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[Sailor Moon] Então, Fique ao meu Lado - Capítulo 2, escrita por Anita

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Autora: Anita
Fandom: Sailor Moon
Gênero: Comédia romântica
Classificação: 12 anos
Status: completa
Resumo: Tsukino Usagi / Chiba Mamoru. Usagi é forçada a passar um final de semana com sua família em um hotel no interior. Ela não sabe se o pior é descobrir um ataque de um possível youma ou que Mamoru Chiba está hospedado no mesmo local. Ele ainda acaba a acompanhando enquanto ela tenta investigar, só para deixar tudo mais complicado.

Olho Azul Apresenta:
Então, Fique

Ao Meu Lado

 

Capítulo 2 — Encontros

  — Eu estou sinceramente decepcionada com você, Usagi — minha mãe continuava com a bronca, mesmo já tendo passado duas horas desde que tivéramos o desprazer de encontrar aquele sujeitinho impossivelmente irritante do Chiba Mamoru.

  Virei para o outro lado do futon e cobri todo meu corpo, mas minha mãe tirou a coberta na mesma hora.

  — Está me ouvindo? Não vou tolerar um comportamento desses de novo. Sorte sua que seu pai não viu nada.

  E eis a razão da bronca atrasada. Minha mãe havia decidido encerrar mais cedo o jantar, pois queria me chamar para passarmos um tempo no onsen. Enquanto isso, meu pai e meu irmão fizeram a opção mais óbvia: aproveitar para encher a barriga até acima do limite. Não sei bem se a coisa teria ficado pior com meu pai ali, creio que não, mas ainda era um alívio não ter que enfrentar deboche duplo do meu irmão CDF e do intragável. Achava eu que também havia me salvado da bronca quando, logo depois de Mamoru ser apresentado à minha mãe, os dois apareceram com as expressões satisfeitas e cortaram toda a conversa. Mas não, minha mãe não esquecia nada e pelo jeito havia esperado meu pai e meu irmão aproveitarem o final da noite no onsen para me encher o saco.

  — Me deixa, mãe. Acabei de ter meu coração partido e minha vida arruinada!

  — Que menina mais boba! Não é sempre que podemos nos hospedar num hotel destes.

  — Mentira, já fomos em outros bem melhores. — Certo, pela qualidade e pela variedade de comida, isso era mentira. Eu nunca mais iria a um hotel destes agora que meu membro perdido dos Edgers se tornara o gêmeo mais velho malvado. Mas o importante era não dar o braço a torcer. — Quero ir pra casa — disse, e não era nenhuma mentira.

  Só de fechar os olhos não era o Takayuki-san e sua aura de príncipe encantado que eu lembrava. Estranhamente, a humilhação ficara em segundo plano quando descobri que de tantos lugares no mundo e no inferno que Chiba Mamoru poderia ter escolhido, era justo aqui que ele viera parar. Por quê? Por que eu?

  — Garota boba e dramática, só pela cara já sei que está dramatizando tudo. — Minha mãe estalou a língua e enfim entrou no banheiro para tomar banho. Eu estava livre!

  Escondi a cara de novo na coberta e fechei o olho, tentando sonhar com o que poderia ter sido meu fim de semana não fosse uma Utako na minha vida.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Não tinha sido minha intenção dormir por tanto tempo, mas só de abrir os olhos e ouvir os roncos do meu pai, eu sabia que havia exagerado. Chorar sempre me dava sono mesmo...

  Ainda assim, já passavam da meia-noite de acordo com o meu celular, novamente lotado com mensagens e fotos que a Rei-chan fora tão gentil em me mandar do show a que eu não pudera ir. Ah os Edgers... esse drama agora parecia coisa de outra vida. E eu comparara tanto o Takayuki-san com eles que minha mente começava a acreditar que seu irmão era mesmo um dos membros. O que não podia ser verdade, pois uma hora e algo depois do show, quando tudo aqui já havia se passado, Rei-chan mandou fotos de cada um deles saindo do hall e acenando para as fãs do lado de fora. Tudo tão de perto!

