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[Phoenix Wright] Refrescante, Capítulo 1

Capítulos: 1 2 3 4 5
Autor: Anita
Série: Phoenix Wright
Gênero: Romance, investigação, shounen-ai, Em Capítulos.
Status: Completa
Resumo: Com trabalho extra após uma viagem, Miles resolve contratar Phoenix para realizar uma investigação.



Notas Iniciais:
Esta história se passa alguns meses após o término de Trials & Tribulations e do primeiro jogo do Miles. Contém ainda alguns spoilers de Apollo Justice, mas nada muito sério, apenas temas do pano de fundo do jogo como a atual situação do Phoenix e a Trucy. Eu não usei nada do segundo jogo do Miles, pois nunca o joguei. O que usei do primeiro é apenas a Kay, ou seja, vocês não precisam conhecê-lo, não há spoilers de lá. Se você nunca leu Phoenix Wright, mas não se importa com spoilers, imagino que não terão problemas para seguir esta história.

Por fim, agradecimentos à Vane por revisar a fic para mim e à Nemui pelo prompt.

Olho Azul Apresenta:
Refrescante

História escrita como presente aos participantes do Coculto 3, uma troca de fics realizada pela comunidade Saint Seiya Superfics Journal.

Capítulo 1 – Talento

  Uns diriam que Miles Edgeworth havia perdido naquele julgamento. Os mesmos que veem o Tribunal como uma arena em que advogados e promotores deviam batalhar ferozmente para convencer o juiz de seus pontos de vista. Ele também, por muito tempo, pensara assim. Foi quando ele achara estar perto da vitória que Miles percebeu que era exatamente o oposto que acontecia, e que a justiça estava, na verdade, prestes a sofrer mais uma derrota.

  Phoenix Wright perdera o direito de advogar. Aquele que o fizera ver qual era a verdadeira missão de um julgamento não era mais considerado apto à advocacia. E Miles não pudera fazer nada quanto a isso...

  Inicialmente, a bem da verdade, ele não se importara. Wright estava sempre se metendo em encrenca. Quantos advogados podiam dizer aos clientes que tinham experiência real no banco dos réus? Pois Wright era um desses poucos.

Não que Miles pudesse dizer muito quanto a isso, posto que ele mesmo já se acusara uma vez. E fora exatamente o advogado de infame penteado para o alto que o salvara daqueles dias negros. Três longos dias negros... Não, longos anos acusando a si próprio.

  Mas era por essa mesma razão que ele não podia se culpar por não ter agido. Nem era sua tarefa. Como promotor, Miles devia se sentar no lado oposto. Se ele podia dizer que fizera algo por Wright, fora ignorar aquele tal de Gavin. Mas Miles o teria feito de qualquer forma, dada a personalidade da nova estrela da promotoria.

  Miles sorriu ao sair do julgamento. Ele andava preocupado com a demora de Wright em resolver sua situação, mas não deixava de sentir-se grato pela luz trazida à sua vida. Mais um inocente que enfrentava uma falsa acusação podia também ter um pouco dessa luz agora, graças a Miles. Não era presunção: o próprio advogado de defesa instruíra o cliente a se declarar culpado e o julgamento vinha correndo assim havia dois dias, quando o caso chamara a atenção do promotor, recém-chegado de um seminário na China.

Custara-lhe prometer se encarregar de várias papeladas para convencer o promotor do caso a ceder-lhe o banco e, com apenas um dia, parecia impossível que Miles pudesse juntar tudo. Ele chegara à frente do juiz com o mesmo conhecimento de quando vira o processo pela primeira vez. Sua única arma estava na obstinação de fazer a verdade emergir. Ele não se importaria que aquele rapaz recebesse a pena de morte se ficasse claro que fosse o perpetrador, mas era inaceitável que as contradições dos autos fossem ignoradas apenas porque ele confessara o crime.

  E lá estava, no meio do público, a peça que faltara ao quebra-cabeças do caso. Custara a Miles juntar todas as provas de forma a convencer o juiz a chamar aquela testemunha. Afinal, a própria defesa dizia que o homem era culpado; restava apenas saber se ele realmente morreria ou se a pena seria atenuada. Se ao menos o advogado não ficasse com o rabo entre as pernas e se juntasse a ele para buscar a verdade...

