|

[Sailor Moon] Na Cabeça, No Coração - Capítulo 8, escrita por Anita

Capítulo AnteriorPrimeiro CapítuloFim!
Título: Na Cabeça, No Coração
Autora: Anita
Fandom: Sailor Moon
Gênero: Comédia romântica
Classificação: 12 anos
Status: em andamento
Resumo: Tsukino Usagi / Chiba Mamoru. Usagi percebe que Mamoru está ferido no ombro, tal como aquela pessoa se ferira no dia em que Sailor Venus apareceu. Mais tarde, ouve da boca de Zoisite uma confirmação. E agora os dois precisam cooperar para salvar de uma ameaça misteriosa uma famosa trupe de teatro, que Usagi muito admira.

Notas Iniciais:
Esta história apresenta uma trupe fictícia chamada Harotsuka, qualquer fato relatado é pura ficção, mas eu me inspirei em um grupo especializado em musicais que realmente existe chamado Takarazuka Kagekidan. Por outro lado, os dados fornecidos não serão fidedignos. Afinal, o grupo é meu e eu faço o que quero!
E Sailor Moon não me pertence, não lucro nadinha com isto. Vale ao menos um comentário, né???
Agora vamos ao último capítulo!


Olho Azul Apresenta:
Na Cabeça,
No Coração




Capítulo 8 — Onde ela está?

  Não era verdade. Entendia por que Rei insistia em não confiar em Yuuki, mas Usagi tinha certeza de que não era verdade, de que Yuuki não os havia traído, não havia sido manipulada. Por que recuarem?

  Era domingo, já não deveriam ter ficado tão distante de casa quando no dia seguinte teriam aula. Ainda nem pensou no que falaria a seus pais como desculpa para a falta. Recuar agora era perder um tempo que não possuíam. Segunda-feira, no último trem-bala, todas teriam que voltar para casa e desistir de Nao. Obviamente, aquela não era uma opção.

  Precisava falar com Yuuki. Não sobre aquelas desconfianças absurdas, mas sobre algum plano. Sim. Era o melhor próximo passo, na medida em que o ataque surpresa havia se voltado contra elas.

— Usagi...

  A voz de Mamoru não a despertou de volta à sala de ensaio, agora cheia de genies adormecidas. Ela sentia-se ainda mais em algum sonho, era tão irreal... até lembrar-se de que Tuxedo Kamen — Mamoru — não havia seguido suas amigas. Mesmo se o tentasse, não lhe seria permitido.

— A Yuuki-san é a Yuuki-san — ele disse mesmo sem ela ter respondido.
— E alguém aqui duvidou? — Usagi lhe ofereceu um meio sorriso, que abriu mais quando seus olhos se encontraram.

  Tuxedo Kamen assentiu-lhe de volta com firmeza.

— Podemos tentar buscar no palco principal, acabamos ainda não indo lá — lembrou ele.
— Eu tava matutando mesmo que isso seria um ótimo esconderijo.

  Usagi sentiu nova estranheza quando ouviu Rei antes de ver que suas amigas haviam retornado.

— Pensamos novamente e decidimos dar um voto de confiança em Yuuki Tatsu — disse Sailor Venus.
— Apenas nela, aliás. — Mars acenou com a cabeça indicando Tuxedo Kamen. — Não sei o que faz aqui. Agradecemos a ajuda, mas agora a coisa é entre a gente.
— Sailor Moon e eu havíamos planejado nos disfarçarmos — ele disse sem parecer abalado, soava até como se convidasse as demais senshi.

  Parecia uma oferta de trégua. Ouvindo isso, porém, foi Usagi quem ergueu as sobrancelhas.

— É melhor eu ir com as meninas — disse para ele, esperando que o agudo de seu tom o despertasse. Não acreditava que Mamoru poderia sugerir algo que ameaçaria todo seu segredo.

  Antes que pudesse confirmar se ele compreendera o implícito, Tuxedo Kamen aproximou-se de onde todas as senshi estavam e, em um piscar de olhos, apareceu Mamoru Chiba em seu lugar. Embora já soubesse a verdade, Usagi custou a acreditar que ele pudesse se revelar tão facilmente.

  No canto dos olhos, constatou que Mars aparentava a maior surpresa — mas não duvidava que elas própria também não estivesse tão boquiaberta quanto. Jupiter devia ganhar o segundo ou terceiro lugar, dependendo se Usagi poderia se classificar.

— Oh — aquele som pouco afetado de Mercury atraiu para ela a atenção. — Eu já havia pensado na possibilidade — confessou, encolhendo o corpo para se proteger dos olhares. — Quero dizer, se Tuxedo Kamen fosse humano, por que ele não seria um garoto como nós? É só uma resposta que faz muito sentido... — Sua voz perdeu força, não obstante parecer que Ami ainda tinha o que falar.
— E todo mundo aqui o conhece, é? — Venus perguntou com o tom excitado. — É algum ator ou cantor? É que sinto ser a única que nunca o viu na vida. — E riu com a mão atrás da cabeça.

  Todos riram em maior ou menor grau. Como mágica, a tensão entre o grupo havia diminuído.

  Antes que Usagi pudesse se recompor daquela progressão de história, Mamoru já havia partilhado o plano inteiro, incluindo o fato de já haverem conhecido a trupe em visita anterior.

— Essa Erika, ela foi quem nos trouxe aqui hoje — comentou Mars reticente pelo mesmo motivo que Usagi teria preferido haver lhe contado de forma diferente. — Não seria perigoso?
— Acho também meio difícil deixarem a família inteira da menina fazer um tour no meio da peça, né? — Venus acrescentou com uma risada. — Melhor tirarmos no pauzinho ou coisa assim.
— Eu mesmo irei lá — disse Tuxedo Kamen, como se não houvesse cinco pares de olhos arregalados em sua direção. — Se for outra armadilha, minha identidade não será problema. Na verdade, não possuo mais família viva faz tempo e não tenho por quem temer. — Seu olhar pousou sobre Usagi.

  Instantaneamente, ela sentiu a pele queimar. A declaração de antes havia se perdido com todos os eventos e com a urgência em recuperar Nao. Entretanto, era impossível não ouvir ecos daquelas palavras intensas e inéditas após um gesto tão óbvio.

  Tão óbvio que mesmo suas amigas a encararam inquisitivas, uma comunicação silenciosa de que Usagi possuía algumas dívidas a sanar com elas sobre todos as reviravoltas.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  O café que pertencia aos conhecidos de Yuuki ficava ao final de uma pequena rua perpendicular ao Caminho das Flores, não mais que a dez minutos do Grande Teatro de Harotsuka. Apesar da hora avançada — eram quase sete horas da noite quando Mamoru retornou de sua visita a Erika nos bastidores da trupe Tsubaki —, o estabelecimento ainda estava aberto quando todos entraram, as senshi à exceção de Usagi vestidas novamente com os sobretudo que lhes disfarçava. Àquela hora, Yuuki e um senhor de idade eram os únicos clientes sentados no interior, ele ao balcão no meio de uma conversa com o casal, presumivelmente os donos, ela sozinha, quase escondida em uma mesa ao fundo.

— Tantas meninas assim? — Yuuki perguntou, sua pele pálida ao ouvir a narração de todos os eventos. Ao final, enquanto Mamoru se encontrava com Erika, as senshi remanesceram na sala, garantindo que todas as vítimas houvessem acordado ou ficassem acompanhadas até que o fizessem. — Serão mesmo genies?
— Não perguntamos muito, já pareciam bem atordoadas sem entender onde estavam e por que estavam ali — disse Makoto, ou Jupiter como Yuuki a chamaria.

  Aquele plano dos casacos fez Usagi perceber como seus disfarces eram precários para proteger suas identidades. Excluído o uniforme de marinheiro, não havia tiara, penteado ou maquiagem que a fizesse pensar naquelas quatro garotas como as senshi. Eram simplesmente suas amigas.

— Não sei se teríamos tantas assim sumidas — Yuuki falou com a voz vaga, os lábios comprimidos quase em um sorriso. Um nada alegre.
— Não seriam da Escola de Música? — sugeriu Rei. Ou Mars. — Vocês têm uma, né?

  Usagi se sacudiu em uma tentativa de manter a concentração. Já havia sido difícil convencê-las a fazer aquela atualização com Yuuki... Se revelasse ali o nome de alguém, não queria imaginar a bronca que lhe aplicariam.

— Sim, sim. É logo ali do lado do Teatro. Mas... será que eles estão atingindo até mesmo aquelas pobres meninas? — Yuuki pareceu tremer, como se lhe sobreviesse um calafrio.
— Nossa, até pré-genies são tão bonitas? — Minako falou com admiração.

  Yuuki assentiu sem muita atenção, seu olhar perdido.

— Faz mais de dez anos que não tenho mais contato com a Escola, mas não seria difícil. Na verdade, acho que seria até mais fácil infiltrar-se como algum professor convidado lá que conseguir o emprego de coreógrafo de um das trupes.

