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[Sailor Moon] Então, Fique ao meu Lado - Capítulo 1, escrita por Anita

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Autora: Anita
Fandom: Sailor Moon
Gênero: Comédia romântica
Classificação: 12 anos
Status: completa
Resumo: Tsukino Usagi / Chiba Mamoru. Usagi é forçada a passar um final de semana com sua família em um hotel no interior. Ela não sabe se o pior é descobrir um ataque de um possível youma ou que Mamoru Chiba está hospedado no mesmo local. Ele ainda acaba a acompanhando enquanto ela tenta investigar, só para deixar tudo mais complicado.

Notas Iniciais:

Como vocês já sabem, Sailor Moon não me pertence e eu só ganho dor de cabeça com isto.

Esta fic se passa na fase classic do primeiro anime de Sailor Moon, naquela parte antes do aparecimento do Cristal de Prata. Deve ser simples de acompanhar independentemente do Sailor Moon que você conheça, já que a intenção aqui é UsaMamo, como sempre.

Por fim, faz muito tempo que não lanço nada novo, então paciência com meus dedos enferrujados, por favor.

Agora à fic!     

Olho Azul Apresenta:
Então, Fique

Ao Meu Lado

 

Capítulo 1 — Remédio para os Olhos

  Não vou mentir que não era bem pra eu estar tão revoltada de estar viajando com meus pais para um hotel com onsen. Normalmente, eu até empurraria o carro de tão empolgada com passar meu final de semana direto nas águas quentes. Ainda era outono, mas não era o que a temperatura achava; até me pergunto se o inverno podia ser tão frio quanto na última semana. Ou seja, o tempo ideal para mergulhar num onsen.

  Só que não era o momento certo. Eles não podiam ter adiado por mais um final de semana? Tudo ficaria perfeito se estivéssemos chegando a este hotel uns sete dias no futuro.

  Eu não teria que fazer o treinamento intensivo que a Luna ditou que todas nós senshi teríamos que passar — é aí que eu compreendo por que ela tem uma princesa perdida, porque neste ritmo, ela vai ter também mais quatro senshi. E eu poderia ir ao show dos Edgers que está para começar em umas seis horas e quatorze minutos, mas quem está contando? Não eu que fiquei dias e semanas puxando saco da Rei-chan quando ela conseguiu ganhar na loteria a chance de comprar o ingresso deles. Sinceramente, com quem mais ela pretendia usar o ingresso? Naquela época, nós ainda nem conhecíamos a Mako-chan. Se não fosse para ir comigo, porque gastar uma grana preta pagando dois? Claro que ela queria ir comigo! Posso não suportar aquela menina mentida a besta, mas que ela me ama, isso tá mais que óbvio.

  No fim das contas, a Mako-chan se deu bem e eu estou aqui num hotel numa cidade exclusiva para milhares de outros hotéis com onsen — todos aparentemente melhores. Minha bunda doía da viagem, minhas costas da mala e minha barriga da fome.

  — Quando é o almoço, afinal? — perguntei depois de sacudir o ombro da minha mãe.

  Meu pai, que ainda terminava de fazer o check-in de nós quatro, virou-se e respondeu:

  — Já já vamos pro restaurante, Usagi.

  — Tem certeza que vai sobrar dinheiro pra conta, pai? — Shingo mostrou a língua pra mim e saiu correndo pelo lobby. Mas não rápido o bastante, e eu o puxei pelo cachecol com toda a minha força. Ele exagerou um engasgo, tossindo. — Você quer me matar?

  — Crianças — minha mãe brigou num tom de quem repetia isso pela enésima vez, o que devia ser a conta correta, considerando as três horas e meia de viagem até o maldito hotel.

  — Ele que me chamou de gorda!

  — Só disse que come demais, o resto foi a carapuça que serviu. — Shingo cruzou os braços na sua melhor pose de sabe tudo.

  — Não seja tão sensível, Usagi-chan. Estamos aqui para relaxar e não brigar um com o outro.

  — E aqui está a chave do nosso quarto! — Meu pai ignorou minha cara feia e balançou o pedaço feio de madeira que o hotel fazia de chaveiro. — Vamos levar nossas coisas logo.

  — Mas e a comida? — reclamei, segurando minha barriga antes que o buraco sugasse todo o universo.

  Só que minha própria família me ignorou completamente, mesmo depois de eu ter abandonado a chance de ver os Edgers ao vivo para desfrutar daquelas horas somente com ela no meio do nada. E sumiu da minha frente.