  Mas agora estava tudo acabado e o homem lhe agradecia, curvando-se tanto que parecia que a cabeça bateria em sua canela a qualquer momento. Miles sorriu ainda mais.

  Virando-se, ele estava pronto para sair do tribunal quando avistou uma jovem. Ela era pequena, frágil e apenas olhava para baixo. Como um fantasma, pensou o promotor, arqueando as sobrancelhas.

  No entanto, antes que a moça pudesse abrir a boca, um detetive começou a falar. Polícia. Muitos policiais.

- Mary White, você está sendo detida pelo homicídio de Craig Tumen. – Seguiu-se a isto uma longa lista de procedimentos, enquanto a menina era algemada.

  Miles decidiu se afastar da cena, não querendo atrapalhar o detetive Gumshoe e seus homens. Mas a imagem de certo advogado surgiu-lhe à mente. Ele estava no meio de todos, afastando-os e pedindo mais informações. Dizendo à jovem que não se preocupasse, que ele acreditava que ela não havia feito aquilo e que tudo daria certo. Que ele faria tudo ficar certo novamente.

  O promotor piscou os olhos, e Wright não estava mais lá.

- Eu estava sonhando? – perguntou-se desnorteado, enquanto a menina era preparada para a escolta.
- Eu também não consigo acreditar, senhor Edgeworth. Uma moça tão bonita... – O detetive que dera a voz de prisão parecia tentar recuperar o fôlego ao seu lado.
- Detetive Gumshoe!
- Sim, senhor! O senhor quer que eu investigue direito, não é, senhor? Já estou fazendo isso, senhor!

  Não era essa a intenção de Miles. Ele só queria que Gumshoe não ficasse bem ao seu lado, arfando como um cachorro. Nem falando de casos que não lhe diziam respeito. Mas...

- Você acabou de prendê-la – Miles começou, levando a mão ao queixo. – E mesmo assim não sabe se foi ela? Ademais, pessoas bonitas também podem cometer crimes, detetive. Devo cortar uma parte de seu salário e investir o dinheiro empregado na formação de nossos detetives?
- Mas, senhor Edgeworth! O senhor não faz ideia do que aconteceu. – Ele começou a tossir.
- Apenas descanse um pouco. Para que correr tanto atrás dessa moça? Ela não iria longe mesmo se quisesse.
- Ela é uma bruxa, senhor! Ela pode... ficar invisível! Tínhamos que pegá-la de surpresa.
- Hã?!

  Edgeworth balançou a cabeça. Não adiantava tentar obter fatos concretos com aquele sujeito. Mais valeria conseguir documentos que explicassem melhor o caso.

- Hoje foi um longo dia para mim. Entregue em minha sala tudo o que tivermos sobre essa moça e eu verei se é mesmo possível que pessoas... fiquem invisíveis. – As últimas palavras saíram à força. Miles já estivera em muitos casos impossíveis, mas ainda não conseguia aceitar crimes com explicações mágicas para culpar as pessoas.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Miles acordou assustado com o telefone de seu gabinete. Ele olhou para os papéis do caso, que Gumshoe fizera serem entregues em sua sala. Estavam todos espalhados pela mesa, e o promotor desconfiava de que seu rosto estivesse marcado por eles. Realmente, o caso daquela manhã o cansara. Tivera muito pouco tempo para se preparar...

- Edgeworth - disse ao pegar o receptor.
- Senhor Edgeworth, que bom que o senhor voltou. É a quarta vez que tento achá-lo... – uma voz anasalada dizia do outro lado da linha.
- E o que deseja?
- É que eu estou muito mal, não consigo sair de casa.

  O que isso tinha a ver com ele se aquele estranho... Espere.

- Detetive Gumshoe!
- Sim, senhor! AI! – Um baque havia precedido o último grito. – Sinto muito; eu bati com o receptor na testa, senhor.
- Aprenda a se identificar quando ligar para alguém, detetive.
- Ah, eu não disse, senhor? Mas é que a gente é amigo, né? Um amigo conhece a voz do outro, senhor...

  Amigo? Mas antes que Miles pudesse retrucar, o detetive fanhoso prosseguiu:

- Mas sobre o caso da Mary White, eu sinto muito! Como não consegui voltar à estação, não pude copiar o restante dos papéis. E meus amigos não querem se meter. Sabe, todo mundo tem medo desse promotor aí.
- Detetive!
- Eu sinto muito, senh... – mas ele foi interrompido por um espirro, várias tossidas e o sinal de ocupado do telefone. A ligação havia sido encerrada.

