|

[Saint Seiya] Alvorecer - Capítulo 3, escrita por Andréia Kennen

Capítulo Anterior - Próximo Capítulo
Autora: Andréia Kennen
Fandom: Saint Seiya
Classificação: 18 anos
Gêneros: Drama, Romance, Yaoi.
Resumo: Aioria de Leão x Mu de Áries. Mu de Áries é convocado para ir até o Santuário consertar as armaduras que serão entregues a nova geração de cavaleiros de bronze. Antes de partir, ele decide verificar as condições da armadura do Cavaleiro de Leão, a qual ele havia consertado há algum tempo, é então que surge um estranho desejo entre Aioria e ele.


Alvorecer

Capítulo 3

Acima das Doze Casas, antes do Templo de Athena, se encontra o Salão do Grande Mestre — a segunda figura mais importante do Santuário depois da própria Athena.

Havia rumores de que o Grande Mestre em exercício ocupava esse posto desde a última grande guerra; ocorrida há mais de duzentos anos. Boatos diziam que, devido a saúde precária do Patriarca oficial, quem comandava o Templo Sagrado de Athena há algum tempo, era na verdade seu mestre auxiliar — futuro substituto oficial — Ares de Altar. [1]

Aioria irrompeu o salão, trajado com a armadura de ouro de Leão, depois de anunciar sua presença e ter a autorização do mestre para entrar. Mesmo que fosse um substituto, as Leis do Santuário regiam que o tratamento para com ele não deveria ser desigual ao do tratamento dispensado ao oficial.

— Mandou me chamar, excelência? — perguntou Aioria, curvando-se perante o trono de Ares.

— Sim. Preciso que me faça um favor.

— As ordens do Grande Mestre são leis.

— Eu precisarei entrar em um período de meditação. Durante este tempo Athena ficará sem vigília. Meu pedido é que você vigie o Salão e não permita que ninguém entre aqui durante sete dias e sete noites, a contar de hoje.

Aioria arregalou os olhos em estranhamento ao pedido. O mestre sempre entrava em longos períodos de meditações. Entretanto, seus próprios guardas sempre cuidaram para que ninguém o interrompesse. Não entendeu o motivo de, ele, um guerreiro dourado, ser incumbido de tal tarefa.

— Perdoe-me, oh, grande sábio? Mas... ficar vigiando o salão? Não compreendo suas ordens. Nós guerreiros dourados estamos em eterna vigília e apostos nas Doze Casas. Os guardas do salão sempre foram o suficiente.

— Você realmente não compreendeu, Aioria — o homem disse, ponderando seu timbre de voz. — Eu quero que você fique aposto para proteção da deusa, pois eu estarei ausente.

­— Ausente? Mas o senhor sempre meditou aqui mesmo. Desculpe-me a intromissão, mas aonde irá, meu mestre?

— Star Hill — ele respondeu categórico. — Porém, a minha ausência não pode ser percebida nem mesmo por àqueles que têm livre acesso ao salão. E só a imponência de um guerreiro dourado poderá evitar que “eu seja interrompido” por visitas inoportunas. Será que conseguiu me compreender agora, Aioria?

Aioria pensou por um instante. Algo naquela ordem lhe remetia a visita de Mu de Áries. Já tinha ouvido rumores de que Ares não era o Grande Mestre, e sim o auxiliar dele e futuro substituto. Também ouvira dizer que o verdadeiro Patriarca era também mestre do Cavaleiro de Áries. Mas não tinha certeza, tudo não passavam de especulações, afinal, desde que se tornara defensor do Quinto Templo, Aioria nunca interagiu com o verdadeiro mestre. Mas desconfiava que a identidade dele era mantida em sigilo para proteção do próprio e de Athena. Quem sempre lhe dera ordens fora aquele homem sentado no trono diante de si, a única testemunha do dia do atentado do irmão, o mesmo que acusara Aioros de tentar matar Athena. O homem que parecia fazer questão de sempre chamá-lo e colocar a prova sua honra e honestidade.

— Compreendi, vossa excelência — Aioria finalmente concordou. — Estou aqui para cumprir suas ordens. Peço perdão por tê-lo questionado.

— É assim que se fala, Aioria. Comece a vigília agora mesmo.

— Como desejar, meu senhor.

O Leonino se levantou e após fazer uma breve reverência com a cabeça, deu as costas ao Grande Mestre interino e se afastou.

Ao encerrar a porta de madeira em suas costas, Aioria se prostrou diante dela e pediu para que os quatro homens que estavam apostos, dois de cada lado do portal, se retirassem.

Confusos, eles o questionaram:

— Mas..., capitão?

— São ordens. — ele foi enfático e, para evitar gerar mais questionamentos, cruzou os braços sobre o peito e endureceu sua expressão facial.

