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[Phoenix Wright] Refrescante - Capítulo 2, escrita por Anita

Capítulos: 1 2 3 4 5
Autor: Anita
Série: Phoenix Wright
Gênero: Romance, investigação, shounen-ai, Em Capítulos.
Status: Completa
Resumo: Com trabalho extra após uma viagem, Miles resolve contratar Phoenix para realizar uma investigação.


Notas Iniciais:
Esta história se passa alguns meses após o término de Trials & Tribulations e do primeiro jogo do Miles. Contém ainda alguns spoilers de Apollo Justice, mas nada muito sério, apenas temas do pano de fundo do jogo como a atual situação do Phoenix e a Trucy. Eu não usei nada do segundo jogo do Miles, pois nunca o joguei. O que usei do primeiro é apenas a Kay, ou seja, vocês não precisam conhecê-lo, não há spoilers de lá. Se você nunca leu Phoenix Wright, mas não se importa com spoilers, imagino que não terão problemas para seguir esta história.

Por fim, agradecimentos à Vane por revisar a fic para mim e à Nemui pelo prompt.

Olho Azul Apresenta:
Refrescante

História escrita como presente aos participantes do Coculto 3, uma troca de fics realizada pela comunidade Saint Seiya Superfics Journal.


Capítulo 2 – Método Lógico

  Não fazia muito tempo que Nick trabalhara em seu último caso, mas fora o bastante para fazê-lo se esquecer de como era complicado lutar contra o tempo.

  De acordo com as leis, um julgamento só poderia durar três dias e ele deveria ser iniciado o mais rápido possível. Mary White havia sido detida no meio daquele dia em que ele reencontrara o amigo de infância, Miles Edgeworth. Portanto, seu julgamento começaria no dia seguinte e, a julgar pelos poucos papéis que o promotor compartilhara, provavelmente também seria condenada em tempo recorde.

- Então, o promotor é aquele careca? – perguntou ele, sentado em uma das cadeiras do gabinete de Edgeworth, ainda com a última das folhas em mãos.
- Eu não subestimaria Payne, Wright.
- Eu só disse que ele não tem cabelos.

  Edgeworth deu seu suspiro típico, o que significava que ele não desceria àquele nível de argumento. Logo, voltou ao papel que tinha em mãos, não relacionado ao caso da mulher invisível. Ele realmente não o ajudaria naquilo?

- Acho que eu poderia visitá-la no centro de detenção... – comentou Nick, sentindo-se entediado. Não conseguia sentir a urgência que normalmente os estaria devorando por dentro.
- Seria uma boa ideia. Não se esqueça de passar na polícia, ver se não descobre alguma coisa por lá.
- Sabe, eu não sou detetive particular. Sem o detetive Gumshoe por lá, eu não saberia dizer que homem teria a língua frouxa o bastante.

  Edgeworth assentiu, murmurando “hum-hum”. Ele já estava rubricando o documento seguinte.

- Acho que é melhor parar de atrapalhar seu trabalho. Você ainda tem muito a fazer, né?

  E Nick saiu pela porta a tempo de ainda ouvir o promotor dizer outro “hum”.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Miles levantou a cabeça para notar que Wright já não estava mais lá. Olhou para o relógio, e quase uma hora havia se passado desde a última vez que falara com o ex-advogado. O que significava que Mary possuía uma hora a menos a seu favor.

  Normalmente, Miles ainda acharia que a situação poderia ser revertida no tribunal caso a investigação fosse infrutífera. Desde que a promotoria não apresentasse provas falsas - e este nunca fora o estilo de Payne -, aqueles objetos, que aparentemente incriminavam a ré, também haviam testemunhas da verdade. Eram peças que precisavam apenas ser logicamente ordenadas para formar o quadro completo. Contudo, nem Miles nem Wright estariam no palco do tribunal no dia seguinte.

  O telefone tocou.

- Edgeworth - respondeu o promotor após pôr na mesa a pasta que estava analisando.
- Irmãozinho, pode comprar um livro e me mandar hoje pelo correio? – Era Franziska, a filha do homem que o criara e treinara para ser promotor muitos anos antes. Ela disse o título e o nome do autor rapidamente, antes que ele pudesse responder.
- Um livro? Não pode encomendar pela internet? – Ele não se espantava muito com os caprichos dela, mas aquele era um dia especialmente cheio para ele.