  — Eu preciso de um banho... — disse já esquecida de que minha família toda estava dormindo no quarto. Larguei o celular, ignorando a Rei-chan solenemente, e decidi sair. Mais de meia noite soava como uma boa hora para visitar mais um pouco o onsen. Eu tinha certeza de que algum lugar do panfleto dizia que ele ficava aberto depois da meia-noite ou coisa assim.

  Segui até o outro canto do hotel, onde ficava o onsen, um lado o das mulheres e o outro o dos homens e tinha mesmo uma placa falando alguma coisa de meia-noite, as duas portas bem abertas.

  — Ao menos algo de bom neste dia! — disse dando pulinhos, havia algo de mágico de poder entrar numa água quentinha sob o luar do outono. Havia também uma parte coberta, mas todo o ambiente do lado de fora que realmente fazia a diferença. Especialmente àquela hora quando não devia ter uma vivalma ali. Ou seja, o onsen todo só pra mim. Ou metade dele, já que havia uma parede imensa separando mulheres e homens, mas a piscina era uma só.

  Guardei meu yukata no armário e saí cantarolando para me lavar antes de entrar na água quentinha. Só o vapor já parecia apagar todas as más lembranças. Afinal, quem se importava se o Takayuki-san me achava uma criança se eu nunca mais o veria? E daí se Chiba Mamoru ouvira tudo? Ele sempre encontrava tanta razão pra implicar comigo que mais uma ou menos uma diferença não faria na vida. O que importava era aproveitar o final de semana ainda mais do que eu aproveitaria o show dos Edgers! E se possível ignorar a existência daquele sujeitinho. Uma pena que era exatamente por causa dele que o oniisan estava no hotel, isso significaria também ter que o ignorar. Mas sacrifícios são necessários pela minha sanidade mental e, para mantê-la eu precisava nunca mais saber do Takayuki-san e fugir de Chiba Mamoru.

  Preciso dizer o que aconteceu no momento em que me deixei flutuar até o lado de fora da piscina natural? Depois de todos esses acontecimentos, era para até eu conseguir prever, mas ainda levei o susto da minha vida quando abri os olhos e em vez de encontrar a lua, encarei o peito nu de... um dos Edgers!

  Ha! Bem que eu queria. Mas claro que nesta história eram os meus pesadelos que se tornavam realidade. Bem ali, relaxando na borda de peito aberto e cabeça inclinada para trás, estava Chiba Mamoru.

  — Uh oh — o som escapuliu dos lábios. Minha ideia de sair de fininho antes que ele me visse também de peito de fora viera tarde demais e eu já havia chamado sua atenção de onde fosse que estivessem seus pensamentos.

  Mamoru endireitou a cabeça e voltou-se para onde eu estava me encolhendo dentro da água, torcendo para o escuro da noite me tapar o suficiente. Já era constrangedor o bastante estarmos os dois nus dentro da mesma água, imagine se ainda por cima ele me visse como vim ao mundo?

  E de novo minha cabeça fora lenta demais em notar que Mamoru devia estar tão desligado que ainda haveria tempo de eu fugir antes de ser identificada. Mas não, eu só fiquei ali com água quente batendo no meu queixo até que seus olhos azuis focaram em mim e me reconheceram dois segundos mais tarde. Minhas pernas também não queriam me obedecer, meu coração batia forte e o vapor já estava deixando minha cabeça um pouco embaçada.

  — Usagi? — ele perguntou hesitante. Ele com certeza estava demorando mais que eu para entender tudo.

  — Hã... olá? — Sorri sem graça, abraçando meus peitos, embora o movimento devia estar deixando minha nudez mais evidente do que se eu não o tivesse feito. — Parece que errei o lado da entrada. — Forcei uma gargalhada. — Então, se você fechar os olhos, eu vou sumir daqui e ir lá pro outro lado, okay? — Apontei para o muro de separação. Exceto que não tinha nenhum como o que eu havia visto mais cedo com a minha mãe. Virei para todos os lados e nada. — Ué?

  Mamoru estalou a língua enquanto balançava a cabeça. Eu já me sentia uma idiota por puro condicionamento, mas a verdade era que eu não fazia ideia de como eu podia ter errado o caminho e muito menos como que não havia muro nenhum.

  — Que foi? — perguntei ríspida.

  — Você não leu nada do hotel? — Ele levantou as sobrancelhas e eu não sabia se era por curiosidade ou desafio.