  Ouvindo isso, decidiu-se que o grupo seria dividido para investigar melhor. Uma parte poderia ir até a Escola e procurar por Nao. Outra iria se dirigir ao dormitório, onde moravam as alunas que vinham de longe, uma sugestão de Yuuki.

— Isso quer dizer que há muitos outros prédios relacionados ao Harotsuka por aqui? — indagou Mamoru, quando Yuuki ainda instruía o grupo que visitaria a Escola de Música. Esta se encontrava vazia, sendo um domingo à noite. Ela guiaria o outro até o dormitório, mas tentavam imaginar como as faria entrar.
— Bem, a empresa dona do Harotsuka é dona de quase toda a Região Oeste... — Yuuki respondeu com a voz cansada. — Tem shoppings, estações e até faculdades.
— Vamos ter que revistar tudo isso? — Usagi perguntou em choque. — Não temos tempo!
— Que tal começarmos pelo shopping, então? — sugeriu Minako. — Muito mais animador que uma escola deserta. — Ou nos dividimos. A Sailor Mercury poderia se encarregar das faculdades e—
— Não seria prudente nos dispersarmos por toda Kansai — disse Ami, falando mais baixo a cada palavra.

  Minako soltou um som frustrado de quem era forçada a concordar. Foi Yuuki quem pareceu realmente se opor àquela voz da razão:

— Mas e se Nao-san não estiver em lugar nenhum? — perguntou, suas palavras saindo apressadas como se para não haver tempo de ser interrompida.
— Yuuki-san, veremos os prédios mais próximos agora, mas ainda não desistimos de confrontar o coreógrafo.

  Usagi considerou chutar a canela dele por debaixo da mesa. Mais uma palavra e até Yuuki saberia que ele era Tuxedo Kamen. Em pensar que aquele segredo parecia tão especial até horas antes...

  Talvez fosse o desespero, mas Yuuki não pareceu se importar com a forma como Mamoru havia lhe dito aquilo, apenas que ainda havia esperança. Seus olhos voltados para ele pareciam um pouco menores enquanto gotículas se prendiam entre seus cílios. Ela assentiu como se agradecesse.

  Minako interrompeu o assunto.

— Yuuki-san, diga para sua amiga abortar o plano de desviar as genies. A aula do coreógrafo precisa prosseguir como planejada. Afinal, eles nos pegaram de surpresa e já tivemos nossa batalha. Agora lambemos as feridas e esperamos a próxima, né?

  Todos a olharam de volta confusos, e Minako sorriu satisfeita.

— Enquanto vocês fazer um tour, acho que vou... como é que as fãs dizem mesmo? — ela pensou por um momento e voltou a sorrir, o dedo indicador levantado vitorioso. — Vou fazer um demachi, mas não pra ver genies. Vou ficar de pé lá na saída daquele teatro até o coreógrafo sair. Conto com vocês pra me acompanharem logo que estiverem livres. De preferência depois que a refém estiver devolvida para Yuuki-san.

  As senshi e Mamoru concordaram imediatamente, enquanto Usagi sorriu com o vermelho que pintou as bochechas pálidas e assustadas de Yuuki. Que bom. A julgar por aquele discurso, Minako havia compreendido por que aquela mulher não podia ser uma marionete do Dark Kingdom.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Após uma rápida divisão entre os seis, Minako seguiu para a frente do teatro, Ami e Rei foram com Yuuki até o dormitório, deixando Makoto, Usagi e Mamoru encarregados de investigar a tradicional Escola de Música de Harotsuka.

  Tratava-se do mesmo prédio cujas salas podiam ser vistas deste a ponte sobre o rio Rouku, mas agora encontrava-se completamente fechada e deserta. Os três separaram-se novamente tão logo conseguiram adentrar o prédio, combinando de avisarem a cada suspeita.

  Embora não possuíssem um mapa oficial, como quando cruzaram todo o teatro, também não havia muitas salas para checar. Exceto pelos ares sombrios de um colégio abandonado, quase como se Usagi houvesse passado para dentro de um desses dramas de verão sobre histórias de terror, tudo parecia conferir. Nem mesmo poeira havia para relatar aos outros dois. Vendo-se ainda com mais tempo que imaginava, até retornou pelo caminho, conferindo novamente se não lhe escapara algum armário, algum canto escuro, talvez alguma passagem de ar oculta...

  Saiu com os ombros pesados, caminhando passo por passo até o portão. Poderia depositar as esperanças no dormitório? Justo onde menos soava crível que algum coreógrafo pudesse se movimentar com facilidade?

  Então, avistou duas silhuetas em frente ao portão. Em vez de Makoto, Yuuki conversava com Mamoru — já visivelmente sem o disfarce de Tuxedo Kamen que usava quando os três se dispersaram. Em suas mãos, estava aberto o velho guia que ele comprara no dia em que visitaram o aquário, bem como uma caneta com a qual anotava sobre a folha.

  Sabia que Mamoru havia percebido sua chegada, mas nem lhe dirigiu o olhar. Em vez disso, fechou o livro e assentiu com a cabeça para Yuuki. Antes que Usagi pudesse correr para alcançá-lo, algo que tentou tão logo pressentiu seu próximo movimento, Mamoru já havia saído correndo pela rua deserta de domingo à noite.

— Aonde ele vai? — Usagi perguntou desnorteada.

  Deveria ter pensado melhor antes de fazê-lo, ou apenas segui-lo para interrogar o próprio. Yuuki pulou de susto com a pergunta repentina e já dizia antes de virar-se na direção dela:

— Usag... — Seus olhos se esbugalharam tão logo fizeram contato visual. — Sailor Moon! — Yuuki consertou sua postura apenas por um instante, pois, no seguinte, balançava os membros sem definir o que fazer com o próprio corpo.

  Droga, Usagi pensou tentando não morder o lábio. Esquecera-se de cancelar sua transformação também. Por sorte, Yuuki não os acompanhara até a escola para fazer a conta de quem entrara e de quem estava saindo.

— Err — acabou balbuciando, com a garganta seca. — É a primeira vez que nos encontramos, né? — Forçou um sorriso, apesar do suor entre sua luva e sua mão.
— Sou Yuuki Tatsu! — Ela curvou o corpo solenemente.

  O gesto preciso lembrou-lhe de como Nao também conseguia fazer o ângulo certo para cada ocasião, provavelmente graças à educação espartana do Harotsuka.

— Não a encontrei... — Usagi disse com a voz fraca.

  A tensão de Yuuki adquiriu outro tom, mas ela ainda conseguiu sorrir para Usagi.

— Agradeço muito toda a ajuda. O Chiba-kun já havia me dito que Nao-san não parecia estar aqui, e eu—

  Uma música começou a tocar de repente e a interrompeu. Yuuki apressou-se até o bolso e tirou o celular, este parecendo escorregar de suas mãos tão rápido o movimento.

— Como? — Ela fez uma pausa e assentiu embora a outra pessoa não a pudesse ver. — Está bem. — Então, guardou novamente o aparelho, tornando-se para Usagi. — Minha amiga Erika Kiina havia pedido que uma das meninas mais novas a avisasse logo que terminasse o ensaio com o coreógrafo.

  Usagi já estava correndo, bem longe de Yuuki, quando se recordou de ainda não saber aonde Mamoru havia se dirigido com tanta pressa.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Sailor Venus ainda esperava no ponto em que marcara de encontrá-las, camuflada atrás das árvores de cerejeira que enfeitavam todo o Caminho das Flores, enquanto observava atenta todas as saídas do Teatro. Por sorte, apesar de ser um grande terreno, o prédio se localizava junto ao rio que cortava a cidade, de forma que todas suas saídas precisavam ser para o mesmo lado.

— Yuuki-san disse que as genies já estavam liberadas do ensaio. O coreógrafo deve sair a qualquer momento — Usagi disse a Venus, sua bochecha queimando por se encontrar a sós com aquela que lhe fora um ídolo até bem pouco tempo antes.
— Sim, eu imaginei pelo horário.
— Será que devo ir mais pra lá? — Usagi apontou na direção da porta por onde Nao havia entrado em sua primeira visita a Harotsuka, bem como as senshi naquela tarde.
— Não tem a sensação de que tem algo errado?

  Usagi franziu a testa e observou o prédio do teatro. Pequenos grupos de fãs acenavam para algumas genies bem jovens que saíam de lá, algumas aceitavam ter sua fotografia tirada, fazendo tímidas poses. Continuou a estudar a arquitetura de ares europeus. Um vento frio passou por entre elas, derrubando mais folhas ao chão.

  A que Venus se referiria?

— Outra armadilha? — indagou confusa.
— O prédio da escola tem alguma ligação com o do teatro?