- Não posso, não. E não se esqueça de escolher o método mais rápido. Estou precisando dele para...
- Franziska! Não tenho tempo para ser seu garoto de entregas.
- Miles... Você vai negar um pedido da sua irmã?

  Ele baixou a cabeça. Franziska era uma menina mimada cheia de defeitos, mas que sempre o ajudara quando necessário.

- Sendo só um livro...
- Vou te mandar agora por e-mail o endereço da loja então!
- Da loja? – Ele se reajustou na cadeira. – Algum problema com a loja da promotoria, Franziska?
- Se o encontrar aí... Boa sorte. Por via das dúvidas, envio o endereço. Não demore, irmãozinho! É para amanhã, hein?
- Certo... Estou aguardando os dados... – Ele desligou antes que sua situação piorasse.

  A cada toque do telefone, sua lista de afazeres do dia aumentava.

  Miles imprimiu o e-mail da irmã e ligou para a livraria no térreo do prédio. Eles sequer sabiam daquele autor. Procurou na internet. Nada. O livro não parecia existir.

- Franziska!... – ele exclamou, pegando a chave do carro. O maldito endereço era na outra parte da cidade, como mandava o roteiro.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Nick saiu do centro de detenção literalmente com as mãos abanando. Estava bastante quente lá dentro, e o lado de fora ainda pior. Mas o ruim mesmo era ter ido até lá apenas para bater com a cara na porta. Mary indagara se Nick seria um promotor, pois foi com essa pergunta que um dos guardas voltara. Ao negar, o guarda imediatamente disse que ele não poderia vê-la, já que também não era seu advogado.

  Mas ele descobrira algo importante também: Mary White não possuía um advogado ainda. Um profissional seria nomeado até o dia seguinte para que a defendesse perante a corte caso ela não contratasse um particular.

Advogados nomeados pela corte eram recém-formados precisando do dinheiro, que não era ruim, e da experiência. Contudo, eles viam aquilo como apenas mais um trabalho, em que poderiam perder ou ganhar. Não precisavam garantir o cliente, já que muitas vezes tratava-se de pessoas sem condições de pagar um advogado particular.

  Mary White não tinha um futuro muito promissor. Ou longo, a menos que sua execução demorasse a ocorrer, porque seu julgamento seria veloz.

  Nick parou para ligar para sua filha, que ficara em casa, desapontada por não poder acompanhá-lo. Ele conseguiu perceber seu desânimo no primeiro “alô”. E este só cresceu quando ele anunciou que sequer fora recebido pela cliente, e que por isso não pudera perguntar a ela sobre seu truque.

- Você vai tentar de novo, né, papai? – perguntou a menina.

  Ele não queria dizer que sim. De que adiantava? Teria que prosseguir com a investigação para ganhar o dinheiro oferecido por Edgeworth, mas Mary White só receberia no centro de detenção alguém da promotoria.

- Diga que irá tentar, pai! – insistiu Trucy ante aquela demora.
- Certo, eu vou tentar.
- É isso, não podemos desistir! Eu sinto que estamos perto, sabia?
- É mesmo? Então, vou dar meu melhor – ele prometeu antes de desligar.

  Agora tudo estava pior. Além de não conseguir fazer seu pagamento valer a pena, Nick havia prometido à filha algo que não poderia cumprir.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  A livraria era bastante vazia. Todos passavam por ela do lado de fora como se ali não houvesse nada. Se fosse um filme de terror, Miles estaria em outra dimensão. Mas aquele era a realidade e aquela livraria não passava de mais um absurdo de Franziska.

  Muitos anos antes, quando o pai da moça o tomara como pupilo, Miles atendia às vontades dela apenas para agradá-lo. Não queria ser mal visto; queria era que todos ficassem satisfeitos com sua perfeição. Afinal, perfeição era o lema daquela família que o recebera.

  Mas, com o tempo, Franziska se revelara mais que uma menina mimada: era uma pessoa competitiva que nunca aceitaria a derrota. Por isso seus caprichos diminuíram, pois julgava que depender do quase irmão seria assumir uma derrota. Miles admirava aquela garra da mulher e agradecia não ser mais usado como capacho com tanta frequência. Ademais, os dois mal passavam algum tempo juntos. Sempre se dedicando a estudar, a melhorar, a serem perfeitos.

