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[Naruto] Pintando o Sete - Capítulo 6, escrita por Andréia Kennen

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Autora: Andréia Kennen
Fandom: Naruto
Gênero: UA (Universo Alternativo), romance, drama, Yaoi, vida escolar, vida familiar, OCs (Personagens Originais).
Classificação: 14 anos
Resumo: Naruto / Sasuke. Naruto, Sasuke e seus filhos gêmeos Bara e Hikari formam uma família comum apesar de nada convencional. Após o final da "Crise dos Sete" se passaram oito anos e agora Naruto e Sasuke terão que lidar com outro temor que assola a mente de todos os pais: o período de adolescência dos seus filhos. Acompanhem essa nova aventura, desta vez mais focada nos filhos adolescentes de Naruto e Sasuke e todas as confusões que esses gêmeos irão aprontar ao pintarem o sete!

Pintando O Sete

Capítulo 06

Revisado por Blanxe

Os flashes das máquinas fotográficas o estavam cegando. Tanto, que sentia suas pupilas dilatarem. Ergueu a mão diante do rosto a fim de evitar ser ofuscado, mas não foi suficiente. Sentiu-se tonto, repousou a mão na testa, depois seguiu massageado o pescoço até chegar à nuca. Abaixou o rosto e as franjas loiras caíram-lhe na lateral como um véu encobrindo parcialmente a beleza do rosto bem maquiado. O calor estava aumentando e ficando insuportável. Na verdade, sentia um fogo se alastrando por sua pele. Correu a mão da nuca para o ombro e desceu a manga fofa do vestido até parte do seu peito ficar descoberto, expondo um dos mamilos. Os disparos de máquinas fotográficas e das câmeras de celulares aumentaram na mesma proporção que a balburdia à sua volta. Seus pensamentos estavam lentos, desconexos, não conseguia discernir onde estava, porque estava sentado no chão e muito menos o motivo de tanto caos.

— Urusai[1]... — resmungou baixinho, incomodado com o barulho que aumentava os ecos em sua cabeça. — Urusai, urusai, urusai... — repetiu seguidas vezes, mas sua voz saíra mais baixa que um sussurro, sentia o hálito quente, os lábios ressequidos. Passou a língua para umedecê-los e, novamente, ouviu aqueles gritinhos estridentes ecoarem dentro do seu cérebro.

— O que está... acontecendo afinal?

Um dos componentes do time de basquete da escola abriu caminho entre o aglomerado de alunos e, ao ver o motivo do tumulto, arregalou os olhos e entreabriu os lábios, chocado. Logo os outros rapazes do time surgiram atrás do primeiro e a reação foi seguindo a do primeiro.

— É o Hikari-kun?! — perguntou um deles, o rubor ganhando seu rosto.

O loiro estava sentado no chão com as pernas dobradas na lateral do corpo, revestidas por uma meia de tela preta que ia até o meio das coxas. O vestido de Maid era estranhamente curto e estava totalmente desalinhado. Os cabelos loiros de Hikari estavam enfeitados por uma tiara de renda, e o mais estranho era a expressão que o colega de time exibia no rosto bem maquiado.

— É lógico que o é o Hikari, idiotas. Será que não sabem diferenciar um corpo feminino de um masculino? — o rapaz na frente do grupo bronqueou com os demais e aproximou-se do loiro, apanhando o queixo do colega e o erguendo, para visualizar melhor seu rosto. — Hikari, o que está... — Mas as palavras se perderam no meio do caminho assim que o rapaz se deparou com expressão luxuriosa que Hikari exibia.

As bochechas dele estavam vermelhas, os olhos desfocados lacrimejavam e a respiração que saía entre os lábios semiabertos, vermelhos e umedecidos, estava entrecortada. Não conseguiu evitar aquele comprimir no estômago. Hikari parecia excitado e, se não estivesse louco, a ponto de entrar em êxtase. “Deus. Ele está parecendo uma linda e sexy garota de filme erótico” o rapaz engoliu em seco ao pensar aquilo, apesar de ter certeza que era apenas seu colega de time.

