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[Rayearth] Do Seu Jeito - Capítulo 9, escrita por Anita

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Autor: Anita
Fandom: Guerreiras Mágicas de Rayearth
Gênero: Romance, Comédia, Aventura, Drama, em capítulos.
Classificação: 12 anos.
Resumo: As guerreiras retornam a Rayearth e fenômenos estranhos começam a surgir em seus caminhos. Uma esfera negra, sonhos com imagens inexplicáveis... Centrada em Lantis e Lucy, com grande participação das outras e seus romances nem sempre felizes.

Notas Iniciais:
Este capítulo meio que marca a parte mais recente do que escrevi, será que dá pra notar isso? Não creio que meu estilo tenha mudado muito, mas fica o aviso

Lembrem-se de que Rayearth não é criação minha e sim da Clamp e de quem mais for. Não ganho dinheiro com isto. Nenhum dinheiro... Há, no entanto, personagens originais como a Liana os quais foram criados por mim. Aliás, se realmente gostaram da Lianinha, são encorajados a lerem outras histórias minhas das quais ela faz parte como E Se Eu Te Deixar Ir? e Ainda Estarei Esperando, não tem nenhum spoiler lá, são panos de fundo bem diferentes deste aqui. E não se esqueçam de comentar, comentários fazem o autor feliz! Agora, vamos ao novo capítulo *_*



Olho Azul Apresenta:
Do Seu Jeito


Capítulo 9 — A Breve Viagem

- Então, a senhora que é a dona Liana?

  Lantis observou o homem barbudo se aproximar de sua mãe, quem abriu um sorriso em confirmação.

  Estava o grupo na frente de uma construção bem larga, de tamanho típico para uma hospedagem, mas em local pouco esperado, considerando não haver qualquer vilarejo ou ponto turístico próximo dali. Estavam cercados por uma extensa floresta que sequer era densa, apenas um amontoado de árvores nada atrativas. Liana não mentira sobre a tranquilidade do local.

  O homem pareceu estudar o grupo por um momento, provavelmente contando os convidados.

- Bem, parece que estão todos aqui! — exclamou ao terminar. — E devem estar cansados da viagem, né? De onde vocês vieram mesmo? — perguntou, voltando-se para Liana.
- De perto do palácio.
- Nossa! Isso é longe à beça!

  Lantis também achava. Com a viagem suspensa por Clef, eles não mais puderam se aproveitar do teletransporte que o mago havia oferecido ao grupo. Assim, o meio mais rápido de que dispunham era seu corcel mágico, o qual não aguentava mais que duas pessoas além dele próprio. Aquelas viagens foram longas demais, e ele ainda teria que fazer a de retorno dali a dois dias.

- Dona Liana, espero que a senhora e seus amigos aproveitem a estada. Como lhe falei por correspondência, não temos muito ao redor além do silêncio e da flora espetacular. — Ele mostrou os dentes em um meio sorriso. — Mas minha hospedagem se orgulha de contar com ótimos quartos e um banho com água quente natural.
- Nossa, então, aqui é tipo um ryoukan!? — Os olhos de Marine se abriram, e Lantis invejou ela conseguir se excitar com... o que fosse que um ryoukan fosse.

  O homem também não demonstrava reconhecer a palavra e buscou ajuda em Liana.

- Que tal aproveitarmos para descansarmos um pouco por lá, então, meninas? — sugeriu sua mãe.
- Não prefeririam conhecer os quartos, senhora? Também precisamos cuidar de mais alguns detalhes...

  A cada vez que o homem se referia a Liana como mais uma cliente, Lantis sentia seu peito mais leve. A forma indireta como o outro se referiu ao pagamento pareceu retirar a última amarra dificultando-lhe a respiração, e Lantis deu um passo à frente. Não parecia mais uma relação suspeita como a com o sábio que o havia curado...

- Sim, por favor. Nós vamos conhecer os quartos primeiro para deixarmos nossas coisas.

  Mas Liana contestou:

- É que as meninas preferem subir tudo depois, né? — Ela sequer esperou a opinião das “meninas” antes de se virar para o dono da hospedagem: —Vamos ali dentro rapidinho então pegar as chaves pros rapazes e o senhor nos mostra onde podemos deixar as nossas coisas. — Então, seguiu decidida à frente do próprio homem.
- S-sim, sim. Claro — foi tudo o que ele pôde responder antes de também entrar.