  Portanto, não era sempre que Franziska o punha numa missão como aquela de lhe enviar o livro. Mas quando isso acontecia, Miles sempre sabia que vinha bomba. Achar aquela livraria lhe custara horas preciosas do dia. Outra hora ainda seria perdida quando ele encontrasse lá livros raros. Sim, era esse tipo de livraria, onde se podiam encontrar verdadeiros tesouros. Como aqueles pelos quais agora ele pagava.

  Ao sair, Miles não conseguia conter o sorriso de satisfação. Sabia que até poder abrir o pacote demoraria ao menos quatro dias, mas a felicidade por ter aqueles volumes em mãos era incalculável.

- Pensei que ficaria preso por uma vida inteira em seu gabinete – a voz de Phoenix Wright o acordou do sonho.
- O que faz por aqui, Wright? – Miles instintivamente protegeu sua sacola.
- Estou seguindo pistas da internet. Parece que a Mary White é de algum lugar daqui.
- É mesmo?

  Wright assentiu distraído.

- Algum problema? – perguntou Miles, não podendo ignorar o jeito estranho com que o ex-advogado se comportava.
- O centro de detenções. Quando ela descobriu que não sou um promotor, Mary White não aceitou me ver.

  Isso era verdade? Por que ela recusaria a visita de alguém que poderia ajudá-la?

- Ela achou que você fosse um repórter, talvez.
- Não muda o fato de que ela não me verá, né? Não creio que encontremos qualquer prova da inocência dela se nem ouvirmos sua história.
- Inocência? Wright, devo lembrá-lo de que o contratei para descobrir a verdade, não para inocentá-la. Não podemos excluir a possibilidade de ela tê-lo feito.

  Miles não deixou de notar uma expressão triste se formando no rosto do outro.

- Bem, já que está livre, por que não tenta falar com ela? – sugeriu Wright, virando o rosto.
- Não que eu esteja livre, mas podemos tentar ir juntos, já que o centro fica no caminho.
- Certo. – Wright começou a andar em direção ao centro.

  O promotor esperara um pouco mais de resposta do que aquilo.

  O que aquele último caso fizera a Phoenix Wright? Era como se junto com sua insígnia de advogado, uma parte dele lhe houvesse sido arrancada.

Miles queria dizer algo, confortá-lo. Ergueu uma das mãos para esfregar suas costas ao menos, dar-lhe mais confiança. Mas aquilo seria estranho. Eles não eram esse tipo de amigos.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Nick enfim conhecia Mary White. Uma mulher pequena, frágil. Como mais ele poderia descrevê-la? Ela chegara um pouco cambaleante, amarrada ao próprio corpo. O guarda soltou a corda e a sentou na cadeira da sala atrás do vidro onde ele a aguardava com Edgeworth. Seus olhos se arregalaram quando ela se deparou com duas pessoas, em vez de uma como devia estar esperando.

- Alguma razão em especial para receber apenas promotores, senhorita White?

  Ela abaixou a cabeça:

- Eu sabia que podia confiar no senhor...

  Então, Mary não queria qualquer promotor. Era apenas uma condição que eliminaria quase todos que viessem vê-la... Nick desconfiara disso desde que, no caminho até o centro, Edgeworth comentou que já a vira antes, no fórum.

  Os olhos da ré pousaram sobre ele. Intensamente.

- Esta pessoa está me ajudando nas investigações para averiguarmos o que realmente aconteceu na noite do crime - explicou o promotor, inclinando-se para frente. – A senhorita White se importaria em nos fornecer seu depoimento?

  Mary assentiu lentamente:

- Eu estava com meu namorado naquele hotel. Viemos passar uns dias na cidade e nos hospedamos lá três dias atrás. O dia do crime. – Ela inspirou. Expirou. E continuou: - Eu desci até a loja do hotel para comprar alguns produtos que me esquecera de trazer na mala. Quando estava voltando, comecei a me sentir um pouco mal e parei em um corredor próximo, para descansar. Quando cheguei ao quarto, ele...
- Craig Tumen estava morto - afirmou Nick. - Foi você quem chamou a polícia?

  Ela hesitou em responder, olhando interrogativa para Edgeworth, que assentiu para que ela prosseguisse.

