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[Sailor Moon] Na Cabeça, No Coração - Capítulo 5, escrita por Anita

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Título: Na Cabeça, No Coração
Autora: Anita
Fandom: Sailor Moon
Gênero: Comédia romântica
Classificação: 12 anos
Status: em andamento
Resumo: Tsukino Usagi / Chiba Mamoru. Usagi percebe que Mamoru está ferido no ombro, tal como aquela pessoa se ferira no dia em que Sailor Venus apareceu. Mais tarde, ouve da boca de Zoisite uma confirmação. E agora os dois precisam cooperar para salvar de uma ameaça misteriosa uma famosa trupe de teatro, que Usagi muito admira.

Notas Iniciais:
Esta história apresenta uma trupe fictícia chamada Harotsuka, qualquer fato relatado é pura ficção, mas eu me inspirei em um grupo especializado em musicais que realmente existe chamado Takarazuka Kagekidan. Por outro lado, os dados fornecidos não serão fidedignos. Afinal, o grupo é meu e eu faço o que quero!
Na verdade, toda revisão que faço encontro um Takarazuka onde deveria ser Harotsuka. Por favor, se deixei algum escapar, leiam como se estivesse Harotsuka ali, rs. 
Já Sailor Moon não me pertence, não lucro nadinha com isto. Vale ao menos um comentário, né???


Olho Azul Apresenta:
Na Cabeça,
No Coração




Capítulo 5 — Sailor Moon

  Desde a última reunião com suas amigas, a tarefa de Usagi havia sido manter-se atenta às notícias relacionadas ao Harotsuka. Isto era bem complicado quando ela nada sabia de computadores e visitar o teatro, mesmo o em Tóquio diariamente, estava acima de seu tempo e dinheiro disponíveis.

  Contudo, desde aquela tarde, quando conseguira acessar o site oficial na biblioteca, um dos anúncios mais recentes a vinha intrigando. A companhia havia redigido uma longa explicação sobre troca de ingressos devido a ausências para a nova peça da trupe Tsubaki, que estrearia em dois dias.

  Usagi sabia haver muitas genies indispostas, mas o bastante para algo tão drástico? Seria bom se Nao respondesse seu questionamento. Enviara-lhe uma mensagem para o celular logo que deixara a biblioteca, e houve apenas silêncio como resposta.

  Em vez de um bipe do aparelho, ouviu uma batida de leve na porta de seu quarto.

— Filha, tem alguém querendo falar contigo lá embaixo — disse sua mãe, a testa franzida.

  Aquela expressão já não era bom sinal. E ela ainda havia falado "alguém" e não Naru ou Ami ou qualquer pessoa de quem ela conhecesse o nome. Usagi olhou para seu relógio e notou as horas, mais de nove da noite. Claro que seria tarde, já até havia jantado. Só ainda não tomara o banho antes de dormir porque se distraíra lendo de novo o anúncio e brigando com seu celular.

  Quando se levantou para seguir a mãe até o andar de baixo, sua perna travou após um pensamento repentino. O alguém bem poderia ser Nao, que notara a urgência e preferira correr até ali para conversarem pessoalmente. Entretanto, havia outra pessoa com mais razões para persegui-la daquela forma, esperar até a noite para se assegurar de encontrá-la em casa e lá encurralá-la.

  Mamoru... Ela ainda não se decidira sobre como responder a seu pedido e lograra fugir de suas cobranças já duas vezes. A urgência do assunto que desejava tratar com Sailor Moon sempre se fazia nítida pela expressão e mesmo assim Usagi hesitava atendê-lo.

— Usagi! — Seu irmão a havia encontrado no topo da escada quando ele mesmo seguia até seu quarto. — Estão há anos te esperando lá embaixo.
— Estão? — Ela começou a segui-lo. — Porque é muita gente ou você só não quer me dizer logo se é homem ou mulher?

  E encontrou a porta do quarto dele fechando na sua frente.

  Após inspirar fundo, Usagi reuniu uma desculpa malcriada para Mamoru não ver Sailor Moon e marchou escada abaixo.

— Usagi-chan!

  Usagi piscou, piscou até se certificar da pessoa. Não era Mamoru que a recebia com aquela voz grave e aquele sorriso iluminado.

— Yuuki-san! — exclamou, pulando os últimos degraus até ela e contendo-se no último minuto para não abraçá-la.
— Achamos que era sua professora que veio reclamar de você, mas é só uma amiga, né? — seu pai comentou com as bochechas vermelhas. Yuuki podia ser alta e galante, mais que os homens que Usagi conhecia, mas também era uma mulher bonita, com uma postura provavelmente invejada por muitas modelos.