Havia algo evidentemente errado, deduziu. Conhecia Hikari bem o suficiente para saber que ele não estava em seu estado normal, parecia dopado ou bêbado.

— Eu preciso registrar isso — um dos garotos atrás do primeiro comentou, apontando a câmera do seu celular para o loiro no chão. Porém, o que estava na frente o impediu, encobrindo o aparelho com sua mão.

— Você está maluco, Kaneda? Guarda essa merda já.

— Mas, Hayate-taishou...

— Deixem-me passar, deixem-me passar! — A voz de Bara pedia, já irrompendo entre os alunos amontoados.

Depois de muito esforço ela surgiu no centro da roda. Bara vestia calça jeans, a blusa e o crachá de staff do comitê organizador do Festival Cultural da Escola. Giovana surgiu em seguida ao seu lado, apontando para o irmão dela no chão.

— Não te falei, Bara-chan. Viu?

— Hi-chan?! — ela gritou, encobrindo a boca com as duas mãos ao ver o irmão naquele estado. Então ela voltou-se para o grupo de alunos e abriu os braços, encobrindo o irmão e demandando: — Parem com isso! Parem agora de tirar fotos. Vocês não têm vergonha?

— Quem deveria ter vergonha é o depravado-hentai do seu irmão que está se expondo desse jeito.

— O Hi-chan jamais faria algo assim em seu estado normal. É óbvio que aconteceu alguma coisa — ela o defendeu e se voltou para o irmão e os rapazes do time, que pareciam estar ali para ajudar Hikari também. — Precisamos levá-lo para enfermaria.

Mal fechou a boca e o rapaz que estava na frente dos outros pegou o braço de Hikari e o puxou, tentando colocá-lo de pé.

— Vem, Hikari — pediu Hayate.

Ao ser puxado, Hikari procurou se esforçar para se colocar de pé, mas assim que ficou ereto, sentiu suas pernas tremerem e não conseguiu se sustentar, voltando a cair sentado no chão.

— M- minhas pernas n- não obedecem...

Hayate observou seus colegas de time e as duas meninas o encararem, e logo deduziu o que se passava em suas mentes.

— Não, eu não vou fazer isso. Esqueçam.

— Você é o mais forte do time, capitão — observou um deles.

— Por favor, Taishou? — Bara pediu, fazendo o rapaz se sobressaltar e ficar com o rosto vermelho ao ver pela primeira vez a irmã de Hikari com uma expressão desesperada no rosto, o que, na visão dele, deixou-a mais encantadora.

O capitão coçou a cabeça, suspirou e então se decidiu.

— Merda, eu sei que vou me arrepender disso mais tarde ­— reclamou, mas se agachou e apanhou Hikari no colo.

Assim que o levantou, sentiu o loiro envolver seu pescoço com os braços e encostar a cabeça no espaço entre seu ombro e seu pescoço. Imediatamente, seu rosto inteiro se abrasou e o coração disparou. Houve novos murmúrios de excitação de meninas que presenciavam a cena.

— Merda, merda! Eu vou passar a odiar gêmeos de agora em diante. Que merda! Precisam ser tão parecidos assim?

— O- Obri- obrigado, tai- taishou... — Hikari resmungou, gaguejante.

— Cale-se! E não respire esse hálito quente no meu pescoço. Se você me deixar sexualmente confuso, Hikari, eu juro que irá arcar com as consequências.

Bara pulou e deu uma pancada na cabeça do capitão do time de basquete com a prancheta de ocorrências que ela trazia na mão.

— Pare você de ficar excitado com meu irmão, Taishou-kun! E leve logo o Hi-chan pra enfermaria.

— Ai, ai... Uzumakis... — resmungou entre os dentes. — Barulhentos, mandões, reclamões. Por que são tão atraentes e tão chatos ao mesmo tempo?!

