Capítulos: 1 2 3 4 5
Autor: Anita
Série: Phoenix Wright
Gênero: Romance, investigação, shounen-ai, Em Capítulos.
Status: Completa
Resumo: Com trabalho extra após uma viagem, Miles resolve contratar Phoenix para realizar uma investigação.
Notas Iniciais:
Autor: Anita
Série: Phoenix Wright
Gênero: Romance, investigação, shounen-ai, Em Capítulos.
Status: Completa
Resumo: Com trabalho extra após uma viagem, Miles resolve contratar Phoenix para realizar uma investigação.
Notas Iniciais:
Esta história se passa alguns meses após o término de Trials & Tribulations e do primeiro jogo do Miles. Contém ainda alguns spoilers de Apollo Justice, mas nada muito sério, apenas temas do pano de fundo do jogo como a atual situação do Phoenix e a Trucy. Eu não usei nada do segundo jogo do Miles, pois nunca o joguei. O que usei do primeiro é apenas a Kay, ou seja, vocês não precisam conhecê-lo, não há spoilers de lá. Se você nunca leu Phoenix Wright, mas não se importa com spoilers, imagino que não terão problemas para seguir esta história.
Por fim, agradecimentos à Vane por revisar a fic para mim e à Nemui pelo prompt.
Olho Azul Apresenta:
Refrescante
Capítulo 4 – Julgamento
Parecia fazer uma eternidade que Nick não ficava na sala de espera para aguardar um julgamento. Nem havia se passado tanto tempo assim. Meses apenas.
Trucy entrara saltitando enquanto seguia os dois homens. Ela olhava para todos os lados, como se a mulher invisível pudesse estar em algum canto graças a seus truques. Era incrível como ela podia ficar assim, quando tão pouco tempo atrás, naquele mesmo lugar, seu pai...
- Lá está ele - a voz de Edgeworth interrompeu seus pensamentos a tempo. O promotor apontava para uma pessoa de terno, parada em uma posição desconfortável próximo à porta para a sala de julgamento.
- Ele quem?
- Senhor Lawson?
O homem voltou-se para os dois e seus olhos pareciam brilhar. Era apenas alguns anos mais novo, mas ele tinha um jeito bastante infantil. Nick poderia afirmar que certamente ele não atuara em muitos casos antes daquele.
- Senhor Edgeworth! Que bom vê-lo! Eu o estava esperando, sabe? E este é seu...
- Meu assistente, o senhor Wright. Onde está a senhorita White?
- A polícia irá trazê-la a qualquer momento. Eu a vi ontem bem tarde da noite, como lhe disse ao telefone. Não consegui falar com ela ainda depois disso.
- Bem, eu espero ser de alguma ajuda. – Edgeworth fez uma espécie de vênia, típica sua, que faria alguém se perguntar que tipo de treinamento ele recebera de Manfred Von Karma.
Antes que algo mais pudesse ser dito, Mary White apareceu algemada. Os guardas soltaram a corda que prendia suas mãos ao corpo e a deixaram diante de Lawson.
- Senhorita White, é um prazer revê-la. – Edgeworth fez nova reverência.
- Muito obrigada por tudo – ela abaixou a cabeça, dizendo-o para todos os três.
Nick sentiu uma pontada de culpa por haver desistido do caso na noite anterior. Por causa de sua confusão, muitas horas de preparo foram perdidas. E lá estava ele, jogado em julgamento. Exceto que... ele estava do seu lado de costume, ouvindo os conselhos habituais que um advogado dá a seus clientes antes de uma sessão.
Um sorriso amargo lhe veio aos lábios.
- Você se encontrou com mais alguém no hotel? – ouviu Edgeworth perguntar.
- Só me lembro do senhor que nos levou ao quarto com uma bandeja de chá gelado. Eu o bebi e ia tomar um banho quando notei que não havia trazido algumas coisas. Como o senhor nos havia comentado da pequena loja do hotel, fui lá comprar e foi ele mesmo quem recebeu o dinheiro. Não sei se éramos os únicos hóspedes...