  Usagi riu de orgulho por conhecer uma figura tão radiante e perguntou-se como os pais reagiriam se também encontrassem Nao, quem sobretudo tinha vocábulo e modos impecáveis.

— Poderíamos ir ali fora conversar? — indagou Yuuki, quebrando sua imaginação de como funcionaria a visita combinada à sua casa do raio de sol que era Yuuki com a dama perfeita que era Nao.

  Após olhar distraída para a porta, Usagi recuperou-se e concordou com a cabeça várias vezes para compensar a demora.

— Aconteceu alguma coisa com a Nao-san? — perguntou a Yuuki assim que estavam na calçada.

  Mas tudo o que recebeu em resposta foi um olhar confuso. Usagi recordou-se de que apenas Erika sabia do envolvimento de Nao e até mesmo de sua missão secreta no Harotsuka. Para Yuuki, Usagi era apenas sua prima.

— A Erika-chan me passou seu endereço, desculpa ter vindo do nada assim. — Yuuki olhou para seus pés. Antes que lhe fosse perguntado por que ela deveria conhecê-lo, a própria completou:  — Eu precisava da Sailor Moon.

  Como Erika teria seu endereço?

— Na verdade, eu pensei no início em ligar, mas não queria deixar registros. Nunca se sabe — prosseguiu Yuuki, as palavras saindo rápidas.
— Mas você já sabe de tudo? — Usagi perguntou, ainda se sentindo excluída na história, especialmente quando a outra não parecia informada sobre o envolvimento de Nao.

  Yuuki confirmou e disse com a voz ainda mais grave e pausada:

— Tem... um monstro no Harotsuka, né? É isso o que está acontecendo? Por isso estamos assim? Já havia desconfiado de algo sobrenatural como esses que vemos na tevê ultimamente com a Sailor Moon. Até me perguntava como chamar ajuda...

  Quando Usagi começou a assentir, Yuuki apontou para a esquina com a rua principal.

— Será que podemos ir a algum café? Sentarmos, comermos algo?
— Não tem nada assim aqui perto — Usagi respondeu frustrada por estar perdendo o convite de comida grátis.

  No final, Yuuki insistiu que andassem para outro lugar. Seria para queimar alguma energia? Suas mãos, seus olhos, sua respiração, tudo parecia inconstante. Quando chegaram à máquina de bebidas mais próxima, Yuuki insistiu que Usagi escolhesse algo para si e inseriu uma nota, pegando uma lata do chocolate quente selecionado para cada uma.

  Usagi sentiu o calor contra sua pele quebrando a corrente de ar frio que vinha naquela virada de rua. Então, percebeu Yuuki novamente mexer-se a seu lado, alternando o peso do corpo entre as pernas.

— O que devo dizer à Sailor Moon?
— Minha parceira... — Yuuki estalou a língua. — Você não a conheceu naquela vez, né? — Antes de qualquer resposta, ela voltou a falar: — Ela decidiu deixar o Harotsuka.
— Como? — Usagi arregalou os olhos incerta de como pulara o anúncio da saída de uma First Lady. — Quando isso? Eu não vi nada!
— Ela só está descansando, ainda não falaram oficialmente. — Yuuki passou a mão pelos cabelos curtos, deixando-os bagunçados devido ao gel. — A Aika... Aika Reiki é o nome de palco dela. A Aika me pediu para vê-la ontem no hospital.
— Hospital?

  Yuuki assentiu, sua garganta subindo e abaixando enquanto ela engolia em seco.

— A Aika acabou indo para um hospital descansar. Achava que ela só queria dormir até o dia do nosso último ensaio. Digo, hoje. Mas aí ontem fui vê-la, e ela me anunciou que precisava sair. Que a cada dia que passa na trupe, ela se sente pior.
— Eu... sinto muito... — Usagi apertou a lata já vazia entre as mãos, sentindo o alumínio ceder a seus dedos. — Yuuki-san, tenho certeza que ela não estava falando de você!

  Quando Yuuki lhe respondeu com um sorriso, Usagi percebeu que parte de seus lábios se escondia em uma sombra.

— Talvez eu também deva sair.
— De jeito nenhum!
— Eles me perguntaram hoje de manhã, provavelmente depois que minha parceira, a Aika, informou da decisão dela. Também tive que tirar várias licenças dos ensaios e minha forma... sinceramente, nunca fui uma grande First como a Jun Terada-san, a que você viu noutro dia, ou muito menos como a Nao Raiyuu-san.
— Yuuki-san! — Usagi gritou em tom de bronca.
— Foi quando a Erika-chan me procurou e acabou me contando tudo sobre você, sobre como você é uma colaboradora da Sailor Moon, como tudo ia ficar bem se pudéssemos aguentar só mais um pouco. — Um brilho passou por seus olhos negros ao repetir o discurso de Erika. Não que Usagi conseguisse imaginar a própria dizendo palavras tão encorajadoras. Yuuki focou-se em sua direção, como se estivesse agora em chamas. — Usagi-chan, por favor, pode falar de novo com ela?
— Sim! Sim! — Usagi disse sem pensar. — Eu falarei! Contanto que você não desista, falarei quantas vezes for, o que for!

