Capítulos: 1 2 3 4 5
Autor: Anita
Série: Phoenix Wright
Gênero: Romance, investigação, shounen-ai, Em Capítulos.
Status: Completa
Resumo: Com trabalho extra após uma viagem, Miles resolve contratar Phoenix para realizar uma investigação.
Notas Iniciais:
Autor: Anita
Série: Phoenix Wright
Gênero: Romance, investigação, shounen-ai, Em Capítulos.
Status: Completa
Resumo: Com trabalho extra após uma viagem, Miles resolve contratar Phoenix para realizar uma investigação.
Notas Iniciais:
Esta história se passa alguns meses após o término de Trials & Tribulations e do primeiro jogo do Miles. Contém ainda alguns spoilers de Apollo Justice, mas nada muito sério, apenas temas do pano de fundo do jogo como a atual situação do Phoenix e a Trucy. Eu não usei nada do segundo jogo do Miles, pois nunca o joguei. O que usei do primeiro é apenas a Kay, ou seja, vocês não precisam conhecê-lo, não há spoilers de lá. Se você nunca leu Phoenix Wright, mas não se importa com spoilers, imagino que não terão problemas para seguir esta história.
Por fim, agradecimentos à Vane por revisar a fic para mim e à Nemui pelo prompt.
Olho Azul Apresenta:
Refrescante
Capítulo 5 – A Reviravolta
Nick mordeu os lábios. Tudo parecia haver desmoronado justo quando Edgeworth os pusera diante do culpado. Nick sabia que era aquela mulher no banco de testemunhas.
Agora o juiz apenas esperava ver que a defesa não possuía mais nada para dar sua sentença contra Mary White. Ele, que sempre decidia acertadamente no final das contas, não poderia fazer nada quando faltavam aos autos as provas que Nick deveria haver recolhido no dia anterior.
- A defesa tem algo a acrescentar com relação ao vídeo e ao testemunho? – perguntou o homem, olhando para o promotor que nesse dia estava do lado oposto, auxiliando a defesa.
Houve um silêncio pesado. Nick estava pronto para dizer qualquer coisa que lhe viesse à cabeça. Sua experiência provara que até dois segundos podiam ser significativos para um julgamento. Mas nada. As lembranças de seu outro julgamento, quando menosprezara o promotor e ainda lançara uma prova sem nem saber direito de onde viera, pesavam.
- Sim, Meritíssimo - afirmou Edgeworth, para a surpresa de Nick, que apenas olhava para todos os lados, sem saber como blefar mais. - A defesa gostaria de saber a que horas a senhora Tumen chegou ao hotel. Vimos um bom tempo da fita e em nenhum momento ela entrou em seu quarto. Contudo, o momento do check-in começou apenas meia hora antes da chegada da vítima e da ré.
- Pois bem, a que horas a senhora chegou ao hotel?
- Oh... Eu não lembro bem. Mas cheguei bastante cedo. Sabia que o senhor Kanshuu me deixaria entrar no quarto.
- Então, a senhora já havia estado lá.
- Sim, algumas vezes. Craig e eu nos encontrávamos muito lá...
- E qual a sua relação com o senhor Kanshuu?
- Protesto! Não vejo qual é a relevância disso, Meritíssimo.
- Concordo com o senhor Payne. O senhor Edgeworth acha que há importância na relação entre o senhor Kanshuu e a senhora Tumen?
- Sim. Pois a senhora Tumen sabe com detalhes os pontos cegos da câmera. Algo que minha cliente não sabe.
- Eu o conheço porque fico hospedada ali com frequência.
- Eu gostaria de lembrar que a testemunha está sob juramento e que deve dizer a verdade. – Edgeworth parecia fingir olhar seus papéis, falando de maneira tranquila. – A senhora mantém relações com o senhor Kanshuu?
Novo burburinho. O juiz bateu o martelo pedindo silêncio e olhou para Edgeworth:
- De onde veio essa ideia, senhor Edgeworth?