  Lantis conteve um sorriso com a cena, também em parte por se sentir aliviado que poderia subir e descansar um pouco. Por enquanto, estava livre das decisões da mãe.

  Por outro lado, sentia pena de Lucy e suas amigas, mas não era como se elas houvessem protestado. Ainda não conheciam Liana o bastante? Precisava se lembrar de dizer a Lucy para não seguir Liana cegamente, mas faria isso mais tarde. Não era tão importante assim. Desde que aquela viagem clandestina fosse apenas sua mãe dando o troco em Clef e nada além.

  Sim, os próximos dias seriam divertidos.

- Sua mãe parece tão feliz.

  Olhou para seu lado para perceber Lucy apertando com os braços a pequena bolsa de viagem que trouxera. Ela parecia observá-lo tão atentamente como ele à mãe.  Queria pedir desculpas por deixar Lucy ansiosa com suas desconfianças, mas era melhor não confirmar à menina que era esse mesmo o problema: ele não conseguia confiar na própria genitora.

- Ela gosta de eventos assim — explicou-lhe pouco antes de Liana retornar à entrada do hotel.
- E o que vocês tão fazendo parados aqui fora? — perguntou-lhes Liana, balançando várias chaves. Em seguida, começou a entregar uma para cada pessoa. — É só subir e ver o número escrito; o que tiver 2 é no segundo piso, 3 é no terceiro. Aí vocês procuram a porta!
 - Acho que entendi — disse Ferio, estudando o objeto metálico em sua mão.
- Qualquer coisa, falem com aquele moço de antes. — Liana se voltou então para as guerreiras mágicas e apontou para uma direção diversa da escada. — Vamos agora relaxar longe dos garotos! — Então, agarrou Lucy e Marine com cada braço, arrastando-as.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Após subir a escada, esforçando-se para não saltitar pelos degraus, Lucy se despediu de Marine, quem havia ficado no terceiro piso da hospedagem, e olhou a procura de seu quarto.

  Estava realmente animada, talvez devesse ter aceitado o convite de Liana de fazerem uma caminhada, mas já estava anoitecendo e esfriando. Ademais, a mulher havia convidado Marine com mais ênfase, deixando a entender que se Lucy também quisesse caminhar, deveria chamar Lantis para os dois aproveitarem e ficarem a sós.

  Sentiu a bochecha queimar mais que o calor ainda restando do banho que acabara de tomar. Liana tinha razão: os dois estavam juntos. Mais que isso, não teriam tantas oportunidades de ficarem assim quando retornassem, em razão das novas regras de Clef. Mas Lucy ainda se sentia mal por deixar a mais velha andando sozinha... E se apenas olhasse seu quarto e voltasse correndo? Com certeza ainda a poderia alcançar. Bem, ainda tinha que chamar Lantis também. Claro que queria aproveitar para passar mais tempo com ele, mas seria mais divertido ainda junto com Liana, com certeza.

  A verdade era que quando lhe falara que a mãe não havia desistido da viagem, ele havia reagido estranho. Não era difícil compreender por que Lantis desconfiava tanto da própria mãe, mas isso não queria dizer que Lucy não se preocupava com a situação. Ao menos, ele parecia mais descontraído desde que chegaram. Sim, descontraí-lo era a grande solução.  E um passeio pelos arredores junto com Liana, um ótimo meio para tal.

  Assentia para si mesma enquanto abria a porta do quarto. Por coincidência, Lantis estava bem ali dentro, mas parecia ocupado lendo um livro. Em razão disso, o primeiro pensamento de Lucy foi certa tristeza por seus planos haverem falhado, e ela ter que voltar para baixo sozinha. Será que poderiam passear após a janta ou ele ainda ficaria ocupado? Devia ser ainda a pesquisa sobre os fenômenos do palácio, então, ela nunca poderia pedir a ele para aproveitar o lugar da mesma forma que Liana lhe havia dito. Infelizmente, havia ainda prioridades maiores que não desperdiçarem o momento de estarem juntos.

  Mas...

  Lucy olhou de novo o interior do quarto, com as bochechas queimando uma vez mais. Lantis já havia levantado a cabeça do livro e olhava-a de volta.