- Não, havia ao menos mais uma pessoa - disse o promotor. - De acordo com as informações da polícia, eles chamaram uma testemunha que seria hóspede do hotel. Você não se encontrou com ela?
- Não, em momento nenhum.
Antes que Nick pudesse perguntar como Edgeworth soubera disso, todos foram chamados para o início do julgamento. Trucy havia corrido para algum lado e não teve chance de falar com Mary. Por isso, Nick prometeu-se, ao menos, fazer com que houvesse um recesso.
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
Para surpresa de Miles, o primeiro a testemunhar foi o detetive Dick Gumshoe, e não um amigo como ele mesmo lhe havia informado. O homem estava pálido e magro; seu testemunho foi ainda mais fraco que o normal. Tudo se apoiava nas câmeras de segurança.
Quando Miles fez o advogado principiante de Mary comentar que nada além da roupa ligava Mary à mulher de yukata que entrara no quarto pela última vez, Gumshoe perdeu o pouco de coerência que sua saúde ainda lhe deixara. E Payne, alguns fios de cabelo.
O testemunho de Ryo Kanshuu, por outro lado, não mudou muito o caso. Ele não vira nada. Estava na loja, conversara com Mary, vendera o tal kit, continuara na loja. Apenas soubera de algo errado quando a polícia entrara em seu hotel, dizendo haver ocorrido um homicídio ali. Quando perguntado se as fitas poderiam ser alteradas, o senhor disse que ele mesmo cuidava delas e que contratara uma empresa de respeito para fazer a instalação e manutenção. Então, acreditava que elas mostrassem a verdade.
Miles suspirou. A verdade era que nenhum dos dois lados tinha um caso sólido. Contudo, o juiz não parecia se lembrar do princípio da dúvida, em que o réu deveria ser inocente a não ser por prova irrefutável de sua culpa. A promotoria havia com sucesso feito com que a yukata se tornasse a identidade de Mary, quando aquela mulher não tinha o rosto voltado para as câmeras em momento algum e sumira logo após deixar o quarto com as roupas sujas. Por que apenas ele ouvia a dúvida gritando ali?
- Gostaria de mais uma pergunta, meritíssimo! – gritou Lawson, para espanto de Miles.
O que ele ia dizer? Miles nem estava prestando atenção a ele. Como ele pudera agir sozinho, após ouvir tantas vezes ao telefone que receberia ajuda apenas se aceitasse cooperar inteiramente? Em outras palavras, ele seria a voz de Miles naquela sala. Nada mais.
- Essa yukata é fornecida pelo seu hotel, senhor Kanshuu?
- Sim, senhor. – O senhor Kanshuu parecia confuso, olhando várias vezes para a mesa da acusação.
- Então, há várias iguais, certo?
- Sim...
- Então, essa pessoa poderia ser qualquer mulher que pegou uma yukata da lavanderia.
- Mas eu cuido pessoalmente de todas. Não dei por falta de nada, senhor advogado.
- O senhor olhou atentamente? Após um homicídio, não creio que as pessoas pensem em contar yukatas.
- Não temos muitos quartos senhor. E nunca estamos com lotação máxima. Eu daria falta de uma yukata, tenho certeza!
- E quantos hóspedes estavam no hotel naquele dia, senhor Kanshuu?
- Seis, senhor.
- Então, por que o senhor acha que, desses seis hóspedes, apenas a minha cliente poderia ser a mulher a entrar no quarto, quando ela claramente vinha de outra direção?
- Protesto, meritíssimo – Payne gritou, como quem tenta alcançar uma mesa alta aos pulos. - Certamente não existem mulheres invisíveis, mas a câmera de segurança possui vários pontos cegos. Não queria perder tempo com isso, mas peço para chamar um representante da firma responsável pela segurança do hotel.
O juiz assentiu algumas vezes.
