Fandom: Rurouni Kenshin
Autora: Madam Spooky
Gênero: Humor/Mistério
Classificação: Livre
Resumo: Kenshin Himura, Kaoru Kamiya, Sanosuke Sagara e Hajime Saitou. Um mal entendido leva Kenshin, Sano e Kaoru a terem que dar explicações a Saitou. Qual deles dirá a verdade?
Para Leny Saito
Parte 4 - O Motivo do Lobo
Assim
que se encontrou sozinho, Saitou suspirou aliviado. Ter de suportar
mais de três horas de interrogatório com Battousai, a mulher histérica
que ele arrumara e o desprezível Crista de Galo o deixaram com um humor
ainda pior do que o habitual.
Mas tinha valido a pena.
Os idiotas nada tinham percebido, ele estava salvo. Fora mais esperto e não teria nada com que se preocupar...
- Hajime Saitou sempre se dá bem! - disse ele sorrindo enquanto sentava-se na cadeira apoiando os pés em cima da mesa de trabalho.
O mau humor já estava quase esquecido dando lugar a uma sensação de tranqüilidade que não experimentava desde que Kaoru o vira cercado de mulheres naquele estabelecimento de má fama. E se Tokio ficasse sabendo? Não queria nem pensar no escândalo que ela faria. Seria pior do que quando ele sumira por todo aquele tempo em que estivera trabalhando no caso de Shishio e mandara o garotinho órfão para ela tomar conta sem maiores explicações. Quando voltou para casa, encontrou toda a sua roupa jogada no telhado e ainda teve que dormir durante dias no quintal disputando o espaço com seus três cães de guarda. Saitou estremecia só de lembrar.
- Senhor Saitou! - alguém gritou do outro lado da porta. - Eu posso entrar?
Saitou abaixou os pés lentamente enquanto respondia com um irritado "sim". O que poderia querer um de seus subordinados com ele aquela hora quando, mais cedo, deixara bem claro que tinha coisas a resolver e não queria ser incomodado?
Mal se endireitou na cadeira, um jovem policial devidamente fardado entrou na sala trazendo nas mãos uma caixa que descarregou desastradamente no chão. Parte do conteúdo espalhou-se pelo piso revelando sua natureza estranha. Tratava-se de um exagerado bigode postiço e produtos de maquiagem. Nada que se esperasse interessar a um ex-Shizengumi. Imediatamente o subordinado se abaixou e começou a recolher tudo enquanto se desculpava.
- Tenha mais cuidado! - reclamou Saitou. - Você sabe o que pode acontecer se alguém entrar aqui e vir esse disfarce?
- Desculpe, senhor, mas me mandaram trazer tudo até aqui. Disseram que foi o disfarce que o senhor usou para investigar o caso da gangue de traficantes de ópio e...
- Eu sei muito bem onde e quando usei o maldito disfarce! -Saitou respondeu ao jovem no mesmo tom irritado. - Você já recolheu tudo?
- Sim, senhor!
- Então se retire e trate de não me incomodar mais!
O subordinado saiu da sala resmungando em voz baixa. Haijime Saitou merecia a fama de homem intratável. Se fosse apenas isso e seu superior também não tivesse o título de assassino frio e impiedoso, ele mesmo adoraria dar-lhe uma boa lição. Absorto em seus pensamentos, não percebeu Sano caminhando em sua direção enquanto olhava distraidamente para trás e os dois acabaram por tropeçar um no outro.
- Me deixe passar! - disse Sano aborrecido com a interrupção.
- Acho melhor não entrar ai. - respondeu o policial.
- E posso saber por quê?
- É a sala do senhor Saitou e hoje ele está com um humor ainda pior que o de costume. Eu vim trazer um disfarce que usou em um caso alguns dias atrás e ele praticamente me expulsou da sala. Desgraçado... - o jovem cerrou os punhos e respirou fundo tentando conter a irritação.
- Disfarce, é? - Sano cruzou os braços fingindo desinteresse. Talvez os desafetos de Saitou dentro da delegacia pudessem lhe ser úteis. - Sei... mas... que tipo de disfarce?
- Um terno verde berrante, ridículo, um bigode exagerado e nem sei o que mais. Se quer a minha opinião, saiba que só em pensar no senhor Saitou usando aquilo tudo, me arrepio até o último fio de cabelo!
Dizendo isso, o jovem foi embora deixando um sorridente Sano apoiado na parede avaliando o peso daquela nova informação. Ele finalmente pudera confirmar suas suspeitas e fora mais fácil do que pensara. Mantendo o mesmo ar divertido, abriu a porta de uma vez e entrou na sala de Saitou sem ao menos se preocupar em bater.