- Aah! — O som saiu de sua boca, enquanto batia a porta com força na sua frente. — Desculpa, eu errei de quarto! — disse, tentando controlar o impulso de sair correndo e pular da janela.

  Como havia conseguido errar de quarto daquela forma? E abrir assim tão casualmente a porta do quarto de Lantis? Justo a dele!

- Lucy?

  Lentamente, a porta se reabriu. O rapaz estava de pé à sua frente, olhando-a confuso.

- Desculpa! — Lucy se curvou com toda a força e manteve os olhos voltados para seus pés. — A dona Liana disse que ia dar uma volta e aí subi pra ver os quartos e ia até te chamar pra irmos acompanhá-la e não deixá-la sozinha. Mas acho que li errado os números na chave... Tava tão distraída com meus pensamentos fui parar no quarto errado. Sinto muito, Lantis! Prometo que prestarei mais atenção daqui em diante!

  O rapaz mexeu um pouco o corpo como que para gesticular o cômodo e disse sem qualquer tom específico em sua voz:

- Mas este é o seu quarto.
- Quê? — Endireitando o corpo, Lucy levantou a mão com a chave e deu um passo para trás. Sem dúvidas, era o mesmo número. — Oh, é mesmo! — Um sorriso escapou com tanta força de seus lábios que em dois segundos suas bochechas estavam doendo.
- Suas coisas já estão aqui também. Parece que minha mãe pediu ao dono para já ir subindo tudo. — Lantis abriu a porta mais uma vez e a levou até um canto onde sua bolsa se encontrava.
- Sim! Ela disse! Ele é um senhor tão gentil, fico feliz... Tendo só uma hospedagem por aqui, foi bastante sorte conhecê-lo, né? A dona Liana estava conversando com ele agora há pouco, quando saímos do banho. Ele tava contando que a família dele sempre cuidou daqui e que já tiveram convidados famosos até. Mas nunca um pilar. Será que eu conto de alguma forma? Mas acabei não dizendo nada mesmo. — E riu, sem graça por haver deixado aquele pensamento escapar. Nunca sabia como pensar sobre aquele assunto, razão pela qual nunca o comentava nem mesmo com Anne ou Marine.

  Contudo, Lantis não demonstrou qualquer reação em especial que indicasse o que achava e apenas assentiu para a informação. E o que mais ela podia esperar? Esse era exatamente o jeito dele. Se lhe perguntasse diretamente, provavelmente lhe diria para fazer como se sentisse mais confortável.

- Ué...? — Lucy olhou de novo para a chave em sua mão e para o namorado de pé ao lado de suas coisas. — Você estava me esperando ou algo assim?
- Não — ele respondeu, balançando suavemente os ombros. — Achei que fossem demorar mais lá embaixo.

  Ainda confusa, Lucy voltou-se para uma das camas do quarto e percebeu que o livro de antes não era o único. Mais dois estavam abertos formando um semicírculo, suas páginas amareladas cheias de desenhos e setas. Poções? Era impossível ler o que estava anotado nas páginas, mas não se tratavam mais dos diários. De fato, a pedido de Anne, Lucy havia pedido para Lantis pesquisar feitiços e coisas assim.

- Acho que o senhor trocou alguma coisa quando nos deu as chaves — concluiu ela, começando a sentir-se um pouco tonta. — Sabe, sobre quem ia ficar com quem.
- Foi minha mãe quem organizou.

  Era mesmo. Também havia sido Liana a entregar as chaves de cada um, e o senhor devia estar somente seguindo suas instruções ao subir com as coisas.

  Aproveitar... Antes de sair para sua caminhada, Liana havia lhe dito para aproveitar que podia ficar a sós com Lantis ou algo assim. Era disso que ela falava?

  Sua vista já começava a escurecer de tanta vergonha.

- Eu vou falar com ele... — sugeriu, apesar de suas pernas parecerem pesadas demais para mexê-las.

  Foi justo quando elas pareceram aceder às suas ordens que Lantis lhe perguntou:

- Prefere não ficar aqui comigo? — Desta vez, não havia falta de entonação na voz do moço, mas era difícil discernir mais que isso.

