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[Saint Seiya] Alvorecer - Capítulo 1, escrita por Andréia Kennen

Capítulos: 1 2 3 4 5
Autora: Andréia Kennen
Fandom: Saint Seiya
Classificação: 18 anos
Gêneros: Drama, Romance, Yaoi
Status: completa
Resumo: Aioria de Leão x Mu de Áries. Mu de Áries é convocado para ir até o Santuário consertar as armaduras que serão entregues a nova geração de cavaleiros de bronze. Antes de partir, ele decide verificar as condições da armadura do Cavaleiro de Leão, a qual ele havia consertado há algum tempo, é então que surge um estranho desejo entre Aioria e ele.

Notas iniciais do capítulo

A primeira publicação dessa fanfic foi em 03.04.2009.




Alvorecer

Capítulo 1

Do alto da montanha, próxima a encosta marítima de Atenas, o entardecer se expandia pelo horizonte, tingindo o céu ateniense de tons laranja e vermelho. Aioria, o cavaleiro de ouro de Leão, encerrou o treino daquele dia e se deteve para admirar a paisagem.

No passado, aquele fora o lugar de treino preferido do irmão e por esse motivo, se tornara o seu lugar preferido também.

“Aioros...” suspirou nostálgico, cerrando e encarando os punhos feridos das atividades do dia.

Mesmo que o tempo passasse depressa Aioria não era capaz de amenizar as lembranças do irmão, muito menos de fazê-lo se conformar de que Aioros fora morto por atentar contra a vida da deusa.

Naquela ocasião não perdera somente o irmão, mas também seu mestre. Viu-se obrigado a completar seu treinamento sozinho, pois ninguém queria ter contato com o irmão do traidor.

Aprendera ainda a conviver com o preconceito, o ódio, o desprezo e os olhares de aversão que lhe direcionavam somente por ter o mesmo sangue que o homem que fora caçado e exterminado por alta-traição.

Desceu da montanha ainda perdido em seus pensamentos e só despertou ao passar pela arena de treinamento e observar que, a colega, a Amazona de Prata de Águia, tinha estendido novamente o exercício com o pupilo.

Fazia quatro anos que Seiya chegara ao Santuário e roubara totalmente a atenção de Marin. Desde então, a agora instrutora, não dispunha mais de tempo livre para dividirem juntos em conversas amenas.

Mas Aioria compreendia perfeitamente bem o emprenho da colega com o novo discípulo. Seiya era de origem oriental, tal como Marin. E Marin, assim como Aioria, também sofrera — e ainda sofria — muito preconceito por parte de uma minoria extremista dentro do Santuário, a qual discordava de que estrangeiros pudessem pleitear o cargo de cavaleiro no legado de Athena, uma honra que, de acordo com eles, deveria ser concedida somente aos de origem grega.

Disposto a não atrapalhar a colega, Aioria deu a volta na arena, ao invés de atravessá-la como normalmente fazia. Evitaria assim chamar a atenção da instrutora para si. Poucos minutos depois, estava subindo a escadaria que levava ao primeiro templo.

Deteve-se por um momento diante da casa de Áries e foi invadido por uma recordação boa: de quando conhecera o guardião daquela casa. Mu de Áries era um ferreiro de armaduras e vivia em Jamiel, na fronteira da China com a Índia. Precisou procurá-lo quando sua armadura se danificou ao ponto de beirar a morte [1]. Foi nessa ocasião que descobriu que as armaduras tinham vida e que somente um artesão com dons especiais poderia recuperá-la.

A princípio Aioria não simpatizara com Mu. Acreditara que ele havia inventado aquela história que “as armaduras tinham vida” somente para não consertar a sua. Foi preciso que Mu o fizesse enxergar a verdade de maneira extrema: combatendo-o. Aprendera então a admirar o cavaleiro da primeira casa, que apesar da aparência dócil e gentil, era um homem detentor de extremas habilidades.

— Sou Aioria de Leão, defensor do 6º Templo Zodiacal, solicito-lhe licença para passar por sua casa. — sorriu ao concluir o pedido. Fazia-o, mesmo tendo ciência de que ninguém o responderia, afinal, Mu continuava em Jamiel.

Mas imaginando que a permissão lhe fora concedida, adentrou Áries e pouco depois seguia rumo a Touro. No caminho Aioria lembrou-se de que Aldebaran e Mu não eram somente vizinhos de templo, mas também bons amigos, do tipo que trocavam correspondências.

— Aldebaran, sou eu, Aioria. Estou passando... — pediu menos informal e não esperou pela resposta para invadir a casa de Touro.

