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[Sailor Moon] Na Cabeça, No Coração - Capítulo 7, escrita por Anita

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Título: Na Cabeça, No Coração
Autora: Anita
Fandom: Sailor Moon
Gênero: Comédia romântica
Classificação: 12 anos
Status: em andamento
Resumo: Tsukino Usagi / Chiba Mamoru. Usagi percebe que Mamoru está ferido no ombro, tal como aquela pessoa se ferira no dia em que Sailor Venus apareceu. Mais tarde, ouve da boca de Zoisite uma confirmação. E agora os dois precisam cooperar para salvar de uma ameaça misteriosa uma famosa trupe de teatro, que Usagi muito admira.

Notas Iniciais:
Esta história apresenta uma trupe fictícia chamada Harotsuka, qualquer fato relatado é pura ficção, mas eu me inspirei em um grupo especializado em musicais que realmente existe chamado Takarazuka Kagekidan. Por outro lado, os dados fornecidos não serão fidedignos. Afinal, o grupo é meu e eu faço o que quero!
E Sailor Moon não me pertence, não lucro nadinha com isto. Vale ao menos um comentário, né???
Agora vamos ao penúltimo capítulo!


Olho Azul Apresenta:
Na Cabeça,
No Coração


Capítulo 7 — A Verdadeira Identidade

  Percorrendo com os dedos, Yuuki narrou todo o mapa do teatro estirado sobre a mesinha da sala. Ela o havia conseguido mais cedo naquele dia, após implorar a alguma diretora da companhia, quem a conhecia de peças passadas em que atuaram juntas. Quando Usagi e Mamoru retornaram do café mais tarde, encontraram-na já sentada em frente à mesa, estudando os papéis tão focada que parecia disposta a acompanhar as senshi.

  Não que Yuuki precisasse de algum mapa. A cada corredor que descrevia, Usagi via com mais força quanto tempo ela já devia ter passado dentro daquele prédio.

  Claro, o excesso de palavras, de explicações, não significava preciosismo dela ou prolixidade; era resultado de uma chamada recebida durante a ausência dos dois. Usagi não mais lembrava se havia sido Eri ou Suzuka, mas uma das amigas de Nao com quem Yuuki havia entrado em contato avisara que estava já na polícia, notificando seu desaparecimento. Quando o responsável pelo prédio de Nao fora localizado e convencido a abrir o apartamento, a sala estava revirada. Não como a de Mamoru, Usagi imaginou pela narração de Yuuki, pois algo sobre o estado do cômodo pareceu convencer a todos de que Nao havia sido vítima de sequestro.

— Acha que pode ter sido algo sem relação com esse coreógrafo? — Ressoava uma esperança na voz de Yuuki ao perguntar isso logo que terminou de atualizá-los.

  Usagi não respondeu. Nem mesmo agora, quando Yuuki completava o estudo de todo o mapa, a pergunta ainda pairava.

— Mas, Tatsu-san, o que faremos se o coreógrafo já tiver ido embora? Sua apresentação já começou, né? — indagou Mamoru a Yuuki.
— Ele ainda está lá — ela afirmou com um sorriso. — Minha trupe começa a se sentir melhor em parte, já que as genies mais velhas não têm mais que encontrá-lo por enquanto, mas ele ainda é encarregado pela noite das mais novas.
— Ai, aposto que ele nem sabe o que você tá falando. — Usagi estalou a língua, feliz por acharem um assunto mais descontraído que as câmeras de segurança e a etiqueta para andar pelos corredores do prédio da companhia.

  Com um riso, Yuuki explicou:

— Todo show apresentado no Grande Teatro tem uma noite em que as genies com mais de sete anos na companhia saem e deixam seus papéis para as mais novas. É a mesma peça, mas outras atrizes menos experientes. E ele também está encarregado de coreografá-las; se bem que isso é incomum. Ainda mais sendo alguém de fora da folha de pagamento... o mais comum é encarregarem professores de dentro mesmo.
— O Dark Kingdom deve ter manipulado tudo — Usagi afirmou, percebendo logo em seguida que não deveria pela confusão no rosto de Yuuki e algum espanto no de Mamoru — embora ele soubesse que ela já estava familiarizada com ao menos isso. Deveria ter se mostrado menos confiante na declaração, concluiu com uma nota mental para a próxima vez.
— É de onde suspeitamos que venha esse coreógrafo, Tatsu-san — disse Mamoru quando Usagi se calou.

  Yuuki de novo.