  Mesmo assim, Lucy negou o mais rápido que pôde:

- Não! Não é isso! — Apesar de ser sim pouco disso. Arrependida de haver mentido, ela resolveu ao menos se explicar com a verdade: — É que a gente ainda nem casou nem nada, seria errado, né? E também eu não sei bem como é que eu durmo. E se eu roncar? E se eu me mexer muito? Meu sono é superleve também, vou acabar acordando muito cedo e te perturbando. Você realmente não iria querer dormir no mesmo quarto que eu. — E suspirou ao chegar àquela triste conclusão.

  Lantis tinha o sobrecenho carregado e pareceu ter apenas esperado uma pausa em sua verborragia para perguntar:

- O que é casar?
- Quê? Casar? Vocês não têm casamento em Zefir? — Quando o viu balançar a cabeça hesitante, Lucy decidiu oferecer uma explicação: — É como uma promessa de querer ficar pra sempre com quem você ama!
- Uma promessa? — Parecendo considerar aquela resposta, Lantis levou a mão até seu queixo e comentou com a voz um pouco distante. — Aqui nós não temos um nome para isso...
- Oh. Eu achava que sua mãe era casada com seu pai.
- Não há nada assim. Quando as pessoas querem ficar juntas, elas passam a viver na mesma casa e fazem uma família. Como a mãe da Mira fez quando encontrou um novo companheiro. — Ele então pausou e passou a estudá-la. — E você prefere que nos casemos primeiro antes de dividirmos o quarto?
- Não! — saiu como um reflexo de sua boca, mas ela nem precisava da reação do outro para saber como aquilo soava. — Digo, eu... — Não havia forma certa para frasear melhor aquilo. Lucy olhou para Lantis e se consertou. — Eu queria... me casar contigo... mas... — Não era mais embaraçoso, mas frustrante tentar pôr em palavras a grande razão. O grande problema que exista entre o casal.
- Sinto muito, Lucy.

  Quando Lantis fez silêncio franzindo a testa, ela sentiu ao mesmo tempo mal estar e alívio por o assunto haver se encerrado. Não adiantava andarem em círculos naquela questão.

- Acho que terei que estudar mais para podermos adaptar esse costume para nós dois. Enquanto não o resolvemos, vamos procurar minha mãe para ela trocar de quarto conosco. Disse que ela foi caminhar?
- É! Ela até chamou a Marine, que preferiu descansar, mas aí pra mim a Dona Liana disse que eu... — Ao perceber o que teria que falar, continuou rápido e com a voz bem baixa: — Que-eu-deveria aproveitar-para-ficarmos-a-sós.

  Sem demonstrar se havia compreendido o final, Lantis andou com pressa em direção à porta do quarto.

- Ela não deve tá longe — comentava ele quando Lucy o segurou pelo pulso antes que sequer abrisse a porta. Imediatamente, Lantis se voltou para encará-la, seus olhos fixos nos dela.

  Era como se o coração de Lucy fosse parar a qualquer momento de tanto que batia. Seu peito estava literalmente doendo daquele esforço. O olhar confuso de Lantis a examinava e a aguardava. Confuso? Estaria analisando corretamente? No fundo, talvez houvesse um ar de desafio por parte dele. Desafio para que ela terminasse de dar aquele passo que acabara de começar e tirar o espaço entre eles onde o problema havia se alojado.

  Contudo, Lucy nem sabia se o impedira porque queria ou se não passara de um impulso de sua parte. E agora? O que dizer?

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Bem que Clef poderia estar ali com ela...

  Marine tentou rir daquele pensamento. Era ridículo, considerando que o próprio mago havia cancelado aquela mesma viagem. Ao mesmo tempo, era um pouco deprimente pensar que Anne e Lucy haviam conseguido retornar às pessoas que amavam enquanto ela não conseguia admitir nem para si própria o que sentia.

  Antes que a ciranda dos pensamentos continuasse, Marine olhou para baixo de sua janela do quarto ao perceber que Anne andava a passos vacilantes para fora da hospedagem.

- Anne? — chamou-a após correr por todo o lugar até alcançá-la.
- Marine! — Ela nem parecia assustada. Seus olhos estavam desfocados e os cabelos um pouco em pé. Ela não seria sonâmbula, né?
- V-você está bem? — perguntou, aproximando-se para pôr a mão sobre sua testa.
- Que bom que encontrei alguém. Eu preciso falar, e Ferio está no banho agora! Eu precisava contar antes que esquecesse.
- Teve outro sonho?