  — Ué? — Olhei para todos os lados e não avistava viv’alma. — Mas pra onde é o quarto? — Ninguém me respondeu, claro.

  Só agora notava o quanto estava distraída reclamando. Eu tinha visto claramente meu pai fazer o check-in, mas não fazia ideia de qual era o funcionário. E piorava, não tinha mais ninguém na recepção. Virei para trás e percebi que um casal com mais idade havia acabado de chegar e o hotel inteiro parecia haver se deslocado para dar as boas-vindas. Até as malas — duas bolsinhas menores que minha pasta do colégio — tinha gente carregado, cada uma com um funcionário diferente.

  — Como assim? — exclamei revoltada, porque a minha mala que devia pesar dez vezes ainda estava no chão onde eu a deixara.

  Olhei confusa para o meu arredor, tentando ver algum sinal de riqueza pra um lugar desses receber clientes VIP, mas nada. Continuava parecendo hotel que precisava de promoção para ter clientes na alta temporada — ou seja, o tipo de hotel que minha família conseguia pagar, logicamente. Tinha alguma coisa histórica ali que ninguém me contou? Ou a cidade toda lotou e aquela família rica não tinha onde ficar?

  — Algum problema, senhorita? — uma voz masculina falou perto de mim e só percebi muito tempo depois que eu era a senhorita.

  Só que aquele homem com certeza não era um funcionário pra estar sendo tão formal. Mais fácil ele ser um irmão gêmeo mais velho de um dos Edgers, na verdade. Cabelos sedosos e quase cintilantes, um aroma tão caro que eu só podia dizer que tinha cheiro de ouro, até o branco dos olhos dele parecia mais branco que o meu. Já disse como era bonito? Eu precisei piscar pra ter certeza que o brilho natural daquela pessoa não ia me deixar cega. Para ser sincera, uma vozinha na minha cabeça dizia que eu nem devia ter permissão de olhar diretamente para ele, mas eu também não conseguia me mexer o bastante para desviar meus olhos. Tão lindo!

  — Com licença, acho que ela está se sentindo mal — ele disse para alguém atrás de mim.

  — Devo trazer alguma água? — outro homem respondeu.

  — Vou trazer uma cadeira para ela! — agora era uma mulher. De onde esse pessoal do hotel tava aparecendo que até havia pouco nem na recepção tinha gente?

  — Sim, é melhor que se sente. — O homem bonitão me segurou pelos dois ombros e eu me senti uma donzela desses filmes antigos. Em seguida, ele me conduziu até onde a cadeira aparecera tão magicamente como aqueles funcionários.

  — Espera! — eu disse ao voltar a mim. — Eu tô bem!

  Ele me pareceu não acreditar.

  — Tem mesmo certeza?

  — Aqui está a água, senhor. — O homem de antes entregou um copo cristalino, mas não para mim.

  Claro, eu continuava invisível como a cliente aleatória que era.

  — Senhorita? — O membro perdido do Edgers seguia me olhando sem confiar muito que eu não precisava ser salva. Considerei naquela hora fingir um desmaio já que parecia que o deixaria feliz.

  Espera... e se ele tiver se apaixonado loucamente pela plebeia aqui? Ou... e se ele tiver se apaixonado por mim achando que eu tenho a classe daquele casal que tinha acabado de chegar? Melhor eu ser mais realista, ele tava realmente apaixonado por mim. Só isso explicava tanta preocupação quando tudo o que eu tava fazendo era olhando o nada.

  — Senhorita? — ele me chamou com o tom mais urgente que antes e notei que eu já havia sido sentada e dada o tal do copo com água. — O que a senhorita está sentindo? — Ele se virou para os funcionários do hotel e perguntou: — Tem algum médico por perto?

  Médico? Não segurei uma risada de tão fofo.

  — Senhorita? — Era a terceira vez que ele dizia isso, mas esta era a minha favorita, porque ele estava tão confuso com por que eu ria e mesmo assim não presumia que eu estivesse ficando maluca que nem certas pessoas que eu conhecia e que amavam aparecer na frente de moças incautas correndo desatentas pela rua só pra depois reclamar da batida.

  Espera, por que tô pensando naquele sujeitinho? Vamos voltar pro Edger logo aqui na minha frente. Entortando a cabeça pra mim enquanto junta as sobrancelhas. Awnnn! Ele me ama!