  — Claro que li! — Levantei as sobrancelhas de volta, por via das dúvidas. — Tanto que eu sabia que aqui tinha onsen também depois da meia-noite!

  — Mas não que o onsen passa a ser misto entre meia-noite e seis da manhã.

  — Quê? — Droga, nesta ele me pegou. Mas pera... — Isso quer dizer que eu não errei o caminho! — Apontei na direção dele. — Ra!

  Balançando de novo a cabeça e sem perder aquela pose metida, ele respondeu:

  — E que não adianta você sair e entrar pela outra porta, porque vai acabar aqui de novo. — Mamoru apontou para o canto oposto a onde estávamos. — Creio que vai encontrar o seu muro recolhido ali.

  Nisso ele tinha razão, havia mesmo um resquício da divisória, cuja espessura parecia umas dez vezes menor do que imaginara.

  — Pera, se você leu o aviso, por que tá surpreso comigo aqui?

  — Porque outra parte do aviso era de que menores de idade só poderiam ficar neste período acompanhados de responsáveis.

  Dei de ombros.

  — Pode me prender, então — disse em desafio. — É pra você que vai pegar mal, né? — E ri malvada.

  Quase como se eu tivesse conjurado, ouvimos o barulho de gente se aproximando pela entrada dos homens, apesar de que se o que Mamoru dizia era verdade, então isso não significava nada. Só o detalhe que mais gente ia entrar e me encontrar ali pelada. Eu me encolhi mais ainda na água.

  Na mesma hora, Mamoru me puxou para o outro canto da piscina, perto de onde a divisória estava guardada. Mas claro! Por que eu não havia pensado em me esconder ali? Se a pessoa ficasse quieta onde entrou, não me descobriria.

  Mas pensando bem, era um péssimo plano relaxar num onsen escondida daquela forma. Sem contar com o detalhe de que nossa mudança para aquele canto acabara me deixando perto demais do peito nu do Mamoru. Embora aquela parte fosse mais funda que onde havíamos estado, não era o bastante para eu esquecer que em centímetros tinha um homem despido.

  — Ei! — uma mulher reclamou com a voz bem jovem. Notei que deviam ser duas pessoas, porque eu tinha certeza de que antes ouvira uma voz masculina. — Pode ter alguém logo ali do outro lado — ela disse achando que estava sussurrando, mas a voz chegava claramente à metade da piscina.

  — E que estamos fazendo de errado? — o homem respondeu, e minha comemoração de ter adivinhado que tinha mesmo um homem morreu com minha mão parada no meio do ar. Porque eu conhecia aquela voz.

  — Sua boca diz uma coisa e seu corpo diz outra — a mulher soava saída de um desses filmes de agente secreto tentando seduzir o bandido a revelar um segredo. Era um grande clichê, mas isso não desanimou o Takayuki-san, que riu junto com ela.

  — Então fale mais baixo pra não nos descobrirem — ele disse.

  Bati na minha cara com as duas mãos.

  — É ele mesmo! — exclamei, meus olhos encontrando Mamoru sem saber se eu tava ainda animada com o que testemunhava ou horrorizada com a situação.

  Mamoru, todavia, não demonstrava nenhuma emoção.

  — Não vai perguntar nem “ele quem”? — fiz minha melhor impressão do tom convencido que ele amava.

  — O homem que te fez abrir o berreiro em frente ao restaurante do hotel — ele sussurrou de volta com a voz quase rouca.

  — Como que você sabe!?

  Mamoru levou um dedo à boca e eu concordei. Se nós podíamos ouvir os dois tão bem — se bem que agora sim eles tinham acertado o volume de um jeito que eu só ouvia um zunzunzum —, então para eles também seria fácil o inverso.

  — Mas sabe de uma coisa? Eu é não tenho nada a esconder! — Apontei na direção de Takayuki-san e tomei impulso de me levantar. Ao menos, lembrei-me da minha nudez a tempo de dar a Mamoru visão VIP do meu bumbum.

  Encolhi na água e decidi andar agachada. Só que Mamoru segurou meu ombro, forçando que eu voltasse para perto demais dele. Meu rosto queimou, mas devia ser só por causa da agitação toda naquela água quente.

  — Qual é? — briguei com ele.