— Como quiser, senhor! — os quatro rapazes gritaram em resposta, batendo continência e se retiraram do lugar aos cochichos.

Assim que Aioria se viu sozinho, suspirou.

“É. Então não nos veremos afinal, Mu.”

...

Os dias passaram rapidamente para Mu que tinha muito trabalho a fazer. O Ariano não saiu da sua casa e em cinco dias recebera a visita de quase todos os colegas dourados, inclusive aqueles dois com quem não tinha muita intimidade: o Máscara da Morte de Câncer e o Cavaleiro Afrodite de Peixes. Em contrapartida, uma pessoa, a qual gostaria de saber como estava, não aparecera nem para cumprimentá-lo. Não queria demonstrar-se chateado com o fato, mas era evidente que aquilo estava mexendo com seu humor mais do que deveria. Exatamente por saber que essa pessoa não tinha motivos para tratá-lo com indiferença. Apesar de não terem se tornado grandes amigos quando ele o visitou em Jamiel há alguns anos atrás, se trataram com respeito. [2]

— Essa face entristecida não combina com sua beleza, meu amigo.

Mu reconheceu de imediato a voz do amigo que vinha em sua direção com aquele largo sorriso, que tinha o poder de contagiá-lo. Limpou o suor da testa e se levantou, indo de encontro a mão estendida.

— Bom dia, meu amigo. Dormiu bem?

— Sim, melhor impossível. — afirmou Aldebaran, apertando a mão do Ariano. — Pelo jeito começou cedo. — o Taurino observou, vendo as inúmeras armaduras que brilhavam no salão.

— Sim, com um pouco mais de dedicação, acredito que termino tudo hoje e poderei voltar para Jamiel amanhã.

— Porque a pressa? Você não veio para passar uma semana?

O jovem de madeixas lilás desviou o olhar dos olhos curiosos de Aldebaran e voltou para a armadura que havia deixado de lado quando ele entrou.

— Era a previsão — concordou ele, fazendo sua cosmo-energia eclodir pelas palmas de suas mãos e o pó-de-estrela, o qual já havia esparramado sobre as peças, reluzir. — Mas se eu terminar tudo hoje, amanhã me despeço. Tenho muitos afazeres em Jamiel também.

Aldebaran não conseguiu esconder sua decepção.

— Certo. Eu, concordo — o Taurino disse, massageando o pescoço. — Mas... você deveria visitar seu mestre antes de ir, não?

Aldebaran sabia mais sobre Mu que qualquer outro naquele Santuário e a observação dita por ele de forma tão displicente acabou irritando o Ariano, que deteve sua tarefa e encarou o colega com o semblante ainda mais sério.

— Não fale sobre isso tão levianamente, Aldebaran.

O cavaleiro de Touro se retesou ao ver a expressão tão séria de Mu. Mas não deixou de achar gracioso quando viu as duas pintas, as quais ficavam no lugar das sobrancelhas, se juntarem, mostrando o quanto ele se contrariara com sua gafe.

— Perdoe-me, Mu? Eu só...

— Tudo bem — o Cavaleiro de Áries respondeu, o interrompendo. — Eu tenho que confessar que estou mal-humorado hoje. Mesmo assim, não posso ficar descontado em você, Deba. De qualquer forma, você sabe muito bem o quanto eu gostaria de vê-lo, mas não posso contrariar as próprias ordens dele.

Depois de dizer isso, Mu fechou os olhos e voltou a se concentrar no trabalho, demonstrando assim, que não queria mais conversas. O Taurino compreendeu muito bem a indireta e decidiu se retirar.

— Bem, só estava de passagem. Tenho que fazer a ronda. Até mais tarde.

Mas antes de deixar o salão, Aldebaran ouviu Mu questioná-lo.

— Fazer a ronda durante o dia não era a tarefa do capitão da guarda?

O cavaleiro de Touro em uma reação espontânea bufou. A pergunta, por algum motivo, lhe pareceu cheia de interesses. Mu queria saber sobre o paradeiro de Aioria, mas ele era um tanto orgulhoso para perguntar diretamente, por isso estava tentando descobrir de maneira indireta. Foi o que deduziu. E deduzir aquilo despertou em si o ciúme mais profundo.

Sem se voltar para Mu, Aldebaran respondeu:

— Como você disse bem, meu amigo: “era a tarefa do capitão da guarda”. Aioria está em missão, eu vou cobri-lo por algum tempo. Se era isso o queria saber.

— Espera, Aldebaran! Eu não entendi o que você quis dizer com...

Mas ao erguer os olhos para saída, Mu notou que já estava falando sozinho.

— Mas o que há com o Aldebaran, afinal?

Depois de balançar a cabeça negativamente e suspirar, Mu voltou a fechar os olhos e procurou retomar a sua concentração.