  Yuuki abriu um sorriso largo, definitivamente largo.

— É um trato, então! Não deixarei que ninguém desista enquanto Sailor Moon trabalha para salvar o Harotsuka!
— Sim! — ela concordou.

  Entretanto, ao ver Yuuki entrar em um táxi — para retornar a Harotsuka antes que a dessem como desaparecida, Usagi esperava —, sentiu um amargo na boca, recordando-se de sua própria viagem. Em vez de enfrentar o coreógrafo e salvar todas aquelas mulheres que estavam tendo suas energias vitais roubadas, Usagi havia perdido tempo tietando genies e assistindo peças e fazendo turismo e conseguindo jantares de Mamoru...

  Cruzou os dedos para ainda haver tempo. Para Yuuki não desistir, nem permitir que outras desistissem. Para os danos não aumentarem.

  Deveria se preocupar mais tarde com recusar ou não o pedido de Mamoru.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

— Não estamos demorando demais? — Usagi perguntou após relatar a conversa com Yuuki Tatsu a suas amigas.

  Novamente estavam reunidas no quarto de Rei e novamente não chegavam a um plano de ação, embora, desta vez, todas provavelmente houvessem cumprido com seu dever de casa de pesquisar mais tanto sobre a companhia do Harotsuka quanto sobre o coreógrafo.

— Estivesse essa pessoa aqui em Tóquio, poderíamos tentar abordá-lo diretamente — explicou Ami. — Mas é precipitado demais comprarmos passagens para Kansai sem entendermos o inimigo.
— E ele confere — disse Minako, uma presença com que Usagi começava a se acostumar, mas que ainda fazia sua bochecha queimar. — Pesquisei em vários locais e até liguei para a agência dele na Europa, ele realmente parece existir.
— Claro que existe, ele é famoso! — Rei completou, não demonstrando qualquer estranheza com Minako, que apenas sorriu para indicar que ela estivera certa.
— Então, algum demônio se apossou do corpo dele ou trocou de lugar com ele... — Makoto concluiu com desânimo.
— Aí está a questão, como normalmente eles nos atacam tão logo nos identificam, não costumamos precisar muita cautela — dizia Minako novamente. — É que desta vez nem temos certeza se realmente é ele. Temos uma atriz afirmando e a Usagi que sentiu algo errado, mas não poderia ser qualquer um?
— Vão nos expulsar na hora que apontarmos pra ele e dissermos que vamos puni-lo em nome da lua. — Rei se levantou da cama, onde se sentava, e caminhou até a janela, cruzando os braços. — Mas ainda tem algo errado e pessoas estão se machucando.

  Usagi suspirou frustrada, apesar de feliz por não ser a única a se sentir mal.

— Precisamos falar com a Nao-san — sugeriu, surpreendendo as demais. Sorriu contente com a atenção e explicou: — Ela ficou uns vinte anos naquele prédio, poderia nos fazer um desenho e dar todas as dicas.
— E a parte de nos porem no manicômio que eu acabei de falar? — Rei perguntou batendo os dedos contra o braço.
— Não vão, se eu estiver certa!
— Também devêssemos pedir a essa Yuuki-san pela agenda dos ensaios — acrescentou Minako, oferecendo-lhe uma expressão confiante.

  Ignorando as cócegas em seu estômago, Usagi começou a assentir mas acabou por se dar um tapa na testa.

— Amanhã é a estreia, não vai ter mais ensaios!
— Dê um jeito de saber a agenda dele. Eu me recuso a gastar minhas economias só pra tirar foto no Caminho das Flores — disse Rei, mas seus olhos pareciam mais lívidos que antes.

  Usagi concordou várias vezes, quase pulando de onde estava sentada. No canto da mente, enquanto listava contactar Nao e Yuuki como suas próximas tarefas — se ao menos soubesse mais sobre a Erika também... era injusto como ela até parecia ter seu endereço, mas nunca nem lhe dera o número do celular, ou até seu e-mail. Mas quem se importava com uma genie aleatória quando em seus contatos havia uma First e uma ex-First?