  — Ele é casado.

  — Quê? — Minha cabeça deu branco por um segundo, mas me recuperei. — Não torna certo eles ficarem se agarrando num banho público.

  — E não é com ela — ele continuou como se me ignorasse.

  Desta vez, demorei mais que um segundo para me recuperar daquela informação. Então, não era só uma indecência que eu estava testemunhando, mas um adultério!

  — Ah! Por isso que ele não quis. Bem que podia ter dito isso duma vez em vez de me chamar de Utako!

  Mamoru virou os olhos para cima.

  — O que eu estou dizendo — explicou ele —, é pra só irmos embora e não nos metermos.

  — Nananinanão! — Balancei meu indicador o mais perto que eu podia do nariz dele sem tirar meus peitos da água. — Agora mesmo é que eu vou lá me vingar pela pobre da esposa.

  Mamoru me segurou no braço, apertando-o até notar o que fazia e me soltar.

  — Por favor, não vá. Não tem como ele não me ver quando você chamar a atenção pra cá. 

  — Eu brigo enquanto você sai. Aí não vai ter problema, porque eles já vão saber que tem gente. E é exatamente isso que quero que eles saibam! — Parei quando vi que eu não o convencera. — A gente fica só olhando eles fazerem coisa nojenta na água, é isso que você quer?

  — Eu não sei. — Ele passou a mão, bagunçando o cabelo. Nunca o vira fazer aquela expressão tão perdida. Parte de mim queria pensar logo numa solução só por causa disso. — Podemos só sair?

  — Mas eles vão ouvir o barulho.

  — Não vão nos procurar se só acharem que foi algum hóspede incomodado. — Ele me olhou com tanta intensidade que aquilo se misturou ao vapor do banho e embaçou ainda mais minha cabeça.

  Não fazia sentido algum nós dois termos que sair, mas acabei assentindo.

  — Eu vou na frente — frisei, já me virando para andar lentamente até a borda do lado feminino. Tentei afastar o pensamento de que ele poderia muito bem ver minha bunda se ficávamos muito distantes e me impulsionei para frente.

  Logo atrás, senti o movimento de Mamoru.

  — Ouviu alguma coisa? — Takayuki-san perguntou à... amiga?

  — Não.

  Mas eu sim ouvi Mamoru suspirar aliviado atrás de mim e precisei segurar o riso. Agora estávamos lado a lado na borda e me deparei com um dilema: se eu fosse na frente, ele iria me ver. Se fôssemos ao mesmo tempo, o barulho ia ser ainda maior. Mas se eu ficasse por último, o possível barulho do Mamoru podia chamar a atenção dos dois e eles iam ver quem subindo na hora que chegassem aqui? Euzinha.

  — Eu fechei os olhos, vai — Mamoru sussurrou. — Conto até vinte enquanto você pega sua toalha e te sigo.

  Assenti. Realmente, não tinha nada aqui que ele poderia se interessar por ver. Mesmo assim, esperei ele fechar os olhos antes de me levantar da piscina.

  — Tenho certeza que ouvi água mexendo... — Takayuki-san insistiu e agora era eu que ouvia o barulho dele.

  — Vai! — Mamoru sussurrou com urgência.

  Saí correndo, esperando muito que ele só tinha adivinhado que eu estava lá parada e não, aberto os olhos e me visto.

  Pouco depois, já enrolada na toalha, senti gente se aproximar. Confesso que vi um pouco demais antes de me lembrar de que eu também deveria ter fechado os olhos. Ao mesmo tempo, era até de menos de tanto susto de vê-lo chegar ali, uma parte de mim se arrependia de não aproveitar aquela chance.

  Mas pra que o interesse?

  — Pode abrir os olhos, já achei uma toalha.

  Junto, acabei soltando a respiração.

  — Ele não te viu?

  — Imagino que esteja checando agora. — Mamoru apontou para a direção de onde viéramos e realmente o barulho dos dois parecia próximo. — Acho que tá tudo bem. Ele não tem por que ficar se perguntando quem era. É que se ele te visse, com certeza ia ficar curioso sobre quem estaria junto de uma menor de idade. Obrigado.