— Mexa-se! — ela ordenou e o capitão achou melhor obedecer antes que levasse outra pranchetada na cabeça.

— Gi, você não — Bara impediu a amiga que havia dado a entender que os seguiriam. — Fique. Eu preciso da sua ajuda.

Giovana tentou esconder o ar de decepção que a assolou ao perceber que não poderia mais usufruir daquela visão fascinante que era ver o Hikari de crossdressing. Sabia que não teria outra chance, entretanto era a amiga para todas as horas, e estar do lado de Bara era sempre sua prioridade.

— Você quem manda, Bara-chan.

O restante do grupo quis se dispersar, mas Bara os impediu.

— Vocês todos, esperem um momento! Eu quero pedir um favor: apaguem as fotos e os vídeos que fizeram do meu irmão em seus celulares e câmeras. Se essas imagens vazarem e pararem na internet, não é só ele quem vai ter problemas, mas eu também. Somos gêmeos e podem achar que a pessoa em pose erótica no meio da escola sou eu — ela apontou pra si mesma. — De qualquer forma eu não estou preocupada comigo. Eu sou forte para suportar muita coisa. Mas meu irmão nem tanto. Eu não sei qual será a reação dele se essas imagens vazarem. Eu li que em alguns lugares do mundo, adolescentes que têm suas imagens expostas tomam atitudes drásticas. E eu sei bem como o Hi-chan é orgulhoso. Ele pode não suportar a pressão de ser chacoteado e fazer algo idiota. Além disso, vocês confirmaram com seus próprios olhos, o Hikari não está em seu estado normal. Aconteceu algo de errado, isso é evidente. Até investigarmos para descobrir de quem é a culpa, eu imploro, por favor... — ela juntou os braços ao longo do corpo e se curvou para frente. — Apaguem essas imagens.

Enquanto Bara discursava Giovana enviava uma mensagem para o Kinizuna: “Kinizuna-kun, corre pra enfermaria, agora!”.

...

Assim que entrou na enfermaria e depositou Hikari sobre a maca o capitão do time se afastou do loiro, não deixando de notar a roupa dele mais desalinhada, expondo as pernas e até parte do bumbum revestido por uma cueca comum. Tentou desviar a atenção procurando pelo enfermeiro dentro da sala, mas não o encontrou.

— Droga, o que te deram pra você ter ficado desse jeito, idiota?

— N- não sei, taishou... Mas estou me sentindo quente, eu preciso tirar essa roupa... — Hikari se sentou na maca e virou as costas para o capitão, pedindo: — Abra, por favor...

O capitão arregalou os olhos e não foi capaz de evitar sua mente processar aquela cena como se estivesse dentro de um anime erótico. Não estava interessado nenhum pouco em fazer aquilo, e deu graças aos céus quando alguém entrou na sala.

— Hi- Hikari-kun, dai- daijoubu[2]?

Ao invés de ser sua salvação, a pessoa que entrou na enfermaria piorou a situação. Era outro garoto, vestido de Maid também, mas diferente de Hikari que vestia um uniforme preto com branco, com detalhes em renda, o outro garoto usava um vestido preto com detalhes em branco e lilás.

— Mas que merda tá acontecendo aqui?

O garoto não deu muita atenção para o capitão; passou por ele rapidamente, e se sentou na maca ao lado de Hikari.

— Hi- Hikari-kun?

— Kinizuna? — Hikari virou e tocou o rosto do colega que havia sentado próximo a ele e o encarava com um ar preocupado. — Eu estava mesmo querendo ver você, Kinizuna.

— M- me ver?

— Sim. Estava pensando... Que tal a gente terminar o que começamos no banheiro de casa antes do meu oyaji[3] nos interromper aquele dia, hm? — ele apanhou o punho do amigo de Bara e forçou a mão dele repousar sobre sua perna, um pouco embaixo da saia do vestido. — Vou deixar você guiar...