  Miles recolocou o fone no gancho e olhou para trás de sua cadeira, como se pudesse pegar no ar as informações restantes. Era muito pouco o que Gumshoe obtivera no fórum; apenas o perfil da moça. Na prática, Miles teria que começar a investigação do zero.

- Senhor Edgeworth?

  A voz saída do telefone fizera Miles perceber que o havia atendido automaticamente.

- Fale.

  Era a secretária do promotor do caso daquela manhã. Ela estava informando que acabara de enviar por alguém um carrinho com todos os papéis necessários para o seu relatório, que deveria ser entregue até a manhã seguinte.

- Mas amanhã é o primeiro dia de julgamento! – reclamou Miles para ninguém em particular, após desligar o telefone.

  Ele cogitou ligar para Kay Faraday. Ela gostava de ser sua assistente e ficaria feliz em poder fazer algo após uma semana sem vê-lo. Contudo, Miles olhou novamente para os papéis de Gumshoe. “A mulher invisível”, dizia alguma anotação a lápis no topo da primeira folha. Esse era o apelido do caso, ele soubera assim que retornara à promotoria. Kay era apenas uma menina... Era verdade que lhe fora muito útil durante algumas investigações, mas, se possível – e raramente o era, dada a energia que a moça tinha –, Miles evitava envolvê-la.

  Miles massageou as laterais da cabeça. Nessa mesma hora, o carrinho chegou, carregado de papéis. Como três dias de julgamento poderiam render tantas folhas? As pessoas deviam aprender a serem mais sucintas. Talvez ele devesse abordar esse ponto na revolução que ele sonhava fazer na promotoria. Logo após convencer seus colegas de que não estavam ali para acusar ninguém e sim para se assegurarem da verdade, Miles pretendia pôr um limite àquele desperdício de papel. Mas com Wright fora dos tribunais, Miles era o único a defender seu ponto de vista, e aquela montanha de papel não era nada além de sua punição por perder o “jogo” daquele dia.

  Hm?

  Wright... estava desempregado, certo? E estar sem o direito de advogar não significava que ele era uma “persona non grata” para os tribunais. Ele apenas não podia assinar como advogado. Mas Wright ainda podia fazer suas reviravoltas naquela sala de julgamento!

  Miles se levantou da cadeira e pegou o telefone.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Miles tocou a campainha distraído. O tempo era curto, e ele não conseguia decidir se pensava no caso da mulher invisível, ou na papelada em sua mesa que não parecia diminuir, não importava quantos documentos ele conferisse.

  Era um aborrecimento ter que ir até o escritório de Wright, simplesmente porque ele não atendia o telefone. Em vez de ganhar tempo com os serviços do ex-advogado, Miles desconfiava estar perdendo.

  Após pressionar mais algumas vezes a campainha, a porta se abriu. Do outro lado, encontrava-se uma menina de olhos grandes usando um vestido escuro, uma peculiar capa e um chapéu rosa.

- Seja bem-vindo! – gritou ela, puxando-o para dentro. - A Agência de Talentos Wright e Associados dispõe dos melhores profissionais para tudo o que nosso cliente desejar!

  Miles tentou resistir sem machucar a criança, mas se viu deixado no meio de uma sala nem um pouco organizada.

- Sinto muito, acho que me enganei de endereço - disse, enfim, preparando-se para dar meia-volta.

  Mas parou de repente. Voltando-se para a criança, perguntou:

- Como disse que este... – resistiu para não chamar a sala de lixo – escritório se chama?
- Agência de Talentos Wright!
- Agência de Talentos?
- Wright! – A menina sorria abertamente, apesar de seus olhos mostrarem um pouco de confusão com o questionamento. – O senhor não está precisando de nada? Nós dispomos de uma pessoa que toca pianos, e também podemos animar festas com shows de mágica!
- Animar festas?
- É nossa especialidade! Então, que tipo de festa o senhor tem em mente?
- Eu realmente preciso ir...
- Não, não, não vá! O senhor gostaria de uma demonstração? A Agência de Talentos Wright oferecerá especialmente para o senhor um de nossos números principais.