- Pois bem, ouviremos a nova testemunha logo após um rápido recesso. A menos que a defesa possua alguma nova pergunta para o senhor Kanshuu.
Miles viu o advogado olhar de esguelha para Phoenix Wright. Então, fora dali que saíra aquela história das yukatas... Não fora um argumento magnífico, mas era reconfortante ver um pouco do estilo de Wright de volta.
O ex-advogado balançou a cabeça para Lawson. Seus olhos brilhavam, atentos a Winston Payne.
- Nada mais, meritíssimo.
Miles não conseguiu conter um sorriso. Só que, no fundo, havia nele um pouco de tristeza. Ele queria ter sido o causador daquele brilho no olhar de Wright. Levou os dedos à boca; seus lábios estavam ressecados.
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
Nick chamou Trucy assim que pôde. A menina havia esperado do lado de fora, correndo pelos corredores e, pelo jeito, assustando certo detetive com seus truques.
- Quando saí do meu testemunho, um senhor veio me perguntar coisas... – dizia Gumshoe, passando a mão no cabelo. - Achei que ia ser preso, cara! Sabe, o senhor Edgeworth está certo de que não foi a ré. Então foi outra pessoa, né? Não tem como alguém se esfaquear, né, cara?
O ex-advogado sorriu, segurando a filha pelo ombro:
- Sinto muito, detetive. Trucy devia estar ansiosa por saber mais da Mary White.
- Mas, cara, você a conhece, é? Quem é essa menina, cara? E eu já não a vi em algum lugar?...
- Esta é Trucy Wright, minha filha.
- Oh, você tem uma filha!
- Wright, você não deveria estar falando com a senhorita White neste pouco tempo que temos? – Edgeworth os interrompeu.
Trucy imediatamente voou dos braços do pai para cumprimentar sua “parceira” de mágica, como se entrevistasse um ídolo. A outra a olhava assustada, e logo Nick teve que ir salvá-la.
- Minha filha é uma menina bastante imaginativa! – explicou.
- Mas então eu te ensino o truque de minhas calcinhas, se você me disser como fazer para ficar invisível! – Trucy não parecia haver entendido a mensagem do pai.
- Wright, faça algo com essa menina. – Uma veia parecia a ponto de explodir na testa do promotor.
- Mas foi você quem a trouxe aqui, né?
- Não para atrapalhar meu caso! E, além do mais, foi você quem prometeu que ela poderia falar com a senhorita White.
- Bem, se você não tivesse ficado ocupado ontem, teríamos o caso mais preparado e não teríamos que usar o intervalo pra isso.
- Se você não tivesse pirado e saído correndo do gabinete ontem, teríamos preparado melhor o caso.
- Se você não tivesse me agar... - Neste momento, a boca de Nick foi coberta por ambas as mãos do promotor.
E ele agradeceu por dentro, apesar de continuar a brigar, agora fisicamente, com o outro. Por pouco ele não disse algo muito estranho.
Sim, a culpa era toda de Edgeworth por havê-lo beijado daquela forma... Mas... Nick também havia retribuído e, pela primeira vez em muito tempo, sentira-se leve, como se a insígnia que lhe fora tirada não mais importasse. Não que o outro precisasse saber disso também. Não era como se ele houvesse se declarado.
Nick não compreendia a atitude de Edgeworth na noite anterior, mas esperar por um motivo romântico seria demais. Estresse? Uma forma de puni-lo? Talvez até um passo mal calculado, como o incidente em seu carro com os tais livros... Até mesmo o promotor era passível de erros de cálculo.
- Com licença... – Mary interrompeu a queda de braço deles. - Eu gostaria de saber o que vai acontecer agora...
- Alguém da empresa de segurança testemunhará sobre as câmeras. E falaremos sobre os pontos cegos – Edgeworth respondeu de sua forma perfeita de sempre.
Ele não estava nem um pouco perturbado pelo que acontecera na noite anterior? Por Nick haver quase deixado aquilo escapar? Era certo que ele o impedira de forma que ninguém o descobrisse, mas aquela tranquilidade toda... Como?
