Capítulos: 1 2 3 4 5
Autor: Anita
Série: Phoenix Wright
Gênero: Romance, investigação, shounen-ai, Em Capítulos.
Status: Completa
Resumo: Com trabalho extra após uma viagem, Miles resolve contratar Phoenix para realizar uma investigação.
Notas Iniciais:
Autor: Anita
Série: Phoenix Wright
Gênero: Romance, investigação, shounen-ai, Em Capítulos.
Status: Completa
Resumo: Com trabalho extra após uma viagem, Miles resolve contratar Phoenix para realizar uma investigação.
Notas Iniciais:
Esta história se passa alguns meses após o término de Trials & Tribulations e do primeiro jogo do Miles. Contém ainda alguns spoilers de Apollo Justice, mas nada muito sério, apenas temas do pano de fundo do jogo como a atual situação do Phoenix e a Trucy. Eu não usei nada do segundo jogo do Miles, pois nunca o joguei. O que usei do primeiro é apenas a Kay, ou seja, vocês não precisam conhecê-lo, não há spoilers de lá. Se você nunca leu Phoenix Wright, mas não se importa com spoilers, imagino que não terão problemas para seguir esta história.
Por fim, agradecimentos à Vane por revisar a fic para mim e à Nemui pelo prompt.
Olho Azul Apresenta:
Refrescante
Capítulo 3 – Dentro do Quarto
Você é um idiota. O que há contigo? Controle-se! O que afinal acabou de acontecer?! A mente de Nick não parava quieta. Ele queria gritar por cima de todos aqueles pensamentos confusos, pedir silêncio. Mas acima de tudo, ele queria bater a cabeça no objeto mais duro que visse pela frente e fazê-lo até perder os sentidos.
O que acontecera? Bem ali, no chão do banco do carona no carro de Miles Edgeworth? Numa atitude estranhamente afobada do promotor, este mergulhara de cabeça para salvar uns livros caídos graças à distração de Nick. E ali ficara preso. Não era para estarem rindo agora daquele absurdo?
No entanto, o desconfortável silêncio prosseguira e acabara de piorar com o silenciar do motor dentro do estacionamento da promotoria.
Edgeworth, enfim, puxou a chave da ignição e abriu sua porta. Sinal para que Nick fizesse o mesmo. O promotor pegou suas coisas, incluindo a sacola de livros, esta de maneira mais especial, e aguardou o fechar da porta do carona para trancar seu carro.
Nick precisava de um assunto!
- Então... que livros são esses que te fizeram sair daquela pilha de documentos? – Apontou para a sacola.
- Nada, estes... – Miles estava quase abraçando a sacola. - Franziska! Ela precisava de um livro e não o achava em nenhum site da internet. Então, tive que ir lá.
- Oh. Como ela está?
- Suponho que bem. Mas não é hora de conversa fiada, Wright.
Mais silêncio. Até o elevador, no elevador, no corredor até a sala. Cada passo se tornara irritantemente alto. Mais que por Mary White, Nick desejava haver descoberto mais coisas apenas para ter o que dizer naqueles momentos.
- Como foi na delegacia? – perguntou Nick, sentando-se na cadeira do gabinete.
- Eu consegui o resultado da autópsia, mas imagino que vão fazer um novo exame como de costume. O resto parece estar aqui, na promotoria. Afinal, o julgamento será amanhã.
- E o que diz a autópsia?
Edgeworth abriu sua pasta e retirou um papel, que entregou ao outro.
- Oito facadas ao redor do peito... Acho que vocês não terão problemas em provar a intenção de matar, né?
- Há mais um problema.
Nick ergueu a cabeça e depois voltou a ler o relatório, sem achar nada de inesperado ali.
- Todos os cortes foram no peito ou na barriga. – Edgeworth sentou-se em sua cadeira. – Nada no braço.
- Oh... Ele não se defendeu? O quarto também parecia bastante organizado. Não houve luta, né? Acha que ele estava inconsciente?
- Não pela forma como ele foi perfurado e como o sangue jorrou. Tudo aponta para ele ter sido atingido enquanto estava de pé, por alguém provavelmente mais baixo. A julgar pela quantidade de vezes, esse alguém pareceu bastante passional também.
- Mas isso não quer dizer que seja a Mary!
- Isso não a condena, mas nada aí a inocenta também. Infelizmente, nossos juízes acabam por cair na lábia da acusação.
Nick sabia bem do que Edgeworth falava. Tantas vezes ele se vira tendo que provar a inocência de seu cliente, quando era a promotoria que precisava provar sua culpa. Apenas uma prova que incriminasse outra pessoa salvaria aqueles casos.