— Chiba-kun, deveria me chamar só de Nao. Tatsu-san me faz pensar que estou no meio de alguma gravação pra tevê. Lá no Harotsuka, a gente sempre acaba se chamando pelo primeiro nome ou algum apelido, a menos que seja alguma genie que não vejamos muito.
— Mas... — foi Usagi quem falou primeiro, pois Mamoru fazia a expressão de quem ainda interpretava toda aquela informação.
— Oh! — Yuuki levou a mão ao rosto. — Desculpa, Nao fica meio confuso... — Ela pensou por um instante. — Yuuki! Pode ser Yuuki. Todos me chamam de Yuuki ultimamente.
— Nao seria seu nome verdadeiro? — Embora estivesse atrasado até havia pouco, Mamoru fora mais rápido que Usagi na conclusão.

  Quando Yuuki assentiu hesitante, o estômago de Usagi se contraiu.

  Havia pouco mais de uma que, enquanto tomava seu chocolate quente com Mamoru, entendeu pela primeira vez por que aquela mulher se importava tanto com Nao. Mais idade, uma personalidade também evidentemente mais madura, outro círculo de amigos à exceção de uma pessoa, trupe distinta, classes separadas. Não existia qualquer registro de maior proximidade além de uma peça juntas e talvez eventos do Harotsuka, lotados de muitas outras genies com quem teriam mais afinidade para conversar.

— Vocês têm o mesmo nome... — Usagi disse o óbvio, mas seu rosto queimava com alguma agitação.
— Pois é! — Yuuki também falava animada, como se Nao não fosse um nome bastante corriqueiro. — Nossos sobrenomes também nem são muito diferentes. Ela se chama Sakamoto e eu sou Kawamoto. Em kanji, só muda uma letrinha.
— Nossa! — Usagi ficou boquiaberta.

  Imaginou-se no lugar de Yuuki. Se estivesse apaixonada por um garoto aparentemente tão diferente dela que nem opostos eram e aí descobrisse uma coincidência assim, sabia que interpretaria como alguma bênção dos deuses ao futuro relacionamento.

  Decidida, com o coração batendo forte e bombeando mais sangue, Usagi juntou as mãos de Yuuki nas suas e declarou:

— Vamos salvá-la! Temos que salvá-la!

  Yuuki apenas riu em resposta, mas seus olhos tão escuros pareceram recuperar algo do brilho que a distinguia de todas as muitas genies que Usagi havia conhecido. E ali prometeu que iria proteger aquele amor com toda sua energia.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Suas amigas haviam conseguido um quarto apenas para as quatro em um albergue próximo da cidade de Harotsuka, mas Rei ainda não havia se convencido da decisão de Usagi. Agora a olhava ameaçadora enquanto era repetida toda explicação de Yuuki sobre o mapa do teatro.

  Nem havia espaço para uma quinta pessoa, Usagi tentara arguir, mas, aparentemente, já haviam consultado os donos do lugar e o preço pago seria diminuído para todas se uma quinta aceitasse ficar no futon. Como se ela fosse trocar a cama de casal toda dela no quarto de hóspedes de Yuuki por um chão de espaço mínimo entre as duas camas de beliche, cujas posses já haviam sido declaradas àquela altura.

  Ami sentou-se sobre o piso e tentou organizar enormes papéis trazidos enrolados no trem cheio da hora do rush até ali. Sua expressão concentrada pareceu familiar e logo Usagi sentiu um formigamento no rosto.

  Mamoru... ele também estudara as marcas deixadas por Yuuki com a mesma atenção. Usagi não entenderia o que era um corredor ou uma porta se não lhe tivesse sido narrado cada passo do caminho no interior do prédio.

— Então, esse coreógrafo vai estar nesta sala? — Makoto indagou, apontando para o asterisco sobre um dos muitos retângulos do mapa.
— Pela noite, sim — disse Usagi. — Ele tem agendada uma hora de instrução com as genies mais novas a partir das oito da noite amanhã.
— Que tarde. Deve ser um caos se apresentar por seis horas e ainda ter que esperar pra ter mais aula de noite.

  Minako fez um barulho de quem concordava, mas recordar-se de sua presença ainda fazia Usagi consertar a postura.

— Afinal, como vamos entrar? — Minako perguntou.
— A Yuuki-san prometeu nos ajudar; é só falarmos a hora. A Erika-san, uma amiga dela e da Nao-san, vai nos levar até a sala certa pra não ter erro. Basta irmos com um casaco bem longo pra disfarçar nosso uniforme. — O conselho havia partido da própria Erika, acertando os detalhes por viva-voz ao telefone, logo antes de Usagi partir para repassar tudo no albergue.
— E eles notariam algo errado? Essas meninas usam roupas bem extravagantes, né? — Makoto revirou sua mochila, retirando um folheto idêntico ao que Usagi já havia encontrado na estação de trem e ao pôster estampado na parede da composição em que viera desde Harotsuka.