- Sobre como eu sumi do vídeo...?
- Mais precisamente, sobre como você apareceu do outro lado do hotel.
- Não fui eu. Fiquei o tempo todo ali, encostada à parede, sentindo-me tonta, fraca. Não queria preocupar Craig... Se ao menos eu houvesse voltado a tempo!
- Imagino se hoje teríamos duas vítimas neste julgamento... – disse Edgeworth.
Nick assentiu distraidamente:
- Isso me faz imaginar que motivo alguém teria para isso.
- Sobre isso, eu estava pensando ontem, sabe? – interrompeu Lawson.
Todavia, antes que ele pudesse se explicar melhor, o grupo foi chamado novamente para dentro da sala.
Nick ouviu Edgeworth se engasgar quando ele notou quem seria a próxima testemunha.
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
Miles conseguia ouvir a risada de Wright no canto de seu ouvido. Não era engraçado; ele queria gritar.
“Engraçado é você quase gritar que nós dois nos beijamos, ou pior, que eu o ataquei ontem. Wendy Oldbag ser a próxima testemunha, não.”
Por sorte, ninguém ali a via como testemunha-chave. Ao menos, não para a defesa.
O promotor olhou seu colega, Winston Payne, em busca de algum sinal de que ele possuísse uma carta na manga. Mas o outro apenas pediu que Oldbag dissesse seu nome completo e profissão. Algo que ela fez com prazer, sempre pronta a cooperar com a promotoria.
- Mas por que aquele bonitão está do lado errado? – perguntou ela, após se identificar como representante da empresa de segurança contratada por Ryo Kanshuu.
- Isso não é relevante. Eu gostaria que falasse sobre a instalação das câmeras de vigilância, senhora Oldbag.
- Senhorita, por favor! Não queremos mal entendidos, não é? – Miles sentiu que esta frase era voltada para ele.
E Wright deu uma nova risada.
- Mais uma e eu quebro seus dentes - disse Miles ao colega de defesa.
- Não sei do que está falando, bonitão.
- Wright, apenas se concentre!
Oldbag explicou como o sistema funcionava, usando palavras parecidas com as de Ryo Kanshuu na ocasião em que falara com Wright. Como era um hotel pequeno, o vídeo mostrava quatro cenas por vez, alternando com outras quatro a cada dois segundos. Ademais, as câmeras eram estáticas. Sua empresa tinha planos melhores, claro, mas que não estavam de acordo com a renda de que o senhor Kanshuu dispunha.
Ao final da vez da acusação, Lawson ajeitou sua postura, segurando a mesa como se não houvesse um chão para apoiar seus pés.
- Então, como as câmeras não se mexem, é possível haver pontos cegos?
- Mesmo com as que se mexem! – Oldbag continuava a manter os olhos fixos em Miles.
Ele parou para imaginar o que ela diria de sua cena na noite anterior, quando sua língua roçara a garganta de Wright, alguém de quem a mulher não era a maior fã.
- Não apenas isso. Há dois segundos perdidos a cada dois segundos.
- As câmeras captam tudo, mas se não há um vídeo para gravar, infelizmente...
- Portanto, há pontos cegos e momentos cegos no vídeo.
- Foi o plano que mais se ajustava às necessidades de nosso cliente.
- Protesto! – gritou Payne. - Meritíssimo, essas falhas apenas mostram que a ré poderia ter ido para outro lado do hotel sem ser vista.
Miles cochichou para o advogado de Mary.
- Protesto! – respondeu Lawson. - Minha cliente nunca vira aquele hotel antes e não saberia em que momento se mover.
- A defesa tem alguma razão nisso - disse o juiz. - Imagino que nem mesmo um antigo hóspede do hotel poderia saber com detalhes o funcionamento das câmeras.
- Gostaria de pedir para a testemunha falar sobre o monitor de onde o encarregado da recepção poderia observar as câmeras. – Payne arrumou seus papéis, ainda parecendo controlado.
