dos seus abraços.
– Então curvou o rosto até ela e a beijou suavemente. – Mas os gatos, não. – E
tirou Luna de seus braços, puxando mais uma vez o corpo de Usagi para si a fim
de continuar o beijo.
Não podia dizer que não gostava daquilo; seu estômago parecia até um
vulcão em erupção de tão emocionada. Mas a atitude de Mamoru era suspeita. Ele
saberia? Que havia algo muito errado entre eles?
Não era normal sentir uma tristeza tão maior que a da época em que não
eram tão próximos. Quanto mais perto o sentia, mais precisava se aproximar. E
ela não compreendia aquele sentimento, não sabia o que fazer com ele. Não
querendo mais pensar em seus sonhos, Usagi apenas o beijou de volta. Tinha
sorte de não ter muito poder de concentração, além de possuir um marido tão
atraente para lhe roubar o ar e lhe fazer esquecer temporariamente daquilo
tudo.
Mas até quando?
Continuará...
Anita, 24/02/2013
Notas da Autora:
Nossa, nem sei que comentar, rs. Mas espero que vocês sim, adoro ler o que estão achando da história! E tá cada vez mais perto do final. Acreditem se quiser, mas o próximo já será o antepenúltimo capítulo. :( Tava indo tudo tão bem, né? Pena que tem que acabar. Mas até o final, pro favor continuem lendo!
Muitos agradecimentos ao pessoal que fica esperando meus atrasos com publicação. Ultimamente, nem seus comentários eu tenho conseguido responder em tempo hábil. Eu respondo, garanto que respondo. Podem voltar nos capítulos antigos e conferir que está tudo lá :D Agradecimentos especiais à Tatazinha, à Professora de Italiano e aos anônimos (que acho que são a mesma pessoa, mas não tenho como saber - ou tenho? o.O), também a todas que vêm deixando reviews no FFN e comentários na comunidade!
Até o próximo capítulo! :3
Notas da Autora:
Nossa, nem sei que comentar, rs. Mas espero que vocês sim, adoro ler o que estão achando da história! E tá cada vez mais perto do final. Acreditem se quiser, mas o próximo já será o antepenúltimo capítulo. :( Tava indo tudo tão bem, né? Pena que tem que acabar. Mas até o final, pro favor continuem lendo!
Muitos agradecimentos ao pessoal que fica esperando meus atrasos com publicação. Ultimamente, nem seus comentários eu tenho conseguido responder em tempo hábil. Eu respondo, garanto que respondo. Podem voltar nos capítulos antigos e conferir que está tudo lá :D Agradecimentos especiais à Tatazinha, à Professora de Italiano e aos anônimos (que acho que são a mesma pessoa, mas não tenho como saber - ou tenho? o.O), também a todas que vêm deixando reviews no FFN e comentários na comunidade!
Até o próximo capítulo! :3
Perfeito, :P
ResponderExcluirFico impressionada com a sua dedicação ao escrever, pesquisando locais do Japão, parece até que está morando ai. Queria saber o que Mamoru lembrou, ou se não lembrou nada. Rei está tão perto de despertar como sailor, não esperava menos dela. Usagi tão Usagi ao xingar Makoto e chorar por ela depois.
Mal posso esperar pelo próximo capitulo. :P
É mais dedicação pra procrastinar, já que pesquisar esses detalhes é sempre uma boa desculpa pra não avançar com a escrita *confessa*. Mas que bom que gosta! Nos próximos dias porei o novo capítulo, espero que goste! :DD
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