- Eu já disse que não quero ser incomoda...
O ex-Lobo se virou rapidamente e estancou ao ver Sano. Tinha o terno verde entre as mãos, mas guardou-o rápido o suficiente para que o outro não o examinasse direito. Mal sabia ele que não havia mais necessidade.
- O que está fazendo aqui, seu Crista de Galo? - perguntou rispidamente.
- Saitou... - Sano abaixou a cabeça segurando-se para não começar a gargalhar. - Acho que nós precisamos conversar...
Kenshin e Kaoru caminhavam até o dojo em silêncio. Nenhum dos dois tinham falado nada em todo o percurso, cada um pensando consigo mesmo o quanto descobriram um do outro com os depoimentos daquela tarde.
"Eu não sei não...", pensava Kaoru, "Será que é por isso que o Kenshin nunca quis nada comigo? Será que ele só tem interesse por mulheres mais velhas? Vai ver é por isso que defende tanto a visinha...".
As dúvidas também incomodavam Kenshin.
"O que tem o tal Satoru que eu não tenho? Será que é aquele terno verde, ridículo? Ou será o bigode?", ele passou a mão pelo rosto liso, "Será que eu deveria deixar um bigode crescer? Talvez esteja na moda..."
Os dois atravessaram o portão ainda sem trocar uma palavra. Quando já subiam os batentes que levavam ao alpendre, uma voz conhecida soou atrás dos dois:
- Que bom que chegaram!
- Era só o que faltava... - disse Kaoru relutando em se virar.
Kenshin voltou-se para a dona da voz imediatamente com um grande sorriso no rosto.
- Senhora Utada, que prazer em vê-la!
- O mesmo digo eu. - disse a visinha amigavelmente, mas com um brilho intenso de curiosidade nos olhos. - Vocês saíram juntos tão cedo... as pessoas podem
comentar...
Kaoru riu debochada.
- Mas olha só quem fala.
- Senhorita Kaoru! - censurou Kenshin. Nunca entenderia o que Kaoru tinha contra aquela mulher tão adorável.
- Eu perguntei de vocês por ai... aos visinhos... - continuou a senhora de meia idade. - Mas ninguém sabia do paradeiro dos dois. Eu já estava tão preocupada...
Kenshin sorriu agradecido enquanto Kaoru cerrou os punhos a ponto de explodir. Já estava saturada daquela velha bisbilhoteira se metendo na vida dela e de Kenshin. Ah, mas ela ia ver. Se ela queria algo para comentar, ela daria algo.
- Sabe, Kenshin, acho melhor nós irmos... - disse Kaoru com um sorriso perverso. - Precisamos terminar no quarto o que começamos lá na delegacia... - ela se aproximou e abraçou Kenshin deixando o rosto a centímetros do dele.
- Se... Senhorita Kaoru?
A visinha se calou estagnada diante da cena. Tinha agora os olhos esbugalhados e um sorriso de triunfo no rosto.
- Ora, Kenshin, não seja tímido. Para que esconder? Todos saberiam mais cedo ou mais tarde...
Kenshin estava tão vermelho que até parecia que o cabelo cobria-lhe o rosto. Não entendia o que estava acontecendo. Será que ele e Kaoru estavam tendo alguma espécie de relacionamento mais íntimo e ele nada percebera? Mas como poderia ser isso? Bom, ultimamente andava tão preocupado com aquela história toda do policial que era bem possível que eles tivessem se entendido e ele não se lembrasse.
A visinha sorriu maliciosamente e disse:
- Eu tenho muito o que fazer em casa... acho melhor deixar os dois a sós. - saiu mantendo o sorriso, mas ao contrário do que disse, não foi para casa, mas na direção oposta ansiosa por contar as últimas para toda a vizinhança.
Enquanto observava a irritante mulher se afastar, Kaoru continuou abraçada a Kenshin. O ruivo tinha um sorriso bobo no rosto.
- Sabe, Kaoru... acho que deveríamos continuar com isso lá dentro, aqui pode aparecer alguém e...
- HENTAI!
- Oro...
Kenshin estava com sorte, era a terceira vez que era arremessado no chão naquele dia e o sol ainda estava longe de se esconder.
- Vamos, Saitou. - Sano sorria deleitando-se com a expressão furiosa do outro. - Confesse logo que é o tal Satome. Você não tem porque negar, afinal somos camaradas, não somos? - disse passando o braço pelo pescoço do ex-Lobo de Mibu como se fossem velhos amigos.