  Todas repassaram de mão em mão para verem com detalhes uma roupa cheia de penas coloridas e lantejoulas, além da maquiagem grossa que cada genie retratada utilizava. Era um anúncio não para o musical em cartaz no momento, mas para o que entraria dali a um mês, a ser apresentado pela trupe Himawari. A trupe a que tanto Nao e Erika haviam pertencido em algum momento, recordou-se Usagi com um pouco de nostalgia.

  Queria ter conversado mais com Nao sobre aqueles tempos, mas nunca houvera oportunidade quando desde quase o primeiro dia cada encontro delas tinha a sombra da ameaça do Dark Kingdom. Ou quem fosse.

— Usagi-chan...

  Acordou com a mão firme de Minako sobre seu ombro. Seus olhos brilhavam em sua direção.

— Amanhã resolveremos tudo! — ela disse tão confiante que Usagi foi compelida a concordar, embora não possuíssem nada que demonstrasse ser possível.
— Mas com essa aula tão tarde... vamos ter que nos esquecer de voltar pra casa ainda amanhã — disse Rei.

  Usagi sacudiu a cabeça não querendo pensar demais e retomou a explicação:

— Iremos com um sobretudo ou algo assim. Aí, se nos virem, é só dizer que somos primas da Erika-san.
— Que família enorme. De uma multiplicamos pra cinco! — Rei riu, aparentando menos tensa que quando falara pouco antes.

  Usagi apenas assentiu, mas no fundo de sua cabeça, corrigia o dado. Seis. Ainda havia Mamoru também. Ele pretendia entrar com elas? Não via como poderia explicar sua presença ali quando todas suas amigas — bem, ela não sabia do posicionamento de Sailor Venus ainda, mas era melhor presumir que não seria diferente — olhavam-no com desconfiança. E com razão.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Após uma rápida noite na casa de Yuuki, Usagi precisou retornar ao albergue no dia seguinte para acertarem os últimos detalhes do plano. Nem havia muito o que gravar. Entrariam horas antes para conhecer o território e tentariam se esconder dentro da sala. A intenção era evitar que qualquer genie comparecesse ao ensaio, razão pela qual Erika já havia sido pedida a informar de alguma forma que o local havia sido alterado pouco antes de elas se encaminharem para lá. Ela ainda se oferecera a observar cada uma das genies mais novas para garantir que nenhuma resolvesse conferir a informação. Sempre havia alguém que preferia usar um pouco mais de tempo para se precaver, Erika comentou. Usagi imaginava que a própria seria parte desse grupo.

  Assim feito, os únicos inocentes seriam os demais instrutores, os quais não eram tão numerosos quanto no ensaio normal, de acordo com Yuuki. Ainda estavam preocupadas com aquela porcentagem de chance, mas era pouca gente com que ficar atento, se comparado a uma média de trinta a quarenta mulheres que já seriam redirecionadas.

— Onde está Sailor Moon? — Yuuki perguntou tão longo a encontraram com Mamoru em frente ao início do Caminho das Flores
— E o que ele faz aqui? — Sailor Venus indagou, olhando curiosa não apenas por ser o único homem do grupo, mas por nem sequer conhecê-lo, Usagi imaginava.
— Sailor Moon está agindo por outra frente — mentiu para a primeira pergunta da forma mais evasiva que pôde, mas não conseguia pensar em nada para a segunda.
— Sou o assistente da Nao-san — Mamoru respondeu tão logo ela acabara de falar, sua voz calma como se dissesse um fato óbvio.

  E era para ser, pois não passava da verdade. Sua interpretação teria sido perfeita ao escolher não mentir à exceção de sua sobrancelha levantada na direção de Usagi. Suas amigas não pareceram notar aquela comunicação, ou a interpretaram como se houvesse sido reação a uma pergunta desnecessária.

— É melhor entrarmos logo — disse Sailor Mercury, seu computador já ligado. Ela havia conseguido digitalizar ali a imagem do mapa para não precisarem daqueles papéis se fosse necessária alguma fuga de emergência.
— A Erika-chan já está chegando. — Yuuki estava com o celular na mão, provavelmente trocando mensagens. — A apresentação da manhã já acabou, ela virá assim que trocar de roupa da fantasia.
— Você devia ter ido... — Usagi comentou de novo. Desde que acordara e notara que Yuuki não pretendia voltar a se apresentar, ela vinha tentando dissuadi-la.
— Prometo que amanhã, quando tudo estiver resolvido, eu voltarei. — Ela lhe sorriu, mas não tinha a mesma força de antes, quando mesmo alguém como Erika se declarava incapaz de contrariá-la.