- Estou lendo nos autos que havia duas xícaras de chá no quarto, oferecido pelo senhor Kanshuu. A ré se sentiu mal pouco depois de tomá-lo. A vítima não ofereceu resistência aos ataques. Eu sugiro que o senhor Kanshuu ensinou à senhora Tumen a localização dos pontos cegos das câmeras e pôs sonífero no chá da vítima e de sua acompanhante. A intenção da senhora Tumen era encontrar os dois dentro do quarto, como se fosse um encontro a três planejado, e fazer parecer que a ré atacara a vítima e até ela mesma, sua amante, ao ouvir o motivo de estarem ali. Os dois brigaram, um matou o outro e se matou. Contudo, a senhorita White saiu do quarto antes disso. Então, a senhora Tumen teve uma ideia muito melhor: faria parecer que a ré matara seu ex-marido, e então, ela seria condenada e morta.
- Mas por que a senhora Tumen faria tudo isso quando ela mesma estaria com seu nome registrado no hotel?
- Eu imagino que um dos assuntos que o senhor Tumen pretendia conversar com ela era exatamente sobre a paternidade da criança. Afinal, para a senhora Tumen agir tão furiosamente assim, mais que ciúmes da senhorita White, ela sabia que perderia tudo quando a vítima descobrisse que não era o verdadeiro pai da criança. Infelizmente, não tenho como provar todas essas afirmações no momento. Mas um teste no chá e um exame de DNA deverão ser o bastante para destruir a teoria de que a ré é a culpada. Afinal, ela não teria por que tomar um sonífero, e havia apenas mais uma pessoa naquele hotel para quem o senhor Tumen abriria a porta e que poderia estar usando uma yukata.
Nick viu a senhora Tumen mudar de atitude. Como já vira muitas testemunhas e tantos criminosos fazerem após todo o seu plano ser desvendado.
- Vocês não têm provas! Não podem me acusar sem provas! Não mesmo! Vocês não têm como saber, mesmo que eles tenham sido sedados!
- Infelizmente, não é o dever deste julgamento condená-la, senhora Tumen. Apenas declarar que Mary White é inocente. As provas virão a seu tempo. Eu me certificarei disso. – Edgeworth cruzou os braços e olhou para o juiz.
O homem de toga se recuperou e Nick prendeu a respiração, olhando para um Edgeworth estranhamente calmo.
- Bem, eu imagino que a polícia esteja providenciando um teste no chá neste momento, senhor Edgeworth. Contudo, não pretendo esperar esse resultado para encerrar o presente caso, já que a defesa foi clara ao dizer que não há qualquer prova que ligue o homicídio de Craig Tumen às ações de Mary White, que estava provavelmente inconsciente em um ponto do corredor invisível para as câmeras. Desta forma, absolvo a ré das presentes acusações.
Com a batida do martelo, alguns dos poucos fios de cabelo de Payne voaram pelo ar. Nick saltou sobre Edgeworth, não conseguindo conter o alívio, e começou a pular a seu redor:
- Você conseguiu! Nossa!
Edgeworth lhe devolveu um olhar estranho. Ele o estava repreendendo por abraçá-lo? Justo ele que o beijara? Mas fazia sentido: Edgeworth sabia que Nick havia ignorado detalhes importantes do caso por não haver levado a sério seu posto como investigador particular. Ele sabia que o caso teria sido muito mais limpo e perfeito se Nick houvesse feito um trabalho ao menos razoável.
Então, ele se afastou do promotor e apenas se virou a fim de parabenizar Lawson pelo caso e agradecê-lo por tudo.
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
Miles olhou para as costas de Wright, sem saber como reagir. Algo estava errado e ele sabia que era o culpado.
No início, parecera uma boa ideia. Wright estava desempregado, Miles precisava de alguém com experiência para ajudá-lo... Por que não contratar Wright para trabalhar naquele caso? Se tudo desse certo, até para os próximos que fossem difíceis demais. A paixão do ex-advogado pela justiça era, com certeza, muito maior que a de Gumshoe por seu salário. Se os dois trabalhassem juntos, então, tudo seria muito menos cansativo para Miles, que poderia apenas se encarregar da papelada e de fazer um bom trabalho de argumentação no tribunal. Wright era um homem íntegro, confiável, que ele admirava por muitas razões além dessas.