Mas Mary não era sua cliente. Nem sequer precisava acreditar que ela não fizera nada.
- Algum problema? – Edgeworth interrompeu seus pensamentos. – Não é o primeiro caso difícil com que você lida, Wright.
Ele suspirou, balançando a cabeça.
- Se vamos trabalhar juntos, preciso saber o que se passa na sua cabeça - insistia o outro.
Nick desistiu:
- Você nunca parou para pensar em como isto não nos diz respeito?
- Como?
- Eu confio no trabalho do Payne. Ele não é do tipo que manipula evidências. Só faz o que ele deve fazer. E ela terá um julgamento justo, não é? No final das contas, nosso juiz sempre decide com a justiça em mente. Então, o que estamos fazendo?
- Wright, essa mulher irá morrer sem que haja prova de que ela é a culpada.
- Como saberemos? Não vimos realmente o que a promotoria tem.
- E você quer pagar para ver? Lembre-se de que no momento em que o juiz bater o martelo, a decisão será imutável. Não poderemos nem gritar “protesto” para ganhar uns segundos a mais.
- Bem, se ela for culpada, não temos o que dizer. Saberemos amanhã, certo? Este é o nosso limite. Veremos o vídeo e lá estará ela, com a yukata suja de sangue. O que poderemos fazer depois? Não houve testemunhas. A sacada estava fechada o tempo todo. O chá que tomaram estava na mesa intacto. Estamos cercados por todos os lados.
- Wright! – Em algum momento, Edgeworth havia se levantado e agora o sacudia pelos ombros.
Nick parou sem fôlego, ainda com a boca aberta.
Edgeworth abaixou a cabeça, soltando seus ombros do forte aperto:
- Acho que ainda estava muito cedo.
- Como?
- Para você. Eu não devia tê-lo chamado, não é?
- Do que está falando?
Edgeworth balançou a cabeça, ainda sem olhar Nick nos olhos:
- Eu sinto muito por fazê-lo enfrentar isto tudo fora da hora. Pareceu uma boa ideia. Eu preciso de um assistente, você precisava de um emprego. Ainda que eu esteja do outro lado do julgamento, acreditamos no mesmo ideal.
- Eu não preciso da sua pena, Edgeworth. – Nick levantou-se e fitou o outro por um momento, enquanto este ainda tentava lhe evitar os olhos. – Eu tenho muito a fazer. Sabe, agora tenho uma filha para criar. Não dá pra ficar brincando de detetive por aqui.
- Não estou brincando. Nunca o faria quando a vida de alguém está em jogo.
- O fato de o pano de fundo do seu caso ser real não torna o seu jogo mais verdadeiro. Mas foi meio divertido em alguns momentos. Uma pena eu não ter descoberto o truque que a Trucy tanto queria aprender. Valeu. – Nick estendeu a mão, ainda sentindo seu peito doer. Mas estava na hora. Ele precisava dar um basta àquela peça de teatro.
Edgeworth fixou os olhos em sua mão e a encarou por um longo momento. Então, muito lentamente ele a segurou. Mas pelo lado errado. Em seguida, puxou Nick com força, fazendo seus peitos se chocarem enquanto o ex-advogado perdia o equilíbrio. Antes que ele o recuperasse, seu corpo todo se transformara em geleia nos braços do promotor.
A boca de Edgeworth roçava contra a sua, sua língua forçava-se contra seus lábios, seus dentes. As mãos do promotor estavam dentro de seu paletó, de sua blusa. O que estava acontecendo? Mas desta vez sua mente não começou a gritar em pânico como quando ele caíra entre suas pernas. Não, sua mente estava ficando dormente, mole, em branco... Nick deixou-se perder naquele beijo.
Até que o telefone tocou.
Seu corpo ligou o alarme interno. Enquanto ouvia Edgeworth atender com a voz normal, como se sua língua não estivesse na garganta de ninguém momentos antes, Nick fugiu. Sem nunca olhar para trás.
Céus, ele fora beijado. Ele beijara! Um homem! Miles Edgeworth! Demoraria muito tempo até ele conseguir formar uma frase completa para informar à sua mente tudo que seu corpo não queria ou podia esquecer.
Droga.
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
Miles tirou o papel do bolso e checou o nome do bar. Era aquele mesmo. Borscht Bowl Club... O lugar cheirava a ilegal desde a entrada. Não era para um promotor de renome estar ali. Nem quisera tentar descobrir o que havia por trás daquela fachada. Ele já sabia por experiência própria que em alguma sala escondida se encontrava a verdadeira fonte de renda.