  Usagi balançou a cabeça. Recordava-se do grande muro que cercava o terreno, o que a deixara até curiosa sobre sua serventia em se tratando de partes do mesmo lugar. Ao final, havia concluído que manter segredo o Grande Teatro, com suas inúmeras salas de ensaio quase idênticas às da escola poderia ser algum incentivo às meninas que queriam se formar da Escola de Música e se tornar uma genie de verdade.

  O comunicador de Venus chamou enquanto Usagi tentava ainda entender aquelas palavras.

Não tem nadinha por aqui — anunciou Mars com a expressão fechada — mas acabamos atrasando porque algumas meninas que enfrentamos mais cedo nos reconheceram.
— Então, eram mesmo da Escola... — comentou Usagi.
Sailor Moon? Já estão todos aí? — Parte do rosto de Mercury apareceu.
— Não, só eu — tão logo o disse, veio-lhe um estalo.
Não é muito longe, não o enfrentem ainda — disse Mars antes de encerrar a comunicação.

  Usagi voltou-se alarmada para Venus.

— Tente falar com a Sailor Jupiter! Não a vi na saída da escola, já era pra ela tá aqui!

  Venus concordou hesitante, mas só voltou a falar quando não houve resposta no comunicador.

— Eu já tinha tentado assim que você me disse que estava saindo da escola — confessou, seus olhos retornando ao prédio do Teatro.
— Por isso perguntou se tinha conexão entre os dois? Acha que a Mako-chan foi direto lá pra dentro?

  Apesar do aspecto mais esportivo que intelectual de Makoto, ações precipitadas eram características de Usagi.

— Na verdade... — Venus pressionou os lábios por um momento. — Estava pensando no oposto. Alguma chance da amiga de Yuuki-san poder nos dar mais uma pequena atualização sobre o coreógrafo?

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Enquanto corriam de volta até a Escola de Música, Usagi usou seu celular para entrar em contato com Yuuki e descobrir o paradeiro do coreógrafo, mas a ligação estava ocupada. Pronta a tentar uma segunda vez, surpreendeu-se com a própria lhe fazendo uma chamada, indagando se ela teria como contactar Sailor Moon. Erika acabara de avisá-la que havia perdido o coreógrafo de vista quando ele entrou em uma das salas para instrutores.

— Então, deve ser como desconfiávamos — foi tudo o que Venus disse ao ouvir a notícia.

  Usagi a guiou até onde havia visto Makoto pela última vez e, de fato, ela não se encontrava em nenhuma das salas de que se incumbira. Tentaram percorrer novamente o caminho, prestando maior atenção a qualquer pista que pudesse indicar alguma luta. Não a levariam tão facilmente. Se mesmo Nao pudera deixar sinais de confronto, Makoto destruiria toda a escola antes, certo?

— Sailor Moon! — Venus sussurrou com urgência, apontando para uma das janelas que mostravam o corredor.

  Usagi sentiu um calafrio. Também havia percebido algo se mexer lá fora, mas não havia nada distinguível nem após correr até o local.

— Olhe! — ela chamou Venus, agachando-se em um canto do mesmo corredor. Mostrou em sua mão o lindo brinco de rosa que Makoto sempre usava.
— Mas... — Venus estudou novamente o cenário.

  Não precisava completar como era estranho que nem paredes, nem vidros, nem mesmo o chão houvesse sofrido qualquer arranhão.

— Sailor Moon!

  A voz de Sailor Mars a fez pular de sobressalto, mas nem ela nem Mercury traziam qualquer novidade.

— E o rio? — Mercury perguntou depois de abrir seu computador. — A altura da água deve estar bem baixa, não seria difícil andar por ali desde o Grande Teatro.
— Droga, por que não pensei nisso antes? — disse Venus, disparando para o andar superior.

  Diferente da calma sombria que predominava na escola, todas tiveram a certeza de que haviam chegado aonde queriam quando de uma janela das salas mais altas puderam ver luzes abaixo.

— Jupiter! — Usagi exclamou com lágrimas nos olhos. Mais à frente, viam um ponto minúsculo, mas era já o bastante para saber que Makoto não virara mais uma vítima daquele caso.
— Vamos, me ajude a abrir isto! — Mars pediu, forçando a janela.

  Correram até onde Sailor Jupiter já se ajoelhava no chão exausta enquanto um youma gigante parecia absorver energia de alguma fonte desconhecida. Ele também usava roupas de bailarino, tal como o enfrentado mais cedo naquele dia, e sua aparência era além de familiar.

— É o coreógrafo! — Usagi gritou assim que conseguiu dar nome àquele rosto deformado. — É o cara que vi antes, tenho certeza.
— Cuidado, ele vai atacar de novo! — Jupiter alertou com a voz instável e rouca.

  Ao redor, várias genies caídas. Mercury passou a avaliar o estado de cada uma.

— Estão só inconscientes, mas sem ferimentos graves — disse.
— Por que não nos avisou? — Mars perguntou a Jupiter, após lançar um golpe que desnorteou o inimigo.
— O comunicador... ele acabou caindo em algum lugar.

  Usagi preparou seu cetro, apontando para a criatura assim que a sentiu debilitada com os sucessivos ataques das senshi. Entretanto, um clarão de energia iluminou o youma, cujo tamanho e massa muscular multiplicaram-se.

— A cada pausa, ele parece absorver mais energia e se regenerar — explicou Jupiter, os olhos desfocados de exaustão.
— São as genies! — disse Mercury, fechando seu computador. — O Grande Teatro é logo ali, além do mais ainda tem todas estas caídas no chão. Se continuarmos neste lugar, pode ser que ele lhes drene tanta energia que... — Ela pressionou os lábios e pareceu desistir de declarar o óbvio. — Vamos para lá! — E apontou para mais acima do rio.

  Usagi lançou a tiara lunar no monstro, que a repeliu sem dificuldades. Venus, contudo, teve mais sorte com seu ataque, atraindo sua atenção e fazendo-o mover para onde desejavam. Aos poucos, haviam conseguido andar vários metros. Embora o youma ainda conseguisse recuperar-se, não acontecia na mesma proporção que nas vezes anteriores.

— Vem, sensei, vem! — disse Venus, atingindo-o com mais um ataque e ganhando mais alguns metros de distância das genies.

  Jupiter e Mars uniram seus ataques e o youma foi lançado contra a água. Todas prenderam a respiração. Por sorte, o nível do rio era tão baixo naquela estação que não permitiu que ele voltasse flutuando até o ponto inicial.

— Cura lunar! — Usagi apressou-se com o cetro, ainda sem certeza de que seria o melhor momento.

  Seu coração acelerou quando a familiar luz envolveu o monstro e ela prendeu a respiração, suas palmas transpirando. Precisava acabar logo com aquilo, precisava recuperar Nao. E Mamoru. Os dois ainda não haviam podido conversar sobre sua revelação de mais cedo; ela nem sequer sabia para onde ele fora após aquela conversa com Yuuki. Perguntaria a ela tão logo lhe devolvesse Nao. Garantir o amor das duas devia lhe dar algum crédito com os deuses, não é? Seriam suficientes para Mamoru compreender?

— Vai... — disse baixo, vendo a silhueta do monstro diminuir, aumentar, diminuir...

  Um raio de luz voou até ele e um grito sucedeu aquela visão.

  Todas olharam para a origem daquele som e encontraram uma mulher. Ela flutuou a centímetros do chão, sua energia sugada até o youma, que ameaçava se libertar do golpe.

— Erika-san! — Usagi foi a primeira a identificá-la.

  Jupiter atingiu o monstro, cortando o fluxo da energia, mas ela própria ajoelhando-se exausta. Em sequência, já liberada do ataque, Erika também caiu sobre a grama da margem do rio, o corpo mole como se fosse pedaço de pano.

— Não deve ter sido o bastante, Sailor Moon! — Mercury gritou. — Tente novamente antes que ele possa sugar mais.

  Enfim, o cetro conseguiu terminar a tarefa, e um homem estrangeiro, o mesmo que Usagi vira naquele ensaio, apareceu no lugar da criatura. Dele, não mais emanava aquela aura negativa de antes.

  Não era mais que um inocente envolvido naquela história sabia-se lá como, mas um alarme disparava em sua mente sobre a razão para Erika haver chegado até ali.

— A Yuuki-san... — Erika dizia fraca, já segura nos braços de Mercury. — Eu a vim procurar... ela entrou na escola, mas... não atende...

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Erika encontrava-se exausta depois de ter a energia sugada daquele modo, sem contar o fato de ter percorrido toda a escola e o teatro procurando Yuuki antes de encontrá-los à margem do rio. Não obstante isso, ela ainda conseguiu manter-se desperta o bastante para dizer sua última suspeita, um antigo dormitório.

— Então, Tuxedo Kamen está aqui? — Mars indagou, seus olhos para cima da construção de apenas dois andares. — Aquela Yuuki-san podia ter nos contado também que existia este lugar, já teríamos vindo e resolvido. — Mars voltou-se impaciente para onde estavam Venus e Usagi. — Não vão nem se dar ao trabalho de fazer hm?