  As senshi se voltaram para o teatro e estudaram sua aparência externa. Algumas fãs passavam em direção à entrada principal, com certeza para assistirem ao show da tarde. Usagi lembrou-se de quando estivera ali mesmo de pé, pronta para seguir Nao pela mesma porta que entraria logo mais.

— Nao está bem; ela é mais forte que todas nós! — afirmou para Yuuki.
— Eu sei. — Contudo, parecia haver gratidão nos olhos por trás dos óculos escuros que Yuuki usava para disfarçar sua identidade. Com se lhe dissessem "eu realmente precisava ouvir isso".

  Cerca de quinze minutos depois, elas foram direcionadas à porta lateral do teatro, que se abriu por dentro deixando parte do corpo de Erika visível.

— Venham — ela sussurrou, conferindo por cima dos ombros de todos. Teria medo de algum fã fotografar aquela invasão de "primos" ou só do Dark Kingdom?

  Uma a uma, as senshi a seguiram para o interior do prédio. Usagi seria a última de suas amigas quando sentiu o corpo de Mamoru entrar parcialmente em seu caminho.

— Que foi? — perguntou irritada porque Erika deixara claro com sua expressão que precisavam se apressar.

  Mamoru segurou ombro e a afastou da entrada, indicando que Erika fechasse a porta.

— Mas... — ainda ouviu Rei começar a dizer.

  Na verdade, Usagi já devia ter previsto que Mamoru não lhe permitiria se envolver.

  Era para Sailor Moon estar ali em seu lugar. Contudo, quando experimentara o enorme casaco e se olhara no espelho na noite anterior, não importava a tiara lunar sobre sua testa, aquela refletida era Usagi e ninguém mais. Perguntava-se até se Mamoru não identificara já cada uma de suas amigas, pois até ela, em pensamentos, misturava seus nomes reais aos codinomes.

  Pôde apenas enviar um sinal rápido às amigas antes de a porta fechar entre ela e as demais senshi. Mamoru continuava em seu caminho, mesmo agora que ela nem podia mais entrar, mesmo que quisesse.

— Calma, tá. Já tô quietinha aqui! — Ela ergueu as mãos, como se estivesse se rendendo.
— E o que fazemos? Esperamos onde? — Yuuki indagou.

  Usagi não tinha tempo de esperar com ninguém. Não podia só ficar ali fora por um pequeno erro de cálculo seu. E se não tivesse deixado Yuuki vir? Erika também iria reconhecê-la... Mais chances ainda desta que daquela fazê-lo, tomando em consideração o estado em que Yuuki se encontrava.

  Sentiu o olhar de Mamoru sobre si e engoliu seco. Ele certamente saberia, ainda que Erika acabasse por ignorar. Se ainda não desconfiava, era por sorte de estarem em uma situação extrema atrás da outra.

— Podemos ir pra um café logo mais à frente — sugeriu Yuuki. — É de um casal super bacana que faz uns muffins deliciosos. E não posso realmente ficar parada direto aqui até tarde, mesmo com estas roupas é bem fácil me reconhecerem.

  "Estas roupas" era uma expressão que enganava, pois Usagi não via nada de diferente no estilo dela. Tênis preto, um bermudão jeans, uma camiseta branca com a estampa preta e branca de um personagem da Disney, um lenço fino enrolado no pescoço, óculos de sol e chapéu preto. Não importava como olhasse, aquela só podia ser uma genie. Em se tratando de uma First, não haveria dificuldade para algum fã logo juntar as pistas.

  E muffin era uma palavra interessante. Como estava com as amigas, não houvera escapatória se não pagar pelo próprio almoço e nem comer sobremesa. Agora estava faminta. Poderia segui-los, comer, dizer que Sailor Moon a chamou e sumir quando já alimentada. Era melhor que ficar mofando numa sala vazia de ensaio com Rei lhe atentando. Seria mais complicado invadir o teatro, mas não dava tanto assim pela segurança. Alguma janela estaria aberta.

— Vão em frente, por favor — Mamoru disse antes que Usagi pudesse aceitar o convite. — Preciso investigar algo por minha conta.
— Oh. — Yuuki deixou os lábios meio partidos com a decepção.  — Por que não foi com elas? — ela perguntou com a cabeça levemente torta.
— Não creio que confiariam em mim.
— Mas ainda o verei à noite, né? Erika havia combinado de jantar conosco para conversarmos — Yuuki o anunciava com a decepção de quem se via forçada a revelar sobre alguma festa surpresa ante o risco de ficar sem aniversariante. Ao mesmo tempo, havia uma sombra em seu olhar que não fazia jus ao tom de quem preparava uma festa.