Onoda Hayate tentou, mas não conseguiu evitar o sangue que escorreu por suas narinas[4].

...

Bara e Giovana chegaram à enfermaria e encontraram o capitão do time sentado no chão, encostado à porta fechada. Ele tinha algodões enfiados nas duas narinas, um rosto muito vermelho e a expressão contrariada. Assim que ele viu as duas garotas se aproximando, se ergueu e limpou as calças na parte traseira.

— Meu irmão tá legal, Taishou? — Bara perguntou, notando a diferença de altura entre ela e o capitão ao ter que arquear um pouco o pescoço para trás para olhar Hayate nos olhos.

— Não quero mais saber, mas acredito que esteja.

— Para que a grosseria? E qual é a dos algodões no nariz?

O rapaz encarou Bara por um segundo. Ela vestia calça jeans, tênis, os cabelos curtos e a camisa de Staff; apesar de mais baixa que Hikari, ela tinha os trejeitos bem masculinos, então coçou a cabeça e suspirou fundo.

— Sério. Não sei quem é mais andrógino, se é você ou seu irmão. De qualquer forma, espero que arquem pela confusão que criaram na minha cabeça. — Ele passou pelas duas, e ainda repousou a mão sobre a cabeça de Bara, fazendo um movimento a fim de bagunçar os cabelos dela. — Minha cota de Uzumaki por hoje já deu, se não terei uma overdose, tô indo nessa. Tchau, baixinha. Tchau, Morita-san.

Giovana fez somente uma breve reverência com a cabeça enquanto Bara sentia o rosto ferver de raiva.

— Quem é baixinha, Taishou? Você que é um gigante!

A amiga de Bara sorriu e o riso incomodou a loira.

— Gi-chan, sua traíra.

— Não pense mal de mim, Bara-chan. Não estou rindo sobre você ser baixinha. Isso é um adendo que a torna mais fofa ao meu modo de ver.

— Hm. Sei — ela desconfiou, arqueando uma das sobrancelhas. — O que é então?

— Vai dizer que não percebeu?

— O que? Desembucha, Gi.

Giovana olhou para trás, para ter certeza que o rapaz do time de basquete já havia desaparecido, e ao confirmar o corredor vazio, ela expôs.

— Acho que logo teremos um romance.

— Hã? — Bara arqueou a outra sobrancelha. — De quem?

— Viu? Eu digo que pra certas coisas você não é tão ligada quanto parece.

— Ah, Gi-chan? Chega de enigmas, vamos entrar. Estou preocupada com o Hi-chan, depois a gente conversa melhor.

— Ok.

Assim que elas entraram viram Kinizuna sentado em uma cadeira ao lado da cama de Hikari, que parecia em sono profundo.

— Hiro-chan?

— G- Giovana-san, B- Bara-chan!

— Como está meu irmão?

— P- parece q- que agora ele está bem. E- está dormindo. Eu t- tirei as roupas de Maid. E- ele disse que estava sentindo muito calor. — O adolescente apontou para a roupa dobrada em cima da mesa do enfermeiro.

— Opa, quer dizer que Uzumaki Hikari está indefeso e nu como veio ao mundo debaixo desse lençol? Hm, deixa eu achar meu Smartphone aqui na bolsa.

— Gi-chan!

A garota riu e mostrou a língua.

— Brincadeirinha, Bara-chan. Só estou brincando. Vocês levam tudo a sério demais.

— E o enfermeiro? — Bara perguntou para Hiroki.

— A- acho q- que ele já f- foi, a- afinal o festival já terminou.

— Nesse quesito tivemos sorte. Eu e a Gi-chan tentamos convencer o pessoal apagar as fotos que eles tiraram do Hi-chan. Não sei se todo mundo o fez, mas parece que se sensibilizaram com o meu pedido.

— A sorte é que estamos no finzinho do festival e a maioria dos visitantes já foram embora. Se não a coisa ficaria fora do nosso controle — Giovana justificou. — O que houve com o Hikari-kun, afinal? Você sabe nos dizer, Kinizuna?