  — Eu estou bem, moço! — respondi, agora rindo mais abertamente. Ele ia acabar achando que eu tava tirando uma com a cara dele se não parasse, mas de repente o fim de semana prisão que meus pais me impuseram se tornara um meet cute dos mais épicos. Como eu me controlaria?

  — Mesmo? — o funcionário de antes perguntou, com o celular na mão talvez buscando o contato do médico. Tudo bem este cara lindo estar tão louco por mim que não notou que eu só sou uma cabeça de venta; mas e esse outro que devia ser mais profissional? Seria que enfim tinha chegado a primavera de minha existência?

  Eu acabei de me chamar sozinha de cabeça de vento, né? Ai, aquele sujeito ainda ia me pagar por essa!

  — Eu tô bem! Só fiquei perdida — disse a meia mentira para o Edger, porque dizer que só fiquei perdida nos seus olhos ia parecer brega embora fosse a realidade. — Estava com a minha família e não vi o número do quarto em que estamos.

  O Edger sorriu, não como se tivesse achado minha história engraçada. Era difícil explicar, era simplesmente um sorriso.

  — Bem, isso fica ainda mais fácil resolvermos — ele falou, pondo a mão na minha cabeça por um momento e depois virando-se para o funcionário. — Por que não confere o registro de hóspedes e leva esta senhorita até o quarto?

  — Claro, senhor!

  O homem executou as ordens em segundos, até pegando minha mala pronto para me guiar pelo hotel.

  — Creio que nos veremos por aí, senhorita. — O Edger mostrou de novo aquele sorriso indescritível. — Até mais.

  — Até mais! — respondi empolgada e fiquei observando-o ir embora enquanto a baba quase escorria da minha boca.

  O funcionário pigarreou.

  — Vamos, moça?

  E cá estava eu de volta pra realidade, com um cara nada feliz em ter que ser minha babá agora que não tinha mais o Edger para agradar.

  O que me fez ficar na dúvida: quem diabos era ele que conseguia movimentar todo o hotel só porque achava que uma garota estava se sentindo mal? Digo, sua identidade humana, já que pra mim ele era com certeza meu príncipe encantado.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  — Usagi-chan, não saia correndo na frente ou vai acabar se perdendo! — Minha mãe falava para as minhas costas enquanto eu marchava morro acima, pronta para virar a primeira esquina que encontrasse. E virei.

  No final das contas, quando cheguei ao quarto mais cedo, ele estava vazio. Nem mesmo uma mensagem no meu celular para dizer aonde minha família teria ido e me abandonado.

  E “família unida é o que importa!” não era justo o motivo de eu estar perdendo o show dos Edgers daqui a cinco horas e quarenta e nove minutos? Muito unida!

  Minha barriga roncando, decidi andar sem rumo pela cidade. Se eu me perdesse e eles nunca mais me vissem, bem feito para todos! Exceto que os três estavam na fila do restaurante logo na frente do hotel e me avistaram imediatamente. Como minha barriga roncou ainda mais alto com o cheiro, decidi dar uma trégua e almoçar de uma vez.

  Por isso que, agora mais que satisfeita, eu retomava meu plano de me perder. Até que despistar minha mãe virando em esquinas aleatórias funcionou perfeitamente, até porque eu tinha a sensação de que ela não se esforçara muito para me seguir, o problema era que eu dei de cara com o hotel de novo. Rodei tanto que acabei no ponto de partida.

  — Aí está você, Usagi-chan! — meu pai me cumprimentou, sacudindo uma sacola de compras da loja do lado do restaurante em que havíamos almoçado. — Leva isto aqui pro quarto e se vir a sua mãe, diga que fui com o Shingo ao onsen de pés.

  Sem esperarem minha resposta, os dois saltitaram por uma das ruazinhas e sumiram. Resisti à vontade de jogar a sacola longe e decidi voltar para o quarto, aproveitar os raros momentos a sós naquele final de semana.

  — Usagi-chan!

  Virei para todo lado desnorteada. Como que alguma voz familiar podia estar me chamando neste canto do mundo? Certo, esta era uma cidade específica para onsens e, por isso, não era de estranhar que atraísse bastantes turistas nesta época de frio. Só que tínhamos opções mais próximas de Tóquio e melhores — não era pra minha família ser a única doida de preferir vir aqui? Isso e o fato de meu pai haver conseguido algum cupom ou desconto com o trabalho dele ou coisa assim.