  Miles olhava a porta como uma pessoa perdida no deserto que vê um oásis sem ter forças para correr até lá. Ele já havia se acostumado a Kay Faraday, uma menina tão animada quanto aquela à sua frente, mas esta era tão mais jovem... Seus olhos grandes pareciam haver lhe lançado um feitiço para que não se mexesse, e Miles não conseguia dizer não àquela insistência.

- Eu realmente não pretendo fazer nenhuma festa - ainda tentou dizer.
- Mas o senhor já está aqui, não é? Por favor, sente-se e aprecie meu melhor número!

  Sua cabeça estava doendo. Aquela sala colorida, cheia de objetos peculiares e aquela menina barulhenta que não parecia lhe dar ouvidos... Por isso, Miles concordou e tomou um assento no sofá, voltando-se para o lado de forma a ver direito a jovem.

  Quantos anos ela teria? Sete? Era tão pequena... Seria aquilo um jogo de faz-de-conta?

- Como disse que esta agência se chamava? – perguntou ele, interrompendo o início da apresentação.
- Agência de Talentos Wright e Associados! – Ela mantinha a mão no chapéu, como se estivesse prestes a tirá-lo.
- Wright e Associados? Quer dizer que aqui é mesmo o Escritório Wright e Associados. – Miles levantou-se. – Eu preciso falar com o dono deste lugar, menina. Sabe onde Wright está?
- Hm? – Entortando a cabeça para um lado, ela retirou o chapéu, enfim.

  Uma pessoa surgira a seu lado, usando aquele mesmo chapéu rosa:

- Ele saiu e voltará logo, senhor! – disse uma pessoa recém-chegada.

  Espere. Não era uma pessoa coisa nenhuma. Mas justo quando Miles se aproximava para entender aquela criatura, ela desapareceu.

- Como o senhor Chapéu informou, ele já volta! Então o senhor prefere contratar nosso pianista, é isso?

  Miles decidiu dar de ombros e voltou a se sentar, cruzando as pernas e braços. Contanto que aquele sujeito não demorasse...

  Como ele pudera deixar uma criança assim desacompanhada no meio do escritório? Seria filha de algum cliente? Impossível. Wright não podia mais advogar. Mas e se tivesse encontrado alguém para fazer isso por ele?

  Miles não sabia o quanto podia distrair a menina, dada a sua total inaptidão com crianças. Mas havia coisas piores, como terremotos e elevadores.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Nick conferiu suas bolsas antes de abrir a porta de seu escritório com o cotovelo. Ele forçou o braço para empurrar a maçaneta para baixo, e aí puxou lentamente a porta para fora até abrir um espaço suficiente para pôr o pé, impedindo que ela se fechasse novamente. Em seguida, chutou-a, e rapidamente jogou seu corpo para dentro da sala.

  Trucy lhe recebeu com um enorme sorriso. Ainda era incrível como ela podia ser tão cheia de vida quando tudo parecia conspirar contra eles. A ideia dela de montar uma agência de talentos só fora aceita para satisfazê-la; era uma questão de honra para Nick sustentá-los. Fora uma falta de preparo sua que o fizera não apenas perder o caso do pai dela, como ainda sua permissão para advogar. Sobre a insistência dela em fazer shows de mágica, ele conseguira que alguns conhecidos a “contratassem”. Mas não restavam muitos que aceitassem a distração em suas festas, e Trucy era incansável em sua vontade de trabalhar para ajudá-lo, por mais que ele lhe pedisse que não fizesse nada além de estudar.

  Trucy pegou-o pelo braço e o puxou para o interior da sala:

- Este senhor deseja contratá-lo, papai!

  O senhor mencionado pareceu engasgar ao final da frase.

- Edgeworth? – Nick o olhava surpreso, mas nem de longe tanto quanto o próprio promotor.
- Wright! O que houve com você? Que roupas são essas?

  Nick lembrou-se que a última vez em que se encontraram, Edgeworth estava de partida para o exterior após um rápido retorno para auxiliá-lo no caos da morte da mãe de Maya. Nick soubera de seu retorno definitivo um mês depois, mas os dois nunca se encontraram no tribunal e não havia qualquer desculpa para que se vissem.