Em resposta, Saitou lançou-lhe um olhar assassino. Não acreditava na sua falta de sorte. De todos que podia tê-lo descoberto, por que tinha que ter sido justo o Crista de Galo?
- O que você quer exatamente? - perguntou com os olhos dourados de fúria, controlando-se para não sacar a espada e lança-la direto contra o pescoço do irritante lutador acabando com aquilo de uma vez por todas.
- Quem, eu? - perguntou Sano fingindo-se de ofendido. - Como pode pensar uma coisa dessas de mim? Eu só estava curioso, nada mais...
Saitou resmungou qualquer coisa que Sano não entendeu. Aquilo era um problema, se Sano resolvesse falar, ele nem queria pensar no que aconteceria.
- Fale de uma vez! - ordenou com impaciência.
Sano contornou a mesa de trabalho e largou-se na cadeira parecendo estar divertindo-se cada vez mais. Estava adorando ver a raiva estampada no rosto do outro. Agora só precisava pensar qual seria a melhor forma de tirar proveito da situação.
- Sabe, Saitou... - disse sempre sorrindo - eu estava aqui me perguntando o porquê de tanta gentileza com a Jo-chan... Claro, porque eu não acredito que você estivesse interessado nela... Por que não começa a explicar?
- Eu não tenho porque te dar explicações. - Saitou respondeu secamente.
- Não, mas vai ter que dar a sua esposa. - Sano empolgou-se ainda mais ao ver a coloração branca que se instalou no rosto do outro. - Pois é, Kenshin me contou que uma mulher aceitou o martírio de ser sua esposa e eu pensei comigo mesmo: para agüentar o Saitou deve ser uma mulher muito dura, talvez até pior do que ele... Pelo seu rosto, parece que eu acertei. - um acesso de risos lhe acometeu fazendo com que mal conseguisse terminar aquela última frase.
- Eu só queria fazer algumas perguntas sobre Himura, está satisfeito?
- E quanto a parte em que você insinuou que o Kenshin gostava de homens, muito pior: de mim?
Saitou deu de ombros.
- Aquilo? Bem... foi só um comentário...
- Sei... - Sano se levantou irritado. - Mas você não precisa se preocupar com isso. Acho que a sua esposa vai se interessar mais em saber o que você fazia naquela casa de má fama.
Saitou empalideceu ainda mais. Como ia explicar aquilo a Tokio se não havia uma explicação?
- Eu estava investigando uma quadrilha usando um disfarce! - gritou.
- As mulheres a sua volta também faziam parte do disfarce?
- Você não pode falar de mim, também estava lá!
- Jogando!
- O que é um crime!
- E o que é pior? Isso ou você se aproveitando de um disfarce para ver mulheres?
- Eu só estava vendo!
- Só se você enxerga com as mãos!
Saitou acendeu um cigarro e deu duas baforadas antes de responder cinicamente:
- O que quer que eu diga? Eu estava revistando aquelas mulheres, elas podiam fazer parte da quadrilha!
- Principalmente a de vermelho?
- A de vermelho? - Saitou mudou a expressão para um meio sorriso.
- É, a de vermelho, Hikaru qualquer coisa. - disse Sano muito sorridente por alguma agradável recordação. - Aquele vestido...
- Tão provocante...
- Ah, Hikaru...
- Que mulher...
Os dois ficam parados por alguns instantes cada um absorto em suas próprias recordações quando Saitou compreendeu o que aquilo significava.
- Então você já esteve lá com ela, não?
- Uma vez... talvez duas ou três... - Sano respondeu. - Mas eu sou um homem livre.
Saitou sorriu.
- Que bom. Isso significa que não tem nenhum problema se uma certa doutora ficar sabendo, afinal, ela não é nada sua...
Agora foi a vez de Sano empalidecer. Se Megumi ficasse sabendo de suas excursões noturnas não queria nem pensar no que poderia acontecer. Ele a conhecia bem o suficiente para saber que Megumi zangada era uma ameaça bem pior que Makoto Shishio.
- Ora, Saitou, não precisamos chegar a tanto, não é? Eu tenho certeza que nem a Megumi nem a sua esposa vão se interessar por nada disso...
- Eu estou de acordo.
Saitou jogou o cigarro quase no fim pela janela e acendeu um segundo.
- Homens precisam relaxar de vez em quando.
- É verdade! - aquilo não acabara como Sano queria, mas ele estava aliviado. Pelo menos Megumi não ficaria sabendo. - Mas eu tenho que admitir que a sua idéia foi boa. O que eu não daria por um disfarce desses...
- Que é propriedade do governo. - Saitou apressou-se em acrescentar.