  Talvez fosse melhor também falar com Mamoru, invadiu-lhe a ideia. Seria útil ter o Tuxedo Kamen por perto, especialmente, quando ele também estava informado sobre os eventos em Harotsuka, conhecia o prédio e até havia sentido haver algo errado com aquele coreógrafo. De certa forma, era até errado deixá-lo de fora depois de terem feito tudo juntos até então.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Contudo, Tuxedo Kamen naquela noite quando suas amigas e ela enfrentaram um youma. Usagi não queria conversar diretamente com ele, mas os eventos das próximas horas pareciam demonstrar que precisaria ela mesma procurá-lo.

  Pensou por toda a noite como poderia abordá-lo, na medida em que já possuíam um assunto pendente. Considerara ir até ele e informar que Sailor Moon se recusara a ajudá-lo já que agora ele só aparecia quando os cristais arco-íris estavam envolvidos, algo como uma vingança por haver lhe dado um bolo na luta contra o youma. Entretanto, não fazia bem irritá-lo por nada.

  Nem era hora para isso. Todas suas mensagens para Nao haviam sido ignoradas, bem como todas suas ligações e, provavelmente, suas mensagens na caixa de voz. No final, Usagi viu-se obrigada a ir pessoalmente encontrar Mamoru e sondar mais sobre sua patroa.

— Detalhes do teatro? — ele perguntou com a testa franzida quando Usagi o viu na tarde daquela sexta-feira.
— O que você obviamente não tem — ela continuou. — Vamos, pode falar com a Nao-san? É importante demais. E urgente!
— Posso ligar pra ela. — Ele estendeu o celular e mostrou que havia selecionado o nome de Nao em seus contatos. — O drama já está quase no final, não vou vê-la muito agora. E só temos filmagem no meio da semana que vem.

  Mamoru parou de falar quando ambos ouviram a mensagem da caixa de voz. Apesar de fazer uma expressão pouco animadora, ele ainda deixou um recado que Nao lhe retornasse com urgência.

— Eu vou pra casa dela! — Usagi declarou, marchando para a estação sem esperar resposta.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  O mau pressentimento apenas a atingiu depois que já tocava a campainha pela quarta vez em meia hora.

— Nao-san? — Mamoru, que a havia seguido intrigado, tentou gritar também não pela primeira vez. Podia ver as rugas de expressão ficarem mais fundas em sua testa. — Nao-san! — Agora ele esmurrou a porta, fazendo Usagi questionar-se se a intenção já não era de arrombar o apartamento. — Por que a Sailor Moon não cuida disso? Ela já teve aqui várias vezes, segundo a Nao-san.

  Forçando-se a não oferecer qualquer resposta — Mamoru era para ser até inteligente o bastante para já ter notado o porquê, ela não podia se dar ao luxo de deixar cair mais pistas —, Usagi insistiu no botão da campainha.

— É da GR Promotion?

  Virou-se para ver que Mamoru estava falando no celular. Seria a agência de Nao?

— Sou o assistente da Nao Sakamoto-san... — Ele contorceu o rosto. — Nao Raiyuu? Sim, ela. Sou Mamoru Chiba, assistente da Raiyuu-san. Preciso entregar documentos urgentes e não consigo contato desde ontem. — Silêncio... e mais rugas na testa de Mamoru. — Não mesmo? Talvez o telefone do empresário dela? Não, eu não... — Ele se contorceu mais que antes, e Usagi observou seu pomo de Adão subir bem alto e cair rapidamente. — Compreendo. — E desligou sem qualquer saudação.
— Nem precisa dizer... — ela se adiantou, forçando um sorriso para acalmá-lo, não obstante o vazio que estava dentro dela própria.
— Pode ser só alguma folga dela. A Nao-san trabalha bastante e ainda teve esse problema com as amigas. Noutro dia, ela não parava de ligar para pessoas com quem não devia falar há meses pra perguntar sobre a tal peça nova.
— A peça da Yuuki-san! — Usagi levantou o indicador. — Se a Nao-san se preocupou tanto com o bem-estar das meninas da trupe, é claro que ela iria querer ver a estreia, né?

  Mamoru não demonstrou qualquer empolgação, mas sua testa parecia mais relaxada.

— É hoje, Mamoru! Agorinha mesmo! Ela tá no teatro, lá dentro! — Usagi parou de falar quando notou que ele a observa com uma atenção peculiar.

  Ela mudou o peso de uma perna para outra e olhou de novo para a porta fechada de Nao apenas para não pensar. Desta vez, não podia se distrair quando tantas mulheres tinham a vida em risco. Enfim, virou-se para a saída do prédio e andou até lá.

— Que tá planejando? Ligar pro teatro e perguntar? — ele indagou, apressando-se atrás.
— Claro que não — Usagi virou os olhos. — Só que essa história toda me deu uma baita fome!

  Mamoru riu.

— Conheço um ótimo restaurante a cinco minutos daqui, que acha?