Miles voltou seu olhar para Oldbag, que não parecia haver desviado o seu nem por um momento.
- Bom, o monitor fica bem na recepção, por onde todos os clientes têm que passar para fazer check-in. Se alguém quisesse realmente saber isso, poderia calcular como parecer invisível.
Desta vez foi Wright quem deu a dica a Lawson.
- Então, qualquer cliente poderia ter acesso à movimentação das câmeras?
- Nossa empresa põe o monitor onde o cliente pedir. No caso desse hotel, imagino que se um cliente estivesse interessado poderia ver como tudo funciona.
- Protesto, Meritíssimo - interrompeu Payne, ainda parecendo bastante controlado. - Nenhuma pessoa naquele hotel teria motivos para o homicídio, sendo que ficou comprovado que nada foi levado durante o ataque.
- Protesto. O fato de a senhorita White ser namorada da vítima é um motivo para ela não querer matá-la. Os dois estavam muito bem quando entraram ali, segundo depoimento do próprio senhor Kanshuu.
- Casais brigam, senhor advogado.
- Mas a ré teria que ter premeditado tudo se ela estivesse prestando atenção nas câmeras desde o momento em que entraram no hotel.
- Ela poderia tê-las visto quando foi à recepção comprar o kit.
- Se os senhores observarem o mapa do hotel, verão que o monitor fica na recepção ao lado da loja. Mas pelo caminho que vimos nas câmeras, a ré não passou pela recepção para fazer suas compras.
- A defesa está certa: se o crime não foi premeditado, a ré não teria tempo para observar as câmeras quando foi à loja - disse o juiz, olhando os documentos nos autos.
Payne suspirou, parecendo resignado:
- Eu queria poupar a todos das tragédias pessoais da vítima, mas como o Meritíssimo deseja saber a motivação da ré, eu gostaria de chamar a próxima testemunha. Uma hóspede do hotel do senhor Kanshuu.
- Uma hóspede? – perguntou o juiz, surpreso.
- Sim, ela irá nos dar detalhes sobre por que a ré iria querer matar o senhor Craig Tumen.
- Pois bem, que ela seja trazida. Muito obrigado por seus serviços, senhorita Oldbag.
Miles nunca se sentira tão aliviado quanto no momento em que Oldbag saiu da corte, não sem antes lhe mandar beijos.
- Antes da próxima testemunha, eu declaro um recesso de cinco minutos para que possamos nos preparar.
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
Nick estava batendo o pé no chão. Havia recuperado um pouco de seu jeito, fazendo Lawson blefar até conseguir quebrar a linha da acusação, mas ainda não chegaram a lugar nenhum. Não fazia ideia de quem poderia ter feito aquilo a Craig e sabia que uma hora ou outra o juiz iria perguntar isso. “Então, quem teria motivo para matar a vítima?”, era a pergunta que sempre lhe vinha à mente.
Olhou para Mary, com quem Edgeworth falava, preparando-a para um possível depoimento. Mas sabia pela expressão do promotor que nada viria dali. Por que Craig a levara ao hotel? Ela disse que a ideia partira dele; que ele tinha algo a fazer na cidade e perguntara se a namorada também gostaria de ir. Mary não sabia o que Craig teria a fazer ali. Nem por que escolhera um hotel tão desconhecido como o de Ryo Kanshuu.
- Por que é mesmo que a perícia tem certeza de quando ele morreu? – perguntou Nick a Lawson, não querendo interromper Edgeworth.
- Bem, ele tinha um relógio, que quebrou quando ele caiu durante o ataque. – Ele folheou seus papéis. – Isso bate com logo após o horário da nota fiscal da compra da senhorita Mary.
- Não pergunte o que já vimos! – Edgeworth cruzou os braços, batendo o pé sobre o assoalho. – Gumshoe falou sobre isso em seu testemunho.
