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[Saint Seiya] Alvorecer - Capítulo 4, escrita por Andréia Kennen

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Autora: Andréia Kennen
Fandom: Saint Seiya
Classificação: 18 anos
Gêneros: Drama, Romance, Yaoi.
Resumo: Aioria de Leão x Mu de Áries. Mu de Áries é convocado para ir até o Santuário consertar as armaduras que serão entregues a nova geração de cavaleiros de bronze. Antes de partir, ele decide verificar as condições da armadura do Cavaleiro de Leão, a qual ele havia consertado há algum tempo, é então que surge um estranho desejo entre Aioria e ele.

Alvorecer

Capítulo 4

Ao notar o equívoco que cometera, a fala do leonino desapareceu junto com o seu fôlego.

— Desculpe-me? — pediu, ao se recuperar do choque, saindo rapidamente de cima do jovem tibetano e estendendo-lhe em seguida a mão, para ajudá-lo a se levantar.

— Sou eu quem lhe peço desculpas por atrapalhá-lo em seu trabalho, Aiolia — disse Mu, aceitando a ajuda do colega e se pondo de pé.

— Não, não. Fui eu quem cometeu um engano. Não era minha intenção avançar em você, Mu. — Aiolia quis se justificar da mesma forma. — Eu pensei que fosse o...

— Shaka? — interrompeu Mu, pois sabia que o único capaz de se locomover através de dimensões como ele, era o protetor da Sexta Casa.

— Isso — Aiolia concordou, assentindo também com a cabeça. — Assim como você ele tem o poder de se teleportar. Shaka estava aqui há pouco, me incomodando... digo, me fazendo companhia.

Mu achou estranho o embaraço de Aiolia.

— Não precisa se justificar.

— Claro que não. Nem sei por que estou fazendo — concordou e desviou o olhar para o teto ao coçar a nuca, na tentativa de disfarçar seu acanhamento. — Então? O que está fazendo aqui? Se estiver a procura do Grande Mestre, sinto em dizer que...

— Ele não está — Mu interrompeu Aiolia novamente. — Eu sei — concluiu, abaixando o olhar para o chão.

Aiolia franziu o cenho, demonstrando-se confuso então.

— Se não está a procura do mestre, então o que é?

— Eu vou embora amanhã... — Mu disse e continuou fitando o chão, como se procurasse algo no piso de pedra cinzenta do corredor. — Eu queria vê-lo — confessou por fim e não pôde perceber o sobressalto que causara no Leonino. Porém, reparou a frase na sequência, ao perceber por si que ela tivera um sentido dúbio: — Digo... Ver como está a armadura que consertei.

Um tanto mais aliviado, Aiolia sorriu abertamente e, brincando com as sobrancelhas, erguendo uma e depois a outra, perguntou:

— O que é isso? Algum tipo de garantia pós-conserto?

— Chame como quiser — Mu rebateu áspero. — Então, eu posso? — perguntou ainda em seu tom concentrado, apontando para a armadura.

Notando que o colega estava sério sobre a pergunta, Aiolia assentiu.

— Sim. Quer que eu a tire?

— Para analisá-la não é necessário — Mu explicou e tomou distância de Aiolia, dando alguns passos para trás. Em seguida ele ergueu as duas mãos abertas na direção do cavaleiro e uniu as pontas dos dois dedos polegares e indicadores, criando um vão em forma de triângulo entre as duas mãos, pelo qual ele condensava seu poder paranormal, capaz de fazê-lo visualizar os danos interiores da matéria prima da amadura dourada.

Aiolia se sentiu um pouco incomodado ao notar a expressão austera no rosto de Mu e para aliviar um pouco a tensão, brincou novamente:

— Isso não é um tipo de visão de Raios-X, é?

Mu, que estava concentrado na avaliação, se deteve, olhando com a feição ainda mais endurecida para o homem a sua frente.

— Esta insinuando que eu quero vê-lo nu, Sr. Capitão?

Aiolia sorriu abertamente e coçou a nuca.