  — Usagi-chan, aqui! — E de dentro do hotel onde eu estava hospedada me aparece Motoki-oniisan. — Aqui dentro! — ele disse embora já estivesse realmente fora.

  — Oniisan? — Franzi a testa e me perguntei se tinha me esquecido do meu aniversário e tudo era um plano de festa surpresa. Mas eu sou de Câncer e estávamos em pleno outono.

  — Que faz aqui tão longe? — ele me perguntou o que se passava pela minha cabeça.

  — Minha família, digo, meu pai conseguiu um desconto... acho? Algo assim.

  — Mas que legal! E você tava pra entrar aqui, né? — Ele apontou para o meu hotel e eu assenti. — Estamos hospedados no mesmo lugar! Não acredito que coincidências assim existam. Vamos, vamos entrar que tá frio. Só vim porque espiei duas marias-chiquinhas dançando pela rua, mas nossa que frio!

  Eu o segui para onde o aquecedor fazia milagres.

  — E você tá em que quarto, oniisan? — perguntei, cruzando os dedos para ser do lado do meu.

  Motoki-oniisan apontou para cima e eu fiquei por um momento olhando para o teto, imaginando-o dormindo no telhado.

  — No andar de cima — respondeu, e eu me senti boba, mas não era minha culpa se eu tinha uma imaginação hiperativa. — No 21.

  — Ah. — E agora a frustração batia em mim. Nem no mesmo piso estávamos.

  — Bem incrível, né? Na mesma cidade, no mesmo hotel. Impressionante!

  Exceto que não era o mesmo piso, mas não importava tanto.

  Fossem alguns meses atrás, ouvir tudo isso faria meu coração dançar apaixonado. Claro, eu ainda achava ele um dos garotos mais bonitos que eu conhecia pessoalmente. E era tão inteligente, esperto e sabido também. Tá, meu coração ainda dançava mesmo hoje, só que não era mais da mesma forma. Descobrir que ele tinha uma namorada, mesmo que agora ela estivesse lá pra África, havia cortado um pouco meu interesse.

  E bem quando eu me lembrava do quanto a namorada dele era bonita que eu avistei outro ser maravilhoso descendo as escadas. Meu membro perdido do Edgers, meu Edger pessoal e príncipe encantado!

  — Ah! — exclamei sem nem perceber e quase corri para falar com ele. Mas me contive a tempo quando ele me percebeu e acenou enfaticamente com um sorriso aberto, um bem mais fácil de dizer que era de alegria que o de mais cedo. Tão lindo! E então virou e sumiu hotel adentro. Uma parte de mim se sentiu frustrada que acabou ali nosso reencontro e outra queria segui-lo e descobrir seu quarto.

  — Ué? Você o conhece, Usagi-chan? — oniisan perguntou para as minhas costas. Quando me voltei, descobri marcas de preocupação no seu rosto.

  — Ele me ajudou mais cedo, quando me perdi dos meus pais e não sabia onde era nosso quarto.

  — Ah, sim. — Só faltou ele suspirar de alívio. — Faz sentido.

  Ainda bem que deixei de fora o medo exagerado do meu Edger que eu estivesse passando mal e não totalmente apaixonada à primeira vista. Às vezes, esquecia que oniisan podia agir como um irmão superprotetor.

  — E aí? Planos pra esta tarde? — oniisan indagou com seu tom de sempre.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Não era só o oniisan e o Edger que o hotel tinha de bom. A parte de onsen também era maravilhosa. Certo, nosso quarto não era um dos luxuosos com a própria banheira, mas que graça tinha ter nossa própria banheira quando uma piscina inteira estava lá embaixo, à nossa disposição? Podia apostar que ninguém usava aquelas dos quartos, elas pareciam minúsculas, e paisagem que mostravam nos folhetos que vira na recepção me fazia ter mais medo de pervertidos que vontade de desfrutar.

  E o jantar! O almoço não estava incluso, mas o jantar sim. Fomos os quatro até um salão com todos os hóspedes e quando a comida chegou eu mal pude acreditar que estava viva para aquilo Não importavam as fotos que Rei vinha me mandando de cinco em cinco minutos do caminho dela de casa até o show e até o lugar dela — quase de cara pro palco! Como? —, e eu nem estava mais ligando.