- Sim, eu peguei o telefone do quarto e disquei o número da polícia. Quando percebi, já estavam todos lá e eu desmaiei. Acordei de novo no hospital, procurando por Craig. Por isso dizem que fugi do hospital, mas eu só queria vê-lo, saber que foi um sonho. – Ela pôs as mãos na cabeça. – Um dia, vi na televisão sobre como seu caso foi mudado em apenas dois dias que o senhor atuou nele, senhor Edgeworth. Eu tinha que vê-lo, para que soubesse que não fui eu, e que o verdadeiro criminoso ainda está solto.
- Bem, isso veremos com as investigações – Edgeworth respondeu. - Mas, se não foi você, quem poderia fazê-lo? O quarto estava trancado, certo? E você deve ter levado a única chave quando saiu de lá. Quer dizer que foi um funcionário? Por que motivo?

  Mary inspirou fundo e balançou a cabeça. Seus olhos estavam cheios de lágrimas, e com a experiência que Nick obtivera de casos anteriores, ele sabia que aquele era o limite de sua... Como deveria considerar aquela mulher? Queria defendê-la, acreditar nela, como Mia Fey, sua mentora, lhe ensinara anos antes. Mas um advogado deveria acreditar em clientes e Mary White não o era. E Nick sequer era um advogado.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Miles deixou o centro de detenção confuso. Aquele caso tinha muito poucos elementos. Talvez o promotor encarregado soubesse algo mais. Contudo, Payne dificilmente ceder-lhe-ia qualquer informação. Não quando o assunto do dia fora como Miles fizera uma defesa perfeita do réu de seu último caso. Para promotores, aquilo era uma aberração.

  Miles trabalhara em muitas investigações e conseguira salvar inocentes de serem indiciados, mas foram muito poucos os casos de tribunal, e em momentos tão separados que ele não atraíra atenção o bastante para si. Sendo recém-saído de algo assim, o ideal era voltar às investigações em vez de tentar entrar no meio de mais um caso como o de Mary White. Ainda assim, nada lhe cheirava bem. Uma pessoa não podia ser acusada quando não havia provas que a incriminassem. Tudo em que a promotoria parecia se apoiar era o fato de que ninguém mais poderia tê-lo feito. Ainda assim, não significava que ela o fizera, ainda que Mary White pudesse tê-lo feito.

- Acho que o próximo passo é visitar a cena do crime - comentou com  Wright, que estava atipicamente calado.
- Não vai me acompanhar?
- Se eu pudesse fazê-lo, não estaria pagando ninguém para isso.
- É que temos pouco tempo. E precisamos dos exames da perícia também. Eu não sou nada na delegacia, mas você é... um promotor ao menos. Eles talvez liberem.
- Suponho que eu possa ir lá rapidamente e tentar. Apenas não creio que este seja o melhor dia, com o caso desta manhã e tudo o mais. A polícia não gosta de receber um aviso de que estavam errados e de que já até fizeram o trabalho certo para eles, sabia?

  Quando Wright não respondeu, Miles suspirou:

- Mas irei ver o que consigo.
- Eu o encontro no hotel, então. – E Wright saiu, virando em uma rua.

  Miles não tivera tempo de lembrá-lo de que ele tinha que voltar ao gabinete logo em seguida.

  Mas Wright tinha razão: era coisa demais para uma só pessoa. Pensando assim, ele seguiu decidido para a polícia. O que pudesse fazer para ajudar, ele faria. Papéis não eram tão importantes quanto a vida de uma inocente, e Miles ainda não tinha qualquer prova substancial que demonstrasse que Mary White não era uma inocente.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Nick conseguiu entrar na cena, que já parecia esvaziada. De fato, era apenas um quarto e a polícia não fecharia um hotel inteiro por tantos dias. Ao menos o quarto estava preservado...

  Uma linha mostrava onde a vítima caíra após receber algumas facadas no tórax e abdômen de uma pessoa mais baixa. Essa era a notícia dos jornais. Da papelada que Miles possuía, Nick apenas havia conseguido o número do quarto do hotel.

  Eles eram de fora da cidade, de um lugar distante. Não possuíam amigos ou parentes ali, dissera Mary. Estavam apenas a passeio. Ela saíra para comprar algo na loja do hotel, pela qual o ex-advogado passara antes de subir, e voltara provavelmente pelo mesmo caminho que ele percorrera até ali. Em um dado momento, Mary sentira-se mal e ali ficara por um tempo. Segundo a história divulgada, ela apenas se encostara à parede do hotel e depois fora vista entrando pela porta com a mesma roupa, que agora estava manchada de sangue. A roupa de Mary, obtida quando ela fora mandada para o hospital, também possuía sangue nela, conforme os papéis que o detetive Gumshoe conseguira para Edgeworth.