E agora, Miles percebia que pisara na dor de seu amigo. Ele esfregara na sua cara tudo aquilo que Wright, sem explicação, e certamente sem merecer, havia perdido em um piscar de olhos. Ele estava bem, havia adotado uma menina saudável que animaria seus dias mais tediosos, tinha conseguido algum tipo de emprego, apesar de Miles não entender como, e até renovara o círculo de amizades com Kristoph Gavin, um respeitado advogado. Uma vida em que não havia lugar para o próprio Miles. Ainda assim, o promotor forçara sua entrada, oferecera dinheiro e até usara Trucy Wright para convencê-lo a voltar à sua antiga vida, só que de outra forma, não mais no topo como antes.
Miles levou as mãos aos cabelos, sacudindo-os como se pudesse fazer o tempo voltar.
- Nossa, o senhor foi demais! – ouviu alguém lhe gritar.
Abriu os olhos para encarar a pequena Trucy, dando-lhe um sinal de positivo. De repente, seu chapéu voou e, a seu lado, encontrava-se o senhor Chapéu:
- Muito bom mesmo! – disse o boneco, antes de sumir quase que magicamente na cartola da menina.
- Acho que não estive aos pés de seu pai, Trucy. Não fosse por ele, eu nunca teria tempo de sequer olhar direito a cena do crime... Nunca veria as xícaras de chá, ou tentaria saber de onde elas teriam vindo.
- Meu pai é muito bom, né? Talvez devamos mudar o nome da agência para incluir serviços de investigação!
Miles riu baixinho, mas balançou a cabeça:
- Acho que Wright não gosta muito de bancar o detetive.
- Tem certeza, senhor Edgeworth? – Trucy olhou pensativa para o pai, que ainda conversava com Lawson e Mary White. – Pois eu nunca vi meu pai realmente agir em algo. Sabe, ele só toca piano por causa do pôquer do bar, e sou eu quem normalmente o ajuda com o pôquer. E ele nem liga para nada.
- Você disse pôquer? Que você o ajuda?! – Miles deu alguns passos atrás.
- A gente sempre ganha! Mas não ganhamos muito com isso! Não se preocupe, senhor Edgeworth! – Trucy voltou a olhar para Wright. – Eu sinto que papai só fica realmente feliz quando bebe seu suco de uva. Mas hoje eu vi que há algo que faz os olhos dele brilharem ainda mais.
- Hm... Ainda assim, Wright não me parece nada feliz no momento.
- Mas isso não tem nada a ver com o julgamento, né? É que vocês dois brigaram! Ninguém fica feliz quando briga com quem ama. Nem o senhor parece feliz, ainda que tenha ganhado hoje, senhor Edgeworth!
- Como?
Mas a menina já havia ido falar com o pai, parabenizá-lo e ainda tentar mais uma vez descobrir o “truque” de Mary White.
Como alguém tão pequena podia ter uma percepção tão aguçada sobre as pessoas? Wright não teria contado, certo? Sobre o beijo... Miles levou a mão aos lábios mais uma vez. Aquilo estava virando hábito, sem dúvida. Era só que sua boca estava tão seca que doía...
Miles andou lentamente para fora do fórum. Era um dia de verão bastante claro, a ponto de lhe queimar os olhos. Talvez ele pudesse andar até o parque e relaxar um pouco. Ultimamente, ele vinha emendando um trabalho ao outro... Não lhe faria mal desfrutar uns momentos ao ar livre.
Assim, ele também poderia caminhar de vez para longe da nova vida que Phoenix Wright conseguira para si. Ainda que as palavras daquela pequena menina lhe ecoassem na mente...
Wright nunca parecera tão feliz quanto durante o julgamento... Seria verdade? Pois, para Miles, seu amigo nunca lhe parecera ter o coração mais partido do que quando o julgamento, enfim, terminara.
- Ah... – disse Miles, ao sentir umas gotas geladas no rosto. - Está chovendo.
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
Miles olhou para cima de sua pilha de pastas de processo. Elas haviam aumentado consideravelmente, já que ele ignorara a primeira leva para se concentrar no caso de Mary White. Ademais, chegaram todos os processos acumulados quando ele estava viajando e os próximos em que ele deveria trabalhar.