  Jupiter havia sido poupada, mas estava alerta, sentada em uma praça em frente ao dormitório, enquanto Mercury se encarregara de garantir a segurança das genies — ou estudantes para genie, como imaginavam ser o caso — e de Erika.

  Enquanto Mars estava falando antes, as duas haviam trocado olhares. Venus também parecia haver se recordado do mesmo que Usagi.

— Enquanto a gente procurava a Mako-chan, parecia haver mais alguém lá — explicou Usagi.
— E como o inimigo estava com Jupiter, estávamos nos perguntando se não seria a Yuuki-san — completou Venus.
— Então, ela não tá aqui?
— Deve estar, a Erika-san disse que a procurou depois de nós, né? — Venus também estudou a entrada do prédio. — Vamos entrar logo.
— Mas não é estranho o Tuxedo Kamen ainda estar aqui? — Mars perguntou ao conseguirem adentrar o dormitório, que após a desativação havia se convertido em uma espécie de memorial ou museu relacionado ao Harotsuka.

  Elas andaram pelos corredores bem mais estreitos que os da escola, com inúmeros quadros cobrindo as paredes apenas para intensificar a impressão de estarem em alguma casa pequena demais.

— Será que a Yuuki-san conhece aqui? — perguntou Venus, parando para ver um dos quadros maiores, uma turma de meninas usando uniforme escolar estava reunida na frente do antigo dormitório. — Imagino que seja um lugar cheio de lembranças pra essas genies.
— Quando a Yuuki-san nos levou ao dormitório atual, ela mencionou que havia ficado na casa dos pais em Osaka por falta de vaga, então, é capaz que não. — Mars fez sinal que voltassem a andar, subindo agora as escadas para mais um estreito corredor.
— Nao-san também é de Kansai, não deve ter morado aqui — Usagi comentou, mais para lembrar a si mesma de que não a encontraria em nenhuma das fotos.
— Não parece ter ninguém em lugar nenhum — Mars reclamou depois de abrirem a segunda das oito portas do corredor, cada uma revelando alguma exposição relacionada à vida das genies, como uniformes e fantasias.
— Tuxedo Kamen pode só ter dado uma passada e ido procurar em outro lugar.

  A sugestão de Venus não foi apreciada, flutuando no ar quando as três pararam como estátuas.

— O q-que foi i-i-isso? — Usagi perguntou, a voz trêmula.

  Venus sinalizou que caminhassem até onde parecia haver movimento de alguém, uma sombra balançando por baixo de uma das portas mais distantes.

  Um grito as paralisou mais uma vez. Era feminino, mas não havia como distinguir se de Yuuki, Nao, ou de alguma desconhecida. Usagi inspirou fundo e abriu a porta, avançando para o interior do quarto.

  Seus olhos custaram a interpretar o que encontrou do outro lado. Uma mulher? Um youma? Os cabelos voavam no ar enquanto ela mesma flutuava a meio metro do chão, debatendo-se.

— Não! — o som vinha de baixo da mulher-monstro. Alguém a havia agarrado pelas pernas e a puxava para o chão, sacudindo-a. — Volte! Volte!
— Yuuki-san! — Usagi gritou à pessoa no chão, ainda incerta se realmente a reconhecera. Mas sim, aquelas eram as roupas que Yuuki vestia mais cedo, embora seu tom de voz estivesse tão agudo que nem parecia vir de alguma genie.

  Não houve resposta de Yuuki. O monstro, entretanto, ergueu o olhar, reparando nas recém-chegadas pela primeira vez. Logo, olhou para baixo e sorriu. Um raio de luz saiu do corpo de Yuuki em direção ao monstro, fazendo-a berrar:

— Não! — Yuuki aumentou a pressão sobre as pernas do monstro, e o raio apagou.

  O monstro a encarava, como se a estudando.

— Tiara Lunar! — Usagi aproveitou aquela distração, acertando-o de frente e jogando-o contra o armário que estava atrás.

  Ainda quando o monstro desmoronou-se sobre ela, Yuuki seguia abraçada àquelas pernas pálidas, quase verdes.

— Chega! Volte! — Yuuki bradava com a voz de choro.

  Mars e Venus prepararam o ataque, mas Usagi entrou na frente.

— Esperem — pediu, olhando mais uma vez aquela cena.

  O raio de luz saiu de novo desde Yuuki, mas apagou-se tal como da primeira vez, antes de ser absorvido pela criatura.

— Yuuki-san, esta é a... — Usagi tentou perguntar, mas a resposta era tão óbvia que completar a frase seria algo sádico.

  Em vez disso, Usagi correu até as duas, segurando o monstro pelos braços, olhando-o dentro dos olhos. Entretanto, Nao, ou quem estivesse ali, aproveitou a proximidade para lhe aplicar um soco carregado de energia, arremessando-a de volta para a entrada do quarto.

— Sailor Moon! — Venus e Mars gritaram.
— Não a machuquem, por favor... — Yuuki clamou, parecendo enfim reconhecer a presença das três senshi.
— Precisamos enfraquecê-la, depois nós a salvaremos — Venus tentou explicar.
— Não! — gritou Yuuki, balançando a cabeça, segurando com mais força as pernas de Nao. — Eu estava conversando com ela e estava conseguindo. Juro! Se eu conversar mais um pouco...
— Tente a Cura Lunar, Sailor Moon — Venus pediu.

  Usagi atendeu. Embora não tivesse certeza a partir de que ponto alguém podia ser curado com seu golpe, a forma como os olhos de Nao brilhavam aquela energia negativa não lhe deixava dúvidas de que seria inútil.

  E foi. A luz do cetro nem chegou a envolvê-la, anulada assim que se aproximou do monstro.

— Nao-san! — Yuuki tentou de novo. — Acorde...
— Mas que demora é esta pra sugar uma só genie?

  A janela do quarto explodiu, abrindo-se para a entrada de mais um adversário.

— Zoicite... — Venus disse entredentes.

  Zoicite jogou algo grande contra uma das paredes laterais, fazendo um baque, e olhou surpreso para as senshi.

— Ora, estamos em excursão? — Sorriu. — Termine logo com essa genie, a energia dela parece bem alta, vai ser útil contra essas três.

  Mas os sons pareciam ficar distantes a cada porcentagem a mais de constatação que Usagi adquiria.

— Tuxedo Kamen — exclamou com um soluço quando identificou o que Zoicite havia carregado consigo.

  Ela tentou correr até Tuxedo Kamen, mas Nao entrou na sua frente, lançando-lhe novo ataque. Sua defesa tão baixa àquela altura não absorveu o bastante do golpe e ela caiu de novo sobre o chão, o corpo coberto por marcas de queimadura.

— Nao-san! — Yuuki recuperou seu aperto nas pernas da criatura em que Nao se transformara. — Acorde... Não pode atacá-las. Precisa derrotá-lo! — E forçou que Nao encarasse Zoicite.

  Ele gargalhou, soando sinceramente divertido com a ideia.

  Aproveitando a distração de todos, Usagi atreveu um olhar para conferir o estado de Tuxedo Kamen. Ainda inerte, ele parecia ferido, com manchas de sangue espalhadas pelo tecido branco de sua roupa. Que não fosse dele, ela pensou inicialmente, mas aquela imagem não lhe permitia se enganar a esse ponto. Que não fosse grave, corrigiu a prece.

— Nao-san! — Yuuki berrou implorando quando o youma ameaçou avançar sobre as senshi.
— Sailor Moon, tire-a de lá! — Venus pediu, apontando para Yuuki, que seguia agarrada ao que se tornara Nao.

  Relutante, Usagi cumpriu com o comando e correu aonde se encontravam as duas, puxando Yuuki com toda a força até derrubá-la ao chão. Era surpreendentemente leve. Magra e frágil. Podia sentir seus músculos nos braços que agarrara, mas deviam estar exaustos de todo aquele esforço.

  Tão logo o monstro ficou sozinho, Mars e Venus o atingiram com seus ataques. Nao caiu sentada ao chão, desacordada por alguns segundos. Contudo, Usagi não teve tempo de usar seu cetro. Farpas de gelo rasparam por sua mão, derrubando-o por metros.

— Mas o que está fazendo? — Zoicite perguntou a Nao. — Pegue a energia daquela genie, anda!

  Ela levantou a cabeça, os olhos ainda tomados pela aura negra focaram-se sobre Yuuki. O raio de energia tornou a aparecer, sugado até Nao.

— Pegue! — insistiu Zoicite.
— Cura lunar! — Usagi havia recuperado seu cetro, mas o golpe novamente falhava. Zoicite a atacou tão logo o gritara, fazendo-a perder a concentração.

  Usagi abriu os olhos, fechados como seu único — e inútil — reflexo para impedir o ataque. Mars havia se posto na sua frente, bloqueando parcialmente o golpe. Ela cambaleou para trás quando o restante a atingiu, mas sorriu.