  — Só não sei por que você se importa se... — Minha voz morreu quando eu me virei de novo para o Mamoru e vi de novo aquele peitoral e o abdômen e... Oh céus. 

  — Prefiro não me intrometer nos negócios dele. — Mamoru caminhou até um dos bancos de onde nos enxaguamos e sentou parecendo esgotado depois de sair de uma maratona. — Meu yukata e a chave do meu quarto estão do outro lado, mas é melhor não arriscar e ir pro quarto, torcer pro Motoki acordar.

  Observei-o se levantar e caminhar até a saída. Mas antes de ir embora, ele parou e se virou pra mim.

  — De novo, obrigado por hoje.

  Assenti, incapaz de qualquer outra palavra quando um sujeitinho tão convencido e irritante quanto ele agia assim tão... humano. Lembrar que ainda por cima ele tava só de toalha também não ajudava minha eloquência. Custei uns minutos até voltar a mim, já tremendo de frio depois de ficar parada, ainda encharcada da água da piscina.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Naquela noite, tive pesadelos com Mamoru andando só de toalha pelo hotel. Algumas vezes perdendo a mesma. Aparentemente, meu subconsciente havia visto muito mais que meu consciente quisera registrar e agora passava conta de todos os detalhes.

  Não era para eu estar mais chocada com a traição do Takayuki-san? Ele parecia ser tão gentil! Ou talvez o problema fosse gentileza demais. E a verdade era que eu nem tinha essa desculpa pra ele depois de como me tratara na noite anterior.

  Mas que noite! Nem parecia que tudo havia acontecido num período de seis horas. Era muito pouco tempo para tanta coisa junta. Nossa... Acabei acordando toda suada, apesar de estar fazendo um frio desgraçado.

  — O que houve com o aquecedor? — perguntei, ainda escondida nas cobertas.

  — Desligamos, você dormiu demais — meu irmão respondeu, e ele era a única pessoa no quarto.

  Sentei-me no futon e olhei ao redor.

  — Cadê todo mundo?

  — Foram conhecer a cidade.

  Olhei melhor pra ele. Shingo estava com roupas normais e lendo algum livro.

  — E quem vem pra um lugar desses pra ler livro? — perguntei.

  — Melhor que perder o café da manhã, que tava incluído.

  Mostrei a língua, mas descobrir aquilo doeu. Eu tinha mesmo perdido? Por que eles não me acordaram? Pais desnaturados! Preferiam deixar a filha com fome e sem o show dos Edgers.

  Evitando demonstrar fraqueza ao inimigo, coloquei uma roupa quentinha e decidi conferir com meus próprios olhos. Quem sabe ainda não tinha alguma coisa? Podiam já ser onze da manhã, mas não era como se os hóspedes tivessem devorado até o último grão de arroz, né?

  Congelei no meio do saguão e não por causa do frio. Até que estava bem quentinho nas áreas comuns do hotel, ao contrário do meu quarto congelante, agradecimentos à peste do meu irmão mais novo. Com certeza, ele tinha religado assim que saí. Deixasse comigo, eu me vingaria. Assim que resolvesse problemas mais urgentes, como eu dar de cara com Takayuki-san. No canto da minha cabeça, uma voz lembrava que podia ser pior, podia ser Chiba Mamoru depois de sonhar com ele pelado por dez horas quase seguidas.

  Olhei para os lados contemplando minhas opções de escapatória. Uma escada, um buraquinho com o elevador, o corredor atrás de mim que me levaria de volta ao quarto das neves e sem comida. Para sair e para o restaurante, eu precisaria passar quase em frente a ele.

  Minha barriga mexeu, tentando me fazer seguir adiante. E mexeu de novo, quase conseguindo me empurrar.

  Okay, eu enfrentaria. Aquela voz tinha lembrado bem: podia ser muito pior. Era só o adúltero desgraçado do Takayuki-san. Nada demais. E graças ao Mamoru, ele nem tinha sabido que era eu no banho ontem. Ficaria tudo bem.

  Encolhi a barriga, estufei o peito e ergui a cabeça. Vamos direto para o restaurante e ignorar o sujeitinho todo entretido com o rapaz da recepção. O que eram aqueles papéis que eles tavam olhando? Não. Ignore-o. Finja que ele não é nada na sua vida! Era o que eu tinha que fazer. Dei mais três ou quatro passos quando alguém falou comigo.