Havia muito a se fazer...
Por isso, ele demorou a olhar para a pessoa que entrava em seu gabinete.
E também porque ele espirrou.
- Você não me parece bem! – Era Wright, com barba por fazer, seu moletom e seu chapéu colorido.
- É só uma gripe... Eu estava andando um pouco depois do julgamento e fui pego por uma tempestade. Ou, então, é a gripe que o detetive Gumshoe tinha naquele dia que passou para mim. – Miles abaixou de novo o olhar para não encarar o homem.
- Bem, Trucy disse que queria me ver.
- Como?
- Minha filha, não se lembra dela?
- Claro que me lembro! Só não sei o que ela quis dizer com isso.
- Bem, Trucy disse que você esteve lá em casa ontem, logo depois que saí para comprar mais suco.
Miles sabia disso: fizera questão de esperar por horas até Wright sair, para que ele pudesse bater na porta e deixar com a menina o dinheiro pelos serviços prestados.
- Eu não disse que queria te ver. Apenas fui deixar seu pagamento. Que outro assunto eu teria com você?
- Oh.
O promotor olhou de soslaio para verificar a expressão que o outro estaria fazendo, pois sua resposta havia soado muito mais rude do que ele tencionara. Contudo, Wright apenas parecia levemente desapontado. A sensação que prevalecia era a de não saber o que mais fazer naquela sala.
- Então... eu já...
Miles queria impedir que ele completasse aquela frase. Aquela era a desculpa ideal para que se vissem a sós, para conversarem sobre tudo o que ocorrera. Mas, ao mesmo tempo, ia de encontro à sua resolução de respeitar o novo estilo de vida do amigo. Segurá-lo ali e discutir o que já era passado era o mesmo que fazê-lo passar por toda aquela dor mais uma vez.
Ainda assim, ele daria tudo para ter um motivo para retê-lo ali...
Sentiu o movimento do outro em direção à porta. Esta se abriu. E se fechou. Miles fechou os olhos, segurando-se para não correr atrás dele. Mas... quanto mais longe Wright ficasse dele, mais difícil seria ir procurá-lo. Prova disso fora aquela noite no bar onde ele trabalhava como pianista - e jogador de pôquer, segundo Trucy lhe dissera. Miles chegara bem perto dele, apenas para parar no momento em que vira Kristoph, a pessoa que fazia parte da nova vida de Wright; a vida fora da qual ele havia sido deixado.
Por isso, ele tinha que agir. Não sabia bem o porquê. Não havia decidido que o próprio Wright preferiria construir uma vida sem ele? Sem os tribunais? Mas... Miles não aguentaria, ele não podia permitir isso!
Levantou-se e começou a correr. Tinha que abrir logo a porta, para alcançá-lo!
Mas algo o impediu de sair de seu gabinete. Algo estava em seu caminho.
- O que está fazendo? – perguntava Wright, ainda de pé ao lado da porta, com a mão na maçaneta. - Está fugindo? – Seus olhos estavam enormes.
- Eu... Não! Não é isso! – Miles olhou confuso para a porta e então para o amigo.
Então, percebeu o quão próximos os dois estavam. Exatamente em seu gabinete, onde eles haviam... Sentiu seu corpo agir instintivamente, diminuindo ainda mais a distância entre suas bocas.
Não!
- Você não tinha saído? – conseguiu continuar, ainda que atropelando as sílabas. - Quando voltou?
Wright devolveu-lhe uma expressão confusa:
- Eu... ia sair, mas...
- Eu ouvi a porta! Você saiu, sim!
- Eu a abri, mas voltei... – Wright olhava para seus pés.
Como ele não percebia o quão próximos estavam? Não tinha medo? Depois de ser atacado daquela forma, como ele podia não temer ser beijado mais uma vez? Miles abraçou-se, sentindo um calafrio só em se lembrar novamente daquela noite.
- Eu queria me desculpar.
- Quê? – perguntou Miles, levando a mão à própria boca para se assegurar de que não fora ele quem o dissera. Em vez disso, ele tossiu.
- Você está bem mesmo? – Wright estava genuinamente preocupado.
- Claro, claro. Mas por que você quer se desculpar?