— Estou bem — anunciou com a voz tensa. — Vamos logo salvar essas duas.

  Sem esperar mais, Venus correu até Zoicite para um combate físico.

— Apresse-se, Sailor Moon! — ela disse, enquanto se esforçava para manter o ritmo.

  Zoicite conseguiu chutá-la a uma distância segura, desnorteando-a por um instante e gritou a Nao:

— Absorva logo!

  O raio luminoso ergueu-se de novo desde Yuuki.

  E o youma gemeu.

— Mas o que... — Zoicite começou a perguntar, mas sua voz falhou quando se viu cercado pelas três senshi.
— Acho que viemos nos concentrando no monstro errado — Mars disse com uma nuance de asco ao dizer as duas palavras derradeiras e apontou para ele. — Não sei qual era seu plano por estes cantos, mas sua última cartada falhou.

  Ao entender sua situação, Zoicite riu. E gargalhou.

— Acha mesmo? — ele indagou com as sobrancelhas erguidas. Então, bateu palmas, sua postura tão correta quanto se estivesse de frente para o imperador. — Admito que esta parte foi uma pequena decepção, mas... — Levantou o rosto para um ponto além de onde as três estavam. — Por que demorou tanto?

  Usagi prendeu a respiração e rezou. Para que, quando se virasse, pudesse encontrar Tuxedo Kamen de pé ali. Não foi atendida. No lugar, encontrou um dos shitennou que conhecera antes.

— Kunzite — Venus disse o nome do recém-chegado com alguma emoção impregnada que Usagi não conseguia apreender.
— Imaginei que nosso ponto de encontro era outro. — Kunzite caminhou por entre as senshi como se ele não fosse a minoria, mas o comandante de todo aquele lugar. — Onde está minha encomenda?
— Vai nos ignorar? — Venus vociferou.

  Kunzite apenas a olhou por cima dos ombros antes de voltar-se a Zoicite e aceitar a tal encomenda.

— Não! — Usagi tapou a boca, surpresa com o próprio grito.

  Já livre das duas pedras, Zoicite voltou a gargalhar.

— Quem diria que ele iria mesmo me trazer de presente assim? — Ele olhou para onde Tuxedo Kamen seguia inconsciente. Apenas inconsciente, certo? — Vindo sozinho justo aonde eu nem o estava esperando?

  Ela devia tê-lo seguido. Sabia que Zoicite o queria. E que Tuxedo Kamen seria um alvo fácil se encontrado sozinho. Não fosse mesmo todo aquele esquema em Harotsuka, mantendo o Dark Kingdom ocupado em troca da energia vital das genies, Zoicite o teria procurado muito antes, ela agora tinha certeza. Não, tinha era uma confirmação, pois isso já havia imaginado.

— Esses são... — Venus começou a dizer, seus olhos esbugalhados na direção dos agora sete cristais arco-íris.
— A vitória enfim é do Dark Kingdom, Sailor Venus. — Tranquilamente, Kunzite colocou uma a uma as duas aquisições em sua caixa, como se em um leilão exibisse a próxima peça a ser anunciada.

  Usagi encolheu-se, seus olhos fixos nas pedras. Quando as viu reunidas, ela percebeu que havia tomado alguns passos para trás, para mais perto de onde Tuxedo Kamen havia sido deixado.

  Seus temores provaram-se infundados quando, um largo momento depois, não ocorreu nenhuma reação. Kunzite baixou o rosto visivelmente contrariado. Ele parecia comandar mentalmente que os cristais se juntassem no Cristal de Prata. Se o fez, foi desobedecido, pois a caixa em suas mãos resumiu-se a tremular. Isto, com certeza, resultado de sua própria tensão, pois os setes cristais remanesciam tão inertes quanto podiam estar.

— Será que não reunimos energia o bastante? — indagou Zoicite.
— Impossível — Kunzite disse ríspido. — Não importa o quanto aquele idiota tenha gastado com elas, todo este tempo era pra ter bastado.
— Bem... — O foco de Zoicite retornou a Yuuki.

  Ela agora ajoelhada ao lado de uma Nao bastante silente e confusa, mas ainda em sua forma de youma. Os olhos desta, as pupilas dilatadas, brilharam a energia estranha de antes e seu corpo levantou-se no ar.

— Nao-san! — Yuuki a chamou, provocando que suas pupilas suavizassem quase ao tamanho natural. O efeito não foi duradouro.

  Nao estendeu o braço aonde Yuuki ainda estava ajoelhada e puxou para si o raio de energia vital.

— Isso, pegue tudo até o fim. — Zoicite sorriu. — Não precisa economizar desta vez.

  Contudo, os olhos de Nao apagaram de novo e o monstro em seu corpo gemeu. Zoicite usou seu golpe em direção a Nao, talvez para aumentar seu controle. Ela, entretanto, lançou o raio em vez de absorvê-lo. A luz se espalhou pelo quarto, causando um clarão e sumiu.

— Nao-san... — Yuuki a abraçou pelas pernas, mas sem puxá-la como fazia no início. Ou, mais provável, sem forças para fazer nada além. No instante seguinte, as duas desceram ao chão, caindo desacordadas.
— Cura Lunar! — Aproveitando a chance, Usagi enfim conseguiu acertar Nao. Sorriu quando percebeu as formas humanas aparecerem por baixo das de monstro.
— Perfeito — Kunzite disse com as sobrancelhas juntas, o canto da boca erguido, expondo seus dentes.
— Não importa quantos cristais consigam, a justiça vai sempre prevalecer! — Venus gritou, apontando para ele.

  Kunzite a observou com um olhar intenso. Gélido.

— Mas a justiça é prerrogativa daquele que vence. — Ele investiu contra Venus, empurrando-a contra um dos armários do quarto.

  Venus gritou. Um rasgo abriu-se na lateral de sua barriga, mas ela conseguiu atingi-lo com força suficiente para afastá-lo. Sangue já manchava seu uniforme, descendo até sua saia. Antes que Kunzite a alcançasse de novo, Mars e Usagi o cercaram. Já era a quarta batalha daquele dia, não custara muito arremessá-las cada uma a um canto.

  Usagi procurou de novo Tuxedo Kamen, mais aliviada de ainda o ver esquecido no meio daquela confusão do que com o fato de ela própria não haver sofrido qualquer dano grave. Então, reergueu-se.

— Os cristais ainda não reagiram! — Zoicite gritou de mais perto da janela. Em algum momento, a caixa havia sido transferida para ele, mas nada além disso havia mudado.
— Impossível. — Fechando os punhos, Kunzite voltou a olhar para as três senshi.

  Como se um lado de seu corpo não estivesse manchado de seu sangue, Venus exibiu as palmas com sarcasmo.

— Não é culpa nossa — ela disse, a voz quebrando com os espasmos que ela disfarçava sem sucesso.

  Furioso, Kunzite voou novamente até ela. Mars e Usagi tentaram impedi-lo, mas Zoicite retornara ao confronto, balançando o dedo para eles. O golpe de Venus pôde somente conter a primeira investida. Kunzite segurou o braço dela e o abaixou, então ergueu a mão o pescoço de Venus. A pele bronzeada e rude contrastava com a crescente palidez.

  Jupiter e Mercury as alcançaram talvez no último segundo e conseguiram afastar Kunzite.

— Ora, enfim estamos com toda a gangue? — Zoicite perguntou, ajeitando uma mecha de cabelo com o dedo. — Que interessante. E nem um pouco justo sermos dois contra cinco.

  Usagi sentiu o medo subir-lhe pela espinha quando percebeu o olhar de Zoicite dançar até o canto onde o dela própria estivera por todo o tempo.

  Não... Ela mordeu o lábio inferior.

  O corpo de Tuxedo Kamen foi erguido no ar por alguma energia e ficou reto como se seu dono estivesse de pé, embora a expressão nula e os olhos fechados provassem que ele seguia inconsciente.

— Tiara Lunar! — A tiara, entretanto, bateu contra uma parede invisível e caiu no chão sem nem quebrar a concentração de Zoicite.

  Tuxedo Kamen, ou seu corpo, chegou até o centro e então foi virado na direção das senshi, como se houvesse sido convocado ao time do Dark Kingdom e agora se alinhasse para o jogo.

  Zoicite gargalhou, o tom beirava a histeria não obstante seus olhos permanecerem tão frios quanto os de Kunzite.

— Deixe-o ir! Já tem o que queria, né? — Usagi pediu, uma lágrima presa em seu olho direito, desfocando parte de sua visão. Sua garganta estava tão sufocada que ela suspeitava não ter que se preocupar com as próximas lágrimas, pois estas pareciam haver secado com a tensão. Se ao menos o tivesse tirado de lá de dentro, levado para outro quarto...

  Jupiter pulou até Zoicite, fazendo algum sinal para as senshi. Não foi preciso interpretar sua intenção, pois seu corpo voou, jogado com força contra a madeira do chão.