Os dois ficaram em silêncio mais uma vez. Ambos sentiam-se desconfortáveis com a situação, mas Saitou não ousava expulsar Sano como era de sua vontade, afinal, ele achava que tinha muito mais a perder que o outro com a revelação de suas distrações noturnas. Sano, por sua vez estava com a mente em coisas que considerava mais agradáveis.
- Já são quase quatro horas. - ele disse referindo-se ao início do expediente de um certo estabelecimento.
Quase quatro horas? Saitou deu um salto. Estava quase na horário de ir para casa e se não chegasse na hora, como prometera no dia anterior, teria problemas com Tokio.
- Preciso ir para casa. - disse apressando-se em pegar o sobretudo pendurado perto da porta e saindo sem esperar a resposta de Sano.
Assim que se encontrou sozinho, o ex-lutador suspirou e também seguiu para fora. Não tinha conseguido nada ali, mas o dia não estava totalmente perdido. A noite vinha ai e por nada ele iria desperdiça-la.
Mas tinha valido a pena.
Os idiotas nada tinham percebido, ele estava salvo. Fora mais esperto e não teria nada com que se preocupar...
- Hajime Saitou sempre se dá bem! - disse ele sorrindo enquanto sentava-se na cadeira apoiando os pés em cima da mesa de trabalho.
O mau humor já estava quase esquecido dando lugar a uma sensação de tranqüilidade que não experimentava desde que Kaoru o vira cercado de mulheres naquele estabelecimento de má fama. E se Tokio ficasse sabendo? Não queria nem pensar no escândalo que ela faria. Seria pior do que quando ele sumira por todo aquele tempo em que estivera trabalhando no caso de Shishio e mandara o garotinho órfão para ela tomar conta sem maiores explicações. Quando voltou para casa, encontrou toda a sua roupa jogada no telhado e ainda teve que dormir durante dias no quintal disputando o espaço com seus três cães de guarda. Saitou estremecia só de lembrar.
- Senhor Saitou! - alguém gritou do outro lado da porta. - Eu posso entrar?
Saitou abaixou os pés lentamente enquanto respondia com um irritado "sim". O que poderia querer um de seus subordinados com ele aquela hora quando, mais cedo, deixara bem claro que tinha coisas a resolver e não queria ser incomodado?
Mal se endireitou na cadeira, um jovem policial devidamente fardado entrou na sala trazendo nas mãos uma caixa que descarregou desastradamente no chão. Parte do conteúdo espalhou-se pelo piso revelando sua natureza estranha. Tratava-se de um exagerado bigode postiço e produtos de maquiagem. Nada que se esperasse interessar a um ex-Shizengumi. Imediatamente o subordinado se abaixou e começou a recolher tudo enquanto se desculpava.
- Tenha mais cuidado! - reclamou Saitou. - Você sabe o que pode acontecer se alguém entrar aqui e vir esse disfarce?
- Desculpe, senhor, mas me mandaram trazer tudo até aqui. Disseram que foi o disfarce que o senhor usou para investigar o caso da gangue de traficantes de ópio e...
- Eu sei muito bem onde e quando usei o maldito disfarce! -Saitou respondeu ao jovem no mesmo tom irritado. - Você já recolheu tudo?
- Sim, senhor!
- Então se retire e trate de não me incomodar mais!
O subordinado saiu da sala resmungando em voz baixa. Haijime Saitou merecia a fama de homem intratável. Se fosse apenas isso e seu superior também não tivesse o título de assassino frio e impiedoso, ele mesmo adoraria dar-lhe uma boa lição. Absorto em seus pensamentos, não percebeu Sano caminhando em sua direção enquanto olhava distraidamente para trás e os dois acabaram por tropeçar um no outro.
- Me deixe passar! - disse Sano aborrecido com a interrupção.
- Acho melhor não entrar ai. - respondeu o policial.
- E posso saber por quê?
- É a sala do senhor Saitou e hoje ele está com um humor ainda pior que o de costume. Eu vim trazer um disfarce que usou em um caso alguns dias atrás e ele praticamente me expulsou da sala. Desgraçado... - o jovem cerrou os punhos e respirou fundo tentando conter a irritação.
- Disfarce, é? - Sano cruzou os braços fingindo desinteresse. Talvez os desafetos de Saitou dentro da delegacia pudessem lhe ser úteis. - Sei... mas... que tipo de disfarce?
- Um terno verde berrante, ridículo, um bigode exagerado e nem sei o que mais. Se quer a minha opinião, saiba que só em pensar no senhor Saitou usando aquilo tudo, me arrepio até o último fio de cabelo!