- Mas não seria muito mais fácil tê-lo matado antes de sair? Simular um retorno é trabalhoso demais...
- Diga isso ao juiz, Wright.
Nick deixou os ombros caírem. Era difícil imaginar que motivo a acusação tinha para apresentar ao tribunal quando a pessoa que deveria sabê-lo nada tinha a dizer. O que poderia destruir um casal feliz a ponto de provocar uma tragédia em tão pouco tempo?
Não que as coisas não acabassem mudando de um momento para outro. A forma como ele via Miles Edgeworth mudara com apenas um beijo.
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
Nick olhava para Lawson e para Edgeworth, ainda não acreditando em quem era a próxima testemunha. Toda a brincadeira ao ver Wendy Oldbag no banco havia se desvanecido quando ele descobriu que Mary possuía, sim, um motivo para matar Craig.
A hóspede do hotel era a ex-esposa da vítima.
- Poderia nos contar o que a senhora fazia no hotel naquela noite? – pediu Payne, após revelar a identidade da tal hóspede.
- Craig e eu precisávamos resolver alguns assuntos de nosso casamento... Na verdade, nós... ainda tínhamos algo, e eu estou grávida. Precisávamos decidir o que fazer. No dia anterior, ele me avisou que sua atual namorada também viria, por isso reservou outro quarto para os dois. Nós nos veríamos uma hora depois que... ele morreu.
Payne assentia. Como ele havia escondido uma ex-esposa assim?
Nick olhou para Mary e percebeu que mesmo ela parecia chocada. Ou sua cliente era uma boa atriz, ou ela não sabia de algo daquele testemunho. Menos mal.
Ao menos, aquela personagem revelava-se a peça restante. Nick podia ver no olhar de Edgeworth que era exatamente assim que o promotor se sentia.
No entanto, precisariam blefar muito até formar um quadro perfeito da noite do crime em que Mary White se encontrasse longe do quarto.
- A defesa gostaria de prosseguir agora, Meritíssimo - disse Lawson, já aconselhado por Edgeworth. - A senhora Gertrude Tumen possui alguma comprovação de que o filho é da vítima?
- Não há outra pessoa que possa ser o pai. Ao contrário de Craig, eu apenas estava me encontrando com ele.
- Se vocês continuavam a se ver, por que se separaram?
- Problemas de casal... Eu havia me mudado aqui para a cidade, ele preferiu ficar lá por causa do trabalho. Mal nos víamos, e aí o amor esfriou.
- E quando voltaram a se ver?
- Faz uns seis meses. Nós nos reunimos com os advogados para cuidar da pensão e... tudo voltou a ser como quando nos conhecemos.
- A vítima já estava com a ré nesse período?
- Sim. Mas é que ela era muito grudenta, sabe? Craig não sabia o que ela poderia fazer se a largasse. Ele tinha medo disso. Por isso, ele queria ir com calma.
- A vítima sabia que a senhora estava grávida?
- Sim, por isso precisávamos conversar pessoalmente. Aí, a namorada dele descobriu que ele viria à cidade e pediu para vir junto.
- Quer dizer que, até onde a senhora sabe, a ré não tinha conhecimento do caso dos dois?
- Protesto, Meritíssimo. O homicídio prova que a ré tinha algum problema com a vítima.
- Pois este assunto nunca veio à tona até agora. A ré não sabia do caso ou mesmo da gravidez.
- E por que mais ela acompanharia a vítima em uma viagem?
- Como uma forma de passarem um tempo a sós. Se a vítima a estava traindo, então a relação deles devia estar com algum problema. A ré, sentindo isso, resolveu tentar recomeçar tudo com o namorado.
- Então, a defesa confirma que a ré sabia que algo estava errado?
- Não que a vítima a estava traindo. A defesa reafirma que não havia qualquer motivo para o crime.
- A acusação afirma que a ré descobriu sobre o caso e então decidiu matar o namorado. A defesa teria alguma prova de que a ré não sabia do caso?
