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[Rurouni Kenshin] As Saídas Misteriosas de Kaoru - Capítulo 3, escrita por Madam Spooky

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Fandom: Rurouni Kenshin
Autora: Madam Spooky
Gênero: Humor/Mistério
Classificação: Livre
Resumo: Kenshin Himura, Kaoru Kamiya, Sanosuke Sagara e Hajime Saitou. Um mal entendido leva Kenshin, Sano e Kaoru a terem que dar explicações a Saitou. Qual deles dirá a verdade?

Publicada originalmente entre 17 de dezembro de 2002 e 04 de fevereiro de 2003.

Para Leny Saito

Parte 3 - Quase Tudo Esclarecido



Não começou na manhã de dois dias atrás, mas uma semana antes disso. Foi no dia que eu tive que buscar algumas compras no mercado e Kenshin, como sempre, ficou no dojo lavando roupa. Eu sai bem cedo para não encontrar com a maldita vizinha bisbilhoteira, mas não tive sorte. Mal clareava, mas ela já estava encostada no muro, aqueles olhos terrivelmente aguçados e a boca entreaberta em um sorriso que destilava veneno.
* * *


- Pare com isso, Kaoru! - interrompeu Kenshin quase elevando a voz. - Eu não aceito que por causa de ciúmes você acabe com a reputação de uma senhora que o que fez de errado na vida foi se preocupar com a senhorita.

Saitou passou as mãos pelo cabelo impacientemente.

- De novo não...

Kaoru ignorou a expressão entediada de Saitou e olhou para Kenshin soltando fagulhas pelos olhos.

- EU? CIÚMES DE VOCÊ? Acho que você se acha muito desejável, não é?

- ORO!

- Quer saber... - ela continuou. - Para você defender tão ardentemente a vizinha, alguma coisa há entre vocês!

- ORORO!

- E se Sanosuke vive dizendo que você é um pervertido, ele deve saber de algo.

- ORORORO!

Sano limitou-se a rir em silêncio. Todos cedo ou tarde tinham que admitir que ele sempre estava com a razão.
* * *


A velha Utada começou o seu costumeiro discurso sobre decência e bons costumes. É assim todas as manhãs desde que Kenshin passou a viver comigo no dojo. No início eu tentava explicar que tudo o que ele fazia era lavar roupa e outras tarefas domésticas e que não havia nada entre nós, mas logo percebi que estava perdendo meu tempo e desisti. O que posso dizer... ninguém é burro o bastante para acreditar que Kenshin continua no dojo porque gosta de lavar roupa, todos já perceberam que ele continua lá por estar encantado pela minha beleza.
* * *


- Senhorita Kaoru, está enganada. Este servo realmente gosta de lavar roupa.

Kaoru deu um soco em Kenshin que caiu de cara do outro lado da sala.

- Ele é tão tímido...
* * *


Eu ignorei a vizinha e comecei a andar distraidamente pela rua do mercado sem prestar atenção no que ocorria a minha volta. Pensava em coisas importantes como nos deliciosos bolinhos que Kenshin preparara no café da manhã especialmente para mim e que certamente significavam que a nossa relação estava evoluindo, quando senti as primeiras gotas de chuva atingirem o meu rosto. Parei e olhei para o céu. Como podia não ter percebido a tempestade que se aproximava antes de sair do dojo? As nuvens escuras que cobriam a cidade estavam vindo exatamente na minha direção cobertas por relâmpagos e...

- Trovões! - eu gritei e disparei na direção do Akabeko. Não que eu estivesse assustada, mas todos sabem o quanto os trovões podem ser perigosos e eu precisava avisar as pessoas que passavam por ali.

Mal consegui chegar a rua do mercado, um aguaceiro desabou sobre a cidade. Cobri a cabeça com as mãos e comecei a procurar por abrigo, mas não havia nenhum lugar aberto onde eu pudesse ficar. Eu estava molhada e sozinha no meio da rua, mal enxergando dois palmos a minha frente. Quando tudo parecia perdido, senti que as gotas de chuva não mais me atingiam. Olhei para trás e para minha surpresa, um homem segurava um guarda chuva sobre a minha cabeça.

- Obrigada. - balbuciei.