Não importava; ele não viera dar voz de prisão a ninguém. Miles inspirou fundo e entrou no ambiente enfumaçado.
Havia música sendo tocada. Piano? Parecia um misto de piano com... gato. Um gato miando forte. E uma criança. Uma criança a brincar com um teclado e a apertar teclas aleatórias. Então, retornava a música de piano.
Um cliente levantou-se até a pessoa matando, ou melhor, “tocando” o instrumento, e sussurrou-lhe algo. O... pianista balançou a cabeça e retomou... a mistura de sons. Um grupo comentou sobre como ele nunca aceitava pedidos.
- O que diabos você está fazendo, Wright? – perguntou Miles em um resmungo antes de partir em direção ao palco.
Mas alguém chegara na sua frente.
Um homem loiro, com olhos azuis, de roupa elegante e óculos. Sua postura, seus movimentos, nada combinava com o aspecto do decadente bar que tinha como pianista um ex-advogado. Miles sabia, mesmo sem nunca haver visto qualquer foto, que aquele se tratava de Kristoph Gavin.
Gavin era um advogado dono de um bem sucedido escritório. Sua técnica era conhecida como a defesa mais fria do Ocidente. Bem, pelo seu jeito fora dos tribunais, Miles diria que não apenas a defesa era assim.
Wright interrompeu sua... música e assentiu para o novo amigo. Era como se nada houvesse ocorrido naquele início de noite, no gabinete. Lá estava ele, apenas conversando com o tal Gavin.
Com a boca com que o beijara de volta.
Miles interrompera o beijo assim que sua culpa vencera o desejo. E segurou seu corpo com os dois braços, tremendo. Devia ter parecido louco... Estivera de olhos fechados por quase todo o tempo, e mesmo quando os abrira, não ousara olhar o amigo à sua frente. Então, não sabia que expressão Wright tinha após aquele beijo. Sua mente estava confusa.
Mas nada tirava de sua cabeça que Wright não apenas podia tê-lo evitado, como também se defendido. E ele havia correspondido o beijo. Ainda assim, o ex-advogado deixara o gabinete antes que Miles se recuperasse do susto que ele mesmo havia se dado.
E com aquela boca, ele conversava tranquilamente com Gavin. Como se os dois se conhecessem desde o primário. Ainda que sem motivo, Miles sentia ciúmes.
Aquilo era demais para o promotor. Ele podia aceitar muitas coisas, apesar de se considerar uma pessoa lógica. Mas sentir ciúmes? Para isso, ele precisaria ter algum sentimento por Wright. Algo além de admiração, ou uma dívida. Beijá-lo quando ele vira que o amigo estava prestes a desmoronar fora uma reação que Miles demorara a compreender. Ainda não conseguira por completo. Mas sentir ciúmes... era algo muito maior, ele tinha certeza.
Miles virou-se e saiu do bar. Precisava do ar da noite. Era verão, mas ao menos estava ventando sobre seu rosto suado. Suas mãos também pareciam derreter com aquele suor frio.
Ele não podia estar apaixonado. Fora apenas um dia. Meio dia. Ele não sentia nada por Wright naquela manhã, certo? E nem o vira o tempo todo.
Paixão já era um sentimento que não fazia parte de seu vocabulário, mas que ele poderia aceitar a longo prazo, por alguma mulher que ele admirasse, que fosse sua companheira, que o completasse e o acompanhasse. Era um dos mistérios da natureza com que Miles teria que conviver um dia, e aí constituiria uma família. Mas por que essa mulher de repente se tornara Phoenix Wright?!
- Senhor Edgeworth! – Uma criança o chamara. Trucy Wright.
- Ah, olá - respondeu ele, lembrando-se de como não sabia o que fazer perto de infantes.
- Amanhã eu vou poder conhecer a mulher invisível, né? Papai me prometeu que me levaria para conhecê-la no fórum!
- Como? No fórum? Quando seu pai te disse isso?
- Hoje à tarde ele me ligou para dizer que não conseguiu falar com ela... mas que antes do julgamento poderíamos ir lá conversar! Ele prometeu que me levava!
- Wright disse que iria ao fórum? – Miles suspirou. Pelo menos, ele podia fazer o favor de partir o coração da pequena. – Acho que não vai dar, Trucy.
- Como? Por quê? Qualquer um pode assistir!
Miles lembrou-se da história de Trucy, de como Wright a conhecera justamente no intervalo de seu último julgamento. O fórum não lhe era um ambiente estranho.
- Seu pai está muito cansado, por isso, não poderá ir amanhã. Sinto muito.