— Mais alguém? — Zoicite perguntou. — Brinque um pouco com elas, Kunzite. — Então, posicionou-se ao lado de Tuxedo Kamen e socou-lhe o rosto.
— Pare! — Usagi gritou, esquivando-se de um dos ataques de Kunzite, que agora brigava com as cinco como se fosse ele a maioria.

  Precisava chegar até Zoicite, precisava proteger Mamoru. Mas nunca chegava perto o bastante, antes de um golpe a atingir e mandá-la ainda mais passos atrás que os que lograra avançar.

— Pare, por favor! — implorou.

  Zoicite deu ainda mais socos em Tuxedo Kamen antes de este começar a reagir. Alguns músculos da face mexeram-se com a dor, um som ininteligível saiu-lhe da boca.

— Enfim — disse Zoicite. — Agora pode me dizendo onde estão os cristais verdadeiros. — Ele dobrou o joelho usou-o contra o estômago de Tuxedo Kamen, aproveitando para também socá-lo mais.

  Usagi viu a máscara voar ao chão.

— Vai matá-lo! — Usagi gritou. Tinha conseguido escapar do círculo de alcance de Kunzite, quem revelava já algum cansaço. Jogou-se, agarrando as costas de Zoicite, precisava puxá-lo de sua presa.
— Sua— Zoicite fez um movimento brusco e logrou que ela caísse desequilibrada. Ele já havia se tornado de volta a Tuxedo Kamen, os dentes cerrados. — Agora diga a localização dos seus cristais. — Seu punho tremeu, mas ele se conteve, aguardando a resposta.
— Você os pegou — Tuxedo Kamen disse ofegante, a voz tão baixa que não parecia estar ali.
— Não. — Zoicite levantou a caixa onde Kunzite reunira os sete cristais. — Eu tenho certeza de que as minhas pedras são legítimas. E de que os cristais arco-íris formarão o Cristal de Prata. Mas olhe só. — Ele retirou um dos sete e o apertou contra a bochecha de Mamoru. Fazia tanta força que provocou um furo.

  Usagi só podia observar. Seu corpo tremia de exaustão e impotência. Com as senshi ocupadas com Kunzite, restava ela para salvar Tuxedo Kamen. E ainda assim...

— Diga! — Zoicite afastou a pedra e a bateu contra o rosto de Tuxedo Kamen. Perto do furo havia agora um arranhão. Um filete de sangue correu e logo secou, incapaz de aplacar aquela fúria. — Onde enfiou o maldito cristal!
— Está com você... — a resposta se repetiu, provocando outra joelhada. Tuxedo Kamen urrou, tossindo algumas vezes. — Não são falsos — insistiu, seu tom confuso.

  Não podiam ser falsos, Usagi concluiu. O olhar de Mamoru por baixo daquela expressão moribunda certificava mais que a lógica. Todavia, quando Zoicite retornou o cristal à caixa, não houve reação mágica. Como se ele estivesse esperando algum milagre, Zoicite olhou dos cristais até Tuxedo Kamen com o ódio queimando-lhe os olhos.

  Em vez de seguir com a tortura, Zoicite afastou-se um passo. Ele baixou a cabeça e estendeu a mão direita. Uma adaga de gelo, como a que usara em outras ocasiões, apareceu em seu punho.

  Usagi impulsionou-se até ele antes de mais nada. Os dois rolaram sobre o chão, disputando o controle sobre a adaga.

— Sailor Moon, olhe! — ouviu Venus gritar.

  Os cristais haviam também caído com seu ataque, inertes em suas posições, como se colados à caixa. Ainda digladiando com Zoicite, Usagi sentiu a garganta secar ao se notar com a escolha entre desarmá-lo, impedindo-o de ferir Tuxedo Kamen ainda mais, e ter para si os sete cristais — o Cristal de Prata! —, fosse qual fosse a receita milagrosa para chegarem a ele.

  Deveria ter optado pela última. Não porque se arrependia de preferir Tuxedo Kamen, afinal, o Dark Kingdom ainda não tinha a tal receita. Mas porque seu movimento foi previsível para o adversário; Zoicite não perdeu tempo preocupando-se com os cristais e escapou pelo outro lado com sua adaga.

— Zoicite! — Kunzite tentou repreendê-lo, mas foi golpeado por Mars, obrigado a retornar à própria luta.

  Usagi não pôde fazer nada, se não observar do chão a expressão vitoriosa com que Zoicite olhou para Tuxedo Kamen. Era como se lhe desse um milésimo de segundo para revelar a localização das pedras verdadeiras. Era como se esta não importasse tanto quanto o que ele realmente desejava fazer. E fez.

  Quando Usagi conseguiu reerguer-se e puxá-lo, a adaga já havia perfurado o estômago de Tuxedo Kamen.

  Não se sentia mais dentro de seu próprio corpo. Estava como que congelada, seus braços segurando Zoicite por baixo dos dele, mas não mais o puxando. Usagi viu pelo canto dos olhos Kunzite correr até a caixa e recuperá-la, mas seu cérebro apenas registrava Tuxedo Kamen— Mamoru cair ajoelhado, a adaga fincada no seu estômago.

  Como se precisasse gastar toda sua energia, Usagi venceu aquela paralisia e segurou o corpo quente de Mamoru em seus braços. Pensando bem, não fazia ideia do caminho desde Zoicite até o chão. Trocara de lugar como por mágica.

  Abraçou Mamoru com o cuidado com que andaria sobre trilhos do mais fino cristal, baixando sua cabeça até afundar-se em seus cabelos, as duas testas se tocando. Como ele estava quente... ainda assim, tremia.

— U... — Mamoru mexeu o rosto, afastando-o um pouco até poder vê-la. — Sailor Moon — corrigiu-se a tempo, para o pesar de Usagi. Queria ouvir seu nome. Não se importava mais com quem mais o soubesse.

  Seu estômago se contraiu ao perceber os olhos azuis de Mamoru ficarem foscos.

— Não. Fique aqui! — Ele estava pesado. Como podia aumentar de peso se estava perdendo tanto sangue? E tão quente... — Mamoru! — gritou, começando a sacudi-lo, mas parou. Isso seria ruim, né? Precisava mantê-lo imóvel. Até o hospital. Imóvel. Segurar o sangue para não sair e mantê-lo imóvel. — MAMORU!

  Tudo ficou branco.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

— Eu o quê? — Usagi passou a mão na testa, coberta por gaze. Ela nem sequer se lembrava de haver machucado a cabeça para precisar disso, muito menos sentia aquela noite passada no hospital de Harotsuka como justificada.

  Todas as suas amigas já haviam retornado para Tóquio no primeiro trem, à exceção de Rei. Não podiam aparecer muito ali quando Yuuki havia prometido ficar de prontidão ao lado de Usagi e já era difícil o bastante explicar como ela e não Sailor Moon havia sido internada.

— Nem eu que estava lá acredito, de que adianta te repetir? — Rei virou o olho. — Dissemos pros seus pais que você comeu alguma coisa, passou mal e bateu com a cabeça no banheiro do albergue.

  Usagi assentiu. Era uma história plausível, embora já lhe houvesse acontecido algo assim e não lhe restara nem um arranhão na testa daquela vez.

— Eles não estão preocupados, né?

  Rei balançou a cabeça e suspirou.

  Podia até ouvir seus pensamentos: "Usagi, uma princesa?", mas seria mesmo isso? Segundo a história de todas, tão logo Tuxedo Kamen fora atingido, um brilho muito forte surgiu de dentro dela e o cristal apareceu flutuando na sua frente. Com poucas palavras, tanto Kunzite quanto Zoicite foram arremessados da janela, sumindo de volta ao esconderijo do Dark Kingdom antes de caírem ao chão.

  Não fosse o Cristal preso em seu Cetro Lunar, como se sempre houvesse feito parte dali, Usagi não teria nenhuma prova.

  Ou teria?

  Sua cabeça começou a doer com imagens. Semelhantes à lembrança de um filme que assistira. Só que ela era a protagonista. Ou alguém que ela havia sido, muito tempo atrás, a muitos milhares de quilômetros.

— Onde está Endymion? — Ela tremeu ao pronunciar o nome. — Mamoru. Onde ele está? — Rei já lhe informara que Mamoru estava desacordado quando a ambulância chegou, mas não sobre seu estado.
— Calma, Usagi. Ele está noutro quarto, apenas fica calma.

  Ouviram uma batida à porta.

— Droga, já deve ter dado a hora de visita. — Rei correu até a mesinha do quarto, onde deixara seus pertences, e puxou um elástico para prender o cabelo.

— Sim? — Usagi respondeu assim que viu Rei fazer um sinal de positivo.
— Usagi-chan! — Yuuki correu até sua cama e pareceu pronta para abraçá-la quando seu corpo congelou no ar. — Ai, desculpa, quase que te machuco ainda mais, né? — Olhou para o lado, parecendo por fim perceber a presença de Rei. — Sou Yuuki Tatsu, uma amiga da Usagi-chan.
— Rei Hino.