  O que achava de quê? Ela nem pretendia ir a restaurantes, afinal, precisava de todo dinheiro que pudesse para pagar sua passagem para a Região Oeste agora que Nao não estava ali para financiá-la.

  Como se lhe houvesse lido os pensamentos — e ela realmente esperava que não —, Mamoru adicionou:

— Por minha conta.
— Decidiu virar cavalheiro em vez de forçar garotas a pagarem? — perguntou para descontrair a tensão que o convite revivera nela. Justo quando já havia se esquecido do olhar de mais cedo... justo quando se convencera de que antes não havia sido um encontro porque, teoricamente, ele não a convidara.
— E mesmo assim, você ainda tá me devendo.
— Tô nada! Não reconheço a dívida. — Usagi cruzou os braços e virou a cabeça para o lado. Seu estômago roncou tão alto que se viu obrigada a complementar: — Aliás, reconheço a sua dívida de agora, vai pagar pela minha janta. — Com a fome para se responsabilizar pelos seus atos, Usagi agarrou o braço de Mamoru e o puxou pela calçada.

  Não parou quando o ouviu rindo, mas teve que perguntar quando ele demorou a parar:

— Que foi? — Fez uma expressão de desafio.
— Incrível como você sabe a direção do restaurante quando nem nome eu disse.

  Irritada, Usagi largou-lhe o braço, mas prosseguiu com a caminhada.

— Comida! — gritou no lugar de um comando para que a seguisse, mas Mamoru atendeu sem precisar de traduções.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Quando os dois haviam terminado de comer, Mamoru estendeu a mão até o papel onde estava descriminado o consumo de ambos. Usagi apressou-se para fazer peso sobre a mão dele, pressionando-a contra a mesa.

— Pera um pouco — ela disse quando Mamoru a olhou confuso, seu rosto um pouco corado. — Isto aqui não é nenhuma troca. Aquela coisa de marcar hora com a Sailor Moon, ainda não consegui nada disso, tá?

  Não mais parecendo se incomodar com o toque na mão, Mamoru baixou a cabeça.

— Entendi — disse, mas sem resignação no tom. Então, ele não havia planejado encurralá-la assim?
— É isso aí. Se quiser falar com ela, vá até Kansai.
— Se preferir não se comprometer, podemos ainda pedir ao caixa para nos cobrar em separado. Eu só tinha percebido que nem almocei hoje e que estávamos perto daqui. — Ele afastou sua mão da de Usagi, e expôs a nota. Aquele lugar era mais caro que ela havia imaginado...
— N-não. — Esforçou-se para se controlar do susto em ver que iria dever o triplo do que calculara ao pedir a comida. — Eu nunca recusaria comida!

  Certa de que não o convenceria, Usagi esperou a piada que Mamoru faria às suas custas. Se já não fosse sua intenção assustá-la com a conta. Afinal, que raios aquele lugar tinha para ser tão careiro?

  E ele apenas riu. Nenhum escárnio, nenhum arrependimento por não fazer comentários. Mamoru ria de leve, como se divertido pelo que ela dissera. Não como se, mas realmente aparentava haver gostado. Aquilo merecia algum riso de quem a conhecia como ele? Era só uma frase pronta, quando o assunto era seu apetite.

  As cócegas na barriga de Usagi voltaram quando uma onda de calor subiu-lhe ao peito.

— Ah! — Mamoru já estava aguardando sua vez na fila do caixa com quatro notas de iene à mão, quando se voltou até onde ela o observava em segredo, fingindo impaciência para sair. — Eu tenho uns documentos da Nao-san lá em casa. Será que não teria algum outro meio de contato lá? Quem sabe o endereço dos pais dela? Tenho certeza de que ainda moram ali perto de Harotsuka.

  Usagi animou-se.

— Eu posso ver?
— Não realmente, mas é uma emergência.

  Concordou sem precisar pensar. Tentava se repetir que Nao estava ótima, e provavelmente saindo da estreia da Yuuki e sua peça nova. Yuuki certamente estaria delirante em ver Nao no camarim. Pela visita curta à outra First da trupe Ajisai, Usagi já percebera como era bem querida, mas não havia dúvidas de que Yuuki se exaltaria ainda mais.

  Quando já chegavam até a porta do apartamento de Mamoru, ele parou com a mão em sua pasta e disse:

— Não é nenhuma troca, se for o que está se perguntando toda quieta aí.
— Quieta?
— Você não falou nada na estação, no trem, no caminho... A Usagi de sempre já estaria dizendo que tava com fome, né? — Ele sorriu, já com a chave de casa entre os dedos. — Até considerei trocar por informações, mas você mesma já me deixou saber que Sailor Moon está ou irá pro oeste. Então, quero que receba como um presente de boa-fé; avise que a encontrarei lá em Harotsuka.

  Usagi assentiu cautelosa.