O garoto baixou a cabeça e encarou os pés, gesto que por si só foi suficiente para as duas garotas puxarem cadeiras e sentarem em volta dele.

— Abre o bico — comandou Bara. — Você sabe.

— M- mais o- ou menos.

— Estamos ansiosas para ouvir — Giovana apoiou os cotovelos em cima das coxas e o rosto sobre as mãos.

Kinizuna suspirou fundo e então começou a explicação.

Durante toda aquela manhã ele atendeu no Café de Empregadas reverso da sua sala, e no início do turno da tarde foi dispensado. No entanto, havia recebido um recado que a presidente do conselho queria vê-lo na sala do conselho, ela havia feito uma ressalva: para ele ir fantasiado. Na hora ele entendeu que ela queria vê-lo vestido de Maid e por algum motivo ela não estava conseguindo sair da sala do conselho para ir até o Café da sua sala.

Obviamente, Kinizuna não queria andar pela escola lotada fantasiado, e por isso trocou de roupa e levou o vestido com ele. Mas ao invés de ir direto para sala do conselho, sua curiosidade em ver Hikari o fez desviar um pouco o percurso para passar de frente da sala do 2º E.

Foi chegar à sala e a fila enorme que tinha na entrada o desanimou. Estava desistindo quando ouviu gritinhos eufóricos e, no instante seguinte, viu Hikari sair pela porta da sala vestido elegantemente de mordomo. Ficou paralisado.

— Hikari-kun, aonde pensa que vai? — perguntou uma garota que saiu atrás dele.

— Eu estou cansado, Chiharo — replicou ele. — Já fiquei a manhã toda. São mais de duas horas da tarde. Eu não vou ficar a tarde inteira trabalhando não. Já fiz minha parte, tchau.

— Mas você é a grande estrela do Café! Se você for embora agora nossas vendas vão despencar.

— Isso já não é da minha conta.

— Hikari-kun, seu maldito, egoísta, volte!

A fila começou a se dispersar assim que as garotas notaram que Hikari não iria voltar, então algumas delas tentaram alcançá-lo e com seus rostos vermelhos e falas gaguejantes, tentaram pedir para que ele tirasse fotos com elas. Hikari coçou a cabeça, sentindo seu estômago prestes a roncar. Havia apenas tomado o café da manhã, estava faminto.

Kinizuna, ao perceber que o loiro não queria ceder, resolveu interceder por ele.

— Hi- Hikari-kun, v- você está sendo chamado no Conselho Estudantil.

As meninas em torno de Hikari resmungaram e ele abriu um grande sorriso. Era a segunda vez que estava sendo salvo por Kinizuna.

— Ah, desculpe, meninas. Vai ter que ficar para uma próxima. Vamos, Kinizuna!

O loiro apanhou o punho do outro e os dois saíram correndo rumo ao prédio do Conselho Estudantil, enquanto os resmungos das meninas ficavam distantes.

Quando já estavam longe do alcance delas, eles diminuíram a corrida e passaram a caminhar normalmente. Kinizuna que não era esportista teve que parar pra tentar recuperar o fôlego.

— N- não precisávamos correr tanto.

— Mas aquelas garotas são irritantes, elas iriam nos seguir até onde conseguissem — ele observou, e então se voltou para Kinizuna, que estava curvado com as mãos apoiadas um pouco acima dos joelhos. — Mal te paguei um favor e já estou devendo outro, né, Quatro-Olhos?

— N- não está... — Kinizuna apressou-se em alegar, mas Hikari já estava a poucos centímetros do seu rosto, quando ouviram a porta de correr do outro lado se abrindo.