  Após ser acusado por Klavier Gavin de usar provas falsas, Nick não parava de imaginar o que seu ex-colega de sala estaria pensando dele. Muitas vezes, cogitara pedir-lhe ajuda antes da decisão final da Ordem dos Advogados. Mas nunca vencera o medo de ver a expressão desapontada do promotor.

- Então, vai me explicar isso? – Edgeworth havia se levantado do sofá e cruzado os braços impaciente.
- Por que eu estaria com terno e gravata quando só saí para comprar mais suco de uva? – Ele apontou para as duas sacolas, agora a seus pés. – Desde que mudei de carreira, acabei me viciando nisto! Não quer um gole? Sirva algo para nós, Truce!
- Certo! Saindo um copo de suco especialmente para nosso cliente! E desta vez fui eu que o consegui, viu, pai?
- Parabéns, Truce. – Ele bagunçou os cabelos dela levemente e repôs o chapéu, observando-a ir até a pia com as sacolas.

  Um muxoxo trouxe sua atenção de volta para Edgeworth.

- Vou ignorar esta bagunça, suas roupas de mendigo... Mas há algo importante demais para eu fingir que não vi. – E ele apontou como se disparasse um tiro em Trucy. – O que é aquilo?!
- Suco de uva?
- Wright, sabe muito bem de “quem” estou falando. Não há como você ter escondido uma filha até hoje. Não uma dessa idade!

  O homem suspirou e então contou como andava sua vida desde o final do julgamento. Nick tentou ser o mais conciso possível, embutindo otimismo no final do discurso graças ao seu novo emprego como pianista em um bar.

- Não sabia que tocava tão bem...
- Pois é! – disse ele, passando a mão atrás da cabeça. - Você devia vir me ver qualquer noite dessas.
- Aqui está, senhor! – Trucy segurava uma bandeja com alguma habilidade, considerando-se que ela tinha apenas oito anos.

  Edgeworth aceitou o copo educadamente.

  Após um leve gole, ele pôs o copo decidido sobre a mesa em frente ao sofá e bateu nela firmemente com a palma da mão.

- Não vim aqui tomar suco! – disse decidido, fazendo Trucy pular abraçada à bandeja que ela levava à pia.
- Ah, você quer um pianista, é isso? – perguntou Nick, não se deixando abalar pelo comportamento do amigo.
- Hum... não! Não é isso! Isto... isto é um reino de malucos! Como assim essa menina está trabalhando? Não sabe que crianças não podem ser exploradas assim? E essa adoção sequer foi legalizada? Como pode tentar ganhar a vida tocando piano em um bar a noite toda quando há uma criança na sua casa? Você não pode deixar essa menina desatendida assim!
- A Truce sempre me acompanha.
- Uma criança em um bar?!

  Nick podia ver uma veia prestes a estourar na testa do promotor, enquanto este avançava em sua direção. Ele mal disfarçou o riso.

- Acho que você não veio como assistente social, né?

  A raiva de Edgeworth sumiu instantaneamente e ele se sentou novamente no sofá:

- Imagino que tenha ouvido falar sobre a mulher invisível.
- Ah, eu ouvi, eu ouvi! – Trucy voltara e agora estava pulando em frente ao sofá. – Ela estava num hotel com o namorado e aí ela sumiu das câmeras e surgiu no quarto e depois sumiu de novo e reapareceu noutro lugar! Ninguém consegue traçar o caminho completo que ela percorreu, né? Eu gostaria muito de saber qual é o truque que ela usou... – Seu rosto assumira um aspecto pensativo.
- Oh, que interessante - comentou Nick, admirando a expressão que a filha adotiva fazia no momento. - Aposto que você gostaria de conhecê-la, né?
- Mas um mágico nunca revela seus truques! – respondeu Trucy, arfando de ansiedade.
- Bem, se você perguntar a ela, talvez ela te dê uma dica, e aí você investiga melhor e descobre...
- Oh! É mesmo, né? Papai, pode me apresentar a ela? Por favor, por favor! Nossos clientes triplicariam, tenho certeza! Todos estão falando nela, né?

  Um som de batida assustou os dois. Edgeworth havia lançado mais uma vez a palma da mão contra a pobre mesa.

- Wright, você pode me ouvir até o final!?
- Claro. Mas quando a Trucy poderia conhecer essa mulher, hein?
- Não pode. Ela está presa, Wright. Não tem lido os jornais? Ela foi acusada de matar o namorado naquele quarto de hotel e levada ao centro de detenção.
- Oh. Sinto muito, Truce.