Dizendo isso, o jovem foi embora deixando um sorridente Sano apoiado na parede avaliando o peso daquela nova informação. Ele finalmente pudera confirmar suas suspeitas e fora mais fácil do que pensara. Mantendo o mesmo ar divertido, abriu a porta de uma vez e entrou na sala de Saitou sem ao menos se preocupar em bater.
- Eu já disse que não quero ser incomoda...
O ex-Lobo se virou rapidamente e estancou ao ver Sano. Tinha o terno verde entre as mãos, mas guardou-o rápido o suficiente para que o outro não o examinasse direito. Mal sabia ele que não havia mais necessidade.
- O que está fazendo aqui, seu Crista de Galo? - perguntou rispidamente.
- Saitou... - Sano abaixou a cabeça segurando-se para não começar a gargalhar. - Acho que nós precisamos conversar...
Kenshin e Kaoru caminhavam até o dojo em silêncio. Nenhum dos dois tinham falado nada em todo o percurso, cada um pensando consigo mesmo o quanto descobriram um do outro com os depoimentos daquela tarde.
"Eu não sei não...", pensava Kaoru, "Será que é por isso que o Kenshin nunca quis nada comigo? Será que ele só tem interesse por mulheres mais velhas? Vai ver é por isso que defende tanto a visinha...".
As dúvidas também incomodavam Kenshin.
"O que tem o tal Satoru que eu não tenho? Será que é aquele terno verde, ridículo? Ou será o bigode?", ele passou a mão pelo rosto liso, "Será que eu deveria deixar um bigode crescer? Talvez esteja na moda..."
Os dois atravessaram o portão ainda sem trocar uma palavra. Quando já subiam os batentes que levavam ao alpendre, uma voz conhecida soou atrás dos dois:
- Que bom que chegaram!
- Era só o que faltava... - disse Kaoru relutando em se virar.
Kenshin voltou-se para a dona da voz imediatamente com um grande sorriso no rosto.
- Senhora Utada, que prazer em vê-la!
- O mesmo digo eu. - disse a visinha amigavelmente, mas com um brilho intenso de curiosidade nos olhos. - Vocês saíram juntos tão cedo... as pessoas podem
comentar...
Kaoru riu debochada.
- Mas olha só quem fala.
- Senhorita Kaoru! - censurou Kenshin. Nunca entenderia o que Kaoru tinha contra aquela mulher tão adorável.
- Eu perguntei de vocês por ai... aos visinhos... - continuou a senhora de meia idade. - Mas ninguém sabia do paradeiro dos dois. Eu já estava tão preocupada...
Kenshin sorriu agradecido enquanto Kaoru cerrou os punhos a ponto de explodir. Já estava saturada daquela velha bisbilhoteira se metendo na vida dela e de Kenshin. Ah, mas ela ia ver. Se ela queria algo para comentar, ela daria algo.
- Sabe, Kenshin, acho melhor nós irmos... - disse Kaoru com um sorriso perverso. - Precisamos terminar no quarto o que começamos lá na delegacia... - ela se aproximou e abraçou Kenshin deixando o rosto a centímetros do dele.
- Se... Senhorita Kaoru?
A visinha se calou estagnada diante da cena. Tinha agora os olhos esbugalhados e um sorriso de triunfo no rosto.
- Ora, Kenshin, não seja tímido. Para que esconder? Todos saberiam mais cedo ou mais tarde...
Kenshin estava tão vermelho que até parecia que o cabelo cobria-lhe o rosto. Não entendia o que estava acontecendo. Será que ele e Kaoru estavam tendo alguma espécie de relacionamento mais íntimo e ele nada percebera? Mas como poderia ser isso? Bom, ultimamente andava tão preocupado com aquela história toda do policial que era bem possível que eles tivessem se entendido e ele não se lembrasse.
A visinha sorriu maliciosamente e disse:
- Eu tenho muito o que fazer em casa... acho melhor deixar os dois a sós. - saiu mantendo o sorriso, mas ao contrário do que disse, não foi para casa, mas na direção oposta ansiosa por contar as últimas para toda a vizinhança.
Enquanto observava a irritante mulher se afastar, Kaoru continuou abraçada a Kenshin. O ruivo tinha um sorriso bobo no rosto.
- Sabe, Kaoru... acho que deveríamos continuar com isso lá dentro, aqui pode aparecer alguém e...
- HENTAI!
- Oro...
Kenshin estava com sorte, era a terceira vez que era arremessado no chão naquele dia e o sol ainda estava longe de se esconder.