— Só estava tentando quebrar essa sua pose tão séria — justificou.

Porém, além de ignorá-lo, retomando sua análise, Mu pediu para que Aioria se virasse.

Desta vez, após suspirar, o leonino obedeceu em silêncio.

— Pronto. Está com algumas rachaduras leves — Mu disse, ao concluir a verificação. — Mas levando em consideração o dono, e o último estado em que a vi, podemos dizer que ela está em ótimas condições.

Aiolia se voltou para Mu.

— Não sei se considero um elogio... De qualquer forma, obrigado.

— Não quer que eu repare as rachaduras? Não são muitas. Não vai levar muito tempo.

— Quer que eu tire a armadura agora?

Apesar do tom da pergunta de Aiolia remeter a ideia indecente de que Mu estava pedindo para que ele ficasse nu, o tibetano manteve a oferta, respondendo a pergunta de maneira profissional.

— Se sentirá mais a vontade, tenha certeza. O pó de estrelas costuma deixar os seres humanos tontos, como se estivessem ingerido uma grande quantidade de álcool. E como eu disse antes, não quero atrapalhá-lo em sua missão.

Aiolia tornou a suspirar, certamente entediado com a reação pouco divertida de Mu. Mas obedeceu ao pedido do amigo. Fechou os olhos, cerrou os punhos com força e abriu os braços. Segundos depois, todas as peças da armadura se desprenderam do seu corpo de uma única vez e voltaram a se juntar, como se fossem guiadas por um magnetismo provindo delas mesmas, formando no chão a estátua de um perfeito e impetuoso leão.

Em seguida, o leonino retomou seu posto diante da porta. Sentou-se em silêncio e ficou assistindo Mu trabalhar. Primeiro, viu Mu retirar do cinto uma pequena bolsa de couro, a qual ele desamarrou a boca e despejou o conteúdo na palma da mão. Deduziu que aquele era o tal “Pó de Estrelas” que era capaz de embriagar um ser-humano tal como o álcool. Aldebaran havia lhe explicado uma vez, na primeira viagem que fizeram para se encontrar com Mu em Jamiel, que aquele era uma matéria-prima especial, que somente os ferreiros de armaduras usavam.

Aiolia voltou a atenção para o cavaleiro defensor da primeira casa, que após soprar o pó brilhante sobre determinadas partes da armadura, voltou a amarrar a boca do saco e guardá-lo no cinto.

Depois disso, Mu concentrou sua cosmo-energia, fazendo-a eclodir pelas palmas de suas mãos. O pó de estrela em contato com a cosmo-energia começou a reluzir. Passado alguns segundos, da mesma bolsa que tinha na cintura, o ariano retirou duas ferramentas — pareciam pequenos martelos — e passou a manipulá-las, golpeando-as sobre determinadas partes da armadura, fazendo o metal tilintar. Aiolia ficou hipnotizado com a cena. Os fios lavandas dos cabelos de Mu escaparam do arranjo que os prendiam e caiam-lhe delicadamente no rosto. O pó reluzente se erguia como poeira e dançava em torno do belo rosto do Ariano. As bochechas dele ganharam uma cor rubra muito suave e o cavaleiro de Leão percebeu que a intensidade da cor aumentava conforme os dedos de Mu percorriam o metal nobre da armadura em partes especificas: como os ombros, as patas e o peito. Estranhamente o leonino sentiu como se seu ar estivesse sendo roubado, igualmente ao dia no banho, quando se masturbou ao recordar exatamente daquela beleza exótica que Mu exalava.

Seu coração aumentou as batidas quando viu os dedos de Mu tocando mais delicadamente as peças de sua vestimenta dourada, como se estivesse acariciando-as; muito pior, como se aqueles dedos finos e angulados tivessem passeando por cima da sua própria pele. Precisou fechar os olhos e buscar um ponto de equilíbrio qualquer. Advertiu-se mentalmente sobre sua imprudência de fantasiar algo daquela forma obscena em um momento tão inoportuno. Arriscando-se a ter sua excitação descoberta por Mu.