  As duas pareceram se estudar por um momento. Rei não demonstrava, mas devia estar calculando as chances de ser reconhecida.

— Que bom que pôde vir tão rápido. Uma das senshi me garantiu que contactaria a família dela, para eu não me preocupar, mas me senti uma irresponsável. Fui eu quem a trouxe pra cá e nem sei explicar que houve! Sinto tanto, Hino-san... — Yuuki sacudia a cabeça, seus olhos sobre o piso do quarto, seus lábios contraídos em um sorriso nada divertido.
— E-está tudo bem. Ela está bem, né? — Contraída em razão de todas aquelas desculpas, Rei buscou Usagi.
— Sim! Obrigada por vim, Yuuki-san! — disse para alívio de Rei.

  Yuuki agora sorria mais aberto, seus olhos negros cintilando contra a luz. Ela estendeu uma caixa quadrada cor de rosa.

— É uma torta de morango. Queria trazer de chocolate, mas não tinha certeza se você ia poder comer.
— Oh! — Usagi agarrou o presente, sua boca salivando embora houvesse acabado de tomar o café da manhã. — Obrigada mesmo!
— Que bom que está assim tão bem, Usagi-chan... — Yuuki havia se agachado ao lado de sua cama e ainda movia os braços hesitantes, mas prontos a agarrá-la a qualquer momento.
— Mas... — Usagi já estava com a torta aberta, redonda e cheia de enormes morangos circulando uma mensagem de melhoras. — E a Nao-san?
— Acabei de vê-la! Ela está recebendo alta agora e disse que virá visitá-la assim que puder. — Yuuki sorriu de novo da forma inicial, como se fizesse força para conter um grito. — Ficou um pouco chateada por você ter se envolvido.
— Ela brigou com você?
— Não, não foi comigo, acho... — Yuuki olhou para baixo. — Talvez consigo mesma? Ah, o Mamoru-kun! Preciso ir lá vê-lo também!

  Usagi se virou na cama, os pés prontos para fixarem-se ao chão.

— Não pode! — Rei brigou, correndo para empurrá-la de volta. — O médico me fez prometer que só te deixava se levantar depois que ele pudesse examiná-la.
— Mas...
— Eu mando lembranças — Yuuki ofereceu, piscando um dos olhos. — Vou lá vê-lo agora e já te conto como ele está.
— Obrigada — Usagi disse desanimada e a viu sair.

  Nem queria mais a torta. Bem, só um dos morangos. Estavam tão vermelhinhos que se esperasse poderiam passar do ponto. Seria um desperdício. O bolo também acabaria secando sem ela saber direito o gosto, por que não experimentar?

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Havia enfim recebido alta. Nao sugerira acompanhar Rei e ela até Tóquio, para onde planejava voltar no primeiro trem, mas acabara dissuadida a ficar mais uma noite na Região Oeste. Assim poderia descansar, mesmo que não na casa de seus pais, que haviam sido poupados da má notícia e achavam que a filha estava em Tóquio.

  Mamoru também não estava mais no quarto onde deveria, havia optado por sair contra as recomendações médicas, de acordo com uma enfermeira. Já devia estar em algum trem, então... Sem nenhuma prova visual que lhe tranquilizasse, teria que confiar nas palavras dos outros de que ele ficaria bem.

  Quando deixou o hospital, Yuuki dirigiu de carro com Usagi até sua casa, onde ainda estava sua mala, mas nada mencionou sobre como estava tudo com Nao.

— E sua amiga? — ela perguntou no percurso. — Não era melhor ficar conosco?

  A própria Rei ainda precisava recuperar sua bagagem no albergue e fazer o check-out de todas, antes de se encontrarem na estação de Osaka. Contudo, para Yuuki, Rei chegara durante a madrugada e fora direto ao hospital.

— Hã... acho que foi fazer algum passeio pra aproveitar a viagem — Usagi despistou, virando-se para a janela do carro.

  Ainda que não se mostrasse satisfeita, Yuuki não comentou mais e nem Usagi pôde puxar assunto, com medo de o interrogatório voltar. Ainda não se sentia inteiramente bem, era muita coisa que tinha acontecido. Nem sequer se lembrava da história oficial sobre seu envolvimento em tudo; e se causasse contradição? Também não queria mentir, por mais justificado fosse.

— Lar doce lar! — Yuuki anunciou ao se aproximarem da porta de seu apartamento.

  Usagi buscou no bolso a cópia da chave para devolver, mas lembrou que esta ficara com Mamoru.

— Acabamos de chegar — Yuuki disse novamente com o mesmo tom animado.
— Ah, seja bem-vinda de volta.

  Os pelos nos braços de Usagi se arrepiaram com a voz grave que acabara de ouvir em resposta. Seu impulso foi tão forte e repentino que, quando pensou que não deveria segui-lo, já havia pulado em cima de Mamoru.

— Calma... — Ele gemeu enquanto a devolvia ao chão, impondo uma pequena distância de cautela, mas sem sair do abraço.
— Você tá aqui! Ainda não foi embora! — Usagi disse rápido, uma sílaba por cima da outra.

  Embora contorcesse o rosto para compreendê-la, Mamoru assentiu enfim.

— Ficamos preocupadas que você já tinha ido embora — disse Yuuki, que também não o havia encontrado quando fora visitá-lo. — Por causa da sua arte, comemos sua torta de morango enquanto decidíamos se estaria caído a caminho da estação ou tinha pegado um táxi.
— Sinto muito — ele disse, sem se abalar por perder o presente. — Eu já me sentia bem e não queria arriscar perder minhas aulas amanhã, por isso vim arrumar tudo. Já havia deixado uma mensagem e agradecimento com a Nao-san.
— Tá perdoado então, mas ainda sem torta. — Yuuki gargalhou de leve.
— Nao-san? — Usagi entortou o pescoço.

  Uma quarta pessoa apareceu à sala, andando lentamente.

— Vocês já chegaram, que bom — disse Nao com a voz um pouco rouca, os olhos ainda fundos refletindo o alto preço que sua saúde pagara pelo sequestro.
— Nao-san! — Usagi correu até ela e também a abraçou, lembrando-se tarde demais de como Mamoru acabara de reclamar daquela reação. — Você está aqui!

  Ela assentiu com um sorriso calmo, não se importando com o ataque que acabara de sofrer.

— Yuuki-chan me ofereceu ficar a noite aqui, já que meus pais nem mesmo sabem que estou pela região — explicou.

  Usagi olhou animada para Yuuki, o estômago vibrando de felicidade.

— Acabei assustando-a quando cheguei aqui do hospital mais cedo — disse Mamoru sem graça. — Não esperava que houvesse alguém em casa.

  Com uma risada, Nao confirmou:

— Sim, acho que eu o assustei ainda mais. Sinto muito.
— Então, você pode até voltar com a gen— Usagi sentiu a mão de Mamoru segurar sua cintura e beliscá-la. –O que o que foi? — perguntou brava a ele.
— Na verdade, estava pensando de todos almoçarmos com a Nao-san, o que acham? — sugeriu Yuuki. — Era só sairmos agora e podíamos até ir comer em Osaka. Conheço um lugar próximo à estação, sempre como por lá. Claro que eu não me importaria se ficassem mais tempo.

  Usagi suspirou triste. Mesmo que fossem para tão perto, só o almoço poderia fazê-la perder o trem.

— Prometi à Rei-chan irmos embora o mais rápido que pudesse — disse inconformada com a falta de sorte.
— Também terei que recusar o convite. — Mamoru curvou o corpo alguns graus, mas ainda com cuidado para não perder o contato com os braços de Usagi. — Mas a Nao-san deveria ficar mais tempo, lembro bem que sua agenda estava vazia por esses dias com o final das gravações.

  A própria Nao olhou confusa para os dois, mas Usagi pôde apenas levantar os ombros. Bem que ela queria ficar a vida toda ali perto de tanta gente bonita. E claro, saber o que realmente tinha acontecido entre Yuuki e Nao. Se Mamoru chegara naquela manhã...

— E uma carona até à estação? — Yuuki insistiu.
— Você perderia muito tempo; já está quase na hora do almoço, Yuuki-san — Mamoru respondeu. — E o trem chega bem rápido, não tem por que se preocupar. Tem escada rolante e elevador no caminho, não será esforço.
— Mas... — Ela franzia a testa.

  Mamoru cutucou Usagi no meio das costas desta vez, empurrando-a. E só então ela sentiu que começara a compreender aquela insistência em negar o favor — não era mesmo um caminho difícil ou demorado, mas era um favor muito bem-vindo. Aquelas duas já tinham perdido tempo demais, anos, para terem aquela chance de ficarem juntas.

— Divirtam-se as duas pela gente! — disse Usagi sem conter um sorriso de quem enfim sabia de tudo, mas não podia falar.