  Anne assentiu. Então, olhou para o lado e começou a falar como se recitasse algo decorado:

- Uma mulher. Fraca. Bem fraca. A pessoa do outro sonho, era ela. E ela foi atacada pela esfera negra. O feiticeiro. O igual a Clef tentou ajudá-la. Tinha uma poção. Uma poção pra ajudá-la? Ele tinha feito uma poção.
- Então o homem que tinha o anel do Clef fez uma poção para ajudar a moça atacada pela esfera? Algo como o que o tal sábio fez com Lantis? — Marine bateu com o dedo na bochecha e fez bico com os lábios. — Pra que tanta agitação, Anne? Tenho certeza de que essa mulher pode ser algo importante, mas... não entendo por que você ficou tão pálida.

  A outra assentiu ainda um pouco alheia, como se ela mesma não compreendesse por que estava agindo daquela forma. De repente, Anne avançou sobre Marine e a agarrou pelos braços em um desespero incomum.

- Eu lembrei! Windam! — exclamou para Marine.
- Seu gênio? O que tem ele?
- Marine, eu ouvi o Windam. No meu sonho.
- Junto com o feiticeiro e a menina doente?
- Não... digo, eu não sei. Acho que não. Ah! Eu lembrei. O que ele me disse. Eu não sei como foi isso, mas lembro muito bem o que ele disse e Marine... — Os olhos de Anne agora estavam muito bem focados nos seus. E tremiam. — Ele disse que Zefir está em perigo.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  A verdade era que Lantis deveria haver corrido atrás de Liana assim que ouvira Lucy dizer que ela havia saído sozinha. Um alarme lhe tocava na cabeça mais alto a cada palavra repassada. Lucy queria acompanhá-la e Liana inventara uma desculpa para que isso não acontecesse. Sua mãe realmente queria ser deixada em paz.

  Mas como dizer isso quando ele estava se esforçando tanto para não desconfiar mais de Liana? E quando havia um assunto igualmente importante bem ali?

  Durante toda a conversa, sua mente esteve dividida. Agora, havia enfim encontrado a desculpa perfeita. Claro, estranhara quando as coisas de Lucy foram parar ali, mas o senhor havia respondido que apenas obedecia aos comandos de Liana. E também entendia toda a hesitação de Lucy em ficar perto dele, a relação dos dois estava rumando a uma enorme parece.  De que adiantava dividirem um quarto agora, quando não poderiam dividir uma vida juntos?

  Ao menos, a forma de as pessoas no mundo dela tratarem aquelas que amavam parecia mais animadora que o compromisso em Zefir — ou a falta de um. Não era nada além de uma promessa. E, no que dependesse dele, poderia fazer qualquer promessa de que a amaria para sempre.

  Olhou para a pequena mão de Lucy. Quando ele já havia decidido deixar o assunto para mais tarde e ir descobrir o que sua mãe fazia sozinha no meio do nada, ela o segurara com uma força que o surpreendera. Olhou-a de volta e tentou entender o que ela queria. Já estavam a poucos passos da barreira; não havia muito mais a fazer pelos dois contra o inevitável. Tudo o que podiam fazer era andar mais devagar e adiá-la.

  Como Lucy não respondeu o que pretendia com seu gesto, Lantis optou por ajudá-la.

- Precisamos ir, ou não acharemos minha mãe.

  Não era de todo verdade. Seus olhos pousaram inconscientemente nas anotações que trouxera consigo falando sobre a região, agora fechado junto aos dois outros que vinha estudando. 

- Não precisamos mais — disse ela por fim. Aquela expressão decidida no rosto de Lucy era um contraste com as palavras atrapalhadas que lhe saíam da boca nos momentos de descontração. — Eu vou ficar.

  Não necessitava realmente esclarecer àquele ponto, mas a surpresa trouxeram as palavras aos lábios de Lantis:

- No mesmo quarto que eu?

  A expressão agora voltava a dar espaço ao acanhamento usual da moça. Usual apenas quando se tratava dele, Lantis desconfiava. Ainda assim, ela assentiu com firmeza.

- Então, como as pessoas do seu mundo se casam?

  Ela pareceu incerta de por que haviam retornado ao assunto, mas sorriu como que agradecida por algo e olhou para o teto considerando uma resposta.