Ele olhou para mim e afastou os cabelos que estavam grudados no meu rosto fazendo com que eu pudesse ver melhor sua figura. Ele era alto, tinha os cabelos negros, curtos e impecavelmente penteados para trás. A pele morena dava-lhe um aspecto exótico que o discreto terno verde apenas acentuava. Um homem muito bonito...
* * *


- Saitou, eu posso saber o porquê do sorriso? - perguntou Sano.

O policial, imediatamente, voltou a expressão séria e intimidadora de antes.

- Eu estava me lembrando de algo engraçado, por acaso não posso?
* * *


Ele se apresentou como Hiroshi Satome e se ofereceu para me acompanhar até o Akabeko argumentando que uma mulher tão bonita quanto eu não deveria andar embaixo daquela chuva, ainda mais sozinha. Eu agradeci e disse que não era necessário, pois voltaria para o dojo. No estado em que me encontrava tudo o que eu queria era um banho e um chá bem quente, mas ele insistiu em me acompanhar e eu não tive como recusar.

- Então você vive sozinha em um dojo? - foi a primeira pergunta que ele fez.

Demorei a responder. Talvez ele estivesse interessado em mim, afinal de contas, nem todos os homens são lentos como o Kenshin.

- Posso saber qual o seu interesse nisso? Quero que saiba que sou uma mulher quase comprometida. - eu disse isso para intimida-lo, mas ele apenas sorriu como se soubesse perfeitamente que era mentira.

Expliquei sobre Kenshin e sua... er... situação vivendo comigo no dojo. Falei também de Yahiko e um pouco sobre Megumi e o folgado do Sano. Apesar dos dois não serem moradores do dojo, aparecem lá quase todos os dias mesmo.

- Então é com esse Kenshin que a senhorita está quase comprometida?

- Não! Sim... digo, não! - me apressei em responder um pouco confusa. - Kenshin e eu, no momento, somos apenas amigos!

- Ah, entendo... - ele falou. - Ele vive praticamente sozinho com a senhorita há dois anos e vocês nunca tiveram nada... Talvez ele prefira o tal do Sanosuke que citou...
* * *


- COMO É QUE É? - Sano gritou.

Kenshin olhou para Kaoru confuso.

- Como ele pode dizer que prefiro passar mais tempo com o Sano que com a senhorita se ele nem me conhece?

- Não foi exatamente isso que ele quis dizer, Kenshin... - respondeu Kaoru.

Saitou suspirou.

- Acho que a luta com Shishio não fez muito bem a cabeça de Battousai...

- KENSHIN, O CARA INSINUOU QUE N"S SOMOS ALEGRES! - insistiu Sano.

Kenshin sorriu.

- Eu sou de opinião que estar sempre alegre faz bem para o espírito.

- Não é isso, seu idiota! Estou falando de amor entre homens!

- E o que tem de mal? Este servo considera o amor entre amigos uma coisa bonita.

- Continue, Jo-chan, eu desisto. - disse Sano, frustrado, afundando-se na cadeira.

- Oro...?
* * *


Quando chegamos ao dojo já tinha parado de chover embora o céu ainda permanecesse coberto de nuvens. Satome acendeu um cigarro e encostou-se no muro do dojo esperando que eu entrasse.

- Muito obrigada por me acompanhar até aqui. - eu disse um pouco sem jeito. Não era todo dia que um homem era assim tão gentil comigo.

Ele apenas balançou a cabeça e continuou fumando. Pode parecer estranho, mas naquele momento eu olhei para o rosto dele e podia jurar que já o tinha visto antes em algum lugar...
* * *


- E se lembra de onde? - perguntou Saitou com muito interesse.

- Não... - respondeu Kaoru. - Não consegui me lembrar até agora...

- Que bom... digo, que pena...

Sano lançou a Saitou um olhar desconfiado, mas não disse nada. O tal amigo de Kaoru não podia ser quem ele estava pensando, podia? Não... ele era gentil demais. Devia mesmo estar enganado.
* * *


Eu me aproximei um pouco mais.

- Tem certeza de que não quer entrar e tomar um chá? - perguntei. - Me sinto em dívida pela sua gentileza.

- A senhorita não precisa se preocupar com isso, eu tenho coisas a fazer e não posso ficar. - Satome respondeu jogando o cigarro em uma poça d'água no chão.

Aquilo era bom. O estranho iria embora e tudo seria apenas lembrança de uma manhã chuvosa. Eu teria ficado feliz em receber aquele homem no dojo para uma xícara de chá, mas isso provavelmente despertaria desconfiança em Kenshin e Yahiko e o melhor era que tudo terminasse daquela maneira.