  E não era o Takayuki-san, para minha decepção.

  — Senhorita, não estamos servindo o almoço ainda — disse o rapaz de trás do balcão. — O restaurante abrirá ao meio-dia.

  Instintivamente, eu tinha me virado para onde os dois estavam e agora encarava diretamente o Takayuki-san. Fiz um cumprimento com a cabeça, o que ele retornou automaticamente e ia voltar à conversa como se nada houvesse acontecido entre nós no dia anterior não fosse outra interrupção.

  — Noboru-san me pediu para te entregar isto. — Mamoru passou por mim e deixou mais papéis em cima do balcão. Ele falava diretamente com Takayuki-san com um semblante que eu talvez nunca tivesse visto naquela cara convencida. Tantas perguntas me passavam pela cabeça, mas meus olhos acabaram indo direto para suas costas, um pouco mais ao sul. Hoje ele não estava de toalha, mas com uma calça jeans e uma camisa preta de gola alta. Ainda assim, comecei a sentir a sala mais quente, porque tudo o que eu via não era nem a toalha.

  — Usagi-chan! — Oniisan deu um tapa na parte de trás do meu ombro direito e conseguiu desprender meus olhos da bunda do Mamoru, o que parecia impossível para eu fazer sozinha.

  — Oniisan! — exclamei de volta já estranhando o quanto de entusiasmo acabara indo na minha voz.

  — Vejo que já tá recuperada de ontem, é isso aí. — Ele deu uma piscada, mostrando rapidamente o Takayuki-san com a cabeça.

  Assenti sem jeito; ele não fazia ideia do quanto eu não tinha me recuperado nadinha de ontem. Sem perceber minha tensão, Motoki-oniisan foi até onde Mamoru estava e pareceu dizer algo como: “pronto?” ou “vamos?”, mas como estava de costas para mim foi difícil ter certeza.

  — Já estou indo — respondeu o outro, retornando aos papéis que entregara a Takayuki-san. Sem eu ter percebido antes, os dois estavam em alguma conversa séria e que com certeza não podia ser sobre mim, apesar de eu e aquele banho sermos as únicas coisas em comum que eles poderiam ter.

  — Ah, por que não vem com a gente, Usagi-chan? — Motoki-oniisan se virou para mim e apontou para a saída. — Vamos conhecer um restaurante que parece ser fantástico, indicação do Takayuki-san. Então, já temos com quem reclamar se não for.

  — Eu os levaria pessoalmente se já não tivesse planos.

  Por mais que ele continuasse bonito demais para ser real, eu não estava sentindo nem um pouco aquela perda.

  — Mas os pais dela não ficarão aborrecidos de ela sair com vocês? — Takayuki-san comentou. — Eram aquele casal no restaurante antes, certo?

  Desafio aceito.

  — Já passei da idade pros meus pais escolherem com quem eu vou comer, não acha? — respondi diretamente, embora o senhor adúltero me tivesse tratado como parte da decoração sem nenhum dizer.

  — Não sei — ele continuava falando com o oniisan. — Creio que seria melhor deixarem para passear com ela quando puderem pedir autorização. É sempre melhor evitar problemas.

 Passear? Ele acabou de dizer passear como se eu fosse um cachorrinho de estimação? Meus punhos já estavam fechados enquanto eu marchava em direção a ele para trocarmos algumas ideias ainda melhores de como evitar problemas.

  — Falando em problemas, é melhor irmos ou ficaremos na fila. — Mamoru havia realizado alguma mágica que se teletransportara para o meu lado. Segurando o meu pulso, passou a me puxar para a saída e para longe de Takayuki-san. — Não vamos querer esta Cabeça de Vento aqui faminta enquanto esperamos.

  Minha barriga roncou na mesma hora. Alto o bastante para interromper o que Takayuki-san estava prestes a falar.

  — Se você já terminou... — Oniisan olhou para os papéis ainda espalhados no balcão.

  Em vez de responder, Mamoru só começou a andar, puxando meu braço com o movimento. Num instante, estávamos do lado de fora, alvo fácil de um vento gélido que soprava.