— Se é um assunto tão urgente, não é melhor me dizer? Eu passo o recado. Pode até escrever, se tá com medo de algo se perder no caminho.

  Embora ele houvesse considerado a oferta, Mamoru voltou-se para abrir sua porta e balançou a cabeça.

— É um pouco mais longo que só um recado. — Seus olhos pareciam estudar o chão, a parede, a fechadura... nunca Usagi. Ele mordeu o lábio inferior e continuou: — Você deve saber, mas em se tratando de Sailor Moon, ela não me ouviria assim tão indiretamente. Preciso estar presente.

  Usagi já devia saber... sobre Tuxedo Kamen, ela compreendeu com uma pontada no estômago. Desde quando Mamoru havia feito a presunção de ela já conhecer sua identidade? Não obstante, Usagi compreendia, sim. Aquele homem podia estar cooperando, pagando sua comida como se estivessem em um encontro e até entregando documentos que poderiam causar-lhe a demissão. Ainda assim, os cristais arco-íris, que deviam ser dela e de suas amigas, remanesciam em sua posse. Um obstáculo à sua missão de encontrar a princesa tão perigoso qualquer outro inimigo.

  Em um pensamento posterior, ela concluiu haver um lado positivo para essa virada de eventos, mesmo que lhe houvesse doído ter Tuxedo Kamen como adversário. Caso realmente os cristais estivessem com elas, o Dark Kingdom teria roubado todos e já formado o Cristal de Prata, fosse qual fosse o uso que pretendessem dar-lhe.

  Como se ela o houvesse conjurado, Zoicite encontrava-se de pé no meio do apartamento de Mamoru. Quase uma miragem.

  Tão logo a porta se abriu, uma chuva de estacas de gelo voaram na direção deles. Usagi pulou a tempo, chocando-se contra o piso do apartamento e vendo os objetos abrir um buraco na parede do corredor logo atrás de onde ela estivera. Contudo, Mamoru não tivera igual sorte, a manga de seu blazer verde estava com um rasgo, um filete de sangue saía do arranhão em sua pele. Ela suspirou aliviada ao constatar ser apenas superficial.

— Vamos, Mamoru Chiba. — Zoicite riu, achando graça de como dissera aquele nome. — Facilite tudo e me informe dos cristais.

  O apartamento parecia ainda mais caótico que o corredor onde estavam. O sofá de Mamoru estava rasgado com o enchimento todo por fora, a enorme tela de televisão quebrada para mostrar todo o interior do dispositivo. Todos os móveis estavam fora do lugar e Usagi ainda conseguiu ver um rastro de roupa no chão, seguindo até mais adentro.

— Minha paciência para duelos em locais mais reclusos já se esgotou! — Em um piscar, Zoicite surgiu na frente de Mamoru, e Usagi pôde apenas deslizar pelo chão para evitar um pisão de sua bota.

  Sem pensar, preparou-se para sua transformação, mas sentiu algo errado com seu corpo. Não havia qualquer energia envolvendo-a. Seu broche! Encontrou-o muito mais à frente, depois de onde Mamoru e Zoicite se encaravam em um silêncio agressivo. Uma tentativa de negociação por olhar? Que previsivelmente falhou em menos de um minuto, pois Zoicite deflagrou-lhe um soco carregado de energia. Mamoru escapou por completo daquela vez, mas o buraco na parede agora havia chegado até o apartamento do vizinho de frente, abrindo uma enorme janela.

  Um grito agudo indicou tratar-se, na verdade, de uma vizinha, antes que Usagi, ainda tentando alcançar seu broche sem ser detectada, visse a mulher de meia idade e avental olhar em choque por sua nova janela.

  O trauma daquela senhora foi distração bastante para que Usagi alcançasse o broche, mas outra questão se levantava: com Zoicite logo ali, lutando corpo a corpo contra Mamoru, como ela poderia se revelar? O estado dos dois apartamentos, o choro que agora a senhora fazia todo o planeta ouvir, tudo lhe provava que do segredo de sua identidade dependia sua família ainda mais que sua própria vida.

— Mamoru... — disse com a voz abafada, frustrada.

  Àquela altura, Mamoru já havia tomado a sábia providência de correr com Zoicite até a escada de emergência. Tuxedo Kamen a salvava mais uma vez, embora ela estivesse prestes a lhe devolver o favor.

  Usagi procurou novamente a mulher, agora inerte e de olhos arregaladas, porém ainda de camarote para vê-la transformar-se. Então, correu para a casa de Mamoru, escondendo-se lá.