Nick sentiu que Lawson dera um passo para trás, como se houvesse sido atingido por um tiro.
- Vejo que a acusação sustenta que em algum momento a ré descobriu sobre o caso e decidiu vingar-se da vítima, sendo o crime uma prova em si. Se a defesa não tem nenhuma prova em contrário...
- Protesto! – Nick gritou com todas as suas forças, apontando para a testemunha. - A defesa gostaria de solicitar mais detalhes sobre por que a vítima decidiu ter um encontro com a testemunha sabendo que sua namorada estaria no mesmo hotel.
- Protesto! – Payne pareceu ignorar que quem gritava não era mais o advogado. – Não haveria como minha testemunha saber o que se passava dentro da cabeça da vítima.
- O senhor Payne tem razão. Protesto negado, senhor... Wright? – O juiz tinha a expressão confusa, mas não acrescentou qualquer comentário a respeito. E prosseguiu: - Como a defesa não conseguiu contraargumentar as razões para a ré cometer o crime, não me resta nada senão...
- Protesto!
Nick olhou assustado para Miles Edgeworth, que se explicou:
- O fato de o crime ter ocorrido também é uma prova concreta para outra pessoa havê-lo cometido – e ele apontou para a testemunha. – A senhora Tumen pode haver se cansado de esperar que o pai de seu filho se decidisse, e ela mesma decidiu por ele. Matando-o.
- O senhor... Edgeworth? Ele tem razão... – O juiz pareceu esfregar os olhos e a cabeça.
- Protesto, Meritíssimo - disse Payne. - Por que a senhora Tumen iria até o quarto da vítima quando ela iria vê-la em apenas uma hora?
- Porque ela não teria como explicar um corpo em seu quarto, e a ré hoje seria ela.
- E a defesa teria alguma prova de que a testemunha sequer saiu de seu quarto? Podemos ver cada um dos quartos com as câmeras do hotel, e a única pessoa circulando naquele dia foi Mary White.
- Nós apenas observamos desde o momento em que o casal fez o check-in, mas a senhora Tumen teria chegado antes. E ela está neste vídeo, saída das fontes termais do hotel com a yukata fornecida aos hóspedes. – Edgeworth mostrou a foto da pessoa que entrou no quarto pouco após Mary haver saído da loja.
Houve um burburinho no tribunal e o juiz pediu silêncio.
- Eu gostaria de saber onde a senhora Tumen estava no momento do crime - pediu o juiz, olhando para a testemunha.
- Eu de fato fui tomar banho nas termas do hotel, já que ainda faltava uma hora para meu encontro com Craig. Mas continuei lá até ouvir a movimentação da polícia. Então, saí e prestei depoimento, Meritíssimo. Por que eu o mataria? Se eu estivesse com tanta raiva, eu mataria a namorada.
- Eu gostaria de pedir para que víssemos a fita em acelerado para podermos comprovar o que a minha testemunha diz, Meritíssimo - pediu Payne, olhando seus papéis.
Como Nick já esperava, as fitas mostraram de forma bastante clara que Gertrude entrara na sala de banhos termais e saíra de lá no momento em que a polícia já estava passando. Seu yukata estava impecável.
O que fazer agora? Ele olhava ao redor buscando alguma coisa que pudesse dizer para ao menos ganhar tempo, mas eles não possuíam nenhuma carta na manga. Nada.
Ele olhou para Edgeworth como quem pedia desculpas. Se não houvesse deixado todos os seus sentimentos se intrometerem, Mary não receberia agora a sentença de culpada de homicídio, o que era o mesmo que a pena de morte.
Se ao menos Nick houvesse investigado mais... por exemplo, ido até o lugar onde Gertrude dizia haver estado durante o crime. Ele tinha certeza de que encontraria lá a tal yukata manchada de sangue. Ou algum indício ao menos que ligasse o crime àquele lugar.
Substituindo o doce sabor do beijo da noite anterior, a amargura da culpa ardia-lhe nos lábios.
Continuará...
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