Mas não foi capaz de evitar a tentação por muito tempo. Reabriu os olhos e sentiu seu hálito ressecar a boca ao sair depressa dos lábios entreabertos. Umedeceu-os devagar, passando a ponta da língua, com cuidado para não ser visto. As mãos do tibetano agora massageavam com firmeza o torso da armadura e imaginou que tudo que Mu fazia em sua armadura lhe remetia a ideia das preliminares do ato sexual.

Foram minutos estranhamente tortuosos.

Quando o Cavaleiro de Áries finalmente terminou, Aiolia tentou arrumar a camisa por cima da calça e evitar que o volume desperto entre suas pernas fosse notado.

— Está pronto — avisou o ferreiro ficando de pé e limpando o suor da testa com um das mãos.

Imediatamente Aioria se pôs de pé e chamou a vestimenta que sobrepôs seu corpo, encobrindo principalmente aquela parte que desejava muito esconder.

Mas ao notar a armadura brilhar e reluzir sobre seu corpo, o leonino pôde finalmente relaxar e mudar o foco dos seus pensamentos libidinosos.

— Parece ótima, Mu. Novamente não saberei como agradecê-lo.

Mu sorriu pela primeira vez para o capitão das tropas naquele dia.

— Essa cara que está fazendo já vale o pagamento, Aiolia.

— Se uma cara de satisfação é o suficiente para quitar um trabalho tão bem feito, irei fazê-las quantas vezes quiser.

Mu manteve o sorriso no rosto por mais alguns segundos, mas esse logo se desfez ao encarar a porta atrás do leonino.

— Ele realmente não está aí, não é, Aiolia?

Aiolia olhou por cima do seu ombro e por um segundo imaginou que o defensor do Primeiro Templo do Santuário não havia se prestado ao trabalho de um reparo totalmente de graça. Ele poderia estar querendo comprar sua confiança? — se fez essa pergunta, fechando o cenho levemente. Todavia, ao se voltar para Mu e notar sua feição meiga entristecida, se repreendeu por ter uma mente tão repulsiva. “Mu não é esse tipo de pessoa. Ele é bom e inocente de verdade”, pensou.

— Não, ele não está — confessou Aiolia, suspirando. — Sinto muito. Ares é o irmão do seu mestre, não é?

Não houve uma resposta. O leonino somente notou que os olhos do amigo cresceram em surpresa. Havia também certo brilho aquoso margeando-os. Mu voltou a fitar o chão. Era como se sua expressão alternasse entre o peso de se manter sério quanto a sua posição de cavaleiro e ferreiro e o desejo de matar as saudades do seu mestre. O mestre, que na maioria das vezes, era a única família que muitos deles tinham. Aiolia sentiu vontade de abraçá-lo naquele instante, porém, obviamente, que não seria ousado a esse ponto. Por isso, apenas se aproximou de Mu e tocou em um dos ombros dele.

— Ele tem uma grande responsabilidade sobre seus ombros, Mu. Administrar o Santo Templo e velar por nossa deusa não são tarefas nada fáceis. Dê um crédito a ele.

Mu ergueu os olhos para encarar Aiolia e assentiu; afastando as lágrimas que ameaçavam cair com as pontas dos dedos. Por mais que quisesse compartilhar aquele segredo com alguém, não tinha permissão. Era uma dor que deveria ser somente sua. Mas ficou aliviado com as palavras gentis de Aiolia. Como imaginou desde quando o conhecera, ele era um guerreiro bom e honesto, assim como Aldebaran. A diferença entre os dois era que Aiolia não sabia muito bem demonstrar seus sentimentos e acabava que de vez quando soava rude e grosseiro.

— Obrigado. Desculpe-me por essa cena de sentimentalismo barato.

— Não acho que seus sentimentos para com seu mestre sejam baratos, Mu. Ao contrário. São lindos. Tanto quanto vo-... !