  Já com a respiração mais controlada e seu uniforme de Sailor Moon, ela seguiu as migalhas de pão na forma de buracos e mais buracos no chão e na parede do prédio e passou pela enorme porta de metal até a escadaria.  Os sons da briga ecoavam para mostrar que os dois deviam estar a poucos lances abaixo. Usagi começou a descer e logo os encontrou, sorrindo ao ver que Mamoru, já também vestido com Tuxedo Kamen, parecia bem.

— Zoicite! — Usagi chamou-o apenas para não lhe dar o gosto de receber um golpe pelas costas, mas sua tiara já saía de suas mãos na direção dele, todo seu poder concentrado no objeto.

  Tuxedo Kamen pulou por cima do corrimão para escapar ele próprio da tiara, mas Zoicite pôde apenas preparar a fuga, sem tempo para mais. A explosão contra ele venceu mesmo o campo de proteção que ele lançara no último segundo e vários arranhões surgiram sobre seu uniforme e seu rosto.

— Como ousa! — Zoicite gritou para Usagi, sua adaga da última luta já formada em mãos enquanto ele tomava impulso para subir atrás dela.

  Uma rosa cortou sua mão.

— Sou um pouco mais fã de ataques surpresas que Sailor Moon — disse Tuxedo Kamen. Ele se aproximava de Zoicite com um sorriso.
— Muito bem. Você ganhou uma pequena prorrogação, Mamoru Chiba. — Zoicite desapareceu com uma chuva de pétalas, deixando Usagi de frente com Tuxedo Kamen.

  Ela suspirou, somente notando agora a tensão por enfrentar um dos shiten’ou sem o apoio das amigas. Estaria mentindo se dissesse que o medo não havia lhe batido contra a consciência.

  Contra suas expectativas, Tuxedo Kamen havia se tornado de novo Mamoru Chiba e corria passando por ela, escada acima. Talvez por dar-se conta da perplexidade no rosto de Usagi, ele parou à saída para o andar de seu apartamento e declarou:

— Quero falar contigo ainda, Sailor Moon.
— Como assim? Pra onde vai, então? — ela brigou de volta.
— Eu não estava sozinho! — Mamoru disse ofegante. — Usagi... se aquele monstro a houver visto... — E passou pela porta até o corredor do prédio sem se dar ao trabalho de explicar mais.

  Sentindo-se com emoções mistas em embaraço e alegria por ele haver se preocupado — e talvez por isso mesmo preferido encurralar-se em uma escadaria —, Usagi pegou-se sorrindo. Então, percebeu que não podia causar um infarto àquele homem e cancelou sua transformação antes de também correr naquela direção.

  Encontrou Mamoru de pé na frente da senhora, seu rosto mais contraído que enquanto enfrentava Zoicite sozinho.

— Acho melhor sairmos logo! — A mulher já havia retirado o avental e apontava para o elevador. Nitidamente, não queria descer sozinha, presa em uma caixa de metal.
— E-eu preciso encontrá-la primeiro. A menina que estava comigo. — Ele olhava por cima do ombro dela, analisando todo o corredor e até o apartamento da mulher.
— Mas é perigoso! Se aquele homem voltar...
— Não se preocupe, eu chamarei a polícia. Também temos a Sailor Moon, ela já está aqui. — Mamoru não parecia nem prestar atenção nas próprias palavras, forçando o corpo para ver melhor a casa.
— Aquela menina que você tá procurando, ela já deve ter chamado.

  Ele deu um passo para trás — àquela distância, ele poderia já ser acusado de atacar aquela mulher — e seus olhos focaram-se em sua vizinha pela primeira vez. Usagi estudava como passar por eles sem ser percebida, mas desistiu. Mesmo àquela distância pôde notar como os olhos de Mamoru estavam úmidos.

— Você a viu? — ele perguntou à mulher, sua voz parecia distante.

  A mulher assentiu com a testa franzida.

— Eu te disse que ela tinha ido pra sua casa, que tínhamos que fugir logo!

  Usagi imaginou que ela própria não ouvira aquela parte porque ainda estava dentro da saída de emergência, mas não sabia a razão de Mamoru não ter dado ouvidos à senhor. Ele agora demonstrava-se confuso.

— Minha casa?
— Sim, sim! Acho que ela ligou pra polícia. E aí deve ter ido embora. Acho que a vi saindo depois...
Acha? — ele gritou de volta antes de inspirar fundo, acalmar-se.
— E-eu...— a mulher balbuciava sem o que dizer.

  Quando Usagi saíra como Sailor Moon, era para ela tê-la percebido, mas seu estado devia ser tal que nem sequer percebera ser outra pessoa. Houvesse se transformado ali mesmo, teria a mulher notado?

— Mamoru? — Usagi o chamou fraco.