- Bem, eu não sei direito. Tem um monte de papel que a gente entrega na prefeitura. É como o palácio daqui de Zefir! E... — Quando os olhos de Lucy encontraram os dele, ela pareceu notar parte do que Lantis pensava e se emendou: — Tem lugar que não precisa! No meu mundo, tem vários países e... digo, tem vários palácios, cada um pra uma parte. Tem palácio que pede papel, tem palácio que pede uma festa! Sabe, tem gente que quer se casar naquele momento, mas não consegue chegar ao palácio. Elas podem fazer a cerimônia ali mesmo. Aí quando puder chegar ao palácio, elas acertam tudo. Mas já estão casadas antes disso!
- Uma cerimônia?

  Ela novamente olhou para o teto, parecendo mais descontraída. Visivelmente, estava feliz em poder falar sobre seu mundo. Lantis não se sentia muito diferente disso ao ouvir aquilo.

- Cada lugar tem uma, acho. Mas essas pessoas vão e prometem se amar, se honrar e se respeitar para sempre. Aí tem lugar em que trocam um anel e no final elas se beijam. Acho que é isso. — Ela sorriu, aparentando satisfeita em haver conseguido terminar a explicação.
- Depois disso, elas precisam morar juntas como aqui em Zefir?
- Ah, não, não. É diferente. Digo, a maioria mora. Mas tem casal que não pode morar junto, sabe? Porque cada um trabalha em um lugar... Já ouvi que tem uns que nem querem. Em geral, é só fazer essa promessa, assinar os papéis pra comunicar o palácio deles e pronto! Mas tem vez que nem precisa dos papéis.

  Ao perceber a insegurança da outra, Lantis assentiu que havia compreendido. Em seguida, levou a mão para lhe acariciar o rosto. Em resposta, ela lhe retornou um sorriso tímido.

- Posso prometer isso, então — disse ele.
- Prometer o quê?

  Inspirando fundo, ele repetiu cada palavra do que havia acabado de ouvir atentamente:

- Eu prometo te amar, te honrar e te respeitar para sempre.

  Deveria ter desconfiado que Lucy não havia avaliado o que Lantis queria com as perguntas. De todo modo, seu olhar interrogativo deixava isso claro no momento. Custaram-lhe alguns segundos para a interrogação virar uma exclamação de desespero.

- E-e-está me pe-pedindo em c-c-ca-ca-casamento!? Não! Um casamento, isto é um... — Lucy levou sua mão à boca, que agora formava a vogal o pela forma como estava aberta.

  Os olhos da jovem passaram a examiná-lo por completo até que a mesma expressão decidida de antes retornou a eles.

- Eu também prometo te amar, te honrar e te respeitar até que a morte nos separe, Lantis.

  Algo estava diferente ali, e Lantis esperava que isso não houvesse estragado a validade da cerimônia. De qualquer forma, ainda faltava a última parte que se podia fazer naquela hora, já que ele nunca iria poder entregar os tais papéis no palácio de Lucy. Pelo menos, aquilo ele definitivamente podia fazer.

  Com os olhos fixos no sorriso que ela lhe exibia, Lantis segurou-lhe os ombros e aproximou seus rostos. Até que seus lábios se tocaram. Agora sim, estavam realmente casados.

Continuará...

Anita, 05/12/2013

Notas da Autora:

Ai, ai... Eu me derreti escrevendo essa cena. Acho que tá bem óbvio, mas eu me inspirei bastante no manga pra fazê-la, apenas fazendo os ajustes da personalidade da Lucy e também pro próprio momento em que isso ocorre, que é bem diferente. O que achou? Coisas bregas são tão fofas, rs.

Mas é, este capítulo sim foi escrito anos depois do oitavo capítulo, apesar de que, em matéria de publicação, eles tenham saído quase juntos. Eu tenho demorado bastante é para fazer a revisão. Bate um desânimo pensar que ainda tenho que reler as besteiras que escrevi! Ninguém gosta realmente de se revisar; por mais legal que seja editar partes, corrigir-se é chatinho. Mas, nossa... Eu realmente ODEIO ficar relendo o que fiz, especialmente, quando não faz muito tempo.

Enfim, aguardo comentários, não fique tímido de comentar, por favor! E se alguém quiser mais capítulos ou fics minhas, visite meu site, o Olho Azul. :D

E até a próxima vez!


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