Aldebaran e ele eram amigos. Um dos poucos, igual Marin e Shaka de Virgem. Depois que Marin passou a se dedicar a instrução de Seiya, acabou se aproximando mais do defensor da segunda casa, um homem que apesar do tamanho exagerado, era gentil e alegre.

— Boa tarde, Aldebaran — desejou ao avistar o amigo sentado no chão do amplo salão da casa de Touro.

Aldebaran interrompeu a leitura do manuscrito que tinha em mãos e voltou sua atenção para o colega que se aproximava.

— Já é boa noite, meu amigo. — o taurino observou, abrindo seu grande sorriso para o guerreiro de Leão.

— É verdade — Aioria concordou, coçando a nuca e espichando os olhos para o papel que ele tinha em mãos. — Outra carta de Mu?

O grandalhão deixou um risco vermelho tingir sua face morena e, claramente sem graça, concordou.

— Pois é...

— Não sei por que esse constrangimento todo, Deba. Acho bonita a amizade que os dois preservam mesmo a distância.

O grandalhão relaxou os ombros e suspirou profundamente. Quando o assunto era Mu acabava ficando tenso mesmo que não quisesse. Tinha receio de que sua amizade fosse interpretada de forma errada, como de fato era para ser, já que seus sentimentos pelo ariano ultrapassavam um pouco a linha da amizade. Apesar de ter praticamente certeza que aquele sentimento era algo totalmente platônico e unilateral.

Aioria tentou não se prender no que aquele ‘suspiro pesado’ do amigo significava e aproximou-se do homem, que mesmo sentado, era quase da sua altura de pé.

— Então, quais são as notícias que Mu conta? Ele diz quando virá nos prestigiar com sua bela presença?

Aldebaran arqueou uma das suas sobrancelhas grossas para o amigo ao ouvir o adjetivo vindo de Aioria em relação ao vizinho.

— “Bela presença”? Não me diga que você o acha bonito também, Aioria? — o taurino perguntou em tom de desconfiança, ao interpretar de maneira errada o questionamento do amigo, sentindo já uma pontada de ciúmes.

Aioria arregalou os olhos em sinal de surpresa.

— Aldebaran... Deixe-me entender. Como assim “o acha bonito também, Aioria”? Que tipo de pergunta é essa?

A gargalhada esganiçada que irrompeu do defensor de Touro repentinamente, propagou-se por todo o ambiente e fez as paredes da casa tremerem.

Aioria ficou estagnado por um tempo. Era óbvio que o amigo estava tentando disfarçar uma tremenda gafe, mas preferiu permanecer em silêncio, até que ele se acalmasse e lhe desse uma explicação.

— Acho que não tem mais como esconder isso de você, Aioria... — Aldebaran disse, após secar a lágrima que se formou em um dos seus olhos. — A verdade é que, eu gosto do Mu de uma maneira diferente. Bem... Como eu posso dizer sem parecer mais estranho do que já é? — ele perguntou, massageando a nuca.

— Se é estranho, não diga.

— Mas somos amigos, e eu gostaria que soubesse para poder me aconselhar.

— Eu decidi que não quero saber. — Aioria declarou de repente, dando as costas para o amigo, decidido a seguir seu caminho.

Pelo tom de Aldebaran, já imaginava o que ele estava prestes a confessar algo extremamente constrangedor e não queria ser ouvidor de tal confissão.

— Estou apaixonado pelo Mu, Aioria.

Aioria deteve seus passos, paralisando-se como se tivesse sido congelado por um golpe de gelo. Havia dito que não queria ouvir e mesmo assim... Franziu as sobrancelhas. Não conseguiu acreditar que Aldebaran havia tido coragem de lhe dizer aquilo. Menos ainda, crer de quem a confissão vinha. Se fosse de Milo, Afrodite e até Máscara da Morte, conseguiria entender perfeitamente, já que os citados davam razões para tal, mas de Aldebaran de Touro?

Voltou-se para o amigo e o fitou com seu semblante franzido.

— Você deve estar enganado — alegou, firmemente.

— Durante muito tempo também pensei que estava — contrapôs o Taurino. Decidido a compartilhar a verdade com um amigo. — Mas depois de muito lutar contra esse sentimento, acabei me rende-...

— Não! — Aioria o interrompeu e aumentando seu tom de revolta falou: — Olhe para você, Aldebaran. Você é um cavaleiro a serviço de Athena. Como eu também sou. Somos soldados! Se apaixonar é algo que não podemos nos dar ao luxo, imagine então se apaixonar por um companheiro de tropa? O nosso foco deve ser somente a deusa Athena. Devemos evitar pensamentos mundanos que servem apenas para nos desviar do nosso caminho!