  Devia ter se anunciado logo, pensou com culpa. Esta apenas se intensificou ao encontrar os olhos incrédulos do homem. Ele piscou uma, duas vezes. Uma terceira mais forte. No canto do olho, Usagi notou a mulher ensaiar apontar, talvez querendo dizer "é ela, é ela ali, viu?", mas nunca o fez.

  Antes que qualquer das duas se mexesse, Mamoru marchou na direção de Usagi. Não estaria bravo, ele não sabia que ela estava bem de pé ali, só ouvindo e tentando achar um plano de disfarçar sua pequena escapada como Sailor Moon. Havia razões, mas nenhuma que ele conhecesse. Por via das dúvidas, porém, Usagi fechou os olhos em reflexo à bronca que poderia levar.

  E Mamoru puxou seu corpo, abraçando-a com força. Era como se houvesse lhe testemunhado voltar à vida ou algo mais dramático do que a mundana possibilidade de Usagi haver apenas fugido de um monstro e estar lá embaixo do prédio correndo por ajuda. O rosto comprimido contra o ombro dele, uma de suas orelhas contra seu pescoço suado. Ela o sentiu tremer. Intensificar mais quando ela já não achava alguma vez ter sido apertada tanto.

  Aos poucos, a respiração de Mamoru tornou-se regular, mas seus braços não a largaram. Sentiu a cabeça dele relaxar sobre seu corpo, quase como se deitasse ali.

— ...está bem... ele não veio pra levá-la... — Usagi o ouviu; cada sopro de palavra formigando contra sua nuca.

  Incerta, ela estendeu os braços e o abraçou de volta, afagando-lhe a cabeça como se confortasse uma criança.

— Estou bem, sim — disse com um sorriso. Não sabia de que outra forma queimar toda a energia lhe pulsando pelo corpo. — Está tudo bem.
— Que bom — ele respondeu fraco sem se mexer.

Continuará...

Anita, 27/05/2015

Notas da Autora:

*suspira* Eu realmente gosto de como UsaMamo ficou nesta fic! Eu fico relendo e tentando entender o que fiz aqui de diferente porque né... não era pra ser diferente, mas é! E eu tô amando isto xD

Mas devo um pedido de desculpas... demorei tempo demais pra revisar e publicar este capítulo. Céus!! E pra compensar um pouco, até que tivemos menos de Harotsuka desta vez, né? Acho que nem tem o que explicar. E acho que estou meio bêbada :D Vamos, eu precisava de uma força extra pra encarar revisar a fic... xD

Talvez porque estou bêbada, tô pensando que talvez seja hora de parar de bobeira e postar na FFN... que faço...? Ou não faço?




2 comentários:

  1. POSTE NO FFN!
    MEODEOS O QUE FOI ESSE FINAL AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH
    ESTOU MORRIDA DE FOFURA E DO OTP SENDO O OTP!!
    E ele somou ois mais dois não somou? DIZ PRA MIM QUE A CRIATURA DEIXOU DE SER POIA!!
    Mas duvido. Pois a criatura gosta de ser poia.
    "Mesmo àquela distância pôde notar como os olhos de Mamoru estavam úmidos."
    MINHA POBRE CRIANÇA POIA E PESSIMISTA!
    Não sei se essa foi a parte mais AWWWWWN ou a hora que ele sai correndo pra ir ver se ela tá bem ignorando a Sailor Moon ou aquela parte no restaurante que também foi AFSDGASVDA
    OTP me fazendo surtar, OTP nunca mude e a senhora nunca pare de me proporcionar esses momentos de surtagem, dona Anita :P
    Mal posso esperar pelo próximo capítulo! E agora já arrumei as configurações do twitter, não acho que vou perder as futuras postagens >.<
    Reações extras:
    "Dê um jeito de saber a agenda dele. Eu me recuso a gastar minhas economias só pra tirar foto no Caminho das Flores" Rei prfvr você é rica!
    "Mas quem se importava com uma genie aleatória quando em seus contatos havia uma First e uma ex-First?" LOL Usagi

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ricos são pão-duros, e tenho certeza de que a Rei tinha segundas intenções aí. Como fã do Takarazuka, posso imaginar a raiva que ela deve sentir dos privilégios da Usagi no Harotsuka lá com a Nao xDDD

      E eeee que bom que gostou de UsaMamo aqui *_* Eu revisei isto suspirando. Eu lembrava que a cena final era intensa, mas não lembrava os detalhes e muito menos que ela era romântica. Tô aqui vibrando que tenha gostado tb! ♥ Nem posso dizer que tem melhor pela frente.... realmente não lembro. Só lembro que eu preciso muito reescrever o final se algum dia chegar até ele.... Okay, parei de digressões, rs.

      Um super obrigada pelo comentário *_* Agora a fic começa a se encaminhar pro fim, tomara que continue gostando! *dedos cruzados*

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