As coisas teriam ficado por isso mesmo se um incidente desastroso não tivesse acontecido no instante seguinte.
* * *


Kaoru ruborizou-se e abaixou a cabeça.

- Podemos pular essa parte?

Saitou não parecia muito confortável.

- Eu sinto dizer que não... isso é um depoimento...

Sano e Kenshin fitaram Kaoru curiosos.
* * *


Um trovão soou alto naquele instante me pegando desprevenida. Com o susto, dei um salto caindo diretamente nos braços do estranho. Para minha infelicidade, naquele instante a senhora Utada saia de casa com um balde, provavelmente para comprar tofu, e deu de cara com a cena... Por um instante o tempo pareceu parar e ficamos os três: eu abraçada a Satome e a vizinha a nos encarar com olhar divertido.

Quando finalmente pude me mover, sai correndo para dentro do dojo sem despedidas nem explicações. O mal já tinha sido feito, Kaoru Kamiya seria o assunto da semana em Shitamachi.
* * *


- Deixa ver se eu entendi. - disse Sano sorrindo para uma cada vez mais envergonhada Kaoru. - Você abraçou-se com o estranho e bem na hora que a bisbilhoteira da Utada apareceu? - ele começou a rir sem parar. - Devia ter levado o cara para um lugar mais privado, Jo-chan.

Kaoru levantou a cabeça com o rosto vermelho, mas agora de raiva:

- O QUE VOCÊ ESTÁ INSINUANDO, SANOSUKE?

- Quem eu? - Sano continuou rindo.

Kaoru ia reclamar mais uma vez, mas Kenshin a interrompeu contrariado:

- Eu gostaria muito de ouvir a senhorita explicar o porquê de ter abraçado o tal Satoru no meio da rua.

- É Satome e já expliquei que foi um acidente, o que queria que eu fizesse? - Kaoru respondeu voltando a abaixar a cabeça sem coragem de encarar Kenshin.

- A senhorita poderia ter experimentado não abraçar!

Kaoru não respondeu, mas Kenshin continuou a olhar para ela esperando uma explicação.

Saitou, que até então evitara se pronunciar a respeito daquilo limitando-se a mover os polegares nervosamente, pigarreou de modo que todos desviassem a atenção para ele.

- Está ficando tarde, é melhor deixa-la continuar de uma vez.

Grata pela interferência, Kaoru retomou o relato.
* * *


Passaram-se alguns dias e eu retomara a rotina normal dando aulas no dojo vizinho e treinando com Yahiko. Kenshin não comentou nada a respeito do incidente, assim conclui que ele não chegara a ficar sabendo e resolvi esquecer o assunto. Tudo seguia na tranqüilidade de sempre quando uma manhã, Megumi apareceu com uma expressão transtornada dizendo que precisava falar comigo. Nessa ocasião, Yahiko estava no Akabeko e Kenshin tinha saído para pescar, por isso pudemos conversar tranqüilamente.

- Kaoru, você tem que me ajudar. - disse ela me sacudindo pelos ombros.

Eu perguntei o que estava acontecendo. Megumi estava muito estranha. Ela geralmente viva zangada com alguma coisa relacionada a Sano, mas naquele dia parecia realmente furiosa.

- AQUELE CRISTA DE GALO ESTÁ ME TRAINDO! - ela gritou para na mesma hora cobrir a boca com as mãos. Poucos sabiam de seus encontros com Sano e ela não queria que a notícia se espalhasse.
* * *


- Não sei por quê! - disse Sano. - Qualquer mulher morreria para ter um relacionamento comigo. Um homem bonito, inteligente, extremamente bem apessoado... A Megumi viraria a inveja de Tokyo.

Kaoru, Saitou e Kenshin deixaram escapar uma sonora gargalhada.

- Ver um homem como eu desperta esse tipo de reação em pessoas complexadas como vocês.

* * *


Megumi me pediu uma coisa que eu nunca pensara em fazer, nem nos meus piores pesadelos. Ela queria que eu a acompanhasse em um bairro terrível de Tokyo até uma casa de má fama onde, segundo ela, com certeza Sano estaria se divertindo com outras mulheres usando o dinheiro que ela tinha emprestado no dia anterior.

- Eu sei que aquele imprestável e insensível está me traindo e eu quero ver com meus próprios olhos antes de tomar uma atitude! - disse Megumi segura de si.