  — Ei, calma aí! — Oniisan nos alcançou esbaforido. — Que tá pegando? O Takayuki-san ficou bem contrariado, e ele tem razão. Usagi-chan, mande uma mensagem aos seus pais antes de sairmos.

  — Vamos andando. — Mamoru continuou a me carregar enquanto eu tentava abrir minha bolsa com a mão livre. Eu que não ia reclamar enquanto ele ainda estava do meu lado, mas bem que podíamos ir com mais calma.

  Bem quando pensei assim, vi a porta do hotel abrir e a cabeça de Takayuki-san do lado de fora.

  — Espera, Mamoru! — Oniisan também olhava para trás, percebendo o mesmo que eu. — Só me atualiza aqui do que aconteceu. Ei!

  Quando viramos a primeira rua, oniisan pôs o corpo na nossa frente e paramos. Claro que eu, que tinha acabado de pescar o celular, deixei-o cair no asfalto com o susto.

  Peguei o aparelho, notando que Mamoru tinha enfim libertado meu braço. Eu sentia um frio maior no local, era só porque ali estava mais quente que o restante. Pura Física. Até eu sabia disso. Não que pudesse explicar bem a coisa do frio maior ir pro menor. Ou era calor? Ou era a água? Ou isso era Biologia?

  — Não entendi nada daquele lance, Mamoru. — Oniisan o encarava tão sério que eu me senti uma intrusa.

  Mamoru desviou o olhar, mordendo o lábio inferior. Eu devia estar da mesma forma, apertando meu celular até ele de fato quebrar depois de sobreviver ao tombo. Não conseguia imaginar por onde começar a explicação de que estávamos nós dois, mais de meia-noite, em pleno onsen. Só rezava para ele nem tentar.

  — Mamoru.

  — Foi porque o Takayuki-san me tratou mal ontem! — expliquei.

  — Quê? — Oniisan franziu a testa.

  — E ele tava me tratando mal de novo, você não viu o que ele disse?

  Oniisan entortava a cabeça mais a cada palavra.

  — É isso mesmo, Mamoru? Porque pra mim ele só tava sendo o Takayuki-san de sempre. Não é você quem sempre diz que é o jeito dele? Que prefere não rebater?

  — Eu não rebati — Mamoru interrompeu. — Apenas disse que se não formos logo, vamos enfrentar fila. E é verdade. Não tem muitos restaurantes aqui.

  — Você não rebateu com palavras, mas fez questão de trazer a Usagi-chan. — Oniisan apontou pra mim e sorriu, pois sabia que o tinha encurralado. Eu não acreditava em mim mesma, mas não era para o oniisan que eu estava torcendo. — Acho que seria muito mais você tentar argumentar que contrariar o Takayuki-san tão abertamente.

  — Acho que eu tô meio tarde na coisa aqui — comecei a falar —, mas porque vocês tão falando do Takayuki-san como se não o tivessem conhecido ontem? — E minha pergunta não foi para mudar aquele assunto antes que Mamoru cedesse e revelasse o que houvera na noite anterior. Ou não foi inteiramente por isso. Eu realmente já devia ter me incomodado com a proximidade dos dois com o Takayuki-san, mas só agora estava me dando conta.

  Até ontem também, durante o jantar, Motoki-oniisan estava falando com ele. Mamoru nem o tinha visto quando eu caíra no choro, mas já sabia quem era ele no onsen. Pior, eles não estavam falando de alguns papéis com o moço da recepção?

  — Ué, você não sabia que eles são irmãos? — Motoki-niisan apontou para o Mamoru.

  — Eles quem?

  — Mamoru e Takayuki-san, eles são irmãos. Como mais eu conheceria aquela pessoa? — Oniisan caiu na gargalhada.

  — Tá de piada comigo, né? Só se forem de pai e mãe diferentes!

  Mas a forma como Mamoru foi se encolhendo entregava que aquela história era mesmo verdade. Eu havia passado o dia todo de ontem apaixonada pelo irmão do sujeito mais irritante do planeta.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  O almoço havia sido realmente maravilhoso, exceto pelo silêncio na maior parte dele e por eu ter tido que pagar minha comida no final. Talvez se eu insistisse eles teriam coberto minha parte, mas todo o silêncio me forçou a procurar os ienes na minha bolsa. A boa notícia era que eu estava explodindo e tinha sido muito barato.