- Ele estava meio estranho mesmo quando voltou do trabalho de hoje... Sabe, papai tinha cancelado com o clube hoje e aí ligou e perguntou se podia vir mesmo assim.
- É... As coisas não foram tão fáceis como ele achava que seriam. – Miles lhe sorriu, tentando parecer calmo.
Trucy meneou a cabeça:
- Puxa, eu queria saber o que ela fez para sumir...
Miles lembrou-se da fita trazida por Wright naquele início de noite. Ele assistira algumas vezes após... após se separar do ex-advogado.
Mary saía do quarto, conversava com um senhor na loja, que devia ser o homem com quem Wright falara à tarde, e voltava com uma pequena sacola. No meio do caminho, ela sumia do vídeo. Outra câmera capturava uma mulher em outro corredor, que entrava no quarto de Craig Tumen. Não demorava muito até ela deixar o quarto com o yukata ensanguentado. E sumir do vídeo.
Mais de quinze minutos se passavam até a porta do quarto ser novamente aberta por uma Mary surgida do nada. Ela só sairia novamente dali acompanhada dos paramédicos que a levaram para o hospital, de onde ela fugira, supostamente por estar procurando o namorado morto.
Miles cogitou mostrar os vídeos a Trucy, para compensar o atrito que ele mesmo causara com seu novo pai e que impossibilitaria que ela conhecesse Mary. Mas, ainda que fosse em preto e branco, a visão de uma mulher com a roupa suja de sangue não era a mais recomendável para uma menina de oito anos. Miles esconderia aquilo até de Kay, se pudesse, o que ele achava que seria bastante difícil devido aos dons da autoproclamada ladra.
- Senhor Edgeworth? O senhor também está doente? O senhor está parecendo meu pai...
- Ah, eu estou bem, Trucy. Só estava pensando em como podíamos ajudar você.
- A mim?
- O que acha de eu buscá-la amanhã para irmos falar com a senhorita Mary White?
Trucy meneou de novo a cabeça, quase como um cachorro que não entendia um comando.
- A mulher invisível, digo. Eu posso te levar ao fórum, mas você vai ter que esconder isso de seu pai.
- Por quê? Meu pai não gosta mais da mulher invisível?
- É... algo assim. Mas eu diria que o problema maior é comigo mesmo.
Trucy sorriu:
- Entendi, senhor Edgeworth! Obrigada!
Miles lhe deu o horário e o lugar para que a menina o esperasse na manhã seguinte. Ao ver a silhueta de Trucy entrar de volta no bar, o promotor se pegou sorrindo.
Em que estava pensando? Por que não pudera só deixá-la a se lamentar? Era certo que ele piorara as coisas para Wright, mas este já estava decidido a abandonar o caso muito antes. Não era culpa exclusiva de Miles que Trucy ficaria sem conversar com seu mais novo ídolo. Aliás, como ele faria no dia seguinte, tendo que servir de babá?
Miles... não estava com a cabeça no lugar naquele dia, estava?
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
Miles havia passado a noite inteira investigando por si próprio o caso, juntando o que Wright e Gumshoe haviam obtido. Não se importava mais com os papéis que deveriam ter sido entregues antes do final do expediente do dia anterior. Havia uma urgência nele de salvar Mary White, quase como se ele fosse seu advogado.
Ao terminar de assistir a fita da segurança mais uma vez, ele recebeu uma ligação no celular. Era Gumshoe, quase sem voz:
- Senhor Edgeworth, espero não tê-lo acordado!
- Fale, detetive.
- É que meu amigo que tá cuidando do caso no meu lugar acabou de me atualizar sobre algumas coisas. Bem, está tudo com o senhor Payne, mas parece que o nome do advogado foi liberado.
- Gavin?
- Como, senhor?
- Apenas me dê o nome dele logo, detetive.
Miles anotou-o, junto ao telefone de contato fornecido à polícia. Como esperado, era um novato apenas. Gumshoe ainda disse que no dia seguinte seu amigo seria a primeira testemunha, seguida do dono do hotel e que, se necessário, Payne havia pedido a um funcionário da empresa de segurança para testemunhar. Havia ainda um hóspede no hotel, mas essa pessoa não parecia saber muito; tinha apenas visto o casal fazer o check-in.
- Então, nós nos vemos amanhã, senhor Edgeworth.
- Sim, até amanhã – e desligou.
O promotor olhou para suas rápidas anotações. A acusação não tinha realmente nenhuma testemunha-chave, a menos que Payne houvesse aprendido a esconder provas. Não, ele era do tipo que faria um processo limpo e rápido. Não queria perfeição; queria apenas cumprir com seu trabalho. O que significava que sua aposta era no dono do hotel, o senhor Ryo Kanshuu, quem nada sabia, segundo Wright.