Ela ainda acrescentou que se eu não a acompanhasse, iria atrás dele de qualquer maneira e eu não podia permitir que ela fosse sozinha.
* * *


- Esperem um segundo! - interrompeu Kenshin. - Isso quer dizer que Sano está tendo um relacionamento com a senhorita Megumi?

- Sim, já faz algum tempo. - respondeu Kaoru.

- E por que ninguém me disse nada?

Kaoru lançou a Kenshin um olhar compadecido.

- Lembra naquele dia que os flagramos no rio, Kenshin?

- Sim...

- O Sano não estava aplicando respiração artificial.

- Mas a senhorita Megumi tinha se afogado e... certo, já entendi.
* * *


Então, naquela mesma noite, eu sai com a desculpa de que ia ter que dar uma aula no dojo vizinho e fui encontrar Megumi na clínica para em seguida nos dirigimos até o lugar onde ela achava que Sano estaria.

Nós fizemos o percurso em silêncio tentando não chamar atenção dos bêbados, drogados, marginais e assassinos do lugar...
* * *


- ORO! Senhorita Kaoru, como pode ir sozinha a um lugar cheio de tantos perigos?

- Se alguém não fosse tão baka a ponto de ver Sano e Megumi aos beijos e acreditar que estavam fazendo respiração artificial, poderia ter ido conosco estando a par de tudo o que estava acontecendo! - respondeu Kaoru irritada. E Kenshin cruzou os braços sem argumento.
* * *


Quando chegamos a tal casa onde Sano estaria, Megumi começou a discutir com um segurança que não nos deixava entrar. Ele dizia que apenas a entrada de homens era permitida e que mulheres como nós não podiam circular por ali assim, sem mais nem menos.

- ESSE É UM DESSES LUGARES ONDE PROTEGEM OS HOMENS INFIÉIS! - gritava Megumi.

- Minha senhora, é melhor que volte para casa e...

- QUEM VOCÊ ESTÁ CHAMANDO DE SENHORA?

Enquanto eles discutiam, me aproximei sorrateiramente do salão o suficiente para constatar que Sano estava jogando com um grupo de homens em uma das mesas da frente. Por sorte, nenhuma mulher o acompanhava.

Fiquei por algum tempo observando seus movimentos quando a mesa vizinha me chamou a atenção. Satome estava sentado com um grupo semelhante ao de Sano, mas no caso dele, muito bem acompanhado por várias mulheres com quem bebiam e cometiam atos que prefiro não mencionar. Por um instante ele me viu e pareceu ficar muito aborrecido. Afastou bruscamente a mulher que o abraçava por trás e se dirigiu a uma porta lateral.

Eu fiquei parada mo mesmo lugar, perplexa. Como um homem tão gentil e prestativo podia freqüentar um antro como aquele? Fui tomada pela raiva e decepção. Já ia correr pela porta lateral para saber o que estava acontecendo quando o segurança apareceu. Ele tinha deixado Megumi falando sozinha e vindo até onde eu estava. Segurou-me pelo braço e me levou para fora nos mandando embora dali. Eu disse a Megumi que Sano estava jogando, mas sem nenhuma mulher e ela ficou mais tranqüila, ainda que não parecesse muito convencida.
* * *


- Raios! - gritou Sano. - Então foi por isso que ela mudou a fechadura da clínica!
* * *


Voltei ao dojo em um estado de espírito alterado e passei correndo para o quarto chorando. Não que eu sentisse algo por Satome, mas ele acabou com a minha última esperança de encontrar um homem gentil e amável nesse planeta.
* * *


- Senhorita Kaoru, não me acha gentil e amável?

- Oh, desculpe, Kenshin. - Disse Kaoru. - Gentil, amável e esperto.

- ORO!
* * *


Tranquei a porta do quarto e comecei a pensar que havia algo muito estranho com aquele homem e eu precisava descobrir o que era ou acabaria ficando maluca. Decidi que o procuraria novamente no dia anterior, foi então que Kenshin começou a bater na porta e gritar como um desesperado que eu precisava contar o que me preocupava e que ele estava se sentindo culpado não sei pelo que.

Continuei em silêncio sem dar atenção aos apelos de Kenshin. Logo Sano chegou e o levou para sala me deixando sozinha com o meu drama. Não demorei a adormecer.

No dia seguinte, bem cedo, sai para ver Megumi e não logo percebi que o baka do Sano estava me seguindo. Parei bem antes de chegar a clínica e, com o bokken em punho, pedi pacientemente que saísse de onde estivesse.