E o outro gargalhou, pondo as mãos atrás da cabeça:
- Eu fiz o trabalho pela metade, larguei-o sem conseguir nada. Não sei se mereço o seu pagamento, Edgeworth. Mas aí você deixou o dinheiro com a Truce e ainda pediu para eu vir vê-lo... Eu achei que você... Ah, não é nada. Escuta, por que não se senta, que eu vou trazer água pra você? Também tenho um remédio muito bom aqui! Sabe, agora que sou pai e mãe da Truce, eu tenho que ser prevenido, né?
Miles sentiu-se ser guiado até a cadeira mais próxima e viu o ex-advogado andar por seu gabinete, buscando água e um copo.
- Você não tem por que se desculpar, Wright... – Miles olhou para sua mesa com estranha fixação. – Fui eu quem o tirou de sua nova vida. Achei que ia ser seu salvador, que o faria se reerguer. Ignorei completamente que, talvez, você não precisasse ser salvo. Você já tinha uma vida completa. – E ele murmurou: - Sem mim...
- Sem você?
Miles pulou da cadeira, quase caindo no chão e ainda derrubando algumas pastas de processo.
Wright então correu para pegar tudo, fazendo sinal para que o promotor continuasse quieto em seu lugar.
- Você ouviu errado! – gritou Miles, sabendo que seu rosto devia estar mais vermelho que a fúcsia de suas roupas. - Eu não disse nada disso!
- Ah. Bem que não fez muito sentido! – Wright riu-se, terminando de pôr as pastas de volta à mesa, com alguma surpresa no rosto. – Nossa, você parece ter multiplicado esses papéis em vez de terminá-los.
- É... Eles aumentaram mesmo...
- Agora, vou trazer sua água e te dar o remédio. Você está até vermelho de febre.
Miles imaginou se ele realmente achava que era febre a razão de seu rubor. Nisso, ele sentiu o rosto queimar ainda mais.
- Mas eu é que lhe devo desculpas, Wright... – retomou o assunto.
- Por me contratar? Você sabe como é difícil para duas pessoas se manterem nos dias de hoje? Não é como se eu ganhasse muitas gorjetas do piano! Não fossem os truques da Trucy, não teríamos nem o que comer... Eu só gostaria de haver feito por merecer aquele dinheiro. Mas não sou um detetive, Edgeworth. Eu esperava mesmo que pudesse continuar assim, ganhando um trocado por fora, mas... Bem, acho que todos os casos que ganhei foram porque eu acreditava em meu cliente e, por isso, sabia que cada testemunha da acusação estaria mentindo de alguma forma, que cada prova estaria sendo mal interpretada.
Miles refletiu sobre isso por um momento.
- Eu vim pronto para recusar qualquer oferta sua. Mas juro que eu estava hesitando, e acho que foi por isso que eu vim... Bem, no final das contas, foi tudo um mal entendido da Truce, né? Agora, tome isto! – Ele lhe entregou um envelope com pó medicinal.
- Mas você estava ótimo hoje... na mesa de defesa.
- Acho que é porque eu estava me sentindo o advogado da Mary White. Algo que eu não posso ser. Não do banco de acusação, não dos bastidores.
- Então... – Miles logo se lembrou de Gavin. – Que tal sermos amigos? – ele ofereceu sua mão. – Você é bastante próximo daquele Gavin, não é? Talvez, eu também possa... ser como ele...
Wright gargalhou, para a surpresa do outro.
- Não posso? – perguntou Miles, sentindo o peito doer.
- Não, não como aquele cara.
E o promotor baixou a cabeça, sem saber mais o que dizer. Não queria desistir, não era de sua natureza desistir assim, mas... temia forçar sua presença novamente na vida de Wright.
- Além do mais... não é meio estranho? Depois de você me beijar daquele jeito e fazer tanto por mim, sermos apenas amigos?
- Como?
Então, Wright o beijou. Ainda mais intensamente do que Miles havia feito dias antes.
- Wright... Phoenix... – Miles murmurou, abraçando o homem à sua frente, mexendo em suas roupas.
Ao interromperem o beijo, Miles estava sem fôlego, descansando a cabeça no peito do outro.