  Nick olhou ao redor do quarto. Um futon estava estendido; a varanda estava fechada, provavelmente por causa do ar que estaria ligado naquele dia. Acima da mesinha central, duas bandejas com chá. Uma vazia, outra pela metade. Uma marca de batom na vazia. Uma yukata do hotel estava pendurada em um cabide. Era bastante grande; devia ser de Craig. Sobre outro móvel, teria estado a carteira de Craig, levada pela perícia para análise, uma máquina fotográfica e os celulares do casal. As duas pequenas malas estavam semiabertas em um canto.

- Droga, o que está aqui que não deveria estar? O que posso levar de prova deste quarto?

  Nick prosseguiu até a varanda. Ela não participara da cena do crime e não possuía nada que sequer fosse do casal. Talvez, nenhum dos dois houvesse ido até ali.

  Eles chegaram ao quarto, foram com suas yukatas até a fonte de águas termais do hotel, voltaram. Tomaram o chá. Mary saíra para a loja, Craig ficara no quarto. Uma mulher de yukata entrara no quarto. E saíra com sangue na roupa. Mary entrara no quarto. Encontrara o corpo do namorado. Chamara a polícia. Desmaiara logo depois. Craig estava mesmo morto quando a polícia chegara ao local.

  As câmeras teriam mesmo visto quando Mary entrara duas vezes. Uma para matar, outra para descobrir o corpo e chamar a polícia.

  A yukata seria a solução. Ela só teria se sujado depois da segunda vez que a moça entrara se na primeira não fosse realmente ela. Nick precisava das câmeras da segurança...

Ele saiu do quarto, tentando não ser visto, e seguiu até a gerência do hotel. Para alguém de terno, era fácil fingir ser um advogado. Principalmente quando ele já o fora antes. Assim se apresentou ao gerente, que na verdade também era o dono do lugar, e perguntou sobre os famosos vídeos. Por sorte, o advogado verdadeiro de Mary ainda não estivera por lá e o homem, um senhor de idade chamado Ryo Kanshuu, pareceu acreditar em Nick.

- Nós entregamos as originais à polícia, mas a companhia que contratamos para cuidar das câmeras sempre faz cópias para o caso de haver problemas, sabe? - disse Kanshuu. - Deixa eu ir buscar lá atrás.

  Nick assentiu e ficou esperando junto ao balcão da recepção.

  Kanshuu voltou minutos depois com uma fita em mãos:

- Espero não ter problemas por entregar isto...
- Bem, a defesa realmente precisa dessa cópia, senhor Kanshuu. Mas é só uma fita?
- É, o hotel não é muito grande, por isso não temos muitas câmeras. Veja nesta televisão. - Ele apontou para um monitor de seu lado da bancada.

  Oito cenas eram mostradas em pequenos quadrados. Na verdade, a cada momento eram mostrados quatro quadrados na mesma tela. Nick franziu a testa:

- E se eu quiser ver só uma cena contínua?
- Sinto muito. Nós nunca realmente tivemos muito uso para isto, então a empresa nos recomendou o serviço mais prático, sabe? E não é como se alguém mais ficasse aqui vendo isso. É bem mais prático ter tudo na mesma tela.

  Nick assentiu distraído, olhando suas costas no vídeo à sua frente.

- E o senhor viu a senhorita White entrar na loja?
- Ah, sim. Ela comprou nosso kit de hospedagem. Sabe, escova de dente, pasta, espelho e quite de costura com linha e agulha. O senhor gostaria de comprar um?
- Sim, por favor. – E observou o senhor pegar um pacotinho enfeitado e entregá-lo. – E o chá, quando eles o pediram? – perguntou antes de guardar o kit em sua pasta.
- Ah, nós sempre oferecemos chá aos nossos hóspedes assim que chegam ao quarto. Como os dias andam muito quentes, nós servimos chá gelado para refrescá-los antes que o ar condicionado faça efeito. No inverno, um chá quente é a melhor coisa, é o que todos os clientes me dizem.
- E vocês levam a bandeja até lá?
- Ela entra junto com os clientes, na verdade! Não somos uma grande cadeia de hotéis, mas tentamos ser rápidos.
- E quanto tempo demora até que busquem a bandeja?
- Os clientes podem usar o telefone e me pedir para buscá-la, mas em geral nós a pegamos quando limpamos o quarto no dia seguinte. Aproveitamos e deixamos lá mais um pouco de chá, se os clientes tiverem renovado a estadia.