  De fato, não parecia ser da personalidade de Erika pensar em eventos animados, muito menos para conversar com dois quase estranhos que não estavam em idade para beber. Usagi concluiu que a intenção real devia ser distrair Yuuki um pouco.

— Sim, tentarei voltar a tempo — Mamoru respondeu em tom resignado, provavelmente, chegando à mesma hipótese sobre os propósitos de Erika. — Agradeço por toda a ajuda de vocês duas. — Então, com um gesto de despedida, ele se virou para ir embora.

  Rapidamente, os enormes olhos de Yuuki focaram Usagi, as bolas negras tomando mais do branco que o normal.

  Vendo Mamoru já se afastar, ela precisou decidir rápido. E parte do poder de Yuuki para convencer pessoas parecia haver retornado à mulher. Usagi sacudiu a cabeça para se livrar daquela quase hipnose e juntou as mãos, curvando o corvo apologética.

— Sinto muito, Yuuki-san! Também preciso ir com ele!

  Para sua surpresa, não havia qualquer desapontamento desta vez. Em vez disso, Yuuki sorriu.

— Eu compreendo.

  Um sorriso com efeito familiar. Era idêntico ao de Mamoru na tarde do dia anterior, logo antes de revelar sua opinião sobre os sentimentos daquela mulher por Nao.

  Sem tempo para entender o que poderia significar naquele contexto, Usagi despediu-se e correu. Demorando-se mais um pouco, perderia Mamoru de vista. Percebeu-o contornar o prédio do teatro, andando na direção do Harotsuka Hotel. Logo ao fazer a mesma curva, Usagi precisou frear. Tratava-se apenas de um pequeno beco que dava para algum muro do teatro. À sua frente, estava de pé Mamoru já transformado.

— Que faz aqui? Volte, Usagi — ele disse ríspido. Podia sentir seu olhar intenso não obstante a máscara translúcida de Tuxedo Kamen.

  Dando-lhe as costas, ele voltou a cabeça para cima, estudando as janelas visíveis dali. Preparou um impulso, mas não se mexeu. Olhou-a de novo, as sobrancelhas contraídas.

— Por um acaso, você é algum cachorrinho perdido na chuva? — ele perguntou. — Pare de me seguir.
— Eu podia ser útil, afinal, posso contactar qualquer uma das senshi.
— Não.

  Sem se abalar com a resposta, Usagi insistiu:

— Seria uma grande vantagem se todos trabalhássemos juntos, né?
— Não me importa estar em desvantagem; não vou te pôr em perigo. — Mamoru caminhou em sua direção e segurou-lhe os ombros gentilmente, como se quisesse acariciá-los. Curvando as costas até seus rostos ficarem próximos, ele disse em um quase sussurro: — Por favor, Usagi. Fique aqui em segurança. Por favor...

  Percebeu quando Mamoru diminuiu o ângulo de sua curvatura e aumentou o calor que a pele de sua face trocava com a de Usagi. Não viu mais nada, seu coração disparado, suas mãos suando, ela fechou os olhos e aguardou a distância virar nula.

  O toque sobre seus lábios não era tão quente quanto o ar que saía de Mamoru, mais parecia elétrico pela forma como fizera todo o corpo de Usagi se arrepiar. Ainda assim, não demorou mais que um, talvez dois segundos. Ele se afastou. Antes que houvesse coragem para ela abrir os olhos e encará-lo, porém, Mamoru a abraçou.

  Se aquele beijo mais parecia uma roçada acidental de tão curto e suave, a força com que ele segurava seu corpo agora a fez lembrar-se de dias antes.

  Não era à toa, concluiu logo, abrindo os olhos apenas para notar que seus olhos estavam cobertos pelo blazer de Tuxedo Kamen. Ele também estava pensando exatamente naquele evento.

— Volte pra Yuuki-san, por favor... — ele disse com o rosto entre seus cabelos antes de diminuir a força, deixando-a ir aos poucos. — Não venha, Usagi.

  Notou Mamoru preparar-se para um último beijo, mas precisava recuperar o controle que ambos haviam perdido em algum momento da conversa.

— Não — ela disse com o tom mais seguro que pôde. Parcialmente, arrependia-se de haver perdido mais um toque daqueles lábios sobre os seus; inconscientemente, já havia se preparado para reprisar aquela maravilhosa sensação.
— Não quer mais que te beije — ele afirmou em vez de perguntar.
— Não é isso — Usagi precisou dizer rápido. — Quero dizer que não vou voltar pra Yuuki-san. Que eu vou contigo, sim.