- SANOSUKE! Você tem dez segundos para aparecer na minha frente se não quiser que eu diga a Megumi que o vi com um grupo de mulheres no mercado outro dia. Aí sim, quero ver quem vai te emprestar dinheiro!

- ISSO É MENTIRA! - gritou Sano saindo de trás de algumas árvores.

- Sim, mas você apareceu, não é mesmo?

Sano ficou com cara de bobo e eu continuei andando com um sorriso nos lábios. Logo ele me acompanhou e começou a me encher de perguntas sobre o que eu estava fazendo naquela casa, naquele bairro, aquela hora da noite.

- Você me viu? - perguntei surpresa.

- Sim e agradeça que não contei para o Kenshin, ele está parecendo um desesperado pensando que você está saindo com um homem misterioso.

- É mesmo? - sorri.

- Sim e agora volte para o dojo e me deixe sozinho com a Raposa. Ela tem que me dar umas explicações sobre uma certa fechadura.

Voltei para o dojo feliz por Kenshin, mas ainda pensando em Satome. No caminho, me decidi: eu voltaria a casa de má fama àquela noite.
* * *


- SENHORITA KAORU!

- O que foi Kenshin? - perguntou Kaoru inocentemente.

- Ainda pergunta? A senhorita não tinha nada que fazer naquele antro cheio de mulheres fáceis e marginais!

O rosto de Kaoru mudou para uma expressão furiosa.

- Ah! Eu vejo que você conhece aquele lugar muito bem, não é?

- Bom, este servo... digo, quando era Rurouni... bem, a senhorita sabe que eu era um vagante sem casa e...

- Vai ter que me explicar tudo nos mínimos detalhes quando chegarmos ao dojo!
* * *


Naquela noite Tae veio nos visitar e eu não pude sair, mas no outro dia bem cedo, me dirigi aquele bairro sem perda de tempo com a intenção de descobrir quem era na verdade Hiroshi Satome. Levei comigo um pacote com um bokken bem camuflado só para garantir. Em um lugar como aquele, nunca se sabe.

Mal percorri a metade do caminho, percebi que alguém me seguia.

- É VOCÊ OUTRA VEZ, SANOSUKE? - perguntei irritada. - Eu vou fingir que não te vi e se voltar a me seguir, já sabe!

Continuei andando e não senti mais aquela presença. Não demorou muito, cheguei até o estabelecimento do dia anterior, estava fechado.

- E agora... - fiquei preocupada. Precisava encontrar Satome, no entanto não parecia que teria sorte. Tinha sido burrice ir até ali cedo da manhã esperando que ainda estivesse funcionando.

Quando eu já me preparava para ir embora, a silhueta de um homem apareceu do outro lado da rua vindo em minha direção. Era ele. Eu enfim poderia acabar com todas as minhas dúvidas.
* * *


- Foi ai que você entrou com ele naquele... ham... restaurante. - disse Kenshin de braços cruzados sem olhar para Kaoru.

- Você vai ficar me interrompendo? - perguntou Kaoru também evitando encara-lo.

- Eu só quero deixar esse detalhe bem claro porque estou ansioso por uma explicação.

- E eu posso saber o que você tem a ver com isso?

- Não pode não!

Saitou e Sano apenas observavam a cena em silêncio. Parece que Kenshin não era tão idiota como insistia em parecer.

- Kenshin, eu acho que você está com ciúmes. - disse Kaoru disfarçando um sorriso.

- E você não consegue fingir que não adora a idéia. - respondeu Kenshin.

- O que você quer dizer com isso? - perguntou Kaoru agora completamente vermelha.

- Ora, que você adora pensar que eu estou com ciúmes para disfarçar que não suporta me ver falar bem da vizinha e...

- KENSHIN NO BAKA!

E mais uma vez Kenshin se viu sendo atirado do outro lado da sala.
* * *


Satome me levou até dentro do... estabelecimento não muito bem visto pela sociedade e me pediu de uma maneira muito sutil para não comentar com ninguém o que eu sabia.

Eu não respondi com palavras, mas lancei o bokken contra a cabeça dele. Quem ele pensava que eu era? Algum tipo de mulher bisbilhoteira que investiga a vida dos outros para ver o que fazem de impróprio por ai? É claro que eu não ia espalhar que o vi se divertindo com um grupo de mulheres, nem sob confissão!
* * *


- Er... Jo-chan… por acaso não foi exatamente o que acabou de fazer?