- Vamos, Saitou. - Sano sorria deleitando-se com a expressão furiosa do outro. - Confesse logo que é o tal Satome. Você não tem porque negar, afinal somos camaradas, não somos? - disse passando o braço pelo pescoço do ex-Lobo de Mibu como se fossem velhos amigos.
Em resposta, Saitou lançou-lhe um olhar assassino. Não acreditava na sua falta de sorte. De todos que podia tê-lo descoberto, por que tinha que ter sido justo o Crista de Galo?
- O que você quer exatamente? - perguntou com os olhos dourados de fúria, controlando-se para não sacar a espada e lança-la direto contra o pescoço do irritante lutador acabando com aquilo de uma vez por todas.
- Quem, eu? - perguntou Sano fingindo-se de ofendido. - Como pode pensar uma coisa dessas de mim? Eu só estava curioso, nada mais...
Saitou resmungou qualquer coisa que Sano não entendeu. Aquilo era um problema, se Sano resolvesse falar, ele nem queria pensar no que aconteceria.
- Fale de uma vez! - ordenou com impaciência.
Sano contornou a mesa de trabalho e largou-se na cadeira parecendo estar divertindo-se cada vez mais. Estava adorando ver a raiva estampada no rosto do outro. Agora só precisava pensar qual seria a melhor forma de tirar proveito da situação.
- Sabe, Saitou... - disse sempre sorrindo - eu estava aqui me perguntando o porquê de tanta gentileza com a Jo-chan... Claro, porque eu não acredito que você estivesse interessado nela... Por que não começa a explicar?
- Eu não tenho porque te dar explicações. - Saitou respondeu secamente.
- Não, mas vai ter que dar a sua esposa. - Sano empolgou-se ainda mais ao ver a coloração branca que se instalou no rosto do outro. - Pois é, Kenshin me contou que uma mulher aceitou o martírio de ser sua esposa e eu pensei comigo mesmo: para agüentar o Saitou deve ser uma mulher muito dura, talvez até pior do que ele... Pelo seu rosto, parece que eu acertei. - um acesso de risos lhe acometeu fazendo com que mal conseguisse terminar aquela última frase.
- Eu só queria fazer algumas perguntas sobre Himura, está satisfeito?
- E quanto a parte em que você insinuou que o Kenshin gostava de homens, muito pior: de mim?
Saitou deu de ombros.
- Aquilo? Bem... foi só um comentário...
- Sei... - Sano se levantou irritado. - Mas você não precisa se preocupar com isso. Acho que a sua esposa vai se interessar mais em saber o que você fazia naquela casa de má fama.
Saitou empalideceu ainda mais. Como ia explicar aquilo a Tokio se não havia uma explicação?
- Eu estava investigando uma quadrilha usando um disfarce! - gritou.
- As mulheres a sua volta também faziam parte do disfarce?
- Você não pode falar de mim, também estava lá!
- Jogando!
- O que é um crime!
- E o que é pior? Isso ou você se aproveitando de um disfarce para ver mulheres?
- Eu só estava vendo!
- Só se você enxerga com as mãos!
Saitou acendeu um cigarro e deu duas baforadas antes de responder cinicamente:
- O que quer que eu diga? Eu estava revistando aquelas mulheres, elas podiam fazer parte da quadrilha!
- Principalmente a de vermelho?
- A de vermelho? - Saitou mudou a expressão para um meio sorriso.
- É, a de vermelho, Hikaru qualquer coisa. - disse Sano muito sorridente por alguma agradável recordação. - Aquele vestido...
- Tão provocante...
- Ah, Hikaru...
- Que mulher...
Os dois ficam parados por alguns instantes cada um absorto em suas próprias recordações quando Saitou compreendeu o que aquilo significava.
- Então você já esteve lá com ela, não?
- Uma vez... talvez duas ou três... - Sano respondeu. - Mas eu sou um homem livre.
Saitou sorriu.
- Que bom. Isso significa que não tem nenhum problema se uma certa doutora ficar sabendo, afinal, ela não é nada sua...
Agora foi a vez de Sano empalidecer. Se Megumi ficasse sabendo de suas excursões noturnas não queria nem pensar no que poderia acontecer. Ele a conhecia bem o suficiente para saber que Megumi zangada era uma ameaça bem pior que Makoto Shishio.
- Ora, Saitou, não precisamos chegar a tanto, não é? Eu tenho certeza que nem a Megumi nem a sua esposa vão se interessar por nada disso...
- Eu estou de acordo.
Saitou jogou o cigarro quase no fim pela janela e acendeu um segundo.
- Homens precisam relaxar de vez em quando.