  De repente, sentiu um vento frio entre eles, só agora notava que, em algum momento, Mamoru havia dado um ou dois passos para longe.

— Usagi... — ele começou a dizer.
— Vou ter que ir, Mamoru — ela disse em seu lugar.
— Entenda, Usagi, o quanto você é importante pra mim. É só o que peço. — Ele sacudiu a cabeça, novamente dando um passo para trás. — Não quero que me corresponda os sentimentos. Sei bem que Sailor Moon nem te permitiria isso. Só quero que não se arrisque. Nós cuidaremos de tudo, eu prometo. Sailor Moon, eu e as outras senshi, todos trabalharemos pela Nao-san. Prometo que a trarei de volta.

  Aquela devia ser a primeira declaração que ouvia. Pelo menos, não conseguia lembrar-se de já ter ouvido alguém seriamente dizendo o quanto ela importava para ele.

  Um sabor acre se apoderava de sua boca quando Usagi ofereceu um sorriso em retorno. Queria tanto poder agradecer, dizer que nada poderia deixá-la mais feliz...

— Acho que é só você — ela voltou a falar —, quem nunca vai permitir isso. — Apertou um olho contra o outro antes de encará-lo, sua vista tremulando a imagem de um Tuxedo Kamen deveras confuso, paralisado à espera de que prosseguisse. Mas ela hesitou. Ainda queria um pouco mais daquela pausa no tempo. — Podemos nos beijar só mais uma vez antes disso?

  Assistiu sua expressão perplexa e decidiu por não esperar uma permissão. Percorreu todos os passos que Mamoru havia retrocedido e o beijou. Embora houvessem se tocado — e se tocado de novo — minutos antes, havia um quê de nostalgia naquele encontro.

  Percebendo a hesitação a subjugá-la mais uma vez, Usagi se afastou.

— Sinto muito, Mamoru... — ela disse fechando o punho direito. — Mas realmente tenho que entrar lá.

  E transformou-se em Sailor Moon.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Estava bravo? Estava apenas concentrado? Havia ignorado? Já havia previsto? Usagi seguia Tuxedo Kamen incapaz de decidir o que ele estaria pensando agora que lhe fora revelada sua identidade como Sailor Moon.

— Como as senshi já estão esperando o inimigo na localização mais provável, podemos percorrer o restante do prédio atrás de onde ele teria posto a Nao-san — Tuxedo Kamen lhe disse logo que a ajudara passar por uma enorme janela aberta de frente para o rio Rouku e entrar em uma sala de ensaios vazia.

  O que ele dissera antes mesmo, tão logo terminara sua transformação? Usagi estava tão nervosa que não havia registrado as palavras exatas e tudo havia se misturado nas suas lembranças até aquela primeira frase ao adentrarem o teatro.

— Ainda bem que já passou o verão — foi tudo o que ela lhe respondera, o rosto queimando envergonhado.

  Agora corriam com cautela para não serem vistos por nenhum segurança. Tuxedo Kamen... tinha que se esforçar para pensar nele com esse nome. Tuxedo Kamen havia memorizado o local de câmera de que Yuuki lhes falara, mas ainda havia muitas outras. Para um lugar de janelas escancaradas pelas quais um homem adulto podia entrar sem problemas, eles se preocupavam bastante com segurança.

  Entretanto, não havia ainda pistas sobre Nao. Usagi não era nada boa com localização, mas podia sentir pela postura cada vez mais baixa de Mamoru que o plano não ia tão bem como esperado.

— Ela não está aqui — anunciou ele após abrirem mais uma sala. — Digo, não está neste prédio.
— E se estiver escondida debaixo do palco ou coisa assim? Lembra de como havia até elevadores para baixo na peça que vimos?

  Sentiu Tuxedo Kamen hesitar.

  Estaria pensando nos dias em que não precisava lidar com o fato de Usagi ser Sailor Moon? Talvez naquela visita a Harotsuka ele nem mesmo estivesse interessado nela daquela forma. Provavelmente não estava, ou não faria questão que ela pagasse por seu jantar. Usagi deu-se um tapa mental por pensar em algo tão mesquinho.

— Elas não perceberiam? — ele enfim perguntou, sua postura estoica recuperada.

  Parecia-lhe fácil separar Sailor Moon de Usagi e, em segundos, voltava a olhá-la como sempre. Sim, era isso o que devia estar fazendo. Deixando os assuntos pessoais para depois e tratando-a como sempre fizera com Sailor Moon. Era um contraste com o cuidado quase histérico que viera lhe dispensando como Usagi Tsukino.