- O que? - perguntou Kaoru.

- Esqueça!

Saitou balançou a cabeça parecendo satisfeito.

- Só falta um detalhe nessa história toda. - disse ele. - Posso saber o que tinha acontecido quando Battousai a encontrou no dia seguinte em frente à mesma casa em um estado que Sagara definiu como "descomposta"?

- Ah, isso...
* * *


Megumi apareceu no outro dia no dojo, estava muito feliz, pois tinha se acertado com Sano na noite anterior. Eu a convidei para tomar café e contei tudo o que tinha acontecido omitindo apenas a conversa com Sano dois dias antes.

- Kaoru, você ficou louca? - ela perguntou em tom de repreensão.

- Vo-Você acha que fiz mal?

- Claro que fez mal! Não se trata desse jeito um homem gentil e prestativo como aquele!

- Se ele fosse assim tão perfeito não estaria andando em casas de má fama!

- Você por acaso viu alguma aliança no dedo dele?

Eu pensei por algum tempo antes de responder. A verdade era que não tinha certeza. Não prestara atenção nesse detalhe.

- Acho que não... - eu respondi por fim.

- Viu? - disse Megumi triunfante. - Ele não estava fazendo nada errado!

- E agora, o que eu faço? - perguntei já sabendo a resposta.

- Se eu fosse você, pediria desculpas. Imagina tratar dessa maneira um homem com aquela aparência...

Ignorei esse último comentário de Megumi, mas as palavras dela em relação a Satome não ter feito nada errado me deixaram com um peso na consciência e resolvi ir até aquele lugar uma última vez apenas para dizer que sentia muito por tê-lo tratado daquela maneira tão rude.

Depois de me certificar que Kenshin não estava no dojo, deixei Megumi lá e sai apressada pelo mesmo caminho da noite anterior. Para minha infelicidade, quando atravessava a última rua, uma carruagem de passageiros veio desenfreada na minha direção e eu tive que saltar rolando pelo chão direto em uma poça de lama.

Levantei-me ainda tonta pelo susto e me apoiei na primeira parede que vi na minha frente. Quando dei por mim, ouvi alguém chamar meu nome com uma voz que eu conhecia muito bem.

- Kenshin!

Ele olhou para o estado de minhas roupas e cabelo e entrou feito louco na casa de jogos e mulheres. Eu corri atrás dele e o encontrei espancando Satome. Felizmente, Sano estava lá e me ajudou a separar os dois ou Kenshin podia tê-lo matado.

Depois disso voltamos ao dojo, eu tomei um banho e foi tudo o que consegui fazer antes que a polícia aparecesse e nos trouxesse para a delegacia.
* * *


- Isso é tudo o que têm a dizer? - perguntou Saitou avaliando cuidadosamente as expressões dos três.

- De minha parte sim. - disse Kaoru.

Sano deu de ombros e encostou-se na cadeira sem mais a acrescentar.

- Eu devo dizer mais uma coisa... - Kenshin falou parecendo um pouco envergonhado. - Quero que saibam que eu não tinha a intenção de machucar o tal Satoru.

- SATOME! - gritaram Kaoru e Saitou ao mesmo tempo.

- Isso, isso... Satoru, Satome... Bem, eu só estava protegendo a senhorita Kaoru.

- Tá, tá... - Saitou não parecia interessado nos motivos de Kenshin. - Nada disso tem importância. Eu só tenho uma pergunta: algum de vocês conhece o paradeiro do tal Satome?

Os três negaram. Depois da confusão, nenhum deles se preocupou em voltar a vê-lo.

- "Ótimo! - disse Saitou levantando-se e abrindo a porta. - Vocês já estão liberados!

- Liberados? - perguntou Kaoru sem entender nada. - É só isso?

- Sim. - respondeu Saitou. - Já tenho os depoimentos, o que vocês queriam? Ficar hospedados na delegacia?

Kenshin e Kaoru saíram sem mais perguntas e Sano os acompanhou com uma expressão preocupada. Algo estava errado e ele não tivera tempo de confirmar suas suspeitas.

- Gente, por que vocês não vão na frente? Eu esqueci uma coisa, falo com vocês depois...

Sem esperar resposta, Sano se virou e correu de volta para a sala de Saitou.


CONTINUA

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