  Nick assentiu:

- Muito obrigado por sua ajuda, senhor Kanshuu.
- Ah, tudo bem. Boa sorte para aquela menina. Ela parecia tão boazinha... O que terá dado nela?

  Ele quis responder que nada, que não fora Mary, mas permaneceu calado e saiu. Nem ele mesmo precisava acreditar naquilo, já que o que importava era a verdade, ainda que Mary fosse a culpada. Esse era o trabalho da promotoria, para quem ele trabalhava naquele momento.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Miles estava do lado de fora do hotel quando Wright saiu. O promotor descruzou o braço e acenou para o outro, aguardando que este viesse até o carro.

- Consegui a fita da segurança... Estava conversando com o senhor que cuida das coisas por aqui. Ele mesmo fez o check-in do casal e mais tarde vendeu um kit para a Mary White.
- Nós conversamos na promotoria, não posso mais perder tempo. – Miles entrou e bateu a porta, já virando a chave na ignição.

  Wright estava se sentando apressado no banco da frente quando o promotor lembrou-se de algo e gritou, puxando rapidamente a sacola com os preciosos livros encontrados na livraria. O de Franziska já estava a caminho de seu quarto de hotel, pago pela Interpol. Com o puxão repentino do saco, ele se abriu e veio sozinho à mão de Miles. Seus tesouros ficaram espalhados pelo chão do carro, que ao menos era limpo o bastante.

- Oh, não tinha visto, foi mal - dizia Wright, antes de pousar os olhos nos objetos caídos.

  Miles rapidamente se jogou de cara entre as pernas do ex-advogado e juntou os três livros raros com scripts de episódios de Steel Samurai que nunca foram ao ar. Ele tinha que ser rápido, antes que Wright visse do que se tratava, mas não precisava ser tão inconseqüente. Começou a se sentir desconfortável, virado de cabeça para o chão, preso entre as pernas do outro e o painel do carro.

- Você está bem? – perguntou Wright, com um misto de surpresa e preocupação.

  Ele devia ter parecido um louco pulando assim para salvar livros que apenas estavam no chão de seu carro, não correndo nenhum perigo além de expô-lo ao ridículo diante aquela pessoa.

- Edgeworth?

  Miles não conseguia se mexer sem soltar seus tesouros. Precisava da mão para se reerguer.

  Wright puxou a alavanca fazendo com que o banco fosse mais para trás e Miles escorregou ainda mais naquele buraco abaixo do porta-luvas. Suas partes íntimas bateram dolorosamente contra a marcha no meio do caminho e ele gritou.

- Edgeworth! – Wright tentou sair dali, mas o espaço recém-conseguido ainda não era o bastante. – Acho melhor eu te puxar... – Havia confusão em sua voz.

  Até ele devia saber que bastavam as mãos do promotor para conseguir impulso para se levantar e, ainda assim, lá estava Miles abraçado a três livros.

  Wright o segurou pelos ombros, e com uma força estranha o puxou para cima, empurrando seu corpo de volta para o banco do motorista. Quando readquiriu controle sobre o corpo, Miles pegou o saco caído no meio do caminho e pôs todos os seus livros dentro dele antes que toda aquela cena fosse em vão. Seu segredo estava protegido agora.

- Se você não fosse tão distraído nada disto teria acontecido! – ainda brigou com o ex-advogado, ajustando seu cravat.
- Mas não precisava disso tudo, né? Por um monento, achei que você ia se quebrar! E, nossa, como você é leve...
- Apenas nos apressemos, não temos tempo a perder. – Miles virou-se para a frente e ligou o carro mais uma vez para que pudessem partir. Esperava que Wright não percebesse como seu rosto devia estar vermelho.

  Começava a achar que contratar os serviços do amigo havia sido uma péssima ideia. Só não conseguia entender direito por que ele se sentia tão estranho. Era por causa do perigo de ser descoberto, certo? Nenhuma outra razão lógica lhe vinha à mente.

Continuará...

Anita, 20/07/2011

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