  Peguei caranguejo e macarrão e pizza e uns tomates com queijo e gyoza e... o que mais mesmo? Só sei que meu único arrependimento foi ter dado de cara com o Motoki-oniisan quando eu tinha acabado de encher o prato.

  — Usagi-chan! — ele me cumprimentou ainda apenas com os tomates com queijo em seu prato. — Vejo que também tá aproveitando.

  Também? Sua janta por enquanto se resumia a duas rodelas de tomate! Mas assenti.

  — Vivendo a vida!

  — Você é o amigo que a nossa Usagi comentou, não é? — meu pai apareceu do nada atrás de mim. Ao menos eu tinha falado com a minha mãe sobre encontrar com o oniisan, então ele não confundiu aquilo com algum cara dando em cima de mim. Imagina a vergonha que ele me faria passar se fosse meu Edger?

  — Olá, senhor Tsukino!

  — E veio sozinho pra cá? — Meu pai não foi nada discreto procurando a sala. — Onde está sua namorada, rapaz? — Não, ele não sabia da Reika. Tinha certeza de que a real intenção do papa Kenji era saber se o oniisan era um perigo para sua preciosa filha. Ele não fazia ideia do quanto eu estava segura...

  — Minha noiva está estudando fora agora — oniisan explicou com a expressão triste. — Na verdade, eu ia vir com um amigo, mas ele precisou ficar mais tempo em Tóquio. Aí aqui estou, solamente só. — Oniisan deu de ombros com um sorriso.

  — Mas que coisa, sozinho num hotel desses! Por que não se junta à gente? — Claramente, a menção de existir uma namorada mereceu o selo de aprovação ao oniisan e meu pai já o estava empurrando para a nossa mesa.

  Oniisan pareceu grato, mas hesitou.

  — É muito gentil, mas...

  — Ah! — Meu pai apontou para o prato dele. — Claro! Termine de se servir antes, claro. E depois venha, tá? Não nos deixe sozinhos.

  Ele assentiu por fim e foi bem nessa hora que vi meu membro perdido do Edgers entrar no salão junto ao casal idoso de mais cedo.

  Inacreditavelmente, ele olhou bem na minha direção e acenou. Tantas horas depois e ele não só se lembrava de mim, mas eu podia jurar que ele estava me procurando. Tipo, entrou no salão já querendo me localizar. Só isso explicava a rapidez com que me avistara.

  Eu devia estar com a cara mais boba do mundo quando oniisan me chamou de volta ao mundo:

  — Usagi-chan? Não sei em que você tá pensando, mas é melhor parar. — Ele me olhava com cara de quem já sabia tudo, apesar do que tinha acabado de dizer. — Aliás, sem dúvidas que ele nem lembra quem você é. Tem certeza de que já se conhecem?

  — Claro! Você não viu agora? Ele até me cumprimentou!

  — Acho que não foi com você.

  — Foi sim!

  — Não foi, n—

  — Por que você tá sendo tão difícil? — Sem dar tempo de resposta, saí pisando fundo para a mesa.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Eu não devia ter deixando as palavras superprotetoras do oniisan me atingir; era ele quem estava sendo irracional, no final das contas. Só que a semente da dúvida foi dando pé dentro da minha cabeça e a cada pedaço de comida que eu punha na boca, meus olhos caíam no membro perdido dos Edgers e eu me perguntava mais: ele ainda se lembrava de mim? O que nem fazia sentido, eu tinha certeza de que o vira entrar no salão daqui do hotel, virar a cabeça e me cumprimentar. Ele não cumprimentara mais ninguém, só virou a cabeça bem na minha direção e me cumprimentou.

  Só que era realmente bom demais pra ser verdade. O homem era lindo, indescritivelmente maravilhoso. E muito provavelmente, tinha dinheiro. Ou os pais dele tinham, se aquele casal idoso sentado com ele eram seus pais. Deviam ser, eram cara de um e focinho de outro. Até o jeito do senhor mais velho pentear o cabelo parecia ter ido dentro dos genes do meu Edger. O jeito com que se tratavam também parecia íntimo demais para meros conhecidos. E não nos esqueçamos do tratamento especial que ele havia recebido quando achou que eu estava passando mal. Definitivamente, se não tinha dinheiro, tinha influência. Seria político? Não, era novo demais. Eu não daria mais que vinte e cinco e não duvidava que fosse ainda universitário ou pós-graduando. Mesmo tão bonito, eu saberia se fosse algum famoso. Só podia ser por causa daqueles pais dele. Meu Edger era algum herdeiro, então.