  A menina assentiu, sendo sempre uma boa garota.

- Wright, pode se concentrar no verdadeiro problema? Eles não fazem ideia de como ela entrou no quarto. Ela apenas apareceu no outro lado do hotel, entrou lá e saiu. Nesse meio tempo, o homem morreu. Não é suspeito? Como alguém se teletransporta assim?
- Câmeras não são infalíveis, mas o fato de que a vítima está morta dificilmente será provado em contrário... – Nick olhou para seu copo e  bebeu o conteúdo em um gole. – Agora termine sua bebida, Edgeworth! Não tem coisa melhor no mundo, não é?
- Preciso que investigue esse caso.

  Nick começou a rir:

- Acho que você errou o endereço. O detetive Gumshoe pode não ganhar bem e nem sempre ser o melhor da categoria, mas é para isso que ele está na polícia, né?
- Ele está doente no momento. E não sou o promotor do caso; por isso, não posso ordenar que nenhum detetive o investigue como eu quero. E mais: a polícia fará o que for preciso para formar uma explicação perfeitamente lógica para esse homicídio. Sabe que isso não significa a verdade, apenas uma condenação garantida.
- Mas se o caso não é seu...
- Eu acredito que a verdade deve ser descoberta antes de se condenar alguém. Eles não farão isso.
- Não pode solucionar todos os problemas do mundo, Edgeworth.

  O promotor ficou em silêncio por um momento.

- Eu pretendo pagar por seu... talento. – Edgeworth cruzou os braços e fechou os olhos. – Pagarei diariamente. O julgamento será amanhã, o que significa que você tem a chance de ganhar por quatro dias de trabalho, caso tudo se arraste.

  Nick caiu na gargalhada antes de responder:

- Eu não acho que o juiz aceitaria uma apresentação de piano como depoimento, Edgeworth!
- Não brinque comigo, Wright. – Ele balançou o indicador, olhando-o nos olhos. – Este é um caso sério e, se você falhar, uma possível inocente poderá morrer. E até que se prove o contrário, Mary White é inocente.
- Nossa, que legal! Se virarmos detetives, vamos poder conversar com ela sobre seu truque, né? – interrompeu Trucy, ainda abraçada à bandeja e olhando intensamente para o pai com seus olhos enormes e brilhantes. - Vamos, pai! Vamos aceitar esse trabalho!

  Nick, que estivera prestes a recusar mais firmemente, não conseguiu resistir ao apelo da filha. Voltando-se para Edgeworth:

- É bom ser um salário melhor que o do Detetive Gumshoe. Eu tenho família para sustentar agora, né?...
- Que seja, Wright. Agora, podemos ir a algum lugar para conversarmos melhor sobre os detalhes? Essa não é uma história para crianças.

  Talvez afastar Trucy desse caso fosse mais difícil que salvar a tal Mary White da forca... Mas Nick pediu firmemente que ela não os seguisse até o gabinete do promotor. Em troca, teve que prometer levá-la até o centro de detenções mais tarde.

- Você não faz ideia de em que nos meteu, Edgeworth... – comentou ele. Mas o promotor apenas deu de ombros, balançando a cabeça.

  Nick sentira falta daqueles gestos típicos do outro, mais do que queria admitir. Ainda assim, estava grato por não haverem entrado no assunto do julgamento do verdadeiro pai de Trucy. Ele não queria ouvir nada sobre aquela pessoa... Não mesmo.

Continuará...

Anita, 16/07/2011

Notas da Autora:

Novamente, agradeço à Vane pela revisão e à Nemui pelo tema em que me inspirei para fazer esta história. “Phoenix perdeu o direito de advogar. Faltam bons advogados na praça, e Miles Edgeworth sente a falta do amigo nos tribunais. Dick Gumshoe está em casa com um resfriado e Miles resolve então contratar Phoenix para auxiliar um caso.”

Infelizmente, isto está ficando um pouco longe de comédia e nem mesmo tem muito romance, mas ainda haverá, eu garanto!

Qualquer comentário, sugestão ou crítica pode ser enviado a meu e-mail Anita_fiction@yahoo.com E se vocês quiserem mais histórias minhas, por favor, visitem meu site Olho Azul!

Até a próxima :D

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