  Encontrando bastante mais dificuldade para agir profissionalmente, Usagi teve que sacudir a cabeça até esfriá-la um pouco. O gesto foi mal interpretado.

— Acha que não mesmo? — Tuxedo Kamen soava surpreso.

  O que ela achava mesmo? Ah, lembrou a pergunta. Não era isso. Mas pensando bem...

— Elas andaram exaustas e doentes, né? Além do mais, quanto tempo teriam ali nos bastidores?
— São umas oitenta por peça. Algumas devem ter mais ali que no palco. — Ele riu de leve.
— Tive uma ideia! A Erika-san devia apresentar um pouco de ação aos primos, não acha?
— Ela vai te matar... — Apesar das palavras, aquele tom misturado a sarcasmo fazia Usagi sentir saudades do velho Mamoru.
— Duvido, se for pela Nao-san.
— Quando te disse da Yuuki-san, não era para fazer todas as genies apaixonadas umas pelas outras. — Mas ele gargalhava.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Haviam retomado suas identidades para falar com Erika — de quem Usagi só percebera tarde demais não ter o número — quando seu comunicador tocou.

— Não acredito que ainda não se transformou! — a bronca de Mars chegou a seu cérebro antes de Usagi poder interpretar de quem seria o rosto sobre a tela.
— É uma longa his—
— Foi uma maldita armadilha! Venha logo até a sala, Sailor Moon! — E a ligação foi cortada após um estrondo.

  Usagi sentiu sua barriga se contrair, talvez ela até houvesse encolhido o corpo para se proteger do ataque que acabara de testemunhar. Voltou a si com a mão de Mamoru tocando suas costas; fazia lentos movimentos circulares que a acalmou num primeiro instante apenas para deixá-la alerta novamente, por outro motivo.

— Já estou bem — disse-lhe com a voz rouca, dando um passo para longe do toque.
— Vamos ajudar suas amigas, então.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Ao encontrarem a sala onde dali a duas horas aconteceria o ensaio com o coreógrafo, nada parecia estranho do lado de fora. Foi quando a porta foi aberta que Usagi, já de volta à sua roupa como Sailor Moon, engoliu seco.

  O barulho atraiu a atenção de algumas figuras com formas humanas, cujos pescoços entortaram em sua direção com ângulos nada humanamente possíveis. Três delas eram altas e usavam cabelo curto tal como Yuuki e Erika, razão pela qual Usagi já o havia presumido quando Tudexo Kamen disse a seu lado com a voz abafada:

— São genies... — Seu tom deixava implícito uma consulta sobre o que deviam fazer.
— Precisamos derrotar esse monstro.

  Ela apontou para uma mulher que usava um tutu e coque na cabeça, como se pronta para dançar balé, à exceção de sua pese ser azul e suas unhas, garras. Também do fato que ela flutuava segurando Sailor Venus pela gola de seu uniforme.

— Tiara Lunar!

  Seu ataque forçou o monstro a soltar sua amiga, que caiu desmaiada sobre o chão. Contudo, Usagi não pôde ajudar mais, pois as genies saltaram sobre ela. Tentavam arranhar seu rosto e acabaram fazendo com que escorregasse, suas costas batendo dolorosamente contra o piso.

  A rosa que Tuxedo Kamen atirou logrou afastar apenas duas delas. Outras quatro as substituíram tão logo surgiu o espaço.

— Sailor Moon!

  Jupiter correu, alcançando-a ao mesmo tempo que Tuxedo Kamen. Os dois começaram a puxar as genies para longe, tentando tombá-las para evitar um combate corporal.

   Ao sentir seu corpo livre, ela se reergueu, mas a mulher de tutu já a havia alcançado. Um sorriso venenoso formou sobre os lábios negros antes de um golpe de energia ser jogado na direção de Usagi.

  Por sorte, conseguira escapar com apenas um arranhão leve sobre o braço. Ainda saltando no ar, aproveitou o impulso para chutar a mulher diretamente. Quando esta preparou-se para a defesa, o ataque de Sailor Mars combinado com o de Sailor Venus a atingiu de lado.

— Cura Lunar! — Usagi gritou assim que a mulher caiu. Os raios a levantaram com braços e pernas abertos contra uma luz forte. A mulher havia desaparecido.
— Sailor Moon! — Mercury aproximou-se, pronta para enfrentar mais genies que se haviam recuperado.

  As genies, todavia, pararam como se congeladas e depois desmaiaram sobre o chão da sala.