  Eu já sabia tudo isso sobre ele sem a menor sombra de dúvida, mas não fazia ideia se ele ainda se lembrava de mim.

  — Bem, só tem uma forma de saber — eu disse pro oniisan, levantando-me da mesa e caminhando para a parte do bufê com os doces.

  — Quê? — Oniisan agiu como se não tivesse me entendido, mas ignorei a confusão dele e me foquei em minha missão.

   O Edger também tinha se levantado para ir até o bufê, então era a minha chance de falar de novo com ele e a sós. Hora de pôr tudo a limpo.

  — Oi — eu cumprimentei assim que o alcancei.

  Ele se voltou para mim com aqueles olhos mágicos, segurando um prato vazio para se servir. Tinha me esquecido do quanto eram bonitos e precisei de um segundo para me recuperar. Ele podia não ser uma celebridade, mas estava acima do nível de super astro no quesito aparência. É, só podia ser rico mesmo se ninguém ainda o tinha encontrado na rua para fazê-lo famoso.

  — Oi? — Ele juntou as sobrancelhas, parecendo me esperar dizer mais.

  — Eu queria agradecer por hoje mais cedo, no saguão.

  Ele ficou pensativo, mas logo sorriu daquele jeito de antes, que eu não conseguia explicar bem. Então, disse:

  — Ah, claro. Espero que tenha encontrado seu quarto.

  — Sim! E que boba eu, né? — Dei uns tapas de leve na minha cabeça. — Como que nesta idade fui me perder dos meus pais?

  — Acontece. — Ele escolheu uma fatia de tiramissu e gesticulou se eu também iria querer.

  Assenti com força e deixei que me servisse. Quando senti que ele estava para voltar à sua mesa, eu o impedi tocando na manga de sua camisa e comecei a dizer:

  — Será que a gente poderia se—

  — Aconteceu alguma coisa? — oniisan conseguiu me interromper justo quando eu tomara coragem de chamar meu Edger para conversarmos a sós.

  — Oniisan! — briguei quase como ato reflexo, quebrando toda a minha pose de puro charme e sorriso que havia mantido a muitas custas.

  — Vocês se conhecem? — Claro que meu Edger nos olhava sem entender nada. A garota aqui completamente na dele e de repente aparece outro carinha causando cena de ciúmes?

  Eu estaria enfurecida se fosse ele, mas meu Edger parecia ter uma criação excelente, grande herdeiro que era, e apenas franziu a testa. Certamente reparava em como oniisan havia, nada discretamente, puxado minha mão de volta do braço dele. Aliás, eu estava me contendo com tudo de mim para não enforcar o oniisan depois de me roubar aquele momento perfeito e se intrometer.

  — Usagi-chan é como uma irmãzinha pra mim.

  — Mas nem sou. — Fechei os olhos com força para tentar me manter calma e decidi seguir a etiqueta. — Este é um amigo meu de Tóquio. Furuhata Motoki. Oniisan, eu só estava agradecendo ao membro— Parei antes de falar besteira. — Desculpa, acho que nunca ouvi seu nome...

  Antes de me responder, ele olhou na direção da mesa do casal idoso, que nos observavam com a expressão curiosa.

  — Takayuki. Mas preciso ir agora. Nós nos vemos outra hora. — Com um aceno de cabeça, lá se foi minha chance de pedir para falar mais com ele.

  Minha última chance daquela noite foi na saída. Minha saída, na verdade, pois meus pais e meu irmão ficaram aproveitando mais o bufê enquanto eu comi correndo, de olho na hora em que meu Edger — que agora eu descobrira se chamar Takayuki — iria embora. Como eu previa, ele e os pais terminaram logo a sobremesa e se levantaram os três em direção à saída.

  — Tô indo na frente! Boa noite, oniisan! — disse correndo, mas tentando não olhar para o Takayuki-san, no caso de o oniisan dar mais um ataque de superproteção.

  — Mas você nem experimentou o fondue, Usagi — minha mãe disse, prestes a pôr na boca mais um pedaço de morango coberto de chocolate.

  Parecia tão bom... A saliva ameaçou cair de meus lábios e precisei sacudir a cabeça algumas vezes para quebrar a corrente de pensamentos. Takayuki-san! Meu membro perdido dos Edgers já tinha passado pela porta de vidro do salão e eu logo iria ficar sem saber para onde ele ia.