Achou estranho Aioria estar em missão, tinha quase certeza de ter sentido a cosmo-energia dele quando chegou. Mas como imaginava, por algum motivo, Aldebaran sentia ciúmes de seu interesse em ser amigo do Leonino, por esse fato preferiu manter quieta sua curiosidade, seu trabalho ali estava acabando e se não se vissem, era porque não deveria acontecer.

...

No fim da tarde, os guardas vieram levar as últimas armaduras que Mu havia consertado e ele sorriu satisfeito por ter concluído seu trabalho. Algumas daquelas peças viajariam pelo mundo até alcançarem seus destinatários.

— Vejo que terminou como havia dito que terminaria, não é? — Aldebaran observou ao adentrar o templo, agora na passagem de volta.

Decidido a ser mais cortes com o amigo, Mu sorriu para ele.

— Sim. Finalmente. Está tudo terminado. Escuta, Deba. Porque não jantamos juntos nessa noite? Eu cozinho.

— Mesmo? — Aldebaran inquiriu, pego de surpresa.

— Mesmo — Mu afirmou. — É o mínimo que posso fazer para lhe pagar a hospitalidade que vem tendo comigo aqui no Santuário.

— Não seja por isso, Mu. Mas aceitarei o jantar para partilhar dos últimos momentos da companhia de um amigo querido. Não sabemos quando nos veremos de novo, não é mesmo? — disse o Taurino, ficando levemente ruborizado.

— É verdade.

— Vou tomar banho e volto às oito. Está bem?

— Combinado.

...

Diante da porta do Salão do Grande mestre, Aioria bocejou.

— Que tédio... — resmungou, escorregando as costas no patamar de madeira atrás de si e se sentado no chão. — Cinco dias aqui! Faltam dois para esse suplício terminar. Eu odeio ficar sem fazer nada... Além disso, eu ainda gostaria de vê-lo. Quando será que ele vai embora?

— Pelo que tudo indica, amanhã. — respondeu uma voz que Aioria não soube de onde vinha.

Assustado, ele se levantou em um salto e, forçando a visão, viu a imagem de alguém se formando no meio do corredor, apesar de opaca e trêmula, conseguiu distinguir de quem se tratava.

— É você, Shaka? — perguntou Aioria. — O que está fazendo?

— Estou embaixo do carvalho, brincando de treinamento como você disse, onde mais estaria? — o indiano perguntou, em tom claramente irônico.

— Você me assustou.

— E você? Está brincado de quê aí em cima desde o início da semana?

— Eu não tenho permissão para falar, mas acho que é óbvio, não é?

— Sim. Um cavaleiro da elite dourada, chefe da guarda, de vigília no salão do Grande Mestre. No mínimo, é interessante. Tudo indica que Ares não está.

— Não tenho permissão de contestar as ordens do Grande Mestre. Então, que tal me dar licença? — Aioria perguntou e voltou a se sentar, cruzando as pernas da mesma forma que Shaka estava sentado. Encarando imagem do amigo vestido com um Kurta [3], e notando que ele parecia ter mais a dizer, pois não demonstrou intenção de desaparecer.

— O que foi?

— Eu sei que você é um dos poucos que não contestam as ordens vindas de Ares.

Aioria fechou os olhos, tentando ignorar a presença do colega com mais facilidade.

— Então? Até quando servirá de estatua para a entrada do Salão? — Shaka persistiu na conversa.

— Até depois de amanhã. — respondeu mal-humorado.

— Hm. Então não verá seu amigo de Jamiel.

— Quem disse que quero vê-lo?

— As paredes. Afinal, eu pude ouvi-lo conversando sobre o assunto com elas agora pouco.

— Isso é invasão de privacidade, Shaka!

— Eu sou estou tentando ajudá-lo com aquela questão.

O rosto de Aioria fumegou ao lembrar-se de que Shaka havia insinuado que ele também tinha algum tipo de interesse em Mu, tal como Aldebaran, e bufou enraivecido.

— Eu já sei! Mas entenda de uma vez, Shaka: eu não preciso da sua ajuda para nada! Porque não há nada que eu queira colocar a prova. Eu só queria ver o Mu, por que... Sei lá! Nem amigos direito nós somos. Nos encontramos uma única vez quando visitei Jamiel e eu confesso que fiquei admirado com sua aparência frágil e ao mesmo tempo com toda sua força. Mas eu não posso sair daqui, às ordens do mestre foram claras e restritas: sete dias e sete noites de vigília.

— Eu posso substituí-lo por uma noite. Ninguém iria saber.

— Eu saberia e isso basta. As palavras no mestre são leis, Shaka. Eu não posso me dar ao luxo de infringi-las.

O indiano continuou olhando o amigo.

— Shaka, vai cuidar dos seus assuntos e me deixe em paz! Saco!