— Ei, aqui não é lugar para... — Tomoko, a presidente do Conselho, parou de falar ao ver de quem se tratava, então ajeitou os óculos no rosto e se aproximou dos dois rapazes. — São vocês que estão fazendo o Café Reverso? — A jovem sequer esperou a resposta e já foi exclamando: — Que lindos! O que estão esperando pra entrar? — ela pegou no punho de um e de outro e puxou-os para dentro da sala, fechando a porta.

— Kinizuna-kun, cadê sua roupa?

— T- tá, tá aqui, T- Tomoko-san — ele ergueu a roupa que estava pendurada em um cabide e protegida por uma capa preta de lavanderia.

Ela bateu palmas, eufórica.

— Eu queria ter ido ao Café e ter sido atendida por vocês, mas não teve como. Este ano o Festival está tendo mais ocorrências estranhas do que o normal. Tivemos que fechar e recolher os produtos de um Café que estava vendendo um chá que causa uns efeitos esquisitos nas pessoas. Parece que um dos alunos trouxe da franquia que o pai administra. O problema é que nem o garoto sabia que tipo de produto era esse e que ele causava uns sintomas anormais em quem consumia.

A presidente suspirou e os dois garotos se entreolharam.

— Bem, isso não importa. Podem entrar naquela sala ali e se trocarem. E você? — ela olhou Hikari. — Está lindo de fraque, mas cadê sua roupa de Maid?

— Do que você está falando? — Hikari franziu as sobrancelhas.

— Ele é do 2º E, T- Tomoko-san.

— A sala da Giovana? Ah, sim. Agora que percebi que seu rosto não é estranho. Você é o Uzumaki Hikari, irmão da Uzumaki-san, né? Lá estão fazendo um Café de Mordomos. Que chato. Você tem um rosto tão bonito quanto da sua irmã. Acho que ficaria fofo de Maid. Ah... — Ela deu um soquinho na própria mão. — Eu tenho algo que foi confiscado de outro Café. Espera. — Tomoko abriu a porta de um dos armários de aço da sala e tirou de dentro dele uma fantasia em um cabide. — Veja isso, que lindo! O 3º F está fazendo um Café de Maid Gótica, mas essa roupa está fora do padrão porque é um tanto sexy, tivemos que recolhê-la. Mas o tamanho é G, acho que irá cair como uma luva em você Uzumaki-kun.

Hikari riu e se voltou para Kinizuna.

— Essa garota não bate bem, né? — ele comentou, fazendo também um gesto de loucura ao girar o dedo ao lado do ouvido. Então ele andou pela sala e acomodou-se no sofá diante de uma mesa com diversos tipos de comida e bebida. — Uau! Isso é o que eu estava procurando. Vocês do Conselho têm mesmo uma vida boa, né?

Tomoko colocou as mãos na cintura, percebendo-se afrontada.

— Trabalhamos muito, isso sim — retrucou. — E essa comida são amostras do que estão vendendo no Festival. Precisamos estar a par de tudo que é distribuído.

— Estou vendo — Hikari observou, enchendo a mão com vários tipos de salgadinhos que tinha em uma bandeja. — Hmm, isso tá ótimo. Fiquem a vontade, finjam que não estou aqui.

A presidente olhou para Kinizuna.

— O- onde m- mesmo que posso me trocar?

— Vem, eu te mostro.

De volta ao momento atual.

— D- demorei a me trocar porque eu queria que a presidente batesse fotos de mim s- somente ali, na s- sala individual que estávamos. M- mas ela insistiu que eu deveria t- tirar fotos com o Hi- Hikari-kun, e- então v- voltamos pra sala. E q- quando chegamos lá, o Hi- Hikari-kun não estava. A roupa d- dele de mordomo estava em cima do sofá e o a- armário onde estava o outro v- vestido estava aberto e havia uma x- xícara de chá tombada na m- mesa.

— Eu acho que já entendi. Ele tomou o tal chá com propriedades estranhas que recolheram do outro Café? — Giovana sugestionou.

— S- sim. Ele deve ter feito o chá sem p- perceber.

— E que chá é esse? — quis saber Bara.