Aiolia se refreou bem a tempo de evitar o constrangimento de declarar que achava Mu bonito. Mas o cenho levemente franzido do ariano denunciava que ele havia entendido o que ele Aiolia quis dizer, ou, ao menos, desconfiado.

— Como?

— Você vai voltar para Jamiel amanhã, não é mesmo? Espero revê-lo em breve. — Aiolia tentou reparar a gafe desviando o assunto; deu tapinhas nos ombros de Mu e sorriu exageradamente. — Obrigado mais uma vez por seus serviços!

Apesar de ter ficado confuso, Mu assentiu.

— Obrigado. Até a próxima.

Antes de desaparecer, Mu se deteve; pensativo. A verdade era que tinha em mente um pedido a fazer ao amigo. Mas ainda lhe faltava coragem.

— Aiolia...?

O Cavaleiro de Leão ficou aguardando a continuação da fala de Mu, mas como ela não veio, ele perguntou:

— O que foi?

— É que...

— Fala logo, Mu! Está me deixando impaciente!

— Eu posso passar essa noite na sua casa?

A pergunta realmente pegou Aiolia de surpresa. Ele estava preparado para qualquer coisa, como: “Pode abrir a porta para eu ter certeza que o mestre não está aí?”; “Posso deixar um recado com você para o mestre?"; “Posso lhe pedir um abraço de conforto?” — essa última foi mais o desejo do próprio Leonino do que algo que Mu pediria realmente. Mas o fato era que: o pedido o pegou desprevenido e ele precisava que Mu o repetisse, pois ele parecia tão descontextualizado que achou que fosse uma peça da sua mente.

— Eu não compreendi seu pedido, Mu. Como é?

Mu pareceu vacilar em repetir. Mas ele engoliu em seco e tentou explicar.

— Desde que cheguei eu não consegui ter uma boa noite de sono no primeiro templo. O lugar está repleto de lembranças do meu mestre e é como se eu ficasse vendo fantasmas do passado desfilando na minha frente o tempo todo. Parece algo tolo para um homem adulto dizer, mas a verdade é essa. Eu terei que me teleportar para muito longe amanhã e preciso ter uma boa noite de sono para repor as energias e conseguir chegar ao meu destino sem problemas. Eu poderia pedir para o Deba, mas... Ele anda agindo estranho. Até tivemos um princípio de discussão hoje cedo.

— Ele gosta muito de você — Aiolia respondeu automaticamente, se compadecendo mais de Aldebaran, o qual sabia os motivos dele estar “agindo estranho”, do que da insônia de Mu propriamente.

— Eu sei.

“Não, não sabe.” foi o que Aiolia queria responder. Todavia e, evidentemente, aquele não era um problema seu. Não era da sua conta e não iria intervir a favor do sentimento de Aldebaran. Fora que, pensar em Aldebaran e Mu passando a noite juntos na mesma casa, quem sabe no mesmo cômodo ou, indo mais além, dividindo a mesma cama, fez o estômago de Aiolia se contorcer. Ele sacudiu a cabeça fortemente e afastou seus pensamentos que começavam a tomar um rumo perigoso.

— Se o pedido não for muito abuso da minha parte...

— Eu estou passando as noites aqui — Aiolia o interrompeu. — É o mínimo que posso fazer por você. Fique lá e descanse.

Mu sorriu.

— Dormirei no chão ou no sofá. Não se preocupe, não mexerei em nada.

— De forma alguma! — Aiolia exclamou com um cenho endurecido. — Use a minha cama.

Mu continuou sorrindo, gentilmente, um sorriso que fez o estômago de Aiolia aumentar o revirar.

— Obrigado, meu amigo — ele disse e logo despareceu.

Aiolia soltou os ombros e suspirou profundamente. Imaginou que quem não conseguiria pregar os olhos aquela noite seria ele, enquanto fantasiava com Mu deitado em sua cama. Talvez, vestindo pouca roupa, ou, com sorte, sem roupa alguma, se resfolegando e impregnando com seu doce aroma os lençóis brancos de sua cama.

Continua...

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