- É verdade! - aquilo não acabara como Sano queria, mas ele estava aliviado. Pelo menos Megumi não ficaria sabendo. - Mas eu tenho que admitir que a sua idéia foi boa. O que eu não daria por um disfarce desses...
- Que é propriedade do governo. - Saitou apressou-se em acrescentar.
Os dois ficaram em silêncio mais uma vez. Ambos sentiam-se desconfortáveis com a situação, mas Saitou não ousava expulsar Sano como era de sua vontade, afinal, ele achava que tinha muito mais a perder que o outro com a revelação de suas distrações noturnas. Sano, por sua vez estava com a mente em coisas que considerava mais agradáveis.
- Já são quase quatro horas. - ele disse referindo-se ao início do expediente de um certo estabelecimento.
Quase quatro horas? Saitou deu um salto. Estava quase na horário de ir para casa e se não chegasse na hora, como prometera no dia anterior, teria problemas com Tokio.
- Preciso ir para casa. - disse apressando-se em pegar o sobretudo pendurado perto da porta e saindo sem esperar a resposta de Sano.
Assim que se encontrou sozinho, o ex-lutador suspirou e também seguiu para fora. Não tinha conseguido nada ali, mas o dia não estava totalmente perdido. A noite vinha ai e por nada ele iria desperdiça-la.
Uma semana depois...
Sano entrou no estabelecimento semelhante a um restaurante em silêncio. Já passavam das seis e não faltava muito para o show com sua dama preferida começar. Ele ocupou uma mesa discreta torcendo intimamente que ela usasse o vestido vermelho que ele tanto gostava. Absorto em seus pensamentos libidinosos, nem percebeu o homem de bigode e terno verde que se instalava na mesa vizinha com um sorriso semelhante no rosto.
Os dois permaneceram em silêncio, mas Saitou logo percebeu a presença desagradável do homem que tentara chantagea-lo. Se não tivesse tanta certeza de que o Crista de Galo não falaria sobre a conversa que tiveram dias antes, não teria pensado duas vezes em dar-lhe uma boa lição. Mas porque se dar ao trabalho quando podia se garantir com a simples menção da Raposa?
Ainda faltavam alguns minutos para o show e ele resolveu tomar um pouco de ar antes de começar a diversão. Quanto menos tempo dividindo o ar com aquele indivíduo, mais disposto terminaria a noite. Saiu em silêncio de modo a não chamar a atenção, mas mal colocou os pés na porta da rua, uma voz furiosa e conhecida soou atrás dele.
- Hajime!
Ele estancou no mesmo lugar em pânico. Seria possível que...
- Hajime, olhe para mim!
Um assustado Saitou virou-se muito devagar para dar de cara com uma mulher alta, de cabelos castanhos e um rosto muito bonito. Ela parecia frágil a primeira vista e segurando aquela vassoura da forma que segurava, tinha a aparência de uma dona de casa comum. Realmente Tokio não fora espiã em épocas de guerra por acaso, só ele podia dizer que conhecia seu verdadeiro caráter.
- Senhora, meu nome é Satoru, está me confundindo com outra pessoa... - respondeu em uma tentativa desesperada de se safar de mais aquela. Mas para sua surpresa, Tokio parecia saber muito bem o que estava fazendo.
- Satoru, não é? - ela disse se aproximando enquanto erguia a vassoura de forma intimidadora. Sem perda de tempo e nenhuma hesitação, arrancou o bigode falso do marido e o segurou de forma a deixar bem a mostra a prova irrefutável de sua mentira. - E agora, Hajime, o que vou fazer com você? - Ela perguntou com um sorriso de triunfo que não chegou a ofuscar o brilho de fúria em seus olhos.
Saitou nem teve tempo de pensar em uma resposta, até porque estava tudo muito claro. Pode apenas abaixar a cabeça de modo a proteger o rosto das vassouradas que seguiram a pergunta.
Enquanto isso, Sano continuou sentado divagando sobre as belas mulheres que veria aquela noite. Ainda estava na mesma posição em que se instalara desde que chegara, com os cotovelos sobre a mesa e o queixo apoiado entre as mãos. Foi nesse momento que ele sentiu braços femininos envolverem delicadamente seu pescoço.
- Hikaru, é você? - ele perguntou sorrindo, mas sem olhar para trás. - Querida, eu sei que você mal pode esperar para ter uma oportunidade comigo a sós, mas não acha que está um pouco cedo para começarmos a nossa festinha?
- Era só isso que eu precisava ouvir!
- Megu...?