— Conseguimos — disse Jupiter com um suspiro de alívio.
— Não graças a essa cabeça de vento. — Rei bufava, marchando em direção a Usagi. — O que te fez demorar tanto?
— Sinto muito... — Não sabia o que mais dizer. Certamente, ouvir uma declaração de amor e revelar sua identidade secreta para quem todas consideravam um rival não melhoraria o conceito Mars fazia dela.

  Como se lendo parcialmente seus pensamentos, Mars agora voltou-se para Tuxedo Kamen.

— O que faz aqui?
— Desta vez, trabalhamos pelo mesmo objetivo, ajudar Nao Sakamoto.
— Não quer dizer que queremos ajuda. — Mars cruzou os braços. — Na verdade, estou cheia dessas suas ajudas inconsequentes. — Ela apontou para Usagi. — Olha aonde a última nos levou!
— Não temos tanta certeza se—

  Mars interrompeu Mercury:

— Como que fui dar ouvidos assim àquela mulher estranha!
— Que mulher estranha? — Tuxedo Kamen perguntou.

  Diferente da tentativa conciliatória de Mercury, sua voz grave e firme foi capaz de atrair a atenção de Mars, talvez por susto.

— Nossa preciosa informante levou-nos direto pra esta armadilha aqui. Aquela Yuuki sei lá o quê.
— Nunca! — Usagi exclamou como se a acusada fosse ela própria.
— Pensei que ela fosse uma das mais famosas destes musicais — também disse Tuxedo Kamen. Era um alívio ouvi-lo também duvidar daquela hipótese.
— Talvez a Yuuki verdadeira sim, mas olhe quantas genies estavam aqui quase nos sufocando.

  Todos estudaram as várias mulheres inconscientes. Usagi tentou contar, ao menos identificar alguma, mas falhou.

— Nenhuma delas é a Yuuki-san! — disse no lugar o único fato que era certeza.
— Pense, Sailor Moon... — Sailor Venus havia se aproximado e posto a mão em seu ombro para tranquilizá-la. Suas palavras, entretanto, tornavam nítido seu alinhamento com Mars. — A Yuuki que vimos hoje é a mesma que você assistia na televisão ou algo assim? Você disse que a conheceu antes do sumiço de Nao Sakamoto, não é? Não mudou nada mesmo desde então? Sei como é duro duvidar de alguém, só tente fazer um esforço. Não estará duvidando dela, mas de quem tenha lhe tomado o corpo.

  Silêncio. Usagi queria dizer com toda a convicção que estavam erradas. Mas aquela pergunta não tinha uma resposta favorável.

— Ela andou estranha, mas... — sua voz foi sobreposta pela vontade de chorar. Não triste, não com raiva, mas frustrada.

  Aquela Yuuki que a convidara para um café pertencente a um casal amigo seu, seus enormes olhos negros maiores a cada vez que pedia algo. Mas que compreenderam sua necessidade de ir com Mamoru, exibindo um sorriso no lugar. Não podia ser outra. Aquele sorriso de quem compreendia seus sentimentos por Mamoru, como um cúmplice do Dark Kingdom poderia oferecer tal expressão?

  Sem poder traduzir aquela certeza em um argumento plausível, Usagi baixou a cabeça e deixou as lágrimas rolarem.

— A Yuuki-san não é nenhuma espiã — afirmou com a voz chorosa.

  Mas nenhuma das senshi ergueu a voz em seu favor.

— Vamos — disse Rei para todas, suas costas voltadas para Tuxedo Kamen. — Precisamos fazer outro plano que não envolva pessoas suspeitas. — E seguiu pela porta da sala, acompanhada das demais senshi.

Usagi, porém, permaneceu inerte.

Continuará...

Anita, 07/06/2015

Notas da Autora:

Acabei demorando, mas aqui está o capítulo. Sofri pra revisar desta vez, pois ando morrendo de dor de cabeça... Se revisar normalmente já é doloroso... rsrs.

Queria pedir desculpas pela breguice dos nomes parecidos da Nao e da Yuuki. Relendo agora, isso não pareceu nada legal, mas não tive forças para mudar isso. Não consegui. Precisava manter. Por favor, perdoem este coração brega.

Ah e sim, no Takarazuka também existe uma noite por peça em que os papéis ficam para as mais novas. Os ingressos até são mais baratos, mas imagino que sejam bem mais concorridos, já que é uma chance única de ver o futuro. Sem contar com o potencial para erros ser hilários, he he.

E agora... chegamos enfim ao último capítulo. Como eu não queria ir para o nono, ele vai ser gigantinho. Continuem comigo que já está acabando! Vou sentir falta do meu Harotsuka, ele é tão melhor que o Takarazuka xD

E até a próxima!!!

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