  — Até mais tarde! — disse para minha mãe e saí correndo. Com sorte, oniisan estava de costas para a saída e, mesmo que se virasse, não daria para avistar Takayuki-san dali.

  Apertei o passo e alcancei os três quando já estavam no saguão.

  — Espera! Takayuki-san! — chamei com um pouco mais de desespero do que pretendia. Graças a isso, a família inteira parou para me olhar. — Desculpa... eu só queria conversar um pouco... — Olhei para ele em súplica. — Por favor?

  Takayuki-san, daquele jeito perfeito dele, fez um movimento com a cabeça para que os pais continuassem para onde fosse que iriam. Então, voltou a me olhar e disse:

  — Só estamos com um pouco de pressa; meu irmão acabou de chegar aqui de Tóquio.

  Oh céus, ele tinha um irmão! Tentei não pensar muito para não ficar sem ar. Até porque eu precisava manter minha lealdade àquele que me ajudara quando havia mais precisado e não ao atrasado.

  Espera. E se esse irmão fosse literalmente um membro dos Edgers? O show deles devia estar terminando agora; com um jatinho, ele poderia chegar aqui em segundos! Aproximadamente.

  — Takayuki-san nunca me disse o seu sobrenome... — falei alto o que estava pensando. Mas era estranho se apresentar só com o primeiro nome, né? A menos que o estivesse ocultando. Por ser o mesmo do irmão mais novo famoso, membro dos Edgers!

  — A urgência toda era para perguntar o meu sobrenome? — ele indagou confuso, quase impaciente.

  — Não! — apressei-me para corrigir. — Eu queria saber se não podíamos conversar mais. Sabe, nos conhecermos melhor.

  Takayuki-san entortou a cabeça, mas logo pareceu chegar a uma conclusão, pois seus olhos brilharam e um sorriso abriu-se em seus lábios.

  — Eu sinto muito, mas não levo muito jeito pra brincar com crianças, Utako-chan.

  Quê? Eu não consegui nem responder, só fiquei ali, com a boca entreaberta, meus lábios tremiam com a milhões de possibilidades de como eu poderia continuar o diálogo. Uma resposta superinteligente para me vingar de ser chamada de crianças? Uma correção que eu já tinha quinze anos e, portanto, não era mais uma criança e muito menos o estava chamando para brincar? Um pedido de reconsideração o mais maduro possível? Ou uma demanda para que ele me pedisse desculpas por me tratar assim? Ou cair no choro em alto e bom som enquanto ele vai embora me ignorando por completo?

  Preciso mesmo dizer o que foi que acabei fazendo no final das contas? Caí de joelhos no chão e deixei minhas lágrimas correrem soltas.

  — Usagi-chan! O que aconteceu? — ouvi oniisan me perguntar e só soube o quão perto ele estava quando sua mão começou a dar tapinhas nas minhas costas.

  — Eu não sou uma criança! — reclamei tarde demais. — E meu nome não é Utako!

  — Eu sei, eu sei... — oniisan repetia com a voz baixa.

  — E você também não me trata que nem um bebê — briguei ao perceber que era justo o que ele estava fazendo.

  — Usagi! — minha mãe também já tinha aparecido e seu tom era muito menos bonzinho. — Por que diabos tá ajoelhada no chão do hotel? Chorando desse jeito? Levante já daí!

  — Não quero! Ele me chamou de Utako! Quem é Utako! — E meu choro acabou ficando mais forte, porque aquilo fez a resposta do Takayuki-san ecoar pela minha cabeça.

  — Usagi-chan... — Oniisan voltou a dar tapinhas nas minhas costas, ignorando meu pedido para que deixasse de fazer aquilo. Afinal, eu estava mesmo agindo igual a um bebê, merecia ser tratada assim.

  Enquanto isso, em um plano distante, minha cabeça registrava as pessoas que desviavam de mim fingindo que não tinha nada acontecendo. Ignorando meu coração estilhaçado ali naquele chão.

  — Ele me chamou de Utako! — berrei.

  — Está falando do Takayuki-san? — Oniisan perguntou e eu apenas assenti.

  — Foi como você disse; ele nem devia se lembrar de que eu existia!

  Oniisan passou a mão na minha cabeça, ainda tentando me tranquilizar.