Aldebaran adquiriu, automaticamente, um ar de desapontamento. Acreditava que Aioria não o aprovaria, mas não imaginava que ele trataria o assunto com tanta repulsa. Mas, não era do seu feitio provocar discussão ou chocar. Por isso, procurou suavizar a expressão e deu uma alta gargalhada, bem menos expansiva e espontânea que a primeira.

— Baixou o santo Shaka em você agora, né, Aioria? Não haja como se eu estivesse te dizendo que desejo viver um romance de adolescente. Sei muito bem dos meus deveres para com a deusa. Não preciso que fique me lembrando disso. Amar é uma capacidade do ser humano e, por ser um, me pego impossibilitado de agir contra minha natureza. Mas poderia sim, evitar os pensamentos mundanos como falou. Só não vou fazê-lo porque são esses pensamentos que ajudam a me livrar da tensão que é ter um destino incerto. Até o mestre tem sua válvula de escape. Ele vive rodeado de belas serviçais. Acho que está sendo radical ao extremo, Aioria.

— Não estamos falando de mulheres aqui, Aldebaran. Estamos falando de um sentimento luxuoso de um homem por outro homem.

— E qual é a diferença?

— Como qual é a diferença? — Aioria rebateu a pergunta. — Você acha que é normal um homem dizer que está apaixonado por outro?

— Eu não o entendo, Aioria. Não foram os gregos os primeiros liberais da história? Não foram seus antepassados que preferiam se relacionar com o próprio sexo ao invés de mulheres?

— Não me venha com...

— Posso saber por que o Sangue-Sujo e o Gigantão estão batendo boca? — a discussão dos dois fora interrompida por Máscara da Morte, que adentrou o salão da casa de Touro por uma janela lateral. — Está dando pra ouvir essa lavação de roupa suja lá da minha casa.

— Não é da sua conta, Máscara! — esbravejou Aioria, dando meia volta e seguindo de volta o rumo da saída. — Também me cansei desse assunto sem nexo, vou indo.

Máscara aproximou-se de Aldebaran com as duas sobrancelhas arqueadas ao ver Aioria sair bufando, esperando que realmente ele lhe respondesse qual era o tal assunto sem nexo. Mas o Taurino nem se mexeu de onde estava. Apenas fechou os olhos e pediu:

— Saia, Máscara. Meu bom humor se foi. Não estou a fim de ouvir suas ironias. E pare de pular a janela, minha casa tem portas.

— Ai, ai... Porque ninguém vem bater boca comigo, hã? Esse lugar é um tédio! E ainda tenho que ter como vizinhos uma casa vazia e um idiota como você!

— Eu também estou na mesma posição: casa vazia de um lado e um idiota do outro.

— Quê? Repete grandalhão! — ordenou Máscara, se pondo na posição de combate. — Acha que tenho medo do seu tamanho, é?

Aldebaran levantou-se e desferiu um golpe tão rápido em Câncer que este não tivera tempo de se defender. Máscara da Morte voou até bater com as costas na parede no outro extremo da sala, ao lado da janela aberta que ele havia adentrado. Escorregou até o chão e limpou o filete de sangue que rolou pelo canto da boca com o punho fechado.

— Assim, está bem melhor... — disse animado e se pôs de pé. — Agora vamos... Quê? – Aldebaran desferira o golpe, mas voltara a sentar no chão, adquirindo a sua pose de imobilidade e defesa, com os braços cruzados no peito e os olhos fechados.

— Pode vir se quiser — ele incitou o Canceriano.

— Assim não tem graça, Touro de uma figa! — resmungou Máscara. — Todos sabem que essa sua posição é um saco de desfazer. Vou me retirar por hoje. Não tem graça brincar com você desse jeito. Vou dar um pulo lá em peixes e incomodar um pouco aquele floricultor venenoso e de pele macia! Ha, ha!

— Seu deplorável.

— Dane-se, Gigantão!

Máscara saiu da casa tão rápido quanto entrou.

Aldebaran, ao se perceber sozinho, abriu os olhos e observou a carta de Mu encerrada em sua mão. Perdera-se tanto na discussão com Aioria que acabou se esquecendo de avisá-lo que Mu estava vindo para o Santuário. Ele passaria uma temporada em sua casa, recuperando as armaduras de bronze que serão entregues aos aprendizes que estavam prestes a se formar.

Ergueu-se e procurando se esquecer do desentendido com o amigo, sorriu de lado e determinou:

— Não quero receber a visita do meu amigo Mu nesse templo encardido. É hora da faxina!

Continua...





[1] Nota: referência a Saga G.

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