- Mas, realmente, Edge... Miles... eu não imaginava que estivesse tão disposto a me conquistar...
- Eu... não diria que estava tão disposto assim.
- Vamos, não minta! – Wright riu, abraçando a cabeça que estava em seu peito, mas parecendo olhar algo além do corpo de Miles. – Toda essa história de me contratar, quando sabia muito bem do trabalho desastrado de investigação que eu sempre faço!
- Não sei do que está falando. É verdade que sempre me importei muito com você, Phoenix. E me senti muito mal ao descobrir o que lhe aconteceu meses atrás. Mas nunca havia percebido meus sentimentos até aquela noite, quando o vi quase se partir na minha frente. Eu não consegui me segurar, precisava fazer algo! Esse foi o momento em que me percebi apaixonado por você.
- Está mentindo e sabe disso.
- Não estou! – Miles afastou-se até se apoiar no encosto da cadeira onde estava.
- Está.
- Você tem alguma prova de que eu nutria algum sentimento além de amizade por você antes daquele beijo?
- Tenho. E foi exatamente ela que me fez perceber tudo agora há pouco.
- Do que está falando?
Phoenix levantou-se apenas para se ajoelhar mais uma vez no lado oposto de Miles, onde as pastas de processo haviam caído.
- Estes livros! Que você comprou antes mesmo de eu ir ao hotel. Eu me lembro muito bem deles. Você quase se quebrou, contorcendo-se para que eu não os visse no carro naquele dia.
Miles sentiu seu sangue evaporar, enquanto Phoenix levantava a sacola da livraria, ainda com os livros dentro. Exceto por um deles. E uma ilustração do Samurai Steel triunfando sobre o Evil Magistrate brilhava.
- Eles... não são meus! Eu... Não...
- Mas realmente... Eu mal acreditei quando o vi ali, caído junto às pastas! Custou-me algum tempo até... como você diz? Juntar tudo em um processo lógico e consistente. – Phoenix apontou para a sua cabeça com um dedo.
- Realmente, não reconheço esses livros.
- Sabe, você ainda os tinha, mesmo depois de enviar os que a senhorita Von Karma pediu. E estava agindo de forma tão... protetora com eles. Juro que pensei que fossem outra coisa. Não livros do Steel Samurai!
- Outra coisa?! – Miles engasgou, sentindo-se corar ao imaginar o que Phoenix estivera pensando por tantos dias que ele comprara naquela livraria.
- De qualquer forma... Não é ir um pouco longe demais para me conquistar, Miles? Eu entendo você querer ser legal com a minha Trucy, sabe, levá-la para conhecer a mulher de que ela tanto falava ultimamente. Agora, comprar livros pra Maya, que está tão longe no treinamento dela! Aliás, como você lembrou que ela era tão fã do Steel Samurai?! Incrível... Ver estes livros fez com que eu me perguntasse há quanto você se interessa por mim, Miles... E você não pode negar!
O promotor sentiu seu maxilar pesar, mas ainda não conseguia fechá-lo.
- Eu estava pensando... Acho que eu não deveria, mas a Trucy ainda não conhece a Maya, e você se deu todo o trabalho de comprar estes livrinhos pra ela... Por que não vamos até a aldeia entregar pessoalmente?
- Os... livros? – Os livros raros que Miles achara após anos de procura?!
- Ela nem acreditará que você sem lembrou dela assim. Você sabe o quanto Maya sempre o admirou... Ainda mais depois de tê-la ajudado naquele processo da mãe dela.
Miles não estava se sentindo bem. Seus livros... Seus livros raríssimos! Dos episódios perdidos de Steel Samurai! Seriam levados para longe dele!
Mas Phoenix e ele mal haviam se entendido. Como Miles poderia contar a ele...? E... fora graças àqueles livros que...
Em seguida, Phoenix o beijou mais uma vez, sentando-se em seu colo, passando os dedos em sua nuca de uma forma que o deixou ainda mais tonto.
Os três livros do Steel Samurai caíram no chão, logo seguidos pelos dois homens, que já haviam se esquecido de sua existência por completo. Perdidos um no outro.
Fim!
Anita, 23/07/2011
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