Ele não teve tempo de pronunciar todo o nome. A expressão de espanto e surpresa ficaram congeladas em seu rosto enquanto ele sentia os golpes submetidos pelas mãos hábeis de Megumi atingir-lhe o rosto, as costas e onde ela pudesse alcançar, um de cada vez.
- Maldito Crista de Galo! - gritou Saitou com uma voz muito diferente da costumeira devido aos dentes quebrados e aos inchaços no rosto.
Quando encontrasse Sagara o faria pagar. Cada golpe que recebera da esposa, Sano receberia com juros. Era uma questão de honra!
Ele olhou mais uma vez para o papel amarrotado que Tokio jogara em sua cara depois da surra:
Prezada senhora Tokio...
Se quiser saber o que seu marido anda fazendo durante à noite ao invés de trabalhar, como ele costuma dizer, vá ao endereço abaixo hoje por volta das seis. Ele estará vestindo um ridículo terno verde e usando um bigode e outros acessórios que o fazem parecer um ocidental.
Com todo respeito e consideração
Um amigo.
Abaixo havia o endereço daquela espelunca.
A caligrafia do bilhete era mal feita e certamente tinha sido escrito com pressa, mas estava legível o suficiente para que fosse muito bem compreendida. Quem mais além do Crista de Galo para escrever aquilo? Além de que ninguém além dele sabia o que estava acontecendo.
O furioso policial, agora com a maquiagem completamente desfeita, seguiu para dentro do salão em direção à mesa onde vira Sano sentado. Estava cambaleando por causa das pancadas, mas não tinha importância, o maldito Crista de Galo tinha que pagar e ele daria uma boa lição nele nem que fosse a última coisa capaz de fazer antes de desfalecer.
Qual foi a sua surpresa quando, chegando ao seu destino, deu de cara com um Sano ainda mais arrebentado do que ele mesmo estava?
- Sagara?
Sano o fitou com semelhante surpresa. Segurava um bilhete muito parecido com o que estivera na posse de Tokio e, pela expressão confusa, tinha achado que o autor era Saitou.
- Deixe-me ver isso...
Saitou tomou o bilhete das mãos de Sano e leu em voz alta:
- Prezada senhorita Megumi. Se quiser saber o que seu companheiro anda fazendo durante à noite, além da jogatina de sempre, vá ao endereço abaixo hoje por volta das seis. Com todo respeito e consideração. Um amigo...
Os dois se entreolharam interrogativamente. Não havia dúvidas que ambos eram inocentes, então, quem tinha sido o autor dos bilhetes?
Eles nunca saberiam.
- Kenshin, Yahiko, venham logo! - Kaoru chamou pela terceira vez naquela noite.
Vinha chamando-os para o jantar desde que chegara do Akabeko com a comida, mas ambos estavam no alpendre conversando absortos sobre qualquer coisa em voz baixa e não haviam lhe dado atenção.
Kaoru se aproximou deles percebendo que Yahiko estava agachado, com as mãos nos joelhos, como se tomasse fôlego depois de uma corrida.
- Mas o que estão fazendo? Há meia hora que eu chamo vocês dois para comer, por acaso estão doentes?
Kenshin lançou a ela um sorriso tranqüilizador.
- Nós já vamos indo, senhorita Kaoru, eu estava apenas conversando com Yahiko sobre não exagerar durante os treinos com a espada.
Kaoru aceitou a explicação sem mais perguntas. Apenas pediu que se apressassem e voltou para a cozinha sem parar de reclamar que a comida iria esfriar se eles não fossem logo. Quando saiu de vista, Yahiko olhou desconfiado para Kenshin.
- Por que você mentiu para a feia?
- Não foi exatamente uma mentira. - respondeu Kenshin sem desmanchar o sorriso. - Eu já disse que o que te mandei fazer era um segredo entre homens. Você não está de acordo?
Yahiko sorriu sentindo-se muito importante em dividir um segredo com Kenshin, ainda mais quando ninguém mais poderia ficar sabendo. È claro que ele estava de acordo.
- Não se preocupe, Kenshin. A Megumi e aquela mulher bonita do mercado receberam as cartas e nenhuma das duas me viu.
- Excelente. - disse Kenshin se levantando a fim de seguir para a cozinha antes que Kaoru resolvesse vir chamá-los outra vez.
- Mas, Kenshin. - disse ainda Yahiko. - É melhor que a feia não fique mesmo sabendo. Não acho que ela vá gostar de saber que você anda mandando bilhetinhos para outras mulheres.
Kenshin deu uma gargalhada divertida enquanto conduzia Yahiko para dentro. Duvidava que o jantar que os esperava na cozinha fosse tão doce quanto o sabor da vingança.
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