  — Tsukino Usagi, se você não se levantar imediatamente desse chão vai ficar de castigo sem sobremesa por um mês! — minha mãe deu o ultimato, ignorando os esforços do oniisan e toda a tragédia por que eu acabara de passar.

  — M-mas... — tentei argumentar e o choro acabou voltando forte.

  — Vou contar até três; se não se controlar, está de castigo. — Ela cruzou os braços e deu um passo à frente, fazendo um som agudo com o chinelo do hotel que até então parecia incapaz de qualquer ruído. — Um.

  — Mas, mãe!

  — Dois.

  — Ele me chamou de Utako e—

  — Três.

  Ao mesmo tempo que minha mãe terminou sua contagem, ainda pegando um dos pratos vazios — e eu preciso frisar que foi isso o que me fez ficar muda e não o que aconteceu —, outra pessoa chegou à cena. Ela não vinha do salão, de onde continuavam a passar hóspedes como se minha vida não tivesse se acabado naquele lugar. Ela vinha do saguão do hotel e duvido que por ter ouvido meu escândalo. Na verdade, eu não devia estar fazendo barulho o bastante para meu choro chegar até lá, ou o próprio Takayuki-san também teria me ouvido, e isso seria o fim do mundo (de novo). Não, essa pessoa vinha atraída pelo cheiro do meu sofrimento, porque, com toda a certeza, essa era a sua comida preferida de todas.

  Como eu vinha dizendo, bem na hora em que minha mãe dizia “três”, eu ouvi aquela voz detestável do único sujeito que eu odiava mais do que o Takayuki-san naquele momento.

  — Que erro mais grosseiro – Ele pausou para estalar a língua. - Todo mundo sabe que seu nome é Cabecinha de Vento.

  Mas repito: meu silêncio total e lágrimas secas instantaneamente não foi porque eu estava vendo Chiba Mamoru surgir das profundezas do inferno que ele habitava. Foi só porque minha mãe tinha mandado e ameaçado cortar a minha sobremesa.

  Independentemente disso, levantei-me do chão, mantive a cabeça erguida, caminhei até ele e dei-lhe um chute bem no meio da canela.

  — O meu nome é Tsukino Usagi!

  Como se não sentisse dor — afinal não devia sentir mesmo já que demônios não são humanos —, Mamoru sorriu tão convencido como sempre e deu uma piscada.

  — Que bom ver que minha presença tem efeitos milagrosos sobre sua tristeza, Cabecinha de Vento.

Continuará...

Anita, 06/11/2018

 

Notas da Autora:

Não vou mentir que andei desanimada de postar fic, mas também de escrever fics. Só que eu não queria parar, não queria perder este momento meio mágico que é entrar numa história. Daí veio a vontade de simplesmente escrever, deixar a vida me levar e ver se dava em alguma coisa. Felizmente, deu, como vocês já puderam ver! Fazia tempos que eu não escrevia e vocês devem notar como a coisa ficou toda enferrujada. Ao mesmo tempo, foi divertido pra caramba voltar a viver na cabeça da Usagi.

O título foi inspirado em uma música chamada KOKORO & KARADA, do Morning Musume’20.

O local da fic é fictício, mas não conseguia deixar de pensar num mix lá dos “alpes” em Nagano com a cidade de onsen lá em Hyogo. Não que isso seja importante pra história, na verdade, rs. Fiquem à vontade pra imaginar Campos do Jordão, Joinville...

Os Edgers são um grupo fictício também. A bem da verdade, sempre que os imaginava eu via um desses grupos de anime de música, sabem? Mas não pensei em nada específico para me inspirar neles. Novamente, também não importa pra história.

O que importa é shippar Usagi e Mamoru e partir pro próximo capítulo!

Antes disso, muito agradecida se vocês deixarem um comentariozinho que seja. Por favor? Vai, só unzinho?

Até a próxima!,

 Capítulo Seguinte

3 comentários:

  1. E não é que o Mamoru é mesmo perfeito pra ela? Tem efeito calmante! XD

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  2. Eu querendo uma fic sua que ainda não havia lido, e encontro essa! Que alegria :D
    Ainda que tenha quase 3 anos, já estou amando e já deixo aqui esse registro <3

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    Respostas
    1. Que bom que o pedido foi realizado rs
      Eu até a comecei faz tempo mas só terminei e publiquei no ano passado 😂
      Obrigada pelo comentário e espero que continue gostando.

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