  — Sabe voltar daqui, Usagi-chan? — oniisan perguntou logo que passamos pela porta do lugar, a fila dando volta na esquina.

  — Vocês não vão voltar pro hotel?

  Mamoru olhou pro lado enquanto Motoki-oniisan balançou a cabeça com força. Sem alternativa, deixei os dois darem a volta sozinhos. Que me importava? Um era noivo, outro era um demônio; que fossem felizes para sempre.

  Só que a situação ainda estava muito viva na minha cabeça e decidi me desviar do retorno ao hotel, caminhando em direção às placas para turistas. Alguma coisa de boa devia estar no final.

  Takayuki-san era irmão mais velho do Mamoru. Chiba Takayuki, então? Por isso, ele não quisera dar um flagrante no traidor do irmão.

  Em vez de aproveitar o cenário, minha cabeça continuava cheia da confusão que Takayuki-san vinha representando nos meus dias. Que tipo de pessoa seria ele? Ao menos, eu havia descoberto como que Mamoru se tornara uma pessoa tão intragável. Só que essa não era bem a verdade.

  Parei de andar quando ia dar de cara com um monumento, ou o que aquilo fosse chamado. Era um monte de cano de metal descendo de uma parede. O sol batia neles e causava uns reflexos que já estavam me dando dor de cabeça, apesar de eu ter acabado de chegar ali. O que aquilo significava? Rodei procurando alguma placa com explicações, mas não tinha nem nome. Também não me lembrava de ter visto nada assim nos panfletos turísticos no saguão. Rodei tanto que cheguei ao outro lado, que era idêntico a não ser pelo sol, que passava pelas frestas entre os canos. Bem mais fácil observar assim, concluí ao mesmo tempo que bati com o braço em alguém.

  — Desculpa! — exclamei, já curvando a cabeça quando identifiquei minha vítima. — Ah, é você.

  — Virou caranguejo, Cabeça de Vento? Se já não consegue olhar por onde anda de frente, não invente de andar de lado. — Mamoru passava a mão no braço, como se um esbarrãozinho pudesse doer aquilo tudo.

  — E o Motoki-oniisan?

  — Voltou para o hotel, onde você também deveria estar.

  Dei de ombros e decidi retomar minha caminhada antes que ele lembrasse que nunca realmente avisei meus pais que tinha saído. Mas uma sensação me deteve, não tinha como explicar. Sabe quando alguém te segura pelo braço no meio do movimento e você meio que volta com o mesmo impulso que dava pra ir? Eu senti um puxão desses, mas lá dentro do peito. Quando olhei para trás, novamente sem saber explicar por que, Mamoru ainda estava ali de pé, só olhando aquele monte de cano esquisito.

  No momento em que dei por mim, lá estava eu — bem do lado dele de novo, nossos braços se tocando. Mas ficava pior: minha mão havia segurado a dele, apertando-a com força. Estava tão gelada que parecia saída de uma geladeira.

  — V-você está bem? — perguntei preocupada, antes mesmo de entender o que estava acontecendo comigo.

  Continuará...

Anita, 10/11/2018

 

Notas da Autora:

Muitos agradecimentos aos favoritos e especialmente aos comentários! Muito obrigada à Pandora Imperatrix, a James Birdsong e à Spooky!!!

Vocês ficaram um pouco encucadas com o Takayuki a ponto de eu ter me perguntado se eu já escondi personagem antes atrás de nomes aleatórios haha. Mas só esclarecendo: ele não é ninguém. Digo, pra história ele existe, mas é só um personagem original, nada mais. Não se preocupem com ele! Aliás, certa pessoa ficou um pouco desesperada que de repente eu estivesse montando um romance da Usagi com ele, mas faça-se um favor, né??? Moi, UsaMamo de carteirinha??? Só se fosse pra matar um deles, ho ho.

Por favor, continuem lendo e definitivamente continuem comentando! Senti muuuuita falta disto tudo!

E até o próximo capítulo!

 

Capítulo Seguinte

Um comentário:

  1. Coitada da Usagi quando descobriu do Takayuki XDDD A cena do banho foi a melhor, o Mamoru está se aproximando cada vez mais :DD

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