  Yuuki ainda hesitava, evidentemente precisando fazer algo por eles.

— É melhor se apressar, Yuuki-san. Vocês duas ainda estão em convalescência, não podem atrasar refeição. — Mamoru olhou para o relógio, os ponteiros quase juntos no topo. — Deixamos a chave na sua caixa de correio quando sairmos.

  Em poucos minutos, Nao havia já se arrumado com roupas emprestadas por Yuuki. A calça social e a jaqueta por cima da blusa, mais um chapéu preto e óculos escuros de mesma cor fizeram uma reprodução quase fiel de seus dias como uma First de Harotsuka embora estivessem obviamente largas.

— Que inveja... — comentou Usagi ao ver Nao lutar para achar o cinto certo que segurasse a calça, fugindo da ingrata tarefa de arrumação das malas.

  Nao riu.

— Garanto que este não é meu peso atual normalmente. Só na época que eu estava saindo do Harotsuka que fiquei tão pele e osso assim. Mas por favor, não comente à Yuuki-chan. Nunca vi aquela menina tão preocupada. Queria conseguir me lembrar do que aconteceu, e ela se recusa me contar.

  Antes que Nao pudesse pressionar Usagi, Yuuki saiu do banho e terminou de se maquiar. O perfume feminino havia chegado até a sala, para onde Usagi retornou com suas coisas e onde também Mamoru aguardava a todas com as pernas cruzadas. Era uma fragrância diferente de sua colônia de sempre.

  Encantada com a fragrância, Usagi teve que se conter para não as atrasar perguntando o nome. Então, apenas levantou a mão para se despedir de ambas antes de voltar à arrumação.

— Elas são tão perfeitas! — Ainda suspirava. — Não seria legal se as duas usassem smoking no casamento? — dizia perdida em sonhos. — Elas vão se resolver, né? O que a Não-san te disse de ontem à noite? Será que... — Ela não conseguiu conter as gargalhadas tentando imaginar com o rosto vermelho.
— Por que não se concentra na sua bolsa e deixa a vida pessoas dos outros com os outros? — Mamoru disse com as sobrancelhas erguidas.

  Usagi soltou um gemido relutante, enquanto empurrava suas coisas na bolsa. Devia ter trazido uma mala de verdade, que coubesse tudo o que acabara comprando e ganhando — Erika havia lhe presenteado com vários discos com músicas e peças do Harotsuka, além de dois ursos de pelúcia vestidos como um casal de First e First Lady, como agradecimento por tudo.

— Pensei que estivesse economizando. — Mamoru havia se sentado ao chão do seu lado e a afastou para ajeitar melhor a bolsa dela e fechá-la. Usagi se ressentiu da facilidade com que ele o fizera.
— Eu ganhei muito presente, tá? Diferente de uns e outros, não fugi da injeção.
— Você não levou nenhuma injeção além do soro. Que eu também tomei. — Mamoru levantou a mão até ela e Usagi se encolheu pronta para um peteleco ou para ter seu cabelo bagunçado.

  Em lugar disso, ele apenas segurou seu rosto, um olhar intenso voltado para ela. Somente ela.

— Algum dia vai começar a confiar em mim? — perguntou ele, sua voz triste. Nitidamente, não falava sobre petelecos ou cafunés.
— Fui eu quem menti, né? Podia ter dito desde o início que era Sailor Moon; te deixado mais tranquilo sobre o Zoicite.

  Ele riu.

— Você ser a Sailor Moon só me deixa ainda mais nervoso. Porque não posso fazer nada pra te tirar disto, né?

  Balançado a cabeça, Usagi voltou a encará-lo. Estavam com os rostos tão próximos. E toda a sensação que a envolvia gritava Mamoru. Tuxedo Kamen. Endymion... Queria tanto que ele a beijasse. Apesar de toda a ansiedade, aquela complicação que só aumentava no espaço entre eles.

  Foi quando percebeu. O Milênio de Prata. O Dark Kingdom. Serenity. Endymion. O Cristal de Prata. Tuxedo Kamen. Sailor Moon. Não eram eles. Ela própria era a única impedindo que seus lábios se tocassem.

  Por isso, nem perdeu tempo inspirando fundo para reunir coragem. Impulsionou o corpo até que reunidas estivessem suas bocas. E como sentira falta daquele beijo!

— Usagi...? — Mamoru perguntou confuso, mas correspondia tão suave, tão apaixonado, enquanto acariciava suas costas, seus cabelos.
— Que tal deixarmos tudo pra depois? — ela sugeriu, voltando a enlaçá-lo como como quando o vira mais cedo, puxando sua cabeça para ainda mais perto, juntando seus corpos. — Já esperamos demais e olha no que deu? Mas quando estamos juntos, até o Cristal de Prata aparece. Só pode ser um sinal!

  Ele começou a balançar a cabeça duvidoso, mas Usagi tornou a puxá-lo para mais beijos.

  Naquele momento, o único problema era a bronca que levaria de Rei por deixá-la esperando enquanto se divertia ali com Mamoru. Mas nem esse risco de morte a convencia deixá-lo afastar-se mais que um centímetro dela.

FIM!

Anita, 21/06/2015

Notas da Autora:

Preciso muito agradecer a quem teve a paciência de chegar até aqui. Depois de tanto tempo que comecei a escrever esta fic, relendo, vejo o quanto ela é diferente do que eu venho escrito. Pra mim é um diferente bom, para quem goste do meu estilo usual, talvez seja ruim, né?

E esta foi uma experiência que amei e dificilmente terei novamente. Juntar duas paixões nem sempre dá certo, mas consegui fazer uma terceira paixão aqui: este universo! Gente, nunca amei tanto escrever cenas MamoUsa...! Até fiquei chateada com esse final e o reescrevi — espero ter remendado direito, aliás xD —, mas continuo insatisfeita.

Aliás, muitíssimo obrigada pela paciência com meu universo de Harotsuka, que aliás até o final eu ainda estava chamando de Takarazuka! É capaz de ainda ter coisa assim que perdi no meio da revisão e você ainda encontrar alguma referência não "traduzida" pro meu universo... rs.
E aqui tenho que dar adeus à Yuuki e à Nao. Espero que elas sejam felizes na nova vida delas. (limpa as lágrimas com um lenço)

Agora... vendo a data que a fic terminou e a data de hoje quando eu terminei a revisão (18 de novembro de DOIS MIL E DEZESSEIS) sei que preciso muito esquecer a coisa de revisar fics. Acho superfeio achar meus erros até depois que reviso, e eu erro muito mais que pessoas normais. Mas é que... olha essa diferença!

Então a minha próxima fic de Sailor Moon vou fazer feio mesmo e mandar a fic direto.

Mas esta aqui foi toda revisada... eu juro! Custei um ano e mais coisa pra isso, mas ela tá aqui e tá pronta! Acabou! Dá pra acreditar? Quase cinquenta mil palavras e eu ainda queria falar mais sobre minhas meninas e MamoUsa, hahaha! Mas coitadas. Teria que sequestrar ou matar alguém pra isso. Mudemos de vítimas, né? Não é justo. Final feliz!

Espero que tenham gostado da fic e não deixem de comentar. Por favoooor!!!

Próxima fic de Sailor Moon envolve e-mails! Será que vocês vão gostar?? Acompanhem meu site Olho Azul para novidades! http://olhoazul.50webs.com

Beijos e até a próxima!


2 comentários:

  1. Quase dois anos depois, eu venho aqui e dizer que terminei a leitura dessa última fic que escreveu de Sailor Moon. E acho que não tem ideia do quanto adoro as suas fics! Confesso que fiquei meio triste ao entrar no site e ver que essa já tem quase 2 anos e não postou mais nenhuma nova de Sailor Moon. Adoraria ler fanfics novas suas de UsaMamo <3
    Sou fã das suas histórias há anoooooooooooooooos, desde lá o Biblioteca de Guaruhara hahahahahahaha (Já faz um tempinho). E uma vez até nos comunicamos por e-mail! Até hoje a minha favorita sua é "Várias formas de te amar". Já a li tantas vezes que praticamente decorei as palavras e a ordem das cenas KKKKKKK Não deixe de publicar histórias! Eu mesma sempre estou aqui em busca de novas ou relendo as antigas. Espero que consiga ver esse comentário! Eu realmente adorei esta fic, ela supriu a saudade que eu estava de ler coisas sobre UsaMamo fora do universo da Naoko.

    Abraços <3 <3

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. NOSSSSA, seu comentário se perdeu em algum limbo do blogger e eu só fui descobri-lo hoje. Infelizmente você nunca verá a minha resposta, mas fiquei tão feliz de recebê-lo! Ai que vergonha ter demorado tanto tempo e muito obrigada pelo carinho! T_T Estou aqui justamente pra postar mais um capítulo da minha nova fic, e espero que você ainda esteja interessada em ler ♥

      Excluir

Leia Também

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...