Então, ele ligou para o advogado.
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
Era de manhã cedo quando Miles Edgeworth estacionou em frente ao prédio de seu antigo escritório. Nick o viu sair de seu carro e fitá-lo com uma expressão perdida. Era um dos raros momentos em que o promotor parecia desconcertado, sem dúvidas.
- Olá, Edgeworth - cumprimentou Nick.
- Ah. Bom dia. – O outro virou-se rapidamente para Trucy, que já lhe sorria antes mesmo de o seu carro chegar.
A menina estava agindo de maneira suspeita desde antes de o jogo começar na noite anterior. Restara a Nick descobrir a razão. Primeiro, ele percebera que ela sabia do seu péssimo dia de trabalho. E Trucy parecia presumir que eles não iriam ao tribunal no dia seguinte, como ele lhe havia prometido. De fato, Nick não estava ansioso para encontrar Edgeworth lá, mas nunca lhe passara pela cabeça quebrar uma promessa para a filha. Então, Trucy deixara escapar que Edgeworth estivera no bar e lhe prometera levá-la para o tribunal e apresentá-la a Mary White.
Nick cogitara deixar que o promotor fizesse a boa ação, poupando-o da situação embaraçosa. Então, seus sentimentos confusos falaram mais alto. eEle queria uma explicação para aquele beijo. Por isso, decidiu esperá-lo ali junto à filha.
- Papai... descobriu - explicou a pequena, com um sorriso envergonhado.
- Ah – Edgeworth lhe voltou o olhar, parecendo reparar em suas roupas.
Nick usava um moletom velho e um chapéu, as mesmas roupas com que ele parecia estar sempre, à exceção do terno ressuscitado para o dia anterior.
- Você não vem junto, então?
Era só impressão de Nick aquele desapontamento na voz do promotor, certo?
- Eu... – Ele queria dizer que confiava Trucy aos seus cuidados, e pedir à filha que não desse trabalho ao amigo. Apenas isso... Mas... se fosse para dizer que iria, Nick deveria dizer com confiança, porém... – Preciso tomar conta dela, né? Se bem conheço a Trucy, a testemunha principal do caso vai virar o senhor Chapéu. – Mas Nick acabara por inventar uma desculpa.
- Oh, você vai, pai?
- Claro! Edgeworth teria um ataque se te visse tirar uma evidência da calcinha!
- Como? – O promotor deu um passo para trás.
- Então, podemos entrar no carro, ou não?
Ele hesitou um pouco, mas logo abriu a porta, fazendo sinal para Trucy ir na parte de trás e pedindo que ela pusesse o cinto. Nick andou lentamente para o carona, sentindo as bochechas arderem ao se lembrar do incidente da tarde anterior.
Aquele seria outro longo dia, Nick tinha certeza.
Todavia, sua cabeça não deixava de se lembrar do rosto frágil de Mary White no centro de detenção. E para ela? O dia seria longo, ou curto e sem piedade?
Mesmo sem ela ser sua cliente, Nick acreditava em sua inocência. Mia não lhe ensinara o que pensar dos outros, mas naquele momento, Nick tinha certeza de que Mary não matara Craig Tumen.
Ele se lembrou de sua conversa com Ryo Kanshuu, do quarto onde o crime ocorrera, dos corredores do pequeno hotel onde o casal passaria a noite em sua visita à cidade e até do kit que Mary comprara antes de passar mal no corredor.
Algo acontecera naquele momento. Havia alguns minutos perdidos em toda aquela descrição. Os minutos em que Mary estava encostada a uma parede, sofrendo de algum mal que mais tarde lhe causaria um desmaio e a mandaria para o hospital.
Se a pessoa que não era sua cliente não havia mesmo sido a agente do homicídio, restava a ele encontrar naquele quarto fechado quem o havia cometido. Ryo Kanshuu? Um hóspede? Uma pessoa havia matado Craig Tumen naquela noite. E ela não era Mary White.
Nick não tinha essas informações, ele não tinha nada e por isso havia se desesperado no dia anterior. Ele sequer podia contar com blefes em pleno tribunal, já que estaria lá como mero ouvinte.
Nick olhou para Edgeworth, que segurava o volante com firmeza, de um jeito muito menos elegante que o da noite anterior. Sua presença o desestabilizava? Ou o promotor apenas estaria preocupado por haver perdido aquela batalha contra a injustiça?
Se ao menos ele pudesse se levantar e gritar com todas as suas forças: “protesto!”...
Continuará...
Anita, 21/07/2011
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