— Está certo. — O vulto do indiano desapareceu. — Não venha reclamar nos meus ouvidos depois.

— Ah! Não enche! — O Leonino ainda resmungou, batendo o punho fechado no chão. — Que persistente!

Mas mal tinha dado tempo do eco da voz de Shaka sumir completamente do corredor quando Aioria notou que o holograma estava se refazendo.

— Shaka, seu maldito! Você não cansa mesmo de encher minha paciência, não é? Vá embora agora ou eu vou atravessar essa bendita dimensão pra chutar seu traseiro!

Irritado com a persistência do amigo, o Leão se levantou e avançou em direção da imagem. Mas por algum motivo estranho, ao invés de atravessá-la acabou se chocando com ela. Aioria caiu por cima de alguém que estava usando o mesmo tipo de vestimenta que Shaka, mas logo, notou seu grande equívoco.

— Você não é o...

O coração de Aioria disparou com a visão que teve: os fios lavandas do guardião da Primeira Casa, haviam se desprendido do laço e forraram parte do chão aonde ele havia caído, e sua face alva ganhou um lindo e rubro tom vermelho.

Continua...





[1] Nota [haverá spoiler do anime – sobre a identidade de Ares]: Sei que não é agradável ler notas no meio do texto (ainda mais uma enorme como essa), mas vou precisar fazer essa inserção aqui para explicar porque o antigo Grande Mestre não está morto aqui, como na primeira versão que escrevi de Alvorecer. Bem, eu estou seguindo a cronologia do anime, que todos os fãs mais devotos de Saint Seiya sabem existir vários arrombos no enredo. Um deles está exatamente na parte que se refere a posse de Ares como Grande Mestre. No anime, Ares já está no posto do Grande Mestre desde o atentado de “Aioros” contra Athena, correto? No entanto, há uma tremenda de uma incoerência aí, que gerou controvérsias quanto a Ares está no posto de Grande Mestre desde a época do atentado. A confusão iniciou-se na entrega da armadura de Pégaso para o Seiya. Aparentemente, o mestre que entregou a armadura de Seiya não é o mesmo que atentou contra a Athena bebê. Existem duas explicações para isso. A primeira (acho que é essa que o anime quer que acreditemos) é que quem fez a entrega da armadura do Seiya era o mesmo Ares do atentado. A diferença é que ele estava “possuído” pelo seu lado bom, já que a maioria sabe que Ares na verdade foi morto pelo Cavaleiro de Gêmeos (Saga) e que Saga (que tem dupla personalidade) assumiu a identidade de Ares. Mas se seguirmos essa linha de raciocínio, como Ares (Saga) anunciaria mais tarde (na época do Torneio Galáctico) a morte do antigo mestre, se esse antigo mestre, já era ele?

Bem, é por todo esse nó, que preferi seguir a segunda explicação, que é um pouco mais coerente e que foi aberta graças a The Lost Canvas. Shion ainda é o grande mestre desde a última batalha há 200 anos, mas por algum motivo (eu usei o de saúde) ele está ausente do posto do Grande Mestre e quem o está substituindo (isso inclui a época do atentado) é Ares - seu mestre auxiliar. Mas quando ocorreu a batalha para definir o cavaleiro de bronze de Pégaso, Shion surge (recuperado do estado fraco de saúde) para fazer a entrega da armadura de Seiya. Algum tempo depois (no período do torneio galáctico), ele é assassinado por Ares, que assume de vez o posto de Grande Mestre.

Já que a morte de antigo Grande Mestre (Shion) foi anunciada, não haveria motivos para Marin se surpreender ao encontrar o corpo dele em Star Hill quando ela decide investigar o ‘novo mestre’, certo?

Então, ela se surpreende porque o corpo que ela encontra lá na realidade era o do verdadeiro mestre auxiliar: Ares. Descobrindo assim, que o posto mais importante do Santuário estava sendo ocupado por um falsário. Que todos nós vamos descobrir no final da “Batalha das Doze Casas” que é o Saga de Gêmeos. (avisei que tinha spoiler). Mas deixo claro, são só teorias para justificar o meu enredo da fic, não é nada oficial. Acho que nem o Kurumada saberia tampar tanto buraco. Voltemos a história.



[2]Essa referência é ao mangá nº 03 dos “Cavaleiros do Zodíaco episódio G”. Após algumas missões, a armadura de Leão está muito danificada e Aldebaran leva Aioria para conhecer o único ferreiro capaz de consertá-la, no caso, o Mu.



[3] Kurta — (também Kurti para uma versão mais curta usada por mulheres) é uma vestimenta tradicional no Afeganistão, Bangladesh, Índia, Paquistão e Sri Lanka. É uma camisa solta com o cumprimento usualmente abaixo dos joelhos ou até altura deles, e é usado por homens e mulheres.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Leia Também

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...