— Um chá a- afrodisíaco — Kinizuna explicou, ficando com as bochechas vermelhas.

— Deus do céu! Como alguém trouxe isso para escola?

— O chá t- tem efeito i- imediato e- e dura seis horas seguidas. A Tomoko-san ligou p- para o fabricante e d- descobriu o- outro chá que anula o efeito d- desse, m- mas que dá s- sono. O Hi- Hikari-kun só vai acordar amanhã.

Bara soltou os ombros.

— Eu vou ter que chamar meus pais. — E se levantou.

Mas bastou Kinizuna e Giovana trocarem olhares, para impedir a amiga de sair da sala, interceptando-a pela frente e falando ao mesmo tempo.

— Espere, Bara-chan.

— Que sincronismo, hein? O que foi?

Menos constrangida, foi Giovana quem explicou.

— Seu pai Naruto é gente boa, Bara-chan. E é capaz de entender tranquilamente o que houve. Mas, conhecendo o pouco que conhecemos do seu pai Sasuke, ele vai achar que o Hikari-kun aprontou toda essa confusão de propósito. E pode vir com aquela história louca de mandá-lo para o colégio militar, não é?

Bara fixou seus olhos nos castanhos claros da amiga, depois coçou o queixo, pensativa. Olhou o amigo Kinizuna, em seguida voltou para o irmão que dormia pesadamente na maca. Internamente, ela sorriu contente. Eram amigos dela, mas haviam se tornado defensores exímios do irmão.

— Concordo com vocês, o que sugerem?

— Seu irmão Yoru. Ele mora sozinho, né?

...

Bara chegou em casa, largou os sapatos e a bolsa na soleira da porta e pisou descalça no reluzente chão de taco da entrada. Ela consultou a hora no relógio de parede. Já passava das dezoito. Não tivera problema com o irmão mais velho, que ligou para os pais informando que Hikari iria passar a noite no apartamento dele para que pudesse ajudá-lo a estudar para as matérias nas quais ele estava tendo dificuldade e as quais ele teria prova na semana seguinte.

Ela viu o facho de luz da sala iluminando o hall e deduziu que tinha alguém ali, entrou sorrateiramente e sorriu abertamente ao ver os cabelos negros do pai.

— Tadaima[5], otou-san — disse de mansinho, levantando o braço que ele tinha repousado na perna, para acomodar-se no colo dele. O pai estava corrigindo provas.

— Okaeri, princesa — respondeu Sasuke, dando um beijo na testa da filha. — Como foi o festival? — perguntou, largando as provas na mesa para ter os braços livres para envolver a filha.

— Cansativo. E o pai Naruto?

— Enfrentando fila de supermercado para pegar uma promoção de carne.

— Ah... — ela revirou os olhos. — Vocês trabalham demais. Quase não têm tempo de dar colo para a filhinha mais linda e amada de vocês.

— O que foi? Estou sentindo que está meio carente, não é do seu feitio. Aconteceu alguma coisa?

A pergunta do pai fez Bara pensar nos amigos e no empenho deles em proteger Hikari. Não queria sentir aquilo que estava sentindo, achava um sentimento ruim, egoísta, sem sentido. Mas a verdade era que não conseguiu evitá-lo, estava começando a sentir ciúmes dos amigos com o irmão.

— Não sei. Hoje quero colo, posso, papai?

Sasuke sorriu e acariciou a cabeça da filha.

— Não precisa perguntar, minha princesa. Nem precisa perguntar.

Continua...

Vocabulários de Expressão Japonês – Português

[1]Urusai: Fique quieto, silêncio, cale-se.

[2]Daijoubu (japonês): Você está bem?

[3]Oyaji (japonês): uma maneira informal de chamar “pai”, normalmente traduzido para o português como “velho”;

[4] No Japão, sangramento nasal é sinônimo de excitação.

[5]Tadaima: Estou de volta, ou “cheguei”. Okaeri: “Seja bem vindo de volta”.

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